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zzzumbido EDIÇÃO Nº 5

NESTE MÊS:

Eduarda Vaz
Rafael Weiss Brandt
Rafaela Ferrari
Rafael F. Faiani
Bruno Brasil
Eduardo Regis
Antonio LaCarne
André Albuquerque
Gabriel Gonzalez

1 zzzumbido
Índice

03 14 22

Zunindo Olho Mágico Poemas


Os editores Rafael F. Faiani Antonio LaCarne

07 16 25

Antônio epizódio O Sol e a


Eduarda Vaz policial Rua Curvelo
muito André Albuquerque

preocuppant
08 Bruno Brasil 26

Brasil Colonial Poemas


Rafael Weiss Brandt Gabriel Gonzalez
18

Desaperto do
11 peito
Eduardo Regis
Poemas
Rafaela Ferrari

zzzumbido 2
ZUNINDO
os editores


Se cabe amor e saudade na poesia, há de caber
também um tanto de cus e caralhos; se o discurso
é sobre as belezas da infância, poderá assumir as
agonias da velhice; se escrevemos sobre vida, temos
que, igualmente, lembrar da morte. Nossas páginas
possuem poucas cores, estas moram em nossas
palavras. Aceite ou não, sua escolha, mas não ouse
impor sua covardia aos que zunem.

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zunindo

COLABORADORES

Eduarda Vaz nasceu em Volta Redonda (RJ), em 1997. Desde pequena, queria ser escritora. Estuda Letras:
Português/Espanhol na UFRJ, escreve em sua página Eduarda Vaz / Poesia e na Revista Pólen. Também
é contadora de histórias, tradutora e professora. Seu primeiro livro, Aresta, será publicado pela Macabéa
Edições em dezembro de 2017.

Rafael Weiss Brandt tem que ser advogado e pesquisador de filosofia. Nas letras livres recebe a catarse que
lhe resta – ou a que lhe é permitida. Política, ciência e Estado estão entre seus fetiches prediletos.

Rafaela Ferrari tem 19 anos e cursa Relações Internacionais na Universidade de Brasília. Natural de
São Paulo e parida na Avenida Paulista, começou a se interessar pela arte durante o Ensino Médio,
quando fez um curso para jovens escritores (CLIPE) na Casa das Rosas.

Rafael F. Faiani é engenheiro e nasceu em Cravinhos/SP. Já publicou contos na Amazon, Wattpad,


Sweek e em antologias no Brasil e no exterior.

Bruno Brasil é um funcionário público que tem alergia & filhas. Come bastante e – importante –
nunca foi preso.

Eduardo Regis é carioca e trabalha preso em um escritório. Quando consegue sua liberdade gosta de ler, de ir
ao cinema, de passear com o cachorro e de dormir. Em um tempo passado foi Doutor em ciências, hoje tenta
não pensar muito sobre isso. Escreveu fanfics para ganhar seu sustento (de satisfação) e vez ou outra arrisca na
página vazia do editor de texto.

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Antonio LaCarne é cearense, nasceu em 1983. É autor de “Salão Chinês” (Patuá, 2014), “Todos os
poemas são loucos” (Gueto Editorial, 2017). Participou das coletâneas “A Polêmica Vida do Amor”
(Oito e Meio, 2011) e “A Nossos Pés” (7Letras, 2017). Seus textos estão presentes em revistas e
suplementos literários.

André Albuquerque (Recife – PE, 1956), é médico , colabora em diversos sites literários , sua
preferência pelo conto é determinada pela concisão e objetividade inerentes ao gênero . Possui
trabalho premiado em concurso nacional (Dois homens célebres, 2010 - Sociedade Brasileira de
Diabetes) por júri especializado .

Gabriel Gonzalez é mineiro e reside no Rio de Janeiro. Nunca achou que o trabalho deveria nos
definir, por isso resolveu estudar para viver ou viver para estudar, como preferir. Entres os reiterados
projetos, de onde chovem números, dobra-se o tempo para encaixar leituras das mais diversas,
como livros de psicanálise, tratados de cosmologia e posts reacionários da internet. Escreve
para se livrar de algo que até hoje não conseguiu nomear, e promete não parar até que consiga.

OS EDITORES:

Junior Cazeri admite que, desta vez, as palavras fugiram.

Tânia Souza é natural de Mato Grosso do Sul, é educadora, escritora, cronista e poetisa. Já publicou
em diversas antologias, entre elas À Sombra do Corvo - Poesias Sombrias, Histórias Fantásticas -
Vol 1, Cursed City - Onde as Almas Não Têm Valor, Olympus - Histórias da Mitologia, Crônicas da
Fantasia e Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror além de contribuir em diversos blogs de
literatura e ter participado do site Quotidianos. Seu primeiro livro solo foi DESAMORES E OUTRAS
TERNURINHAS e o segundo, ESTRANHAS DELICADEZAS acaba de sair pela Editora Estronho.

Facebook: Tânia Souza

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zzzumbido 6
por Eduarda Vaz

ANTÔNIO

trago seu nome escrito no papel


hoje faz frio
e seu nome, tocando em mim,
me aquece
aqui é cinza a cor do céu
ainda continua frio
pela minha boca
sai fumaça que nessa cor se disfarça
parece que o restante ela embaça
trago seu nome escrito no papel
há solidão aqui
por isso te trago
seu nome carrega você
e eu te carrego entre as pontas dos meus
dedos
quanto mais te trago mais você se esvai
longe longe longe
a permanência não dura mais do que a
essência de camomila
que me vem
quando te lembro
quando te trago

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por Rafael Weiss Brandt

BRASIL
COLONIAL

Acorda num mundo bege, destes beges tantos de doer os olhos de


monotonia. Põem o uniforme também bege cartório numa segunda
chuvosa. Alinhado como a sociedade que ele existe para alinhar. Os
dedos a corrigir o friso são os mesmos dedos do gatilho, do ofício
assinado em garranchos módicos, do forçar entrada à secura de uma
esposa indisposta.

É aprazível o ritual diário que agora precisa começar, mas é gostoso


na medida do gosto: limitado, pequeno, mensurável num ML de vida. O
ruminar silente dá sentido a uma vida incapaz de perguntar de si, como
faz o sol ao aquecer ególatras pedras no deserto, convencidas que são
de sua pertinência existencial quando tocadas por gélidas e silenciosas
e sonolentas víboras ao alvorecer.

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O ritual consiste nisso: acordar, as guarnições têm agora quatro tantos, as irônicas razões desses
alinhar, café pingado bege, solidão ocupantes. Mais arrobas a serem signos tão exóticos para definir o
onanista num banheiro de cor carregadas nas máquinas de comum.
doente, um beijo na mulher, um combustão moedora de gente
afago amarelado na menina, destes três homens modernos. Gosta disso que não entende
batalhão, ofícios, a espera. A muito, mas gosta bastante. Gosta
pequena espera num dia pequeno Gigantesco, pelo menos dois de lustrar. É gostoso. Lustrar é
como todos os demais: é a espera metros sem que qualquer um ouse passear com as sirenes ligadas, no
pela chegada d’Ele – isso é sempre medir, Ele entra. Feição jovial e alva, limbo entre a quebrada periférica
um negócio complicado, a espera. olhos ofídicos e amarelos. Tac tac e os bairros dos cidadãos de bem,
tac. Olhares inseguros se trocam. assistindo à debandada esvoaçante
Quando pensa sobre isto ele Uniforme bem caído nas mãos da fauna. Ele então encontra uma
pensa que é assim e só assim branco-pulsantes, de contraste com pretinha ou mulata, mestiça, bugra,
que dá para fazer o que tem que um mundo de tons bege-cinza. cabocla e outros helmintos. Tem
ser feito. Tem que planificar a Não há um fio de cabelo na cabeça que ser nova. Desmatada como
existência. Limitar ao imediato, no reluzente e calva, desmatado que é Ele. Lustrar é deixar os homens
imediato. Abraçar a banalidade aquele corpo sobrenatural. Tac tac espremidos, suados, ereção patética
que se entende como ordem – e ele tac. A morte não lhe pode arrepiar, no fedor enclausurado da Liberdade,
entende. Afinal, eles já pensaram e dizem as bocas tortas e discretas. cotovelo que roça em cotovelo,
o pensado é o pensado. Deus fez Já ele diz nada sempre que chega. enquanto Ele, empurrando a preia
assim. Deus quer assim. Deus e o Tac tac tac. Precisa do seu café, à parede, lustra. Lustra com o dedo
Estado. Ele entende, afinal. que nunca toma em casa. Toma na boceta pequena, seca, juvenil.
sempre ali. Só ele, na cafeteira dele Não pode estar menstruada. Tem
O homem senta apertado que só para ele existe. Vê-lo precisa que ser desértico, tem que doer
na cadeira tom desconforto, o ser uma experiência sinestésica, para lustrar. Lustra-se também
ventilador com seu titilar contínuo, nos meandros do poder. Assim a o ânus, a olhos nus das demais
rítmico como o sexo sem graça da decrépita sombra da humanidade miseráveis criaturas impotentes a
semana. O teto descascado fornece reza o início do ritual. assistir o abate do que restava de
imagens interessantes, mas que animalidade no específico filhote.
exigem, odientas, criatividade para Ele, sombreando as personalidades Ao fim, o bicho sai suado, pele
serem percebidas. Tac tac tac. Mas menores, é o primeiro a entrar na brilhando: lustradinho. Mais um
a potência do homem se limita a viatura: a histórica viatura, cuja bicho lustrado, numa segunda
comentários. Tac tac tac. dobradura no tecido do espaço- qualquer.
tempo em detalhes pequenos deixa
O teto precisa de uma segunda saltar sua ascendência. Chamam- Hoje é bom. Hoje vão lustrar.
demão, diz para si. Os outros dizem na, a viatura, carinhosamente
coisas também, todas para si e de Liberdade. E é a mesma
tolas tal qual. São regra os botões Liberdade pungente e purgante de
cansados numa farda cansada de brasilidade, antes lotada de uma
uma barriga que, solitária, grita negritude que ela, a Liberdade,
por liberdade ante a opressão de serve para extinguir.
números menores. Tac tac tac.
O homem não entende, mas Ele
O gado rumina entre si parece saber, se não por suas quase-
amenidades. Esperando a chegada divinas noções, pelo menos por
d’Ele. Nesses tempos de violência, ativamente se valer de eufemismos

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por Rafaela Ferrari

POEMAS

Hoje olhei o lago Anchorage


Lembrei de você
Lembrei do olhar sereno na grama Segurou a pedra enquanto o vento de penas
Da minha boca foram saindo chicoteava toda e qualquer pele
palavras como Agarrou os grãos como se segura a vida :
eu... com o toque do indicador
des... Cada pena um universo
mas... Cada grão
Então não surgiu mais nada [ verso
: Cada desintegração .... um século
Assim é o cerrado Levantou da cama e reparou que sua ação já
Tão rápido quanto a chuva era uma estrofe, e a vida era sua poesia
Aparece a seca nas cordas vocais

Ausên...cia

Ainda bebia dos cachos ausentes, a curvatura do sorriso, o vai e vem do toque, o vai e vem da alma.
Bebia do Abraço ausente, o calor dos átomos , o frio do vento, a beleza de um mundo sem sapatos.
Bebia do beiço ausente, a pureza do laço cardíaco, a sujeira do caminho, da passagem entre o corredor
e a estrada
perdida
encontrada
Bebia dos lenços a própria lágrima.
De todas as ausências, o cheiro era o que mais falava.

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Dentes de diamante, daqueles transparentes que deixam a podridão das palavras aparecer. Mas isso não é um
mal, não é? Aliás, por trás de todo humanista tem piadas de humor negro. Ai Homem, se tu soubesses que
essa tua boca, que esses teus dentes são mais usados do que a realidade descreve, nas mentes de quem não
te cede. Mas de que realidade podemos estar falando, se até o reflexo do espelho que tu olhas, são na verdade
reflexos de suas conexões nervosas?
Este corpo definido e cabelo arrumado; essa pinta de galã e até esse livro de capa dura, são reflexões de refrões
internos que explodem em tuas retinas e transformam as pobres células em carne vermelha, não de sangue,
mas do pecado de tua alma, que vive em apneia em meio ao líquido gozo. Não moço, o espelho não é teus
olhos, nem tua retina, pois quem está se vendo sou eu.
Minha carne
Meu cárcere
Meu gozo.
Não moço, as risadas não são de humor, são de nojo.

Olhou pro céu


e reparou que o eterno é uma vulgar onda eletromagnética chamada de luz.
Com forma
amada
Conformada
Sem Theo.

As lágrimas caem

Talvez porque até elas não queiram mais sua presença


Então levam consigo uma bolsa de tempero que tem fim em uma colher de metal
Para acabar em nós novamente, até nos tornarmos cheios de lágrimas refugiadas
que retornam eternamente para a terra de ninguém;
Talvez isso que signifique o valsar eterno de uma sinfonia de mãos dadas.

Desabafos de um ser sem fé natalina (sim, é o título)

A estrela raiava por todos os cantos, todos os sorrisos e também choros. De cima da árvore, a observação da
sociedade coberta de piedade e cumplicidade, pintava seu corpo de vermelho, verde, dourado ... mas nunca
branco. Das dores do peito, nada que as cores mudem. Do rasgo dos embrulhos à corpos que se rasgam de
orgulho. A criança sonambulava uma terra não áspera.
E pelo trenó partia o único ausente de máscara.

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por Rafael F. Faiani

OLHO MÁGICO

Aconteceu no dia em que fez cabeceira que marcava sete horas. metade do livro, o copo vazio, o
trinta anos. Morava sozinho na Melhor não atender, convenceu-se controle remoto no braço do sofá,
ocasião, já fazia alguns meses que a ficar embaixo das cobertas, mas a embalagem da comida chinesa
tinha se divorciado, sem filhos, ela então ouviu o toque da campainha no chão. Não, seus olhos não
nunca quis ter e ele não insistira. outra vez. Exatamente um minuto estavam lhe enganando. Fez uma
Um dia se deram conta que o amor depois. nova tentativa. Viu novamente um
esfriara como pizza na geladeira. deserto, cuja extensão se perdia
Talvez jamais tivesse existido. Mera Era engano, só podia ser engano. de vista e, mais além, montanhas
ilusão de ótica. Não havia corações Ensaiou em se levantar, torcendo colossais.
partidos, a fase de se importar tinha para que aquele incômodo
terminado, as pontas soltas nunca terminasse, mas houve outro toque. Então a campainha soou, mas não
foram resolvidas e só a aceitação Protestou em silêncio, pisando duro havia ninguém, apenas o deserto
da separação resistiu. Agora dividia no chão frio, os nervos à flor da pele. inóspito. Pensou em destrancar a
o apartamento com os livros, Descalço, seguiu pelo corredor porta e espiar, mas teve medo do
empilhados na mesa central da em direção a porta. Cada passo, que poderia acontecer. Afastou-
sala, e pedia comida pelo celular. imaginando quem seria. Cada se sem saber como agir. Alguns
Era mais fácil jogar fora do que passo, tentando entender quem minutos se passaram até que
lavar. O gato foi embora com ela, em sã consciência perturbaria grãos de areia começaram a passar
tinha sido presente. Foi melhor alguém naquela hora. por baixo da porta. Observou
assim. Não suportava aquela bola pelo olho mágico que uma forte
de pelos. A campainha tocou mais uma ventania assolava o outro lado. E
vez. Colocou a mão na maçaneta, se a porta se abrisse com o vento?
Não recebeu ligações naquela mas antes de abrir a porta, verificou Empurrou o sofá de encontro a ela
manhã, os familiares que eram quem era pelo olho mágico. Piscou, e correu para o quarto, trancando-
poucos e os amigos que se piscou e piscou, sem acreditar. se. Ficou ouvindo a campainha
resumiam a dois ou três sabiam Conjecturou a possibilidade de a cada minuto até que ela parou.
do mau humor antes do meio-dia estar sonhando. Aconteceu as oito da manhã.
e que o celular ficava desligado
a maior parte do tempo. Se tudo Não havia ninguém no corredor, Passou o dia trancado no quarto,
corresse conforme o planejado, tampouco havia um corredor. de olho para a parede, acometido
continuaria dormindo até o por uma loucura crescente.
despertador protestar. Mas foi a Voltou-se para a sala, analisando Ninguém acreditaria nas suas
campainha do apartamento quem se os objetos continuavam no palavras. Era noite quando ouviu a
lhe furtou o bendito sono. Os olhos mesmo lugar que havia deixado campainha e depois a voz de seu
relancearam o relógio digital na ontem. O marcador de páginas na pai. Ele usou a própria chave para

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entrar, mas só conseguiu abrir uma Considerava uma dádiva, um la. Trancou a porta. Continuou
fresta devido ao sofá. Lá estava de presente só seu. Foi então que a esperá-la por uma hora até o
volta o corredor e nos dias seguintes no dia anterior ao seu trigésimo corredor reaparecer. Nunca mais a
também. Talvez realmente tivesse sétimo aniversário, recebeu uma viu.
sonhado. ligação que não esperava. Era sua
ex-mulher. Foi acusado, interrogado e
Vida que segue. Até que absolvido. Ninguém nunca
aconteceu novamente no seu O gato havia morrido, ela chorava acreditou nele.
aniversário. e queria conversar. Dormiram
juntos no final e ela foi a primeira Resolveu se mudar, morar com
Desta vez, era um mundo pálido, a acordar com a campainha. os pais, qualquer coisa menos
triste, sem vida. Cinzas caiam do Quando ele percebeu, já eram sete continuar ali. Não queria mais
céu como chuva. Acompanhou e cinco. Correu até a porta. Tarde aquela dádiva.
pelo olho mágico o transcorrer demais. Já estava aberta e ela havia
daquela hora e presenciou sumido. Gritou o nome dela pelo Ninguém quis comprar o
quando o corredor apareceu. Não apartamento e pelo limiar da porta. apartamento, ficou vazio por muitos
definiu exatamente como houve a Não houve resposta. Talvez ela anos, mas ele agora o aluga. O
transição, mas foi uma constatação tivesse ido embora antes do evento. único problema é que os inquilinos
incrível saber que era real. Mas a bolsa no sofá desmentia a não duram muito.
hipótese. Não se atreveu a entrar
No decorrer dos anos, ele se naquele mundo de grama verde Geralmente meses. Nenhum
acostumara com esse evento. e de vastas florestas para localizá- passou de um ano.

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por Bruno Brasil

epizódio
policial
MUITO
preocuppant

zzzumbido 16
Accontece q os polícias descobriran q fui ond repozar a massa umniphorme d’ Bol
EU acha mastigradda a ñ ser no buráculo
y stão a telefonear insistentment aqi en ogirinalmente designé p/ as bitrúlhas d
caza p/ mór d m’amedrontaren a spor q cigarros, siptuaddo morment aos ncosto
m’acuzzan d q saben q talveis só possa braçal dos azento omnisbais; ao q assí pr
ter sido oceddi – sob os fíu-fíus das moçoilas ;) –,
EU y con conscienza
o culpozo y ninguén máis q TRANQUILA;
EU. aggora os polícias m’atormentan con
Splico melior y célerement a vossasmerc torturterrorizmo psýco-mental ao m’
êdes aqi nest hebdomadário p/ fins de telefonear desd’as 4 da mañã, m’dir
Jury post-terrior; acconteceu q’stava igindo grittos d “Óh seu maçola!”, “Ó
EU h engraçalhão!”, “Tais a te inverter,
a rumar stradísticament d Tezerópolys a é?”, “Porta de charneca!”, “Vais a
São João Nepomucenno d’Abarra d’Arraial remilhar nos pintos dos inférnos!”,
das Neves pela Viação Caramurujo, data côesas assí, profundament peturba
08/12/32, cuando vi nessecidade d m’em drora y profana, inda máis q ao primero
tupyr às Bolachas Marýlia®; acconteceu q’ telefoneaema quein attendeo foe miña
m’entupý verdadeirament às biscoita, bizavó Gramonttina, a vélia quasi mó
niclíndo-me d 4 a 6 umnidaddes à oríficia rre, si ben q lá pellas 18ª veiz q ligaran
bucal d un só tiro – recoñeço q un poco p/ peggou ella gosto pela peleja aos palav
o deleit das moçoilas dos azento ao lado ;) rórios: accedeu ao aparêlio, ao q tamén
por certo intentei d imprezionar-las dizzen amenazó os polícia con calmo y docce grit
do, ñ dsprovido d afectação, algo commo eiro, dizzente d q era es-amant-quasi-sposa
“SABIAN Q FOE O SCRIPTOR FRANK KAFTA d militar y además era “Amissíssima d ning
QUEIN DIGIRIU O PRIMERO EPIZÓDIO DO uén mennos q a Brêta Gil” – essa nen
PLANECTA DOS MACACO?”, ao q dei stremo EU
azzar, posto q miña asserssão feiz con q a sabia; bon, a Viação Caramurujo y a Po
mamãi dellas 7 si desplazasse lá do primero lícia Zientífica stão nos seus dereito d
vagão do omnibus só pra m’chammar d Gr s’m’oporen, TUDO CÔESA NORMAL,
açolista erróneo y vulgar, pello visto a demó intão
nia era profressrora d leiturices, y ainda t NOS VEMO TODOS NA CAZA DO HOM
eve a adicionalidad d revellar q meos ME DA CAPPA PRETA – AQUELLE Q INFE
bigots stavam a farellos – hasta q, pello LISMENT Ñ OS SEPERHERÓE BÁTMÉN®
mixto entre o deglutilho biscoital y tal epi OU O DOMINICANO PROPENÇO®
zódio envolvendo a matriarca puteabunda y attesto q
s’m’produzziu bollo d maçaroca gosmo-pa EU
stoza omogéneo grudent ao céu d’miña arc ñ sou mulier d levvar dezaforo p/ caza,
ada dental, ao q vi dura y emmergencial ne quer dizzer, até levo, mas só às 3ªs fe
sse cidade d subtrair o bolorama con par d iras, dya q ñ oge, sorry, y
deddos composto por 1) o indycador d mi EU
ña máo dereita y 2) o chinggador d miña adjetivvaria mennos o prezente depoi
máo dereita; acconteceu q’en seguidda mento só q o bottão q faiz appagar as
ñ tivve palavra tudo stá decididament stragado.
EU

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por Eduardo Regis

DESAPERTO
DO PEITO

zzzumbido 18
19 zzzumbido
Ignoro sempre os conselhos. mim só eu consigo descobrir se sei. é melhor do que serenidade de
Haviam me dito que a vida exige Quem vê de fora vê embaçado e uma existência dessas que vemos
mais do que ceder aos impulsos, acaba falando besteira. nos jantares de família.
mas não se importaram em me
ensinar a ser insensível. Então, Que coleção de frases prontas pra Percebi que o carcereiro já
fiz o que sei e não dei crédito ao dizer que sentimento meu vivo eu se desfez da chave. Deve tê-la
que falavam. Que se explodam os mesmo. quebrado ou a atirado no rio. Ele
que acham que tem as respostas me jurou que esta cela é o paraíso.
quando as perguntas são minhas. Viver eu quero é estando com Ela me fez acreditar que sim. Não
você. O resto todo é como olhar é uma jaula. É uma casa. Esqueci
Acontece que sorrisos podem pingo de água em dia de chuva. que sei ser uma armadilha. É como
abduzir os incautos em cafés de Se não me deixam estar contigo, querer mel sem as picadas. Só se
Copacabana. Eu sei disso porque prefiro estar sem mim, assim tudo consegue no mercado e mel de
um desses malandros me pegou se torna suportável. prateleira tem sabor aguado.
pelo pescoço e fez de mim um
bagaço de gente espremido entre Nem as cervejas me anestesiam o Ofereceram-me cloro puro para
tesão e carinho. Dei três vivas bastante. Olha que nessas ocasiões, beber esperando que ficasse
quando ele me deu uma tapa costumo beber muitas. Parece satisfeito. Recusei. Veneno eu
certeira e me levou ao nocaute. certo se embebedar quando se mesmo injeto por debaixo das
Gritaram da plateia que eu deveria está sem equilíbrio. Não tem jeito unhas, mas há de ser o veneno
fugir, mas lá, em Copacabana, as de a sua forma parar de invadir que brota dela. Uma substância
ondas estouravam e meu sangue meu caminho. Deixar-me em paz viciante, cheirosa e deliciosa que se
corria barulhento. Nada ouvi. Ou jamais. Não sei o que é uma noite agrega à consciência, deslocando-a.
fingi não ter ouvido. de sono sem uma visita sua. Estou Aos poucos, mata, está nas suas
tão feliz assim, mesmo que me questões e qualidades. Nem
Voltei pro meu canto longínquo julguem perturbado. mesmo morrer como quiser, posso.
com a cabeça pregada no sorriso É meu direito escolher como
que havia se metamorfoseado É verdade que me abraçaram e morrerei. Escolho morrer vivendo.
em beijo. Quatro lábios livres me desejaram sorte. Acham que Entendam se puderem.
que resolveram abdicar da sua o amor é sempre uma espada
liberdade. pronta para nos cortar a cabeça Eu quero tudo que ela possa
e que se entregar a ele é como me dar. Sem deixar uma gota de
Nunca resisto a um ato de desembainhar a lâmina no lugar do sangue no cálice, quero a certeza
sacrifício prazeroso. carrasco. Sou um suicida. Esperem da exaustão gostosa. Não me
encontrar meu corpo em breve. Na contentarei com menos. Não faz
Acreditei na verdade da entrega vida além, entretanto, serei perfeito. sentido. Nada justifica a repressão
daqueles lábios e me lancei à Não terei ouvidos e poderei sem dessa vontade. Trabalho e dinheiro
surpresa que haviam me jogado culpa não escutar a todos vocês. são muletas, a verdadeira realidade
pra viver. Ainda estou caindo no está no abraço apertado e no beijo
poço dessa aposta e espero nunca Eu olho as grávidas na rua e penso doído. E quero a existência dos
chegar ao fundo. Depois de tanto intrigado na vida nova que virá e beijos dela. Pode ser aqui ou lá.
cair, só poderia me esborrachar nas paixões que ela despertará, Tanto faz. Nos encontros com ela,
feio. Enquanto isso, a queda livre assim como a mulher fez comigo. sempre estou novamente naquela
me mantém inteiro, vivo e excitado. Crianças, rejeitem os amores sob esquina em Copacabana.
pena de se tornarem apenas vocês
Todas às vezes, desconsidero a mesmos. Não deixem de fazer o
palavra amiga de auxílio. Saber de que eu fiz. Uma navalha na carótida

zzzumbido 20
21 zzzumbido
por Antonio LaCarne

POEMAS

Errar é humano

12 poemas para você eu não escrevo e não quero a morte. 4 luas perdidas no céu, o número de encantos que
perdi em algum lugar do mapa. 15 beijos meus negados ou aquela velha história de que “você é a pessoa certa
na hora errada”. 3 desejos que perdi no banco de trás, meia-noite no relógio de pulso e às sextas-feiras encontrei
novos inimigos. 2 horas de espera na esquina da rua, os passos lentos dos homens ao redor, o desejo que me
empurra ao travesseiro: paz de espírito que o filme de terror diminuiu. 7 anos com um réveillon doméstico nas
entranhas, tiros de escopetas na tv que mordem com muita dor a vida das pessoas, mas o meu pior medo é do
tamanho de uma baleia. 6 areias movediças no céu azul: você só pensa em carnavais e gente suada por perto –
reciclo meu pensamento com um cigarro pela metade. Não disseram hoje que errar é humano.

zzzumbido 22
Mentiras

Nossa dura vontade de esquecer o mundo


Ou acordar e desmarcar um encontro
Não saber ao certo que dia é hoje
Ou se há dinheiro, sorriso, um par de chances
Vivenciar o caos, as ruas, as moedas, os amores clichês
Você só queria limpar o pó dos objetos
Sair por aí e não mentir
Ou se importar com a fila do cinema
Mas a noite não é segura, nem eterna
E eu sou os dois lados da moeda.

A montanha

foi de repente que você quis afogar o mundo


e não se dedicar ao verão,
despercebido em qualquer floresta,
um homem procurando sombra,
o vestígio das próprias roupas
que enxugamos na varanda
e de lá percebemos o motor do automóvel
que me trouxe a um bairro
onde só você estava ao meu alcance,
tão moreno e sem camisa,
talvez muito perdido ao lado da piscina,
alguém que oferece ombro
depois cama e beijo nos pés,
alguém que de vez em quando
é irreconhecível e se debruça
lento e forte e produtivo,
a mesma pessoa que me perguntou
por quanto tempo esperei
as sombras finalmente tomarem forma,
cientes do abismo ou da montanha
que você caiu rolando
ao se deparar com um lago
tão transparente assim como nós mesmos.

23 zzzumbido
zzzumbido 24
por André Albuquerque

O SOL E A RUA
DO CURVELO

Uma foto que adentra o dia e velho, no Capibaribe da infância de fumante.


o tempo, mostra-o evanescente, esquiva.
como se fugindo do fotógrafo, cuja Manuel enlaça-lhe a cintura e
sombra se oculta à direita, no canto Duas sombras separadas pelo descobre-se a dançar um minueto
inferior, talvez marcando a página rendilhado fino, trazem-no de volta com a Morte. A indesejada das
do dia. à ideia de rua. As colunas e o portão, gentes, deslumbrante prostituta,
fazem parte da rua arquetípica, àquela altura uma velha senhora.
O poeta, no vigor dos anos, fixada num momento luminoso Entregue aos seus braços,
posando para a manhã? Para da vida incerta e sombria, que rodopiando com o leque japonês
a tarde? Não sabemos; que aplicava-lhe vez por outra, rasteiras aberto, mantendo a distância
importaria, até se esbarrassem as sutis de capoeirista ágil e traiçoeiro, comme il faut, mas servindo-
duas? O sol foi generoso nesse dia neutralizadas pela ginga do corpo lhe a essência de puta na longa
e nos demos por satisfeitos. magro e lépido, do moço de trinta piscadela, enviada com a face
anos, já acostumado a ver de perto impassível. Gira com precisão e
O homem moço encara a lente, a Dama de Branco e saudá-la ritmo, o corpo ágil e delgado para
como quem duvida de si mesmo, no discreto cumprimento com o alguém tão idoso. Lembra ao
do sol, daquele momento. Talvez chapéu de palhinha e passando ao homem de trinta anos que aquilo é
nem pensasse estar ali, afrontando largo, abafar a tosse, no lenço ébrio uma pausa de devaneio numa vida
um olhar ciclópico, com as notícias de alfazema. cheia de perigos maravilhosos. Na
do mundo dobradas em suas mãos volta à realidade, o olhar assustado
finas, sem nenhuma utilidade No olhar, a calma budista, a do fotógrafo: é o mesmo daqueles
que proteger-lhe os olhos míopes enxergar o bonde que não chega. que espantados, “vêm a dança sem
dos raios insinuantes, em mistura Impacienta-se, aborda uma escutar a música”.
promíscua na retina, reverberando senhora de rosto velado que lhe faz
em poesia no nervo óptico, que companhia na parada. Ela ergue o
ele mais tarde lançará no papel, véu e lança- lhe um riso de velhos
tal garoto a lançar barcos de jornal conhecidos. Olhos baços e dentes

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por Gabriel Gonzalez

POEMAS

Corpos Nus

Um corpo nu alvoroça a aurora dos imberbes puritanos


Com seus cashmeres e seus carros do ano e seus corpos asseados e seus cultos
[carochianos
Em um pavor tacanho.
As cidades não têm leis, e eles temem.
Pulsam desbaratinadas, e eles ordenam
Como se alguém algum dia pudesse impor lei ou regra à anarquia.
Os pulsos na polis trespassam, como rio que flui entre os dedos, todos arrimos de
[contenção.
Para o terror dos almofadados, os tesos afluentes desaguam
Em Queer museus
Em dedos no cu
Em cristos trans
Em homens nus
Em peitos bundas e xotas
Em toda sorte de foda
Em arte
que estarrecem o alvo, agora translúcido, homem de bem de família de respeito de
[tradição
(E sempre de cashmere)
que prefere não ver que o que há de chocante são corpos nus
Pretos e Pardos
De carne barata de couro curtido
congelados anonimamente à espera de um qualquer
que lhes possa tocar e discernir
dos outros tantos que jazem vizinhos em gélidas caixas de metal.

zzzumbido 26
Endereço

(A Karina Marzano e às palmeiras imaginárias de nossa rua)

Moro numa oca mediada por arranha-céus


numa cidade onde o frágil impera
na mente alheia
Moro numa rua cercada por árvores
e com uma santa aos seus pés
Moro num inferno de meteoros chumbados
em metais cintilantes
que rasgam a leveza do céu em rastros de pólvora e chorume
Moro no pesado coração bovino de Cristo
nosso senhor
Alegre espantalho
ornamento de corvos parasitas
e suas mini-mentes
de captura
de momentos
de presentes inexistentes
Moro, em resistência, em um tempo que se esgarça
pra durar na
Falsidade
Moro e brilho e ladrilho
com brilhantes e com bosta
Essa rua de anjo renegado que me imputa
voo solo
Sem rede, amparo ou remédio
que acuda o cu da queda
quebrada em cascatas de azuis calmarias.

27 zzzumbido
Heróina

Era só mais uma puta velha


Caída às pelancas rugosamente
Distribuídas por aquele corpo
Usado e abusado
pro gozo e deleite
De corpos outros
Jovens, velhos,
machos, fêmeas,
duros, moles
Nunca moles
Todos eles sempre rijos
Prontos pra transgredir
Aquela carne
de talhas figadais descolagenadas
Enquanto entope-lhe o nariz
o mais torpe cinza pó
Enquanto entope-lhe as veias
o verde derretido que jaz em seu sangue incolor
Enquanto entopem-lhe as entranhas
as vísceras podres de carniça Percurso
Que lhe aguçavam as sensações
De nada sentir
Cocaína, heroína, libitina. Andando de ônibus
Puta velha Macunaíma Da zona sul à zona norte:
Anti-herói de si mesma.
Vi um casal de lésbicas
Se pegando graciosamente
Com as mãos estocadas
Em suas úmidas
vaginas pulsantes.

Vi inescrupulosos perversos
sem qualquer sorte de moral
ejaculando em suas vítimas
horrorizadas com tamanha,
e era grande, pornografia.

Vi habilidosos assaltantes
saquearem as massas
sem fuzis sem pistolas sem adagas
portando apenas a virulência
calibre 12 da palavra divina.

Vi mães macularem seus filhos


Vi pais abusarem das suas
Vi fodas orgásticas em cada um
dos 48 bancos daqueles
caralhos motorizados

Vi mortes injustificadas
Vi suicídios altruístas
Vi meu tempo esvair entre
lombadas e freadas
da zona sul à zona norte.

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zzzumbido

zzzumbido - nº 05 - novembro de 2017 - mensal


distribuição gratuita - editores: junior cazeri e tânia souza
e-mail: contato.zzzumbido@gmail.com.br
site: revistazzzumbido.wordpress.com/

colaboradores: eduarda vaz, rafael weiss brandt, rafaela ferrari, rafael f.


faiani, bruno brasil, eduardo regis, antonio lacarne, andré albuquerque
e gabriel gonzalez. todas as imagens que ilustram este número são
da obra da fotógrafa norueguesa marie høeg (1866-194). Os direitos
de textos pertencem aos autores e não podem ser reproduzido sem a
expressa autorização dos mesmos.

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