1Mestre em Literaturas de Língua Inglesa (UERJ). Certificate in Advanced English (CAE) and
Certificate of Proficiency in English (CPE) by Cambridge University. Professor de Língua Inglesa –
Cultura Inglesa, Colégio e Curso pH e SME-RJ.
até ter sido verdadeiras, porém não mais representam o movimento per se.
quando se pensa nas mais variadas vertentes que o feminismo possui. O que se
igualdade – hoje incluindo outros movimentos de minoria como negros, LGBT etc.
Susan Hekman sublinha o fato de que atualmente não existe um feminismo e que
2007, p. 86), é uma tarefa árdua tentar adequar todos os feminismos. Dentre
que dizem como homens e mulheres deveriam ser (COWARD, 1985, p. 227).
para a crítica feminista. Cada vez mais estudiosos e leitores apontam como
feminista se faça presente não apenas nos campos teóricos e artísticos, porém
também presente em mudanças do sistema. Linda Hutcheon diz que a arte per
se não pode ocasionar mudanças a não ser que as práticas sociais mudem. A
mudança de sistemas, ela permite que a exposição seja talvez o primeiro passo e
que
professor, seria possível argumentar que relacionar aquilo que é lido com as
leitor.
uma obra, ainda existe uma tendência em criar tipos de uma classe ou um grupo
a partir do texto, conforme Rosalind Coward expõe em seu famoso artigo “Are
uma falta de exploração adequada do texto cujo objetivo seria desmantelar como
oferecem uma revisão não só do sujeito colonizado, mas das estratégias como a
conscientização como um fato recente nos estudos pós-coloniais, pois até mesmo
ter cuidado com aquilo que ela chama de “perigo de uma única história.” Adichie
aponta para como ainda se pensa na África como um único lugar onde as
tornar cada vez mais única e imutável é elaborado por Adichie não só na sua
teórico permite a existência de um Outro cuja voz havia sido apagada ou alterada
é um inegável avanço que a crítica feminista proporcionou, ainda que esta não
relacionar como o mercado tem se aproveitado desse movimento para lucrar, pois
cada vez mais se abre espaço para obras cujas personagens ilustram outros modi
operandi. Não se busca aqui julgar se tal movimento editorial poderia ser positivo
ou negativo, porém é tarefa do crítico reconhecer que esse espaço hoje existe e
culturas.
fato nos livros “clássicos” o foco era em eventos que levavam ou atrapalhavam o
obras produzidas por mulheres, mas também permitiu outros enfoques como
sexualidade tenha sido um tema de valor à época, hoje ela não se sustenta per
se: ela está atrelada a outros discursos e áreas. Coward cita autoras como a
canadense Alice Munro, autora de Lives of Girls and Women, e a britânica Doris
se sustentar sozinha como valor nas obras. Tanto Lives of Girls and Women
quanto The Golden Notebook podem ser lidas como um Bildungsroman onde a
Meu argumento é que cada vez mais a literatura produzida por mulheres se
Minas Gerais,
com o seu slogan de que o pessoal também era político, porém o feminismo como
libertar das amarras culturais e se tornar uma mulher independente e Agnes fora
históricos apontam a sua existência como criminosa, porém não como mulher
com um passado.
foi selecionada como uma das finalistas para o Man Booker Prize de 2013 com
Estados Unidos para morar com sua tia em Detroit. Apesar da narrativa não ser
datada, é possível compreender que ela se passa nos tempos atuais por conta
das referências culturais utilizadas por Darling e seus amigos – Bin Laden,
cria a sensação de espaços sitiados nos quais apenas algumas pessoas têm
acesso. Darling e seus amigos vagam pelas ruas limpas e casas de Budapeste,
um lugar diferente da favela onde moram, Paraíso, um mar “de zinco que se
árvores, as crianças brincam e discutem como suas escolas foram fechadas após
romance é marcado pela distinção entre o uso dos pronomes “eles” e “nós”, “aqui”
inveja nos seus amigos se torna real: Darling é levada por sua tia para morar em
Darling precisa conviver, além da sua tia Fostalina, com seu primo TK e tio Kojo
que, durante a narrativa, descobrimos não ter os documentos legais para morar
nos EUA, mesmo depois de tantos anos. Kojo também é africano, porém de
Gana, logo não compreende a língua utilizada por Fostalina e Darling em alguns
momentos do romance. Vale ressaltar como, apesar de anos em outro país, Kojo
aponta que em seu país, “as mulheres cozinham refeições quentes todos os dias
para os seus maridos e filhos. E não só isso, elas também lavam e passam e
mantêm a casa limpa.” (BULAWAYO, 2014, p. 140) – um sinal daquilo que ele
narra a opressão e a repulsa que a cor branca da neve causa nela no capítulo
imaginava e o país que ela encontrou, Darling comenta que o frio, assim como a
neve, “parece querer matar, como se dissesse, com sua neve, que você devia
voltar para o lugar de onde veio.” (2014, p. 133). Além disso, Darling descreve
amigos saudosamente.
Sendo jovem, Darling ainda não compreende que não conseguiria mais
voltar para o seu país para ver seus amigos e sua mãe. O que era um sonho, um
país diferente força Darling a tentar “se moldar” para que possa apagar as suas
raízes.
Darling procura de todas as formas apagar aquilo que a torna diferente dos
outros; procura se tornar tão homogênea quanto as outras crianças, porém ela
não consegue. Essa busca pelo apagamento reforça como Darling não consegue
de ser mulher e migrar para outro país custa caro a Darling, por mais que ela
possua uma aguda percepção de como os papéis são gendrados não só na sua
Bom Vai Acontecer retrata a história de Enitan paralela à de Sheri, sua melhor
como complicada e difícil, uma vez que Enitan se recusa a cumprir os papéis
sociais esperados, o de uma mulher fiel que terá filhos e cuidará da casa para o
com a liberação feminina, rende boa parte da trama após ele ser preso ao
Porém, quando Enitan decide se envolver com um grupo contra o governo, ela é
que Enitan descobre como a mulher nigeriana ainda é vista de maneira subalterna
e inferior.
é conflituosa até o fim, porém é nela que a personagem principal encontra apoio e
compreensão quando o seu pai, até então idealizado, é preso e desaparece. Até
então, Enitan acreditava que a sua mãe escolhera “depender” de seu pai:
com uma ou até duas casas. O poder sempre esteve nas mãos do meu
pai. (ATTA, 2013, p. 168)
Perceber que sua mãe não escolheu ficar em casa e cuidar do lar é uma
reflexão importante para Enitan, pois ela compreende que ser tão confrontacional
é uma característica que ela aprendeu desde pequena com os eternos embates
com sua mãe. Seu pai a ensinou a discordar daquilo que fosse necessário, mas
de advocacia para que ela possa ter uma vida independente dele e a julga em
momentos com base na sua “conduta,” uma vez que a “mulher deve ser mais (...)
com o pai perpetuador de uma estrutura machista e a mãe que teve sua liberdade
cerceada pela mesma estrutura; educacional quando migra para Londres para
estudar e se choca com suas colegas que achavam que ela morava em uma
cabana na África e que via animais diariamente; sexual quando percebe que,
apesar de ouvir que a sua virgindade era sua, é objetificada por homens tanto na
Inglaterra quanto em sua terra natal, Nigéria; político quando percebe que as
despertares são possíveis, pois Enitan se compreende como uma mulher que
precisa se rebelar contra um sistema onde ela não tem voz. A partir de leituras do
mundo, Enitan consegue quebrar com os paradigmas, mesmo que isso custe, por
descreviam uma África cujos certos aspectos eram tomados como representativos
de todo o continente.
(...) livros que descreviam uma África colonial tão exótica que eu
gostaria de conhecer, vestida com roupa de safári, servidas por
um kikuyu silencioso e digno, ou algum outro nativo igualmente
silencioso e digno. Ou uma África sombria, com cobras,
trepadeiras e dialetos uga-uga. (ATTA, 2013, p. 284)
quando é questionada por uma estranha sobre como a África deve ser bonita:
A sensação que Darling tem é de ser incapaz de dialogar com a tal mulher
por sua falta de conhecimento, afinal, a mulher presume que ser africano é
finge saber o que está acontecendo para depois perceber que ela mesma foi um
objeto de fotos da CNN e BBC quando morava no Paraíso. A crítica sobre como a
quando em Precisamos de Novos Nomes, Darling nem mesmo reflete sobre o ato
na abordagem.
que a identidade de Enitan e Darling seja o foco principal das obras, em especial
pessoal. Tanto Tudo de Bom Vai Acontecer quanto Precisamos de Novos Nomes
REFERÊNCIAS
ATTA, Sefi. Tudo de Bom Vai Acontecer. Rio de Janeiro: Record, 2013.
BAHRI, Deepika. Feminism in/and Postcolonialism. In. LAZARUS, Neil (Org.) The
Cambridge Companion to Postcolonial Literary Studies. Cambridge:
Cambridge University Press, 2012, p. 199-220.
HEKMAN, Susan. Feminism. In: WAKE, Paul & MALPAS, Simon (Org.) The
Routledge Companion to Critical Theory. London: Routledge, 2007, p. 91-101
LAURETIS, Teresa de. Feminist Studies/ Critical Studies: Issueas, Terms and
Contexts. In. ___ (Org.) Feminist Studies – critical studies. Milwaukee: Indiana
University Press, 1986.
investigated in this article, namely Everything Good Will Come by Nigerian Sefi
Atta and We Need New Names by Zimbabwan NoViolet Bulwayo. My aim is to
discuss how feminism, in its close-knit relationship with postcolonialism, dialogues
with the aforementioned literature to offer some reflection upon the position of the
woman as a doubly colonised subject, with special attention to questions of
identity.