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Sociedade & Natureza

ISSN: 0103-1570
sociedadenatureza@ufu.br
Universidade Federal de Uberlândia
Brasil

Fracalanza, Ana Paula


ÁGUA: DE ELEMENTO NATURAL A MERCADORIA
Sociedade & Natureza, vol. 17, núm. 33, diciembre, 2005, pp. 21-36
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321327187002

Como citar este artigo


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Água: de elemento natural a mercadoria
Ana Paula Fracalanza

ÁGUA: DE ELEMENTO NATURAL A MERCADORIA

Water: of natural element into commercial product

Ana Paula Fracalanza


Socióloga e Economista, Doutora em Geografia pela UNESP – Campus de Presidente Prudente
Professora do Curso de Gestão Ambiental – EACH/ USP – Campus Leste
Av. Arlindo Bettio, 1000 – CEP 03828-000 São Paulo, SP
fracalan@usp.br

Artigo recebido em 01/08/2005 e aceito para publicação em 29/08/2005

RESUMO: Este artigo insere-se no debate da problemática ambiental relacionada ao uso dos recursos
naturais. Neste debate, a água é considerada escassa, em quantidade e qualidade, e objeto de
conflitos que envolvem sua apropriação e seu uso para realização de atividades humanas. À
luz de um referencial teórico marxista, o trabalho discute possibilidades e limites de análise
da questão ambiental. As categorias formação socioespacial e espaço geográfico, tal como
definidas por Milton Santos, constituem categorias centrais utilizadas na análise. A partir da
noção de valor, considera-se a apropriação da água na sociedade capitalista e de que forma
desenvolvem-se conflitos associados à criação de valor pelos usos da água e à degradação
da água e do espaço. O trabalho conclui afirmando que, através do processo produtivo e da
utilização da água, o espaço transforma-se em produto das atividades humanas e assim o
território é transformado também pelos usos da água. Neste sentido, a água e o espaço
geográfico podem ser explicitados em suas dimensões de meios de produção e produto das
atividades humanas.

Palavras-chave: recursos hídricos; degradação; valor; mercadoria; sustentabilidade.

ABSTRACT: This paper is targeted on the environmental issue related to the usage of natural resources,
more specifically hydric resources. On this debate the water is considered scarce both in quantity
and quality, it is also considered the object of conflict within its usage for human activities
purposes. The paper considers possibilities and limits of the environmental issues, using a
marxist analyses. The concepts sociospacial formation and geographic space, defined by Milton
Santos, constitute central categories defined and used in the analyses. According to the concept
of value, the paper analyzes in what manner the conflicts are associated with the increasingly
value given to the space provided for the usage of water and the water and space degradation.
It was made possible to conclude from the analysis the important matter of observing the water
dynamics altered by human actions and the ways the hydric resources were appropriated. In
this sense, the water and the geographic space could be explained both how production way
and how human activities product.

Keywords: hydric resources; degradation; value; environmental sustainability.

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INTRODUÇÃO medições mais importantes da sustentabilidade que


servem para implementar posteriores políticas
Esse artigo constitui parte de tese de Dou- relegam a questão relacionada à problemática
torado em Geografia desenvolvida pela autora na ambiental a uma questão, em alguns casos, exclusi-
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Univer- vamente técnica — medições de fluxos e estoques
sidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de de materiais e seres vivos — não explicitando as
Presidente Prudente, sob orientação da Profa. Dra. contradições sociais e restringindo-se a questões
Arlete Moysés Rodrigues. intergeracionais, que se reportam à sociedade futura
como uma unidade.
Nos últimos anos, a água, substância essen-
cial à vida na Terra, tem sido objeto de estudo em De fato, se a preocupação com o chamado
pesquisas relacionadas à problemática ambiental. desenvolvimento sustentável faz parte da agenda de
Nessas pesquisas são discutidas questões relacio- instituições governamentais e de organizações não
nadas às propriedades da água — vetor de calor e governamentais, a compreensão de seus objetivos e
solvente, sua importância e os seus usos diversos dos meios que permitem alcançá-los é muito diver-
para abastecimento, transporte, geração de energia sificada. Estratégias de desenvolvimento que tenham
hidroelétrica, lazer, recepção e condução de esgotos características até mesmo antagônicas entre si
domésticos e efluentes industriais. podem ser igualmente definidas como sustentáveis,
desde que expressem preocupação quanto à utili-
Além disso, são apontadas relações entre zação dos recursos naturais e à destinação de resí-
alguns destes usos como, por exemplo, transporte duos provenientes do processo produtivo.
de esgotos domésticos, e modificações na qualidade
da água, com prejuízo para outros usos, principal- Nesse trabalho, partindo do debate relacio-
mente para abastecimento. Em decorrência aponta- nado à apropriação da água na sociedade capitalista,
se a necessidade de definição de usos prioritários discutem-se possibilidades e limites de análise da
da água. questão ambiental à luz de um referencial teórico
marxista. As categorias formação socioespacial
Estas discussões inserem-se no panorama e espaço geográfico, tal como definidas por Milton
de questionamento dos padrões de desenvolvimento Santos, constituem categorias centrais definidas e
e na proposição de estratégias de desenvolvimento utilizadas neste trabalho. A análise proposta tem
ditas ambientalmente sustentáveis. como eixo central os conflitos pela criação de valor
e degradação da água decorrentes da apropriação
Foladori (1999), ao explicitar a definição de da mesma.
desenvolvimento sustentável elaborada pela Co-
missão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol- A ÁGUA NA SOCIEDADE CAPITALISTA:
vimento (1991), aponta dois elementos centrais ELEMENTO NATURAL OU RECURSO
nesta definição: a garantia de um mundo natural para NATURAL?
as futuras gerações, que se refere ao aspecto inter-
geracional; e um desenvolvimento com eqüidade Em uma primeira abordagem sobre a
para as gerações presentes, que se refere ao aspecto questão das águas, pode-se sucumbir à tentação de
intrageracional. dignificar o elemento natural necessário à manu-
tenção da vida dos seres vivos. A água, devido a
Ao observar que nos últimos vinte anos o suas propriedades térmicas e de solvente de diversas
conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se substâncias, desenvolve papel central na manuten-
mais operativo, com a criação de metodologias para ção das temperaturas e na redistribuição dos
medir a sustentabilidade, Foladori conclui que as minerais no planeta; na constituição dos organismos

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vivos, a água tem participação majoritária: no apropriada visando a realização das atividades
Homem, a água compõe cerca de 70% de seu corpo. humanas, variáveis no tempo e no espaço. Um exem-
plo da associação das técnicas às atividades humanas
As propriedades térmicas da água, com a encontra-se na distinção entre a geração de energia
existência dos estados sólido, líquido e gasoso em mecânica utilizada para mover moinhos e a geração
temperaturas relativamente próximas e os calores de energia elétrica com a utilização de turbinas nas
latentes de mudança de fase muito elevados, usinas hidroelétricas. Nos dois casos, utilizam-se
permitem a conservação de temperaturas elevadas técnicas diferentes e distintas formas de apropriação
durante a noite e reduzem a incidência dos raios da água. Os modos de organização e regulação dos
solares durante o dia. Assim, a presença de vapores sistemas técnicos são diferenciados, assim como as
de água na atmosfera contribui para a diminuição materialidades produzidas pelos sistemas técnicos
da luz emitida na Terra pelos raios infravermelhos, são distintas. O sistema de técnicas dos moinhos
bem como para a diminuição de sua reflexão e perda funciona sem alterações necessárias nos cursos dos
de energia térmica. rios, enquanto o sistema de técnicas das usinas hidro-
elétricas funciona através da construção de barra-
A propriedade da água, de solvente, refere- gens e do represamento das águas dos rios, ou seja,
se à grande quantidade de substâncias que são de modificações substanciais na dinâmica natural.
solúveis em água. Isto contribui para a dissolução e
a redistribuição dos minerais na superfície da Terra. Apesar de haver distinções entre as duas
E, nos seres vivos, para o transporte e absorção dos técnicas — de geração de energia mecânica e de
nutrientes, além da eliminação das substâncias não geração de energia elétrica — ambas se relacionam
utilizadas pelos organismos. a modificações na paisagem dadas por necessidades
humanas historicamente criadas e relacionadas ao
Ao introduzir os seres humanos no cenário, trabalho humano. Os moinhos associam-se ao tra-
pode-se notar uma alteração no modo de conceber balho humano de transformação dos alimentos e as
a água: já não basta considerar o elemento natural usinas hidrelétricas permitem a geração de energia
necessário à manutenção e reprodução da vida, de elétrica, motor de inúmeras atividades humanas.
forma estática, já que são criadas historicamente
novas necessidades de uso da água pelo Homem A distinção entre a água utilizada para
em sociedade. Trata-se de necessidades sociais, uma suprimento de necessidades essenciais dos organis-
vez que dependem da forma de organização das mos vivos e a água utilizada para suprir necessidades
diferentes sociedades humanas e do aparato cien- sociais do Homem permite que se refira à água de
tífico e tecnológico criado. duas formas diferentes: o elemento natural água,
necessário à manutenção da vida dos seres vivos; e
Assim, uma forma de observar essas dife- o recurso hídrico, apropriado pelo Homem, como
rentes necessidades sociais é através das modifica- um meio para se atingir um fim, nas atividades que
ções das técnicas que, segundo Santos e Silveira envolvem trabalho.
(2001), são representativas de épocas históricas
diversas. Os autores afirmam que “os sistemas Os conflitos relacionados à apropriação da
técnicos incluem, de um lado, a materialidade e, de água para a realização das atividades humanas são
outro, seus modos de organização e regulação” referidos, em literatura especializada (Nucci, 1993;
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.20). Rebouças, 1999; Salati, Lemos e Salati, 1999), como
conflitos pelos usos dos recursos hídricos ou sim-
No caso da água, podem-se diferenciar as plesmente como conflitos pela água. Neste trabalho,
necessidades sociais associadas aos seus usos consi- consideram-se os usos da água como se referindo
derando as diferentes técnicas pelas quais a água é tanto a recursos hídricos quanto ao elemento natu-

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ral água. Isto porque considerar os conflitos que resíduos sólidos lançam os esgotos domésticos sem
envolvem a água apenas como conflitos decorrentes tratamento nos cursos d’água, resultando em altera-
dos usos de recursos hídricos enquanto meios para ções das propriedades naturais da água. São modifi-
se atingir fins pode resultar na simplificação da cações na chamada natureza natural da água, em
problemática relacionada a transformações da suas propriedades.
natureza. De fato, os conflitos pela água, além de
envolverem os consumidores desse recurso, que o Estes diferentes processos alteram a quali-
utilizam para a execução de suas atividades naturais dade e a quantidade das águas, ou seja, resultam
e sociais, abarcam também grupos humanos inte- em uma natureza modificada pela ação humana, ou
ressados na manutenção da vida dos demais seres uma segunda natureza.
vivos. Portanto, considera-se que os conflitos envol-
vem os usos das águas, de forma ampla. Considerados os conflitos pelos usos dos
recursos hídricos sob o prisma da problemática am-
A água possui um ciclo hidrológico renovado biental, este vem sendo o ponto central de discussão:
através de processos físicos: as modificações na natureza decorrentes da ação
humana. O que está em debate não é somente desti-
Movida pela ação da energia solar, ela eva-pora- nar-se o recurso para um ou outro fim. O que está
se dos oceanos, lagos e rios, precipita-se na no centro da discussão é a forma de apropriação da
forma de chuva, neve e gelo, corre pela super- água, suas transformações concretas decorrentes
fície, infiltra-se no subsolo, escoa pelos cursos das diversas atividades humanas e quais os fins que
d’água superficiais e pelos aqüíferos e retorna se busca com a apropriação deste recurso. Recurso,
lentamente aos mares. Também é absorvida pelas aqui, transformado pela ação humana e necessário
plantas que a transpiram para a atmosfera à realização das atividades humanas:
(evapotranspiração), da qual torna a precipitar-
se, e assim sucessivamente (VARGAS, 1999, A natureza — entendida como recurso —
p.110). é submetida a um processo intenso e crescente de
transformação, propiciado pelo desenvolvimento
No entanto, o ritmo e a intensidade das ativi- científico/tecnológico, fazendo desaparecer a nature-
dades humanas alteram o ciclo hidrológico. A imper- za natural, ou seja, a primeira natureza (...) Há,
meabilização do solo pelas construções humanas, assim, um processo concomitante e contraditório de
por exemplo, aumenta o escoamento e a velocidade desnaturalização e socialização da natureza. Natu-
da água que se dirige aos córregos e rios e diminui a reza socializada por meio da produção social ao
quantidade de água infiltrada no subsolo. Vargas mesmo tempo em que ocorre intensamente a desna-
(1999) utiliza um exemplo de modificações no ciclo turalização da natureza (RODRIGUES, 1998, p.32-
hidrológico relacionadas à remoção da cobertura 33).
vegetal, que diminui a evapotranspiração e a reten-
ção da água nas bacias de drenagem. A análise dos conflitos relacionados à
apropriação da água deve ser realizada, assim,
Neste exemplo, o ciclo hidrológico da água considerando-se os processos de formação social
foi alterado pelo desenvolvimento de atividades do espaço. Trata-se de reconstruir os processos de
humanas. Mas não é somente o ciclo hidrológico transformação das características da água,
que é modificado. É a própria água que é transfor- decorrentes de sua utilização para a realização de
mada pelas atividades humanas. Assim, processos atividades humanas.
produtivos geram poluição que, sob a forma de
efluentes, atingem diretamente a água de rios, de
lagos, de oceanos e mares. Sistemas de coleta de

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A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL: As diferenciações de formações socioespa-


PARTICULARIDADES DOS MODOS ciais no espaço concreto permitem traçar uma
DE PRODUÇÃO distinção entre as categorias de análise formações
socioespaciais e modo de produção.
Neste trabalho, a categoria central a ser
utilizada na definição dos processos de transfor- Segundo Cordova (1974), citado por Santos
mação na natureza da água é a formação socio- (1977), modo de produção é “uma forma particular
espacial, categoria propriamente geográfica, definida de organização do processo de produção destinada
por Milton Santos, que transmite a idéia das particu- a agir sobre a natureza e obter os elementos neces-
laridades dos modos de produção. sários à satisfação das necessidades da sociedade”
(CORDOVA, 1974, p.118, apud SANTOS, 1977,
Para definir a formação socioespacial, p.88). Santos (1977) afirma que o modo de produção
Santos (1977) analisa a categoria formação econô- se desenvolve em um espaço geral, escrevendo a
mica e social, elaborada por Marx e Engels, ampla- História no tempo, enquanto as diferentes formações
mente debatida por vários autores, segundo Santos. socioespaciais desenvolvem-se em espaços parti-
Frente às múltiplas possibilidades de definição da culares.
formação econômica e social, Herzog (1975) (apud
Santos, 1977), um dos teóricos que trabalha com Assim, poder-se-ia dizer que faz parte do
esta categoria, considera que para melhor compre- modo de produção capitalista a apropriação privada
endê-la é necessário aprofundar a pesquisa histórica da água e sua utilização em processos que geram
sobre o capitalismo, não aprisionando o conceito em valor com a produção de mercadorias. No entanto,
definições. a análise concreta de como a água é apropriada em
uma dada formação socioespacial depende da
Santos (1977) aponta que a formação econô- (re)construção do processo de produção social do
mica e social não se refere à “sociedade em geral”, espaço e de suas conseqüências nas características
mas a uma dada sociedade. Assim, o estudo de das águas e do espaço relacionado às águas, nesta
diferentes formações econômicas e sociais permite formação socioespacial.
“o conhecimento de uma sociedade na sua totalidade
e nas suas frações, mas sempre um conhecimento Para tanto, é fundamental considerar a
específico, apreendido num dado momento de sua formação socioespacial em um determinado tempo
evolução” (SANTOS, 1977, p.84). histórico, já que “sendo o espaço geográfico um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e
Conforme o autor (1977), com a introdução sistemas de ações, sua definição varia com as
da categoria de análise espaço, a formação econô- épocas, isto é, com a natureza dos objetos e a natu-
mica e social ganha dimensão de movimento, reza das ações presentes em cada momento histó-
devendo, assim, ser considerada uma formação rico” (SANTOS, 1996, p.267).
socioespacial.
Neste sentido, só é possível compreender
Uma formação econômica e social, em sua as modificações espaciais decorrentes da constru-
concretude, implica a determinação das relações ção de obras associadas à utilização das águas dos
econômicas e sociais que a caracterizam em um rios, ao relacionar tais modificações às atividades e
período histórico. Estas relações são estabelecidas aos processos que deram origem a estas obras. Por
em um espaço que caracteriza as formações socio- exemplo, as obras de represamento das águas podem
espaciais e suas especificidades, e que propicia e estar associadas, entre outras, à necessidade de
demonstra diferenciações entre elas. armazenamento de água para irrigação do solo, à
construção de usinas para geração de energia

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hidroelétrica ou a estas duas atividades. No caso da exploração dos recursos natu-


rais, é importante considerar de que forma se dá o
Assim, para analisar a produção social do processo produtivo e quem é beneficiado pelo
espaço, no exemplo acima, é preciso considerar que mesmo. De fato, apesar de a degradação não conhe-
a construção de um reservatório de águas modifica cer fronteiras, a exploração dos recursos naturais e
a dinâmica espacial, resultando em um novo sistema a poluição decorrente dos processos produtivos
de objetos vinculado a um sistema de ações que tem atingem de forma distinta os diferentes países, de
finalidades distintas das ações anteriores ao repre- acordo com as técnicas produtivas utilizadas e com
samento e conseqüente inundação de áreas. a exploração de mais-valia onde se dão estas ativi-
dades. Isto permite analisar a possibilidade de uma
Uma característica do espaço geográfico no terceira unicidade: das modificações no espaço
momento histórico atual é sua mundialização. decorrentes de atividades humanas.
Segundo Santos (1998), o espaço redefine-se, de-
vendo-se levar em conta novos dados revelados: Neste sentido, cabe ressaltar que, para o
ambiente, os agravos não acontecem ao mesmo tem-
pela modernização e pelo capitalismo agrícola, po e em todos os lugares, de forma única, como
pela especialização regional das atividades, por pode ser com a técnica e a mais-valia. No caso da
novas formas e localizações da indústria e da água, cabe destacar que não há unicidade das
extração mineral, pelas novas modalidades de modificações no espaço decorrentes de atividades
produção de energia, pela importância da localizadas em territórios distintos, a partir de
circulação no processo produtivo, pelas grandes diversos modos de apropriação dos recursos hídricos.
migrações, pela terciariação e pela urbanização Assim, uma organização internacional que seja
extremamente hierárquicas (SANTOS, 1998, dotada de uma técnica de produção potencialmente
p.124). poluidora, cujo objetivo está vinculado à geração da
mais-valia decorrente de uma atividade produtiva,
Todos estes processos de produção social ao se instalar em um dado país, estará lançando seus
do espaço — atividades industriais, agrícolas, urba- efluentes industriais nas águas deste país. Mesmo
nas — apresentam formas específicas de utilização considerando-se que as águas não se restringem a
da água, não apenas como insumo — matéria-prima fronteiras delimitadas político-administrativamente,
necessária ao processo produtivo — mas também a influência direta da poluição das águas, no caso
como depósito de produtos indesejáveis. A definição acima, pode não atingir o país de onde é proveniente
da forma como o espaço é modificado em virtude o capital. Afinal, os fatores de atração espacial
das necessidades consideradas prioritárias e dos derivados da presença de recursos naturais facil-
meios e formas de apropriação da água auxilia a mente acessíveis e da ausência de um controle rígido
compreensão dos conflitos pela utilização da água da poluição gerada continuam influenciando a
em uma formação socioespacial. definição da espacialidade da instalação das indús-
trias mundialmente, cuja origem de capital e destino
Dentre as transformações que se processam da poluição gerada podem localizar-se até em
no momento histórico atual e que constituem a base continentes distintos.
de explicação histórica da realidade espacial, Milton
Santos (1998) ressalta dois novos fenômenos: a Santos (1996) afirma que o espaço geográ-
unicidade técnica, ou seja, apesar de graus diferentes fico mundial apresenta diferentes características nos
de complexidade, em todos os lugares os conjuntos diferentes lugares: há lugares globais simples, nos
técnicos presentes são de modo geral os mesmos; e quais se instalam apenas alguns vetores da moder-
a unicidade da mais-valia, tornada mundial por meio nidade atual, e há lugares globais complexos, onde
das firmas e dos bancos internacionais. existem desde vetores que representam as lógicas

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hegemônicas até aqueles que a elas se opõem. Pode- nas diferentes formações socioespaciais, assumindo
se acrescentar que, no âmbito da problemática características que a definem localmente.
ambiental, há lugares globais onde recursos naturais
são facilmente utilizáveis e onde os rejeitos do Segundo Milton Santos (1977), ao conside-
processo produtivo não são amplamente controlados rar os modos de produção concretamente delimi-
e há lugares globais onde existe escassez relativa tados sobre uma base territorial historicamente
de recursos naturais e onde há controles rígidos determinada, tem-se as formações espaciais, que
quanto à disposição dos rejeitos. se constituem em linguagens dos modos se pro-
dução. Estes, na sua determinação geográfica, são
Uma forma de visualizar estas questões é seletivos, reforçando dessa maneira a especificidade
através da observação de que o espaço geográfico, dos lugares.
na fase histórica atual, por um lado, apresenta-se
mundializado e, por outro lado, adquire caracte- Esta é a importância fundamental da forma-
rísticas particulares em nível local. Ao estudar as ção socioespacial: fazer a mediação entre o Mundo
grandes cidades, Milton Santos define a existência e o Lugar, entre o Mundo e o Território:
de duas situações tipo (permeadas por uma infini-
dade de situações intermediárias), com relação à Mais do que a formação socioeconômica é a
divisão do trabalho: formação socioespacial que exerce esse papel
de mediação: este não cabe ao território em si,
Há, de um lado, uma economia explicitamente mas ao território e seu uso, num momento dado,
globalizada, produzida de cima, e um setor o que supõe de um lado uma existência material
produzido de baixo, que, nos países pobres, é de formas geográficas, naturais ou transfor-
um setor popular e, nos países ricos, inclui os madas pelo homem, formas atualmente usadas
setores desprivilegiados da sociedade, incluídos e, de outro lado, a existência de normas de uso,
os imigrantes. Cada qual é responsável pela jurídicas ou meramente costumeiras, formais ou
instalação, dentro das cidades, de divisões de simplesmente informais (SANTOS, 1996, p.270-
trabalho típicas (SANTOS, 1996, p.259). 271).

Analisar como estas divisões de trabalho Assim, a caracterização de uma formação


repercutem na definição dos usos da água é uma socioespacial permite a compreensão do espaço
forma de trazer esta discussão próxima ao objeto geográfico tal como ele se apresenta nos estudos
de estudo deste trabalho. Assim, dentro das grandes realizados, que são historicamente datados.
cidades existem setores populares que têm acesso
reduzido à água tratada, enquanto há outros setores O espaço geográfico, definido pelo autor
privilegiados cujo acesso à água tratada é garantido. como um conjunto indissociável de sistemas de
objetos e de sistemas de ações, é apresentado em
Este exemplo, relacionado à divisão do tra- Santos e Silveira (2001) como sinônimo de território
balho, auxilia na compreensão da importância de se usado. E é este último que, afirma Santos, deve ser
definirem as formações socioespaciais. Reafir-ma- considerado como categoria de análise, e não o terri-
se aqui que modo de produção refere-se a um espaço tório em si.
geral, enquanto formação socioespacial, a um espaço
particular; o modo de produção refere-se a uma A categoria de análise território usado fica
possibilidade de realização, enquanto a formação esclarecida se analisarmos como Santos e Silveira
socioespacial, a uma possibilidade reali-zada. Assim, (2001) referem-se a ele: relacionado a “interdepen-
a divisão do trabalho, tal como ela se define no modo dência e a inseparabilidade entre a materialidade,
de produção capitalista, realiza-se de forma concreta que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui a ação

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humana, isto é, o trabalho e a política” (SANTOS; espaço geográfico.


SILVEIRA, 2001, p.247).
O espaço geográfico constitui, portanto,
Assim como na determinação do espaço resultado do trabalho efetivado e base para repro-
geográfico, na definição do território usado tem-se dução do próprio espaço. Assim, deve-se considerar
o sistema de objetos relacionado intrinsecamente e como se distribuem o trabalho e os recursos naturais
de forma interdependente às ações humanas. necessários a esta reprodução.

Compõem o sistema de objetos, segundo POSSIBILIDADES E LIMITES DE


Santos (1996), “hidroelétricas, fábricas, fazendas ANÁLISE DA QUESTÃO AMBIENTAL
modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de
ferro, cidades” (SANTOS, 1996, p.51). Aqui estão A questão ambiental associada ao uso da
citados apenas objetos criados, mas o autor afirma água e aos conflitos decorrentes da apropriação dos
que os objetos podem ser naturais ou artificiais, sendo recursos hídricos pode ser vinculada ao processo
que os primeiros vêm sendo substituídos cada vez de criação de valor no espaço, em uma perspectiva
mais pelos segundos. Assim, pode-se analisar a marxista.
vinculação entre sistemas de objetos e sistemas de
ações, já que os primeiros — os objetos — são cada Será possível a utilização do materialismo
vez mais criados e/ou modificados pelos segundos histórico como método para a análise ambiental, se
— as ações. Por exemplo, os leitos dos rios, a origem do mesmo encontra-se em um momento
originalmente um sistema de objetos naturais, vêm histórico no qual não eram estabelecidas relações
sendo modificados pelas ações — dos indivíduos, entre a poluição e a degradação dos recursos
das empresas, das instituições. naturais, ou seja, em um momento onde não se
discutiam os problemas ambientais tal como eles são
As ações humanas têm sua identidade dada debatidos atualmente?
pelo trabalho. No caso do espaço geográfico, Milton
Santos afirma que qualquer que seja o período Segundo Foster (2005), “embora haja uma
histórico, este é resultado da produção, que “supõe longa história de denúncias contra Marx por falta
uma intermediação entre o homem e a natureza, de preocupação ecológica, hoje, após décadas de
através das técnicas e dos instrumentos de trabalho debate, está claríssimo que esta visão absolutamente
inventados para o exercício desse intermédio” não condiz com as evidências” (FOSTER, 2005,
(SANTOS, 1978, p.162). Trata-se, portanto, da p.23). Segundo o autor, para Marx a alienação do
produção social do espaço, que “modifica a Natureza trabalho humano sempre esteve conectada a com-
Primeira, a natureza bruta, a natureza natural”, sendo preensão da alienação dos seres humanos em rela-
o espaço criado como “Natureza Segunda, natureza ção à natureza. Foster afirma que “era essa alienação
transformada, natureza social ou socializada” bilateral que, acima de tudo, era preciso explicar
(SANTOS, 1978, p.163). historicamente” (FOSTER, 2005, p.23).

O espaço é produzido socialmente, ou seja, Guillermo Foladori (1997) analisa possibi-


é produto, resultado de ações e simultaneamente lidades de leitura de aspectos da questão ambiental
produtor, um fator social e uma instância social tendo como base as formulações teóricas de Marx.
(SANTOS, 1978). Ou seja, os sistemas se retroali- Para tanto, em um primeiro momento, apresenta dois
mentam, de modo que o espaço é ponto de partida grandes temas nos quais se dividem as críticas ao
que delimita as possibilidades de reprodução do capi- marxismo, de uma perspectiva ecológica (esta divi-
tal e o espaço é ponto de chegada, já que o resultado são foi realizada por John Bellamy Foster (1995),
da efetivação dos processos produtivos determina o citado por Foladori (1997)): o das forças produtivas

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e o do valor. Sob o primeiro, incluem-se as críticas ambiental seja uma restrição ao capitalismo:
direcionadas a mostrar que Marx considerava o
desenvolvimento das forças produtivas como posi- Este (capitalismo) pode superar os proble-
tivo em si mesmo, que entendia a produção de uma mas de escassez ou aumento de custos com substi-
perspectiva prometéica, que tomava a natureza tão tuição de produtos, aumentos de produtividade do
somente como um objeto a ser dominado e que, ao trabalho nos setores energéticos, de matérias-primas
utilizar os conceitos de produção ou de produtividade, e de reciclagem de produtos, ou ainda diminuindo os
não levava em conta os prejuízos que a ação humana salários (FOLADORI, 1997, p.154).
poderia provocar na natureza. Este primeiro conjunto
de críticas é dividido por Foladori em duas vertentes. Esta colocação do autor poderia ser questio-
nada a partir da observação sobre os impasses e
Em uma primeira vertente, Marx conside- crises relacionados ao processo produtivo derivados
raria a natureza somente enquanto objeto de trabalho da escassez de alguns recursos naturais, escassez
e de exploração econômica. A análise que Foladori associada a forma e ritmo de exploração destes re-
realiza da obra marxiana, em sua discussão da cur-sos, como é o caso dos recursos hídricos, tema
acumulação do capital, conduz à afirmação de que deste trabalho. É evidente que a problemática
a concepção antropocêntrica, comum à época em ambiental relacionada aos recursos hídricos não pode
que Marx escreveu sua obra, “está muito mais próxi- ser dissociada das agruras ao ambiente natural resul-
ma de uma harmonia com a natureza do que do tantes do uso intensivo destes recursos. De fato, a
domínio prometéico em sua versão produtivista, poluição e conseqüente degradação da água são
equivocadamente ressaltada por alguns leitores” discutidas atualmente como fatores limitantes ao
(FOLADORI, 1997, p.143). crescimento econômico e a realização de atividades
humanas. No entanto, cabe observar como o capi-
Em uma segunda vertente, Marx não consi- talismo, a partir da suposta restrição ao uso de
deraria os possíveis limites físicos ao desenvol- recursos naturais, cria novas necessidades produtivas
vimento econômico. Mas, segundo Foladori (1997), que resultam em seu sucesso. Um exemplo disto foi
a partir da análise marxiana depreende-se que os a imposição de restrições ao consumo de energia
problemas social e político são sempre anteriores aos consumidores brasileiros, dada a necessidade
ao das possíveis barreiras físicas: de racionamento de energia. Ao mesmo tempo em
que se disseminou a necessidade de diminuição do
Em resumo, as críticas dos modernos econo- uso de aparelhos elétricos com alto consumo de
mistas ecológicos ao marxismo confundem as energia, movimentou-se um “mercado” de aparelhos
coisas como são com o ideal de como deveriam elétricos “poupadores” de energia, que inclusive
ser. Certamente Marx não considerou possíveis gastam energia na sua produção.
barreiras físicas ao desenvolvimento capitalista;
ao contrário, supôs que, com o desenvolvimento Cabe ainda a afirmação de Foladori sobre a
tecnológico, elas poderiam ser superadas. Porém precedência dos problemas sociais e políticos às
nem sequer hoje em dia, quando as barreiras barreiras físicas. Quanto a estes aspectos, a análise
físicas estão mais presentes que nunca, é espacial possibilita observar relações entre o am-
obsoleta a formulação de Marx de centrar a biente natural e suas modificações originadas das
análise na contradição capital/trabalho e explicar ações humanas.
as crises capitalistas a partir dessa contradição
(FOLADORI, 1997, p.148). O segundo grande tema analisado por
Foladori relaciona-se às críticas que procuram
Sobre esta segunda vertente, é importante apontar que Marx ignorava o papel da natureza na
observar que Foladori (1997) não acredita que a crise teoria do valor-trabalho. Esta leitura de Marx,

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Água: de elemento natural a mercadoria
Ana Paula Fracalanza

segundo Foladori, é incorreta, já que para Marx a exemplo, também criam valor através do trabalho
base da produção capitalista é a produtividade natu- humano, utilizando o espaço no qual se encontra a
ral da terra, entendida em sentido amplo de espaço água.
de vida e produção. Foladori compara a produção
pré-capitalista de valores de uso, que tem seus limites Portanto, a categoria valor-trabalho, em
associados à satisfação das necessidades, à pro- Marx, pode ser utilizada para a análise dos conflitos
dução capitalista ilimitada de mercadorias que pro- envolvendo apropriação e usos das águas. Todavia,
voca o esgotamento dos recursos naturais a um ritmo esta categoria não fornece elementos suficientes para
inimaginável na história da humanidade, agindo nesta compreensão dos conflitos. Estes elementos condu-
última o valor como mediador das relações humanas zem à necessidade de outra definição de valor, mais
e do acesso ao restante da natureza (FOLADORI, ampla, o que será feito a seguir.
1997).
A ÁGUA ENQUANTO MERCADORIA:
A partir do rebatimento às críticas que VALOR E CONFLITOS
afirmam a impossibilidade de uma análise marxista
da questão ambiental, o autor conclui que “a expli- Neste trabalho, considerou-se que o Ho-
cação marxiana do funcionamento do sistema mem, ao se apropriar da água para a realização de
capitalista fornece elementos inigualáveis para ex- suas atividades, promove conflitos. Observou-se
plicar os entraves sociais às possibilidades de regu- também que as técnicas de apropriação da água são
lar ou planificar o uso dos recursos naturais” (FOLA- representativas de cada momento histórico.
DORI, 1997, p.161).
No capitalismo, a produção social do espaço
Considerando válidas as problemáticas resulta em sistemas de objetos que são dotados de
propostas por Foladori, ressaltamos que a utilização valores de uso e de valores de troca — as
do materialismo histórico como método fornece mercadorias. E os sistemas de ações relacionam-se
elementos explicativos centrais para a compreensão ao modo de produzir mercadorias através da
de conflitos decorrentes das várias formas de apro- apropriação privada dos meios de produção. No caso
priação e utilização dos recursos hídricos. da água, pode-se dizer que, no momento histórico
atual do capitalismo, ela vem sendo considerada uma
No caso destes recursos, pode-se dizer que mercadoria cujos valores de uso são dados por cada
as atividades humanas necessitam dos mesmos para um de seus usos possíveis com a apropriação pública
sua realização. De fato, a água é necessária na e privada, coletiva e individual da água — para
atividade industrial, agropecuária, comercial. Estas abastecimento doméstico; abastecimento comercial;
atividades, que utilizam água, criam valor através irrigação e dessedentação de animais; uso indus-
do trabalho humano. Portanto, há criação de valor trial. Há ainda os usos que são feitos pela apropriação
com os usos da água pelas diferentes atividades do espaço no qual a água se encontra — esportes,
humanas. No caso de abastecimento doméstico por lazer e turismo; geração de energia hidroelétrica;
rede, também há criação de valor, já que a captação, transporte hídrico. Há também o uso relacionado à
o transporte e a distribuição de água exigem trabalho utilização da água enquanto rede — uso para
para sua realização. recepção e transporte de esgotos domésticos e eflu-
entes industriais.
Além da criação de valor com os usos da
água, também há criação de valor com o uso do Ao se constatar que a água vem assumindo
espaço no qual a água se encontra. Atividades como um papel de mercadoria na sociedade capitalista, a
esportes, lazer, recreação, geração de energia atribuição dos valores de troca assumidos pela água
elétrica, transporte, pesca em rios e represas, por no mercado gera controvérsias que estão rela-

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Ana Paula Fracalanza

cionadas, no paradigma dominante, à atribuição de lado, à possibilidade de criação de valor com os usos
valor monetário para recursos naturais que são ditos da água e do espaço no qual ela se encontra, tal
como de propriedade comum. como definido anteriormente. Por outro lado, os
conflitos envolvem também a degradação da água
Segundo Shiva (2001), “muitas discussões e do espaço, pelos mesmos usos da água que possi-
no paradigma dominante assumem que valor bilitam a criação de valor.
monetário, comercial ou de mercado é o único modo
de medir ou valorar o ambiente” (SHIVA, 2001, p.2). Todavia, o valor referido neste momento não
A autora afirma que não se deve reduzir valor a é o valor trabalho, tal como definido por Marx. É o
preço, dado que existem recursos que não tem preço, valor intrínseco da água, em um sentido amplo,
mas um alto valor como, por exemplo, certos semelhante àquele atribuído por Shiva ao se referir
recursos e ecossistemas considerados sagrados, aos bens comuns. Pode ser valor no sentido social,
vinculados a valores espirituais, ou ainda recursos de um bem comum necessário à sociedade humana.
de propriedade comum que têm valores sociais. Pode ainda ser valor no sentido espiritual, não so-
mente de um ecossistema considerado sagrado, como
Shiva (2001) afirma que a mercantilização também de um ecossistema que abriga diferentes e
dos recursos comuns é baseada em dois mitos. O diversas formas de vida, não somente para usufruto
primeiro mito é a equivalência entre valor e preço. do Homem, mas enquanto natureza em si.
Segundo a autora, recursos comuns como florestas
e rios sagrados freqüentemente têm altíssimo valor Assim, as formas de apropriação da água
e não tem preço. O segundo mito é que recursos de estão relacionadas aos valores de uso da água, ou
propriedade comum tendem à degradação, sendo seja, aos diferentes usos que se faz da água —
instrumentos de mercado freqüentemente prescritos descritos anteriormente. Todavia, os conflitos pela
para resolver “problemas” relacionados ao uso água não se dão exclusivamente pelos usos da água
intensivo destes recursos. Mais uma vez aqui, para criação de valor, com emprego de trabalho
segundo a autora, cai-se na armadilha de considerar humano. Os conflitos também estão associados ao
preço e valor como sinônimos. valor intrínseco da água, em sentido amplo, e à sua
degradação.
No caso deste trabalho, optou-se por não
considerar o preço que pode ser atribuído pela Portanto, a definição de valor associado aos
utilização deste bem, centrando a discussão na conflitos decorrentes de usos da água encontra-se
questão do valor. A opção por considerar a questão relacionado à possibilidade de criação de valor e de
do valor e não do preço da água justifica-se pelo degradação da água por atividades humanas que
fato de os conflitos relacionados à apropriação da utilizam água para sua realização. A produção in-
água não se darem somente porque se passou a dustrial, por exemplo, utiliza a água em suas ativi-
considerar que os bens comuns são dotados de dades e produz mercadorias associadas a estas ativi-
preços. O raciocínio é diverso: a atribuição de preço dades produtivas. Conforme foi observado acima,
a estes bens pode mesmo estar associada aos não se considera, neste trabalho, se a água tem um
conflitos que são estabelecidos pelos usuários, preço no momento de sua apropriação, mas é fun-
associados estes às diferentes formas de apro- damental seu valor enquanto insumo necessário ao
priação dos bens e à escassez quantitativa e quali- processo produtivo e enquanto elemento natural
tativa dos mesmos. Nesse caso, a existência dos essencial à vida. No caso de necessidades humanas,
conflitos preexiste à atribuição de preços a estes pode-se dizer que, no processo de apropriação da
bens. águas, cria-se valor. De fato, no momento histórico
atual, todas atividades humanas que se apropriam
Estes conflitos estão relacionados, por um de água estão relacionadas à criação de valor. Até

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mesmo atividades como abastecimento doméstico o espaço geográfico. Entretanto, dependendo


criam valor relacionado ao trabalho de captação e do momento histórico o fazem de modo espe-
distribuição de água. cífico, diferenciado de acordo com o estágio de
desenvolvimento das forças produtivas. O espa-
Ainda na definição de valor, pode-se afirmar ço passa a ser produzido em função do processo
que, se no mesmo espaço geográfico houver a produtivo geral da sociedade. No capitalismo,
utilização da água para lançamento de esgotos as necessidades de reprodução do sistema fun-
domésticos e isto inviabilizar o uso para a atividade dado no capital vão estabelecer os rumos, obje-
industrial acima exemplificada, o conflito que se tivos e finalidades do processo geral de repro-
estabelece não diz respeito ao preço que a água po- dução, no qual o espaço aparecerá como condi-
derá ter para ser apropriada para uso industrial ou ção e meio, desvanecendo-se o fato de que tam-
para que sejam lançados os esgotos domésticos. O bém é produto (CARLOS, 1994, p.22).
conflito se estabelece frente à degradação da água,
relacionada à poluição resultante de seu uso para Na análise de construção social do espaço,
recepção dos esgotos domésticos, o que resulta in- a água é transformada de elemento natural em
clusive na dificuldade de apropriação da água para recurso hídrico necessário à reprodução do capital.
posterior criação de valor, no caso, pela atividade O lugar no qual encontra-se a água, assim como a
industrial. água em si são condições para o processo produtivo.
A realização de diferentes atividades humanas ne-
Neste exemplo acima, pode ser estabelecido cessita de água e do espaço no qual encontra-se
que os conflitos se relacionam à criação e à degra- este recurso. No entanto, através do processo pro-
dação, tanto com a utilização da água, quanto com a dutivo e da utilização da água, o espaço transforma-
apropriação do espaço no qual a água encontra-se se em produto das atividades humanas e assim o
territorializada. território é transformado também pelos usos da água.
Neste sentido, a água e o espaço geográfico podem
ÁGUA E ESPAÇO GEOGRÁFICO: ser explicitados em suas dimensões de meios de
MEIOS DE PRODUÇÃO E RESULTADOS produção e produto das atividades humanas.
DO PROCESSO PRODUTIVO
Deve-se observar que a apropriação da
Segundo Carlos (1994), os processos de água envolve agentes com interesses distintos. Para
urbanização, industrialização e produção agrícola fins de análise, podem ser considerados os seguintes
constituem formas pelas quais é produzido o espaço grupos de agentes: os agentes sociais — no caso os
geográfico no capitalismo. Se a construção do usuários da água, que necessitam de água e do
espaço geográfico é resultado das relações que se espaço geográfico para realização de suas ativi-
estabelecem entre a sociedade e a natureza através dades, ou seja, que necessitam da água para viver;
do trabalho, no capitalismo, com o desenvolvimento os agentes sociais que possuem interesses relacio-
das forças produtivas, a produção social do espaço nados à valorização de seu capital e do espaço onde
passa a estar cada vez mais intrinsecamente rela- se encontra a água; os agentes governamentais —
cionada às formas de reprodução do capital. Neste expressos através dos aparelhos de Estado — que,
sentido, o espaço é simultaneamente meio e resul- além de promover ações que utilizam água, imple-
tado dos diferentes processos de reprodução do mentam políticas que podem privilegiar alguns dos
capital, seja ele agrícola, comercial, industrial, finan- usos dos recursos hídricos em detrimento de outros
ceiro ou tecnológico: usos; e os agentes governamentais responsáveis por
disciplinar a atuação dos agentes sociais na apro-
(...) os homens, ao produzirem seus bens mate- priação dos recursos disponíveis. Deve-se observar
riais e se reproduzindo como espécie, produzem que estes grupos de agentes não são obrigato-

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Água: de elemento natural a mercadoria
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riamente excludentes entre si, podendo existir agentes formas de apropriação e usos da água, distinguidos
que pertençam a mais de um grupo. em: usos relacionados à apropriação da água; usos
relacionados a apropriação do espaço; e usos com
Como resultado das necessidades e dos utilização da água enquanto rede. Este QUADRO 1
interesses de uso dos recursos hídricos pelos agentes também apresenta: a transformação que estes usos
sociais e da mediação dos usos destes recursos pelos promove no espaço; a criação de valor pelas ativi-
agentes governamentais, são definidas as possibi- dades humanas e a degradação resultante destes
lidades de apropriação da água em uma área. A usos; e os usuários diretamente envolvidos em cada
definição dos usos dos recursos hídricos resultante um dos usos. É evidente que estes usos não são
deste embate explicita diferentes relações de poder excludentes e exclusivos. O QUADRO 1 tem o objetivo
tecidas no processo de produção social do espaço. de mostrar usos predominantes.
O estabelecimento de relações de poder não é pe-
culiar aos recursos hídricos. A terra, assim como a Ao se referir à água como recurso, Raffestin
água, é objeto de relações de poder, estando no (1993) afirma que ela é motivo para relações de
centro de estratégias múltiplas (RAFFESTIN, 1993). poder e de conflitos:

A análise destas estratégias explicita os O controle e/ou a posse da água são sobretudo
interesses envolvidos e as relações estabelecidas de natureza política, pois interessam ao conjunto
entre agentes, definindo a estrutura de poder rela- de uma coletividade. As relações conflituais que
cionada à apropriação dos recursos. Um excelente se travam a propósito da água são observáveis
exemplo da definição de uma estrutura de poder a em grande escala, como por exemplo nas zonas
partir da apropriação privada dos recursos acima irrigadas submetidas à repartição das águas, ou
referidos — água e terra — é apresentado em em pequena escala, onde duas nações disputam
trabalho de Seabra (1987). Segundo a autora, “a entre si uma bacia hidrográfica (RAFFESTIN,
atuação ‘ideal’ do Estado está permeada de 1993, p.231).
interesses privados”, atuando os detentores desses
interesses sobre os aparelhos de Estado, “ora como Explicitar os conflitos estabelecidos pela
pólo de uma relação conflituosa, ora através dele apropriação dos recursos hídricos constitui um passo
em benefício próprio” (SEABRA, 1987, p.275-281). importante para a definição das relações que
produzem o espaço geográfico. Nesta abordagem,
Considera-se, neste trabalho, que um foco as relações com os recursos hídricos são relações
central de análise da produção social do espaço com o espaço e com o tempo, já que explicitam o
envolvendo os recursos hídricos pode ser encontrado acesso no espaço e/ou o acesso na duração (RA-
ao se examinar de que forma os diferentes inte- FFESTIN, 1993).
resses privados são conduzidos rumo à apropriação
destes recursos, assim como a relação destes inte- Neste caminho é fundamental analisar a
resses com os aparelhos de Estado. produção social do espaço geográfico, resultado do
processo de apropriação dos recursos e base para
Neste campo de análise, ao se enunciarem qualquer posterior definição de novas formas de
os conflitos, devem ser definidos os diferentes grupos apropriação. Assim, constitui-se o que Seabra (1987,
de interesses, sua forma de atuação frente às possi- p.272) define como a “espacialização dos processos
bilidades de apropriação dos recursos hídricos e os gerais da sociedade” e o que Santos e Silveira (2001)
embates que são frutos da apropriação privada de chamam de constituição do território usado.
bens que constituem patrimônio nacional.

O Q UADRO 1 apresenta um resumo de

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Água: de elemento natural a mercadoria
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Quadro 1 – Apropriação e Usos da Água e do Espaço

Apropriação da Água Transformação Criação de Valor Degradação Usuários diretamente


no Espaço pelas Atividades envolvidos
Abastecimento Qualidade e Habitação Degradação da População
Doméstico Quantidade água e do espaço
Abastecimento Qualidade e Comércio Degradação da Setor comercial
Comercial Quantidade água e do espaço
Irrigação e Qualidade e Agropecuária Degradação da Setor agropecuário
Dessedentação Quantidade água e do espaço
de Animais
Industrial Qualidade e Indústria Degradação da Setor industrial
Quantidade água e do espaço

Apropriação do Espaço Transformação Criação de Valor Degradação Usuários diretamente


no Espaço pelas Atividades envolvidos
Esportes, Lazer Qualidade Esportes, Lazer Degradação da População e Setores de
e Turismo e Turismo água e do espaço esportes, lazer e turismo
Geração de Energia Quantidade Energia elétrica Degradação do espaço População, Setores industrial,
Hidroelétrica comercial e agropecuário,
Setor energético
Pesca Qualidade Pesca Degradação da Setor pesqueiro
água e do espaço
Transporte Hídrico Qualidade e Transporte Degradação da População, Setores industrial,
Quantidade água e do espaço comercial e agropecuário e
Setores de lazer e turismo

Utilização da água Transformação no Criação de Valor Degradação Usuários diretamente


enquanto rede Espaço pelas Atividades envolvidos
Esgotos Domésticos e Qualidade e Saneamento Degradação da População e Setores industrial
Efluentes Industriais Quantidade água e do espaço e comercial
Elaborado por: Fracalanza, 2002.

CONCLUSÃO momento histórico atual do capitalismo, ela vem


sendo considerada uma mercadoria cujos valores
O tema central considerado nesse artigo de uso são dados por cada um dos usos possíveis de
foram os conflitos relacionados à apropriação da água serem feitos com a apropriação e utilização pública
em situações de escassez de sua qualidade e de sua ou privada, coletiva ou individual da água e do espaço
quantidade. Os conflitos foram observados sob o no qual se encontra a água. São estes usos que
enfoque do valor. No capitalismo, a produção social propiciam, através das atividades humanas, ou ainda,
do espaço resulta em sistemas de objetos que são do trabalho, a criação de valor e a alteração do espa-
dotados de valores de uso e de valores de troca — ço geográfico. Assim, na leitura efetuada ao longo
as mercadorias. E os sistemas de ações relacionam- deste trabalho, o valor intrínseco da água, aquilo que
se ao modo de produzir mercadorias através da apro- a valoriza enquanto objeto de conflitos decorre da
priação privada dos meios de produção. possibilidade de se criar valor nas diferentes ativi-
dades humanas, ou ainda de se degradar a água ou
No caso da água, pode-se dizer que, no o espaço geográfico no qual ela se encontra.

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Água: de elemento natural a mercadoria
Ana Paula Fracalanza

Há outras leituras possíveis de serem feitas da Água na Região Metropolitana de São Paulo.
em relação aos conflitos associados à apropriação 2002. 217p. Tese (Doutorado em Geografia) –
da água, que não foram apontadas nesse trabalho, e Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
que em muito contribuiriam para compreensão desta Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2002.
problemática. Pode-se observar, por exemplo, como
se associam os agentes envolvidos na utilização da NUCCI, N.L.R. Aproveitamento dos Recursos
água e do espaço, e quais seus interesses. Pode-se Hídricos na Região Metropolitana de São Paulo. In:
analisar, ainda, como estes interesses repercutem SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Am-
no aparelho de Estado e de que forma as ações pú- biente. Política e Gestão de Recursos Hídricos
blicas atendem aos diferentes interesses em jogo. no Estado de São Paulo. São Paulo: A Secretaria,
1993.
Como conclusão, observa-se que o processo
de produção capitalista do espaço transforma a água RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder.
em recurso necessário à reprodução do capital. O São Paulo: Ática, 1993. 269p.
lugar no qual encontra-se a água, assim como a água
em si são condições para o processo produtivo. REBOUÇAS, A.C. Água Doce no Mundo e no
Todavia, através do processo produtivo e da utilização Brasil. In: REBOUÇAS, A.C., BRAGA, B.,
da água, o espaço transforma-se em produto das TUNDISI, J.G. (Orgs.). Águas Doces no Brasil:
atividades humanas e assim o território é transfor- capital ecológico, uso e conservação. São Paulo:
mado também pelos usos da água. Neste sentido, a Escrituras, 1999. p.1-37.
água e o espaço geográfico podem ser explicitados
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