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RESENHAS REVIEWS 191

Americanismo e fordismo. Antonio Gramsci. A introdução ao texto foi dividida em duas


São Paulo: Hedra, 2008, 96 p. partes, precedida de um rápido preâmbulo no
qual situa a relevância atribuída por Gramsci a
esse bloco histórico, denominado de ameri-
Lúcia Maria Wanderley Neves canismo e fordismo, no conjunto dos seus
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fiocruz, escritos do cárcere. Na primeira parte, intitu-
Rio de Janeiro, Brasil lada “Hegemonia estadunidense”, o autor res-
<lucianeves@fiocruz.br>
salta primeiramente a abrangência atribuída
por Gramsci ao fenômeno do americanismo.
É sempre bem-vinda uma iniciativa editorial Observa também que, por envolver as dimen-
que traga às novas gerações obras marxistas em sões econômica, política e ideológica, este
tempos de um antimarxismo explícito ou sub- fenômeno passa a constituir-se em um novo
liminar, presente na literatura, que tenta dar modo de vida, profundamente imbricado na
conta das mudanças que se processam na atua- esfera produtiva com o taylorismo e o fordismo.
lidade mundial e brasileira e que fundamenta a Chama a atenção ainda para o deslocamento
formação dos cientistas sociais nos anos iniciais do eixo dinâmico da economia mundial da
do século XXI. Antimarxismo que vem atingin- Europa para os Estados Unidos, provocado por
do até mesmo Antonio Gramsci, autor que, até este fenômeno. Salienta ainda que o marxista
pouco tempo, pelo menos no Brasil, era cita- italiano privilegia nessas notas “a organi-
do por um largo espectro das forças políticas zação do trabalho e da produção social do con-
nacionias. sentimento na indústria moderna”, realçando
O “Americanismo e fordismo”, título dado que o fordismo, ao se expandir da fábrica para
pelo próprio Gramsci ao Caderno 22 dos Cader- o conjunto das relações sociais de produção,
nos do cárcere, em 1934, composto de 16 notas, propicia a criação de um novo tipo de traba-
é conhecido dos brasileiros de longa data. Ele lhador, conformado a partir da conjugação dos
foi editado no Brasil em 1968, pela Civiliza- elementos da força e do consentimento. Por fim,
ção Brasileira, na chamada edição temática, o autor destaca ainda a percepção gramsciana
como parte do livro Maquiavel, a política e o de que o ‘fenômeno americano’, aparecendo co-
Estado moderno, com tradução de Luiz Mário mo uma resposta à queda tendencial da taxa
Gazzaneo. Mais recentemente, em 2001, nova- de lucro, se constitui em estratégia burguesa
mente pela Civilização Brasileira, ele se inclui de superação da crise de hegemonia em proces-
no volume 4, Temas de cultura, ação cató- so à época.
lica. Americanismo e fordismo, da edição bra- Na segunda parte da introdução, denomi-
sileira da íntegra dos Cadernos do cárcere, nada “A dialética da pacificação”, o profes-
editada por Carlos Nelson Coutinho e Luiz sor Ruy Braga salienta que, no americanismo
Sérgio Henriques. e fordismo, a burguesia estadunidense alcan-
Agora, a editora Hedra nos brinda com este ça sua elaboração ‘superior’, distinguindo-
trecho específico da complexa e abrangente se das classes dominantes tradicionais. Essas
reflexão de Antonio Gramsci, traduzido por novas frações hegemônicas fundam um novo
Gabriel Bogossian, com introdução e notas téc- Estado que amplia suas esferas estruturais,
nicas dos professores Ruy Braga e Álvaro para além da aparelhagem estatal, com a expan-
Bianchi, das universidades de São Paulo e de são de aparelhos privados de hegemonia na
Campinas, respectivamente. sociedade civil. Esse Estado ampliado efetiva
Este recorte feito pela editora Hedra no con- a passagem de um individualismo econômico
junto do universo gramsciano tem como objeti- característico das fases anteriores do capita-
vo, segundo o professor Ruy Braga, no final da lismo para uma economia programática, via-
introdução às notas do Caderno 22, contribuir bilizadora de novas relações sociais, baseadas
para a reflexão sobre a atual conjuntura inter- no consumo de massas; aumenta a produ-
nacional, “no instante em que a crise econômi- tividade capitalista; efetiva a pacificação das
ca estadunidense catalisada pelo colapso do classes trabalhadoras e, ao mesmo tempo,
financiamento imobiliário subprime nos reme- restaura a hegemonia burguesa abalada por
mora aquela outra de 1929” (p. 25). um período significativo de crise orgânica.

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 1, p. 191-195, mar./jun.2009


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Salienta, por fim, na análise do americanismo física do trabalhador, de sua eficiência muscu-
e fordismo, o seu caráter de revolução passiva. lar-nervosa: é de seu interesse ter um quadro es-
Tais observações introdutórias ao texto tável de trabalhadores qualificados, um conjun-
gramsciano levam o professor Ruy Braga a to permanente harmonizado, já que também o
concluir que “americanismo e fordismo repre- complexo humano (o trabalhador coletivo) de
sentam as duas faces de uma mesma moeda”: uma empresa é uma máquina que não deve ser
um processo de racionalização do trabalho e excessivamente desmontada com freqüência ou
da produção e, ao mesmo tempo, um novo ter suas peças individuais renovadas constante-
ajuste entre estrutura e superestrutura, “(...) mente sem que isso provoque grandes perdas.”
no sentido de recompor a unidade entre as Em que pese estas e outras imprecisões veri-
relações sociais de produção e os aparelhos de ficadas, esta nova tradução tem o mérito de
hegemonia” (p. 25). trazer mais uma vez à tona a atualidade impres-
Comparando a edição da Civilização Bra- sionante do pensamento gramsciano, por apon-
sileira de Americanismo e fordismo, de 2001, tar e discutir, neste trecho e no conjunto de sua
com esta nova edição da editora Hedra, de obra, temas pertinentes à pauta da agenda
2008, podemos observar que esta última tenta política mundial e nacional desses anos iniciais
atribuir maior leveza ao texto, dando às no- do século XXI, tão bem destacados pelo profes-
tas uma aparência de ensaio, especialmente sor Ruy Braga na introdução.
quando traz para notas de rodapé trechos em A leitura desta nova edição deve se traduzir
que Gramsci intercala observações paralelas. em um convite para um aprofundamento do es-
Percebe-se, ainda, nessa perspectiva, uma ten- tudo das idéias gramscianas, cuja obra comple-
tativa de dar maior clareza aos parágrafos, sub- ta está à disposição do leitor brasileiro nos dois
dividindo-os em frases mais curtas. volumes das Cartas do cárcere, nos dois volu-
Não obstante esses recursos tornem, de mes dos Escritos políticos e nos seis volumes
fato, a leitura mais fácil e estimulante ao leitor dos Cadernos do cárcere, todos publicados pela
iniciante, retiram, em parte, o caráter fragmen- editora Civilização Brasileira.
tário da escrita das notas, característica funda-
mental dos Cadernos do cárcere, em que pese a
robustez e a organicidade do seu pensamento.
Merecem destaque ainda, no tocante à
tradução, certas discrepâncias significativas en-
tre a edição de 2001 e a de 2008, algumas quan-
to à imprecisão no uso da língua portuguesa,
outras no que se refere a divergências no pró-
prio conteúdo. Essas imprecisões de conteúdo e
forma podem ser verificadas, por exemplo, na
nota 11, na página 71. Enquanto a editora
Hedra traduziu: “O industrial americano se
preocupa em manter a continuidade da efici-
ência física do trabalhador, da sua eficiência
muscular e nervosa. É seu interesse ter uma
competência estável, um complexo harmoniza-
do permanentemente, porque até o complexo
humano – o coletivo trabalhador – de uma
grande empresa é uma máquina que não deve
ser desmontada com grande freqüência, nem
ver renovados os seus pedaços individuais sem
grandes perdas”, a edição de 2001, na página
267, traduz esse mesmo trecho de maneira
diversa, certamente mais adequada em termos
conceituais: “O industrial americano se preo-
cupa em manter a continuidade da eficiência

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 1, p. 191-195, mar./jun.2009

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