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Rochas Ornamentais

Chapter · November 2012


DOI: 10.13140/RG.2.1.2659.2724

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4 authors, including:

Pedro Miguel Amaral Jorge Cruz Fernandes


Technical University of Lisbon Technical University of Lisbon
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Luis Guerra Rosa


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ro c h a s o r n a m e n ta i s
Pedro Amaral, Jorge C. Fernandes, Vera Pires, Luis Guerra Rosa
9
9.1 Introdução
9.2 Estrutura dos materiais de pedra
9.3 Propriedades físicas e mecânicas — especificações, normas e regulamentação
9.4 Produtos e aplicações de pedra
9.5 Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra
9.6 Conservação, durabilidade, limpeza
9.7 Ciclo de vidA
introdução 465

9.1 Introdução

É muito frequente apresentar as rochas ornamentais como símbolos de beleza e poder.


Na realidade, as rochas ornamentais estão inseridas num sector único e muito espe-
cial que é usualmente incluído no vasto mundo dos materiais de construção: o sector
da pedra natural. Este sector está associado a alguns dos mais fascinantes trabalhos de
arquitectura e engenharia existentes no mundo (das pirâmides do Egipto às inúmeras
catedrais e castelos por todos conhecidos até aos mais modernos projectos de arquitec-
tura, ícones em qualquer grande cidade). As características naturais, tão próprias destes
materiais, fascinam a maioria daqueles que pretendem atribuir um toque exclusivo aos
projectos que concretizam (ver Figura 9.1). São sem dúvida materiais com propriedades
estéticas muito características; mas deverá a utilização dos produtos obtidos a partir de
rochas basear-se apenas em critérios estéticos? É evidentemente insuficiente. Por outro
lado, e considerando a realidade técnico-científica existente na maioria dos países que
aplicam produtos em rocha, será que a escolha do material a aplicar é realizada de forma
adequada? Os factos indicam que para a maioria dos engenheiros, arquitectos e demais
projectistas a escolha do tipo de produto em rocha é feita com base na experiência empí-
rica do dia-a-dia, sem que se atente a uma série de aspectos muitas vezes determinantes
na futura utilização destes materiais.

Uma das situações importantes a estabelecer inicialmente está relacionada com a ter-
minologia aplicada neste sector, a qual nem sempre é uniforme como na maioria dos
materiais de construção. A designação «rocha ornamental» é muitas vezes usada como
sinónimo de «pedra natural» ou mesmo «pedra ornamental». Na realidade, todas estas
designações podem ser utilizadas, desde que em contextos concretos. Considerem-se, por
exemplo, as seguintes «definições»:
• Rocha ornamental — Matéria-prima de origem geológica que é extraída atendendo às
suas capacidades ornamentais intrínsecas (i.e., independente da sua capacidade para
ser utilizada numa determinada aplicação, seja estrutural ou puramente estética). A
rocha é portanto classificada como de uso ornamental, pois, como exemplos, poderá
ser usada num colar, numa peça de estatuária, num painel iluminado, numa fachada
ventilada de um edifício; ou seja, para fins em que as características decorativas e
ornamentais da rocha se impõem pela sua elevada beleza natural.
• Pedra natural — Material geológico com características físicas, mecânicas e químicas
intrínsecas e que pode ser utilizado em diversas situações consoante possua determi-
nados requisitos, designadamente em aplicações estruturais com ou sem fim ornamen-
tal (por exemplo, uma pedra natural pode ser usada como soleira sem pretensões de
ser ornamental).
466 introdução

Figura 9.1: Exemplos de aplicações tradicionais de rochas em pavimentos: a) pavimento e revestimentos exteriores da fundação
Champalimaud, em Lisboa, Portugal (com vista ao fundo do Mosteiro dos Jerónimos); b) pavimento interior do «Duomo di Milano»
em Itália; e outras aplicações mais modernas: c) exterior no Museu da Casa de Serralves, no Porto, Portugal; d) aspecto exterior
do «Diamante Negro» em Copenhaga, Dinamarca. Apesar de, em algumas situações, terem sido aplicados há muitas dezenas de
anos, os revestimentos apresentam ainda um estado de conservação muito razoável.

• Produto de pedra natural — Produto acabado ou semi acabado constituído exclusiva-


mente por pedra natural o qual pode ou não ser considerado como um produto ori-
ginado especificamente de uma rocha ornamental (a matéria-prima). Ou seja, poderá
apenas ser constituído de uma rocha sem valor (aparente) ornamental, mas que
constituída num determinado produto serve um determinado fim. Nesta definição
introdução 467

excluem-se quaisquer tratamentos (superficiais, de incremento de resistência...) apli-


cados aos produtos de pedra natural. Qualquer tipo de transformação que a pedra
sofra deverá originar sempre um produto de pedra transformada, o qual segue outro
tipo de metodologias para se realizar a sua caracterização.

Apesar de tudo, a faceta mais importante e com maior valor acrescentado é sem dúvida
a relacionada com a componente ornamental da rocha, independentemente de se con-
siderarem também outras propriedades. Este facto, que justifica por si só a escolha do
título deste capítulo (Rochas Ornamentais), não significa que na abordagem deste traba-
lho não sejam igualmente focados assuntos relacionados com a generalidade das pedras
naturais, pese embora seja dado um especial relevo à vertente ornamental.

O conhecimento adequado de uma rocha não passa apenas pelo conhecimento das suas
principais propriedades. Qualquer projecto que envolva a utilização de rochas ornamen-
tais deverá sempre considerar a sua origem; como se realiza a sua extracção; quais os
processos de produção mais adequados; e, também, quais os métodos mais adequados
na sua aplicação e manutenção. De um modo geral, é fundamental reconhecer que cada
uma destas etapas desempenha um papel importante no ciclo de conhecimento relacio-
nado com os produtos de pedra natural.

A Figura 9.2 apresenta de forma esquematizada algumas das etapas-chave relativas ao


ciclo produtivo das principais rochas, mármore e granito, processadas em Portugal.

Em projectos de arquitectura de elevada dimensão é importante haver um conhecimento


prévio de qual o ciclo produtivo utilizado no processamento das rochas ornamentais, de
modo a poder avaliar o respectivo projecto de forma integrada. Assim, devemos ser capa-
zes de distinguir alguns pontos-chave que são necessários ter em conta quando é elabo-
rado o projecto [1].

Na extracção deve considerar-se a quantidade, dimensão e classe de material a utili-


zar. A observação destes aspectos permitirá a quem orienta o projecto saber se deter-
minada pedreira é capaz de fornecer todo o material previsto, assim como determinar
quais os meios técnicos mais adequados à extracção de um determinado bloco. Neste
último ponto dá-se como exemplo a utilização de métodos de desmonte que deterioram
as rochas internamente com prejuízo para algumas aplicações à partida possíveis de rea-
lizar. Outra situação é determinar se existirão outras pedreiras de materiais semelhan-
tes capazes de utilizar métodos de extracção mais eficazes, quer ao nível da rapidez com
que o processo é feito, quer ao nível da escolha de blocos que garantam homogeneidade
de cor e propriedades.
468 introdução

Figura 9.2: Exemplo genérico do ciclo


produtivo das principais rochas processadas
em Portugal: a) Extracção de blocos de pedra
numa pedreira; b) Corte de chapas a partir
de blocos de pedra; de chapas; c) Polimento
e corte final de chapas polidas para obtenção
de ladrilhos; d) Embalagem e expedição
de ladrilhos.

Na produção deve haver preocupação no que concerne ao tipo e quantidade do produto


pretendido. Neste caso específico, são inúmeras as considerações técnicas que permitirão
avaliar de forma mais integrada (e sustentável) o projecto pretendido. Um dos exemplos
mais típicos é relativo ao tipo de tecnologia utilizada pelo processador. A não utiliza-
ção, no processo de produção, de algumas ferramentas diamantadas de última geração
poderá tornar o produto não só mais caro como impedir o produtor de conseguir formas
introdução 469

e dimensões exigidas pela aplicação em vista [2, 3]. Na prática, parâmetros como dimen-
são, brilho e homogeneidade são cruciais durante o processo de aplicação. O conheci-
mento do processamento por parte do próprio projectista poderá minimizar a probabi-
lidade de falha para a obtenção de um produto (quando apresenta características não
conformes), o que implica naturalmente um aumento de custos, relativamente ao ini-
cialmente previsto (por exemplo, material desperdiçado, maiores tempos de execução ou
aplicação deficiente).

A fase de selecção (triagem e escolha final) dos materiais é outra condição muito discu-
tida ao nível de projecto [4]. É normal que em projectos onde a aplicação de rochas orna-
mentais se constitua como fundamental seja necessária uma previsão relativa à coloca-
ção destes produtos. Não é possível contar que dois ladrilhos de, por exemplo, mármore
sejam absolutamente iguais um ao outro. Assim, o processo de classificação e separação
dos produtos considerando as suas características estéticas é fundamental. Actualmente
existem já algumas tentativas para aplicar sistemas periciais que avaliam o aspecto esté-
tico das rochas segundo determinados critérios. Além de ser necessário estender a atri-
buição dos critérios a quem na realidade projecta, é preciso entender que esta escolha
deverá ser uma realidade a curto prazo. De uma forma global, o projectista deverá estar
igualmente dentro dos diversos processos, empíricos ou não, que o transformador final
ou distribuidor tem para classificar os seus produtos.

Apesar de todas estas considerações serem colocadas separadamente, existe uma questão
relevante a todas elas que será sem dúvida a mais importante no futuro destes materiais:
a questão ambiental [5].

Não são raras as situações em que nos deparamos com imagens de uma paisagem con-
frangedora situada em locais que muitas vezes nos deixam maravilhados pela sua beleza.
A exploração pouco controlada de pedreiras a céu aberto, mas sobretudo o aparecimento
de inúmeras escombreiras1 sem qualquer tipo de enquadramento paisagístico, constitui
um dos exemplos mais negativos que surgem quando se pretende utilizar estes materiais
naturais. Infelizmente não são os únicos pois grande parte do processamento é condu-
zido em condições que não permitem olhar para as rochas ornamentais como um pro-
duto ambientalmente interessante. No entanto, o futuro indica já diversos pontos posi-
tivos como sejam a possibilidade de explorar um maior número de pedreiras em túnel
(debaixo da superfície) e possível reutilização dos desperdícios noutros produtos, alguns
de valor acrescentado. A utilização de novas tecnologias de corte e serragem permite

Uma escombreira é um local onde são depositados todos os restos de rocha estéril (sem aproveitamento)
1 

provenientes da exploração de uma pedreira.


470 E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a

diminuir igualmente a quantidade de desperdício produzido durante as fases de extrac-


ção e transformação [6]. Este assunto irá ser retomado na última parte deste capítulo
onde as questões relativas ao ciclo de vida destes produtos («life cycle assessment») são
discutidas mais pormenorizadamente.

9 . 2 E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a

As descrições mais genéricas para definir cada tipo de rocha passam essencialmente pela
enunciação dos diversos constituintes que esta possui e sua distribuição espacial  [7].
Além da definição da estrutura cristalina de cada conjunto de minerais presentes na
rocha, existe uma definição mais abrangente de estrutura que permite descrever não só a
composição química e mineralógica de cada espécie pétrea como também a sua textura.
A estrutura do material, entendida de acordo com o atrás mencionado, é o factor mais
determinante na escolha de qualquer material pétreo quando aplicado como material
de construção. Embora pareça complexo, o facto de o projectista entender de um modo
geral qual a estrutura do material poderá permitir-lhe não só conhecer o tipo de proprie-
dades macroscópicas, mecânicas ou outras, que à partida são esperadas, como algumas
vezes identificar (ou impedir) a ocorrência de alguns fenómenos que pouca ou nenhuma
relação possuem com as propriedades normalmente determinadas. Este conhecimento é
na prática uma linha ténue entre o sucesso absoluto de uma aplicação e o fracasso que
redunda numa desconsideração injusta sobre o material pétreo, o qual na prática pode
ter sido utilizado de forma inadequada.

Na actualidade, a ocorrência de problemas inerentes a uma análise / selecção defeituosa


e que resulta em patologias muitas vezes complexas de avaliar é talvez dos factores mais
preocupantes. Na prática, muitas destas situações podem ser solucionadas com a sim-
ples análise prévia dos materiais a aplicar. Não é demais enfatizar que o conhecimento e
a experiência intrínseca a este tipo de materiais permitem, quase sempre, uma preven-
ção adequada.

As rochas dividem-se em três grandes grupos: as ígneas, as metamórficas, e as sedimen-


tares [8]. O primeiro grupo de rochas inclui o granito, o basalto, o sienito, o gabro e o
diorito. Relativamente às rochas metamórficas, aquela que mais se destaca é sem dúvida
o mármore. No entanto, existem outras rochas metamórficas igualmente utilizadas na
indústria das rochas ornamentais, tais como o quartzito, o gneisse e, cada vez mais, as
ardósias e outras rochas xistentas. Por último, no grupo das rochas sedimentares inclui-
se o calcário sedimentar, brechas, dolomite, e outros tipos menos utilizados do ponto de
vista ornamental.
E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a 471

Apesar do exposto anteriormente, do ponto de vista industrial, este tipo de classificação


não é a mais utilizada, uma vez que carece de um conhecimento técnico-científico muito
específico para ser aplicada correntemente. Neste sentido, tornou-se normal classificar as
rochas ornamentais de uma forma mais voltada para os aspectos comerciais. No geral, é
comum designar a maioria das rochas ornamentais por granitos, mármores e calcários.
Em Portugal, a utilização de algumas rochas xistentas obriga à utilização de mais um
tipo particular de rocha, as ardósias [1].

Contudo, no que concerne à observação e descrição da microestrutura, as classes de


materiais são normalmente simplificadas em dois grandes grupos, os granitos e os már-
mores. Para além destes dois grandes grupos representarem normalmente a divisão
entre aquelas que se apresentam como mais «duras» e aquelas que são mais «macias»,
a divisão deve-se principalmente à natureza dos processos tecnológicos utilizados na sua
extracção e transformação (bem como as associações naturais ao tipo de aplicações tra-
dicionais e durabilidade esperada). Neste sentido, recorre-se à utilização dos vocábulos
granito e mármore para designar as rochas silicatadas e as rochas carbonatadas, respec-
tivamente, que podem ou não ser aplicadas com fins ornamentais e que, em particular,
são susceptíveis de sofrer um acabamento superficial.

9.2.1 Granitos
Os granitos são rochas ígneas que resultaram de um processo de consolidação em pro-
fundidade de magmas primários ou secundários (rochas plutónicas intrusivas) [4]. Do
ponto de vista macroscópico tratam-se de rochas duras e normalmente difíceis de traba-
lhar mecanicamente. Apresentam tonalidades bastante variadas (branco, cinzento, azul,
rosa ou vermelho) com uma granularidade muito variada: de muito fina com dimensões
máximas das centenas de mícron até muito grosseira, podendo atingir as poucas deze-
nas de centímetros. Como foi referido, do ponto de vista comercial a terminologia gra-
nito engloba outros tipos de rochas, pelo que vulgarmente também se designam este
tipo de rochas por «rochas semelantes ao granito» ou apenas como «granitóides». Em
comum estas rochas podem ter uma ou mais das seguintes três características: i) o facto
de terem composições químico-mineralógicas semelhantes; ii) serem rochas silicatadas;
ou iii) possuírem um processo produtivo semelhante ao utilizado no granito.

A descrição estrutural destes materiais é feita primeiramente através da sua caracte-


rização petrográfica. Os aspectos geralmente descritos na petrografia de rochas orna-
mentais são a sua composição mineralógica e textura. A classificação petrográfica das
rochas ígneas portuguesas utilizadas como ornamentais é apresentada de acordo com o
diagrama (simplificado) de Streckeisen [1]. Geralmente, os granitos são descritos como
rochas plutónicas de textura granular holocristalina, composta essencialmente por felds-
472 E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a

Figura 9.3: Aspecto de alguns tipos de granitos portugueses. a) Azul alpalhão


(ou SPI), textura macroscópica e textura microscópica; b) Cinzento pedras salgadas, textura
macroscópica e textura microscópica.

patos (feldspatos potássicos e plagioclase) e quartzo, nas quais ocorrem alguns minerais
acessórios (menos de 10 por cento em peso), tais como a mica (biotite e moscovite). Na
Figura 9.3 é possível observar o aspecto de vários tipos de granito portugueses, onde é
possível confrontar a textura macroscópica com a textura2 microscópica (petrografia).

Outra classificação importante passa pela determinação da composição química dos gra-
nitos. Tipicamente, os granitos possuem teores em sílica (SiO2) sempre superiores a 40
por cento (rochas ultrabásicas). No entanto, a generalidade dos granitos tem um teor de
sílica superior a 60 por cento (percentagens em peso). Outros compostos típicos do gra-
nito são a alumina (Al2O3), o óxido de ferro III (Fe2O3), o óxido de magnésio (MgO), o
óxido de sódio (Na2O) ou o óxido de potássio (K2O). Os resultados das análises químicas
podem dar origem a uma estimativa da composição mineralógica das rochas.

Embora seja o termo mais comum, textura microscópica pode ser igualmente substituído pelo termo
2 

microestrutura.
E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a 473

9.2.2 Mármores
Os mármores são rochas metamórficas formadas a uma profundidade variável da super-
fície terrestre [7]. O mármore forma-se a partir de transformações mineralógicas e tex-
turais (recristalização completa) de outras rochas com diversas origens. Tipicamente, os
dois principais agentes de metamorfismo (seja «de contacto» ou «regional») que ocorrem
nos mármores são o aumento da pressão e da temperatura. Esta situação faz com que os
mármores apresentem uma variabilidade de propriedades ainda maior que os granitos.

Contrariamente ao que empiricamente é sugerido, alguns mármores possuem proprie-


dades muito semelhantes aos granitos, tendo em conta os aspectos específicos do meta-
morfismo associado ao seu desenvolvimento. Necessariamente, a escolha de um tipo
particular de mármore deverá estar sujeita a um conhecimento prévio da sua origem,
designadamente através da sua microestrutura. Por exemplo, os mármores de tonalidade
clara (ou mesmo branca) provêm de rochas calcárias puras (rochas sedimentares), o que
lhes confere muitas vezes algumas propriedades inerentes aos próprios calcários. Outros
mármores, de cor diversa ou com veios, resultam da presença de minerais formados a
partir de impurezas existentes no calcário original.

Tendo em consideração a divisão estabelecida entre os dois grandes grupos de rochas


comercialmente utilizadas como ornamentais, i.e., granitos e mármores, devemos incluir
no grupo destas últimas uma rocha com grande importância estratégica em Portugal, o
calcário. Tal como foi referido, o calcário possui praticamente a mesma composição quí-
mica e mineralógica da maioria dos mármores (excepto aqueles com grandes quantidades
de minerais formados de impurezas). Como tal, a análise relativa à sua estrutura deve
ser efectuada no mesmo sentido da dos mármores.

Em geral, a caracterização da estrutura das rochas carbonatadas é realizada da mesma


forma que nos granitos. Mais concretamente, é muito usual recorrerem-se às técnicas
de petrografia e análise química de compostos. Do ponto de vista petrográfico, todos os
mármores portugueses são constituídos por uma elevada percentagem de calcite (a dolo-
mite é subordinada ou está simplesmente ausente) e apresentam geralmente uma textura
granoblástica, por vezes sacaróide, de grão fino e médio.

Os mármores explorados em Portugal raramente apresentam grão muito grosseiro, mas


por outro lado são bastante ricos em pigmentações de vários tipos, o que ocasiona gran-
des variações de tonalidade e homogeneidade, mesmo dentro de uma mesma pedreira.
No caso particular dos calcários, uma das suas características principais é apresentarem
um elevado grau de estratificação, numa sequência de camadas variável. As camadas
474 E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a

Figura 9.4: Aspecto de vários tipos de mármores e calcários portugueses. a) Mármore Creme — venado, textura macroscópica;
b) Mármore Rosa Aurora, textura macroscópica e c) textura microscópica; d) Calcário Lioz, textura macroscópica; e) Calcário Moca
Creme, textura macroscópica e f) e textura microscópica.

por sua vez encontram-se separadas por planos de descontinuidade (ou de estratifica-
ção) cuja estrutura mostra frequentemente os elementos detríticos que estão na origem
deste tipo de rochas.

Na Figura 9.4 é possível observar o aspecto de vários tipos de mármore e calcário por-
tugueses, podendo confrontar-se a textura macroscópica com a textura microscópica
(petrografia).

9 . 2 . 3 A r d ó s i a s e o u t r a s r o c h a s x i s t e n ta s
As ardósias ou lousas são rochas metamórficas, de tonalidade escura (normalmente cin-
zenta ou azulada) e com um elevado grau de xistosidade [1]. A sua estrutura implica uma
separação muito fácil do material em lâminas paralelas que clivam precisamente pelos
planos de xistosidade. No entanto, existem outras rochas que fazem parte desta classe
de materiais como é o caso do quartzito, cuja utilização tem vindo a crescer recente-
E s t r u t u r a d o s m at e r i a i s d e p e d r a 475

Figura 9.5: Aspecto de um tipo de rocha xistenta: Alta — quartzito (proveniente da


Noruega), textura macroscópica e textura microscópica.

mente, principalmente nalgumas situações onde são aplicados como revestimentos inter-
nos e externos. A utilização deste tipo de rocha deve merecer da parte do projectista um
cuidado reforçado no que concerne à escolha dos materiais. Assim, um melhor conheci-
mento da estrutura destes materiais reveste-se da maior importância dado que os aspec-
tos texturais, relacionados com o grau de xistosidade, possibilita apontar as principais
fragilidades destes materiais [9]. Na Figura 9.5 é possível observar o aspecto de um tipo
de rocha xistenta, podendo confrontar-se a textura macroscópica com a textura micros-
cópica (petrografia).

Do ponto de vista estrutural, ambas as observações (macro e microscópicas) são extre-


mamente importantes para uma escolha primária dos materiais a utilizar. A análise
petrográfica da rocha (minerais e textura) permite normalmente estimar qual o compor-
tamento do material para determinadas aplicações, especialmente aquelas que pela sua
natureza interferem quimicamente com a rocha (afectando naturalmente a durabilidade
da mesma). Neste sentido é normalmente aconselhável recorrer a especialistas na área
da petrologia, os quais possuem a experiência adequada no sentido de esclarecer os prin-
cipais aspectos da microestrutura de rochas. Apesar desta ser a primeira técnica a uti-
lizar quando é necessário caracterizar microestruturalmente uma rocha, existem outro
tipo de técnicas complementares que permitem verificar alguns aspectos particulares da
microestrutura das rochas, tais como a difracção de raios X, microssonda electrónica,
ou mesmo técnicas indirectas como aquelas descritas pela análise normativa dos diver-
sos compostos químicos, a qual é igualmente conhecida pelo cálculo normativo CIPW
(desenvolvido em 1902 por Cross, Iddengs, Pirsson e Washington).

O conhecimento dos aspectos macroscópicos de uma rocha (cores, venadas ou veios,


dimensões dos grãos, imperfeições naturais, etc.) constitui, por outro lado, o aspecto
476 Propriedades físicas e mecânicas

mais subjectivo na escolha destes materiais. As diversas sensações e simbologia asso-


ciada ao envolvimento do homem na beleza natural de algumas rochas, especialmente
no que concerne à sua cor, têm vindo a ser estudadas em pormenor no sentido de poder
vir, um dia, a codificar os aspectos cromáticos (e respectiva distribuição) nas rochas [6].
Hoje em dia é possível entender melhor como a cor de cada material litológico se rela-
ciona com a presença de alguns minerais específicos, a sua natureza (muito associada à
sua proveniência), o seu estado de agregação (entre eles próprios ou com outros mine-
rais) e a sua estabilidade (visível por exemplo através de alterações na composição quí-
mica dos minerais) [10].

9 . 3 P r o p r ie d a d e s f í s i c a s e m e c â n i c a s —
e s p e c ifi c a ç õ e s , n o r m a s e r e g u l a m e n ta ç ã o

Apesar de serem quase sempre vistos como produtos estéticos, as propriedades físicas
e mecânicas das rochas são, na maioria das aplicações, decisivas para uma escolha ade-
quada. A execução de um determinado número de estudos e ensaios (alguns de cariz
mais tecnológico) é fundamental para definir a qualidade e desempenho das rochas orna-
mentais [11]. A comprovar este facto está o número muito significativo de estudos técni-
cos que permitem, até um determinado nível, perceber qual a influência destas proprie-
dades (muitas vezes intrínsecas a cada tipo de rocha) numa ou num determinado número
de aplicações [12].

Nos últimos anos, o Comité para a Normalização Europeia (CEN — Comité Técnico 246)
desenvolveu um conjunto de normas de ensaio para rochas naturais (onde se incluem as
ornamentais), as quais incluem a maioria dos testes necessários à correcta caracteriza-
ção destes produtos. A grande maioria das normas encontra-se actualmente traduzida
para português.

Em finais de 2001 foi efectuada a publicação da primeira norma harmonizada para pavi-
mentos externos de pedra natural. Segundo o regulamento existente para os produtos
de construção, directiva de produtos de construção 89/106/EEC, a única forma de veri-
ficar a conformidade dos produtos é através de normas harmonizadas. Tal como é esta-
belecido pelo conteúdo desta directiva, um produto é considerado como cumprindo uma
conformidade determinada se seguir determinados requisitos após verificação de [13]:
— resistência mecânica e estabilidade;
— segurança em caso de incêndio;
— segurança na utilização;
Propriedades físicas e mecânicas 477

— protecção contra o ruído;


— economia de energia e retenção de calor.

Tendo em consideração o mandato dado pela Comissão Europeia, a marcação CE3 é obri-
gatória desde finais de 2003 nos produtos destinados a pavimentos externos em rochas
naturais. Actualmente, os mandatos permitem exigir no curto prazo a respectiva marca-
ção CE em praticamente todos os tipos produtos, incluindo pavimentos internos, reves-
timentos de parede e tecto. Dada a extrema importância que a questão da marcação CE
introduziu na evolução da pedra natural como produto de construção, torna-se relevante
um conhecimento mais específico sobre as implicações gerais da normalização neste sector.

9 . 3 . 1 A p l i c a ç ã o d a M a r c a ç ã o CE e m p r o d u t o s
d e p e d r a n at u r a l
Pode entender-se a normalização como o processo de estabelecer e aplicar regras com o
intuito de abordar ordenada e sistematicamente uma actividade específica, para o bene-
fício e com a participação de todos os interessados e, em particular, para promover a
optimização da economia, levando em consideração as condições funcionais e as exigên-
cias de segurança [14, 15].

Na prática, a normalização é a actividade destinada a estabelecer, face a problemas reais


ou potenciais, imposições para utilização comum e repetida, tendo em vista a obtenção
do grau óptimo de ordem, num determinado contexto. Consiste, em particular, na ela-
boração, publicação e promoção do emprego das Normas.

As normas podem ser de diferentes origens, dependendo da sua proveniência e aceitação.


Por exemplo, uma norma NP é uma norma portuguesa (cada país tem as suas normas
nacionais) e é criada pelo IPQ (Instituto Português da Qualidade). Já as EN são Normas
Europeias, e as ISO são normas da Organização Internacional de Normalização. Ao ler-
se numa norma «NP EN ISO», deve-se entender como uma norma internacional, mas
traduzida e aplicada na Europa, neste caso traduzida para português, e publicada em
Portugal. As normas são criadas por comités técnicos, em conjunto com os respectivos
organismos de normalização. Em Portugal, existem para cada sector os ONS (Organismo
de Normalização Sectorial), que analisam e propõem normas para ajudar cada sector a
alavancar as suas próprias capacidades de criação de produtos úteis e seguros. No caso
das pedras naturais, o ONS do sector da pedra natural é coordenado pelo CEVALOR

A marca CE indica que os produtos, aos quais esta marca é aposta, estão conforme todas as directivas
3 

europeias que se lhe aplicam. No caso particular das rochas, a directiva aplicada é a de produtos de cons-
trução 89/106/EEC.
478 Propriedades físicas e mecânicas

(Centro Tecnológico para o Aproveitamento e Valorização das Rochas Ornamentais e


Industriais), designadamente através da Comissão Técnica (CT) 118. O Comité Técnico
europeu é CT 246 do CEN.

As vantagens mais significativas, que resultam da actividade normativa, podem ser


enumeradas, resumidamente:
— o fornecimento de meios de comunicação entre todas as partes interessadas;
— a simplificação e a redução do tempo de projecto;
— a economia de matérias-primas;
— a economia de tempos de produção;
— uma melhor organização e coordenação do processo produtivo;
— a protecção dos interesses dos consumidores, através da garantia de uma adequada
qualidade dos bens e dos serviços, desenvolvida de forma coerente;
— uma melhor especificação dos produtos a vender e a encomendar, evitando-se as
amostras;
— uma maior economia resultante da fácil intermutabilidade das peças;
— a promoção da qualidade de vida: segurança, saúde e protecção do ambiente;
— a promoção do comércio, através da supressão dos obstáculos originados pelas dife-
rentes práticas nacionais.

Aplicando um exemplo prático no âmbito dos ensaios de pedra natural, a normalização


(desde que internacionalmente aceite) permite que um determinado ensaio realizado em
locais diferentes do mundo seja comparável. Neste sentido, a normalização auxilia as
empresas (nomeadamente as nacionais) a demonstrarem a adequabilidade do seu pro-
duto, desde que os ensaios tenham sido realizados em organismos competentes (usual-
mente acreditados) e provenientes de amostragens adequadas. A Tabela 9.1 indica as
normas NP aprovadas para produtos obtidos a partir de rochas naturais.

A marcação CE, que como se referiu é obrigatória para o mercado da União Europeia,
exige em cada tipo de aplicação um número específico de características a controlar.
No caso, por exemplo, dos pavimentos exteriores, algumas destas são necessariamente
obrigatórias (tais como a resistência à flexão EN 12372 ou a resistência à compres-
são EN 1926, a resistência ao deslizamento EN 1341 Anexo D, a resistência à abrasão
EN 1341 Anexo C e a resistência ao gelo EN 12371), sendo que existem outras duas
características de controlo voluntário (a designação petrográfica EN 12407 e a absorção
de água à pressão atmosférica normal EN 13755). Ser de carácter voluntário não significa
que não seja muito importante comprovar o seu conhecimento, uma vez que, tal como já
foi referido, a análise da petrografia é sem dúvida um dos aspectos mais críticos no que
concerne à avaliação da durabilidade.
Propriedades físicas e mecânicas 479

Obtidos os requisitos mínimos necessários para caracterizar e avaliar cada tipo de pro-
duto, o produtor deve elaborar declarações de conformidade. As declarações de con-
formidade são documentos exclusivos de cada produtor, que provam ao cliente que o
produto que comprou cumpre todos os requisitos exigidos pela respectiva norma harmo-
nizada de produto.

Tabela 9.1: Normas NP aplicadas aos produtos de rocha natural. A designação


da norma está apresentada em tanto em português como em inglês, dado que a versão
inglesa é a mais correntemente seguida a nível europeu.

Normas harmonizadas para pavimentos externos em rocha natural

Slabs of natural stone for external paving. Requirements and test methods
EN 1341 Lajes de pedra natural para pavimentos exteriores. Requisitos e métodos
de ensaio

Setts of natural stone for external paving. Requirements and test methods
EN 1342 Cubos e paralelepípedos de pedra natural para pavimentos exteriores.
Requisitos e métodos de ensaio

Kerbs of natural stone for external paving. Requirements and test methods
EN 1343 Guias de pedra natural para pavimentos exteriores. Requisitos e métodos
de ensaio

Natural stone products — Slabs for cladding — Requirements


EN 1469 Produtos em pedra natural — Placas para revestimento de paredes
— Requisitos

Natural stone products — Modular tiles — Requirements


EN 12057
Produtos em pedra natural — Ladrilhos modulares — Requisitos

Natural stone products — Slabs for floors and stairs — Requirements


EN 12058 Produtos em pedra natural — Placas para pavimentos e degraus
— Requisitos

Natural stone products — Rough blocks — Requirements


EN 1467
Pedra Natural. Blocos em bruto. Requisitos

Natural stone products — Rough slabs — Requirements


EN 1468
Pedra Natural. Placas em bruto. Requisitos

Natural stone products — Dimensional work — Requirements


EN 12059
Produtos em pedra natural. Trabalhos de pedra de cantaria. Requisitos
480 Propriedades físicas e mecânicas

1
1
1
1 2
b 1 2 2m
2
2
2

d
Legenda
1 – Amostra de referência
2 – Amostra do produto
3 – Luz natural

Figura 9.6: Esquema de uma Figura 9.7: Comparação de padrões


placa para revestimento de paredes ornamentais com amostras de referência de acordo
de acordo com a EN 1469. com a EN 1469.

Numa declaração de conformidade têm obrigatoriamente de constar várias informações,


tais como: nome do produtor, morada, data em que o produto foi transformado, norma
EN de referência para o produto, nome do produto de acordo com a respectiva norma,
nome típico da pedra, local de origem, características essenciais, entre outras relevan-
tes para a caracterização do produto [16,17]. Note-se que, no caso de alguma proprie-
dade não ser determinada, existe a possibilidade de colocar na declaração: «DND —
Desempenho não determinado» [16,17].

A determinação das características de cada pedra não é só por si só uma garantia de


qualidade na sua utilização. Como tal, é necessário estabelecer alguns critérios que per-
mitam avaliar qual a possibilidade de uma determinada rocha (ornamental ou não)
poder ser aplicada na forma de um produto específico. É neste contexto que se enquadra
o controlo de produção na fábrica.

O controlo dimensional (Figura 9.6) e visual (Figura 9.7) do produto final devem ser rea-
lizados por cada lote produzido, sendo que o volume ou quantidade de um lote de pro-
Propriedades físicas e mecânicas 481

Tabela 9.2: Exemplo das tolerâncias admissíveis na espessura nominal para «Placas
para revestimento de paredes» de acordo com a EN 1469.

Espessura nominal, em mm Tolerância

Mais de 12 até 30, inclusive ± 10%

Mais de 30 até 80, inclusive ± 3 mm

Superior a 80 ± 5 mm

Tabela 9.3: Exemplo das tolerâncias admissíveis no comprimento e largura para


«Placas para revestimento de paredes» de acordo com a EN 1469 **.

Comprimento e largura nominais, em mm < 600 ≥ 600

Topos serrados, com espessura ≤ 50 mm ± 1 mm ± 1,5 mm

Topos serrados, com espessura > 50 mm ± 2 mm ± 3 mm


** O desvio da planeza da superfície (à excepção das faces obtidas por clivagem natural) não deve
exceder 0,2 por cento do comprimento da placa e não ultrapassar 3 mm.

dução devem ser determinados pelo produtor tendo em consideração a quantidade diá-
ria produzida e o número de remessas referentes a essa quantidade (de um determinado
produto). De acordo com a EN 12058, este controlo deve incidir sobre:
— procedimentos que permitam tornar regular o controlo dimensional/geométrico dos
vários produtos;
— procedimentos de ensaio regulares à matéria-prima;
— procedimentos de inspecção visual ao produto final;
— procedimentos de inspecção regular dos equipamentos;

É relevante referir que a marcação CE apenas se refere à pedra explorada num dado
momento em determinada zona de uma pedreira e que, por isso, deve ser prevista a repe-
tição dos ensaios iniciais quando haja mudança significativa das características da maté-
ria-prima dentro da pedreira [17].

A marcação CE pretende ser uma plataforma para que as empresas entrem num mer-
cado onde o conhecimento da aplicabilidade e propriedades dos produtos constitui uma
482 Propriedades físicas e mecânicas

ferramenta essencial que melhora a eficácia no intercâmbio comercial dos vários sectores
intervenientes no mercado.

Para os produtos especiais, que não estão incluídos na marcação CE, o conhecimento
sobre as propriedades físico-mecânicas é igualmente importante e poderá permitir um
melhor desempenho do produto nas várias áreas de aplicação [18].

Na Tabela 9.4 é possível observar um exemplo do que poderão ser os ensaios relacionados
com as propriedades físico-mecânicas a determinar para os produtos que não se encon-
tram abrangidos pela marcação CE.

Existem actualmente algumas entidades que apoiam a implementação de sistemas de


marcação CE que podem ajudar quem produz a definir especificações concretas para
cada tipo de aplicação.

9 . 3 . 2 G a r a n t i a d o s p r o d u t o s d e p e d r a n at u r a l —
a v i a d a c e rt i f i c a ç ã o
A normalização no sector das rochas ornamentais é visível a vários níveis, tais como nor-
mas de produto, normas de ensaio, marcação CE e mais recentemente através da intro-
dução de um sistema de certificação que está implícito a uma marca de pedra portuguesa
(http://www.stone-pt.com/site/). Na sequência das exigências impostas pelo mercado
relativas à capacidade técnica dos produtos em pedra natural [19], existe algum esforço

Tabela 9.4: Exemplos de ensaios especificados para produtos especiais.

Produto Ensaios

Arte funerária Flexão, gelo-degelo

Aplicações simples (lavatórios e afins) Flexão, coeficiente de absorção de água

Aplicações técnicas (lareiras e produtos de Flexão, coeficiente de dilatação térmica


responsabilidade) linear, coeficiente de absorção de água

Produtos em bruto (chapa e bloco)


Nota: de notar que para estes produtos existe Flexão, compressão, massa volúmica,
actualmente uma norma harmonizada a qual, coeficiente de absorção de água, gelo-degelo,
apesar de não ser de cumprimento obrigatório, descrição petrográfica
pode ser utilizada como referência.
Propriedades físicas e mecânicas 483

Tabela 9.5: Outras normas EN aplicadas aos produtos de rocha natural.

EN 12670 Natural stone – Terminology

EN 1925 Natural stone test methods — Determination of water absorption coefficient by capillarity

EN 13364 Natural stone test methods — Determination of the breaking load at dowel hole

EN 14581 Natural stone test methods — Determination of linear thermal expansion coefficient

EN 14579 Natural stone test methods — Determination of sound speed propagation

EN 14157 Natural stone test methods — Determination of the abrasion resistance

EN 14205 Natural stone test methods — Determination of Knoop hardness

EN 14066 Natural stone test methods — Determination of resistance to ageing by thermal shock

EN 14231 Natural stone test methods — Determination of the slip resistance by means of the pendulum tester

EN 14580 Natural stone test methods — Determination of static elastic modulus

EN 14158 Natural stone test methods — Determination of rupture energy

EN 13373 Natural stone test methods — Determination of geometric characteristics on units

EN 14147 Natural stone test methods — Determination of resistance to ageing by salt mist

EN 13919 Natural stone test methods — Determination of resistance to ageing by SO2 action in the presence of humidity

EN 12370 Natural stone test methods — Determination of resistance to salt crystallisation

Natural stone test methods — Determination of the dynamic modulus of elasticity (by measuring the fundamental
EN 14146
resonance frequency)

EN 1926 Natural stone test methods — Determination of uniaxial compressive strength

EN 1936 Natural stone test methods — Determination of real density and apparent density, and of total and open porosity

EN 12372 Natural stone test methods — Determination of flexural strength under concentrated load

EN 12407 Natural stone test methods — Petrographic examination

EN 12440 Natural stone — Denomination criteria

EN 12371 Natural stone test methods — Determination of frost resistance

EN 13161 Natural stone test methods — Determination of flexural strength under constant moment

EN 13755 Natural stone test methods — Determination of water absorption at atmospheric pressure
484 Propriedades físicas e mecânicas

Figura 9.8: Imagens dos símbolos associados à certificação de origem e qualidade StonePT®.

nacional para implementar estes conceitos na indústria das rochas ornamentais, desig-
nadamente no reconhecimento internacional relativo à qualidade da pedra portuguesa.
A StonePT® (actuante com base numa entidade independente criada através das empre-
sas nacionais de rochas ornamentais — ver Figura 9.8) certifica, com base em critérios
exigentes e bem definidos, as características físico-mecânicas cruciais para aferir o cor-
recto tipo de aplicação e dimensionamento de cada tipo de pedra. Esta certificação não
incide apenas sobre uma tipologia de pedra em geral, mas sim sobre os produtos (em
qualquer forma que sejam vendidos) transformados na empresa e que possuam uma ori-
gem perfeitamente conhecida e controlada. Como complemento voluntário, a StonePT®
certifica três sub marcas que permitem aumentar ainda mais a credibilidade das empre-
sas quando vendem os seus produtos, nomeadamente atendendo aos aspectos de Higiene
e Segurança no Trabalho, de Ambiente e de Gestão.

De um modo geral, a certificação de um produto baseia-se numa garantia escrita, dada


por um organismo certificador independente, que comprova que o produto está conforme
com exigências definidas através de normas ou especificações técnicas. Neste caso par-
ticular, a marca para a pedra portuguesa, StonePT®, apresentada como sendo um meio
para que as empresas possam crescer e afirmar-se como produtoras de qualidade, acres-
centando credibilidade e fiabilidade ao desempenho dos produtos de pedra na construção
(englobando não só os produtos que já se encontram normalizados, mas também, todos
os outros que são igualmente aplicados em obra).

O processo de certificação de produtos (tal como será concretizado com a marca da


pedra portuguesa) baseia-se no fluxograma [20,21] apresentado na Figura 9.9.

O conhecimento é e será sempre uma mais-valia em qualquer sector de actividade. A


pedra não é excepção, e actualmente é evidente o esforço das empresas e outros agentes
económicos no sentido da aplicar uma normalização com vista ao maior conhecimento e
subsequente melhor aplicação destes produtos.
Propriedades físicas e mecânicas 485

Pedido de certificação pelo cliente

Análise do pedido por parte de uma entidade


reconhecida competência técnica que gere a marca

Realização de ensaios ao produto de pedra e testemunhos


de verificação (auditoria) por parte da entidade gestora

Avaliação dos Resultados

Concessão do uso da marca

Acompanhamento e Verificações periódicas

Figura 9.9: Fluxograma relativo à certificação de produtos para aplicação da marca


de pedra portuguesa.

É de salientar que a aplicação das normas faz mais sentido quando o elo seguinte uti-
liza estes resultados em conformidade. Ainda que neste momento não seja a prática cor-
rente, a actual linha de actuação aponta para que num futuro relativamente próximo os
aplicadores de pedra (de um modo geral, os construtores suportados pelos engenheiros e
arquitectos) possuam a indicação das características exigidas para o fim desejado, apli-
cando apenas os tipos de pedras e/ou produtos adequados.

É assim de extrema importância que se criem as condições para executar de forma cor-
recta o processo de normalização do sector dos produtos em pedra natural, ou como é
comum dizer-se, para a aplicação e utilização das rochas ornamentais. Na maioria dos
casos é reconhecido pelos construtores e arquitectos que este é o caminho a percorrer
para se atingir um nível de confiança razoável neste sector. O cumprimento de normas
adequadas e a respectiva verificação, juntamente com iniciativas de construção de con-
fiança como a apresentada, por exemplo, pela StonePT®, são pequenos passos técnicos
para o entendimento que se pretende do uso da pedra natural.
486 Propriedades físicas e mecânicas

9.3.3 Determinação de propriedades físicas


Dos ensaios normalmente utilizados para obtenção das características físicas das rochas,
destacam-se aqueles que, por imperativo tecnológico ou necessidades de projecto, são
regularmente utilizados em qualquer estudo de caracterização de rochas, designadamente:
— determinação da densidade aparente e porosidade aberta;
— determinação da densidade real e porosidade total (mais aplicada em materiais porosos);
— determinação do comportamento da rocha à presença de água, designadamente absor-
ção de água à pressão atmosférica normal e absorção por capilaridade, embora esta
última determinação seja apenas efectuada em rochas com porosidade aberta maior
que 1 por cento;
— determinação do coeficiente de expansão térmica linear, muito utilizado para projec-
tos de expansão de juntas sujeitas a uma variedade muito grande de temperaturas,
tais como pavimentos exteriores, revestimentos e elementos em lareiras.

Tal como foi referido anteriormente, a maioria das metodologias encontra-se já norma-
lizada. No entanto, para alguns projectos especiais aos quais se exige um nível diferente
na determinação das propriedades físicas (por exemplo, uma determinação da densidade
real) existem algumas metodologias alternativas que podem ser utilizadas e solicitadas
especialmente por quem projecta. Nestes casos, a maioria dos laboratórios de caracte-
rização de rochas está apta a realizar os ensaios necessários. Na Figura 9.10 é possível
observar uma imagem relativa à determinação da densidade em provetes normalizados.

Pesar Amostra
de Rocha ao ar

Pesar Amostra
de Rocha imersa
na água

Figura 9.10: Exemplo de uma determinação de densidade em rochas.


Propriedades físicas e mecânicas 487

9 . 3 . 4 D e t e r m i n a ç ã o d e p r o p r i e d a d e s m e c â n i c a s
A maioria dos métodos de caracterização mecânica de rochas é geralmente baseada em
análise destrutiva. No entanto, em algumas situações também são utilizados ensaios não
destrutivos, tal como por exemplo a medição do módulo elástico (módulo de Young)
pelo método de ressonância após cada etapa de envelhecimento acelerado de uma rocha.
Apesar deste exemplo, os ensaios não destrutivos são maioritariamente utilizados em
situações onde não é possível retirar qualquer amostra de material ou ainda quando se
pretendem realizar ensaios «in-situ».

Os ensaios mecânicos mais comuns são, naturalmente, os ensaios de compressão unia-


xial e os ensaios de flexão (utilizando configurações de teste com três ou quatro pontos
de apoio). No entanto, é bastante habitual verificar que em algumas aplicações existem
outro tipo de propriedades igualmente importantes de caracterizar, tais como, o módulo
elástico, a resistência ao impacto, ou mesmo a distribuição de microdureza. Por último,
existem ainda alguns estudos mais específicos com o objectivo de conhecer de forma por-
menorizada a resistência das rochas à propagação frágil de fendas, cuja caracterização
é normalmente efectuada através de ensaios para a determinação da tenacidade à frac-
tura destes materiais.

A maioria dos ensaios mecânicos utilizados para caracterizar as rochas ornamentais


encontra-se normalizada. Porém existe ainda alguma dificuldade por parte de quem pro-
jecta e aplica estes materiais em saber distinguir sobre a utilidade/adequabilidade de
algumas propriedades determinadas através destes ensaios. Algumas vezes, a própria
falta de sensibilidade relativa aos testes e metodologias aplicadas determina um menor
rigor na análise das características das rochas ornamentais e, consequentemente, na qua-
lidade do projecto final.

Por exemplo, uma aplicação de revestimento em paredes interiores não é tão exigente
como em paredes exteriores. Neste último caso, é necessário considerar adicionalmente
como propriedades relevantes: a absorção de água, a porosidade aberta (designadamente
por capilaridade), a dilatação térmica linear e sobretudo algumas características relati-
vas à durabilidade. Na Figura 9.11 são apresentados alguns exemplos dos ensaios mecâ-
nicos mais comuns.

Normalmente inseridos na categoria de ensaios mecânicos estão alguns ensaios destina-


dos à determinação de parâmetros tecnológicos, cujo objectivo é o de determinar expe-
rimentalmente algumas características das rochas relativamente a determinadas aplica-
ções. Entre outros ensaios menos utilizados, destacam-se os ensaios para a determinação
488 Propriedades físicas e mecânicas

Figura 9.11: Ensaios


mecânicos mais comuns:
a) ensaio de compressão uniaxial
em provetes cilíndricos; b) ensaio
de flexão em quatro pontos
em provetes paralelepipédicos;
c) ensaio dinâmico não destrutivo
para determinação do módulo
elástico utilizando um sistema
de medição da velocidade
de propagação de ultra-sons em
amostras cilíndricas; d) ensaio
para determinação da tenacidade
à fractura em rochas;
e) ensaio para a determinação
da distribuição de microdureza.

da resistência ao desgaste por abrasão, o ensaio de resistência ao deslizamento e o ensaio


para determinação da resistência à fixação mecânica de ladrilhos para revestimento.
Na Figura 9.12 é possível observar algumas imagens relativas a execução destes ensaios.

9 . 3 . 5 Ava l i a ç ã o d a d u r a b i l i d a d e d e r o c h a s
o r n a m e n ta i s
Uma das questões mais importantes para um projectista que pretenda utilizar elemen-
tos em rocha ornamental é poder prever a durabilidade destes elementos. Em aplica-
ções exteriores, a durabilidade, ou seja, a capacidade da rocha manter o aspecto visual
Propriedades físicas e mecânicas 489

Figura 9.12: Ensaios mecânicos de carácter tecnológico: a) ensaio para a determinação


da resistência ao desgaste por abrasão, utilizando uma máquina de desgaste de Capon. [1];
b) ensaio para determinação da resistência ao deslizamento.

e as propriedades técnicas durante o tempo de serviço de um determinado edifício onde


está instalada, é um factor determinante na escolha do material a utilizar. No passado,
a durabilidade era determinada com a prática de utilização de uma determinada rocha.
No entanto, considerando sobretudo as condições climatéricas, é frequente hoje em dia
recorrer a testes acelerados de envelhecimento. Estes testes pretendem verificar o com-
portamento das rochas quando sujeitas a determinadas condições ambientais, tais como
a presença de ciclos de gelo e degelo, a existência de variações de temperatura, a pre-
sença de agentes agressivos de poluição atmosférica, a presença de água salgada ou
mesmo de ambientes marinhos diversos.

A avaliação relativa à variação das propriedades das rochas quando estas são submetidas
a estes testes pode ser efectuada quer recorrendo a ensaios destrutivos quer a não destru-
tivos. Como é evidente, no caso de ser necessário recorrer a testes destrutivos ter-se-ão
que efectuar os ensaios em dois lotes distintos de amostras: materiais no seu estado natu-
ral e materiais expostos às condições de envelhecimento acelerado. Os lotes devem ser
constituídos por um número suficiente de provetes para permitir uma adequada análise
estatística dos resultados [1]. No caso de ser possível optar por testes não destrutivos,
podem evitar-se os problemas ocasionados pelas amostragens, mas por outro lado a rela-
ção entre as propriedades mecânicas determinadas pelos dois tipos de ensaios (destruti-
vos e não destrutivos) não se encontra bem definida. Outros parâmetros importantes de
490 Propriedades físicas e mecânicas

observar quando se pretende a escolha de determinada rocha ornamental são: as varia-


ções relativas ao aspecto visual (variação de cor, fissuração, erosão, etc.), ou a variação
(em percentagem) da massa em cada provete (aplicado em rochas que tenham à partida
uma muita baixa durabilidade).

O teste de durabilidade mais utilizado é o teste de gelo-degelo [18]. Neste caso os resul-
tados são normalmente expressos em termos da diminuição da resistência média à flexão
após um determinado número de ciclos, normalmente estabelecido em função da aplica-
ção final (tipicamente, 100 ciclos de gelo-degelo para materiais colocados em telhados;
50 ciclos para aplicações em pavimentos). Recentemente, alguns novos tipos de testes de
envelhecimento acelerado têm sido desenvolvidos, tais como:
— choque térmico (simulando o efeito da variação de temperatura do dia para a noite
num revestimento exterior em pedra);
— exposição a nevoeiro ácido (simulando a acção agressiva da poluição atmosférica);
— exposição a nevoeiro salino (simulando o efeito da atmosfera marinha).

A Figura 9.13 mostra uma imagem de um dos equipamentos mais utilizados para os
ensaios de envelhecimento acelerado.

Figura 9.13: Exemplo de uma câmara climática utilizada em ensaios de envelhecimento


acelerado (nevoeiro ácido e salino).
Propriedades físicas e mecânicas 491

9 . 3 . 6 P r o p r i e d a d e s t í p i c a s d a s r o c h a s o r n a m e n ta i s
Quem escolhe um material vai precisar naturalmente de identificar as suas caracterís-
ticas ou, no mínimo, saber para cada tipo de material quais os valores das proprieda-
des físico-mecânicas ou ainda qual a durabilidade associada. Tendo em consideração a
impossibilidade de poder descrever as propriedades típicas de todas as rochas ornamen-
tais (a maioria encontra-se já descrita em diversas bases de dados), é possível neste tra-
balho deixar uma ideia relativamente à variabilidade das mesmas nos diversos tipos de
rochas ornamentais mais utilizadas no mercado. Estes valores são igualmente compara-
dos com os resultados experimentais obtidos para algumas rochas portuguesas em par-
ticular (Tabela 9.6). Deste modo, é possível a qualquer engenheiro ou arquitecto projec-
tista saber distinguir as diferentes características das rochas.

Tabela 9.6: Exemplos de propriedades medidas experimentalmente em algumas rochas ornamentais portuguesas
(apresentadas com a respectiva indicação do valor médio) e comparação com as propriedades típicas de cada tipo de pedra
natural. A dispersão dos resultados obtidos varia tipicamente de ensaio para ensaio, sendo mais elevada (superior a 10 por cento
em relação ao valor médio) no caso dos ensaios mecânicos de determinação de resistência à flexão e compressão.

Cinzento Forte Creme Rosa Moca


Rocha Ornamental Granito Mármore Lioz Calcários
Alpalhão Rosa Venado Aurora Creme

Resistência à compressão [MPa] 255 215 70–280 100 90 50–180 90 105 20–200

Resistência à flexão [MPa] 17 19 11–24 17 12 9–18 13 15 3–15

Módulo elástico [GPa] 50 59 40–70 73 62 50–100 45 58 20–70

Absorção de água à P.At.normal [%] 0.29 0.20 0.10–0.50 0.05 0.06 0.10–0.50 2.34 0.11 até 13.00

Massa volúmica aparente [g/cm3] 2.66 2.64 2.60–2.70 2.71 2.72 2.60–2.90 2.52 2.70 2.00–2.90

Porosidade aberta [%] 0.78 0.55 0–4 * 0.15 0.16 0.3–1.1 5.90 0.31 até 15

Coeficiente de dilatação térmica


8.8 9.8 7.0–14.0 11.1 7.3 7.0–12.0 5.3 3.3 3.0–5.0
linear [10–6/°C–1]

Resistência ao desgaste [mm] 4.0 0.3 — 2.6 3.7 — 4.0 2.2 —

Resistência ao choque — altura


50 80-85 — 90 70 — 50 60 —
mínima de queda [cm]

Durabilidade [n.º de ciclos de gelo-


25 25 — 25 25 — 25 25 —
degelo sem degradação do aspecto]

Resistência à compressão após teste


240 205 — 85 95 — 85 140 —
de gelevidade [MPa]
* Os valores de 4% de porosidade são apenas normais em granitos com elevado grau de desgaste natural.
492 Produtos e aplicações de pedra

9 . 4 P r o d u t o s e a p l i c a ç õ e s d e p e d r a

A maioria dos produtos de rocha utilizados no mercado da construção está actualmente


agrupada em três grandes categorias [4]:
— produtos em forma de placa;
— produtos de pedra maciça;
— produtos especiais de pedra.

Esta divisão por categorias está intimamente relacionada com o tipo de aplicação/uti-
lização destes produtos. A cada tipo de aplicação diferente estão associadas caracterís-
ticas e propriedades diferentes, que, se forem determinadas e dadas a conhecer a quem
aplica o produto, contribuem para um melhor desempenho do mesmo. A título de exem-
plo, no primeiro grupo encontram-se de um modo geral os produtos normalizados ou
modulares, que estão incluídos na marcação CE. O segundo grupo engloba blocos e cha-
pas em bruto, que tanto servem em funções de suporte, como são meramente estéticas.
Finalmente, o terceiro grupo abarca toda a panóplia de produtos «manufacturados»,
habitualmente produzidos à medida para cada cliente, tais como aplicações sanitárias,
lareiras, etc. Como o leitor poderá concluir, dentro desta panóplia enorme de produtos,
os requisitos para aplicação e utilização não só devem ser diferentes, como também nem
todos os tipos de pedra natural serão ideais para todas as utilizações.

As três categorias acima descritas podem, ou não, incluir a utilização de rochas com
carácter ornamental. No entanto, todas devem merecer por parte de quem projecta aten-
ção especial no que respeita às suas características técnicas. Neste sentido, tal como já
foi apontado anteriormente, um dos comités técnicos para a normalização de pedras
naturais (CEN TC 246) definiu alguns tipos de produtos e respectiva necessidade de
caracterização com vista à utilização da marcação CE [13].

9 . 4 . 1 Pav i m e n t o s e x t e r i o r e s ( l a d r i l h o s , l a j e s , c u b o s
e g u i a s pa r a c h ã o e e s c a d a s )
O fabrico de cubos para calçada, lancis e lajes para pavimentos exteriores é muito
comum no nosso país e constitui uma actividade tradicional. Podemos observar exem-
plos de aplicação nas muitas praças espalhadas de norte a sul de Portugal. Como facil-
mente se compreende, a caracterização deste tipo de produtos é fulcral, pois fornece ele-
mentos que garantem a qualidade do produto final.
• Lajes de pedra natural para pavimentos exteriores (NP EN 1341): São unidades de
pedra natural utilizadas para pavimentos, nas quais a largura excede os 150 mm e
também é normalmente duas vezes a espessura.
Produtos e aplicações de pedra 493

Figura 9.14: Configuração típica de: a) ladrilho modular; b) calçada.

• Calçada de pedra natural para pavimentos exteriores (NP EN 1342): Constituída por


pequenos blocos de pedra natural, com dimensões entre os 50 mm e os 300 mm.
• Lancis/guias de pedra natural para pavimentos exteriores (NP EN 1343): Unidades
com mais de 300 mm de comprimento, usadas com frequência nas estradas e passeios.
• Ladrilhos modulares (NP EN 12057): Elementos planos de pedra natural com dimen-
sões rectangulares ou quadradas estandardizadas (≤ 610 mm) e que possuem normal-
mente espessuras ≤ 12 mm. Podem ser utilizados como pavimentos no exterior, mas
destinam-se mais a aplicações interiores.

Na Figura 9.14 é possível observar as configurações típicas deste tipo de produtos.

9.4.2 Revestimentos (exteriores e interiores)


Com a evolução dos dispositivos de fixação torna-se cada vez mais segura e comum a
aplicação de pedra natural para revestimento de fachadas em grandes obras de arquitec-
tura. Durante alguns anos observou-se a preferência de outros materiais para este tipo
de aplicação. Contudo, a sua durabilidade e os custos de manutenção aliados ao avanço
da tecnologia do sector das rochas ornamentais (que permitiu obter dimensões, formatos
e acabamentos variados) levaram a um interesse renovado na aplicação da pedra natu-
ral em grandes obras de engenharia. Além das vantagens estéticas e relacionadas com a
durabilidade, também se aliam outras relacionadas com a parte ambiental e a eficiência
energética.
494 Produtos e aplicações de pedra

Figura 9.15: Configuração típica de: a) revestimento interior; b) revestimento exterior.

Usualmente, as placas para revestimentos de paredes (NP EN 1469) são cortadas à me-


dida e destinam-se a revestimentos de paredes interiores ou exteriores. Podem ainda ser
utilizadas para acabamentos em telhados. São fixas por meios mecânicos ou adesivos.

Na Figura 9.15 é possível observar as configurações típicas deste tipo de produtos.

9 . 4 . 3 Pav i m e n t o s i n t e r i o r e s ( c h ã o e e s c a d a s )
As placas para pavimentos e escadas (EN 12058) podem ser utilizadas tanto no interior
ou no exterior e possuem espessuras superiores a 12 mm.

Em Portugal, os produtos do tipo blocos de pedra para alvenaria (EN 771-5) são há


muito usados muros, fortificações, palácios, castelos, conventos. São observadas aplica-
ções de alvenaria que utilizam elementos com formato bruto até elementos com formato
dimensionado. Os componentes de pedra natural para a construção em alvenaria não
têm dimensões fixas. São ainda hoje em dia habitualmente utilizados para a construção
de muros e estão quase sempre ligados entre si por argamassas.

Cantaria é a designação genérica que é dada à pedra talhada de modo a constituir sóli-
dos geométricos. As cantarias podem ter várias dimensões e acabamentos. São normal-
mente de forma paralelepipédica e aplicam-se para revestir portas e janelas.

Na Figura 9.16 é possível observar as configurações típicas de um produto de ardósia.


Produtos e aplicações de pedra 495

Figura 9.16: Configuração típica de um produto de ardósia.

9 . 4 . 4 R e v e s t i m e n t o s pa r a t e l h a d o s
( c o b e rt u r a s d e a r d ó s i a o u x i s t o )
As ardósias e em geral os produtos de pedra para cobertura e revestimentos descontí-
nuos (EN 12326-1) são um caso bastante especial neste tipo de materiais de construção
de origem natural. As ardósias são rochas de uma cor geralmente entre o cinzent-escuro
e o cinzento-azulado, constituídas por várias camadas que facilmente se separam umas
das outras ao longo de planos de clivagem. Esses planos são resultantes de um baixo grau
de metamorfismo devido a compressões tectónicas.

Na maior parte dos casos, trata-se de rochas com grão fino, compostas por minerais argi-
losos (mica, sericite e clorite) e minerais granulares (quartzo e feldspato).

O seu comportamento, aliado igualmente à sua composição mineralógica, impõe uma


necessidade de controlo diferente (mais apertado) designadamente no que diz respeito ao
modo como o produto é solicitado, i.e., com interferência da menor resistência existente
entre planos de xistosidade.
496 Produtos e aplicações de pedra

9.4.5 Produtos especiais


Para além da variedade de produtos já referida, existem ainda produtos especiais nor-
malmente feitos por medida, tais como as cornijas, os rebordos salientes e os parapei-
tos, as placas em consola ou simplesmente apoiadas como os tampos de mesa, ou ainda
produtos para a arte funerária. Por último, há que referir as obras de estatuária feitas
de pedra natural. Apesar de não estarem incluídos no conjunto de produtos normaliza-
dos, também estes produtos deverão ser alvo de especificações em função das principais
situações de utilização.

Pretende-se que as pedras utilizadas neste tipo de produtos possuam:


• resistência mecânica suficiente para aguentar o desgaste normal;
• porosidade adequada para reduzir ao máximo a absorção de água por capilaridade,
mas com boa permeabilidade ao vapor de água, de modo a permitir a evaporação de
qualquer água acumulada no interior dos produtos;
• boa resistência aos cloretos, sulfatos e nitratos — principais agentes de deterioração
presentes na maior parte dos ambientes em que os produtos se encontram.

9 . 4 . 6 R e q u i s i t o s pa r a o s p r o d u t o s , fa c e a u m a d a d a
aplicação
Tal como foi referido, a cada um dos vários tipos de produtos, podem ou não aplicar-se
directamente normas harmonizadas, as quais são elaboradas na perspectiva de sistema-
tizar e uniformizar a terminologia e a classificação desses produtos de construção obtidos
da pedra natural. As aplicações são, como é possível verificar, as mais variadas e contêm,
cada uma delas, especificações próprias para a utilização final. Assim, após a definição
do tipo de produtos, é vital que estes se possam facilmente relacionar com as caracte-
rísticas e aplicações, de modo a que, quem os aplica possa facilmente seleccionar o que
existe no mercado e garantir o melhor desempenho em serviço.

É ainda altamente recomendável que em qualquer obra exista o conhecimento da pedra


que se está a aplicar, assim como do melhor modo de aplicação. Por vezes, este conheci-
mento não existe e muitas vezes, quando observamos que se adoptam medidas alternati-
vas (ou de recurso), as mesmas resultam numa inadequação do produto final. Em alguns
casos, estas situações são potencialmente perigosas, podendo mesmo causar acidentes
que colocam em risco a vida humana.

Na Figura 9.17 apresentam-se algumas das principais aplicações onde se utilizam pro-
dutos de pedra natural.
Produtos e aplicações de pedra 497

Figura 9.17: Exemplos de aplicações de rocha ornamental: a) degraus de escadas; b) placas para revestimento de parede
exterior; c) ladrilho modular para revestimento de paredes exteriores; d) ladrilhos modulares para revestimento interior; e) placas
para revestimento de paredes interiores; f) placas para revestimento de parede e chão interior; g) placas para revestimento de paredes
interiores; h) placas para chão e revestimento de paredes interiores; i) ladrilho modular para pavimento interior; j) combinação
de madeira e placas para revestimento de paredes interiores; k) bancada de cozinha e ladrilho modular.
498 Produtos e aplicações de pedra

Na Figura 9.18 podem ser observados exemplos de produtos considerados especiais.

No que respeita aos produtos de pedra natural, para os quais existem actualmente nor-
mas harmonizadas ou voluntárias, é possível encontrar imediatamente os tipos de pro-
priedades relevantes para garantir as características fundamentais descritas pela direc-
tiva dos produtos de construção. Para os restantes produtos, não existe uma definição
genérica de qual ou quais as características a determinar. No entanto, com base em
estudos diversos, é possível apontar quais as propriedades a determinar no caso da
maioria dos produtos de rocha utilizados como materiais de construção. Na Tabela 9.7
indicam-se os requisitos mínimos para caracterizar os principais tipos de produtos de
pedra natural.

Figura 9.18: Exemplos de alguns produtos especiais de pedra natural a) mesa de pedra; b) coluna composta de vários
elementos de pedra; c) estátua; d) arte funerária; e) estrutura de mesa em bloco de pedra; f) lintel.
Produtos e aplicações de pedra 499

Tabela 9.7: Requisitos obrigatórios, voluntários e importantes para a correcta caracterização dos principais tipos de produtos
em pedra natural.

Pavimentos Pavimentos Revestimentos


Guias Revestimentos Rebordos Placas
Tipo de exteriores interiores para telhados
Cubos (chão e (exteriores e Alvenaria Cornijas salientes e em Estatuária
Ensaio em ladrilho (chão e (coberturas de
escadas) interiores) parapeitos consola
ou placa escadas) ardósia ou xisto)

Descrição
volunt volunt volunt sim sim volunt volunt impor impor impor impor
petrográfica

Resistência à
— sim — — — sim — — — — —
compressão

Resistência à
Sim — sim sim sim sim sim — impor impor —
flexão

Módulo elástico — — — — impor impor impor impor impor impor impor

Absorção de volunt volunt sim


água à P.At. volunt volunt volunt também por também por também por sim impor impor impor impor
normal capilaridade capilaridade capilaridade

Massa volúmica
impor — impor sim volunt impor impor impor impor impor impor
aparente

Porosidade impor — — sim volunt volunt impor impor impor impor impor

Dilatação
impor — — impor — impor impor impor impor Impor —
térmica linear

Resistência ao
Sim sim impor — volunt — — — — — —
desgaste

Resistência ao
Sim sim impor — sim — — — — — —
deslizamento

Resistência às
impor — — sim impor — — — — — —
ancoragens

Resistência ao
impor — — Impor impor — impor — — impor —
choque

Durabilidade sim (gelo e sim (gelo e


sim sim
(adequada à sim (gelo) SO2) para SO2) para impor sim (gelo e SO2) impor impor impor impor
(gelo) (gelo)
aplicação) exteriores exteriores
Legenda: sim — obrigatório para marcação CE; volunt — voluntário para marcação CE; impor — características importantes e que devem ser alvo
de especificação. Notas: 1) Os produtos de revestimentos exteriores e interiores necessitam igualmente de uma análise ao seu aspecto visual, da deter-
minação da sua resistência ao choque térmico (EN 14066) e da caracterização da reacção ao fogo (Classe A1). 2) Os produtos de pavimentos interio-
res (chão e escadas) necessitam igualmente de uma análise ao seu aspecto visual, da determinação da sua resistência ao choque térmico (EN 14066)
e da caracterização da reacção ao fogo (Classe A1). 3) Os produtos de alvenaria necessitam igualmente de uma análise ao seu aspecto visual, da
determinação da permeabilidade ao vapor de água (EN 772-4) e da caracterização da reacção ao fogo (Classe A1). 4) Os produtos de revestimentos
para telhados necessitam igualmente da determinação da sua resistência ao choque térmico (EN 12362), da caracterização da reacção ao fogo (Classe
A1), da percentagem de carbonatos (EN 12362). 5) Para as aplicações de arte funerária são válidas as especificações estabelecidas para os produtos
de pedra maciça e placas de pedra, quando utilizadas em exteriores.
500 Produtos e aplicações de pedra

Tabela 9.8: Critérios utilizados para escolha dos requisitos mínimos das características físicas e químicas de produtos de granito. [1]

Produtos de pedra maciça, tais como alvenarias Produtos de pedra em placa utilizados em exterior
e cantarias, bancos de jardins, guias de passeios e interior, tais como ladrilhos e outros produtos
e pedra para calçada, colunas, pórticos e elementos acabados modulares com dimensão bem determinada,
decorativos e ornatos diversos. Normalmente aplicados por assentamento em argamassas, colados
incluem-se os elementos obtidos por simples com cimentos ou afins, e ancorados à estrutura por
serragem, fendilhamento de blocos, ou outros intermédio de grampos ou entre apoios (flutuantes).
mais elaborados.

Resistência à > 100 MPa (aplicável em exteriores) > 80 MPa (aplicável em exteriores)
compressão

Resistência à flexão > 11 MPa

Absorção de água à ≤ 0.4%


P.At.normal

Absorção por zonas exteriores pouco expostas: utilização em exteriores:


capilaridade ≤ 190 g/m2s0,5 ≤ 90 g/m2s0,5
zonas exteriores muito expostas:
≤ 90 g/m2s0,5

Resistência ao tráfego muito intenso ≤ 0,4 mm


desgaste tráfego intenso ≤ 0,7 mm
tráfego forte ≤ 1,0 mm
outros — sem restrições

Resistência ao uso privado, excluindo cozinhas: min. 0,3 m mínimo placas de 3 cm de espessura:
choque por impacto uso colectivo: min. 0,45 m uso privado, excluindo cozinhas: min. 0,3 m
uso público: min. 0,6 m uso colectivo: min. 0,45 m
uso público: min. 0,6 m
aplicações muito fortes: min. 1,0 m

Durabilidade número de ciclos em interiores: s/ restrições


número mínimo de ciclos para aplicações exteriores: 25
Critérios Adoptados:
Materiais mais resistentes ao gelo:
⇒ absorção de água 0 e 0,3 por cento e diminuição resistência à compressão até 10 por cento
Materiais resistentes ao gelo:
⇒ absorção de água 0 e 0,5 por cento e diminuição resistência à compressão até 20 por cento
Materiais não resistentes ao gelo:
⇒ absorção de água > 0,5 por cento e diminuição resistência à compressão poderá ser > 20 por cento
Nota: para futuro serão avaliados os materiais pelo número máximo de ciclos, sem que ocorra a deterioração
da pedra.
Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra 501

A determinação das características de cada pedra não constitui, por si só, uma garantia
de qualidade na sua utilização. Como tal, é necessário estabelecer alguns critérios que
permitam avaliar qual a possibilidade de uma determinada rocha (ornamental ou não)
poder ser aplicada na forma de um produto específico.

Para melhor ajudar a definir alguns dos critérios necessários à selecção do tipo de pedra,
é mais uma vez útil distinguir as aplicações em dois tipos de produtos: pedras maciças e
pedras em placas. No que respeita aos produtos especiais, estes terão sempre de ser ana-
lisados caso a caso, consoante a especificidade da aplicação. A Tabela 9.8 exemplifica,
para o caso do granito, quais os critérios mais relevantes. Para o mármore, os critérios
são semelhantes, com algumas excepções, como é o caso da resistência ao desgaste por
abrasão. Os critérios previstos para as restantes propriedades dos mármores têm uma
relação com as suas características físicas e químicas.

Para além deste tipo de características técnicas, existe ainda outro tipo de condições
para garantir a qualidade dos produtos nas aplicações, como por exemplo a resistência
à ancoragem destes materiais

Dependendo do tipo de utilização (do uso exclusivo de peões a uso público com cargas
máximas que se aproximam das 7 toneladas) e do modo como as placas são assentes
(desde cimentos ou mastiques, a assentamentos sobre apoios), assim variam os valores
de resistência à ancoragem (de 5 MPa para placas de espessura de 2 mm, em aplica-
ções mais simples, até 25 MPa para placas de espessura de 50 mm nas aplicações mais
intensivas). Outra característica a ter em conta é a resistência ao deslizamento, que é
dada através da medição de um valor de USRV («Unpolished Slip Resistance Value»
— EN 14231), o qual, no caso dos materiais polidos, deverá ter como valor mínimo um
USRV de 35. Saliente-se que, em situações em que as placas aplicadas em pavimentos
têm uma rugosidade superficial superior a 1 mm, esta determinação não é normalmente
efectuada.

9 . 5 M é t o d o s d e c o l o c a ç ã o e fi x a ç ã o d o s p r o d u t o s
d e p e d r a

No caso das rochas ornamentais, os processos de união dos produtos são normalmente
processos sensíveis e que determinam na maioria das vezes a durabilidade da aplicação.
Basicamente, é possível dividir a colocação de produtos de pedra em dois métodos: o
assentamento natural dos materiais e a ancoragem artificial dos produtos [2]. Se na pri-
502 Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra

meira situação é necessário principalmente que a colocação dos materiais seja efectu-
ada ordenadamente, com o objectivo principal de permitir atingir um sistema rígido que
sirva a finalidade em vista (por exemplo, uma calçada ou muro simples), já na ancora-
gem de produtos de pedra houve uma grande evolução, quer nos elementos de fixação,
quer nas técnicas utilizadas.

Os revestimentos de pedra natural em fachadas assumem grande importância em


Portugal, sobretudo no Norte do País. A evolução tecnológica, sobretudo ao nível dos
equipamentos de corte, permitiu que a indústria transformadora de rochas conseguisse
fornecer ao mercado produtos de grandes formatos com espessuras cada vez menores
(≥ 10 mm) [4]. Apesar de, em algumas das aplicações, a fixação directa denotar proble-
mas técnicos importantes ao nível da durabilidade e, por vezes, de segurança, no nosso
país esta é a técnica ainda assim mais utilizada para aplicar os revestimentos em pedra
natural, designadamente em fachadas. Usualmente, é utilizada a técnica da colagem da
placa de pedra com cimentos-cola [11]. No entanto, tem-se observado uma quantidade
muito elevada de patologias em edifícios relativamente recentes (construção inferior a 5
anos), derivada do desconhecimento das propriedades destes cimentos-cola, bem como
das propriedades das pedras naturais, factores que podem ser potenciados, caso não
haja uma qualificação adequada da mão-de-obra. É possível afirmar que muitas destas
patologias manifestam-se na fase final da construção dos edifícios. Esta situação é, nor-
malmente, demonstradora da ineficácia relativa à escolha e aplicação dos métodos de
união mais adequados e/ou da falta de conhecimento em relação à reacção que ocorre
em determinados tipos de pedra.

9 . 5 . 1 F i x a ç ã o d i r e c ta d e p r o d u t o s d e p e d r a n at u r a l
Uma parte substancial das aplicações que empregam a pedra em pavimentos, fachadas
e, embora em menor número, em coberturas, utiliza preferencialmente a técnica de fixa-
ção directa. Por ser uma operação mais sensível, a fixação directa em fachadas vai ser
abordada pormenorizadamente.

Nos casos onde é possível utilizá-la, a fixação directa na grande parte dos produtos de
pedra pode ser efectuada de duas formas:
• por colagem — quando o elemento de fixação é uma cola. A cola pode ser uma arga-
massa-cola, incorporando ou não resinas especiais, um cimento-cola ou um adesivo
sem cimento (vulgarmente apelidado de «mástique»), normalmente, constituído por
um adesivo de reacção;
• por selagem — quando o elemento de fixação é uma argamassa à base de cal hidráu-
lica ou de cimento branco, o que normalmente se traduz em materiais menos suscep-
tíveis de originar manchas nos revestimentos de pedra natural.
Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra 503

A fixação directa de pedras encontra-se relativamente vulgarizada nos países mais desen-
volvidos. Uma das soluções mais empregues actualmente utiliza como agente de fixação
os cimentos-cola. Estas colas podem apresentar-se ora como produtos monocomponen-
tes que utilizam uma quantidade predefinida de resina incorporada à mistura de pó, ou
como produtos bicomponentes com resina pré-doseada mas não incorporada à mistura
de pó. Por outro lado, os adesivos, materiais sem cimento, têm sido ultimamente uti-
lizados para fazer a fixação das placas em fachadas. Estes adesivos multicomponentes
são geralmente à base de resinas epoxídicas que endurecem por reacção química entre
os seus componentes. Apesar de muito práticas, existe alguma relutância em considerar
este tipo de fixação de pedra em paredes exteriores como o mais aceitável, sendo na rea-
lidade apenas empregues em algumas situações muito particulares e devidamente justifi-
cadas. Geralmente, aconselha-se que, em qualquer dos casos, a fixação directa de pedras
a paredes exteriores utilize sistemas de reforço, tais como os grampos (também designa-
dos por agrafos ou «gatos») (Figura 9.19).

Com a excepção do teste relativo à determinação da resistência às ancoragens (fixação


indirecta) e da classificação dada à adesão dos produtos segundo a norma EN 12004, a
falta de recomendações e normas concretas para a fixação directa de pedras em pare-
des exteriores (designadamente os critérios de aceitação), origina que, em Portugal, se
assista à utilização de produtos de fixação menos adequados, com técnicas incorrectas
de aplicação [22]. No entanto, existem alguns produtores de cimentos-cola que utilizam
como recomendações as descritas por um documento de origem francesa, «CAHIERS
du CSTB» [23].

1 3 1 2 3

5 5

6 6

Figura 9.19: Esquemas de fixação directa: a) situação sem reforço; b) situação com
reforço através de agrafos. 1 — Suporte; 2 — Agrafo para reforço da fixação; 3 — Material
de revestimento; 4 — Ancoragem do agrafo; 5 — Material de selagem; 6 — Junta [12].
504 Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra

Apesar de muito exaustivo, este documento não recomenda a colagem de algumas pedras
naturais, como os xistos e as ardósias, devido à sua clivagem natural. A recomendação
do CSTB [23] apresenta de um modo geral todos os elementos relativos à colagem de
produtos em fachadas, em função da porosidade das rochas e da altura do edifício. O
documento refere ainda que a massa superficial máxima admitida para os elementos de
revestimento é de 40 kg/m2.

Após a correcta preparação do suporte, a aplicação dos produtos de colagem deve ser
efectuada utilizando a técnica de colagem dupla, que consiste na aplicação de cola tanto
no suporte a revestir como no tardoz do elemento a colar. Em grandes superfícies reves-
tidas com placas de pedra natural devem prever-se juntas de dilatação.

A escolha dos materiais de assentamento, dos materiais de enchimento de junta, a prepa-


ração do suporte, a preparação da face de assentamento das placas pétreas, a localização
e a largura das juntas, etc., são factores determinantes na qualidade final da aplicação.
Neste sentido, as decisões devem ser tomadas em fase de projecto, com a contribuição
dos engenheiros civis, dos arquitectos e dos engenheiros de materiais.

As patologias mais comuns encontradas em fachadas revestidas com pedra natural são
os desprendimentos e as manchas na superfície das placas. No que respeita ao despren-
dimento de elementos fixados directamente em fachadas, este é particularmente preo-
cupante, uma vez que coloca em risco pessoas e bens. Por outro lado, as manchas nos
revestimentos de pedra natural têm como efeito principal os danos estéticos que causam
às fachadas, mas podem igualmente apontar algumas questões relativas a possíveis infil-
trações nos edifícios.

Para além disso, se houver deposição de sais na interface entre o tardoz das placas cola-
das e a própria cola, gerar-se-ão pressões devido à cristalização dos sais, o que origina o
desprendimento das placas do revestimento. Esta «pressão de cristalização» na superfí-
cie de placas origina uma evidente degradação superficial do material de revestimento.
Na Figura 9.20 é possível observar algumas das ocorrências mais comuns, encontradas
em edifícios, com origem em diversas patologias.

É importante referir que, apesar de se poderem aplicar alguns produtos hidrófobos sobre a
superfície da pedra, ajudando a diminuir as infiltrações de água e a manter o aspecto esté-
tico, uma parte importante deste problema resulta de juntas mal preenchidas ou preenchi-
das com produtos incorrectos, ou de má preparação das superfícies. Estas situa­ções propor-
cionam que a água da chuva possa penetrar na fachada, lixiviando o material de colagem,
Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra 505

Sulcos deixados pela talocha


dentada, praticamente intactos

Regiões onde o reboco


não apresenta
resistência suficiente.

Pontos de cola

Os sulcos deixados
pela talocha dentada
não estão esmagados

Zonas onde pode


ocorrer circulação e
acumulação de água

Figura 9.20: Patologias comuns apresentadas pela má execução das técnicas de fixação
directa. a), b) e c) após apresentarem descolamento das fachadas, as placas de granito foram
retiradas, tendo sido evidenciado uma colagem deficiente d) revestimento de fachada de
calcário, onde se podem observar as manchas de água e onde posteriormente se observaram
algumas eflorescências salinas [11].

dissolvendo sais, arrastando-os até à superfície (normalmente de pedras calcárias), origi-


nando eflorescências salinas e provocando o desprendimento do revesti­mento pétreo.

9 . 5 . 2 F i x a ç ã o i n d i r e c ta d e p r o d u t o s d e p e d r a
n at u r a l
Apesar de a fixação directa ser, para uma grande parte das aplicações destes produ-
tos (designadamente interiores), provavelmente a técnica de união mais importante no
mundo da construção, existem outras técnicas de fixação que devem ser igualmente refe-
ridas (Figura 9.21). As técnicas alternativas, de fixação indirecta, utilizam estruturas de
suporte onde os produtos (maioritariamente modulares) assentam e são fixados através
de elementos metálicos como pernos ou perfis (no caso de fachadas) ou encaixes (no caso
de pavimentos) [24,25]. As vantagens deste tipo de fixação estão maioritariamente rela-
506 Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra

Figura 9.21: Técnicas habituais de fixação mecânica: a) tipos de fixação para revestimentos em fachada; b) pormenor
de assentamento de pavimentos sobre apoios (estrutura do tipo encaixe), também conhecido por pavimento flutuante [1].

cionadas com o conforto térmico e acústico no interior dos edifícios, diminuindo em larga
escala a probabilidade de infiltrações e respectivas humidades. Além disso, a modulari-
dade dos produtos permite acelerar os ritmos de colocação dos materiais, evitando tem-
pos de espera e defeitos ocasionados pela má execução das técnicas de fixação directa
anteriormente mencionadas.

A desvantagem deste tipo de soluções está relacionada com o seu custo acrescido, que
decorre não só da especificidade dos materiais utilizados, mas igualmente na qualificação
de quem executa este tipo de trabalhos.

Em relação aos diversos materiais utilizados nestas aplicações, destacam-se os suportes


metálicos. Estes devem ser anticorrosivos e não devem ser associados metais que per-
mitam a formação de processos electrolíticos (corrosão por pares galvânicos). Como tal,
usam-se em geral perfis e elementos de aço inox ou galvanizado, ou ligas de alumínio.
Dos vários tipos de métodos de fixação existentes, que normalmente se distinguem pela
Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra 507

Perno de fixação

Perfil em aço inox

Apoio parcial em faca

Perfil em liga de alumínio


Apoio contínuo em faca

Figura 9.22: Dispositivos metálicos de fixação: a) ancoragem com cavilha; b) ancoragem


com apoio em faca (kerf). Adaptado de [24, 25].

tipologia de maquinação que impõem ao produto, destacam-se os seguintes, pelo facto


de serem de longe os mais utilizados:
• Corte do tipo «faca» (kerf): utilizado para apoio com cantoneira ou em duplo T.
Os chamados apoios em faca, «kerf», são obtidos realizando rasgos contínuos no cen-
tro da espessura da pedra. Os rasgos devem ter espessura e profundidade adequadas.
• Corte de ranhura circular ou prismática, para apoio com discos: neste caso,
cada disco recebe duas placas, tanto nos bordos verticais como nos horizontais. Só
poderão ser executadas duas ranhuras por bordo.
• Furação com broca cilíndrica para inserção de cavilhas: de igual modo, só
poderão ser executados dois furos por bordo apoiado.

Na Figura 9.22 são possíveis observar dois exemplos muito comuns de dispositivos para
fixação indirecta, a ancoragem com cavilha (a qual requer furação no topo da pedra) e
ancoragem de apoio em faca/kerf (requer corte contínuo ou descontínuo feito com um
disco no topo da pedra).
508 Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra

faca

ranhura

furo
Acções gravíticas

Figura 9.23: Exemplos de cortes Figura 9.24: Exemplo de uma aplicação


para apoios em placas de pedra. de placas utilizando a metodologia
Adaptado de [24, 25]. de aconragem com cavilha em pedra
com furo. Adaptado de [24, 25].

Na Figura 9.23 podem ser observados os 3 exemplos de furação/corte que são realizados
para aplicar os produtos utilizando os sistemas de fixação mencionados anteriormente.

Uma das soluções mais utilizadas em Portugal é a furação com broca cilíndrica para
inserção de cavilhas. A disposição dos pernos, sempre em número de quatro, dois por
bordo, pode tanto ser na horizontal como na vertical (ver Figura 9.24). A cada perno
podem corresponder uma ou duas cavilhas. Ao nível do dimensionamento, saliente-se
que com esta disposição a acção devido ao peso próprio da peça estará sempre associada
às duas cavilhas inferiores, qualquer que seja a disposição (cavilhas nos bordos verticais
ou cavilhas nos bordos horizontais). Por essa razão, os pernos inferiores são sempre mais
resistentes devido ao facto de no seu dimensionamento se ter em consideração a tota-
lidade do peso próprio das placas (a qual é usualmente utilizada no seu estado menos
favorável, ou seja, saturada de água). Outro aspecto considerado importante é que, para
evitar estados de tensão por falta de alinhamento das furações, só se podem efectuar
dois furos por bordo.
Métodos de colocação e fixação dos produtos de pedra 509

Placa de pedra natural

Ancoragem «undercut»

Estrutura metálica de
suporte

Estrutura principal
de apoio (backup)

Figura 9.25: Sistema de fixação undercut. De notar que, para obter um trabalho eficaz,
a sequência dos procedimentos de furação e fixação de um sistema de perfil ancorado a
uma placa (feito através de um parafuso colocado numa bucha expansiva) é muito rigorosa.
Adaptado de [24, 25]

Actualmente, existem outros sistemas de furação em uso no mercado. Um sistema prati-


camente desconhecido em Portugal, mas muito conhecido na Alemanha, Reino Unido e
Estados Unidos da América, consiste em efectuar as furações na face de tardoz das pla-
cas. As furações têm um diâmetro mais alargado na base do furo («undercut»), permi-
tindo a fixação de pernos com terminal expansivo, os quais, por pressão radial, prendem
as placas. O sistema denominado furação «invisível» (undercut systems) possui um pro-
cedimento de furação relativamente simples (ver Figura 9.25), mas cujo processo tem de
necessariamente ser rigoroso em termos da qualidade da furação que é deixada no tardoz.

Por último, devem igualmente referir-se os restantes tipos de fixação utilizados conven-
cionalmente na construção, tais como o aperto com parafusos (por exemplo, bancos de
jardim e elementos decorativos) ou a utilização de assentamento de maciços através do
uso de estruturas de betão (por exemplo, em alguns muros). A utilização destes sistemas
é normalmente simples e relativamente económica.
510 C o n s e rva ç ã o , d u r a b i l i d a d e , l i m p e z a

9 . 6 C o n s e rva ç ã o , d u r a b i l i d a d e , l i m p e z a

Apesar de serem reconhecidas como materiais de grande durabilidade, as rochas são sujei-
tas a exposições muito particulares que podem implicar a modificação do seu aspecto e
estrutura. Deste modo, a preservação da pedra à acção da maioria dos agentes agressivos
e respectiva manutenção e restauro é, por si só, uma área vasta e de grande interesse. De
uma maneira geral, os principais agentes de degradação das rochas são os factores exter-
nos que normalmente não controlamos directamente: temperatura, humidade, acidez
das chuvas, nevoeiro salino, acções mecânicas e químicas de organismos vivos, fogo, etc.
No entanto, existem igualmente alguns factores internos muito importantes, tais como
a textura das rochas ou a presença de minerais degradados ou degradáveis, porosidade,
fissuração interna, permeabilidade, capilaridade, higroscopicidade, etc.

De um modo geral, é nos ambientes citadinos que a durabilidade das pedras tem sido
mais afectada. Objectivamente, a degradação é visível do ponto de vista macroscópico
(apresentação de pedras com aspecto muito modificado, aparecimento de manchas e
«lascas» de material que se desprende da superfície). No entanto, em alguns casos, é
também possível observar fenómenos de inchamento e fendilhamento, assim como desa-
gregação da superfície.

A melhor forma de conhecer a origem dos problemas normalmente verificados é conhe-


cer em profundidade as características das rochas, os mecanismos que provocam a sua
alteração, como actuam durante o tempo, a sua taxa de propagação, etc. Deste modo,
o trabalho de restauro ou reparação é facilitado se for possível determinar a origem dos
materiais utilizados.

Uma das formas mais racionais de encarar a conservação de edifícios é assegurar a manu-
tenção regular (por exemplo, de 5 em 5 anos) das suas características técnicas e estéti-
cas, ao longo da «vida útil» das obras. A acção de conservação mais comum é a limpeza
da pedra, que é efectuada com o objectivo de lhe conferir as suas características estéti-
cas originais. No entanto, a técnica empregue deverá sempre levar em linha de conta as
características de cada tipo de pedra. Note-se que, em obras de elevado valor histórico,
um eventual erro na escolha da técnica de limpeza poderá implicar um dano irrepará-
vel. No decorrer da limpeza da pedra, poderão tornar-se visíveis certos defeitos (orifícios
ou fissuras), os quais, por vezes, podem ser alvo de pequenas reparações. Neste sentido,
são utilizadas algumas argamassas ou resinas especiais que permitem não só atribuir
à pedra um carácter mais uniforme, como também evitam futuros danos internos que
possam vir a ocorrer devido à presença desses defeitos. É possível utilizar dois tipos de
C o n s e rva ç ã o , d u r a b i l i d a d e , l i m p e z a 511

processos para limpeza de pedra: o processo físico e o processo químico. Ambos podem
ser aplicados separadamente ou em conjunto, dependendo das características dos mate-
riais, estado de degradação, localização do problema, efeito desejado, etc. A Tabela 9.9
indica quais os principais tipos de técnicas utilizadas, bem como uma pequena descri-
ção das mesmas.

Tabela 9.9: Principais tipos de técnicas utilizadas na limpeza da pedra [1].

Técnica de Limpeza
Descrição Sumária
da Pedra

Limpeza com jacto Método especialmente utilizado em pedras mais macias.


de água de baixa É usualmente completado com escovagem dos pormenores e
ou alta pressão lavagem com água corrente

Limpeza a jacto Técnica muito agressiva, pelo que deve ser utilizada com
de ar com abrasivo alguma precaução. É bastante ruidosa e produz uma grande
quantidade de resíduos nocivos para a saúde. Existem métodos
recentes que reduzem a concentração de ar e pó, aumentando
a eficácia através de uma projecção de abrasivo mais adequada.

Limpeza a jacto Técnica semelhante à anterior, embora com menor prejuízo para
de água com abrasivo a saúde, considerando que a projecção é feita através de água.
Permite a utilização de abrasivos especiais que exigem menores
pressões de água.

Limpeza utilizando É feita uma aplicação de produtos químicos (ácidos e bases) na


agentes químicos pedra, após ensaios prévios em materiais de preferência iguais.
Estes produtos deverão ser aplicados com controlo de diversos
factores, tais como o Ph, a duração do tempo de aplicação ou,
mesmo, a lavagem adequada da superfície a tratar.

Limpeza com raios Processo recente, muito útil especialmente em limpeza


laser de pormenores de partes esculpidas de monumentos e obras
de relevância. O efeito do laser provoca microrressonância
da superfície, destacando-se as películas e incrustações nocivas.

Outros processos Existem inúmeros métodos mecânicos cuja acção é desbastar


de limpeza as películas superficiais da pedra por acção de escovas, esmeris,
discos abrasivos, etc. No entanto, a maioria destes métodos
foi responsável por graves danos nas obras em que foi aplicada.
Os métodos adequados não devem em caso algum provocar
desgaste desnecessário da pedra ou outros danos, como manchas
ou eflorescências.
512 C o n s e rva ç ã o , d u r a b i l i d a d e , l i m p e z a

Figura 9.26: Limpeza de superfícies por jacto de ar com abrasivo: a) elevada


abrasividade na acção de limpeza; b) reduzida abrasividade na acção de limpeza [1].

Na Figura 9.26 é possível observar duas das técnicas utilizadas na limpeza da pedra.

Se a conservação de construções de pedra é um elemento essencial para o incremento do


tempo de vida útil dos produtos, já as operações de restauro incidem maioritariamente
em situações para as quais não existe outra alternativa senão aquelas que utilizam meto-
dologias aditivas de materiais. É sabido que os produtos de rocha são muito resisten-
tes, designadamente os fabricados a partir de granitos e granitóides. No entanto, com o
tempo, é possível que ocorram danos mais ou menos gravosos nas aplicações em pedra,
e para os quais, necessariamente, se impõe uma reparação.

Em primeiro lugar, é necessário assegurar uma correcta avaliação das causas, processos
e ritmo da degradação, bem como uma eficaz selecção das técnicas e materiais a utili-
zar. As operações de restauro devem ser sempre levadas a cabo por especialistas, uma
vez que apenas pessoal de elevada qualificação poderá evitar danos irreparáveis no patri-
mónio que normalmente é visado pelas operações de restauro. Na maioria dos casos, é
necessário manter a autenticidade das obras e manter o seu valor cultural.

O restauro de edifícios não carece somente de pequenas reparações como as referidas


anteriormente (preenchimento de fissuras com argamassas e mástiques) [26]. Muitas
vezes é necessário recorrer a operações mais profundas que podem levar à substituição
de elementos de pedra, do respectivo reforço, ou ainda consolidando as estruturas de
alguns elementos importantes. Normalmente, é possível antever que muitos dos casos
dramáticos onde surgem grandes fendas ou empenamento de paredes têm como origem a
instabilidade nas fundações dos edifícios. Esta análise é absolutamente crítica, uma vez
Ciclo de vida 513

que determina as características das intervenções que, no limite, podem levar à recons-
trução de toda a obra ou dos sectores afectados. Na realidade, a maioria das situações
inclui a substituição de alguns elementos ou ornatos previamente elaborados em oficina,
ou a troca de pavimentos ou degraus cujo aspecto apresenta já um estado avançado de
degradação derivado de um excessivo desgaste ocasionado por tráfego muito acentu-
ado. No caso das restantes aplicações de pedra em interiores, é possível verificar que as
rochas silicatadas ácidas são, de um modo geral, menos vulneráveis à degradação tem-
poral quando comparadas com outro tipo de rochas.

9 . 7 Ci c l o d e v i d a

Em geral, o ciclo de vida das rochas confunde-se muitas vezes com a sua própria génese.
As rochas são, por si sós, formadas a partir de diversos minerais que, por acções de
diversos mecanismos, possibilitaram a formação ao longo do tempo de massas sólidas e
compactas. Por sua vez, os minerais que originam a formação das rochas são provenien-
tes ou do desgaste das mesmas à superfície da crosta terrestre ou da cristalização do
magma que entretanto existe na crosta terrestre, ou ainda a partir daquele que é solto
quando um vulcão inicia o processo de erupção. Neste sentido, a vida de uma rocha não
tem um final definido, apenas termina o período relativo à aplicação de um determinado
produto pétreo.

Nos últimos séculos, e pelo menos até há 50 anos atrás, a maior parte das soluções cons-
trutivas utilizadas em habitação em Portugal era mista [12]. Utilizavam uma envolvente
importante de pedra (tijolo ou adobe em zonas onde a pedra não estava disponível), com
pavimentos e cobertura ligeiros de madeira. Esta situação permitia a utilização da pedra
a mais longo prazo, considerando que era possível que esta permanecesse durante deze-
nas ou mesmo centenas de anos a servir determinada função, normalmente estrutural.

Com o desenvolvimento de estruturas de betão, as soluções de construção em Portugal


modificaram-se radicalmente, passando a utilizar-se sistemas que incluem pórticos de
betão armado e lajes aligeiradas. No entanto, o valor de peso global dos edifícios hoje em
dia é semelhante aos valores de há 50 anos atrás, para além de que, apesar de se verifi-
car algum incremento na resistência estrutural final do edifício, também se assiste a uma
regressão nas questões de impacto ambiental [12]. Ou seja, a utilização de componentes
industriais de betão colocados de uma forma não uniforme (actualmente intervalados ou
compostos com outro tipo de materiais) dificulta a reciclagem, pese embora haver algu-
mas excepções que permitem simultaneamente melhorias a nível da reciclagem dos com-
ponentes e aligeiramento de estruturas. No entanto, na opinião de alguns especialistas
514 Ciclo de vida

[26], a maioria destas soluções tem alguma dificuldade em possibilitar a obtenção simul-
tânea de bom isolamento acústico e inércia térmica. Não obstante as considerações efec-
tuadas, a atitude de quem projecta os edifícios deverá ser cada vez mais a previsão não
só dos custos energéticos que levam à construção do edifício (6 a 20 por cento do con-
sumo de energia total durante 50 anos de uso), mas também os que ocorrem do desman-
telamento, tratamento e transporte de resíduos no fim da vida útil [26].

A actividade relacionada com a previsão do custo energético poderá permitir encontrar


as melhores soluções para que estas se amortizem (em, por exemplo, 50 anos) através da
reutilização ou reciclagem de alguns componentes após o termo da vida útil dos edifícios.
A actividade de construção em Portugal faz uso de diversos materiais que apresentam
um ciclo de vida muito complexo, alguns deles com um custo energético associado muito
elevado relativamente à função que desempenham. Neste caso, um aumento da utiliza-
ção de materiais locais e pouco transformados implica por si só uma redução dos impac-
tos ambientais.

A pedra enquanto material de construção tem sofrido processos de industrialização


destinados normalmente à redução do peso dos produtos e diminuição do desperdício
(uma vez que este último pode rondar os 70 por cento em peso do material extraí­do
na pedreira). As novas soluções no fabrico de produtos de pedra podem inclusivamente
envolver o uso de compósitos de pedra; por exemplo, uma chapa fina de pedra (com
espessura na ordem de 0.5 cm) reforçada com um polímero [27]. Actualmente, uma das
soluções mais comuns no mercado são os denominados «aglomerados de pedra»; os
quais são uma das formas mais viáveis para utilizar os resíduos e desperdícios resultan-
tes do processamento das rochas. Os actuais aglomerados de pedra têm a sua origem em
materiais tradicionalmente utilizados entre as décadas de 50 e 80 do passado século XX,
conhecidos em Portugal como marmorito, e em Itália como «terraza». Posteriormente, a
evolução das resinas poliméricos foi determinante para, em conjunto com a evolução tec-
nológica dos equipamentos de produção, possibilitar o fabrico de materiais (compósitos)
que incorporam uma percentagem muito elevada (até cerca de 95 por cento em peso) de
minerais de origem pétrea (designadamente, calcário e sílica). Estes materiais (vulgar-
mente conhecidos como sendo do tipo «silestone») têm um aspecto estético muito seme-
lhante às rochas ornamentais e propriedades muito adequadas para um conjunto alar-
gado de aplicações (especialmente interiores). Do ponto de vista de ciclo de vida, quer a
pedra natural, quer os aglomerados de pedra devem ser considerados como provenientes
da mesma origem (a menos do contributo relativo aos polímeros utilizados) e, se utiliza-
dos racionalmente, ambos podem funcionar como elementos que contribuem para uma
sustentabilidade do meio-ambiente.
Ciclo de vida 515

Como se pode verificar, não é fácil falar sobre o ciclo de vida dos materiais pétreos sem
abordar o assunto de um modo mais vasto. A análise da vida de um produto de pedra pode
ser feita de acordo com as inter-relações apresentadas no exemplo dado na Figura 9.27.

Meio ambiente

Maciço Rochoso
Incorporação dos resíduos
Recuperação Separação
noutros processos — p. ex.
de água de resíduos
cimenteira, pedras artificiais
Pedreira

Desperdício de pedra
Bloco extraído verificada no processo de
corte, na escombreiras, e de
Desperdício de pedra pedra não aproveitável,
verificada no corte com Corte primário após utilização
água e outros abrasivos

Desperdício de pedra
Tratamentos
utilizando água e grandes
superficiais
quantidades de abrasivos

Desperdício de pedra
verificada no corte com Corte secundário
água e abrasivos

Aplicação directa

Utilização na
vida útil

Reutilização
de pedras após
tratamento

Figura 9.27: Interligações possíveis para um produto de pedra natural e que podem
representar o ciclo de vida das rochas: exemplo aplicado a casos do tipo «ladrilho
de dimensões normalizadas».
516 R E F E R Ê NCIAS

R E F E R Ê NC I AS

[1] Casal Moura A. 2000. Granitos e Rochas Similares de Portugal. Ed. I. G.e. Mineiro, Porto.
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2000. Ornamental Stone Processing — New Methodologies for the Characterisation of Petreous
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[3] Guerra Rosa L, Cruz Fernandes J and Amaral PM. 1998. Method for Classification of Stone
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European Commission — Industrial and Materials Technologies Programme, Athens.

[4] Casal Moura A. 2001. O Granito na Construção Civil e na Arquitectura: Requisitos Técnicos
dos Produtos. Rochas & Equipamentos 61: 14–44.

[5] Ruffa N. 2001. A Matter of Urban Maintenance. Urban Fixtures: The Durability and Reliabi-
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[7] Philpotts AR. 1989. Petrography of Igneous and Metamorphic Rocks.

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considerations in cladding design. Proc. of Global Stone Congress 2010, Alicante (Spain), March
2–5, 2010; ISBN: 978-84-614-1147-4, paper no.S5–06.

[10] Primavori P. 2000. The Colors of Stone, in Marmo Macchine International. pp. 22–57.

[11] Casal Moura A. 2001. A Pedra Natural Ornamental em Portugal — Nota Breve. Boletim de
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[12] Carvalho J, Manuppella G and Casal Moura A. 2002. Calcários Ornamentais Portugueses.
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Construction Products, in Congresso Internacional de Pedra Natural — Arquitectura e Cons-
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[14] Associação Brasileira de Normas Técnicas. Conheça a ABNT, 2ª ed., Rio de Janeiro,
ABNT, 1995.

[15] NP EN 45020. 2001 — Normalização e Actividades Correlacionadas. Vocabulário Geral


(Guia ISO/IEC 2:2004).

[16] OSNET, O.a.D.S.N., ed. State of the Art in Characterisation Methodologies and Standards.
Ed. S.C. Sector. 2003.
R E F E R Ê NCIAS 517

[17] Casal Moura A. 2006. Qualidade Industrial e Marcação CE.

[18] Frisa Morandini A. 2004/5. Finished Products, Market and Characterisation: an Introdution.
Osnet Editions 15: 1–11.

[19] Anjinho CA, Pinto S, Pires V, Rodrigues R, Amaral PM. 2006. Inovação no Sector das
Rochas Ornamentais: desenvolvimento de técnicas avançadas de caracterização de materiais e pro-
dutos, ferramentas e matérias-primas, máquinas e sistemas de produção. Rochas & Equipamen-
tos 84: 50–62.

[20] http://www.ce-marking.org and http://ec.europa.eu/enterprise/newapproach/standardi-


zation/harmstds/reflist/construc.html.

[21] NP EN 45011:2001 — Requisitos para organismos de certificação de produtos.

[22] Correia C. 2003. Patologias Identificadas e Caracterizadas em Revestimentos Exteriores de


Pedra Natural com Fixação Directa. Algumas Recomendações para a sua Prevenção. Rochas &
Equipamentos 71: 21–32.

[23] Revêtements de murs extérieurs en carreaux céramiques ou analogues collés au moyen de


mortiers-colles. Cahier des Prescriptions Techniques d’exécution. CAHIERS DU CSTB, Cahier
3266, Octobre 2000.

[24] Camposinhos R, Amaral P. 2007. Caderno Técnico de aplicação, uso e manutenção de


rochas ornamentais; desenvolvido por FrontWave, Engenharia e Consultadoria, S.A., Edição
Assimagra, 1ªed.

[25] Camposinhos R. 2005. Métodos e Técnicas de Construção I — Revestimento de Fachadas em


pedra natural. Instituto Superior de Engenharia do Porto, Departamento de Engenharia Civil.

[26] Mendonça P and Bragança L. 2002. Construção em Pedra e Conforto Térmico —Implicações
na Redução do Impacto Ambiental. Rochas & Equipamentos 65: 6–29.

[27] ano. 2003. Construir con Granito. ROC Maquina. pp 54–63.

Nota: A versão a cores das imagens da Figura 9.4 podem ser consultadas na página do livro em
www.istpress.ist.utl.pt.

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