I– Da Importância do Instituto
Em trabalho jurídico de grande peso e tomo, dissertou Rui que
“o bom-senso humano, em todos os tempos, tem reconhecido não ser lícito
abandonar a sorte da lei comum e dos direitos por ela assegurados às
contingências do julgamento por um só tribunal. Daí a concepção das instâncias,
dos recursos e, especialmente, das apelações, destinadas a corrigirem, mediante
segundo exame do caso em cada lide, os vícios, omissões e nulidades do processo,
os erros, abusos e injustiças da sentença” (Obras Completas, vol. XLV, t. IV, p.
169).
O uso de recorrer já o reputava Ulpiano remédio salutar, “que se
criou para emendar a iniquidade e reparar a imperícia dos julgadores” (ibidem).
Tanto que dê com a erronia ou desacerto da decisão, a parte
interessada poderá, portanto, encetar recurso.
com grande crédito de seu nome, o Dr. José Humberto Urban, Juiz de
Direito da 19a. Vara Criminal da Capital, a respeito de certo acusado
reincidente, ao qual, embora o condenasse a cumprir a pena reclusiva
de 2 anos e 11 meses, por sequestro e cárcere privado, concedeu-lhe
entretanto o benefício de apelar sem recolher-se à prisão (proc. nº
484/86).
O magistrado autorizou sua decisão com o art. 5º, nº LVII, da
Constituição Federal, que dispõe que “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Não lhe faltou à sentença o rigor da lógica jurídica (pois
ninguém decai da condição de primário, enquanto a decisão que o
condenou não receber o selo da “res judicata”); outro tanto, não há que
se diga contra seu distinto prolator, visto procedeu com o estilo
daquele que passa pelo mais sábio dos homens — Salomão —, de
quem nos ficaram estas palavras, dignas de bronze e de lâminas de
ouro: “Não sejas por demasiado justo” (Ecl 7,17).
Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp