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RECLAMAÇÃO 14.

764 MATO GROSSO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


RECLTE.(S) : MARACANÃ ENERGÉTICA S.A
ADV.(A/S) : RODRIGO LEITE DE BARROS ZANIN E OUTRO(A/S)
RECLDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO
GROSSO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
INTDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO
GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
MATO GROSSO

DECISÃO: Trata-se de reclamação constitucional com pedido liminar


ajuizada por Maracanã Energética S.A., contra ato da 4ª Câmara Cível
Reunida do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, nos autos da
Ação Civil Pública 000663-05.2011.811.0026 (AI 124683/2011), que, ao
afastar norma estadual e determinar a realização prévia do EIA/RIMA,
teria usurpado a competência desta Corte para o julgamento de ações de
controle concentrado de constitucionalidade. O acórdão impugnado foi
assim ementado:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – IMPLANTAÇÃO DE


PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA (PCH) – DISPENSA DE
PRÉVIA EI/RIMA – IMPOSSIBILIDADE – SUSPENSÃO DE
TODA E QUALQUER ATIVIDADE – APLICAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO –
FUNDADO RECEIO DE DANO IRREPERÁVEL OU DE
DIFÍCIL REPARAÇÃO AO MEIO AMBIENTE.
Imperativa é a suspensão de toda e qualquer obra
destinada à implantação de pequena central hidrelétrica (PCH)
até a apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
consequente Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
A Constituição da República Federativa do Brasil consagra
o princípio da prevenção, para a instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação
ambiental. Há, portanto, a exigência de observância de todos os

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passos previstos no ordenamento jurídico, mormente o do


comando constitucional (art. 225, § 1º, IV) e o da Legislação
Infraconstitucional, com destaque para a Lei nº 6.938/81 (arts.
9º, III e IV; 10, cabeça), o Decreto nº 99.274/90 e as Resoluções do
CONAMA, notadamente de nº 1/86 e 237/97.
Recurso provido”. (eDOC 7, p. 1)

Sustenta-se que a Ação Civil Pública ajuizada na origem com vistas


ao embargo de obra destinada à construção de pequena central
hidrelétrica (PCH) com capacidade de 10,5Mw, na cidade de Nova
Marilândia, busca, na verdade, a declaração de inconstitucionalidade do
art. 24, XI, da Lei Complementar estadual 38/1995, alterada pela Lei
Complementar estadual 70/2000, que permite a construção de pequenas
centrais hidrelétricas com capacidade inferior a 30 Mw sem a elaboração
de EIA/RIMA. Alega-se, para tanto, violação ao art. 279 da Constituição
do Estado do Mato Grosso e art. 225 da Constituição Federal.
Aduz-se que o referido dispositivo é objeto da ADI 4.529, proposta
pelo Procurador-Geral da República perante este Tribunal.
Nesses termos, suscita-se a inexistência de condição da ação e a
ilegitimidade ativa do Ministério Público Estadual para exercer controle
concentrado de constitucionalidade por meio de ação civil pública.
Pugna-se, assim, pela suspensão dos efeitos da decisão proferida nos
autos do AI 124683/2011 ou do Processo 000663-05.2011.811.0026 e, no
mérito, pela revogação da decisão reclamada de modo a preservar a
competência do Supremo Tribunal Federal para o exercício do controle
concentrado de constitucionalidade.
O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso em informações,
menciona ter intimado a reclamante para suspender a obra, sob pena de
multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (eDOC 21)
Por entender presentes os requisitos do fumus boni iuris e do
periculum in mora, deferi o pedido de liminar para suspender os efeitos do
acórdão proferido no AI 124683/2011. (eDOC 24)
A Procuradoria-Geral da República emitiu parecer pela
improcedência da reclamação, assim ementado:

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“Reclamação. Decisão em ação civil pública ajuizada com


o propósito de obstar a construção de pequena central
hidrelétrica sem a elaboração prévia de estudo de impacto
ambiental. Alegada usurpação da competência do Supremo
Tribunal Federal para declarar a inconstitucionalidade da
legislação estadual que afasta a exigência do EIA.
Insubsistência. Respeito à legislação federal aplicável à espécie
e à Constituição da República, de onde retirando o fundamento
essencial da demanda na origem. Exame de situação concreta,
referente a empreendimento específico. Precedentes da
Suprema Corte. Irrelevância da existência de ação direta de
inconstitucionalidade contra a legislação estadual em que se
ampara a reclamante. Exercício legítimo do poder geral de
cautela. Parecer pela improcedência da reclamação”. (eDOC 29)

É o relatório. Decido.

Inicialmente, afasto a alegação de usurpação de competência desta


Corte para análise e julgamento de ação de controle concentrado,
conforme alegado na inicial.
Registro que, nos termos da Constituição Federal, compete ao STF
processar e julgar originariamente reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões (art. 102, I, “l”, da
CF/88).
Nesse sentido, o novo Código de Processo Civil, que entrou em
vigor em 18.3.2016, estabelece o rol das hipóteses de cabimento da
reclamação:

“Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do


Ministério Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula
vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em

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controle concentrado de constitucionalidade; (Redação dada


pela Lei nº 13.256, de 2016)
IV – garantir a observância de acórdão proferido em
julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de incidente de assunção de competência (…)”.

Na petição inicial, alega-se usurpação de competência desta Corte


para o exercício do controle concentrado de constitucionalidade do art.
24, IX, da Lei Complementar do Estado de Mato Grosso 38/95, com a
redação dada pela LCE 70/2000. Sustenta-se que o fim último do
Ministério Público estadual é a exclusão do referido dispositivo do
ordenamento jurídico brasileiro e que tal discussão não poderia ser objeto
de ação civil pública. Defende-se, assim, ausência de condição da ação e
ilegitimidade ativa do MPE para exercer o controle concentrado de
constitucionalidade.
Com efeito, verifico que o Juízo reclamado, no exercício de sua
competência, não exerceu controle abstrato de constitucionalidade, mas,
ao contrário, analisou caso concreto referente ao licenciamento da
construção da Pequena Central Hidrelétrica Maracanã, com potência de
10,5 MW, na cidade de Nova Marilândia/MT.
Constato que tal decisão não possui caráter genérico nem se presta
ao controle concentrado de constitucionalidade da legislação estadual
impugnada. O Tribunal de origem, referindo-se à obra específica, apenas
exerceu controle difuso de constitucionalidade com fundamento na
Constituição estadual e na Constituição Federal. Confira-se, a propósito, o
seguinte trecho do voto condutor do acórdão reclamado:

“Pois bem. A agravada Maracanã Energética S.A. pretende


instalar uma pequena central hidrelétrica (PCH) com 10.500
KW (quilowatt) ou 10,5 MW (megawatt), sem a confecção de
estudo de impacto ambiental (EIA) e do relatório de impacto
ambiental (RIMA), amparada em dois pareceres técnicos da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente.
Poderia o agravado Estado de Mato Grosso dispensar o

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estudo de impacto ambiental (EIA) e do relatório de impacto


ambiental (RIMA)? Não. A resposta é, desenganadamente, não.
Com efeito, tendo a Constituição da República Federativa
do Brasil consagrado o princípio da prevenção, para a
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação ambiental, há a exigência de
observância de todos os passos previstos no ordenamento
jurídico, mormente o do comando Constitucional (art. 225, § 1º,
IV) e da Legislação Infraconstitucional, com destaque para a Lei
nº 6.938/81 (arts. 9º, III e IV; 10, cabeça), o Decreto nº 99.274/90 e
as Resoluções do CONAMA, notadamente as de nº 1/86 e
237/97.
(…)
Portanto, para a instalação de pequena central hidrelétrica
(PCH) com 10.500 KW (quilowatt) ou 10,5 MW (megawatt), há a
exigência de elaboração de estudo de impacto ambiental – EIA e
do respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA”. (eDOC
7, p. 10-11)

Da mesma forma, analisando a petição inicial da Ação Civil Pública


ajuizada pelo Ministério Público estadual na origem, verifico que ela se
destina à condenação da ré – ora reclamante – e do Estado de Mato
Grosso a elaborar o EIA/RIMA para o licenciamento da obra de
construção da PCH Maracanã e submetê-lo à aprovação da Assembleia
Legislativa, nos termos do art. 279 da Constituição Estadual.
Constata-se assim que a ação trata de situação concreta e específica,
referente à eventual omissão do Estado no cumprimento das exigências
constitucionais e legais para o licenciamento da construção da PCH
Maracanã, e que o pedido principal da causa não possui natureza
abstrata.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:

“DIREITO CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE

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INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. CONFUSÃO COM O


PEDIDO PRINCIPAL. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO
ALINHADA À JURISPRUDÊNCIA DO STF. 1. O Supremo
Tribunal Federal firmou o entendimento no sentido de se
admitir o controle difuso de constitucionalidade em ação civil
pública desde que a alegação de inconstitucionalidade não se
confunda com o pedido principal da causa. Precedentes. 2.
Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da
multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC/1973.” (RE 595.213-AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, Dje 18.12.2017);

“RECLAMAÇÃO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


RECEBIDOS COMO RECURSO DE AGRAVO – AÇÃO CIVIL
PÚBLICA – CONTROLE INCIDENTAL DE
CONSTITUCIONALIDADE – QUESTÃO PREJUDICIAL –
POSSIBILIDADE – INOCORRÊNCIA DE USURPAÇÃO DA
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
PRECEDENTES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O
Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a legitimidade da
utilização da ação civil pública como instrumento idôneo de
fiscalização incidental de constitucionalidade, pela via difusa,
de quaisquer leis ou atos do Poder Público, mesmo quando
contestados em face da Constituição da República, desde que,
nesse processo coletivo, a controvérsia constitucional, longe de
identificar-se como objeto único da demanda, qualifique-se
como simples questão prejudicial, indispensável à resolução do
litígio principal. Precedentes. Doutrina.” (RCL 1.898-ED, Rel.
Min. Celso de Mello, Segunda Turma, Dje 6.8.2014)

Nesse diapasão, não há falar em usurpação de competência desta


Corte para o exercício de controle abstrato de constitucionalidade no
presente caso.
Também não interfere no julgamento proferido pela origem o fato de
haver ação direta de inconstitucionalidade ajuizada perante o Supremo
Tribunal Federal (ADI 4.529, de relatoria da Ministra Rosa Weber) para
apreciação da norma estadual em questão (art. 24, XI, da Lei

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Complementar estadual 38/1995, com a redação dada pela Lei


Complementar estadual 70/2000), tendo em vista não haver decisão nos
autos que determine o sobrestamento das ações em curso na origem sobre
o tema.
Desse modo, não existe óbice ao prosseguimento da ação e ao
exercício do controle difuso de constitucionalidade pelo Tribunal de
Justiça estadual.

Não obstante o afastamento das alegações referentes à usurpação de


competência desta Corte para julgar a matéria, a reclamação merece
prosperar.

Sublinho que, em outras oportunidades, ressaltei a tendência


hodierna de que a reclamação assuma cada vez mais o papel de ação
constitucional voltada à proteção da ordem constitucional como um
todo. Os vários óbices à aceitação da reclamação em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, inclusive, já foram superados,
estando o Supremo Tribunal Federal em condições de ampliar o uso
desse importante e singular instrumento da jurisdição constitucional
brasileira.
Pontuei também que a ordem constitucional necessita de proteção
por mecanismos processuais céleres e eficazes. Esse é o mandamento
constitucional, que fica bastante claro quando se observa o elenco de
ações constitucionais voltadas a esse mister, como o habeas corpus, o
mandado de segurança, a ação popular, o habeas data, o mandado de
injunção, a ação civil pública, a ação direta de inconstitucionalidade, a
ação declaratória de constitucionalidade e a arguição de descumprimento
de preceito fundamental.
A reclamação constitucional – sua própria evolução o demonstra –
não mais se destina apenas a assegurar a competência e a autoridade de
decisões específicas e bem delimitadas do Supremo Tribunal Federal, mas
também se constitui como ação voltada à proteção da ordem
constitucional como um todo.

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A ampla legitimação e o rito simples e célere, como características da


reclamação, podem consagrá-la, portanto, como mecanismo processual
de eficaz proteção da ordem constitucional, tal como interpretada pelo
Supremo Tribunal Federal.
E conforme o entendimento que vem se consolidando nesta Corte,
quanto à consideração de uma causa de pedir aberta nas reclamações,
nada impede a ampliação da análise do presente pedido, para considerar
diretamente o conteúdo do art. 97 da Constituição e da Súmula
Vinculante 10, ainda que a alegação inicial seja de usurpação da
competência desta Corte para julgar ação de controle concentrado.
A Súmula Vinculante 10 assim dispõe:

“Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a


decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou
em parte”.

Observa-se que a referida súmula vinculante tem sua aplicação


direcionada aos casos em que órgão fracionário de Tribunal, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de norma jurídica, afasta
sua aplicação, no todo ou em parte, sem a devida observância da
denominada “cláusula de reserva de plenário” (art. 97 da CF de 1988).
Assim, aplica-se a regra da reserva de plenário aos tribunais que, ao
declararem a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, somente
estão autorizados a fazê-lo pelo voto da maioria absoluta dos membros
integrantes do Tribunal, reunidos em sessão plenária ou, onde houver, no
respectivo órgão especial. Nesse sentido, os seguintes precedentes: RE
482.090, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Pleno, DJe 13.3.2009; AI-AgR 577.771,
Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 16.5.2008; e RE 240.096,
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 21.5.1999.
No caso dos autos, o acórdão impugnado assim se manifestou sobre
a matéria:

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“É sabido que o art. 225 da Constituição da República


Federativa do Brasil reza que todos têm direito ao ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes
e futuras gerações. Trata-se de direito de terceira geração,
consoante se tem manifestado o Ministro do Supremo Tribunal
Federal Celso de Mello.
A Lei Complementar nº 38, de 1 de novembro de 1995
(Código Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso),
dispunha, na redação originária do seu artigo 3º, XII, que
competia ao Conselho Estadual de Meio Ambiente
(CONSEMA) ‘(...) opinar sobre o licenciamento ambiental das usinas
termelétricas ou hidrelétricas com capacidade acima de 10MW, para o
que, obrigatoriamente, será exigida a prévia elaboração de Estudo de
Impacto Ambiental – EIA e a apresentação do respectivo Relatório de
Impacto Ambiental – Rima, dependendo a validade da licença de sua
aprovação pela Assembleia Legislativa (...)’.
Posteriormente, a Lei Complementar nº 70, de 15 de
setembro de 2000, modificou a redação anterior e passou a dizer
que compete ao Conselho Estadual de Meio Ambiente
(CONSEMA) ‘(...) opinar sobre o licenciamento ambiental das usinas
termelétricas ou hidrelétricas com capacidade acima de 30MW, para o
que, obrigatoriamente, será exigida a prévia elaboração de Estudo de
Impacto Ambiental – EIA e apresentação do respectivo Relatório de
Impacto Ambiental – RIMA, dependendo a validade da licença de
aprovação pela Assembleia Legislativa (...)’.
(...)
Mais. A citada Lei simplesmente dispensou a prévia
elaboração de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e a
apresentação do respectivo Relatório de Impacto Ambiental –
RIMA para todas as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs),
porque, como vista, é considerando como característica destas o
aproveitamento hidrelétrico com potência superior a 1.000 KW
(quilowatt) e igual ou inferior a 30.000 KW (quilowatt).
Não é tudo. O Supremo Tribunal Federal já firmou

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entendimento no sentido de que a dispensa, por norma


estadual, de estudo de impacto ambiental, viola o dispositivo
constitucional:
‘[...] O Plenário desta Corte, ao julgar a ADI
1.0286/SC, Rel. Min. Ilmar Galvão, assentou que a
previsão, por norma estadual, de dispensa ao estudo de
impacto ambiental viola o art. 225, § 1º, IV, da Constituição
Federal. IV – Agravo regimental improvido [...]’ (STF,
Segunda Turma, Agravo Regimental no Recurso
Extraordinário nº 650909, Relator Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento 17/4/2012)
(…)
Não é só. A Constituição do Estado de Mato Grosso
dispõe, no art. 279, que a construção de centrais termoelétricas e
hidroelétricas dependerá de projeto técnico de impacto
ambiental, com a participação do Conselho Estadual do Meio
Ambiente e aprovação da Assembleia Legislativa, requisito
primordial não observado, ante a omissão da aprovação pelo
Poder Legislativo.
(…)
São, portanto, relevantes os fundamentos invocados na
ação civil pública ambiental.
Há ainda fundado receio de dano de difícil reparação,
quiçá irreparável mesmo ao meio ambiente, visto que, se é fácil
destruir, reconstruir é, muitas vezes, impossível.
O interesse exclusivamente econômico da agravada não se
sobrepõe ao indisponível da coletividade, não apenas da que
aqui está, mas da futura também.
(...)
Assim, em face do princípio da precaução, inscrito no art. 225,
da CF, em caso de dúvida quanto à lesão ou não ao meio ambiente,
dever-se-ia paralisar a atividade governamental (Min. Carlos Britto,
Informativo nº 493.
(...)
Essas, as razões por que entendo ser necessário suspender
toda e qualquer obra destinada à implantação da pequena

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central hidrelétrica (PCH) até a apresentação do EIA/RIMA, e


comino a multa punitiva diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais)”. (eDOC 7, p. 11-21)

Diante dessa passagem, verifico que o órgão fracionário do Tribunal


de Justiça do Estado de Marto Grosso afastou a aplicação do art. 24, IX, da
Lei Complementar estadual 38/95, com a redação dada pela LCE 70/2000,
com fundamento na Constituição estadual (art. 279) e na Constituição
Federal (art. 225), sem a observância do art. 97 da Constituição Federal
(cláusula da reserva de Plenário). Assim, o acórdão reclamado violou o
disposto na Súmula Vinculante 10 deste Tribunal.
A esse propósito, cito os seguintes precedentes:

“CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE


DA EC 35/2001, DOS §§ 4º e 5º DO ARTIGO 34 DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E DE DECRETO LEGISLATIVO
ESTADUAL REALIZADO POR ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE
TRIBUNAL. DESRESPEITO À CLÁUSULA DE RESERVA DE
PLENÁRIO. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 10.
EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. 1.
No exercício da atividade jurisdicional, posto um litígio em
juízo, o Poder Judiciário deverá solucioná-lo e para tanto,
incidentalmente, poderá analisar a constitucionalidade ou não
de lei ou de ato normativo, inclusive aqueles de efeitos
concretos (controle difuso de constitucionalidade). 2. A
inconstitucionalidade de ato normativo estatal só pode ser
declarada pelo voto da maioria absoluta da totalidade dos
membros do tribunal ou, onde houver, dos integrantes do
respectivo órgão especial, sob pena de absoluta nulidade da
decisão emanada do órgão fraccionário (Turma, Câmara ou
Seção), em respeito à previsão do art. 97 da Constituição
Federal. 2. Embargos de declaração ACOLHIDOS, com efeitos
infringentes, para reformar o acórdão embargado e, via de
consequência, julgar procedente a reclamação”. (Rcl-AgR-ED
18.165, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Segunda Turma, Dje
5.9.2017);

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“AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. CONCESSÃO


DE REAJUSTE DE 13,23% A SERVIDOR PÚBLICO POR
DECISÃO JUDICIAL. RECLAMAÇÃO JULGADA
PROCEDENTE. DECISÃO DE ÓRGÃO FRACIONÁRIO DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE AFASTA A
INCIDÊNCIA DE DISPOSIÇÃO LEGAL. SÚMULAS
VINCULANTES 10 E 37. VIOLAÇÃO. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. Os recentes pronunciamentos desta Corte são
no sentido de que a determinação judicial de incorporação da
vantagem referente aos 13,23% (Lei 10.698/2003) importa ofensa
às Súmulas Vinculantes nº 10 e 37. 2. In casu, a decisão
reclamada concluiu que a Lei 10.698/2003 possui caráter de
verdadeira revisão geral anual, afastando a aplicação do artigo
1º da referida Lei. 3. Decisão de órgão fracionário que, embora
não tenha expressamente declarado a inconstitucionalidade da
referida norma, afastou sua aplicação, sem observância da
cláusula de reserva de plenário (art. 97 da Constituição
Federal), e, consectariamente, do enunciado da Súmula
Vinculante nº 10. 4. Agravo regimental desprovido”. (Rcl-AgR
23.443, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Dje 19.5.2017)

Ante o exposto, com base na jurisprudência desta Corte (art. 161,


parágrafo único, do RISTF), conheço da reclamação e julgo-a procedente,
para cassar o acórdão reclamado e determinar que outro seja proferido
em seu lugar, de acordo com o art. 97 da Constituição Federal.

Publique-se.
Brasília, 28 de agosto de 2018.

Ministro GILMAR MENDES


Relator
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