Anda di halaman 1dari 7
marxista A contribuigao do teatro para a luta de classes: a experiéncia da Companhia do Latao Ewrrevista INA CAMARGO COSTA® Diretor da Companhia do Latao e professor da drea de Artes Cénicas na ECA- USP, Sérgio de Carvalho ¢ doutor em Literatura Brasileira, rea em que defendeu uma tese de extremo interesse sobre as vicissitudes do teatro moderno no Brasil. Depois de trabalhar como dramaturgista com o Teatro da Vertigem, envol- vyeu-se mais diretamente com a produgao teatral em meados dos anos 90, criando a Companhia do Lato, que passou a ter este nome a partir de 1997. O gesto indica que a fonte maior da inspirasdo de sua pesquisa teatral ¢ 0 uabalho de Brecht, sobretudo 0 conjunto de textos escritos entre 1937 ¢ 1951 ¢ publicados sob 0 titulo A compra do lato. O trabalho de 1997, Ensaio sobre o latio, contém algumas das questes que ainda hoje norteiam os experimentos da companhia: possibilidades ¢ limites do trabalho teatral em tempos de total colonizagao da sensibilidade e do imagindrio pela industria cultural; desafios préticos ¢ tedricos postos desde sempre aos que se dispéem a fazer teatro ou qualquer modalidade de arte conseqiiente no Brasil; e, sem esgotar a pauta, a busca de uma cena em que as formas da sociabilidade brasileira possam ser examinadas sem complacéncia. O repertério da Companhia inclui trés obras fundamentais de Brecht: A santa Joana dos matadouros (1997), Os dias da Comuna (1999) € O ctrcilo de giz caucasiano (2006). Os espetdculos desenvolvidos pelo método préprio de elaburasao coletiva, que enfrentam o desafio de pensar 0 Brasil, costumam incluir entre seus materiais *Professora aposentada da FFCLH/USP. 168 ® A CONTRIBUIGAO DO TEATRO PARA A LUTA DE CLASSES: A EXPERIEN- CIA DA COMPANHIA DO LATAO desde trabalhos clissicos de pesquisadores brasileiros, como Ratzes do Brasil, até pe- cas da produgzo popular, dita folclérica, como antigos pregdes de feira ou cantos de escravos. Pecas como O nome do sujeito ((1998), O auto dos bons tratos (2002), Mer- cado do gozo (2003) e Visbes siamesas (2004) so exemplos do amplo arco de materiais pesquisados pelo grupo nos processos que resultam no que eles mesmos chamam de ensaios, pois os resultados nunca so considerados definitivos. ‘A revista Vintém ¢ 0 site na internet (www.companhiadolatao.com.br) produgoes de caréter reflexive que necessariamente acompanham 0 desenvolvi- mento da pesquisa cénica, pois o grupo sabe que desde fins do século XIX.a arte que se pretende conseqlente nao pode dispensar a reflexdo sobre seus fundamen- tos tedricos. Nos dois vefculos h4 materiais que ajudam a pensar asua trajetéria, 0 tipo de interlocugao que estabelece com o teatro mundial contemporaneo ea rela- do critica com a heranga cénica brasileira. ‘A entrevista com Sérgio de Carvalho que o leitor vai ler foi por nés realiza- da em dezembro de 2007, ano em que a Companhia do Latéo completou seu décimo aniversdrio. iO 2% A Companhia do Latéto estd completando 10 anos de trabalho. Vocé poderia nos dizer como foi que comegou o trabalho da Companhia e qual era a proposta de vocés? He alguma relagio especial entre o nascimento da Companhia ¢ 0 Teatro de Arena Eugenio Kusnet, no qual vocés montaram 0 Danton, de Bitehner? ‘A Companhia do Latio nasce de um projeto chamado Pesquisa em Teatro Dialético, que foi idealizado no inicio de 1997, depois da montagem de Ensaio para Danton. Foi minha primeira experiéncia de encenasio autoral, uma intervencio dramattirgica— nartativa e anti-ilusionista— num texto cléssico. Percebi jé durante os ensaios que eta preciso estudar melhor a obra de Brecht para seguir naquele caminho de reflexo histérica sobre os modos como os materiais da fiego podem encontrar sua formactfticaatual. © passo seguinte, afsim, se deu no’Teatro de Arena. Ali comegamos a fazer expetimentos teatrais com 2 teoria de Brecht (principalmente com fragmentos de A compra do latéo). © Lato se forma, portanto, naquele pequeno espago veatral, numa ruela do centro da cidade, como um grupo de estudos das relagdes entre a dialética de Brecht (¢, portanto, a de Marx) ea cidade dos dias de hoje. Houve sempre tum interesse pela teoria no nosso trabalho teatral, mas ela surgia mediada pela nossa experiéncia pessoal e pela atengio &s condigSes de trabalho no grupo. Se um dia conse- guimos ter uma relagao livre einventiva com 0 modelo-Brecht, nao foi s6 pelo gosto comum pela dialética, mas também porque desde a primeira montagem tentamos, &s duras penas, ctiar uma relasio de trabalho teatral igualitéria, coletivizada e, portanto, menos alienada do que a da maioria das companhias teatrais. CRITICA MARXISTA * 169 Vacés montaram, logo no intcio da Companhia, dois textos de Brecht: Ensaio sobre o latao ¢ A santa Joana dos matadouros. O encontro com Brecht levou i reflexito critica sobre a mereantilizagiio da vida, ou foi esta reflexiio que levou a Brecht? Como se dew a critica do “ator cldssico stanislavskiano” em confronto com as necessidades do de- senvolvimento das técnicas de reprodugio? No trabalho de voces, como no Ensaio sobre © latdo, Ad uma reflexdo critica sobre a mitologia que cerca o trabalho do ator? Por estranho que pareca, na Companhia do Latao o trabalho de ensaios com os atores sempre seguiu: de perto as idéias de Stanislavski, 20 menos aquelas da chamada fase da Ages Fisicas, em que ele enfatizou a lado material das rela- g6es humanas, em que ele exigia um improviso do texto a partir das tarefas Misicas do ator na sua relagdo com o outro. E claro que era um Stanislavski da época soviética, em didlogo com o materialismo, aquele que persegue contradigées sub- jetivas complexas a partir do trato material da gestualidade. Isso serve muito a0 teatro de Brecht, desde que haja também uma reflexdo dos atores sobre a dimen- so objetiva (histérica, social etc.) dessas contradis6es. Na grande dramaturgia épica as contradig6es subjetivas da personagem (que costumam ser figuras social- mente alienadas, com baixa autoconsciéncia) sao também as contradigdes objeti- vas da histéria. No teatro épico de qualidade, aquele que mostra a mercantilizagao da vida em estdgio avangado (mas nao consumado!), nao existe a oposi¢ao dramé- tica convencional entre o individu ea pressio da histéria abstrata. E uma relagio dialética, contraditéria, que pode ser percebida por meio de concretizagoes gestuais. Isso est4 na teoria do gestus de Brecht: vemos em cena comportamentos relacionais de alta ambigitidade, suspensGes do fluxo temporal em que as contradigées se cvi- denciam. A Companhia do Latao sé percebeu isso porque de cara trabalhou sobrea ctise da prépria representacao, tentando enfrentar a dimensio ideolégica do ato de representar ¢ encenar, Por isso tantos espet4culos chamados de “ensaios”. Desde 0 comego a companhia trabalbou pelo método da criagdo coletiva — im- provisagiio sobre os temas ¢ depois redacito dos textos. O método teve peso na definigéio dos rumos? Os trabalhos seguintes foram prioritariamente dedicados a temas da expe- ritncia brasileira. Isto jd facia parte do projeto inicial ou é decorréncia do primeiro momento? O nosso jeito de escrever pecas a partir de improvisos ¢ muito influenciado pelo meu fascinio pela pritica das Agdes Fisicas, por esse método hesitante de, a partir de situagées definidas ¢ ldgicas, gerar 0 acaso, 0 acidente vivo, o imprevist- vel do corpo. Naquele momento dos anos 90, tinhamos mais acesso (nos ambien tes universitdrios de onde eu vinha) aos modelos europeus modernistas do que As tradigdes latino-americanas do teatro politico da criagao coletiva. E mesmo o modernismo europeu estava fora de moda. Por outro lado, a improvisagao com 170 ® A CONTRIBUIGAO DO TEATRO PARA A LUTA DE CLASSES: A EXPERIEN- CIA DA COMPANHIA DO LATAO

Anda mungkin juga menyukai