Anda di halaman 1dari 9

BUSCAR

MENU MONITOR DA VIOLÊNCIA

Apostar no encarceramento é
investir na violência: a ação do
Estado na produção do caos
Por Camila Nunes Dias e Rosângela Teixeira Gonçalves, Núcleo de Estudos da Violência da USP
26/04/2019 05h00 · Atualizado há 4 minutos

— Foto: Igor Estrella/G1

O raio X do sistema prisional brasileiro produzido pelo Monitor


da Violência aponta o aumento do número de pessoas presas,
dos presos provisórios e da taxa de ocupação das prisões, isto é,
da superlotação dos estabelecimentos carcerários. Falar do
aumento do número de pessoas presas e da superlotação no
Brasil necessariamente nos faz problematizar as condições de
cumprimento de penas.

Sabe-se que, historicamente, as prisões no país possuem


condições precárias, onde os indivíduos vivem em celas
superlotadas, com más condições sanitárias, alimentação
deteriorada, assistência médica, jurídica, educacional e
profissional insatisfatórias ou inexistentes e em condições em
que muitas vezes os familiares são encarregados da
manutenção da pessoa presa, suprindo a ausência de bens
fornecidos pelo Estado, através dos jumbos levados em dias de
visita, pressionando ainda mais o orçamento doméstico de
famílias em maioria absoluta já bastante empobrecidas. Ou seja,
após uma ligeira queda entre 2017/2018, os dados de 2019
expressam que a política de encarceramento em massa que o
Brasil vem adotando há décadas segue no trilho, firme e forte.

Um outro dado que chama a atenção é que 56.641 novas vagas


em unidades prisionais estão em construção no país. Percebe-se
a insistência em “investir” mais na expansão de algo que nunca
demonstrou dar o resultado que sempre se afirmou que tinha
que dar. Ou seja, as prisões jamais – e em lugar nenhum do
mundo – demonstraram eficiência em reduzir o crime ou a
violência. Ao contrário, especialmente no Brasil e nas últimas
três décadas elas têm demonstrado o seu papel fundamental
como espaços onde o crime se articula e se organiza, dentre
outras coisas, através de um eficientíssimo sistema de
recrutamento de novos integrantes para compor as redes
criminais que tem no Estado o seu aliado principal. Não fosse o
Estado, não teríamos facções – ao menos não da forma como
tais grupos existem no Brasil. Isso é um fato indiscutível.
Aquelas que são consideradas pelas autoridades como as
principais organizações criminais do país nasceram e cresceram
dentro de unidades prisionais, antes de se expandirem para os
bairros e periferias pobres dos centros urbanos e antes de
estabelecerem rotas internacionais para o transporte e
distribuição de drogas. Desta maneira, ao optar por uma forma
de combate ao crime que privilegia os delitos contra a
propriedade e as drogas em vez dos homicídios (por exemplo) e
pela prisão como resposta única ao “crime”, é feita uma escolha.

Quando se opta por encarcerar uma pessoa que não tem


vínculos com grupos criminais, necessariamente o Estado o
colocará sob os auspícios de uma facção e ali ele terá todas as
oportunidades de se inserir em redes criminais mais ou menos
complexas e, talvez, de integrar sua expertise ilícita individual a
essas redes.

Em grande parte das unidades prisionais as facções controlam


(ou, no mínimo, influenciam) as melhores oportunidades de
trabalho, serviços, bens, espaços, conferindo maiores
prerrogativas a seus membros. Desse modo, muitas pessoas
desvinculadas e desarticuladas passam a aderir aos ritos e
procederes como forma de sobreviver às mazelas do sistema
prisional.

Como apontam os dados apresentados, dentre a população


encarcerada, apenas 18,9% dos presos trabalham. Essa
porcentagem baixíssima ainda esconde a precariedade da maior
parte disto que se registra como “trabalho”. A situação remete
ao agravamento de condições das famílias, uma vez que, em sua
grande maioria, as pessoas presas são responsáveis pelo
provimento da casa antes de serem encarceradas.

Ainda mais baixa é a proporção de pessoas que estudam, sendo


de 12,6% do total de presos. A baixa porcentagem não pode ser
justificada em decorrência da alta escolaridade dos presos, pois,
de acordo com o último levantamento do Infopen (2016), 51%
não possuíam o ensino fundamental completo.

A falta de oportunidade de trabalho e de estudos – previstos em


lei como direitos de todos as pessoas, inclusive os que estão
custodiados pelo Estado – completa o quadro que nos permite
compreender o lugar central que a prisão ocupa na produção e
reprodução da violência no Brasil.

Omissão x responsabilização
Diante das “quase” regulares “crises” do sistema prisional –
momentos em que a violência que é inerente às prisões assume
aspectos de catarse coletiva e transborda os muros dos
cárceres, enchendo as telas da TV, os jornais e a internet de
sangue e de imagens que denotam brutalidade e selvageria – as
autoridades são colocadas diante do incômodo de serem
chamadas a dar alguma explicação para o caos. Contudo, muitas
vezes passa desapercebido de todos nós que assistimos atônitos
a tudo isso a questão óbvia: o caos é produzido pelo Estado, nas
suas diferentes instâncias de poder (Executivo, Legislativo e
Judiciário) através de suas escolhas políticas (e administrativas).

Em geral, a crítica às autoridades se constrói em termos de uma


suposta “omissão” ou “ausência” do poder público. Ora, mas
quão despropositado é falar de omissão ou de ausência se o
Estado – em suas diferentes formas e manifestações – está
presente todo o tempo, do início ao fim na produção regular,
consistente e coerente do caos que, de tempos em tempos,
estoura para além das muralhas que o invisibiliza?

Afinal, como e de onde emergem as prisões superlotadas, em


condições de miséria, de degradação humana, senão a partir de
uma linha de produção que começa na política de segurança
pública que privilegia o policiamento ostensivo militarizado
(através da PM) cujos alvos prioritários fazem parte da
população que historicamente perfaz a clientela do sistema
prisional: os pobres, negros, jovens, suspeitos de crimes contra a
propriedade ou enquadrados na Lei de Drogas?

E, após o flagrante – quase sempre sem qualquer investigação –


quem são os responsáveis pela abertura do inquérito senão os
delegados de polícia? E não serão eles também uma das faces
do Estado? E, depois, na efetivação da denúncia, o que é o
Ministério Público, senão o Estado? E a decisão sobre a
manutenção provisória ou o sentenciamento, quem o produz se
não o juiz, na sua condição de agente do Estado?

Finalmente, quem é responsável pela custódia destas pessoas


em locais insalubres, sujos, mal construídos (a despeito dos
milhões que são declarados nos valores das obras)? Quem
define a forma através da qual serão contratados a compra de
bens e a contratação de serviços básicos que – por sua
obrigação – o Estado deveria suprir aqueles a quem custodia?
Quem faz as licitações? Quem decide os péssimos salários e a
ausência de planos de carreira, além das péssimas condições de
trabalho a qual estão sujeitos os servidores do sistema prisional
(bem como policiais civis e militares)?

Se há uma proporção de 1 agente penitenciário para 200 ou 300


presos, quem estabeleceu as condições para criar essa relação?
Se as facções fazem a gestão interna das relações na grande
maioria das prisões brasileiras e até mesmo em razão deste
cenário, quem, afinal, produziu isto? Finalmente, quando há uma
ruptura das relações de poder entre os diversos grupos que
controlam o cotidiano prisional e essa ruptura se transforma em
violência aberta, explícita e brutal, quem, afinal, é agente
presente, ativo, produtor concreto e direto deste cenário em
todas as suas etapas?

Mais grave ainda é verificar que, em regra, a resposta que essas


mesmas autoridades oferecem são as mesmas promessas
mágicas de sempre. As propostas – como podemos ver, por
exemplo, no chamado pacote “anticrime” – apostam na
continuidade do mesmo que vem sendo feito desde sempre,
não se baseia em quaisquer das centenas de estudos e
pesquisas que estão à disposição das autoridades, não
apresentam diagnósticos, metas, objetivos nem qualquer
planejamento coerente que leve em consideração o quanto
poderemos suportar – econômica, política e socialmente falando
– a manutenção da política de encarceramento vigente e que
reitera, fortalece e multiplica as condições para a perpetuação e
a reprodução das tragédias.

Não podemos esquecer a advertência do Portal: “Deixai toda


esperança, ó vós que entrais!” – se seguimos como Dante rumo
aos círculos mais profundos do inferno, será em vão procurar
neles a passagem para o paraíso.
Camila Nunes Dias é pesquisadora do NEV-USP e professora da
UFABC e Rosângela Teixeira Gonçalves é socióloga e doutoranda
em ciências humanas e sociais pela UFABC

MONITOR DA VIOLÊNCIA: RAIO X DO SISTEMA PRISIONAL

Superlotação aumenta e número de presos provisórios volta a crescer no


Brasil

Menos de 1/5 dos presos trabalha no Brasil; 1 em cada 8 estuda

Mapa mostra dados de cada estado do país

NEV-USP: Apostar no encarceramento é investir na violência

FBSP: Prisões superlotadas não inibirão o crime e a violência

Comentários

Mais do G1

MONITOR DA VIOLÊNCIA: nº
de presos provisórios volta a
crescer, e superlotação
aumenta
G1 faz raio X do sistema carcerário e mostra
que o Brasil tem hoje 708 mil detentos para
416 mil vagas. Há superlotação em todos os
estados
estados.
Há 3 horas —Em Monitor da Violência

Comissão aprova 100% de


capital estrangeiro nas aéreas
e proibição de cobrança por
bagagem
Aprovada por comissão do Congresso,
medida foi editada em dezembro de 2018
por Michel Temer. Para se tornar lei,
proposta precisa de aprovação por plenários
de Câmara e Senado.
Em Política

Previdência: mudanças no
BPC e aposentadoria rural
levariam a economia de R$
127 bi em 10 anos
5 min
Previsão está em estudo que serviu de base
para texto da reforma proposta pelo
governo. Dados estavam com acesso restrito,
mas foram liberados pelo Ministério da
Economia.
Em Economia

Turco ligado a movimento de


oposição é preso em SP a
pedido do governo de
Erdogan
3 min
Ali Sipahi participou de atividades de centro
cultural ligado ao Hizmet, um movimento
que o governo da Turquia considera
terrorista.
Em Mundo

Suspeitos de matar homem e


cortar órgão genital
relataram que vítima tentou
estuprar a mãe
Os dois foram presos nessa quarta-feira (24),
na Vila Mandacaru, bairro São João, Zona
Leste de Teresina.
Em Piauí
Se economia com Previdência
for menor que R$ 800 bi,
Brasil vai parecer Argentina,
diz Bolsonaro
6 min
Em café da manhã com jornalistas,
presidente disse ainda que sua relação com
o vice, Hamilton Mourão, é como a de um
'casal': tem brigas, mas depois se entendem.
Em Blog do João Borges

VEJA MAIS

últimas notícias

© Copyright 2000-2019 Globo Comunicação e Participações S.A. princípios editoriais política de privacidade minha conta anuncie conosco

Anda mungkin juga menyukai