Brasília, DF
Fevereiro, 2014
investimento de mão de obra e pelo acúmulo nos intensificação do cultivo sucessivo do tomateiro,
frutos de tomate de alcalóides produzidos pelo com consequente aumento gradativo da população
porta-enxerto (LOWMAN; KELLY,1946). bacteriana no solo. Além disso, temperaturas mais
altas dentro de estufas favorecem a multiplicação
Com o desenvolvimento de novas técnicas de porta- da bactéria no solo e dificultam seu controle.
enxertos mais resistentes a doenças, a enxertia em Outro fator determinante que tem dificultado o
hortaliças foi introduzida com sucesso na Europa na controle da murcha-bacteriana foi a proibição da
década de 1990, acompanhada de efetivo trabalho comercialização do brometo de metila, que era
de marketing promovido pela indústria de sementes frequentemente usado pelos produtores para a
(ODA, 2002). Atualmente, em Almeiria, na desinfestação do solo.
Espanha, onde se concentra a maior área de cultivo
protegido do mundo, a técnica da enxertia é de uso A murcha-bacteriana é a mais importante doença
generalizado. Mais da metade do tomate consumido do tomateiro na região Norte do Brasil, onde é
no Japão e na Coréia do Sul é produzida em plantas um fator limitante da produção (LOPES, 2009).
enxertadas. Na região do Mediterrâneo, a enxertia é Em outras regiões, aparece principalmente em
um dos componentes mais importantes do controle cultivos conduzidos durante verões chuvosos e em
integrado de doenças do tomateiro, correspondendo cultivos protegidos, onde a rotação de culturas é
a mais de 45 milhões de plantas na Espanha e mais pouco utilizada por motivos econômicos (GOTO,
de 20 milhões em Marrocos (GU, 2012). 2003; LOPES, 2010). Esta doença é notada no
campo em reboleiras, localizadas nas partes mais
No Brasil, os primeiros registros do uso da enxertia baixas e úmidas do terreno, principalmente em solo
no cultivo de hortaliças datam da década de 1950 argiloso, que acumula mais água. Também é notada
na região Norte. Imigrantes japoneses de Tomé inicialmente em vazamentos de canos de irrigação
Açu, PA, enxertavam tomateiro em ‘jurubeba juna’ ou de gotejadores. O patógeno permanece no solo
(Solanum toxicarium), nativa da região, como única por muitos anos e inviabiliza o cultivo de solanáceas
alternativa para controlar a murcha-bacteriana, em terrenos infestados (LOPES; AVILA, 2005).
causada por Ralstonia solanacearum (GALLI, 1980).
A dificuldade de produzir tomate devido a outros O controle da murcha-bacteriana, depois que
problemas fitossanitários e o aumento da mão de ela se manifesta no campo, é muito difícil. Por
obra para a realização da enxertia, no entanto, isso, deve-se sempre pensar em adotar controle
levaram os produtores a abandonar a tomaticultura integrado, baseado na observação de várias
e concentrar seus esforços em outros cultivos, em medidas preventivas e complementares de controle.
especial na produção de pimenta do reino, espécie Nenhuma medida isolada é suficiente para evitar
muito bem adaptada à região. Até hoje a murcha- perdas quando as condições ambientais forem
bacteriana tem sido o principal entrave à produção favoráveis à doença. Dentre essas medidas, a
de tomate na região Norte do Brasil (LOPES, enxertia tem se mostrado efetiva, em especial em
2009). Por outro lado, nas regiões tradicionalmente cultivo protegido.
produtoras de hortaliças do País, principalmente
a região Sudeste, a enxertia foi historicamente O plantio sucessivo de tomateiro em cultivo
pouco utilizada, especialmente porque as cultivares protegido favorece, ao mesmo tempo, o aumento
desenvolvidas nas últimas décadas eram resistentes da população de outros patógenos de solo, tais
às principais doenças de solo, como murcha de como os nematoides de galhas (Meloidogyne spp.)
fusário e murcha de verticílio. A murcha-bacteriana, e os fungos Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici
para a qual não existiam cultivares resistentes, era e Verticillium dahliae (LOPES; AVILA, 2005).
controlada pela rotação de culturas ou plantio em Mesmo que a resistência genética seja efetiva para
áreas virgens. o controle de nematoides e fungos, a variabilidade
destes restringe o uso da resistência em algumas
Com o advento e a expansão do cultivo protegido localidades. Por exemplo, tem-se observado a
nas regiões Sul e Sudeste, a murcha-bacteriana proliferação da raça 3 de Fusarium oxysporum f.sp.
passou a ser um dos principais problemas do lycopersici, para a qual cultivares resistentes são
tomateiro. Isso se deve à dificuldade de rotação de ainda escassas. No caso dos nematoides de galhas,
culturas por questões econômicas, que resulta na o controle foi dificultado pelo aparecimento de
Enxertia em tomateiro para o controle da murcha-bacteriana 3
M. enterolobii, que causa a doença em cultivares enxertia poderá, assim, tornar viável o cultivo desta
resistentes a outras espécies de Meloidogyne hortaliça nesta região, dispondo-se de tecnologia de
(CANTU et al. 2009). baixo impacto para o meio ambiente.
está associada não à resistência total, do tipo Outro genótipo de interesse para o controle da
imunidade, mas à limitação da colonização e da murcha-bacteriana do tomateiro por meio da
translocação da bactéria no xilema na base do enxertia é a linhagem Hawaii 7996. Essa linhagem
caule. Assim, uma determinada combinação pode é uma referência internacional de resistência em
não ser totalmente efetiva para locais onde a virtude de ter se destacado em testes de resistência
pressão de inóculo é alta, como nas regiões Norte realizados em diferentes países (WANG et al., 1998)
e Nordeste do Brasil, ou em cultivos protegidos em e por apresentar boa compatibilidade com cultivares
outras regiões conduzidos sob alta temperatura e plantadas no Brasil em termos de qualidade de
cultivos sucessivos de tomateiro onde a doença frutos (CARDOSO et al., 2006). O inconveniente
já se apresenta com alta incidência. Neste caso, dessa linhagem é que ela não possui resistência aos
outras medidas complementares de controle, como nematoides de galhas (Meloidogyne spp.) e a outros
a rotação de culturas e a solarização (LOANNOU, patógenos de solo, como encontrada nos híbridos
2001; BAPTISTA et al, 2007), são necessárias. comerciais (Tabela 1).
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6 Enxertia em tomateiro para o controle da murcha-bacteriana
7. Em seguida, coloca-se uma presilha (Figuras 9 e 9. Nos quatro primeiros dias, mudas recém
10) ou tubo de silicone (Figuras 11 e 12) na junção enxertadas são colocadas em ausência total de
das duas partes de modo a estabelecer um contato luz (Figuras 14 e 15) para reduzir o fluxo de seiva,
íntimo entre os tecidos dos dois genótipos. favorecendo assim a formação do calo cicatricial.
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