Relações Internacionais
Demétrio Magnoli
13/9/2010 Falanges da moralidade
Vereador campeão de votos de seu partido em Santa Catarina, Mariano liderou uma
manifestação pública contra o aumento de passagens de ônibus em Joinville, em 2006.
Na ocasião, seus apelos evitaram um confronto entre a polícia e os manifestantes.
Contudo, o Tribunal de Justiça estadual condenou-o à prisão, acatando a acusação de
impedir o funcionamento de serviço de utilidade pública.
Eu e você podemos ter opiniões distintas sobre a decisão, que está pendente de recurso
na instância superior. Mas o “crime” de Mariano não consta na relação de crimes contra
a administração pública da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, sua candidatura a
deputado estadual foi provisoriamente suspensa pelos juízes eleitorais. No meio tempo,
as empresas de ônibus da cidade deflagraram sua própria campanha, usando a suspensão
para qualificá-lo como um “ficha suja”. No fim, o tribunal eleitoral do estado acatou a
candidatura, mas o dano já estava feito. Os falangistas da moralidade defendem
interesses pecuniários bem definidos.
“Não fomos eleitos”, alerta Grau, dirigindo-se aos juízes que almejam substituir os
legisladores. A moda pegou, pois confere poder e prestígio. O TSE, interpretando a
péssima lei eleitoral com o voluntarismo dos Ophires, arroga-se a prerrogativa de
supervisionar editorialmente a imprensa. Na tevê e no rádio, a opinião independente e
os humoristas estão sob uma modalidade curiosa de censura: quase tudo pode ser
declarado “campanha eleitoral irregular”, sujeitando emissoras até à suspensão do sinal.
A “campanha regular”, entenda-se, é o monopólio da palavra conferido aos
marqueteiros no horário eleitoral gratuito. E isso, claro, em nome da democracia.
As influências mais diretas do oceano sobre as áreas continentais não vão além dos 100
quilômetros da linha de costa. Nessas faixas, que não representam mais de um quinto
das terras emersas, habita atualmente pouco mais da metade da população mundial. De
acordo com as projeções, em 2025 a população das áreas litorâneas atingirá três quartos
do total. Já hoje, cerca de 70% das maiores cidades do mundo são costeiras. Os
ecossistemas costeiros são áreas de grande fragilidade ambiental As pressões exercidas
por atividades humanas – como a pesca, o tráfego marítimo, a urbanização, as
instalações industriais – causam impactos em graus de intensidade variável sobre os
recifes coralíneos, os mangues, os estuários e a vegetação litorânea em geral.
Não há como negar a importância econômica dos oceanos e mares. Os oceanos são os
grandes corredores do intercâmbio global de mercadorias: atualmente, cerca de 90% dos
bens comercializados no mundo circulam através de navios. A atividade pesqueira,
praticada de forma predatória, contribui para reduzir dramaticamente os estoques de
determinados tipos de peixes, especialmente os de maior valor comercial.
Inúmeros recursos minerais, como ouro, níquel, magnésio e hidrocarbonetos, são
encontrados nas águas rasas ou profundas dos oceanos. Cerca de 30% do petróleo do
mundo é extraído em plataformas marítimas. Se o sal, o petróleo e outros minerais são
extraídos há algum tempo, outras riquezas ainda aguardam o desenvolvimento de
tecnologias capazes de reduzir os custos de extração. No entanto, os minerais
escondidos sob os oceanos podem se tornar recursos essenciais em futuro não muito
distante.
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar, firmada em Montego Bay,
nas Bahamas, em 1982, definiu a divisão geopolítica das águas oceânicas em mar
territorial, mar contíguo e zona econômica exclusiva. Definiu-se também que cada país
litorâneo exerceria soberania decrescente à medida em que aumenta a distância entre a
costa e o alto mar. A partir daí, a soberania deixaria de existir. Decidiu-se ainda que o
fundo do mar, fora da jurisdição nacional, passaria a ser considerado patrimônio comum
da humanidade. Mesmo assim, as tentativas de imposição de leis internacionais mais
rígidas de controle sobre abusos esbarram na soberania dos países sobre as águas
territoriais e nas controvérsias a respeito da aplicação da legislação sobre as águas
internacionais. Além disso, os Estados Unidos e alguns outros países rejeitaram a
Convenção.
Os dois rios têm suas nascentes nas úmidas regiões montanhosas da Anatólia oriental,
no sudeste da Turquia. O Tigre, ao deixar o território turco, atravessa o Iraque, enquanto
o Eufrates cruza áreas do território sírio antes de drenar terras do Iraque. Pouco antes do
estuário, no Golfo Pérsico, as águas de ambos os rios se juntam formando o canal de
Chatt-el-Arab.
O curso dos rios tem implicações geopolíticas. A Turquia, que exerce soberania sobre o
alto vale dos dois rios, beneficia-se de uma situação hídrica muito mais favorável que a
de seus vizinhos situados a jusante. Dados sobre determinados usos desses rios
iluminam alguns aspectos das questões hídricas que envolvem os três países.
O Eufrates e seus afluentes são as principais fontes de água da Síria e neles está
depositada a esperança do país de aumentar a produção de alimentos para sua crescente
população. Mais de 80% da população do Iraque depende do uso da água dos dois rios.
As reivindicações dos três países, praticamente incompatíveis, se tornam mais
complicadas por conta de conflitos étnicos e reminiscências históricas.
Todavia, Síria e Iraque também têm problemas entre si no que diz respeito à partilha das
águas do Eufrates. Um acordo de 1990 dividiu o fluxo do Eufrates, cabendo 53% aos
iraquianos e 42% para os sírios, mas antes disso os dois países quase entraram em
guerra pelo controle do recurso escasso. Entretanto, o fator que mais acirra essas
disputas é o projeto turco de exploração econômica dos recursos hídricos regionais.
Nos anos 70, o governo turco elaborou uma política hidráulica ambiciosa, denominada
Projeto da Grande Anatólia (PGA). Iniciado em 1989 e com previsão de conclusão em
2010, o PGA pretende mudar radicalmente a paisagem do sudeste da Turquia,
incorporando ao país 1,7 milhão de hectares de terras irrigadas. São 13 projetos
integrados – seis sobre o rio Tigre e sete sobre o Eufrates, 22 reservatórios de água e 19
centrais hidrelétricas. Para a Turquia, o PGA vai melhorar as condições de vida de cerca
dos 5 milhões de habitantes que vivem naquela parte do país.
Apesar da importância econômica e social do PGA, não se deve perder de vista o seu
lugar nas estratégias geopolíticas internas da Turquia. A região onde está sendo
implementado o projeto é, historicamente, a base territorial da minoria curda, sobre a
qual se assentam correntes políticas separatistas. As obras do PGA, especialmente a
construção de barragens, servem como justificativas oficiais para desalojar populações
curdas de suas áreas tradicionais. Ao mesmo tempo, a melhoria da infraestrutura viária
estimula as migrações de turcos étnicos para a região curda.
O Brasil é atualmente o quinto país mais populoso do mundo, superado apenas pela
China (1,3 bilhão), Índia (1,2 bilhão), Estados Unidos (300 milhões) e Indonésia (240
milhões). Em função da dinâmica demográfica específica de cada país, nas próximas
décadas ocorrerão mudanças nesse ranking. Assim, por volta de 2035, a Índia
ultrapassará a China, tornando-se o país mais populoso do mundo. No horizonte de
2050, o Brasil será ultrapassado por Paquistão, Bangladesh e Nigéria.
Não faz muito tempo que se acreditava que o Brasil atingiria a cifra de 200 milhões de
habitantes antes do ano 2000. Isso, contudo, só ocorrerá um pouco antes de 2015. No
início da década de 1960 ainda não se vislumbravam os efeitos da transição
demográfica que acompanhou o processo de modernização econômica e social do país.
Levando-se em consideração que, atualmente, o saldo migratório é quase insignificante
e que será mantida a tendência à redução do crescimento vegetativo, pode-se prever o
início da redução da população total brasileira para algum ponto entre 2040 e 2045.
O cenário de distribuição da população pelas regiões brasileiras também não trará
surpresas. As cinco grandes regiões do país conhecerão incremento demográfico e, em
todas elas, o ritmo do crescimento vegetativo continuará apresentando redução
significativa. A posição de cada uma das regiões no ranking populacional do país
seguirá inalterada em relação aos censos anteriores. O Sudeste, com pouco mais 42% da
população total, continuará sendo a região mais populosa, seguida do Nordeste, Sul,
Norte e Centro-Oeste. As duas últimas regiões, onde encontram-se importantes
fronteiras de recursos, continuam atraindo migrantes de outras regiões do país. Por
conta disso, são elas que apresentam aumento sistemático de participação na população
total do país.
Os estados de maior população permanecerão sendo São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná – que, juntos, abrigam cerca de 60% dos
habitantes do país. Há uma hipótese curiosa, a ser testada. No horizonte de 2020, o
Sudeste, especialmente o Rio de Janeiro, talvez conheça alguma ampliação marginal na
participação na população total do país, em decorrência tanto de eventos como a Copa
do Mundo (2014) e a Olimpíada (2016) quanto dos expressivos investimentos previstos
para a exploração do pré-sal.