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Extraído de: SALAZAR, Jeferson. Mudando paradigmas.

O advertência privada, advertência pública, suspensão do


Código de Ética Profissional e a luta contra a corrupção. registro profissional pelo período de 180 a 365 dias,
Drops, São Paulo, ano 16, n. 095.06, Vitruvius, ago. 2015 cancelamento do registro profissional e multa no valor de 7
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/16.095/56 a 10 vezes o valor da anuidade do CAU, podendo ser
64>. agravadas com um acréscimo de até 1/6 da sanção
original, conforme determina o Anexo da Resolução
Está em discussão no Congresso Nacional a reforma do 86/2014 (7). E quanto aos demais profissionais que atuam
Código Penal Brasileiro – Decreto Lei nº 2.848 de 07 de em áreas de sombreamento com a arquitetura e
dezembro de 1940 (1), no qual, atualmente, prevê a urbanismo, que não têm código de ética e não podem
criminalização do recebimento de vantagens indevidas sofrer sanções disciplinares pelo CAU? Esses, sim,
apenas quando há agente do poder público envolvido. O deveriam estar bastante preocupados.
crime de corrupção envolvendo agente do poder público já
está consagrado no nosso sistema jurídico, com amplo Voltando aos arquitetos e urbanistas, o tema provocou um
entendimento da sua natureza preventiva pela sociedade debate sobre uma proposta que possibilita à sociedade se
brasileira, que a cada dia cobra e exige maior rigor na libertar da condição de refém da corrupção entre pessoas
aplicação da norma jurídica coercitiva a esta prática. físicas e entre pessoas físicas e pessoas jurídicas
praticadas em diversas áreas, com prejuízos para todos,
A novidade é que a comissão de reforma do Código Penal inclusive nós, arquitetos e urbanistas. Entretanto, não
aprovou a proposta de criminalizar também a corrupção podemos perder a oportunidade de focar naquilo que já
ativa e passiva entre particulares, especificamente nas está em vigor, que é a possibilidade de ter o registro
relações comerciais ou de prestação de serviços que profissional cancelado pelo mesmo motivo, ainda que com
envolvam pessoas jurídicas (empresas) e danos ao seu nome diferente.
patrimônio, com pena prevista de um a quatro anos de
prisão e multa. Se a criminalização da corrupção entre particulares
prevista na reforma do Código Penal é importante, porque
Num momento em que o combate à corrupção está na livra a sociedade de um grande mal, igualmente importante
ordem do dia, a proposta aprovada é um avanço, mas não é a aprovação do PL nº 6.699/02 (8), do ex-deputado José
é suficiente para livrar a sociedade dessa mazela. Para um Carlos Coutinho, ao qual foi apensado o PL 6.994/02 (9),
avanço real, a corrupção (ativa e/ou passiva) na relação de do deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP),
consumo ou de prestação de serviço entre pessoas físicas que está em tramitação no Congresso Nacional. Este
e pessoas jurídicas privadas, com prejuízos a terceiros Projeto de Lei tipifica como crime o exercício ilegal da
(ainda que pessoas físicas), também deve estar tipificada engenharia, da arquitetura e da agronomia, hoje
no novo Código Penal. considerado contravenção penal (delito de menor
gravidade).
É exatamente essa a questão que tem provocado um
amplo debate entre arquitetos e urbanistas brasileiros, A aprovação da criminalização do exercício ilegal da
principalmente após o III Seminário Legislativo do CAU, no profissão protege a sociedade e valoriza o profissional. E
qual o tema foi abordado. Mas qual é a polêmica de fundo, esta deveria ser uma das principais bandeiras de todos
se a Resolução 52/2.013 (2) que estabeleceu o Código de nós, profissionais, entidades e Conselhos! Desta forma,
Ética Profissional, definindo princípios e obrigações, e a racional seria que o CAU e CONFEA tivessem uma ação
Resolução 58/2.013 (3), alterada pela Resolução 86/2.014 conjunta em defesa da aprovação do PL nº 6.699/02 (10)
(4), que regulamentaram os procedimentos disciplinares e para o benefício de todos. Essa é a campanha prioritária!
respectivas penalidades, já impõem sanções disciplinares
para esta prática? Identidade cultural e contracultura. Corrupção entre
particulares: quem ganha e quem perde com isso?
A falsa polêmica e a campanha prioritária Antes e, sobretudo, a tipificação no Código Penal se trata
Ocorre que a questão está sendo observada de maneira de uma necessidade premente para a sociedade brasileira,
turva por alguns, apenas com o olhar corporativo e face a uma cultura de tolerância com pequenos atos de “se
amedrontado, como se esta inclusão no Código Penal dar bem”, que foi disseminada ao longo do tempo de forma
fosse dirigida exclusivamente para arquitetos e urbanistas vergonhosa e, apologicamente, rotulada como “jeitinho
pelo fato do CAU ter levantado esta bandeira. brasileiro”; ou ainda, como Lei de Gerson, expressão
cunhada no ano de 1976 a partir da propaganda do cigarro
O fato é que foi criada uma falsa polêmica e por quê? Vila Rica. Produzida pela agência de publicidade Caio
Porque na verdade, considerar crime a prática de obter Domingues & Associados, a chave daquele comercial foi o
vantagens indevidas sobre relações de consumo ou mérito de captar do imaginário popular o lado subliminar da
prestação de serviços entre pessoas físicas ou entre identidade nacional; e de registrar os valores éticos
pessoas físicas e pessoas jurídicas não deveria ser objeto daquele tempo, com a célebre frase "gosto de levar
de preocupação e debate apenas para os arquitetos e vantagem em tudo, certo?", que fez sucesso nacional.
urbanistas, considerando que estes já têm no seu Código Talvez uma herança maldita do nosso processo de
de Ética Profissional sanções disciplinares suficientemente colonização e formação cultural e moral, em que muitos
severas para coibir práticas consideradas antiéticas ou dos representantes da coroa portuguesa se locupletavam
lesivas ao contratante, amparadas no inciso VI, do artigo com o patrimônio do qual, ao invés disso, deveriam cuidar.
18, da Lei 12.378/2.010 (5) e no item 3.2.16, do Código de
Ética Profissional (6). E as penalidades previstas são:
Por tudo que vem ocorrendo no cenário político atual, salvo disciplinares para infrações éticas. Ainda assim vemos em
melhor juízo, a sociedade brasileira está passando por diversas profissões, regulamentadas ou não, profissionais
transformações profundas e a máxima do “rouba, mas faz”, atuando como “representantes de empresas”, fornecedoras
frase indissociável da imagem de Ademar de Barros, ex- ou fabricantes, e recebendo prêmios, comissões, brindes e
governador de São Paulo, e depois estendida para uma viagens, inclusive para o exterior, entre outros mimos ao
infinidade de políticos, já não é mais aceita passivamente. arrepio do conhecimento e/ou em detrimento dos
Os padrões éticos e morais estão mudando. E mudando interesses do contratante, a quem deveriam prestar
para melhor. serviços com zelo e oferecer a melhor relação
custo/benefício.
Não é à toa que o empresário Ricardo Semler golpeia de
forma dura o que ele considera “santa hipocrisia”, em Ao contrário do que alguns imaginam, a tipificação da
entrevista ao programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, corrupção ativa e passiva nas relações entre pessoas
na Globo News, afirmando: “A corrupção não é um físicas ou entre pessoas físicas e jurídicas também é um
problema público, é um problema privado enorme” (11), ou ato necessário e benéfico para todas as profissões
ainda, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, quando regulamentadas, principalmente pelo fato de ir além das
diz, enfático, que “Cada um de nós tem um dedão na lama. competências legais dos Conselhos Profissionais e
Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo estender para toda a sociedade a obrigatoriedade de
para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou fiscalizar estas relações, que tão bem se encaixam na
passou escritura de casa por um valor menor?” (12). chamada Lei de Gerson. Citando apenas alguns exemplos,
É um peso pesado da economia nacional, mostrando as será que ninguém nunca ouviu falar de médicos,
vísceras das relações comerciais privadas entre pessoas odontólogos, veterinários e agrônomos que receberam
jurídicas contaminadas pela doença social da corrupção, vantagens diversas de laboratórios e outros fornecedores?
do jeitinho brasileiro, da Lei de Gerson. É um grito de Ou de advogados que receberam pagamento da parte
alerta, mas longe de ser um grito solitário. É no sentido de contrária para perder ações? Ou de engenheiros e
atender a este grito de alerta que a corrupção entre arquitetos e urbanistas que recebem comissões pela
particulares mereceu tipificação nas relações entre especificação de um determinado produto ou indicação de
pessoas jurídicas no novo Código Penal, numa espécie de uma determinada loja?
contracultura à tradição estabelecida e difundida como se
fosse uma realidade normal ou verdade imutável. Caso esta tipificação se concretize, a mesma se aplicará
inclusive e principalmente para profissões que não têm
Os conselhos profissionais e a defesa da sociedade Conselho Profissional nem código de ética, com seus
Como alertado por Semler e também percebido por amplos efeitos extensivos para empresas, fornecedores e/ou
setores da sociedade, a corrupção não é uma fabricantes. Para não infringir a Lei e, consequentemente
exclusividade da relação de empresas privadas com não esbarrar nas suas penalidades, a relação do prestador
agentes do poder público ou da relação particular entre de serviços com empresas, fornecedores e/ou fabricantes,
pessoas jurídicas privadas. O problema é bem mais hoje obscura, terá que se tornar transparente entre o
profundo e, hoje, atinge uma ampla gama de relações contratado e o contratante, respeitado o respectivo código
privadas, inclusive as relações de prestação de serviços de ética de cada profissão, quando se tratar de profissão
entre pessoas físicas, quase sempre tendo pessoas regulamentada.
jurídicas como promotores ativos desta prática, na forma Neste caso, o contratante saberá qual percentual o
de remunerações, vantagens ou comissões, sempre com contratado ou prestador de serviços receberá pela
prejuízo de um terceiro. Se por um lado as representações indicação/especificação/escolha de produtos, fornecedores
empresariais, ou seja, de pessoas jurídicas, têm força ou fabricantes. Terá, portanto o contratante, elementos
política para garantir a tipificação da corrupção ativa e para aferir se vai querer pagar esta conta ou não. Outro
passiva nas relações comerciais no novo Código Penal e, lado benéfico para o contratante é que ao ficar pactuado de
assim, criar um forte instrumento de proteção do seu forma transparente que o contratado receberá comissão
patrimônio, por outro lado o cidadão comum (pessoa física) pela indicação de produtos, materiais, fornecedores ou
continua exposto a uma relação que corrói o tecido social, fabricantes, o contratado ou prestador de serviços estará
reproduz uma prática danosa aos interesses da sociedade, assumindo a sua condição de “representante comercial” e
corrompe o mercado de trabalho, contribui para a estará condicionado às responsabilidades previstas no
sobrevalorização dos preços e gera desconfianças Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1.990) (13),
generalizadas. Ou se combate a corrupção em todos os respondendo solidariamente pela qualidade, eficiência,
níveis ou de nada adiantará tipificar apenas as relações durabilidade e garantia do produto ou serviço indicado.
que envolvam agentes públicos e/ou pessoas jurídicas, que
são partes importantes da sociedade, mas não são o E mais uma vez, racional seria que todos os Conselhos
conjunto da sociedade e não representam a totalidade das Profissionais e entidades da sociedade civil se
suas diversas complexidades e contradições. manifestassem pela extensão da criminalização da
corrupção entre particulares para pessoas físicas também.
As profissões regulamentadas, por terem Estatuto Jurídico Estariam sinalizando claramente que não compactuam com
próprio (Leis que as criaram), têm seus códigos de ética práticas que lesam a sociedade.
profissional que, entre outros objetivos, também visam
proteger o contratante de abusos éticos perpetrados pelos Arquitetos e urbanistas e a reserva técnica
profissionais registrados nos respectivos Conselhos No caso da arquitetura e urbanismo a prática de receber
Profissionais, inclusive com previsão de sanções comissão tem sido denominada de Reserva Técnica, um
artifício linguístico para encobrir aquilo que é motivo de União já alcançou mais de 10 milhões de usuários do
vergonha para a profissão e que tem contribuído de forma facebook.
decisiva para o aviltamento dos honorários profissionais.
Em troca de comissões de fabricantes e fornecedores, há E cabe a nós, tomarmos a iniciativa antes que esta doença
profissionais que passam a ser “vendedores” de produtos se torne incurável para a profissão, ou, antes que a solução
de luxo e de futilidades variadas, pouco se importando com venha por caminhos que não foram desenhados por nós.
a sua obrigação de zelar pela qualidade do seu trabalho, notas
pela dignidade da profissão e pela otimização do custo final 1Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940
para o cliente. É a lógica do quanto mais caro para o <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-
cliente, maior será a comissão, sem sequer se Lei/Del2848.htm>.
responsabilizar pelo produto que “representa”. 2Resolução 52/2.013 <www.caubr.gov.br/wp-
content/uploads/2012/07/RES-52CODIGO-ETICARPO22-
Embora, segundo relatos que nos chegam, os honorários 20134.pdf>.
sejam irrisórios por conta desta prática que lesa os 3Resolução 58/2.013 <www.caubr.gov.br/wp-
interesses do contratante, os ganhos com a reserva técnica content/uploads/2012/07/RES_58_ALTERADA_82_86.pdf>.
são extremamente elevados, superando em muito os 4Resolução 86/2.014 <www.caubr.gov.br/wp-
honorários sugeridos na Tabela de Honorários content/uploads/2012/07/RES862014ETICA-
Profissionais (14). Certamente não são todos que se SANCOESALTERA58-201333RPOFINAL.pdf>.
utilizam desta prática, mas os que dela lançam mão, ainda 5Inciso VI, do artigo 18, da Lei 12.378/2.010
que sem intenção, contribuem para o aviltamento dos <www.caubr.gov.br/wp-
honorários profissionais e para corrosão da dignidade da content/uploads/2012/07/L12378.pdf>.
profissão perante a sociedade. 6Item 3.2.16, do Código de Ética Profissional
<www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2012/07/RES-
A tipificação de crime para este tipo de relação ajudará, 52CODIGO-ETICARPO22-20134.pdf>.
inclusive, no resgate de colegas que alegam que tiveram 7Anexo da Resolução 86/2014 <www.caubr.gov.br/wp-
que aderir a esta prática sob o argumento de que foi a content/uploads/2012/07/RES862014ETICA-
única forma de competir, “em condições de igualdade”, SANCOESALTERA58-201333RPOFINAL.pdf>.
com profissionais não arquitetos e urbanistas. A tipificação 8PL nº 6.699/02
de crime será para todos, indistintamente, seja de profissão <www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
regulamentada ou não regulamentada. Também será um idProposicao=50794&ord=1>.
passo decisivo para a revalorização da profissão. 9PL 6.994/02
<www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
Como exaustivamente demonstrado, não se trata de uma idProposicao=57798>.
luta intestina e autofágica contra arquitetos e urbanistas, 10PL nº
mas de tratar de uma doença social sistêmica que atinge e 6.699/02<www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetra
prejudica a todos e que envolve uma gama enorme de mitacao?idProposicao=50794&ord=1>.
profissões regulamentadas e outras tantas não 11PORTAL FORUM. Ricardo Semler: “A corrupção não é
regulamentadas. A tipificação como crime no Código Penal um problema público, é um problema privado enorme”.
para a obtenção de vantagens de forma escusa, na relação São Paulo, 27 fev. 2015
de prestação de serviços entre pessoas físicas e entre <www.revistaforum.com.br/blog/2015/02/ricardo-
pessoas físicas e pessoas jurídicas, é um passo importante semler-corrupcao-nao-e-um-problema-publico-e-um-
para dar maior transparência nessas relações. problema-privado-enorme/>.
12AMORIM, Paulo Henrique. Nunca se roubou tão pouco.
Trata-se, portanto, de uma ação a favor da ética na Menos hipocrisia! Tucano Semler produz texto
sociedade, não contra a falta de ética de determinado admirável! Blog Conversa Afiada, São Paulo, 21 nov.
segmento da sociedade ou de determinada profissão. Uma 2014
profissão, por mais nobre que seja, não está dissociada do <www.conversaafiada.com.br/politica/2014/11/21/nunca
contexto histórico, social, político, cultural, econômico e -se-roubou-tao-pouco-menos-hipocrisia/>
temporal da sociedade da qual ela emerge. 13Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1.990)
Necessariamente, é parte de uma sociedade mais ampla e <www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>.
complexa e, como parte do todo, influencia e é influenciada 14Tabela de Honorários Profissionais
por este contexto maior. Mas, se a situação permanecer <http://honorario.caubr.gov.br/auth/login>.
como está, poucos continuarão ganhando e a grande 15Pequenas Corrupções – Diga Não. Campanha da CGU –
maioria, tanto de profissionais sérios, quanto da sociedade, Controladoria-Geral da União
continuará perdendo. <https://www.facebook.com/media/set/?set=a.584191424
958261.1073741831.171477772896297&type=3>.
As entidades de arquitetos e urbanistas têm histórico e sobre o autor
tradição de estar à frente nas lutas e anseios da sociedade.
Jeferson Salazar é presidente da Federação Nacional
Não cabe aqui um relato dessas lutas, mas cabe não
dos Arquitetos e Urbanistas – FNA.
tergiversar nesse tema tão sensível aos clamores da
sociedade brasileira por mais ética e transparência em
todos os níveis. Não é à toa que a campanha “Pequenas
Corrupções – Diga Não” (15), da Controladoria Geral da

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