11-9-1933
Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada, (ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas,
Madalena Dine), Lisboa, Assírio & Alvim, 2006, p. 157.
B1
GRUPO II
LEITURA E GRAMÁTICA (50 pontos)
Leia o texto.
A literatura é uma expressão artística ambiciosa, que usa sangue e corpo, que tem de ser livre
— como todas as expressões de arte ou a própria vida. Deverá ser simples e compreensível como
uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore. Quanto a mim, o papel da
literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais,
5 histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e
desespero.
Ana María Matute é totalmente clara. Não escreve sobre o eterno Eu e o Tu e o Tu e o Eu;
abraça toda a humanidade. Por exemplo, em Paraíso inabitado, revela a inteira psicologia da vida
desde os primeiros anos da protagonista, Adriana, que são os nossos primeiros anos rumo a um
10 salto assombroso nesse perigoso e absurdo abismo que é a adolescência, túnel sombrio de
dúvidas e indecisões que só o próprio adolescente consegue resolver.
Com tantos livros escritos, tantos prémios que a têm consagrado universalmente, há um que
destaco porque me toca particularmente, e é também, pelo que sei, o livro que a escritora mais
gostou de escrever: Olvidado rei Gudú.
15 E o livro que hoje apresentamos, A torre de vigia.
Ao entrar na leitura deste livro, imergimos num cenário onírico, denso e misterioso, onde
sobressai a Natureza, por vezes assustadora, outras de uma beleza escaldante. Este ambiente
enevoado e surreal de homens-lobos, ventanias, campos de neve de fome e de frio, mais as doçuras
do estio, de ameias de castelos, baronesas e barões, veados, javalis, gansos, lobos, cavalos
20 brancos e cavalos pretos, jovens iniciados cavaleiros, peles de ursos, flechas, salões, cozinhas e
alcovas, todo este universo existe, atavicamente, em todos nós. Está nos mais altos e escondidos
sótãos da nossa memória. E, com a ironia sempre presente, vivemos mais uma vez uma certa
infância, ou como uma criança pode e consegue sublimar atos ou situações terríveis pela
construção dos sonhos.
25 Este livro, o primeiro duma trilogia medieval, fala-nos de um filho de boas famílias, da sua
travessia da infância e entrada na adolescência com grande desassossego; da castelã, a baronesa
de Mohl, linda, ruiva e branca, que o inicia no amor carnal aos treze anos. Também essa atitude,
brutal e estranha, o faz compreender os mais rudimentares indícios da constituição psicológica do
ser humano. Conseguimos perceber este jovem a pensar e a transformar-se todos os dias, o que
30 causa alguma angústia.
É, pois, uma história de desejos, de descoberta, da eterna luta entre o bem e o mal, entre a
luz e as trevas.
Sei, sinto que Ana María Matute tem absoluta consciência das penas que uma pessoa suporta
ao longo desta permanência por aqui. Os seus livros são documentos, de extraordinária
importância, que desenham a vida e as experiências do quotidiano de alguém que conviveu com a
Guerra Civil de Espanha e a Segunda Grande Guerra Mundial e o pós-guerra. A sua literatura é um
expressa um contraste.
contém uma analogia.
tem um valor sarcástico.
tem um valor irónico.
valorativa.
moralista.
didática.
prescritiva.
4. Na frase «nesse perigoso e absurdo abismo que é a adolescência» (linhas 8 e 9), encontramos
lexical.
aspeto-temporal.
frásica.
referencial.
8. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «dos sonhos» (linha 22).
9. Identifique o deítico presente na linha 31. Classifique‑o, tendo em conta a ideia que transmite.
GRUPO III
ESCRITA (50 pontos)
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.