Caxambu
Outubro 2017
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RESUMO: Este trabalho é fruto de uma pesquisa que visa refletir sobre os deslocamentos
necessários aos estudos etnográficos em redes sociais online. Analisa pelos estudos de
diferentes autores e métodos etnográficos, os movimentos que as metodologias exigem para
dar conta das novas plataformas de interações sociais/digitais. Tem o objetivo de pensar
sobre os recentes paradigmas metodológicos, oriundos dos desdobramentos da Antropologia
e dos trabalhos investigativos sobre as culturas que costumam ser refletidas pelas
tecnologias da comunicação.
ABSTRACT: This work is the result of a research that aims to reflect on the necessaries
displacements for ethnographic studies in online social networks. This analyses proposes to
study by different authors and ethnographic methods those movements that methodological
strategies require to deal with the new platforms of social / digital interactions. Where the
objective is thinking about the recent methodological patterns coming from the unfolding of
Anthropology and investigative frameworks on cultures that use to be reflected by the
technologies of communication.
1Graduado em Ciências Sociais pela PUC-SP e Direito pela USP. Mestre em Filosofia do Direito pela USP.
Doutorando em Ciências Políticas no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais pela PUC/SP .
Bolsista CAPES.
2Graduada em Ciências Sociais. Mestre em Antropologia pela PUC-SP. Doutoranda em Ciências Políticas
no Programa da Pós Graduação em Ciências Sociais pela PUC-SP. Bolsista CNPQ. Membro do Grupo de
Estudos inscrito no CNPQ: Juvenália (Sobre Políticas, Juventude e Consumo) do Programa de Pós
Graduação da Faculdade ESPM.
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Constituir ou não uma questão de método implica logo uma eventual ambiguidade.
Pode-se entender que algo se trata de uma matéria de método, que concerne a ele e, assim,
importa que ele seja discutido e colocado em evidência, bem como é possível que se
entenda haver uma inquirição, uma interrogação metodológica, a qual, por sua vez, pode ser
direcionada ao ou a partir do método. Esta diferença direcional poderia enfatizar tanto mais
o método quanto este algo, dependendo se este está questionando aquele ou está sendo
questionado por ele.
Esta possível ambiguidade, em que algo se coloca enquanto uma questão de método,
talvez possa ser melhor compreendida quando este algo em questão é a Antropologia. É
possível que nenhuma outra ciência humana tenha se ocupado tanto com seu método como
o fez a Antropologia, contando sua relativamente recente inserção enquanto uma ciência
autônoma. Provavelmente, outrossim, é justamente esta dúvida sobre a autonomia da
Antropologia que a tornou uma questão de método.
Em virtude da dificuldade que enfrenta a Antropologia, em aproximadamente um
século e meio de existência, de se desvencilhar de outras ciências, coube, em boa medida, à
busca pela definição de seu método a tentativa de encontrar a sua propriedade, como uma
autodefinição.
Etimologicamente, já poderia se vislumbrar a dificuldade da Antropologia em
clamar para si qualquer nível de pureza científica, seja lá o que isso possa ser, haja vista que
um chamado estudo do Homem, aqui melhor entendido enquanto ser humano, com todas
suas atribuições (fisiológicas, psíquicas, históricas, linguísticas, técnicas, representativas,
normativas etc...), se quiser levar a cabo seu empreendimento, deve estabelecer
minimamente conexões entre diversas disciplinas e campos do saber.
A importância da questão do método é notadamente observável durante todo o
século XX, período, ao menos em tese, de estabelecimento da Antropologia no panteão das
ciências humanas. Isto pode ser constatado pela simples leitura de alguns autores
considerados clássicos desta disciplina. Desde o final do século XIX, mais precisamente em
1896, Boas já apresentava as limitações do método comparativo em antropologia (2005:25-
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39). Em 1954, Lévi-Strauss, em texto colecionado para sua Antropologia Estrutural, ainda
afirmava que a “primeira ambição da antropologia é atingir a objetividade, inculcar seu
gosto e ensinar seus métodos” (1973:404). Ademais, a preocupação metodológica não se
apaziguou, conforme é possível notar em trabalhos de Geertz apresentados ou publicados
majoritariamente na segunda metade da década de noventa do século passado, os quais
foram organizados em livro que aqui no Brasil foi traduzido, de forma um tanto controversa,
para Nova luz sobre a antropologia. Em um desses trabalhos, Geertz, que já havia
influenciado tanto o método antropológico em seu livro A interpretação das culturas,
aponta para uma crise identitária permanente de sua ciência. Sendo que a eventual pretensão
etimológica de ser a ciência do ser humano é demasiada, Geertz demonstra com bastante
receio que a resposta à pergunta ciência de quê? “tem consistido menos em respondê-la do
que em voltar a enfatizar o método”, que segundo ele, a partir de Malinowski seria a
etnografia de campo (2001:88-9).
Nos dois primeiros parece, de certa maneira, que a questão do método se confunde
com o objetivo traçado pelos autores, a saber, respectivamente e bem simplificadamente, a
história do desenvolvimento da cultura e a elaboração da estrutura social, sendo que ambos
partem de variedades concretas e específicas para categorias gerais da vida social/cultural.
O receio de Geertz se apresenta justamente quando entende que a definição metodológica da
Antropologia encontra-se apartada de seus objetivos, tendo sido mais eficaz fora da
profissão do que dentro dela (2001:90), ou seja, esta maneira antropológica ou perspectiva
antropológica que passou a ser apropriada por outras áreas do conhecimento pode resultar
em uma esterilidade científica.
Há um movimento que já havia sido notado por Lévi-Strauss, que de certa forma
condiz com este apontado por Geertz. O autor francês compara a Antropologia a uma
nebulosa, “incorporando a si, progressivamente, uma matéria até então difusa ou repartida
de outro modo, e determinando, por esta mesma concentração, uma redistribuição geral dos
assuntos de pesquisa entre todas as ciências humanas e sociais” (1973:386). Ocorre que,
para Geertz, esta redistribuição parece ocorrer apenas de maneira formal; e não substancial.
Não obstante, de qualquer perspectiva que se observe, pode-se dizer que o método se
mostra como um tópico fundamental à Antropologia, mesmo porque ele próprio se
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demonstra como uma interação social, que em muitos casos ocorre entre indivíduos
provenientes de culturas distintas, sendo, assim, por si só, passível de um estudo
antropológico. Em nosso século, com as novas tecnologias, as interações sociais também se
renovaram. Tal fato exige que a questão do método continue sendo considerada, discutida e
inovada, o que este trabalho pretende apresentar a seguir. Porém, de qualquer maneira,
podemos dizer que se a Antropologia é uma questão de método, a inversão não é menos
propícia, isto é, o método também é uma questão de Antropologia.
de olhar, agora em rede digital, que de antemão proporcionam o contato com um universo
de possibilidades de estudos.
A extensão do método para as práticas em rede não corrompe a Antropologia, ela
reatualiza a etnografia pela possibilidade do encontro com uma série de dados, os quais,
isolados, podem parecer insignificantes, mas que juntos, conforme Mauss inspira a pensar,
seguem a representação da concentração de uma série de princípios e valores. Este
aspecto, demonstra a entrada ao campo como maneira preliminar para selecionar os dados, o
que requer tanto para a sociedades antigas e tribais, como para as contemporâneas e
representadas em redes digitais, o princípio da observação da sociedade. Pelo acesso à
conexão online, é possível garantir a observação e o contato como base preliminar, na busca
online como primeira fonte para a maioria dos objetos de estudos.
Desse modo, pela viabilidade da tecnologia, facilita-se os registros e recortes que
podem ser salvos em pastas digitais para posteriores análises sobre as articulações,
proporções e relações dos fatos sociais diagnosticados. Para Mauss, é na mudança das
formas da ciência entender os fatos e, acrescenta-se aqui, nas convergências que os fatos
podem fazer com as teorias aplicadas, onde se emerge o valor de descobrimento na pesquisa
antropológica. A atenção sobre as dificuldades subjetivas nos estudos das culturas em redes
digitais podem ainda seguir certas advertências da Antropologia de Mauss, principalmente
quando se atende ao perigo da observação superficial. E o que ele dizia sobre a necessidade
da catalogação e coleção de objetos tribais, agora pode dar lugar à busca por expressões
publicadas em redes sociais que podem justificar ou não as hipóteses que derivam do objeto
de estudo.
Em todos os casos é preciso diagnosticar as hipóteses inúteis, com a devida atenção a
cada grupo estudado e representado na esfera digital. Anotar e gravar as buscas realizadas
compondo diferentes pastas e arquivos faz parte do desempenho organizacional de qualquer
pesquisa. Conforme Mauss deixa claro, a qualidade metodológica desempenhada em
qualquer campo está em reconhecer e identificar os princípios significantes do objeto
estudado. Procedendo uma análise profunda que vai, necessariamente, de encontro com suas
variáveis.
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como ciência. O que justifica a desconfiança dos antropólogos que seguem os preceitos
tradicionais como método mais validado que os recentes manuais etnográficos em redes
digitais.
Os excessos de informações e a grande superficialidade desta multiplicidade dos
dados em rede exigem mais a extensão do olhar da Antropologia por seus métodos
tradicionais transpostos à observação em ambiente digital, do que apenas a orientação por
algumas propostas etnográficas encontradas recentemente no site de busca do Google.
Conforme será visto adiante, no método de etnografia de internet de Hine (2015),
analisado por este presente estudo, é possível verificar que ela cita muitas vezes o trabalho
de Geertz, por exemplo, mas não se aprofunda muito nesta, nem em outras teorias
formuladas sobre os estudos etnográficos tradicionais. Por conseguinte, não consegue
abarcar suficientemente as análises das culturas de modo intenso, se restringindo mais aos
estudos sobre as estruturas das redes de comunicação oriundas da internet do que sobre a
cultura, que faz da rede o veículo de comunicação, o campo de relações sociais, instrumento
de escrita, armazenamento de dados, organização e/ou objeto de pesquisa. Seu trabalho
segue de maneira mais técnica e sem estímulo para o estudo que busca a investigação em
torno de todos os ângulos sociais da cultura online, na qual, cabe lembrar, todos somos
nativos. Ou seja, sem a reflexão necessária sobre a aquisição do comportamento, super
orgânico e que molda a nossa vida.
O trabalho de campo que Geertz traz também é capaz de se estender ao olhar que
observa em campo digital, mesmo sem ter sido esta sua intensão. Sua ideia leva a constatar
que, no desenvolvimento da etnografia, existe a descoberta da falta de clareza sobre
sinceridade/insinceridade ;autenticidade/ hipocrisia e honestidade/auto ilusão, o que faz da
experiência em campo, online ou não, a completude da formação do etnógrafo. Ainda,
segundo o autor, o desempenho da Antropologia reflete-se na consciência sobre a falta de
equilíbrio entre a capacidade de diagnosticar problemas e resolvê-los, o que gera forte
angústia e tensão moral entre a pesquisa e o objeto. Levando toda etnografia a ser sempre
interpretativa e consciente de sua impossibilidade de controlar a história, embora
impreterivelmente deva sempre agir para a ampliação da razão. Fazendo das Ciências
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Sociais fortes testemunhas da cultura, que busca ditar os valores sob os quais todos
vivemos.
vasto, em que, espontaneamente, dados pessoais são tornados públicos, e, dessa maneira, é
oferecida uma gama de informações para coleta de dados brutos.
Quanto aos deslocamentos dos fenômenos sociais que relacionam a sociedade e a
tecnologia, torna-se pertinente a provocação da noção levantada por Winner (1983:01),
quando levanta as qualidades políticas dos artefatos técnicos. Mediante esta perspectiva,
explica que as máquinas, estruturas e sistemas são acertadamente avaliados não apenas por
sua atuação em nome da produtividade e consequências ambientais, pois, para além disso,
encarnam algumas formas de poder e autoridade específicas. Tal fato é imprescindível para
entender as direções dos significados conceituais sobre a tecnologia, mediante os fluxos das
políticas modernas. Mackenzie e Wajcman (1999:06) elevam a qualidade desta noção, quando
constatam que a tecnologia é moldada pelo social. Ou seja, a tecnologia se apresenta enquanto
uma ciência aplicada para cobrir utilidades que reagem às esferas econômicas e políticas,
assim como culturais e técnicas. Um exemplo deste prognóstico são os diferentes aplicativos
disponíveis atualmente em mídias móveis e a capacidade de controle e monitoramento de
dados pessoais, que se desenvolvem em conjunto com a interação online, dando origem aos
desdobramentos dos fenômenos sociais que derivaram do ciberespaço. Mais que um campo
de interação social, as mídias em rede online produzem e reproduzem comportamentos,
valores e preceitos do controle hegemônico desempenhado pela cultura a que estão
submetidas.
Em virtude deste deslocamento, a saber, da utopia da cibercultura aos desdobramentos
do ciberespaço que atingiram uma realidade mais distópica, exige-se da metodologia a
adaptação aos movimentos tecnológicos, a fim de tornar hábil o estudo sobre outras
plataformas e aparatos, com seus efeitos e poderes sendo exercidos além do campo digital,
associando, assim, outros significados e representações. Para demonstrar este percurso, este
trabalho percorre historicamente certos referenciais teóricos da etnografia digital, visando
refletir sobre as metodologias etnográficas no campo online, tendo em vista os diferentes
contextos sociais e a correlação entre a sociedade e a tecnologia das comunicações.
Para isso, o presente estudo tem como ponto de partida o trabalho de Christine Hine
(2004) sobre a etnografia virtual e as premissas da base analítica que acompanham o
desenvolvimento das tecnologias da comunicação em rede, bem como seu recente trabalho
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(Hine, 2015) no qual discorre sobre a etnografia da Internet, abandonando a terminologia que
antes empregava chamando sua obra de etnografia virtual. Mesmo sendo destacada como uma
das precursoras dos estudos metodológicos para internet, seus apontamentos metodológicos
surgem depois que Latour (2012:44) sugeriu pensar a emergência de uma teoria do ator rede
para os estudos da sociais da tecnologia. Enquanto a primeira se apega em estruturas separadas
entre a atividade em rede e a vida offline; Latour, bem antes das mídias móveis adquirirem
esta totalidade na comunicação recente, propunha perceber os significados entre os elos
hibridizados que existem entre os humanos e as tecnologias. A teia relacional conectando de
modo a gerar a constante continuidade de associações possíveis. Aos pesquisadores das
relações sociais mediadas pela tecnologia, cabe deixar os atores desempenharem seus papel
sem interferência no contexto, onde cabe à eles, explicarem como se estabelecem neste
sistema de relações misturadas ou híbridas
Posteriormente, este presente estudo, apresenta outras considerações propostas aos
métodos etnográficos para pesquisa qualitativa em rede digital, (realizados nas comunidades
online) através do olhar de Jörgen Skågeby (2010) e suas perspectivas analíticas para a coleta
e análise de dados qualitativos em comunidades virtuais.
A partir da primeira edição da obra de Hine (2004), intitulada Etnografia Virtual e do
trabalho de Kozinetz (1998) e seu guia teórico sobre etnografia online, observa-se que foram
empreendidas diversas nomenclaturas para a distinção dos termos de adjetivação metodológica
nos estudos de interações sociais online. Desse modo, as investigações de abordagens
etnográficas na internet eram e ainda são comumente chamadas de netnografia, etnografia
virtual, webnografia, etnografia digital ou etnografia online.
O trabalho de Christine Hine é considerado como um dos primeiros, nos estudos
etnográficos do campo da internet. Mesmo sem ser das Ciências Sociais, deriva seu
conhecimento do campo das ciências, mas no entanto, as biológicas. De modo ao atrelar os
estudos de informática com as ciências naturais, Hine deu continuidade aos seus trabalhos
acadêmicos, elaborando os modelos investigativos com referências sociológicas e tratando,
dessa maneira, especificidades do conhecimento que envolvem as ciências, as recentes
mídias, a tecnologia e o mundo digital.
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produto e produtor dos referenciais culturais que marcam os diferentes tempos e redes sociais.
Isso faz com que as pesquisas etnográficas no campo digital possam ficar datadas, com a
possibilidade de ficarem perecíveis, caso a consistência teórica e as reflexões não possam dar
conta de tratar por diferentes ângulos os movimentos do campo online investigado .
Os estudos metodológicos no ambiente digital que datavam do começo deste século,
assim como os primeiros estudos de Hine, traziam o conceito de rede na internet como um
desempenho que habilita usuários a construir tipos específicos de costumes e atuações,
fomentando, assim, uma esfera comum e determinada de ser e funcionar mediante o uso da
internet. E, seguindo os idealismos utópicos que caracterizaram os primeiros olhares em torno
do que antes era mais conhecido como o ciberespaço, a internet aspirava ser reconhecida como
uma tecnologia que viria a superar as dualidades presentes entre real e virtual, natureza e
cultura e verdade e ficção. Mesmo expandindo a até então aceita e reconhecida conceituação
da internet enquanto um artefato com potências, a autora ainda não olha a conexão de modo
abrangente na qualidade ao campo das novas práticas culturais pelo aparato tecnológico
incorporado no dia a dia dos atores sociais. Mas ainda sim, demonstra que a internet se
apresenta como um objeto de estudo passível de ser analisado por diversos prismas,
permitindo a produção de teoria reflexiva aos pontos centrados pelos estudos etnográficos, o
que possibilita, que as tecnologias digitais possam ser pensadas contextualmente em torno dos
nexos culturais e suas apropriações.
A visão de Hine (2008: 81) indicava que a interatividade e as múltiplas conexões
podem ser asseguradas pela presença de grupos sociais na internet, constituindo a
oportunidade de produzir pesquisas etnográficas na medida em que demonstram o potencial
de alto grau de flexibilidade interpretativa. Tal fato, inspirou a pensar o contexto das
práticas sociais em rede de conexão online como uma conjunção cultural, a qual dá abertura
ao debate, onde a autora se posiciona na ideia das disparidades da atuação social/digital
entre as esferas online e offline.
Sob este ponto de vista, sua análise se faz bastante questionável, principalmente
quando o advento das mídias móveis se tornou uma condição marcante das tecnologias da
comunicação online numa maneira de hibridização entre a tecnologia e a atuação social.
Hine parece recusar o que, na introdução do presente trabalho, Ward (1999) defende: a
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hibridização da condição presencial com a digital, pois ela tratava as esferas online e offline
como duas dimensões que andam lado a lado, mas são separadas. Esta recusa se coloca em
detrimento à apropriação da esfera digital e sua incorporação na atuação do cotidiano,
aniquilando outras possibilidades de análises, as quais, atualmente, se fazem
imprescindíveis para a qualidade da etnografia no campo social/digital. Posteriormente, no
entanto, em seus últimos estudos a autora vai reparar, e atualizar seu método, conforme este
trabalho irá mostrar. Isso porque, a contemporaneidade não consegue mais desconectar a
rede digital do contexto cultural contemporâneo, o que exige a reavaliação da aplicação dos
métodos de pesquisa e de coleta de dados, devido aos desdobramentos das novas
configurações das mídias digitais. Dessa maneira, diversas metodologias qualitativas
exigem reavaliação constante, incluindo a metodologia que guia as entrevistas, os grupos
focais e o funcionamento das diferentes plataformas em que se desenvolvem as
sociabilidades digitais.
A partir disso, o que demarca a relevância da etnografia virtual desenvolvida neste
trabalho de Hine (2008:17), é a pesquisa no ambiente virtual acentuando a percepção de
como as tecnologias da comunicação online são capazes de reelaborar e reestruturar os
atores sociais e a produção de cultura no ciberespaço. Por esta perspectiva, o objetivo da
etnografia virtual seria a compreensão das possibilidade da internet e a implicação de seus
usos.
Uma das críticas mais direitas à esta obra de Hine, foi elaborada por Boyd (2008),
onde, em resposta a esta etnografia virtual, constatou a limitação deste trabalho, quando tal
metodologia foi incapaz de acompanhar o surgimento daquelas que, naquele momento,
eram as recentes redes sociais, como o Myspace, os blogs, fotologs e outros dispositivos, as
quais os atores sociais e as comunidades online, onde segundo esta pesquisadora, passaram
a relacionar com valores egocêntricos e narcísicos ao vincularem a si mesmos nas redes,
fato que leva a exigir a emergência de outros pressupostos de análise. O princípio da direção
de sua crítica é a necessidade de Hine orientar sua metodologia, tendo como primeiro passo,
se familiarizar com a estrutura da tecnologia da internet como um aparto técnico e fora do
sistema de relações, práticas e costumes.
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Boyde justifica sua crítica na leitura de Geertz (1973), autor também citado por Hine,
e sob o ponto de vista dele, considera que a etnografia virtual, assim como a tradicional,
requer entrar em campo para observar, documentar e, a partir disso, formular as perguntas e
executar as análises. E não ao contrário, pois é no exercício de observação participativa que
se realiza a coleta dos dados da cultura. Posteriormente, esse processo passa a provocar as
hipóteses, quando o repertório analítico se desenvolve impulsionando novas questões. A
etnografia, em qualquer que seja a modalidade, consiste em escrever a cultura e isso
depende de diversos processos que devem ser registrados em diários de campo, online ou
offline.
Quando Hine (2004:06) defende focar nas fronteiras aparentes e incursões
experimentais, é possível perceber que já não se faz eficaz este olhar sobre a realidade das
tecnologias da comunicação, pois a condição online em tecnologias de mídias móveis
dissolveu as fronteiras entre online e offline. As incursões passaram a ser carregadas de
dados e, mais do que ela chama de experimentais, elas costumam ser habituais.
Cabe apontar que, essencialmente, são as interpretações legíveis no percurso da
cultura analisada que garantem a emergência do projeto. Portanto, todo caminho etnográfico
deve reconhecer as perguntas que derivam do foco coletivo da cultura, compreendidas por
meio das análises dos dados e da teoria. A alusão que ela traz às referências da etnografia
tradicional reproduz o método que ainda se faz bastante sentido, principalmente quando leva
a pensar sobre a necessidade de questionar e julgar todos os dados e observações em caráter
reflexivo, atentando-se sempre aos possíveis preconceitos e limitações do pesquisador.
Constata-se, então, que o desenvolvimento das tecnologias da comunicação resultou
na proliferação das plataformas dos espaços sociais. Tal fato exigi a adaptação dos métodos
de investigação nas Ciências Sociais, a fim de permitir análises fieis dos movimentos e das
atuações da cultura estudada nas redes sociais. Tais metodologias e métodos podem
acompanhar múltiplas engenharias para coleta de dados, partindo da tecnologia como
mediação e visualização das novas configurações que constantemente se formam, como, por
exemplo, o software de visualização da rede no Facebook, Gephi. É diante da necessidade
de atualização do método, necessária para dar conta dos estudos sobre as novas
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através dos smartphones, pelo aplicativo em rede Whats app, com a vantagem de gravar
facilmente os diálogos, e facilmente recorrer para esclarecer qualquer dúvida com o
entrevistado.
Outro aspecto importante sobre a prática da pesquisa qualitativa em rede online que
este método aponta, é a necessidade de entrosamento com o objeto, da mesma forma que
com qualquer outro objeto ou campo estudado. Para este domínio do objeto, o processo
etnográfico deve abarcar em vários sentidos, as descrições, reflexões e as histórias dos
participantes dentro de uma perspectiva objetiva. Focando deste modo, as estâncias onde as
categorias analíticas convergem, dispondo de reflexão e autorreflexão na construção do
conhecimento da prática da pesquisa e do objeto estudado.
Ou seja, ele afirma deste modo que, como pesquisadores, devemos ter conhecimento de
como estruturamos a nossa própria pesquisa, como conhecemos nosso objeto e suas relações
com os demais atores sociais no campo digital analisado. Isto dentro de um processo que
não é simples e nem isento de complicações entre a pesquisa e a posição de simples usuário
da internet.
Considerações Finais
BIBLIOGRAFIA
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Editora Zahar.
GEERTZ, Clifford (2001). Nova Luz sobre a Antropologia. Tradução: Vera Ribeiro. Ed.
Zahar.
HINE, C. (2015). Ethnography for the Internet. Embedded, Emboidied and Everyday
Internet Copyright Bloonsbury Publishing, Huntingdon, GBR.
WARD, J Katie. (1999) The Cyber-Eyhnographic (Re) Constrution of two Feminist Online
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http:www.socresonline.org.uk/4/1/Ward.html. Acesso dia 18/05/2016