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Crescer é fundamental para empresas de todos os setores, mas é essencial saber administrar os desafios decorrentes dessa expansão. Por Ivan Correa, sócio-diretor da GS&MD - Gouvêa de Souza
Crescer é fundamental para empresas de todos os setores, mas é essencial saber administrar os desafios decorrentes dessa expansão. Por Ivan Correa, sócio-diretor da GS&MD - Gouvêa de Souza
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Crescer é fundamental para empresas de todos os setores, mas é essencial saber administrar os desafios decorrentes dessa expansão. Por Ivan Correa, sócio-diretor da GS&MD - Gouvêa de Souza
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Ivan Corrêa (ivan@gsmd.com.br), Sócio-Diretor da GS&MD -
Gouvêa de Souza responsável pelas práticas de gestão de mercadorias
As empresas varejistas buscam obsessivamente crescer, ampliar o
número de lojas, sua base de clientes, diluir custos fixos etc. Desejam aparecer no mercado. Crescer tem seus benefícios, mas também tem seu preço. E esse preço normalmente aparece onde a empresa menos espera: na sua rentabilidade.
Salvo processos de aquisição, raramente uma rede varejista já
nasce grande, com muitas lojas e grande abrangência geográfica. O mais usual é a rede nascer pequena, controlando custos, crescendo organicamente e atuando regionalmente em seu início, até ganhar massa e criar coragem para maiores voos. As estratégias de expansão podem variar, desde a clássica espiral, que vai ampliando a cobertura geográfica da rede a partir de um ponto central; até a dominação nacional de territórios, cuja lógica passa pela ocupação de localidades importantes, como as capitais. Fato é que, poucas, pouquíssimas redes conseguem atuar nacionalmente com sucesso, exceção feita aos movimentos de fusão ocorridos em determinados setores, como supermercados, eletroeletrônicos e livros. E frequentemente as redes que conseguem esse crescimento sem depender de fusões o fazem por meio de franquias ou licenciamentos, que possibilitam rápida expansão, mas trazem o desafio de lidar com dezenas ou centenas de “sócios”. Mas esse é tema para um outro artigo. Aqui, nos concentraremos nas redes próprias, cujo modelo de expansão requer disponibilidade de recursos.
Onde a rentabilidade começa a cair? Se determinada rede tem
cobertura geográfica restrita, com, digamos, cerca de 12 lojas, a gestão é extremamente simplificada. Sua bandeira vira referência na região, com forte identificação com os consumidores; as demandas são extremamente parecidas, reduzindo a necessidade de clusterização de filiais; e, principalmente, o mix e os estoques são geridos no olho: o feeling e a experiência são a chave do sucesso. Nesse cenário, a rentabilidade do negócio tende a ser boa, bem superior aos índices setoriais normalmente publicados por rankings especializados. Mas, conforme a rede cresce, ampliando sua cobertura geográfica e seu número de filiais, o caldo começa a desandar.
Observa-se que redes com até cerca de 20 unidades conseguem
fazer sua gestão conforme o cenário acima, com boa rentabilidade, sem ter que recorrer a “práticas tributárias não-ortodoxas” para sobreviver. Obviamente esse número de unidades varia de segmento para segmento de varejo, mas a ideia aqui é ilustrar que a partir de determinado número de filiais, cobrindo novas e diferentes regiões, a empresa necessita de novas práticas de planejamento e gestão, diferentes das que a fizeram chegar até aquele ponto de relativo sucesso. “Relativo” porque no mercado em geral, e no varejo em particular, tamanho é documento, e diversos estudos científicos têm comprovado isso ao longo dos últimos anos. Pequenas redes regionais têm sido impiedosamente tragadas por redes maiores, seja por processo de aquisição, seja pela simples e saudável ação da concorrência.
Dessa forma, a partir de determinado ponto, a empresa vai ser
exigida em capacidade de planejamento e gestão, para ser capaz de traduzir em mix de produtos e serviços as demandas de seus diferentes consumidores, em diferentes regiões. E isso requer investimentos, que normalmente, são bem superiores aos que a empresa estava habituada a fazer ao longo da sua existência. Tais investimentos se desdobram em várias frentes, como RH, marketing, logística, tecnologia etc, e, o mais difícil, muitas vezes esse investimento não tem glamour, pois se trata de infraestrutura para justamente possibilitar o crescimento da rede, de forma sustentada. Logo, esses novos investimentos exigem muita visão e coragem da empresa, pois a perspectiva é incerta, mas o desembolso é determinado.
Para o planejamento e gestão adequados, principalmente do mix e
dos estoques, passam a ser requeridos sistemas de informação mais robustos, os ERPs, que dificilmente podem ser desenvolvidos internamente com sucesso. Normalmente esses sistemas são comercializados como pacotes, preferencialmente adquiridos de empresas sólidas e bem estabelecidas em nível mundial. É ilusão fazer esse tipo de gestão com sistemas domésticos e planilhas eletrônicas, cujo manuseio traz riscos de integridade aos bancos de dados, além de dificultar a construção de históricos de planejamento e realizações.
Ironicamente, são exatamente esses investimentos que contribuem
para que a rentabilidade da empresa caia dos padrões habituais, pois esses investimentos normalmente requerem processos mais elaborados e pessoas mais bem capacitadas. Mas embora a rentabilidade percentual se reduza, a rentabilidade absoluta pode se expandir tremendamente. A empresa fica em uma sinuca de bico entre dar esse salto, que requer tais investimentos, ou permanecer lutando no mercado, com armas que vão se enfraquecendo a cada dia. É um trade-off: ganhar muito de pouco, ou pouco de muito. Por exemplo: “escolhe-se” entre lucrar 10% de um faturamento anual de R$ 50 milhões, ou lucrar 5% de R$ 200 milhões. Fora os benefícios institucionais, como ganhos com fornecedores, reconhecimento de instituições financeiras, facilidades na atração e retenção de talentos, satisfação dos consumidores com o mix trabalhado etc.
O problema é que, em geral, crescer dá trabalho, requer coragem,
visão e investimentos que nem sempre estão residentes na empresa, mesmo que seus dirigentes assim o desejem. Talvez por isso tão poucas empresas atinjam esse patamar de crescimento, e tenhamos um mercado tão pulverizado: no Brasil, por exemplo, somente cerca de 2% das empresas varejistas possuem mais de 20 funcionários.