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As Tramas da Linguagem – Ficções e Autobiografia

Pós Doc. _ PAAC / 2017


Orientação: Heloísa Buarque de Hollanda (PAAC/ UFRJ)
De: Rita de Cássia Gomes Barbosa Lima (UFRB)

A violência é extrema. E ela se apresenta quase sempre na


forma de abusos; contra o corpo do outro, seus movimentos,
modos de vestir, de pensar, de exercer seu direito de ser
cidadão, com seus valores, crenças, formas de amar, etc. E
essa violência, na sua forma mais extrema (tirar a vida do
outro), em 95% 1 dos casos é de autoria dos homens (sexo
masculino) e de forma indiscriminada contra homens e
mulheres. O artigo discute de forma ampla esse cenário
mundial e, conclui por uma arraigada mentalidade que instala
essa violência na própria identidade masculina, como uma
construção social que não se sustenta sobre qualquer
automatismo biológico. Parece mais uma escolha coletiva pela
construção de um homem violento, como atributo que define
na base o masculino.

Esse projeto quer pesquisar mulheres que sofrem e sofreram


abusos; estupros, violência doméstica, violência sexual,
violência de gênero, nas mais variadas situações cotidianas
que vão se repetindo como se fossem normais, naturais, partes
assimiláveis de quem somos como seres sociais e humanos.
Essa introdução aponta para quem provavelme nte está do lado
oposto dessa balança. De forma geral, essa dialética de uma
balança que define quem age e quem sofre, nomeia vítimas e
algozes, mas antes de tudo uma forma de ser que autoriza um
poder de destruição sobre o outro, seu corpo, sua fala, sua
alma. E como deixar de ser a vítima nessa história de
escombros?

Alguns estudos sobre traumas coletivos e individuais, revelam


que uma forma efetiva de responder a essas situações é criar
condições sociais e coletivas para que essas histórias e
testemunhos de experiências traumáticas vividas possam achar
um lugar no mundo, da linguagem, da expressão, da

1
http://noticias.uol.com.br/ultimas -noticias/bbc/2016/10/24/por -que-
os-homens-sao-responsaveis-por-95-dos-homicidios -no-mundo.htm
comunicação e do conhecimento. 2 A invisibilidade dessa
violência cotidiana é talvez o que mais assegure a impunidade
e a repetição naturalizada dessas vár ias formas de violência.

No Brasil hoje temos inúmeras formas de quebrar essa


invisibilidade: o site Think Olga, a campanha Chega de Fiu
Fiu, as comunicações no Twitter sobre “Meu primeiro
assédio”, o Blog Mulherão, todos são formas de contar essas
histórias de abuso que há bem pouco tempo nem para as
melhores amigas podiam ser contadas, pela culpa e vergonha
que as mulheres sentiam por si mesmas. 3 Da mesma forma,
esse contexto de desvalorização psíquica da identidade
feminina pela constante ameaça de conf lito com essa
identidade do masculino violento, cria em muitas mulheres
que sofrem ou sofreram formas de assédio (não só nelas),
algumas formas de doenças psíquicas como medos, Síndromes
de Pânico, Desordens por Stress Pós Traumático (DST), etc. E
essa dissociação psíquica faz parte da construção de uma
imagem da identidade coletiva do feminino. A identidade do
masculino violento faz limite e contraste com a do feminino
que esconde, manipula, falseia, seduz... e ainda seguindo essa
dialética do trauma apontada pelos pesquisadores já citados,
esses limites são os mesmos das forças sociais coletivas de
controle e poder. Saber e não saber, consciência e
inconsciência, dissociação e apropriação, são também
estratégias de visibilidade e invisibilidade social.

Essas histórias e testemunhos também podem aparecer na


forma de expressões literárias, fotográficas, videográficas, etc.
Recentemente a jornalista e escritora russa Svetlana
Aleksiévitch, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2015,
com o livro Vozes de Tchernóbil (a história oral do desastre
nuclear), e em 2016, foi lançado no Brasil A Guerra não tem
rosto de mulher, ambos livros que a partir de relatos de
guerra, recuperam ou dão voz aos inúmeros relatos de

2
Caruth, Cathy. Listening to trauma – Conversations with leaders in
the theory and treatment of catastrophic experience. John Hopkins
Universit y Press, NY, 2014.
3
https://twitter.com/primeiroassedio?lang=pt ;
http://thinkolga.com/entrevisteumamulher/ ;
http://chegadefiufiu.com.br ;
http://blogmulherao.com.br
experiências de quem sofreu com a guerra e até ali teve o
silêncio como lugar dos traumas vividos.

E as histórias de abuso que queremos pesquisar não são


histórias de guerra? Uma guerra cotidiana, surda e silenciosa,
que enfrenta cotidianamente e cada vez mais e com mais força
uma profusão de relatos, de vozes, ensaios, poemas, que
querem ocupar outro lugar nesse mundo. E porque a ficção?
Porque a ficção reinventa as balizas do tempo e do espaço, das
identidades fixas, imaginadas, em uma mistura de relatos e
personagens singulares, corriqueiros, singel os e reais. Um
mundo onde as vozes dessas mulheres saem do silêncio.

Por todo o exposto o projeto “As Tramas da Linguagem –


Ficções e Narrativas”, tem por objetivo pesquisar histórias de
abuso contra mulheres (abusos cotidianos, domésticos,
sexuais, de gênero, etc.). Como metodologia, optei pelo
formato da pesquisa-ação, ou seja uma pesquisa na qual o
objeto tem voz. Pretendo trabalhar como matéria prima, com
testemunhos, depoimentos , entrevistas, relatos diversos,
permitindo nesse espaço que as mulheres possam narrar
histórias de abuso, que serão transformadas numa narrativa
ficcional , o resultado final dessa pesquisa.

A oficina quer trabalhar também com testemunhos gravados


em vídeo, e propor durante o processo ensaios fotográficos
que serão discutidos e decididos nos grupos. Esse material
fará parte do acervo do projeto e mais tarde pode se
transformar em uma vídeo instalação para divulgação do
projeto.

Além do trabalho de campo farei; 1) levantamento


bibliográfico sobre a questão da violência e do a buso contra a
mulher; 2) identificação de centros e/ou pesquisadores que
trabalhem com o tema da pesquisa; 3) pesquisa nos sites já
citados; 4) identificação de workshops de escrita criativa para
trabalhar com ficção literária; 5) levantamento de jornais,
delegacias da mulher, ONU Mulheres, etc.; 6) montagem um
cronograma de trabalho a partir do levantamento inicial da
pesquisa; 7)Diálogo com o centro de pesquisa sobre Literatura
e Trauma (Cathy Caruth, Cornell University, NY); 8)
Produção de curadoria para a Revista Z (PACC-UFRJ) sobre o
tema da pesquisa.
Rio de Janeiro, 29/10-2016

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