RESUMO
1 - INTRODUÇÃO
Atualmente, são cada vez mais freqüentes os sinais de escassez de água doce em
nosso planeta. O nível dos lençóis freáticos baixa constantemente, lagos e açudes secam. À
medida que o crescimento demográfico e o aumento nos padrões de vida multiplicam o uso da
água, as necessidades desse recurso na agricultura, na indústria e na vida doméstica não
param de crescer. É fato comprovado que em países cada vez mais populosos ou com carência
em recursos hídricos, já se atingem o limite de utilização da água. Atualmente vários países, a
maioria situada no continente africano, sofrem com a escassez de água. Esses sintomas de
crise já se manifestaram até mesmo em países que dispõem de considerável reserva de água.
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Agencia de Desenvolvimento da Amazônia - http://www.ada.gov.br/amazonia.asp (26/11/2003)
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Solos cristalinos não permitem a infiltração da água e, consequentemente, excluem a possibilidade de geração
de reservatórios subterrâneos.
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No entanto, para que se obtenha sucesso nessa política de gerenciamento das águas,
necessário se faz à revisão, definição e implementação de reformas nos aspectos legais,
institucionais e administrativos, que visam ao seu adequado gerenciamento e gestão. Isso
implica em mudanças nas relações e responsabilidades que envolvem todos os usuários desse
bem, isto é, estado, sociedade e indivíduo.
2 - METODOLOGIA
Segundo o Instituto Centro de Vida3, a água doce constitui apenas cerca de 2,5% do
total disponível no planeta. Desse total, grande parte concentra-se nas geleiras e,
secundariamente, em grandes profundidades, tornando sua captação economicamente
dispendiosa. Daí a urgente necessidade de uso racional e de medidas de proteção desse
recurso natural.
Os rios cearenses são todos intermitentes, recebendo água somente no período das
chuvas, que ocorrem nos primeiros meses do ano. Para suportar o restante do ano, faz-se
necessário construir reservatórios que garantam o abastecimento humano e animal, a
agricultura, a pesca, o uso industrial, o lazer e demais usos. A situação é agravada pela forma
cíclica que ocorre o fenômeno das secas, com média inferior a 5 anos.
A questão dos recursos hídricos no Ceará sempre foi uma preocupação. Entretanto,
as intervenções governamentais priorizaram a construção de barragens, adutoras, perfuração
de poços e implantação de projetos de irrigação, de forma desarticulada entre os diversos
setores econômicos.
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Instituto Centro de Vida - http://www.icv.org.br/mundoagua.htm (25/10/2003)
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A partir de 1992, o estado do Ceará passa a ter uma lei (Lei n.° 11.996, de 24 de
julho de 1992), que define a política estadual dos recursos hídricos e institui o Sistema
Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos (SIGERH). Este modelo tem como princípios
básicos a descentralização, integração e participação dos usuários no processo de gestão dos
recursos hídricos, define a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, explicita como
instrumentos de gestão a outorga e a cobrança pelo uso da água, assim como a licença para
obras hídricas, e insere em seu sistema organismos colegiados, tais como os Comitês de Bacia
e o Conselho Estadual dos Recursos Hídricos. Esses princípios buscam assegurar a oferta de
água em quantidade e qualidade para as gerações futuras, assegurando, assim, o
desenvolvimento sustentável compatível com a oferta de água no estado do Ceará.
Em 08 de janeiro de 1997 foi promulgada a Lei Federal N.º 9.433 (Lei das Águas),
que trouxe novas e importantes contribuições para o aproveitamento deste recurso, adequando
a legislação aos conceitos de desenvolvimento sustentável. Instituiu a política nacional de
recursos hídricos, criou o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e classificou
a água como bem de domínio público, um recurso natural limitado e dotado de valor
econômico (art. 1º, I e II). Dita, ainda, as regras de uma nova forma de gerenciamento
descentralizado dos recursos hídricos criando comitês para cada bacia hidrográfica (art. 33),
bem como incorpora na política de desenvolvimento a gestão dos recursos hídricos com a
participação do poder público, dos usuários e das comunidades (art. 1º, VI). Institui também a
outorga de direitos de uso de recursos hídrico com o objetivo de assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água
(art. 11).
Outra inovação é a criação da cobrança pelo uso da água (art. 19), elencando os
seguintes objetivos: reconhecer a água como bem econômico, incentivar a racionalização do
seu uso e obter recursos financeiros, os quais terão aplicação prioritária na bacia hidrográfica
onde foram gerados (art. 22), colaborando-se diretamente para a melhoria ambiental da
região.
Estabelece ainda que os custos das obras de recursos hídricos, de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo deverão ser rateados, podendo ser financiados ou subsidiados
conforme critérios e normas a serem estabelecidos em regulamento que deverão atender os
seguintes critérios (FONTENELE, 1999):
POPULAÇÃO INVESTIMENTOS
(projeção) TOTAIS
Cálculo da
Estimativa da
TARIFA
DEMANDA
MÉDIA
Estimativa da Estimativa de
OFERTA RECEITAS
(abastecimento humano). Este modelo calcula os benefícios do projeto com base na máxima
disposição a pagar dos usuários por unidades incrementais de água.
POPULAÇÃO INVESTIMENTOS
(projeção) TOTAIS
Cálculo da
Estimativa da
TARIFA
DEMANDA
MÉDIA
IMPACTO
FISCAL
VP dos VP das T I R
CUSTOS BENEFÍCIOS Econômica
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
A projeção da população alvo para o período de vida útil do sistema novo foi
calculada a partir dos dados obtidos junto ao IBGE dos censos de 1991, 1996, 2000 e 2001 do
município de Milhã-CE, pelo critério de análise de regressão simples estimando-se uma
população de início de projeto em 6.303 habitantes e a de final de projeto em 13.086 hab.
A oferta para a situação com projeto foi calculada considerando-se a demanda com
projeto e as perdas do sistema atual, estimada com base em informações obtidas junto à
operadora atual do sistema. Com o projeto, este nível de perda será gradativamente reduzido,
estabilizando-se no nível de 25%, considerado aceitável para as condições operacionais da
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE). Para a situação sem projeto, a oferta foi
calculada considerando-se as populações ligadas e não ligadas à rede pública de distribuição
d’água. Para a população ligada, a oferta é igual à demanda adicionando-se as perdas físicas
de 25%, mantidas constante durante todo o horizonte de análise. Para os não ligados,
considerou-se a oferta igual à demanda.
Para a situação sem projeto o cálculo da tarifa média foi calculado dividindo-se a
arrecadação total pelo consumo total (consumo medido mais consumo estimado), obtendo-se
o valor de R$ 0,45/m3. A tarifa para a situação com projeto foi calculada levando-se em conta
a estrutura tarifária atual, o consumo per capita adotado no projeto e a estimativa de 4,5
habitantes por ligação. A tarifa média estimada foi de R$ 0,67/m3.
3.1.4 - Receitas
O fluxo anual de receitas para a situação com o projeto considera a demanda de água
anual com projeto e a respectiva tarifa média, descontando-se as perdas financeiras. No
cálculo, foi considerado que o atual nível de perdas financeiras atual seja gradativamente
reduzido até atingir o nível de 3% ao ano, conforme sugerido pelo PROGERIRH. Para a
situação sem projeto o cálculo das receitas é obtido multiplicando a demanda anual sem
projeto da população ligada à rede pela tarifa média atualmente praticada, que é de R$
0,45/m3, sendo descontado um percentual de 3% referente às perdas financeiras, mantendo-se
constante para todo o horizonte de análise do projeto.
3.1.5 - Custos
a) Investimentos
Para a situação sem projeto, os custos operacionais foram estabelecidos com base nos
custos observados nos últimos 12 meses de operação do sistema atual. De acordo com as
informações fornecidas pela companhia operadora local do sistema, esses custos, distribuídos
em custos fixos e variáveis, somam o montante de R$ 244.402. Nos cálculos dos custos
operacionais para a situação com projeto consideraram-se os custos fixos de manutenção dos
investimentos, energia, pessoal e produtos químicos, os quais ocorrem mesmo quando o
sistema está parado, isto é, independem do volume de produção anual, e os custos variáveis,
que são proporcionais aos níveis de produção.
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com essas características, haja vista ter sido considerado apenas como benefício o suprimento
de água doméstico e ter sido incluído nos investimentos os custos da barragem, da
desapropriação e do reassentamento. O Quadro 1 demonstra ainda que deveria ser necessário
cobrar uma tarifa média de R$ 2,76/m3 para que a TIR financeira fosse igual a 12%. Sem a
cobrança deste nível tarifário, o volume de subsídio líquido é de R$ 2,31/m3.
Como se trata de um projeto público, e por isso mesmo se requerem valores a preços
econômicos4, são utilizados fatores de conversão para transformar os custos a preços de
mercado para preços sociais. Para isso, foram utilizados os mesmos fatores de conversão já
utilizados e recomendados pelo PROGERIRH, ou seja:
A taxa social de desconto empregada e recomendada pelo BID para este tipo de
projeto para cálculo do valor presente dos custos e receitas é de 12% ao ano. O horizonte de
planejamento é de 31 anos, sendo 01 (um) para implantação do projeto (fase em que ainda não
é disponibilizado o abastecimento à comunidade), e 30 anos de geração de benefícios (período
de operação do novo sistema de abastecimento de água de Milhã-CE).
c) Elasticidade-preço da Demanda
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Denomina-se preço econômico, sombra, social, ou de eficiência como aquele que ocorreria em uma economia
em equilíbrio, em condições de concorrência perfeita e ausência de distorções de mercado - impostos
discriminatórios, subsídios, externalidades etc. Embora o rigor técnico distinga diferenças metodológicas de
cálculo desses preços, cabe aqui lembrar que, na prática, a conversão de um orçamento de um projeto a preços
financeiros ou de mercado para preços sociais sempre se efetua empregando fatores de conversões, sejam
específicos para cada insumo empregado no projeto, ou generalizados: mão-de-obra, insumos importados,
energia elétrica, ou componentes nacionais etc.
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Q Q Q
Q = a + bP Ö função linear
Q = a Pe Ö função hiperbólica, que linearizando-a se torna : Ln Q = Ln A + e Ln P
Onde:
Q : é quantidade demandada em função do preço,
a: é constante da função,
P: o preço do m3 da água consumida e
e: a elasticidade preço-consumo
e = (∆Q/∆P ) . (P/Q)
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O SIMOP é um modelo computacional desenvolvido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID
para simular custos e benefícios econômicos decorrentes de um projeto de expansão de sistemas de
abastecimento de água. A metodologia e operação do modelo encontram-se no Manual del Usuario – Publicação
Técnica No. 12-75, preparado por Terry A. Power.
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Onde:
(∆Q/∆P): corresponde à derivada da função de demanda com relação a
preço,
(P/Q): razão preço quantidade, que pode ser calculado para um determinado
ponto da equação ou para um intervalo de valores, que neste caso deve-se
tomar o valor médio da série de preço e da quantidade.
e) Grupos de Usuários
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Banco do Nordeste/PBLM-Consultoria Empresarial – Agosto, 1997.
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f) Custos Econômicos
Para obtenção dos custos econômicos, foi utilizada a tabela 1, referente aos fatores de
conversão, bem como os respectivos custos financeiros dos investimentos, de operação e
manutenção. Em valores econômicos, o valor presente dos custos de investimento atingem o
montante de R$ 5.129.988, enquanto os custos de O&M perfazem o total de R$ 778.785.
DISCRIMINAÇÃO RESULTADOS
4 - CONCLUSÃO
Para projetos que visem beneficiar uma fatia da população mais carente com o
abastecimento de água, não pode-se analisar o projeto somente pela ótica financeira, mas
também, e principalmente, pela ótica econômico-social, que privilegie a sociedade e
possibilite melhoria nos índices de saúde, proporcionando qualidade de vida mais digna para
todos.
positivo (à taxa de desconto de 12% ao ano) de R$ 348.331 e uma Taxa Interna Econômica de
Retorno de 12,73%, que é acima da taxa mínima (12%) exigida pelo BID.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS