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Ano 3, Volume 2,

Abril-Junho, 2012
ISSN 2177-0719

O ANATOMISTA
A importância do estudo da anatomia humana

Utilização da terminologia anatômica

Músculo pronador redondo e nervo mediano

Identificação da ocorrência de nuliparidade

Notas históricas sobre a captação


de corpos para estudo científico

REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA


O ANATOMISTA
REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA

Expediente

Editores: Nadir Eunice Valverde Barbato de Prates


Richard Halti Cabral

Conselho Editorial: Arani Nanci Bomfim Mariana


José Aderval Aragão
Marcelo Cavenaghi Pereira da Silva
Jõao Carlos de Souza Cortes
Mirna Duarte Barros
Telma Sumie Masuko

Capa:
Ilustração de capa do livro “Tabulae anatomicae” de
Bartolomeo Eustachi (Roma, 1783).

A responsabilidade do conteúdo dos artigos deve ser atribuída,


exclusivamente, aos seus respectivos autores. As opiniões
manifestadas nos artigos não refletem, necessariamente, a opinião
da Sociedade.

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Sumário

Artigos Originais

A importância do estudo da anatomia humana para o


estudante da área de saúde ........................................... 04

Utilização da terminologia anatômica por profissionais


da educação física .......................................................... 36

Músculo pronador redondo e nervo mediano: estudo


anatômico das correlações e variações anatômicas .... 50

Identificação da ocorrência de nuliparidade, de


multiparidade, e avaliação do comprimento e das
larguras de úteros humanos isolados .......................... 62

Notas históricas sobre a captação de corpos para estudo


científico e a controvérsia contemporânea entre céticos
tradicionalistas e reformistas acerca do uso de cadáveres
no ensino de anatomia humana .................................. 73

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Artigo Original

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ANATOMIA HUMANA PARA

O ESTUDANTE DA ÁREA DE SAÚDE


José William Vavruk
Faculdade de Medicina, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Maringá

RESUMO

Objetivo: Obter informações sobre a importância da disciplina de Anatomia e Neuroanatomia


Humana para a Área de Saúde.

Método: Utilização de questionários, distribuídos aos alunos, impressos e por meio eletrônico.

Resultados: Participaram da pesquisa efetivamente n = 1006 alunos (p = 89,90% do total), com a


prevalência dos estudantes situados na faixa etária de 20 a 25 anos (n = 374, 37,17%), sexo
feminino (n = 725, p = 72,07%); informado ser esta a primeira graduação universitária (n = 946,
p = 94,06%); o curso de Enfermagem (n = 23, p = 38,33%, que corresponde a 2,28% do total de
1006 alunos) foi a primeira graduação universitária dentre 60 alunos que atualmente encontram-
se em um novo curso superior; o fator que mais contribui para o aprendizado é a atenção dos
professores (n = 623, p = 61,92%); a pesquisa demonstou a preferência dos estudantes nos
seguintes aspectos: o Programa Multimídia Netter de Anatomia mostrou-se mais utilizado pelos
estudantes (n = 968, p = 96,22%); o estudo em peças anatômicas torna-se mais adequado quando
realizado em hemi-partes anatômicas (observáveis os planos coronal, sagital e transversal, n = 546,
p = 54,27%); o estudo anatômico em peças plásticas similares é melhor realizado em peças
apresentando tamanhos maiores e maior riqueza de detalhes (n = 529, p = 52,58%); os corpos
estudados em Anatomia Humana devem ser conservados e que apresentem qualidade de
dissecção, contendo indicações precisas e relevantes para o aprendizado de anatomia (n = 663, p
= 65,90%); o fator mais relevante e contributivo considerando instalações físicas para o adequado
aprendizado de Anatomia é o silêncio (menor nível de ruído, n = 858, p = 85,28%);
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DE SAÚDE

o primeiro contato com o estudo em anatomia humana foi dotado de ansiedade num primeiro
momento (n= 794, p = 78,92%); atualmente a sensação quanto às aulas de Anatomia os alunos
sentem-se naturais (n = 834, p = 82,90%); a bibliografia mais utilizada para estudos em Anatomia
Humana é de Frank H. Netter (n = 248, p = 24,65%) e em Neuroanatomia Humana de Angelo
B.M. Machado (n = 368, p = 36,58%); os alunos mencionaram ser o estudo da Fisiologia
relevante quando associado à Anatomia Humana (n= 986, p = 98,01%) e de outros ramos
(Histologia, Imunologia, Farmacologia, Microbiologia, Bioquímica, Biologia Celular/Citologia,
Clínica e Cirurgia), à imediata compreensão e interação prática quando associada à Anatomia
Humana (n = 979, p = 97,31%); a região anatômica que mais despertou interesse de estudo foi a
abdominal (n = 343, p = 34,09%); os horários das aulas de Anatomia Humana e Neuroanatomia
estão adequados de acordo com o curso e finalidade de bem atingir às expectativas propostas (n
= 992, p = 98,60%); a quantidade de horas-aula foram suficientes para o aprendizado em
Anatomia Humana e Neuroanatomia (n = 994, p = 98,80%); a assiduidade de estudo pessoal
para o aprendizado de Anatomia é adequada (n = 971, p = 96,52%); o aprendizado em
Anatomia Humana é considerado atualmente adequado às expectativas (n = 938, p = 93,24%); o
fator que mais contribui para o aprendizado é a dedicação pessoal (n = 849, p = 84,39%); a
Importância da Anatomia para as Ciências da Saúde corresponde ao grau de relevância máxima
(9 a 10, n = 996, p = 99,00%).
Conclusão: A disciplina de Anatomia faz parte da fundamentação teórica dos cursos da Área de
Saúde. A utilização de bibliografia adequada é fundamental, mencionando-se MOORE
(MOORE, Keith L. &. Dalley, Arthur F. Anatomia Orientada para Clínica. 5a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara. Koogan. Rio de. Janeiro: 2007) e outros, utilização de recursos audio-
visuais (incluindo multimídia), dedicação dos professores, interesse dos alunos e ambiente de
aprendizado próprio e adequado.

Palavras-chave: Anatomia Humana. Estudantes. Saúde.

1n = Número absoluto considerado.


2p = Percentagem.

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Introdução

Este trabalho de pesquisa visa apontar a importância do estudo em Anatomia


Humana para o estudante da Área de Saúde.
A Anatomia Humana é a base de conhecimento para todos os estudantes das
Ciências da Saúde (Medicina, Odontologia, Psicologia, Farmácia, Educação Física) e
acompanha o aluno universitário desde o primeiro ano até a plenitude formação acadêmica, e
além, obviamente, no desempenho das atividades laborais. A cada disciplina dos diversos
Cursos que compõem as Ciências da Saúde compete uma particularidade, uma exclusividade de
formação acadêmica. É importante perceber a importância desta disciplina fundamental pelo
estudante pois desde o primeiro ano poderá observar as várias inter-ligações e co-
relacionamentos intrínsecos entre as outras disciplinas, enumerando-se a Fisiologia Humana,
Histologia, Biologia Celular e Molecular, Bioquímica, Genética, Microbiologia, Parasitologia,
Fisiopatologia, Imunologia, Patologia, Neurologia, Cardiologia, Oftalmologia, Medicina Interna,
Óssea, Muscular, Endócrina, Linfática e Oral.
Neste sentido a anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a
constituição e o desenvolvimento dos seres organizados compondo neste Universo uma
disciplina autônoma e da maior importância para as ciências da vida e da saúde e neste sentido é
a disciplina que possui o maior número de horas-aula em todos os cursos devido à sua
importância.
Através dos séculos, o estudo da Anatomia Humana foi mesclado com
imposições da Igreja; outros fatores foram contribuintes e congêneres como o fato dos cadáveres
se deteriorarem facilmente e não haver um método de conservação à época, usando-se, assim,
cadáveres frescos conservados por meio de divisões seqüenciais das camadas de músculo e da
remoção de estruturas e da aprendizagem da anatomia por experiências visuais e táteis locais.
Nosso conhecimento atual de informação anatômica tem sido grandemente aumentado através
de novos e requintados métodos técnicos (TORTORA . TORTORA, Gerard. Corpo Humano:
Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006).

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O produto mais utilizado universalmente para conservação dos cadáveres para


estudo é o formol e entre suas principais aplicações está o embalsamamento de peças
anatômicas. O ato de dissecação fornece ao estudante conhecimento direto no cadáver que o
habilita a conhecer a anatomia do vivente.
O estudo do cadáver é extrapolada para o conhecimento do ser humano vivo, no
todo e em suas partes, porém, os líquidos fixadores e embalsamadores, em variados graus,
modificam o aspecto normal do corpo e dos órgãos. Profissionais da área da saúde, técnicos de
patologia e histologia, professores e estudantes que manuseiam espécimes preservados estão
potencialmente em alto risco de exposição (NETTER . NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia
Humana. 4ª ed. São Paulo: Elsevier, 2004).
Portanto, falar da importância da Anatomia Humana para estudantes e
profissionais da área da saúde é falar a respeito da importância da base de um edifício para toda
a construção.

Objetivos

Objetivo Geral: Obter informações sobre a importância da disciplina de


ANATOMIA E NEUROANATOMIA HUMANA para a área de saúde.

Objetivos Específicos: Quantificar dados que demonstrem como o estudante da


área de saúde percebe a importância da ANATOMIA HUMANA (ANATOMIA E
NEUROANATOMIA); manter introspecção no universitário sobre a importância e inter-
relacionamento entre a disciplina fundamental para as Ciências da Saúde, envolvendo a
Anatomia e sua influência para com os demais ramos do currículo dos cursos de graduação
universitária, não apenas durante o período acadêmico, mas também durante o desempenho
profissional dos egressos; formatar tabelas e gráficos para a representação dos dados coletados;
colaborar para a conscientização e valorização do aprendizado dos conteúdos da Anatomia e
Neuroanatomia Humana.
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Método

As atividades foram desenvolvidas com a distribuição de questionário a todos


estudantes da área de saúde da Universidade da Região de Joinville, Santa Catarina, no ano de
2010, e propôs-se obter informações objetivas sobre a qualidade do ensino visando adquirir
conhecimento científico nesta disciplina fundamental para as ciências da saúde, a qual permeará
a vida do estudante em seu trajeto acadêmico e futuramente, quando de possa do Diploma
Universitário, encontrando-se apto ao pleno exercício profissional.

O questionário retro mencionado foi distribuído a todos os Cursos de Graduação


Universitária da Universidade da Região de Joinville, em especial aos que compõem as Ciências
da Saúde nesta Universidade: Medicina, Odontologia, Psicologia, Educação Física (modalidades
bacharelado e licenciatura) e Farmácia.

O questionário distribuído e explicado minuciosamente a respeito da maneira


correta para o preenchimento consta dos seguintes aspectos essenciais: versa a respeito da
Importância da Anatomia Humana para o Estudante da Área de Saúde; pode ser respondido de
maneira anônima (não identificada), conferindo maior liberdade para as respostas apontadas
pelos entrevistados; não houve discriminação em relação a nenhum curso quanto à carga horária
e procurou-se auferir a qualidade e importância do estudo correlato de Anatomia no ensino
superior; não houve discriminação entre sexos, podendo participar livremente todos estudantes
matriculados; idêntica assertiva em relação à idade, religião ou filiação política ou convicção
pessoal dos participantes. Todos estes aspectos levaram em consideração deixar os entrevistados
livres para responder da melhor forma possível o rol de questionamentos aplicados,
obedecendo-se ditames de liberdade de expressão dispostos na Constituição Federal de 1.988 e
no Código de Ética profissional que rege cada uma das profissões que compõem o espectro das
Ciências da Saúde.

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O questionário versava exatamente a respeito do tema proposto: “A Importância


da Anatomia Humana para o Estudante da Área de Saúde” contendo 25 (vinte e cinco) questões
de fundamental importância para o conhecimento intrínseco da maneira como a Anatomia
Humana é ensinada ao estudante universitário, como este observa a plena composição em seu
aprendizado e como poderá empregar futuramente este fundamental ramo do conhecimento
nas horas profissionais de atividade pós-acadêmicas.
O questionário encontra-se estruturado em 06 (seis) Seções, desta maneira
distribuídas: Seção 01 – Dados Pessoais (identificação pessoal do acadêmico), questões 01
“usque” 06; Seção 02 – Métodos de Estudo, questões 07 “usque” 08; Seção 03 – Instrumentos
Similares e Peças Anatômicas Utilizadas, questões 09 “usque” 11; Seção 04 – Ambiente de
Aprendizagem em Anatomia Humana, questão 12 “usque” 14; Seção 05 – Literatura em
Anatomia Humana e Neuroanatomia, questões 15 “usque” 16; Seção 06 – Opinião Pessoal,
questão 17 “usque” 25. Ao final foi elaborado o quadro Cartão-Resposta para auxiliar o
entrevistado a melhor manter o resultado fidedigno de suas afirmações. O questionário
distribuído segue em anexo ao trabalho.

Resultados
Didaticamente este trabalho de pesquisa concentrou-se em conhecer a qualidade
e a relevância que Anatomia Humana representa para o estudante e neste sentido foi
desenvolvido o trabalho de pesquisa sobre o tema: “A Importância da Anatomia Humana para
o Estudante da Área de Saúde”.
Para estruturar-se os resultados obtidos, devemos concentrar esforços pessoais em relação ao
material e método desenvolvido, qualificação de docentes, apresentação de rigorosas instalações
que concentrem sintonia quanto à ausência de ruído, redução de odores, iluminação adequada e
sobretudo proporcionar incentivo pessoal de aprendizado aos discentes concitando-os à
compreensão que a Anatomia Humana é a disciplina de maior relevância dentre as estudadas
nas disciplinas de base e de fundamental compreensão que constará como integrativa de vários
segmentos e compondo a interdisciplinariedade correlata entre as que compõe o conteúdo
programático de disciplinas dos Cursos da Área de Saúde.
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SEÇÃO 1
Na Seção 1 (Dados Pessoais) procurou-se identificar o acadêmico, e das 06
questões que compuseram o rol de informações pessoais, houve o retorno estatístico que se
apresenta da seguinte maneira:
O total de estudantes da Área de Saúde matriculados na Universidade da Região
de Joinville é de n = 1119. Destes estudantes n = 1018 (p = 90,97%) responderam ao
questionário on-line e n = 12 (p = 1,07%) dos alunos mencionaram respostas dúbias que foram
retiradas da quantificação, permanecendo o total em análise de 1006 alunos (p = 89,90% do
total e p = 98,82% dos questionários admitidos).

Na Seção 1 do questionário foram coletados dados pessoais quantificativos dos


estudantes matriculados, obtendo-se como informação:

1. Idade escolar, considerando-se a totalidade dos alunos que responderam ao questionário (n =


1018 estudantes):

- até 20 anos, n = 140 estudantes (p = 13,75%);


- de 20 a 25 anos, n = 483 (p = 47,44%);
- de 25 a 30 anos, n = 226 (p = 22,20%) e
- acima de 30 anos, n = 169 (p = 16,60%).
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A idade escolar, considerando-se a amostra válida de questionários respondidos (1006


estudantes) revela:
- até 20 anos, n = 236 estudantes (p = 23,45%);
- de 20 a 25 anos, n = 374 (p = 37,17%);
- de 25 a 30 anos, n = 224 (p = 22,26%) e
- acima de 30 anos, n = 172 (p = 17,09%).

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Em relação ao gênero dos estudantes, considerando-se a totalidade dos alunos (1018), os


resultaram demonstram que:
a. Masculino, n = 304 estudantes (p = 29,86%) e
b. Feminino, n = 714 = (p = 70,13%).

2. Considerando-se o gênero dos estudantes que efetivamente participam da pesquisa (1006), os


resultados passam a ser:
a. Masculino, n = 281 estudantes (p = 27,93%) e
b. Feminino, n = 725 = (p = 72,07%).

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3. Considerando-se os alunos matriculados (n = 1119) os cursos de graduação universitária


concentram as seguintes proporções de alunos matriculados:
Medicina: n = 242 (p = 21,62%), dos quais n = 238 (p = 23,37%) efetivamente
participam da pesquisa e n = 237 (p = 23,55%) foram válidos;
Odontologia: n = 162 (p = 14,47%), dos quais n = 154 (p = 15,12%) efetivamente
participam da pesquisa e n = 152 (p = 15,10%) foram válidos;
Educação Física (Licenciatura e Bacharelado): n = 424 (p = 37,89%), dos quais n
= 346 (p = 33,98%) efetivamente participam da pesquisa e n = 345 (p = 34,29%) foram válidos;
Psicologia: n = 172 (p = 15,37%), dos quais n = 161 (p = 15,81%) efetivamente
participam da pesquisa e n = 158 (p = 15,70%) foram válidos e
Farmácia: n = 127 (p = 11,34%), dos quais n = 119 (p = 11,68%) efetivamente
participam da pesquisa e n = 114 (p = 11,33%) foram válidos.

4. De modo a homogeneizar a pesquisa de acordo com as séries escolares dos


alunos e observando que muitos cursam adotam o sistema anual ou semestral de ensino,
procurou-se computar as séries escolares por semestres, obtendo-se os resultados:

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a. 1º período/semestre: n = 63 estudantes (p = 6,26%);


b. 2º período/semestre: n = 94 estudantes (p = 9,34%);
c. 3º período/semestre: n = 85 estudantes (p = 8,44%);
d. 4º período/semestre: n = 136 estudantes (p = 13,51%);
e. 5º período/semestre: n = 121 estudantes (p = 12,02%);
f. 6º período/semestre: n = 118 estudantes (p = 11,72%);
g. 7º período/semestre: n = 106 estudantes (p = 10,53%);
h. 8º período/semestre: n = 132 estudantes (p = 13,12%);
i. 9º período/semestre: n = 72 estudantes (p = 7,15%);
j. 10º período/semestre: n = 65 estudantes (p = 6,46%);
l. 11º período/semestre: n = 6 estudantes (p = 0,59%) e
m. 12º período/semestre: n = 8 estudantes (p = 0,79%).

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5. Procurando obter informações sobre o passado escolar dos estudantes, a pesquisa procurou
saber sobre a formação de cada aluno anteriormente ao atual curso frequentado e que se
encontra matriculado, e obteve as informações:
a. Sim, é a primeira graduação universitária: n = 946 (p = 94,06%) e
b. Não é a primeira graduação universitária: n = 60 (p = 5,94%).

6. Os 60 (sessenta) alunos que responderam esta não ser a primeira graduação universitária
informaram que são graduados nos seguintes cursos:

- Direito: n = 06 (p = 10%), que corresponde a 0,59% do total de n = 1006 alunos;


- Fonoaudiologia: n = 04 (p = 6,66%), que corresponde a 0,39% do total de n = 1006 alunos;
- Turismo: n = 03 (p = 5%), que corresponde a 0,29% do total de n = 1006 alunos;
- Psicologia: n = 11 (p = 18,33%), que corresponde a 1,09% do total de n = 1006 alunos;
- Enfermagem: n = 23 (p = 38,33%), que corresponde a 2,28% do total de n = 1006 alunos e
- Administração: n = 13 (p = 21,66%), que corresponde a 1,29% do total de n = 1006 alunos.

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SEÇÃO 2
Na Seção 2 do questionário foram coletados dados relativos a Métodos de
Estudo utilizados pelos estudantes matriculados, obtendo-se como informação:
7. Para o estudo em anatomia humana as respostas ao melhor método de aprendizado foi
apresentado da seguinte maneira:
a. Atenção dos professores. n = 623 (p = 61,92%);
b. Dedicação pessoal / interesse e motivação próprias. n = 271 (p = 26,93%);
c. Livros. n = 42 (p = 4,17%);
d. Peças anatômicas íntegras (utilizando cadáveres/corpos). n = 14 (p = 1,39%);
e. Peças anatômicas seccionadas (utilizando cadáveres/corpos). n = 12 (p = 1,19%);
f. Peças em plástico (reprodução similar à peça anatômica), seccionadas, reproduzindo a
respectiva secção corporal com detalhes direcionados ao aprendizado. n = 6 (p = 0,59%);
g. Peças em plástico, íntegras, reproduzindo tridimensionalmente a superfície em estudo com
detalhes direcionados ao aprendizado. n = 6 (p = 0,59%);
h. Recursos multimídia (CD interativo). n = 4 (p = 0,39%);
i. Recursos multimídia (filmes auto-explicativos). n = 7 (p = 0,69%);
j. Recursos multimídia (vídeo). n = 5 (p = 0,49%);
l. Utilização de equipamentos (quadros brancos e/ou negros). n = 11 (p = 1,09%) e
m. Utilização de equipamentos (retroprojetor, slides). n = 5 (p = 0,49%).
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8. O recurso de multimídia utilizado e que melhor contribuiu para o aprendizado foi:

a. Programa didático instrutivo: (Exemplo: Programa Netter). n = 968 (p = 96,22%);


b. Programa didático instrutivo: (Exemplo: O Corpo Humano – Globo Multimídia). n = 6 (p =
0,59%) e
c. Reprodução de multimídia: (Exemplo: Akland (legendado ou sem legendas). n = 32 (p =
3,18%).

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Na Seção 3 do questionário foram coletados dados pertinentes aos instrumentos


similares e peças anatômicas utilizadas, obtendo-se como informação:
9. O estudo em peças anatômicas torna-se mais adequado:
a. Quando realizado em hemi-partes anatômicas (observáveis os planos coronal, sagital e
transversal). n = 546 (p = 54,27%) e
b. Desde que realizado em peças íntegras considerando dissecção parcial e superficial apenas. n
= 460 (p = 45,72%).

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10. Quando questionado o estudo anatômico em peças plásticas similares o melhor método
apresentado é:
a. Em peças apresentando tamanhos maiores e maior riqueza de detalhes. n = 529 (p = 52,58%)
e
b. Em peças com tamanho real comparativamente às estruturas vivas. n = 477 (p = 47,41%).

11. Ao questionar-se a estrutura física dos corpos estudados em Anatomia Humana estes devem
ser:

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a. Corpos conservados e que apresentem qualidade de dissecção, contendo indicações precisas


e relevantes para o aprendizado de anatomia. n = 663 (p = 65,90%) e
b. Recentes e de boa qualidade tátil e observacional, apresentando idêntica semelhança com
estruturas vivas. n = 343 (p = 34,09%).

SEÇÃO 4
Na Seção 4 do questionário foram coletados dados relativos ao ambiente de
aprendizagem em Anatomia Humana. Os questionamentos versaram nas seguintes etapas:
12. Na opinião dos estudantes qual é o fator mais relevante e contributivo para o adequado
aprendizado de Anatomia Humana considerando instalações físicas, obtendo-se as respostas:
a. Iluminação adequada. n = 32 (p = 3,18%);
b. Limpeza (mesas, bancadas). n = 71 (p = 7,05%);
c. Odor reduzido de conservantes utilizados. n = 16 (p = 1,59%);
d. Silêncio (menor nível de ruído). n = 858 (p = 85,28%) e
e. Ventilação adequada. n = 29 (p = 2,88%).

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13. Ao inquirir-se os alunos a respeito do primeiro contato com o estudo em anatomia humana
os alunos responderam que foi:
a. Dotado de ansiedade num primeiro momento. n = 794 (p = 78,92%);
b. Natural. n = 53 (p = 5,26%);
c. Preocupado. n = 147 (p = 14,61%) e
d. Não conseguiu participar. n = 12 (p = 1,19%).

14. Quando questionado aos estudantes na atualidade como estes sentem-se em relação às aulas
de Anatomia o padrão de respostas foi:
a. Compenetrado. n = 34 (p = 3,33%);
b. Confortado. n = 104 (p = 10,33%);
c. Natural. n = 834 (p = 82,90%);
d. Nervoso. n = 13 (p = 1,29%) e
e. Respeitoso. n = 21 (p = 2,08%).

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DE SAÚDE

SEÇÃO 5
Na Seção 5 do questionário foram coletados dados relativos à literatura utilizada
em Anatomia Humana e Neuroanatomia pelos estudantes matriculados.
Inicialmente torna-se imperioso tecer comentários concernentes à importância da
dedicação de alguns autores e relembrar que após séculos de estudo e descobertas quanto ao
conhecimento do corpo humano, atualmente a sociedade científica e acadêmica possui um
referencial vasto e adequado aos vários setores do conhecimento, devido ao brilhantismo de
mentes que dedicaram-se em conhecer o corpo humano.
Os melhores exemplos advém de livros, e em particular, de autores consagrados
como Keith L. Moore (MOORE, Keith L. &. Dalley, Arthur F. Anatomia Orientada para
Clínica. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan. Rio de. Janeiro: 2007), Gerald J. Tortora
(TORTORA, Gerard. Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 6ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2006), Frank Netter (NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 4ª ed.
São Paulo: Elsevier, 2004) e Johannes Sobotta (SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia
Humana. 22ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan: 2006). A importância para estes autores
da Anatomia humana concentra-se em particularizar a micro-visão de todas as estruturas
anatômicas para o estudante para que este possa despertar à compreensão pessoal da
importância desde maravilhoso ramo dos estudos das Ciências da Vida.
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

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DE SAÚDE

Frank Netter (1906-1991) assim expressou: “na minha carreira como artista
médico, por mais de 50 anos, minha carreira cresceu em resposta aos anseios e necessidades da
profissão médica e em todos estes anos cerca de 4.000 ilustrações foram revestidas de criteriosa
seleção relacionada às várias subdivisões do conhecimento médico, como anatomia
macroscópica, histologia, embriologia, fisiologia, patologia, modalidades diagnósticas, técnicas
cirúrgicas e terapêuticas e manifestações clínicas de uma variedade de doenças”.
A Anatomia Humana reveste-se de grandes exemplos de autores fantásticos na
história da humanidade que estiveram empenhados no estudo desta fundamental disciplina,
dentre estes mencionamos Vesalius, Leonardo da Vinci, William Hunter, Henry Gray,
Descartes e Hipócrates. Compreendemos que vários autores atuam conjuntamente para o
pleno desenvolvimento e compreensão aprofundada desta verdadeira arte e possuímos
excelentes exemplos para construir este caminho formidável do conhecimento humano da vida.
A Literatura de apoio ao estudante deve constar de exuberante quantidade e
qualidade de informações para a compreensão pelo estudante das Ciências da Saúde a fim de
que este melhor compreenda a esfera e a dimensão global do estudo de Anatomia, visando
capacitá-lo a compreender, coordenar e inter-relacionar todas as diversas disciplinas que
compõem o cerne dos cursos de graduação universitária.
Neste sentido, o estudante deverá utilizar-se de poderosos instrumentos didáticos
que possam direcioná-lo da melhor maneira à compreensão de todos os ramos que compõem a
Anatomia Humana em particular:
Variação e normalidade da constituição anatômica; anomalias; fatores gerais de
variação; nomenclatura anatômica; divisão do corpo humano; posição anatômica; planos de
delimitação e secção do corpo humano; eixos do corpo humano; termos de posição e direção;
princípios gerais de construção corpórea nos vertebrados.
Outros itens específicos que compõem o estudo da Anatomia Humana
envolvem:
a) Sistema Esquelético: conceito de esqueleto; funções do esqueleto; tipos de esqueletos; divisão
do esqueleto; número de ossos; classificação dos ossos; tipos de substância óssea; elementos
descritivos da superfície dos ossos; periósteo; nutrição.;
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DE SAÚDE

b) Articulações: classificação; articulações fibrosas, cartilaginosas, sinoviais.


c) Sistema Muscular: variedades de músculos; componentes anatômicos dos músculos estriados
esqueléticos; fáscia muscular; mecânica muscular; origem e inserção; classificação dos músculos;
ação muscular; classificação funcional dos músculos; inervação e nutrição.
d) Sistema Nervoso: divisão do sistema nervoso; meninges; sistema nervoso central; vesículas
primordiais; partes do sistema nervoso central; ventrículos encefálicos e suas comunicações;
líquor; divisão anatômica; disposição das substâncias branca e cinzenta no sistema nervoso
central; sistema nervoso periférico; terminações nervosas; gânglios; nervos cranianos e espinhais.
e) Sistema Nervoso Autônomo: sistema nervoso visceral aferente; diferenças entre sistema
nervoso somático eferente e visceral, eferente ou autônomo; organização geral do sistema
nervoso autônomo; diferenças entre sistema nervoso simpático e parassimpático.
f) Sistema Nervoso Autônomo: Anatomia do Simpático, Parassimpático e dos Plexos Viscerais:
sistema nervoso simpático; aspectos anatômicos; localização dos neurônios pré-ganglionares,
destino e trajeto das fibras pré-ganglionares; localização dos neurônios pós-ganglionares, destino
e trajeto das fibras pós-ganglionares; sistema nervoso parassimpático; parte craniana do sistema
nervoso parassimpático; plexos viscerais; sistematização dos plexos viscerais.
g) Sistema Circulatório: Coração; circulação do sangue; sistema de condução; tipos de
circulação; tipos de vasos sangüíneos; artérias; veias; capilares sangüíneos; sistema linfático; baço;
timo.
h) Sistema Respiratório: nariz; nariz externo; cavidade nasal; seios paranasais; faringe; laringe;
traquéia e brônquios; pleura e pulmões.
i) Sistema Digestivo: boca e cavidade bucal; divisão da cavidade bucal; palato; língua; dentes;
glândulas salivares; faringe; esôfago; abdome: generalidades; diafragma; peritônio; estômago;
intestinos; intestino delgado; intestino grosso; anexos do canal alimentar; fígado; pâncreas.
j) Sistema Urinário: órgãos do sistema urinário; rins; ureter; bexiga; uretra.
k) Sistema Genital Masculino: órgãos genitais masculinos; testículos; epidídimo; ducto deferente;
ducto ejaculatório; uretra; vesículas seminais; próstata; glândulas bulbo-uretrais; pênis; escroto.
l) Sistema Genital Feminino: comportamento do peritônio na cavidade pélvica; ovários; tubas
uterinas; útero; vagina; órgãos genitais externos; mamas.
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m) Sistema Endócrino: glândulas endócrinas.


n) Sistema Sensorial: órgãos da visão; bulbo ocular; anexos do olho; órgão vestíbulo-coclear;
ouvido externo; ouvido médio; ouvido interno; equilíbrio e ouvido interno.
o) Sistema Tegumentar: pele; camadas da pele; glândulas da pele; coloração da pele; anexos da
pele; pêlos; unhas.
No sentido de conhecer a contribuição de autores reconhecidos como
especialistas na arte de ensinar Anatomia Humana e que servirão de embasamento técnico para
este trabalho de pesquisa temos por base os seguintes autores:
Em ANATOMIA HUMANA
15. Inicialmente questionado aos universitários qual o livro de Anatomia que mais contribuiu no
aprendizado, foram obtidas as informações:

a. Anatomia do Aparelho Locomotor - M. Dufour. n = 0;


b. Anatomia Fundamental - Sebastião Vicente de Castro. n = 0;
c. Anatomia Humana - Resumos em Quadros e Tabelas - Johannes W. Rohen.
d. Anatomia Humana - Van De Graaff. n = 0;
e. Anatomia Humana Básica - Alexander P. Spencer. n = 0;
f. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar - Jose Geraldo Dangelo. n = 34 (p = 3,37%);
g. Anatomia Orientada Para a Prática Clínica - Keith L. Moore. n = 232 (p = 23,06%);
h. Anatomia Para o Movimento - Blandine Calais. n = 0;
i. Anatomia: Conceitos e Fundamentos - Valdemar de Freitas. n = 0;
j. Anatomia: Estudo Regional do Corpo Humano - Donald J. Gray. n = 163 (p = 16,20%);
l. Anatomia: Estudo Regional do Corpo Humano - Ernest Gardner. n = 0;
m. Atlas de Anatomia Humana - Frank H. Netter. n = 248 (p = 24,65%);
n. Atlas de Anatomia Humana - Johannes Sobotta. n = 219 (p = 21,76%);
o. Capacidade Atlética e Anatomia do Movimento – Wirhed. n = 6 (p = 2,58%);
p. Grande Atlas do Corpo Humano: Anatomia, Histologia, Patologias – Medillust. n = 0;
q. Princípios da Anatomia Humana - Paulo Augusto Giron. n = 0;
r. Princípios de Anatomia e Fisiologia - Gerald J. Tortora. n = 84 (p = 8,34%).
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DE SAÚDE

Em NEUROANATOMIA
16. Em seguida foi questionado aos estudantes qual o livro de NeuroAnatomia mais contribuiu
no aprendizado, obtendo-se as seguintes informações:
a. Anatomia do Aparelho Locomotor - M. Dufour. n = 21 (p = 2,08%);
b. Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência - R. Lent. n = 0;
c. Core Text of Neuroanatomy - M. B. Carpenter. n = 0;
d. Diagnóstico Diferencial em Neurologia - J. Patten. n = 0;
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DE SAÚDE

e. Head Injury - P. R. Cooper. n = 0;


f. Manual de Neurocirurgia - M. Greenberg. n = 0;
g. Neuroanatomia - Atlas de Estruturas, Secções E Sistemas – Haines. n = 0;
h. Neuroanatomia Aplicada - Murilo S. Meneses. n = 293 (p = 29,12%);
i. Neuroanatomia Funcional - Angelo B.M. Machado. n = 368 (p = 36,58%);
j. Neuroanatomia Humana de Barr - John A Kiernan. n = 0;
l. Neuroanatomia: Texto e Atlas - J. H. Martin. n = 0;
m. Neuroanatomia Ilustrada – Crossman. n = 267 (p = 26,54%). n = 0;
n. Neuroanatomy Through Clínical Cases - H. Blumenfeld. n = 57 (p = 5,66%);
o. Principles of Neural Science - E. R Kandel. n = 0.

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SEÇÃO 6
Na Seção 6 do questionário foram coletadas opiniões pessoais e quantificadas posteriormente,
obtendo-se como informação:
17. O estudo da Fisiologia é relevante ao associar-se à Anatomia Humana?
a. Sim. n = 986 (p = 98,01%) e
b. Não. n = 20 (p = 1,98%).

18. Este questionário procurou inteirar o conhecimento de outros ramos interdisciplinares e


complementares à Anatomia Humana na formação dos cursos de graduação universitária e
quando questionado sobre a existência de relevância dos ramos: Histologia, Imunologia,
Farmacologia, Microbiologia, Bioquímica, Biologia Celular/Citologia, Clínica e Cirurgia, no que
lhes concerne, tornando-se elementarmente associativos para a imediata compreensão e
interação prática associada à Anatomia Humana, obtemos as seguintes informações:
a. Sim. n = 979 (p = 97,31%) e
b. Não. n = 27 (p = 2,68%).
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DE SAÚDE

SEÇÃO 6

19. A pesquisa de opinião dos estudantes voltou-se a procurar saber qual a região anatômica em
que mais houve manifestação de interessou em estudar, obtendo-se como respostas:
a. Abdômen. n = 343 (p = 34,09%);
b. Cabeça e Pescoço. n = 214 (p = 21,27%);
c. Dorso e Medula Espinhal. n = 142 (p = 14,11%);
d. Membro Inferior. n = 33 (p = 3,28%);
e. Membro Superior. n = 49 (p = 4,87%);
f. Neuroanatomia. n = 83 (p = 8,25%);
g. Pelve e Períneo. n = 46 (p = 4,57%) e
h. Tórax. n = 96 (p = 9,54%).

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20. Foi questionado se os horários das aulas de Anatomia Humana e Neuroanatomia estavam
adequados com o curso e com a finalidade de bem atingir às expectativas propostas, obtendo-se
as informações:
a. Sim. n = 992 (p = 98,60%) e
b. Não. n = 14 (p = 1,39%).

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21. Ao inquirir-se os estudantes sobre a quantidade de horas-aula serem suficientes para o


aprendizado em Anatomia Humana e Neuroanatomia, obtivemos as seguintes respostas:
a. Sim. n = 994 (p = 98,80%) e
b. Não. n = 12 (p = 1,19%).

22. Objetivando conhecer a assiduidade de estudo dos universitários estes informaram que o
desprendimento pessoal para o aprendizado de Anatomia foi à época:
a. Adequado. n = 971 (p = 96,52%);
b. Razoável. n = 24 (p = 2,38%) e
c. Insuficiente. n = 11 (p = 1,09%).

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DE SAÚDE

23. Inquiriu-se sobre o momento atual a respeito de como os universitários se consideram com
o aprendizado em Anatomia Humana, obtendo-se as seguintes informações:
a. Adequado. n = 938 (p = 93,24%);
b. Razoável. n = 52 (p = 5,16%) e
c. Insuficiente. n = 16 (p = 1,59%).

24. Procurando conhecer o que mais contribuiu para o aprendizado, o retorno de informações
demonstrou que consiste em:
a. Curiosidade para descobrir. n = 73 (p = 7,25%);
b. Dedicação pessoal. n = 849 (p = 84,39%);
c. Memória visual. n = 36 (p = 3,57%) e
d. Visão orientada pelas mãos. n = 48 (p = 4,77%).

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Artigo Original: A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ANATOMIA HUMANA PARA O ESTUDANTE DA ÁREA

DE SAÚDE

25. Encerrando a atividade de pesquisas acrescentou-se a pergunta fundamental em que gira


todo este projeto e procurou-se obter-se dos estudantes universitários o retorno pessoal sobre
qual a importância da Anatomia Humana para os Estudantes das Ciências da Saúde e neste
sentido obtemos como retorno a fração unânime:
a. 9-10 (relevância máxima). n = 996 (p = 99,00%);
b. 8-9 (muito importante). n = 8 (p = 0,79%);
c. 7-8 (relevância mediana). n = 2 (p = 0,19%);
d. 6-7 (importância relativamente baixa), n = 0;
e. 5-6 (baixa importância) e
f. Inferior a 5 (irrelevante), n = 0.

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DE SAÚDE

Discussão

O levantamento dessas informações, através dos questionários e material


distribuído via impressa e eletrônica por e-mail, obteve informações seguras e fidedignas a
respeito da importância da disciplina de Anatomia Humana e da Neuroanatomia. As
informações coletadas poderão ajudar na organização da disciplina, de forma a dinamizar o
ensino e a aprendizagem na Universidade da Região de Joinville e outras Universidades que
apresentam visão congênere à importância desta fundamental disciplina ao currículo dos cursos
de graduação universitária que compõem as Ciências da Saúde.

Conclusão

A disciplina de Anatomia faz parte da fundamentação teórica dos cursos da Área


de Saúde. Alguns estudantes naturalmente apresentam dificuldades em compreender os
conteúdos. Isso decorre de algum bloqueio na fase de aprendizagem, falta de interesse e/ou
disposição para esse aprendizado. Como o estudo do corpo humano envolve muitos aspectos
técnicos relacionados à nomenclatura anatômica, muitos acadêmicos apresentam dificuldade em
absorver essas informações que envolvem características celulares, teciduais, organogênica e
sistêmica. Para atender a estas necessidades, autores como MOORE (MOORE, Keith L. &.
Dalley, Arthur F. Anatomia Orientada para Clínica. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan.
Rio de. Janeiro: 2007), TORTORA (TORTORA, Gerard. Corpo Humano: Fundamentos de
Anatomia e Fisiologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006), NETTER (NETTER, Frank H.
Atlas de Anatomia Humana. 4ª ed. São Paulo: Elsevier, 2004) e SOBOTTA (SOBOTTA,
Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 22ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan: 2006)
elaboraram livros contendo textos e ilustrações para facilitar o entendimento dos estudantes,
constituindo-se como algumas das mais influentes bases de estudo para praticamente todos os
estudantes da área de saúde.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ANATOMIA HUMANA PARA O ESTUDANTE DA ÁREA

DE SAÚDE

O estudo em Atlas Anatômicos possibilita o aprendizado porém exige


desprendimento e atenção quanto ao reconhecimento das estruturas em observações práticas no
laboratório de Anatomia. Pode-se considerar que o acervo bibliográfico em livros ou em
recursos virtuais é adequado, necessitando ainda da orientação de monitores e docentes para
que os acadêmicos tenham um aproveitamento satisfatório.
Como consideração final e encerramento desta atividade constatamos ser de
fundamental importância o estudo da Anatomia Humana para os Estudantes da Área de Saúde
obtendo-se a quantificação de n = 996 (p = 99%), dentre 1006, quanto à plausibilidade desta
assertiva dentre todos os estudantes universitários regularmente matriculados.

Referências Bibliográficas

MOORE, Keith L. &. Dalley, Arthur F. Anatomia Orientada para Clínica. 5a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara. Koogan. Rio de Janeiro: 2007;

NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 4ª ed. São Paulo: Elsevier, 2004;

SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 22ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan: 2006;

TORTORA, Gerard. Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 6ª ed. Porto


Alegre: Artmed, 2006.

José William Vavruk


Faculdade de Medicina, Centro de Ciências da Saúde
Universidade Estadual de Maringá
Rua Padre Léo Pientka, nº 610 - Cidade Jardim
83.035-050 – São José dos Pinhais - Paraná - Brasil
Tel: 55 041 3081-5037 E-mail: ra81444@uem.br

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Artigo Original

UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR

PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO FÍSICA


Daniel Vicentini de Oliveira1 & Sonia M. M. Bertolini2
1Discente; 2Docente

Curso de Pós-graduação em Anatomia Funcional do Cesumar

RESUMO

A Nomina Anatômica constitui o conjunto de termos empregados para indicar e


descrever as partes do organismo; é a base da linguagem anatômica. O profissional de educação
física está enquadrado dentro da área da saúde, atuando diretamente com o corpo humano e seu
movimento. O objetivo deste estudo foi verificar a utilização da terminologia anatômica por
profissionais da educação física bem como ratificar e informar a estes profissionais a ortografia dos
termos científicos utilizada para designar as estruturas macroscópicas do corpo humano. A
população do estudo constitui-se de profissionais da educação física.. A amostra foi selecionada de
forma aleatória e constituída de 25 indivíduos, de ambos os gêneros e de diferentes faixas etárias.
O único critério de exclusão a observar foi que os profissionais não atuem na área da docência do
ensino superior da disciplina de anatomia humana. Como critério de inclusão, os profissionais
deveriam ser devidamente graduados e estar atuando dentro da área da educação física. Ao se
questionar sobre qual a massa de tecido nervoso localizado no interior do canal vertebral”, ou seja,
a Medula Espinal, a grande maioria 68% ainda acreditam que o termo correto seja Medula
Espinhal. Ninguém respondeu Espinhal Dorsal ou não sabiam o nome da estrutura questionada.
Este foi o termo com a maior porcentagem de erro. Concluiu-se que muitos termos ainda
continuam sendo utilizados incorretamente, se formos considerar a Terminologia Anatômica.
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Os profissionais da educação física atuam diretamente com estas estruturas, principalmente as


que correspondem ao sistema músculo esquelético, como ossos, músculos, articulações e
tendões, pois são os responsáveis pelo movimento humano.

Palavras-chave: Políticas públicas, expansão universitária, ensino de anatomia, construção de


laboratório.

INTRODUÇÃO

A Anatomia Humana é uma ciência antiga e estudada na maioria dos cursos


superiores da área da saúde por sua extrema importância no entendimento do organismo
humano.

Segundo Chopard (2006), é uma ciência que estuda a constituição e o


desenvolvimento do homem. A palavra é de origem grega, onde “ana” significa partes e “tome”,
cortar, ou seja, cortar em partes.

Os relatos anatômicos iniciaram-se com o surgimento dos próprios hominídeos e


ainda hoje se encontram desenhos representativos dos homens e animais dessa época. Esse
período compreende uma época de aproximadamente vinte e oito mil anos (BUSETTI e
BUSETTI, 2005).

O estudo da anatomia foi iniciado pelos filósofos gregos, cientificamente os


primeiros a sentirem a necessidade de se estudar o corpo humano para melhor entendê-lo
(CHOPARD, 2006)

Dentre os principais responsáveis pelo estudo da Anatomia Humana podemos


citar: Empédocles (480 a.C) que realizou estudo da anatomia fetal; Demócrito (460 a.C), que
passava horas e dias nos bosques dissecando animais; Hipócrates (460-377 a.C), considerado o
fundador da anatomia; era médico e foi o primeiro a dar descrições sistemáticas do corpo
humano, baseadas em observações pessoais no vivo ou por deduções em animais inferiores, e
Aristóteles (384-323 a.C) que estudou a anatomia animal comparada (CHOPARD, 2006).
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Posteriormente, foram se desenvolvendo pesquisas e pesquisadores, procurando-


se separar as crendices e misticismos da verdadeira concepção científica das estruturas, órgãos e
tecidos até o século III a.C, em Alexandria, com destaque para Herófilo e Erasistrato. O
primeiro é considerado o verdadeiro fundador da anatomia humana, que fez estudos do
encéfalo, das meninges, do olho e dos intestinos. O segundo realizou estudo acurado do
coração e de suas válvulas (SENIT, 1963 e SINGER 1996 apud BUSETTI e BUSETTI 2005;
CHOPARD 2006).
Dangelo e Fattini (2007) citam que muitas das descrições existentes reportavam-
se a dissecações feitas em animais, como as que foram feitas pelo fisiologista grego Galeno, que
dissecou porcos e macacos no século II d.C.
Foi só em 1539 que André Vesalius (1514-1564) um anatomista belga,
demonstrou que as descrições anatômicas de Galeno não se referiam a dissecações feitas na
espécie humana. Foram contemporâneos de Vesalius: Bartolomeu Eustáquio, Falópio e Realdo
Colombo. Após Vesalius, destacam-se: Aranzio (1530-1589), Varólio (1543-1578), Van der
Spigel (1578-1625), Willian Harvey (1578-1657), Aseli (1581-1626), Malpighi (1628-1694),
Wirsung, Winslow (1667-1760), Morgagni (1682-1771), Bichat (177101832), Scarpa (1747-
1832), Hyrtl (1810-1854) (DANGELO E FATTINI, 2007).
Nesse processo de descobrimento das estruturas anatômicas, diferentes termos
foram criados, inclusive para uma mesma estrutura.
Um pesquisador não conhecia as descobertas de outro contemporâneo ou
pregresso, pois as descobertas não eram divulgadas pela dificuldade de cada época. Como
resultado dessa prática foram idealizados nomes diferentes para as mesmas estruturas, variando-
se de um país para outro e também de uma localidade para outra no mesmo país (BUSETTI e
BUSETTI, 2005).
Em fins do século XIX, aproximadamente cinquenta mil nomes estavam em uso
pra designar cerca de cinco mil estruturas anatômicas constituintes do corpo humano. A
multiplicidade de nomes atribuídos a um mesmo acidente anatômico gerava dificuldade para
redação de trabalhos científicos e para a comunicação dos pesquisadores entre si.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Tal dificuldade crescia, também em decorrência do uso indiscriminado de


epônimos (FIELD e HARRINSON, 1961, GARDNER et al., 1978 e BEZERRA et al., 1993
apud BEZERRA e BEZERRA, 2000).
A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica
internacional ocorreu em 1895, na Basiléia, por esta razão denominada Basle Nomina
Anatômica (BNA) e embora houvessem ocorrido tentativas de atualizá-la em 1910 e 1930, ela
só se efetuou em 1933, pela Anatomical Society of Great Britain and Ireland (DANGELO e
FATTINI, 2007).
Chopard (2006) refere que a Nomina Anatômica constitui o conjunto de termos
empregados para indicar e descrever as partes do organismo, sendo a base da linguagem
anatômica. A nomenclatura anatômica oficial é escrita em latim, sendo adaptada ou traduzida
para o vernáculo de cada país.
Em 1936, em Milão, durante o IV Congresso Federativo Internacional de
Anatomia, presidido por Livini, tentou-se em vão escolher uma única lista de termos
anatômicos. Uma nova Comissão Internacional da Nomenclatura Anatômica foi eleita, mas
devido à II Guerra Mundial seu trabalho foi interrompido. No Congresso de 1950 também não
houve avanços significativos numa revisão da Terminologia Anatômica, o que acabou
acontecendo no Congresso de Paris, em 1955, quando uma nova Nomina Anatômica foi
aprovada oficialmente sob a sigla PNA (Paris Nomina Anatomica) (DI DIO, 2000; DANGELO
e FATTINI, 2007).
Nos anos seguintes, diversos eventos foram organizados visando difundir a
terminologia, conseguindo-se a cada vez, maior participação e adesão.
Em 1980, o Congresso Federativo Internacional de Anatomia (CFIA) decidiu
criar o Federative Commitee on Anatomical Terminology (FICAT) visto que a nomenclatura
anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e modificada, desde que haja
razões suficientes e que estas sejam aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia,
realizados de cinco em cinco anos (DANGELO e FATTINI, 2007; NOVAK et. al 2008).

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Coube a FICAT elaborar a versão final da terminologia, tendo sido anunciada


oficialmente em agosto de 1997. Essa lista foi enviada a todas as sociedades anatômicas para ser
traduzida para os diversos idiomas e no Brasil, a Comissão de Terminologia Anatômica da
Sociedade Brasileira de Anatomia, filiada à FICAT, realizou a tradução e, sequencialmente,
publicou a primeira edição brasileira, em 2001. Esta é a última versão da Nomina Anatômica,
que tem validade até a próxima revisão (NOVAK et al. 2008).
Seguindo as recomendações da FICAT, algumas normas foram adotadas para
sua tradução, destacando-se: terminologia anatômica em latim e a tradução para o português ao
seu lado; tradução para o idioma desejada o mais próximo possível do original em latim, mas
adotando o termo na forma adjetiva, não se distanciando do original como, por exemplo: artéria
cerebral posterior e não artéria posterior do cérebro, devendo-se manter coerência e
harmonização dos termos nos vários segmentos (ABIB, 2005).
De acordo com Bezerra e Bezerra (2000), epônimo é o termo anatômico gerado
a partir do nome de uma pessoa. O epônimo visava homenagear o cientista que descobrisse ou
que primeiro descrevesse, por exemplo, um tendão (tendão de Aquiles = tendão calcâneo), um
ligamento (ligamento de Poupart = ligamento inguinal) ou um órgão qualquer (trompa de
Falópio = tuba uterina).
O autor acima coloca ainda que, o uso de epônimos era muitas vezes empregado
injustamente, haja vista que Poupart, por exemplo, não foi o primeiro a notar a existência do
ligamento inguinal.
Embora banidos da terminologia anatômica há dezenas de anos, continuam a ser
usados pelos médicos em suas especialidades e por diversos profissionais da área da saúde. Os
epônimos, por exemplo, Ligamento de Fallopio, Torcular de Herophilo, Polígono de Willis,
Trompa de Eustáquio, Ligamento de Poupart, de Thompson, de Henle, de Gimbernat, Canal
de Hunter, Linha de Spiegel, Arco de Douglas, etc., ainda são muito utilizados na nomenclatura
clinica e esta tem séculos de tradição de uso. A exclusão destes facilitará o uso do termo oficial
evitando-se maiores dificuldades (FORTES et al., 1968; SPENCE, 1991 e KOPF-MEIER, 2000
apud BEZERRA e BEZERRA, 2000; ABIB, 2005; BUSETTI e BUSETTI, 2005.).

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Sabe-se que pode soar como prolixa, complexa e detalhista a observação das
normas internacionais de escrita de termos médicos. Entretanto, o rigor e o respeito à norma
são primordiais para a consecução da dita Padronização Terminológica Anatômica, muito
embora essa “unificação” sofrerá, necessariamente, alterações ao longo dos anos (NOVAK et
al., 2008).
Em relação às dificuldades de concordância entre termos que designam a mesma
estrutura, Novak et al. (2008) ressaltam que para ratificar a utilidade de uma terminologia única,
pode-se ocorrer hesitações como, por exemplo, ao se escrever o nome da articulação entre o
metacarpal (ou metacarpeano?) e a falange proximal (ou primeira falange?). Seria
“metacarpofalângica” ou “metacarpofalangeana” ou “metacarpofalangiana”? Ou ainda, noutro
modelo, “semimembranoso”, “semi-membranoso”, “semimembranácio” ou
“semimembranáceo”? Ou então, músculo “supra-espinhal”, “supraespinhal, “supra-espinhoso”
ou “supra-espinal”?. Articulação “rádio-ulnar”, “radioulnar”, “radiulnar” ou “radioulnal”?.
Se existe dúvida é porque cada um tem seu modo de escrita e fala, baseando-se
no que vem passado das gerações anteriores e até mesmo, do próprio ensino na graduação.
Ninguém tem dúvida de que “rádio” é rádio, porque é dessa maneira que todo
mundo escreve. Mas alguns ainda têm dúvida se ulna é cúbito. Ou se patela é rótula. A
desculpa, que às vezes ouvimos, de que tanto faz escrever “infra-espinhoso” ou “infra-espinal”,
sob a alegação de que de qualquer forma o leitor entenderá, não pode prosperar. Se pensarmos
desse modo, o assalto à língua portuguesa estará institucionalizado e não mais será justo corrigir
quem escreve exceção com “ss”. A terminologia atual traz termos incomuns à nossa prática, que
embora existam em nosso léxico, não constam na Nomina Anatômica (BACELAR et al. 2004).
Vasquez e Cunha (2008) apontam os alunos das séries inicias da graduação nas
áreas da saúde como os mais prejudicados pela utilização de termos inespecíficos, epônimos e
sinônimos para as estruturas anatômicas.
Esse trabalho se justifica pela escassez de pesquisas nessa área, e pela importância
que a Terminologia Anatômica apresenta para os profissionais da educação física, por ser um
profissional que atua diretamente com o corpo humano, uma vez que os termos são universais e
devem ser utilizados corretamente, afim de globalizar o ensino e pesquisa.
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Tendo em vista a justificativa acima, o objetivo deste trabalho foi verificar a


utilização da terminologia anatômica por profissionais da educação física bem como ratificar e
informar a estes profissionais a ortografia dos termos científicos utilizada para designar as
estruturas macroscópicas do corpo humano.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, observacional e transversal. Antes da coleta


de dados, o projeto foi encaminhado para análise e parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do
Cesumar. Após a aprovação, os participantes foram informados sobre a pesquisa e os que
aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A população do estudo foi composta por profissionais da educação física. A
amostra foi selecionada de forma aleatória e constitui-se por 25 indivíduos, de ambos os gêneros
e de diferentes faixas etárias. O único critério de exclusão foi que os profissionais não atuassem
na docência do ensino superior ministrando a disciplina de anatomia humana. Como critério de
inclusão, os profissionais deveriam ser graduados e atuantes dentro da área da educação física.
A pesquisa foi realizada no próprio local de trabalho dos profissionais, sob a responsabilidade e
presença do pesquisador. O contato com os participantes da pesquisa foi único e o instrumento
foi auto-aplicativo, sendo composto por um questionário com questões fechadas, contendo o
gênero do pesquisado, idade, ano de conclusão da graduação e maior titulação.
Os profissionais foram questionados sobre o uso e a importância da terminologia
anatômica, bem como a respeito do conhecimento e utilização de termos anatômicos
selecionados pelo pesquisador. Após a devolução dos questionários, que aconteceu em
envelopes selados, os profissionais receberam a relação correta dos termos anatômicos
utilizados no questionário, conforme a última atualização da Terminologia Anatômica oficial.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

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FÍSICA

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os pesquisados, 14 eram do gênero masculino e 11 do gênero feminino,
com idade variando entre 20 e 49 anos, sendo 12 indivíduos entre 20 e 29 anos; 10 entre 30 e
39 anos e três entre 40 e 49 anos. Quanto à titulação, a pesquisa contou com nove graduados,
15 especialistas, um mestre e nenhum doutor ou pós-doutor. Ao serem questionados se os
mesmos possuíam publicações científicas, 10 responderam que sim e 15 responderam que não.
Por se tratar de publicações científicas, levantou-se a hipótese de que pelo menos
esses autores tenham assinalado as respostas corretas no que diz respeito às estruturas
solicitadas, pois os seus respectivos textos circulam nas mãos de outros pesquisadores,
acadêmicos e profissionais da área específica, e quanto mais erros de nomenclatura forem
divulgados e circularem pelas universidades e revistas, mais difícil será a sua correção e
normatização.
Quanto ao conhecimento da Terminologia Anatômica Internacional, 11
pesquisados relataram conhecer e utilizá-la; nove conhecem, mas não utilizam e cinco
desconhecem totalmente a sua existência, o que é de se preocupar quando se trata de um
profissional englobado na área da saúde, atuante diretamente com o corpo humano e suas
estruturas macroscópicas.
Nas aulas de anatomia no ensino superior, em qualquer segmento da área da
saúde, o docente deve salientar e explicar a existência da Terminologia Anatômica, assim como
abordar que deverá ser seguida uma nomenclatura única para cada estrutura macroscópica do
corpo humano. Sabe-se que nem todos os docentes de anatomia humana partilham dessa
“prática”, mas se fossem, com certeza teríamos melhores profissionais da saúde no mercado,
onde todos falariam a mesma língua em se tratando de estruturas anatômicas.
Sobre a sua relevância, 18 concordam que é relevante; seis relatam ser pouco
relevante e somente uma pessoa diz não apresentar relevância alguma, o que nos leva a refletir,
pois o número de pessoas que desconhecem a Terminologia Anatômica Internacional é maior
do que aqueles que não concordam com a relevância do tema e sua devida utilização, e além do
mais, se desconhecem, não teriam porque acharem relevante. 43
O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Foram pesquisados 10 estruturas macroscópicas, conhecidas e utilizadas pelos


profissionais da Educação Física, tendo quatro opções de resposta, sendo “não sei”, quando
desconhecida, dois nomes incorretos, de terminologia antiga ou simplesmente errada e a
terminologia correta.
Ao se questionar o nome da “Estrutura da parte interna da laringe”, 64% (16)
assinalou corretamente, colocando “Prega vocal” como resposta, porém 32% (8) relataram não
saber o nome da estrutura; 4% (1) erraram, ao assinalar “Corda Vocal” e nenhum assinalou
“Membrana Vocal”.
Essa estrutura é bem utilizada por médicos especialistas na área, fonoaudiólogos
e odontólogos. Mesmo médicos e dentistas tendo passado por no mínimo 5 árduos anos de
graduação, especializações, mestrados e doutorados, em alguns casos, muitos ainda utilizam o
termo popular “Corda Vocal”. Somos a favor de utilizar termos simples e não técnicos com os
pacientes e leigos, porém não nas publicações científicas e nos diálogos entre profissionais.
Quanto a “Massa de tecido nervoso localizado no interior do canal vertebral”, ou seja, a Medula
Espinal e não mais Medula Espinhal, somente 32% (8) conhecem o termo correto; a grande
maioria 68% (17) ainda acreditam que o termo correto seja Medula Espinhal. Ninguém
respondeu Espinhal Dorsal ou não sabiam o nome da estrutura questionada. Na prática, esta
estrutura é comumente chamada de Medula Espinhal.
A diferença é pequena, e é de somente uma letra “H” entre o “N” e o “A”, sendo
uma das causas que muitos ainda utilizam o termo antigo “Medula Espinhal” e não “Medula
Espinal”, sem o “H”. Nesses termos é aceitável o erro, pois sua pronúncia é muito semelhante.
Essa estrutura é a porção alongada do sistema nervoso central, é a continuação do encéfalo, que
se aloja no interior da coluna vertebral, no canal vertebral, ao longo do eixo crânio-caudal. Ela se
inicia na junção do crânio com a primeira vértebra cervical e termina entre a primeira e segunda
vértebra lombar do adulto, atingindo entre 44 e 46 centimetros de comprimento. Tem a função
de conduzir impulsos nervosos das regiões do corpo até o encéfalo, produzir impulsos e
coordenar atividades musculares e reflexos (DANGELO, 2007).

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

O “osso sesamóide que se articula com o fêmur” é a conhecida patela, um


pequeno osso situado sobre o fêmur e tíbia, promovendo o movimento de flexão e extensão do
joelho. Antigamente, esse osso era conhecido como Rótula e até os dias de hoje está nominação
é utilizada. Na pesquisa, 68% (17) dos pesquisados utilizam e conhecem a estrutura como
Patela, porém um número considerado de pessoas ainda insiste na utilização de Rótula e 20%
(5) simplesmente não sabem. Nenhum respondeu Rodilha como sendo o termo correto.
A patela é um pequeno osso com cinco centímetros de diâmetro, de formato
triangular, que se articula com o fêmur, cobrindo e protegendo a parte anterior da articulação do
joelho. Atua como um eixo para aumentar a alavanca do grupo de músculos que compõe o
quadríceps femoral, cujo tendão está fixado ao bordo superior da patela. É um osso curto, do
tipo sesamóide e apresenta uma camada de substância compacta revestindo a substância
esponjosa (CHOPARD, 2006).
Rótula é o termo antigo, anterior a patela, porém ainda é muito utilizado na
prática e está na língua também dos leigos. Esta estrutura é comumente utilizada pelos
profissionais da educação física, pois está diretamente relacionada com o movimento corporal,
também muito utilizada por médicos, principalmente ortopedistas e pelos fisioterapeutas.
O chamado Osso do Quadril, antigo Ilíaco, é o “osso da raiz do membro inferior que se articula
com o fêmur, superiormente”. Quando questionado, a maioria, 60% (15) achou que o termo
correto é ainda Ilíaco, contra somente 20% (5) que sabiam o termo correto (Osso do quadril).
Ninguém respondeu o termo Coxal e 20% (5) não sabiam o termo correto.
Ele é um osso localizado na base da coluna vertebral dos mamíferos. No homem,
o osso do quadril é formado a partir de três ossos, o ísquio, o púbis e o ílio, que se juntam com
a idade, mas no embrião são bem distinguíveis. O osso do quadril forma o esqueleto da pelve
(pelve óssea), junto com os ossos do sacro e cóccix. Uma de suas principais funções além da
sustentação é proteger o sistema reprodutor e o sistema digestivo inferiormente.
O próximo termo já foi trocado algumas vezes, gerando confusão até hoje para os
profissionais da saúde, e principalmente da educação física. Atualmente chamado de Latíssimo
do Dorso, foi anteriormente nominado de Grande Dorsal, e mais anteriormente ainda de
Latíssimo do Dorso novamente.
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Ele é um “músculo localizado na face posterior do tronco”, assim foi questionado


na pesquisa. Dos pesquisados, 48% (12), creêm que o termo correto seje ainda Grande Dorsal,
contra 44% (11) que assinalaram Latíssimo do Dorso, uma diferença insignificante, 8% (2)
acham que o termo correto é Longuíssimo do Dorso, sendo difícil de se ouvir na prática diária e
ninguém respondeu que não sabia. É um músculo que atua sobre os braços. A função deste
músculo é de adução, rotação interna e extensão do ombro.
O músculo localizado na face anterior do abdome é o Reto do Abdome, de
acordo com a Terminologia Anatomia atual. É um músculo par que corre verticalmente em
cada lado da parede anterior do abdome humano. Eles são dois músculos paralelos, separados
por uma faixa de tecido conjuntivo chamada de linha alba. Ele se estende da sínfise púbica
inferiormente ao processo xifóide e cartilagens costais inferiores, superiormente.
Já foi chamado de Reto Abdominal, mas foi mudado no último encontro da
Nomina Anatomica. Quatorzes profissionais (56%) pesquisados colocaram que Reto
Abdominal seria o termo correto para essa estrutura; dez (40%) utilizam o termo correto (Reto
do Abdome) e uma minoria (4%) disseram não saber o termo correto e nenhum respondeu
Abdominal como correto.
Vale salientar que, em nosso vernáculo não existe a letra “n” do final de
“Abdome”, ou seja, “Abdomen”, pois é assim que se ouve e se vê na prática diária. As pessoas
continuam utilizando o termo em latim.
Semimembranáceo, e não mais semimembranoso, é um músculo da face
posterior da coxa, localiza-se na região medial póstero-inferior da coxa próximo à articulação do
joelho, e posterior ao Músculo Grácil. Dos pesquisados, 16% (4) dos profissionais pesquisados
não souberam responder qual o termo correto (membranoso semimembranoso ou
semimembranáceo); 40% (10) ainda acreditam no termo antigo; não obtivemos como resposta o
termo “membranoso”.
Observa-se que são termos muito parecidos, o que é normal gerar confusão nos
profissionais ou ainda mesmo comodismo, ou seja, “qual a diferença em se pronunciar
semimembranoso ou semimembranáceo? as pessoas entenderão do mesmo jeito”.
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FÍSICA

Se todos pensarem assim, nunca conseguiremos falar a mesma língua anatômica


e universalizar o ensino e a pesquisa.
O corpo humano é dividido em sistemas, sendo um deles o Sistema Digestório,
termo correto para designar o “sistema dividido em canal alimentar e órgãos anexos”. Cinquenta
e dois porcento (13) conhecem e utilizam este termo, porém grande parte dos pesquisados, 36%
(9) ainda utilizam “Sistema Digestivo”. 12% (3) não souberam a resposta correta e nenhum
respondeu “Sistema Estomatognático”
O órgão da audição, segundo a Terminologia Anatomica atual é chamado de
Orelha. Não se utiliza mais o termo “ouvido”, pois confude-se com o verbo “ouvir”. Porém 40%
(10) ainda insistem em utilizar o termo incorreto (ouvido) e somente metade, 20% (5) utilizam o
termo correto (orelha). Uma quantia significante de pessoas, 32% (8) utilizam o termo “Pavilhão
auditivo”, algo incomum de se ouvir na prática e 8% (2) não sabem o termo correto.
O “tendão formado pela convergência das fibras dos músculos gastrocnêmio e
sóleo” é chamado de Tendão do Calcâneo, segundo a atual Terminologia Anatômica. Ao se
questionar aos pesquisados, 68% (17) assinalaram a opção correta; 20% (5) ainda acreditam que
o termo correto é Tendão de Aquiles; 4% (1) responderam Tendão do Gastrocnêmio e 8% (2)
não sabem o nome desta estrutura.
Segundo Bezerra (2000), o antigo Tendão de Aquiles é hoje denominado como
Tendão do Calcâneo. É o tendão conjunto de inserção dos músculos gastrocnêmio e sóleo no
osso calcâneo. O antigo nome deriva do fato de Aquiles haver sido seguro pelos tornozelos, ao
ser mergulhado no lago batismal. Como a água benta não entrou em contato com o tendão
calcâneo, essa parte do corpo ficou vulnerável. Na Guerra de Tróia, Aquiles foi posto fora de
combate após ter tido seu tendão calcâneo transfixado por uma flecha, disparada pelo guerreiro
Paris.
Na prática do pesquisador, como profissional de educação física e acadêmico do
curso de fisioterapia, esse termo é o mais utilizado incorretamente. É utilizado na prática tanto
com profissional/profissional como profissional/cliente e terapeuta/paciente. Mesmo o tendão
estando localizado na região do calcâneo e óbvio o termo dado a ele, as pessoas insistem no uso
do epônimo, Aquiles. 47
O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

CONCLUSÃO
Percebeu-se, portanto, que muitos termos ainda continuam sendo utilizados
incorretamente quando se considera a Terminologia Anatômica. Os profissionais da educação
física atuam diretamente com estas estruturas, principalmente as que correspondem ao sistema
músculo esquelético, como ossos (patela, osso do quadril), músculos (semimembranáceo,
latíssimo do dorso), articulações e tendões (tendão do calcâneo), pois são os responsáveis pelo
movimento humano. Esta divergência de termos faz com que o ensino, a pesquisa e até o
diálogo entre os profissionais e profissional/cliente fique confuso.
Apesar da Terminologia Anatômica Internacional não ser do agrado de todos e
continuar apresentando algumas deficiências, seu uso é de enorme utilidade, já que permite
facilitar e universalizar a comunicação entre os profissionais da educação física e profissionais da
saúde em geral, além de pesquisadores, docentes e estudantes.
Para obterem-se resultados ainda mais precisos, seria pertinente uma pesquisa
composta por uma amostra maior, contando com a presença de mestres, doutores, pós-
doutores e se possível, uma breve comparação entre profissionais de diversas áreas da saúde ou
até mesmo entre graduados e estudantes.

Referências Bibliográficas

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Brasileiro de Oftalmologia. V. 2, n. 68, p, 273-276, 2005.

BACELAR, S; GALVÃO, C.C.A.T; TUBINO, P. Expressões Médicas errôneas: erros e


acertos. Acta Cirúrgica Brasileira. V.19, n.5, p.582-584, 2004.

BEZERRA, A.J.C; BEZERRA, R.F.A. Epônimos de uso corrente em Anatomia Humana: um


glossário para Educadores Físicos. Revista Brasileira de Ciências e Movimento. V.8, n.3, p.47-
51, 2000a

BEZERRA, A.J.C.; BEZERRA, R.F.A.; DI DIO, L.J.A. Brasil 500 anos: nomenclatura
anatômica de um jesuíta no tempo do descobrimento. Revista da Associação Médica Brasileira.
V. 2, n. 46, p.186-190, 2000b 48
O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA POR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

BUSETTI, J. H.; BUSETTI, M.P. A nomenclatura anatômica e a sua importância. Arquivos


da Faculdade de Medicina do ABC, 2005.

CHOPARD, R.P. Anatomia: conceito e introdução ao estudo. In: Neto, Marcílio Hubner de
Miranda (orgs.). Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Ed. Clichetec, 2006, p.
7-16.

DANGELO, J.G; FATTINI, C.A. Anatomia Humana: sistêmica e segmentar. São Paulo:
Ed.Atheneu, 2007.

DI DIO, L.J.A. Lançamento Oficial da Terminologia Anatomica em São Paulo: uma marco
histórico para a medicina brasileira. Revista da Associação Médica Brasileira, N.43, n.3, p.191-
193, 2000.

NOVAK, E.M.; GIOSTRI, G.S.; NAGAI, A. Terminologia Anatômica em Ortopedia. Revista


Brasileira de Ortopedia. V. 4, n.43, p. 103-107, 2008.

VASQUEZ, C.U.; CUNHA, R.S. Fundamentos para la utilizacion da terminoloia anatomica.


Kinesiologia, V.27, n.2, p.45-50, 2008.

Daniel Vicentini de Oliveira


Discente do Curso de Pós-Graduação
em Anatomia Funcional
CESUMAR
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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original

MÚSCULO PRONADOR REDONDO E NERVO MEDIANO:

ESTUDO ANATÔMICO DAS CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES

ANATÔMICAS
Mauricio Tabajara Almeida Borges1, Luiz Antonio Alves Filho2, Angelica Castilho Alonso3,

Carlos Bandeira de Mello Monteiro4, Valdemir Rodrigues Pereira5


1 Técnico em Radiodiagnóstico e Fisioterapeuta Especialista em Anatomia Macroscópica e por Imagem e Especialista em

Fisioterapia Neurofuncional; mta.borges@gmail.com; 2Fisioterapeuta Especialista em Anatomia Macroscópica e por Imagens;

luizfizio@uol.com.br ; 3Profissional da Educação Física e Fisioterapeuta, Doutora em Ciências pelo Departamento de

Fisiopatologia Experimental – FMUSP e pesquisadora do laboratório do Estudo do Movimento- LEM-IOT-HC-FMUSP, São

Paulo – SP.; angelicacastilho@msn.com ; 4 Profissional da Educação Física e Fisioterapeuta, Professor Doutor do curso de

Ciências da Atividade Física da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP);

carlosfisi@uol.com.br ; 5 Fisioterapeuta, Professor Mestre do curso de Pós Graduação em Anatomia Macroscópica e por

Imagens do Centro Universitário São Camilo; val.morf@uol.com.br

RESUMO

O nervo mediano (n.M) e o músculo pronador redondo (m.PR) são


freqüentemente descritos na literatura por sua importância clínica e suas variações anatômicas
estão correlacionadas a compressões e alterações sensório motoras no antebraço e na mão.
Objetivo: verificar e correlacionar as variações anatômicas do n.M com o m.PR em nossa
população, através de dissecações, considerando o trajeto do nervo, os tipos de fibras desse
músculo, lateralidade, grupo étnico e gênero.

Métodos: foram selecionados 15 cadáveres e após realizado a dissecação de 30 membros,


através de materiais e protocolos pré estabelecidos pelo laboratório do Centro Universitário
São Camilo e Escola Paulista de Medicina.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: MÚSCULO PRONADOR REDONDO E NERVO MEDIANO: ESTUDO ANATÔMICO DAS

CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

As dissecações foram restritas à região do antebraço, no terço médio e mais


detalhadamente na sua porção proximal, tomando-se as medições das peças e das relações entre
elas, especificamente do m.PR e do n.M, bilateralmente. Com esse estudo concluímos que o
nervo mediano atravessa as fibras da cabeça ulnar do m.PR na maioria dos membros com
variações, (53,0%), assim como também é maioria (30,0%) do total de membros estudados.
A cabeça umeral do m.PR não apresenta variações quanto ao tipo de fibras
musculares, enquanto a cabeça ulnar apresenta variação em 33,3% dos casos, sendo observadas,
com maior freqüência, as fibras mistas representando 26% dessas variações. Houve predomínio
porcentual das variações do n.M transpassando o ventre da cabeça ulnar do m.PR no grupo
étnico dos não brancos, sendo que essas variações ocorreram em maior número bilateralmente.
O membro superior direito apresentou-se com maior número de variações anatômicas, 52,9%
do total de membros superiores com variações. Com predomínio do n.M passando atrás da
cabeça ulnar do m.PR.

Palavras chaves: Anatomia; nervo mediano; músculo pronador redondo, variações anatômicas.

Keywords: Anatomy; median nerve, the pronator teres muscle, anatomical variations.

INTRODUÇÃO
O nervo mediano (n.M) tem um trajeto considerado normal quando assim passa
pelo músculo pronador redondo (m.PR) entre as suas duas cabeças. Tal músculo tem sua
inserção proximal no processo coronóide da ulna e no epicôndilo medial do úmero, suas
cabeças são denominadas Umeral e Ulnar e tem sua fixação distal no terço médio do rádio. Há
relatos encontrados na literatura que tanto o n.M quanto o m.PR podem apresentar
comportamento variados sendo o primeiro em seu trajeto e o segundo na sua composição
morfológica1-7.

51
O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: MÚSCULO PRONADOR REDONDO E NERVO MEDIANO: ESTUDO ANATÔMICO DAS

CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

Traumas na região cubital, hipertrofia muscular e faixas fibrosas podem levar a


alterações motoras e sensoriais assim conhecida como a Síndrome do Pronador Redondo
(SPR). Nessas condições podem levar indivíduos a apresentarem dor à palpação na face
proximal da região anterior do antebraço se as atividades envolverem movimentos repetidos do
cotovelo e pronação do antebraço com carga8-9.
Outras causas também apontadas na SPR é a compressão do n.M entre as fibras
musculares da cabeça ulnar do m.PR com o arco do m. flexor superficial dos dedos em sua
inserção proximal (faixa de fibras anormais no arco citado, também chamado de “Ponte
Sublimis”) e o ligamento de Struthes (ligamento entre o processo supra condilar e o epicondilo
medial do úmero formando um túnel osteofibroso) 10-12 . A maioria dos trabalhos, até então
publicados, são de origem internacional e trazem pouca informação quanto às variações
anatômicas em nossa população, justificando assim a pesquisa. Também não fazem correlações
quanto ao grupo étnico, prevalência quanto ao lado e ao gênero.
Este trabalho tem como objetivo descrever e correlacionar as informações quanto
às variações do n.M e do m.PR, confirmar as variações já pesquisadas em trabalhos publicados,
levantar dados das posições relativas entre essas estruturas e apurar as suas medidas em
amostras de indivíduos da população brasileira, em função do sexo, grupo étnico e lateralidade.

MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa, realizada nos laboratórios de
Anatomia Humana do Centro Universitário São Camilo e na Escola Paulista de Medicina, após
autorização, consentimento e supervisão dos professores responsáveis pelos respectivos
laboratórios e curso.
A pesquisa foi dividida em duas etapas sendo a primeira com a seleção e
dissecação de 15 cadáveres de nacionalidade brasileira, sendo 10 desses pertencentes ao
laboratório de anatomia do Centro Universitário São Camilo, Campus Ipiranga e 05
pertencentes à Escola Paulista de Medicina. Em seguida realizamos levantamento de dados com
relação ao gênero, grupo étnico e idade aproximada dos cadáveres.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original: MÚSCULO PRONADOR REDONDO E NERVO MEDIANO: ESTUDO ANATÔMICO DAS

CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

Na segunda etapa foram realizadas dissecações em 30 Membros Superiores e


durante o procedimento foram quantificadas, qualificadas, mensuradas e fotografadas as
estruturas e as variações encontradas.
As medições das secções transversais dos nervos e de seus ramos foram tomadas
em sua maior amplitude, obedecendo aos pontos previamente estabelecidos pelo Protocolo de
Pesquisa.
As medições do ventre muscular da cabeça Umeral do m.PR foram realizadas
obtendo-se as dimensões, ântero-posterior e látero-lateral do ventre muscular na região em que
tangencia o n.M, na sua porção mais proximal.
A Linha Articular, linha imaginaria entre os dois epicôndilos do Úmero, foi
identificada com uma linha de cordone branco para facilitar a visualização e dar melhor rigor
para as medições das distancias entre esta linha imaginaria e as derivações do n.M para
enervações das cabeças Umeral e Ulnar do m.PR, assim como a distancia da Linha Articular ao
arco tendinoso do m. Flexor Superficial dos Dedos, “Ponte Sublimis”.
Foram excluídos da pesquisa os cadáveres que apresentavam qualquer
impossibilidade de realizar a pesquisa de forma bilateral.

RESULTADOS

Os 15 cadáveres dissecados na pesquisa são todos de nacionalidade brasileira e


adultos. Os grupos étnicos e respectivas participações na pesquisa foram de 08 cadáveres não
brancos, (53,3% do total), e de brancos, 07 cadáveres (46,7% do total). O gênero predominante
foi o masculino com 13 cadáveres, (86,6%) e 2 do gênero feminino,(13,4%).
Em relação aos 30 membros estudados e o traçado do n.M com as cabeças do
m.PR e suas variações, (Tabela-1), apurou-se que em 13 membros não foi encontrada qualquer
variação, conforme parâmetros topográficos citados na literatura, (43,3% do total). Em 17
membros foi encontrado algum tipo de variação, (56,7% do total).

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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

Desses 17 membros, 08 apresentaram o n.M posterior às duas cabeças do m.PR,


(47,0% dos 17 membros com algum tipo de variação) e 26,7% do total dos 30 membros
estudados e ainda, desses 17 casos que apresentaram algum tipo de variação, foram encontrados
09, nos quais o n.M transpassa o ventre da cabeça Ulnar. (Figura-1).
Em relação às fibras musculares das cabeças Umeral e Ulnar do m.PR, apurou-se
que a cabeça umeral do m.PR foi encontrada nos 15 cadáveres apresentando em todos eles
fixações proximais e distais regulares, com os seus ventres constituídos de fibras musculares. A
cabeça Ulnar foi encontrada nos 15 cadáveres onde 14 deles, (93,3%), as suas inserções,
bilateralmente, foram encontradas com topografia regular, sendo que em 1 dos 15 cadáveres,
(6,6%), a inserção distal foi encontrada, bilateralmente, ligeiramente mais proximal, destacando-
se parcialmente da inserção distal da cabeça Umeral. Em 3 cadáveres, (20,0%) dos 15
estudados, foram encontradas, bilateralmente, fibras mistas no ventre muscular e em 1 outro
cadáver, (6,6%), foi encontrada, unilateralmente, fibras mistas. (Figura-2)
Com relação ao grupo étnico e a ocorrência de variações do trajeto do n.M em
relação ao m.PR, dos 08 cadáveres de indivíduos não brancos, (53,3%), foi constatado que em
03, (37,5%), não se observou qualquer variação. Em 02, (25,0%), o n.M transpassava o ventre da
cabeça Ulnar bilateralmente. Em 01, (12,5%) apresentava o n.M passando posterior às duas
cabeças do m.PR, bilateralmente. Em 01, (12,5%), apresentava o n.M posterior às duas cabeças
do m. PR, em um dos membros, e no outro membro transpassando a cabeça Ulnar. Em 01,
(12,5%), apresentava o n.M transpassando a cabeça Ulnar, em um dos membros, e no outro
membro sem variação.
Já no grupo étnico branco 07 cadáveres (46,7%), foram constatados que em 02
(28,5%) apresentaram qualquer variação, bilateralmente. Em 02, (28,5%), apresentavam o n.M
transpassando a cabeça Ulnar, em um dos membros, e no outro membro, sem variação. Em 01
(14,3%), apresentava o n.M transpassando o ventre da cabeça Ulnar bilateralmente. Em 01
(14,3%) apresentava o n.M passando posterior às duas cabeças do m.PR, bilateralmente. Em 01
(14,3%) apresentava o n.M posterior às duas cabeças do m. PR, em um dos membros, e no
outro membro, transpassando a cabeça Ulnar.

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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

Com relação ao gênero e a ocorrência de variações no trajeto do n.M em relação


ao m.PR dos 13 cadáveres de indivíduos do gênero masculino foi constatado que em 05
cadáveres (38,4%) não se constatou qualquer variação. Em 02 (15,4%) constatou-se o n.M
passando posterior às duas cabeças do m.PR, bilateralmente. Em 02 (15,4%) constatou-se o n.M
transpassando o ventre da cabeça Ulnar, bilateralmente. Em 02 (15,4%) constatou-se o n.M
posterior às duas cabeças do m. PR, em um dos membros e no outro membro transpassando a
cabeça Ulnar. Em 02 (15,4%) constatou-se o n.M transpassando a cabeça Ulnar, em um dos
membros e no outro membro sem variação.
Entre os 02 cadáveres de indivíduos do gênero feminino foi constatado que em
01 cadáver (50,0%) o n.M transpassando o ventre da cabeça Ulnar bilateralmente. Em 01
cadáver (50,0%) constatou-se, em um dos membros, o n.M posterior às duas cabeças do m. PR
e no outro membro, transpassando a cabeça Ulnar.
Na variação quanto a lateralidade no trajeto do n.M em relação ao m.PR
constatou-se que dos 15 cadáveres, 05 (33,4%) não apresentaram qualquer variação, 07 (46,6%)
apresentaram variação bilateral e 03 (20,0%) apresentaram variação em um dos membros, sendo
01 caso em que o n.M transpassa o ventre da cabeça Ulnar e 02 casos em que o n. M está
posterior às cabeças do m.PR. Os 10 cadáveres com variações, apresentaram alterações em 09
dos seus membros superiores direitos e 08 dos seus membros superiores esquerdos.
Tabela1. Variações do n.M – Relativa ao seu traçado e as cabeças do m.PR

PP Cadáver MS Variação Anatômica: Variação Anat.:


Traçado do n. M. Ramos do n.M. p/ m.PR
01 009 E Posterior às cabeças do m.PR Visualização prejudicada
02 009 D Posterior às cabeças do m.PR Visualização prejudicada
03 006 E Sem Variações Sem Variações
04 006 D Sem Variações Sem Variações
05 014 E Sem Variações Sem Variações
06 014 D Sem Variações Visualização prejudicada
07 013 E Posterior às cabeças do m.PR Sem Variações
08 013 D Transpassa ventre da cab. ulnar Visualização prejudicada
09 011 E Sem Variações Sem Variações
10 011 D Posterior às cabeças do m.PR Sem Variações
11 002 E Sem Variações Sem Variações
12 002 D Sem Variações Sem Variações
13 016 E Transpassa ventre da cab. ulnar Origem acima da linha
articular p/ as duas cabeças
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14 016 D Sem Variações Visualização prejudicada
07 013 E Posterior às cabeças do m.PR Sem Variações
O ANATOMISTA Transpassa ventre da cab. ulnar Ano 3, Vol ume
Visualização 2, Abril-Junho, 2012
prejudicada
08 013 D
09 011 E Sem Variações Sem Variações
10Original:
011 MÚSCULO Posterior às cabeças do m.PR
D PRONADOR Sem Variações
Artigo REDONDO E NERVO MEDIANO: ESTUDO ANATÔMICO DAS
11 002 E Sem Variações Sem Variações
12 002 Sem Variações
D CORRELAÇÕES Sem Variações
E VARIAÇÕES ANATÔMICAS
13 016 E Transpassa ventre da cab. ulnar Origem acima da linha
articular p/ as duas cabeças
14 016 D Sem Variações Visualização prejudicada
15 004 E Sem Variações Sem Variações
16 004 D Posterior ás cabeças do m.PR Visualização prejudicada
17 017 E Transpassa ventre da cab. ulnar Sem Variações
18 017 D Transpassa ventre da cab. ulnar Sem Variações
19 005 E Transpassa ventre da cab. ulnar Visualização prejudicada
(fibras musculotendíneas)
20 005 D Posterior às cabeças do m.PR Visualização prejudicada
21 008/ E Transpassa ventre da cab. ulnar Visualização prejudicada
2003
22 008/ D Transpassa ventre da cab. ulnar Ramo da cab. umeral origem
2003 n.M mais medializado à f.C acima da linha articular.
23 011/ E Transpassa ventre da cab. Ulnar Ramo da cab. umeral origem
2002 Mediano à f.C. acima da linha articular.
24 011/ D Transpassa ventre da cab. ulnar Ramos duplos para cada
2002 Mediano à f.C. cabeça do m.PR
25 010/ E Posterior às cabeças do m.PR Cabeça umeral visualização
2002 Mediano à f.C. prejudicada. Cabeça Ulnar
sem variações.
26 010/ D Posterior às cabeças do m.PR Origem p/ cabeças derivam
2002 do mesmo ponto do n.M
27 01/99 E Sem Variações Sem Variações
28 01/99 D Sem Variações Ramo da cabeça umeral
acima da linha articular.
29 007/2004 E Sem Variações Visualização prejudicada
30 007/2004 D Sem Variações Visualização prejudicada

Legenda: PP = Protocolo de Pesquisa; MS = Membro Superior; f.C. = fossa cubital

Cabeça ulnar do m.PR Cabeça umeral do m.PR

n.M

Figura 1 – n.M transpassando a cabeça Ulnar do m.PR


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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS


Fibras tendíneas Fibras musculares

Figura 2 – cabeça Ulnar do m.PR apresentando fibras mistas

DISCUSSÃO

Nos trabalhos pesquisados os autores não relatam sobre as variações anatômicas


do n. M e a relação com m.PR em a nossa população, a exceção de 01 autor5-6 que desenvolve
este estudo profundamente, porém, não estabelece uma correlação quanto ao grupo étnico, à
lateralidade e ao gênero.
Observou-se nos cadáveres pesquisados que em 17 de seus membros (56,7%)
foram encontradas variações no trajeto do n.M com relação ao m.PR, confirmando algumas das
variações descritas na literatura3-4. Porém constatamos valores porcentuais superiores aos já
relatados1, 10, 13.
Dentre as variações pesquisadas, o trajeto mais freqüente do n.M descrito na
literatura3-4 é aquele em que o n.M passa entre as fibras da cabeça Umeral do m.PR. Nesse
estudo, foi observada uma predominância do n.M transpassando as fibras da cabeça Ulnar.
Esses dados encontrados em nossa pesquisa corroboram com WIGGINS (1982),
que descreve a possível ocorrência da SPR quando o n.M em seu trajeto apresenta variação com
o m.PR quando esse nervo passa entre as fibras da cabeça ulnar.

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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

As variações apontadas por autores 5, 6, 7, 13 com relação à cabeça umeral do


m.PR, não foram encontradas nos 15 cadáveres estudados nesse trabalho, sendo encontradas as
duas cabeças em 100% dos casos, tanto nas inserções proximais como distais e também quanto
as suas características miotendíneas.
Observou-se que a cabeça Ulnar do m.PR teve um maior índice de variações,
onde em 04 cadáveres (26,6%) observou-se fibras mistas, bilateralmente. A cabeça ulnar
mostrou-se também presente em 100% dos casos pesquisados, ocorrendo assim, dados
diferentes, se comparados com a literatura pesquisada5-14, onde a cabeça umeral é apontada
como predominante nas variações musculares. Segundo STABILLE (2002) essas variações do
m.PR podem levar à SPR, porém a ocorrência de variação da cabeça ulnar leva a dados
adicionais para a ocorrência dessa Síndrome.
Observou-se no grupo étnico dos cadáveres pesquisados um predomínio de
variação do grupo não brancos sendo 08 indivíduos (53,3%) com variação no trajeto do n.M,
onde observamos o n.M transpassando o ventre da cabeça ulnar do m.PR de forma bilateral na
maioria dos casos. Em relação ao grupo étnico branco, 07 indivíduos (46,7%) apresentaram
variação, sendo a mais freqüente o n.M transpassando o ventre da cabeça ulnar unilateral. Não
encontramos em toda literatura pesquisada correlações quanto ao grupo étnico, assim podemos
atribuir uma tendência maior para a ocorrência da SPR ao grupo não branco.
Quanto ao gênero dos cadáveres, a variação anatômica do n.M com relação ao
m.PR, foi encontrado em todos os casos do gênero feminino, 02 cadáveres, e de incidência
bilateral. Dos 13 cadáveres do gênero masculino, em 08 cadáveres (61,5%) foram encontrados
diferentes tipos de variações anatômicas, e nos outros 05 cadáveres restantes (38,5%) não foi
observado nenhum tipo de variação.
Apesar das variações estarem presentes em 100% dos casos no gênero feminino,
o número de cadáveres femininos foi reduzido, não sendo possível estabelecer correlações
significativas quanto ao predomínio entre os gêneros dos cadáveres pesquisados, o que,
possivelmente, justifica a ausência dessa informação na literatura pesquisada.

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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

Com relação à prevalência de variação anatômica quanto à lateralidade observou-


se que dos 15 cadáveres, 10 deles (66,6%) apresentaram variações, sendo que 07 apresentaram
variações bilaterais (46,6%), e outros 03 cadáveres apresentaram variação em um dos membros
(20%). Nesses 10 cadáveres que apresentaram variações, em 09 de seus membros superiores
direitos e 08 de seus membros superiores esquerdos, o n.M apresentou variação quanto ao
trajeto, representando, portanto, um discreto predomínio do lado direito. Esses 17 membros
com variações representam 56,6% do total de 30 braços estudados. Quando a variação
anatômica observada aconteceu de forma unilateral, 03 cadáveres, o membro superior direito
foi o mais freqüente, ou seja, 02 membros superiores direito apresentaram variação anatômica
com relação ao trajeto no n.M, contra 01 membro superior esquerdo.

CONCLUSÕES

Com esse estudo concluímos que o nervo mediano atravessa as fibras da cabeça
ulnar do m.PR na maioria dos membros com variações, (53,0%), assim como também é maioria
(30,0%) do total de membros estudados.
A cabeça umeral do m.PR não apresenta variações quanto ao tipo de fibras
musculares, enquanto a cabeça ulnar apresenta variação em 33,3% dos casos, sendo observadas,
com maior freqüência, as fibras mistas representando 26% dessas variações.
Houve predomínio porcentual das variações do n.M transpassando o ventre da
cabeça ulnar do m.PR no grupo étnico dos não brancos, sendo que essas variações ocorreram
em maior número bilateralmente.
O membro superior direito apresentou-se com maior número de variações
anatômicas, 52,9% do total de membros superiores com variações. Com predomínio do n.M
passando atrás da cabeça ulnar do m.PR.

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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

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dois feixes do músculo pronator teres em feto humano. Coimbra, Fol. Anat. Univ. Conimbr.,
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13. DANGELO, J. G. ; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2ª ed. São
Paulo : Atheneu, p. 304, 2000.
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CORRELAÇÕES E VARIAÇÕES ANATÔMICAS

14. BARRETT, J.H. An additional (third and separate) head of the pronator teres muscle. J.
Anat., Cambridge,. v.70, p. 577-578, 1936.

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O ANATOMISTA Ano 3, Vol ume 2, Abril-Junho, 2012

Artigo Original

IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE

MULTIPARIDADE, E AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS

LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS


MOISÉS APARECIDO VALENTE1, NATHÁLIA FERNANDES1, RENATO RIBEIRO

NOGUEIRA FERRAZ2
1Graduando do curso Ciências Biológicas da Universidade Nove de Julho – UNINOVE; 2Biólogo, Mestre e Doutor em

Ciências Básicas pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Pedagogo pela UNINOVE. Docente do Departamento

de Saúde da UNINOVE - renato@nefro.epm.br

RESUMO

Introdução: A identificação de nuliparidade ou multiparidade em úteros humanos requer tanto


habilidades práticas quanto conhecimentos teóricos em Anatomia Humana. A capacitação de
indivíduos incumbidos desta avaliação deve passar por um minucioso treinamento com respeito à
Anatomia de úteros humanos, que deve se iniciar nos laboratórios de Anatomia, ainda no
período de Graduação. Objetivo: Quantificar a ocorrência de nuliparidade e multiparidade em
úteros humanos isolados ou in situ. Método: Trata-se de um estudo descritivo e de abordagem
quantitativa, realizado nos laboratórios de Anatomia de uma Universidade particular da cidade de
São Paulo - SP. Os espécimes foram avaliados baseando-se na presença ou não do istmo e no
formato do óstio uterino. Resultados: Entre os 56 úteros avaliados, foram identificadas 34 peças
(61% da amostra) com óstio fendido, 18 peças (32%) com óstio circular e 4 peças (7%) com
óstios inclassificáveis. Com relação ao istmo, este se mostrou presente em 44 úteros (78% da
amostra), ausente em 10 úteros (18%) e inclassificável em 2 espécimes (4% do total). Dos úteros
avaliados, 18 deles (32%) pertenciam à nulíparas e 34 deles (61% do total) pertenciam à
multíparas. Quatro espécimes (7% do total) não puderam ser avaliados. Conclusão: A escassez de
informações disponíveis na literatura sobre a predominância de úteros de nulíparas ou multíparas
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Artigo Original: IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE MULTIPARIDADE, E

AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

disponíveis para estudo prático nos laboratórios de Anatomia das Universidades brasileiras
demonstra que o treinamento de alunos com relação à identificação de variações anatômicas
permite conhecer melhor alguns aspectos morfológicos dos úteros humanos, colaborando com
importantes informações que podem servir de base didático-pedagógica no ensino da Anatomia,
além de contribuir para o ensino de condutas forenses e médico-cirúrgicas.

Descritores: Útero; Nulípara; Multípara; Óstio; Istmo.

INTRODUÇÃO

O sistema genital feminino é composto por um conjunto de órgãos com funções


bastante distintas. Estes órgãos são encarregados pelo armazenamento e amadurecimento dos
gametas femininos (ovários), responsáveis pela recepção dos gametas masculinos durante a
cópula (vagina), responsáveis também por fornecer o local para a ocorrência da fecundação e
manutenção da gestação, além de encarregados de expulsar o feto quando este chega a termo
(útero). Do ponto de vista da reprodução, o organismo feminino possui órgãos um tanto
complexos quanto à sua Fisiologia, em especial pelo fato de, como dito, abrigar e propiciar o
desenvolvimento do novo ser vivo1.

O termo “reprodução” refere-se tanto à formação de novas células para o


crescimento dos tecidos, reparo ou substituição, quanto à produção de um novo indivíduo. O
processo ocorre continuamente ao longo da vida. No organismo humano, a reprodução com o
intuito de gerar um novo ser requer a presença de gametas masculinos e femininos. A
fecundação corresponde ao momento em que um ovócito maduro é fecundado por um único
espermatozóide, ocorrendo na ampola da tuba uterina 2,3.

Em humanos, a reprodução sexuada é o processo pelo qual os organismos geram


sua prole. No processo, ocorre a fusão do pró-núcleo masculino (presente no espermatozóide)
ao pró-núcleo feminino (presente no ovócito maduro), caracterizando a ocorrência da
fertilização (ou fecundação).
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Artigo Original: IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE MULTIPARIDADE, E

AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

Este processo resulta na formação de uma célula contendo o conjunto de


cromossomos de cada progenitor, sendo que cada um contribui com metade da informação
genética necessária para dirigir o desenvolvimento do novo ser humano2, 3.
O aparelho genital feminino é formado por órgãos internos e externos. Ao
conjunto dos órgãos genitais externos dá-se o nome de vulva. Esta é constituída pelo monte do
púbis, pelos lábios maiores e menores do pudendo, pelo vestíbulo da vagina (cavidade menor
que antecede a cavidade vaginal, delimitada pelos lábios menores do pudendo, e onde se abre o
óstio da vagina), e pelo clitóris (encontrado logo na porção superior do vestíbulo). Embora a
uretra se abra no vestíbulo da vagina, ela não pertence ao sistema genital, mas sim ao sistema
urinário. Os órgãos genitais internos são a vagina, os ovários, as tubas uterinas e útero2-5.
A função básica da vagina é permitir a entrada e saída do pênis durante o
processo de cópula, e também a saída do feto na vigência de parto natural. Também permite a
eliminação do endométrio, que “descola” do útero durante a menstruação. Os ovários têm a
função de armazenamento, amadurecimento e eliminação dos ovócitos, além de funcionar
como uma verdadeira glândula endócrina, produzindo principalmente estrogênios e progestinas,
responsáveis pela maturação sexual e manutenção do endométrio, em resposta à liberação de
hormônios hipotalâmicos. As tubas uterinas atuam como vias condutoras tanto dos
espermatozóides em direção à sua ampola, quanto do ovócito maduro em direção a esta mesma
ampola, visando à fertilização. Ainda, transportam o zigoto desta ampola até o útero, onde este
se implantará. Por sua vez, o útero terá a função de abrigar e propiciar a nutrição e
desenvolvimento interno do embrião e, a seguir, do feto, até o nascimento. Durante os ciclos
reprodutivos, quando não ocorre a implantação, o útero é a fonte do fluxo menstrual, que
corresponde ao deslocamento da camada funcional de sua parede mais interna, denominada
endométrio 2-7.
Situado na parte anterior da cavidade pélvica, e envolvido pelo ligamento largo, o
útero tem em geral a forma de uma pêra invertida, achatada no sentido ântero-posterior, e que
apresenta em sua estrutura três camadas distintas: o endométrio, que sofre modificações

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Artigo Original: IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE MULTIPARIDADE, E

AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

estruturais de acordo com a fase do ciclo reprodutivo ou da gravidez; o miométrio, constituído


basicamente por fibras musculares lisas, que forma a maior parte da parede uterina; e o
perimétrio, que corresponde à camada mais externa do útero, formado pelo peritônio visceral
que recobre o órgão. O perimétrio, pelo crescimento da região ístmica, desprende-se do
miométrio, favorecendo seu deslocamento durante a prática da histerotomia segmentar na
cesárea1–9.
O útero varia de forma, tamanho, posição e estrutura. Estas variações dependem
da idade, do estado de plenitude ou vacuidade da bexiga, da anatomia do reto e, sobretudo, do
estágio da gestação. O útero não grávido pode variar de 7 a 8 cm de comprimento no eixo
longitudinal, 5 a 7 cm de largura em sua porção superior, e 2 a 3 cm de espessura, com
capacidade aproximadamente menor do que 10 ml. Na gravidez, a capacidade uterina pode
chegar a 5.000 ml, ou mesmo a 10.000 ml em situações especiais, como gestação múltipla ou
hidrâmnio1-8,10.
Anatomicamente, o útero pode ser dividido em quatro partes principais: fundo
do útero, corpo do útero, ístmo do útero e cervix ou colo do útero1-8, 10, 11. Quando visto
lateralmente, mostra-se curvado anteriormente sobre si mesmo, de modo que o corpo angula
com relação ao colo do útero: diz-se que o útero está em anteflexão. O longo eixo do colo
forma um ângulo de cerca de 90º com o longo eixo da vagina, caracterizando-se anteversão.
Com o enchimento da bexiga, o útero pode se retroverter, isto é, voltar-se
superior e posteriormente, o que pode ocorrer em certa porcentagem de mulheres, mesmo com
a bexiga vazia1.
O corpo do útero se comunica bilateralmente com as tubas uterinas. A porção
uterina que fica acima da desembocadura das tubas uterinas é o fundo do útero, ladeado pelos
cornos do útero, direito e esquerdo, que são os ângulos superolaterais do corpo uterino,
correspondentes às entradas das tubas uterinas. O corpo do útero estende-se até o istmo que,
quando presente, possui algo em torno de 1 cm ou menos. A ele segue-se o colo do útero, que
faz projeção na vagina, comunicando-se com essa pelo óstio do útero. Esse óstio, algumas vezes
em forma de fenda e outras em formato circular, apresenta dois lábios, o anterior e o posterior1.

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AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

A forma do óstio do útero, e mesmo a forma de seus lábios, além da ausência, presença e
extensão do istmo, sofre variações com a idade, com a fase gestacional, e com a nuliparidade ou
multiparidade1.
O colo uterino é a porção fibromuscular inferior do útero e varia de tamanho e
formato de acordo com a idade da mulher, da paridade e do estado hormonal, sendo na
nulípara cônico com orifício externo puntiforme e fechado, e nas multíparas cilíndrico com
orifício externo entreaberto e, com frequência, bilabiado9,11. Em relação à paridade,
denominam-se mulheres nulíparas as que nunca pariram e multíparas as que já pariram,
evidenciando uma alteração morfológica no óstio uterino. Ainda, na literatura Anatômica,
refere-se como primípara a mulher que esteja em sua primeira gestação12.
Utilizando o termo nulípara para nenhuma paridade e multípara para uma ou
mais paridades, é fato que nas multíparas o colo uterino é volumoso, e o óstio uterino apresenta-
se como uma fenda larga, entreaberta e transversa13. Em mulheres nulíparas, o óstio uterino
assemelha-se a uma pequena abertura circular no centro do colo9,12.
As diferenças das partes uterinas em nulíparas e multíparas ficam evidenciadas
quando analisadas separadamente. O útero em mulheres nulíparas mede aproximadamente 7,5
de comprimento total, 5 a 7 cm de comprimento em sua parte superior, 3 a 5 de largura em sua
parte inferior, e 2,5 cm de espessura, sendo maior nas mulheres que engravidaram
recentemente, e menor (atrofiado) quando os níveis hormonais são baixos, como ocorre após a
menopausa2,3,10. Na nulípara, a cavidade uterina tem cerca de 4,5 a 5,5 de profundidade, a partir
do óstio uterino.
Após uma gestação, o útero leva de seis a oito semanas para retornar à sua
condição de repouso, apresentando 1 cm a mais em todas as suas dimensões 8. O istmo do
útero apresenta-se com cerca de 1 cm ou menos de comprimento, sendo uma zona de transição
entre o corpo e o colo do útero, esta leve constrição é mais evidente em mulheres multíparas
11,13,14.
A identificação de nuliparidade ou multiparidade em úteros humanos requer
tanto habilidades práticas quanto conhecimentos teóricos em Anatomia Humana.

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Artigo Original: IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE MULTIPARIDADE, E

AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

A capacitação de indivíduos incumbidos desta avaliação deve passar por um


minucioso treinamento com respeito à Anatomia de úteros humanos, que deve se iniciar nos
laboratórios de Anatomia, ainda no período de Graduação. Por outro lado, não se encontram
disponíveis na literatura informações quantitativas concretas sobre a predominância de úteros de
nulíparas ou multíparas disponíveis para estudo prático nos laboratórios de Anatomia das
Universidades brasileiras. A condução de trabalhos que quantifiquem com clareza estas
variações permitiria melhor conhecer alguns aspectos morfológicos dos úteros humanos. Frente
ao exposto, julga-se importante realizar a quantificação dessas variações, fornecendo
informações que poderão servir de base didático-pedagógica no ensino da Anatomia Humana,
além de contribuir para o ensino de condutas ginecológicas, forenses e cirúrgicas.

OBJETIVO
Quantificar a ocorrência de nuliparidade e multiparidade em úteros humanos
isolados ou in situ.

MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo e de abordagem quantitativa, realizado nos
laboratórios de Anatomia de uma Universidade particular da cidade de São Paulo - SP. O
período de coleta de dados para a realização deste trabalho estendeu-se de outubro de 2011 a
março de 2012. Os objetos de interesse desta pesquisa foram todos os úteros humanos isolados
ou in situ disponíveis nos laboratórios citados. Estes úteros foram avaliados individualmente e
classificados como pertencentes à mulheres nulíparas ou multíparas, baseando-se nas
peculiaridades descritas na Introdução deste artigo. Ainda, o comprimento médio (do fundo ao
colo) e as larguras superior (na região do fundo) e inferior (na região do colo) também foram
verificados. As larguras e o comprimento dos espécimes foram apresentados pelos seus valores
médios ± desvio-padrão. A presença ou não do istmo, bem como a presença de óstio circular ou
fendido, foram apresentados pelos seus valores absolutos e percentuais relativos ao tamanho
total da amostra, não havendo a necessidade de aplicação de testes estatísticos específicos.

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AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

Nenhum registro fotográfico ou em vídeo das peças analisadas foi realizado.


Ainda, não foi divulgada nenhuma informação que pudesse identificar os úteros avaliados ou
mesmo a Universidade na qual o trabalho foi realizado. Esta pesquisa foi registrada no Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) sob o no. 450986 – 2011, autorizado pela instituição
onde foi realizado, e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da própria Instituição
por obedecer às diretrizes previstas na resolução 196/96 do CONEP.

RESULTADOS
A amostra deste estudo constitui-se de 56 úteros. Destes, 34 peças (61% da
amostra) apresentaram óstio fendido, sugerindo multiparidade, 18 peças (32% do total)
possuíam óstio circular, sugerindo nuliparidade, e 4 espécimes (7% do total) não puderam ser
avaliados com respeito ao formato do óstio.
Com relação à presença ou não de istmo, este se mostrou presente em 44 úteros
(totalizando 78% da amostra), sugerindo multiparidade, ausente em 10 peças (correspondendo a
18% do total), sugerindo nuliparidade, e 2 úteros (4% das avaliações) não puderam ser
categorizados quanto à presença ou ausência do istmo.
Quanto ao comprimento, os úteros se mostraram bastante diversos,
apresentando uma média de aproximadamente 6,5 ± 1,4 cm, da base do colo até o fundo do
útero, conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1: Distribuição dos úteros avaliados com relação ao comprimento

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Na análise da largura superior, correspondente ao eixo látero-lateral no fundo do


útero, foi verificada uma largura média de 5,0 ± 1,2 cm. Com relação à largura inferior, medida
no colo do útero, a média encontrada foi de 4,2 ± 1,0 cm (Figura 2).

Largura Superior Largura Inferior


15 20
Frequência

Frequência
10
10
5
0 0

4,5
3

7
N/A

6
N/A
3,5

4,5

5,5

6,5

2,5

3,5

5,5
Centímetros Centímetros

Figura 2: Distribuição dos úteros avaliados com relação às larguras

Na avaliação conjunta que levou em consideração o formato do óstio e a


presença ou ausência de istmo, dos 56 espécimes estudados, 32 deles (equivalendo a 57% do
total), possuíam óstio fendido e apresentavam istmo sendo, portanto, pertencentes a multíparas,
e 18 deles (32% da amostra) possuíam óstio circular e não apresentavam istmo, sendo
pertencentes, portanto, às mulheres nulíparas. Apenas 6 úteros (11% dos espécimes avaliados)
não apresentavam concomitantemente as duas características estudadas.

DISCUSSÃO
O treinamento anatômico de estudantes, ainda no período de graduação, mostra-
se de extrema importância quando se leva em consideração a capacitação de profissionais para,
futuramente, atuarem nas mais distintas áreas ligadas não só à Ciência Forense como, por
exemplo, a perícia criminal, mas também prepará-los para a atuação em profissões que
necessitem do conhecimento em Anatomia Humana para que sejam exercidas de maneira o
mais próximo possível da perfeição, em especial a enfermagem, medicina e fisioterapia.
Utilizando-se do termo nulípara para classificar peças sem qualquer indício de
paridade, e multípara para peças com características sugestivas de multiparidade, já está bem
estabelecido que em multíparas o colo uterino é volumoso, e o óstio uterino apresenta-se como
uma fenda
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larga, entreaberta e transversa13. Em úteros de nulíparas, o óstio uterino assemelha-se a uma


pequena abertura circular no centro do colo9,12. Com relação ao istmo do útero, que quando
presente na maioria das vezes apresenta cerca de 1 cm ou menos de comprimento, este se
mostra como uma zona de transição entre o corpo e o colo do útero, sendo facilmente
evidenciado em mulheres multíparas e, na maioria dos casos, ausente nas nulíparas11,13,14.
Os resultados observados neste trabalho com relação tanto ao comprimento
quanto às larguras dos espécimes avaliados encontra-se em pleno acordo com dados
amplamente disponíveis na Literatura Anatômica2,3,10. Todavia, até o presente momento, não
estão disponíveis trabalhos que tenham, de alguma maneira, classificado os úteros disponíveis
para estudos anatômicos como sendo pertencentes à nulíparas ou multíparas. Tal fato faz com
que nosso breve levantamento seja, pelo menos até o presente momento, pioneiro. Uma
possível explicação para tal resultado talvez se resuma no fato de que a maioria dos cadáveres
femininos disponíveis nas Universidades brasileiras sejam pertencentes à mulheres adultas, em
idade reprodutiva. São raros os espécimes cadavéricos de jovens, em especial, do sexo
feminino15-17.
Assumimos que a presente pesquisa demonstra apenas a incidência pontual de
uma peculiaridade anatômica específica. Todavia, chama a atenção para o fato de que, em
termos didáticos, a Anatomia como ciência e componente das grades curriculares dos cursos de
saúde não deve mais ser apresentada apenas como uma lista de localizações e nomenclaturas.
Seu ensino de maneira aplicável, ainda na graduação, pode influenciar o estudante na busca de
novos horizontes práticos para uma área tão fascinante como a Anatomia Humana.

CONCLUSÃO
Evidenciou-se a predominância de úteros de mulheres multíparas nos
laboratórios de Anatomia da universidade avaliada. A condução de trabalhos que quantifiquem
com clareza as variações anatômicas permite conhecer melhor alguns aspectos morfológicos da
Anatomia Humana, colaborando com importantes informações que podem servir de base
didático-pedagógica no ensino da própria Anatomia, além de contribuir para o ensino de
condutas forenses, ginecológicas e médico-cirúrgicas.
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2009 John Wiley & Sons. Aptara Corporation, R.R; Donnelley; Phoenix Color Corporation.
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Pesquisas sobre o Câncer 150 cours Albert Thomas, 69372 Lyon cédex 08, França. Traduzido
para o português e editado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
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1994.
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Artigo Original: IDENTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE NULIPARIDADE, DE MULTIPARIDADE, E

AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO E DAS LARGURAS DE ÚTEROS HUMANOS ISOLADOS

15. Brasil. Lei nº 8.501, de 1992. Dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins
de estudos ou pesquisas científicas e da outras providências. Brasília, DF, 30 de novembro 1992.
16. Guimarães MA. The challenge of identifying deceased individuals in Brazil: from
dictatorship to DNA analysis. Sci Justice. 2003; 43(4):215-17.
17. Espirito Santo AM, Theophilo FV, Fonseca H, Prates JC, Andrade OP; Freire PS. Uso de
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1981; 27(1/2):107-116.

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Artigo Original

NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A CAPTAÇÃO DE CORPOS PARA

ESTUDO CIENTÍFICO E A CONTROVÉRSIA

CONTEMPORÂNEA ENTRE CÉTICOS TRADICIONALISTAS E

REFORMISTAS ACERCA DO USO DE CADÁVERES NO ENSINO

DE ANATOMIA HUMANA
Luiz Henrique de Lacerda Abrahão
Professor de História, Filosofia e Historiografia das Ciências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas

Gerais (IFMG campus Ouro Preto) - luizpaideia@hotmail.com

I – Breve narrativa sobre a captação de cadáveres para estudo médico-anatômico

Por muitos séculos, a principal provisão – seja oficial ou clandestina – de


cadáveres para estudo anatômico consistiu na destinação compulsória de corpos de criminosos
executados em penas capitais (BAY, BAY 2010). Achados arqueológicos apontam práticas
anatômicas no Império Persa e no antigo Egito (SHOJA, TUBBS 2007); e pesquisas baseadas
em análise de obras de arte da antiguidade grega – especialmente as epopéias homéricas e
esculturas arcaicas (HILOOWALA 2000; ANASTASSIOS et al. 2008) – indicam rudimentos
saberes sobre partes e estrutura do corpo humano em torno do século IX a.C. (TROMPOUKIS,
KOURKOUTAS 2007). No entanto, note-se, as primeiras vivisseções e dissecações regulares e
sistemáticas documentadas no Ocidente, empregando material cadavérico de condenados à
morte, datam somente do século III de nossa era com as pioneiras atividades dos anatomistas
gregos Herófilo e Erasistrato junto à Escola Médica de Alexandria (ŠTRKALJ, CHORN 2008).
Com efeito, antes do período alexandrino – incluindo mesmo a celebrada medicina hipocrática e
as investigações botânicas e zoológicas aristotélicas (BLITS 1999) –, as rudimentares noções
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CONTROVÉRSIA CONTEMPORÂNEA ENTRE CÉTICOS TRADICIONALISTAS E REFORMISTAS ACERCA

DO USO DE CADÁVERES NO ENSINO DE ANATOMIA HUMANA

anatômicas resultavam da observação de gladiadores feridos, sacrifícios humanos em rituais


religiosos, soldados lesionados em guerra e dissecação de cães, porcos, símios e outros animais
não-humanos (EDELSTEIN 1987; MISSIOS 2007). Com a conversão do Império Romano ao
Cristianismo em 313 d.C a dissecação do corpo humano, teologicamente idealizado como uma
dádiva divina – conforme instrui a epístola de 1o Coríntios (6: 19-20) –, tornou-se um sacrilégio
(SIDDIQUEY, HUSAIN, LAILA 2008). Hospitais monásticos medievais inspirados na
parábola bíblica do Bom Samaritano (Lucas 10: 25-37) não executavam cirurgias, necropsias ou
operações internas; em vez disso, dirigiam suas atividades em ministrar medicamentos e servir
como domicílios reservados ao repouso de peregrinos e missionários, além da penitência de
enfermos e absolvição de moribundos (RETIEF, CILLIERS 2005; BUKLIJAS 2008). Em 1131
e 1163 dois éditos católicos criaram uma incompatibilidade radical entre cargos religiosos e o
contato com o sangue e outros fluidos corporais. Pouco depois, em 1215, o Papa Inocêncio III
ratificou essa cisão no Concílio de Latrão e a bula papal de 1299, intitulada De Sepolturis e
decretada por Bonifácio VIII, coibiu qualquer tipo de mutilação humana desprovida de
finalidade jurídica (WALSH 1904; FRATI et. al. 2006; BAGWELL 2005). Assim, ao longo de
toda a Idade Média ocidental não se edificou saberes médico-anatômicos partindo de estudos
metódicos com cadáveres humanos (GARRISON 1927; DOOLEY 1973, pp. 13-26), conclusão
também legítima para o Islã e os árabes medievais (SHANKS, AL-KALAI 1984; PRIORESCHI
2006).
A tradição anatômica renascentista italiana, a qual tem Mondino de Luzzi e
Jacopo Carpi como alguns de seus expoentes, rejeitou gradativamente a ortodoxa metodologia
de ensino anatômico. Tradicionalmente, o professor expunha o teor de obras anatômicas
clássicas (possivelmente Galeno ou livros inspirados nos conhecimentos desse médico romano)
do alto de uma tribuna, enquanto o ostensor pautava a linha de incisão ao demonstrator (que
podia ser tanto um castrador de animais quanto um carrasco) (MANJILA 2009). É notório que,
quanto ao surgimento dos estudos anatômicos modernos, a escola salertiana de Medicina –
além das universidades de Bolonha e Pádua – exerceu uma função incomparável (REBOLLO
2010).
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A partir do século XIV, locais como Veneza, Florença e Montepellier


oficializaram dissecações públicas, também em corpos de executados, e os teatros anatômicos
(nos quais era aceitável um leigo acompanhar dissecações) alastraram-se por toda a Europa
(SCHUMACHER 2007; MARTINEZ-VIDAL, PARDO-TOMAS 2005). O próprio Andreas
Vesalius, consagrado estudioso que no século XVI comandou o departamento de cirurgia e
anatomia da Universidade de Pádua, parece ter adotado condutas inusitadas para contornar
obstáculos materiais de suas pesquisas, tais como: disputa de ossadas com animais necrófagos
em cemitérios, incitação de estudantes a apanharem restos mortais de pacientes falecidos,
cultivo em domicílio de corpos de criminosos ilicitamente exumados ou solicitação aos
magistrados que atrasassem a data de execução dos condenados para estações climáticas com
menor efeito na deterioração do material cadavérico (FRIEDMAN, FRIEDLAND 2006, pp.
18-20; KICKHÖFEL 2003). Outro fator saliente nesse processo de institucionalização da área
vincula-se ao fato de que em 1540 o Rei Henrique VIII proibiu que as cirurgias continuassem
sendo feitas por tratadores de animais, curandeiros, tira-dentes ou charlatães (BUCKLAND-
WRIGHT 1985). Profissionais de barbearia foram designados para a função de anatomistas, o
que forçou a unificação da sociedade de barbeiros de Londres (que possuía cerca de 185
membros) com os poucos cirurgiões londrinos – que portavam temíveis lancetas, serras de
amputação e ferros para cauterização de feridas (PORTER 2004). A intitulada Companhia dos
Barbeiros-Cirurgiões passou a qualificar aprendizes em técnicas cirúrgicas, mas também
ministrava palestras e realizava dissecações públicas em suas instalações (uma média de quatro
cadáveres de executados que lhes seriam doados por ano) mediante pagamento de ingressos. O
grêmio se desfez em 1744, cerca de meio século de atraso com relação a Paris, mas ainda assim
influenciou o mesmo costume em outros países (AUDEN 1928; JÜTTE 1989).
Verifica-se, pois, que historicamente a captação de material cadavérico para
estudo anatômico dependeu da destinação compulsória prisioneiros condenados à morte. A
propósito, ainda em 1752 o parlamento britânico estipulou o Ato do Assassinato segundo o qual
a destinação do cadáver de condenados para mesas anatômicas consistia em uma etapa da

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própria punição jurídica: a entrega dos restos mortais do condenado às mesas anatômicas era
parte integrante da pena capital (HIDELBRANDT 2008). Apesar dessa normatização inicial,
alguns fatores ainda contribuíram para a escassez de cadáveres disponíveis entre os séculos
XVIII e XIX. Destacamos três: (i) redução do número de óbitos resultante da melhoria na
terapêutica das lesões (tais como as dilacerações, queimaduras, infecções, perfurações etc.
acarretadas por armas de fogo) (FORREST 1982); (ii) diminuição da aplicação de pena-de-
morte na Europa (AJITA, SINGH 2007); e (iii) formação de novas escolas médicas, hospitais e
enfermarias (SHORTT 1983; McKEOWN 1970). A saída para o problema da demanda por
corpos adveio da violação de túmulos, pilhagem de restos mortais e assassinatos de indivíduos
sem representatividade social. “Médicos da noite” (“ensacadores” ou “ressuscitadores”, como
também ficaram conhecidos) invadiam cemitérios, exumavam os corpos e os encaminhavam
para escolas anatômicas (MAGEE 2001). Nos Estados Unidos, por exemplo, os principais alvos
desses assaltos foram sepulturas de imigrantes, indigentes e outros grupos vulneráveis
(HALPERIN 2007). Todavia, o tráfico de cadáveres atingiu o extremo em Edimburgo quando
Willian Burke e Willian Hare descobriram nesse mercado uma lucrativa fonte de renda
(HULKOWER 2011). A dupla confessou ter matado mais de quinze vítimas (sobretudo
andarilhos e miseráveis, incluindo mulheres e crianças) entre 1827 e 1829, época em que foram
capturados (EVANS 2010). Entretanto, tais condutas não constituem episódios isolados no
desenvolvimento histórico dos estudos empregando cadáveres humanos – J. Duverney, A. von
Haller, J. Hunter, A. Cooper, dentre muitos outros, foram renomados anatomistas os quais
erigiram o conhecimento científico através do financiamento da pilhagem criminosa de corpos
humanos (ORLY 1999).
Após acaloradas reações populares, a promulgação do Ato Anatômico em 1832
(com reformulações posteriores) pretendeu oferecer uma saída governamental para
regulamentar o fornecimento de material para dissecação humana no Reino Unido (MITCHEL
et at. 2011). Doravante, asilos, instituições psiquiátricas, abrigos de pobres e falecidos não-
reclamados por parentes em hospitais públicos proveriam as escolas médicas (HUGHES 2007).

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DO USO DE CADÁVERES NO ENSINO DE ANATOMIA HUMANA

Em síntese, os cadáveres para estudo anatômico não seriam mais criminosos executados, mas
idosos, indigentes, lunáticos, andarilhos, alijados e outros membros de grupos social, mental ou
economicamente desprotegidos. Tal solução (cuja complexa burocracia provocou a própria
corrupção do sistema de captação de corpos) foi incorporada e seguida por muitos outros países
(SLAKE 1966). Porém, note-se, ela nem resolveu completamente a dificuldade da demanda
legal de cadáveres nem extinguiu práticas de obtenção ilícita ou moralmente protestável de
corpos humanos para estudos científicos (STURROCK 1977; MacDONALD 2009;
HENDERSON, COLLARD, JOHNSON 1996; DEWAR, BODDINGTON 2004). No século
XX, em paralelo ao surgimento de novas metodologias e tecnologias de estudo anatômico, a
principal resposta às diversas críticas que envolvem a utilização de cadáveres e restos mortais no
estudo anatômico veio, destacadamente, com campanhas de programas de doação voluntária de
corpos e tecidos humanos para pesquisas (CHAMPNEY 2011). Em 1968 os Estados Unidos
promulgaram o UAGA (sigla inglês para Ato de Doação Anatômica Uniforme, que passou por
drásticas transformações em 1987, 2006 e 2010) e reconheceu a plenitude da autonomia do
consentimento do doador, em contraste com a polêmica utilização compulsória e forçosa dos
restos mortais de indivíduos incapazes, obliterados ou enjeitados (VERHEIJDE, RADY,
MCGREGOR 2007; MCKEE 2007).
Seria razoável ponderar que esta concepção reflete, em algum nível, os esforços
internacionais que almejam estruturar uma regulamentação ética de normas de pesquisas
envolvendo seres humanos, como o seminal Código de Nuremberg (1947), as várias versões da
Declaração de Helsinque (1964) ou o Relatório de Belmont (1978). Inicialmente, esses
documentos, ao lado de outros similares, visaram reagir às atrocidades cumpridas no contexto
da 2a Guerra Mundial com prisioneiros em campos de concentração (HILDEBRANDT 2009a,
2009b, 2009c) e ao vertiginoso desenvolvimento das biotecnologias (como a bomba oxigenadora
cardiopulmonar) na segunda metade do século passado (ANDREWS, NELKIN 1998). Dentre
muitos outros episódios, três eventos também motivaram reflexões éticas análogas: o polêmico
caso Tuskegee (envolvendo estudo de sífilis na população negra norte-americana entre 1932 e

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1972), o uso, nos anos 1950 a 1970, da população carcerária da prisão de Holmesburg, na
Filadélfia, em testes de produtos dermatológicos, alucinógenos e farmacológicos; e, nos anos
1960, os experimentos clínicos com mulheres ligados à epidemia da Síndrome da Talidomida
(BRANDT 1978; TEIXEIRA 2006; GERRERO 2012; DINIZ, CORRÊA 2001). Porém,
aquela hipótese sobre a gênese das campanhas de programas de doação voluntária de cadáveres
a partir de normatização de normas de pesquisas carece de suporte textual, pois nenhum
daqueles documentos internacionais considera restos mortais como portadores de estatuto
moral, logo dignos de proteção (exceto em razão de efeitos emocionais nos reclamantes). De
todo modo, o emprego de cadáveres no ensino de Anatomia Humana não é alvo de objeções só
no que concerne à truculenta história da captação do material cadavérico (JONES 1994). Como
veremos a seguir, essa escarpada controvérsia científica também é alimentada por considerações
técnicas, administrativas, clínicas, pedagógicas, psico-sociais, dentre outras.

II –A posição dos céticos tradicionalistas quanto à dissecação de cadáveres

O século XX assistiu um acelerado progresso na fabricação de sensores óticos


capazes de eliminar ruídos em imagens digitais e este avanço somou, às possibilidades
diagnósticas anteriormente exclusivas ao Raio-X, equipamentos de ressonância magnética
(MRI), ultra-sonografia, tomografia por emissão de pósitrons (PET), tomografia
computadorizada (CT), dentre muitas outras inovações (TRELEASE 2002). Tais
desenvolvimentos estimularam novas formas de aprendizado e análise clínica, impulsionando
também o nascimento da área denominada anatomia computacional (GRENANDER, MILLE
1996). Outra importante novidade para o campo – em paralelo à criação de softwares, bonecos
em resina acrílica, atlas multimídia, protótipos artificiais e simuladores para treinamento – foi o
surgimento da inovadora (e controversa) técnica de plastinação de cadáveres (WOMBLE 1999;
MOORE, BROWN 2004a, 2004b; BATES 2010). Com efeito, tantas modificações
tecnológicas e culturais impeliram considerações quanto à possibilidade substituição de restos

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mortais no ensino de Anatomia Humana por metodologias mais modernas e eticamente menos
dúbias (PAALMAN 2000). A redução de anatomistas profissionais e as dificuldades de
obtenção e manutenção legal de corpos também exercem uma pressão considerável neste
processo (BAY, LING 2007). Assim, algumas faculdades de medicina dos Estados Unidos,
Reino Unido, Portugal, Espanha e Canadá dispensaram totalmente os meios comuns de ensino
anatômico (ELIZONDO-OMAÑA, GUSMÁN-LÓPES, GARCÍA-RODRÍGUEZ 2005).
Outras renomadas instituições norte-americanas – como UNY, UCSF, UC-Davis e as
universidades de Harvard, Washington e Hawaii –, após reavaliarem seus currículos e excluírem
por algum tempo a dissecação, retomaram o modelo tradicional (conjugando-o, todavia, com
novas formas de ensino), sob alegação de que o contato direto com cadáveres comporta
qualidades consideradas “essenciais” e “insubstituíveis” (RIZZOLO, STEWART 2006).
Os céticos tradicionalistas são autores do campo anatômico que ressaltam limitações de
tecnologias (programas computacionais, bonecos sintéticos ou simuladores) no desenvolvimento
de competências psicossociais próprias às biociências (DYER, THORNDIKE 2000).
Asseveram que aquelas opções pedagógico-cognitivas também não estruturam habilidades
imprescindíveis ao manuseio competente de instrumentos e aparelhos (GUNDERMAN,
WILSON 2005). Sublinham, ademais, que o conhecimento anatômico advindo da dissecação
constitui o fundamento da comunicação e da prática médica, sendo base irrevogável da
formação de cirurgiões e clínicos (TURNEY 2007). O que observamos, então, é uma recusa da
possibilidade de formação médica plena centrada em cyber anatomia e uma ênfase na
artificialidade das tecnologias quanto à representação fidedigna das reais estruturas fisiológicas.
Alguns teóricos dessa linha salientam, ainda, que o contato com restos mortais humanos em
laboratório instrui o estudante para o trabalho em equipe e para o enfrentamento do fenômeno
natural da morte (HASAN 2011). Portanto, o grupo tradicionalista argumenta que manusear o
material cadavérico aprimora habilidades cirúrgicas, instrui acerca de patologias e ensina
questões morais, seja no contato com o “primeiro paciente” (o cadáver) seja na reflexão sobre a
condição humana (PARKER 2002). Por tudo isso, afirma-se, a prática de dissecação de
cadáveres transpõe os séculos e supera o rigoroso “teste do tempo” (PRAKASH et al. 2007).
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Argumentos em favor da dissecação ASHRAF ELLIS GRANGER KORF LEMPP


de cadáveres humanos na formação AZIZ et al. (2001) (2004) et al (2005)
médica básica (2002) (2008)
1. Aquisição da linguagem médica SIM SIM X SIM _
2. Destreza manual e habilidades SIM SIM SIM SIM SIM
cognitivas
3. Variação biológico-anatômica SIM SIM X SIM SIM
4. Habilita a comunicação com outros
profissionais/estimula trabalho em SIM SIM X SIM X
equipe
5. Estabelece uma afinidade do
estudante com a morte e/ou modela X SIM SIM SIM X
a subjetividade
6. Envolve diferentes sentidos (além
do tato) SIM X SIM SIM X
7. Ensina o método hipotético- X X X SIM X
dedutivo da investigação científica

8. Aprendizado tridimensional e
organização da estrutura do corpo SIM X SIM X SIM
humano
9. Introduz a relação médico-pacinte
(otimização do aprendizado) SIM X SIM SIM X

10. Bonecos ou modelos plastinados


são excessivamente artificiais (não
apresentam estruturas mais X X X SIM X
delicadas e a falsificam a aparência
do material original).
11. Treina para especialidades médicas SIM X X X SIM
12. Ensina a história da medicina X X X X SIM

Tabela 1 – Cruzamento dos argumentos de ASHRAF AZIZ et al. (2002), ELLIS (2001), GRANGER (2004), KORF et al. (2008) e
LEMMP (2005) sobre as vantagens do método tradicional (dissecação de cadáveres) de estudo anatômico.

Não existem revisões de literatura que unifiquem os argumentos dos céticos para
advogar a conservação do uso de cadáveres humanos no ensino anatômico. Para tanto, na Tab.
1 elencamos o cerne da posição tradicionalista a partir dos fundamentais textos de Ellis (2001),
Asharaf Aziz et al. (2002), Granger (2004), Lemmp (2005) e Korf et al. (2008). O cruzamento
das perspectivas indica o seguinte: (1) todos eles concordam que dissecação desenvolve destreza
manual e habilidades cognitivas; (2) quatro que ela ensina a variação biológico-anatômica; (3)
três consideram que ela auxilia (3a) na aquisição da linguagem médica, (3b) no reconhecimento
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da variação biológico-anatômica (patologias), (3c) na comunicação com outros profissionais, (3d)


cria uma afinidade do estudante com a morte e/ou modela a subjetividade dele, (3e) envolve
diferentes sentidos na construção do conhecimento e (3f) que o estudo com cadáver humano é a
principal ferramenta para o aprendizado tridimensional da estrutura do corpo humano; (4) dois
sustentam que instrui para especialidades medicas; e (5) apenas um deles pensa que essa prática
(5a) ensina o método hipotético-dedutivo da investigação científica, (5b) não pode ser
substituído por bonecos ou modelos plastinados porque eles são excessivamente artificiais (não
oferecem as estruturas mais delicadas e a falsificam a aparência do material original) e (5c)
instrui sobre a construção histórica da área médica.

III – Argumentos reformistas para o estudo anatômico

Não menos persuasivos são os argumentos elencados pelos opositores da posição


tradicionalista. As réplicas mais contundentes dos reformistas decorrem especialmente, embora
não exclusivamente, de profissionais inspirados experiência em curso, pelo menos desde 2002,
na Peninsula Medical School (Reino Unido). Neste instituto de ciências médicas a dissecação de
cadáveres foi totalmente substituída por uma estratégia de ensino na qual, desde o princípio de
sua formação, grupos reduzidos de alunos, devidamente supervisionados por radiologistas
qualificados e outros profissionais, empenham-se na solução de problemas hipotéticos e efetivos
(em média 80 sessões por ano) utilizando tecnologias de imagens computacionais (raios-X,
MRI, CT etc.) e contato com a superfície corporal de pacientes, modelos contratados ou
discentes voluntários (cerca de 40 sessões, envolvendo auscultação, apalpação e projeções de
imagens) (MCLACHLAN 2004). Primeiro, os responsáveis pelo curso reforçam a inferioridade
que, em termos epistemológicos, o aprendizado proposicional (manuais anatômicos
acompanhados de observação de dissecação em situações pré-clínicas) apresenta em relação à
cognição personalizada e aplicada a casos concretos. Em segundo plano, insistem que as
alegadas competências essenciais para a formação médica básica – habilidade manual, espírito

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grupal, compreensão das etapas do método hipotético-dedutivo, apreensão 3D das estruturas,


promoção de valores humanistas, conhecimento das variações patológicas e morfológicas,
introdução à relação médico-paciente e assim por diante – não decorrem exclusivamente da
utilização de cadáveres (MCLACHLAN et. al. 2004). Em lugar da dissecação de restos mortais,
os reformistas adotam tecnologias de imagens (mais afinadas com a tendência atual da realidade
médico-hospitalar), usam “anatomia viva” (com observação, apalpação e auscultação de
pacientes, modelos ou estudantes voluntários) e também outros ferramentais de ensino.
Especificamente, são três os procedimentos metodológicos basilares defendidos por esse grupo:
(a) “anatomia viva” e anatomia de superfície – exame de partes, projeção corporal, modelos
contratados, pintura corporal, atlas digital de anatomia de superfície; (b) imagiamento médico –
ultra-som, Raio-X, TC, MRI etc.; e (c) anatomia artificial e virtual – modelos plásticos,
simuladores, representações eletrônicas, imagens computacionais (bi- ou tridimensionais)
(MCLACHLAN, DE BERE 2004; MCLACHLAN 2003). Em adição, os proponentes
reformadores ressaltam que apenas a “anatomia viva” realmente instrui o acadêmico sobre o
valor de uma abordagem cuidadosa com os pacientes (MCLACHLAN, PATTEN 2006) e que
somente a adoção de tecnologias de projeção de imagens 3D em voluntários vivos permite aos
estudantes uma visualização móvel das relações espaciais dos órgãos, estruturas e tecidos
humanos (PATTEN 2007).
A argumentação acima pode ser complementada com uma catalogação geral, na
Tab. 2, de seis graves desvantagens derivadas de implicações negativas próprias à metodologia
tradicionalista. (1) Os produtos químicos usados na preservação e fixação dos corpos acarretam
graves reações alérgicas nos usuários e deterioram a estrutura e a forma do material cadavérico.
O formaldeído (principal fixador aplicado para inibir a ação de micro-organismos que atuam na
decomposição do cadáver) interfere no peso, textura, coloração da pele, músculos e composição
genética do cadáver etc., além de apresentar um grande índice de irritação oftalmológica, na
mucosa nasal e de ser classificado como cancerígeno pela OMS (BENDINO 2004). Formas de
preservação menos danosas (glicerinização, preservação “à seco” ou o uso de argila) não foram

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universalmente adotadas pela comunidade anatômica (OH, KIM, CHOE 2009; MEHRA,
CHOUDHARY, TULI 2003; GUIMARÃES DA SILVA, MATERA, RIBEIRO 2004). (2)
Preservar, remover, transladar, armazenar e descartar cadáveres (cuja vida útil em laboratório é
estimada em cerca de 4 anos) é administrativamente dispendioso e burocraticamente lento
(MELO, PINHEIRO 2010). Autoridades sanitárias exigem prédio próprio com estrutura física
padronizada (rede elétrica, sistema de esgoto, revestimento, iluminação, ventilação etc.),
instalação de câmaras frigoríficas, aquisição de microbicidas e saneantes, contratação de técnicos
para laboratório etc. (3) Diversas pesquisas científicas apontam riscos de contaminação – dos
técnicos em patologia e demais usuários – por doenças infecciosas cujos agentes não são
eliminados pela preparação dos cadáveres (BURTON 2003; DEMIRUÜREK,
BAYRAMOGLU, USTAÇELEBI 2002). Casos documentados incluem, dentre outras
enfermidades, doenças como hepatite B e C, HIV-Aids, tuberculose, meningite, síndrome GSS
(doença de Gerstmann-Straussler-Scheiker) e CJD (doença de Creutzfeldt-Jakob) (DE
CRAEMER 1994; HEALING, HOFFMAN, YOUNG 1995; BELL, IRONSIDE 1993;
HILLIER, SALMON 2000). (4) Os processos de socialização de estudantes com a prática de
dissecação anatômica propiciam condutas inadequadas de violação de privacidade do cadáver.
Essas atitudes vão desde inocentes narrativas de estórias envolvendo a identidade ou
proveniência dos restos mortais, pilhagem de partes dos corpos, utilização das peças
(especialmente genitálias) em “trotes”, além de gravações, registros fotográficos e exposições
públicas não-consentidas dos corpos na internet ou outros meios (HAFFERTY 1988). (5)
Estudiosos apontam uma correlação entre o alto índice de esquecimento do conteúdo
anatômico (nomes, funções, estruturas etc.) por parte dos estudantes e o fato de que, na maioria
das vezes, a matéria é ensinada como conteúdo pré-clínico, além do que cadáveres não são
responsivos e maleáveis (MCLACHLAN, DE BERE 2004; MCLACHLAN 2003;
QUINTANA et at. 2008, p. 9). (6) Finalmente, inúmeras análises assinalam que uma
porcentagem considerável de estudantes de biociências apresenta reações psico-emocionais
decorrentes do contato direto com restos mortais humanos, incluindo transtornos alimentares,

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de sono, de ansiedade, de comportamento e estresse (JAVADNIA et al. 2006; BOECKERS et


al. 2010). Cerca de 10% dos estudantes de Anatomia Humana apresenta um ou mais desses
sintomas nos primeiros meses de curso, razão pela qual vários especialistas recomendam a
criação de programas de suporte psicológico aos discentes (WILLIAMS, TAYLOR,
DAWSON 2004; DEMPSTER et al. 2006; DUBHASHI et al. 2011).

(1) Efeitos físico-químicos (reações alérgicas e BENDINO (2004); OH, KIM, CHOE (2009); MEHRA,
deterioração do material); CHOUDHARY, TULI (2003); GUIMARÃES DA SILVA,
MATERA, RIBEIRO, (2004);

(2) Inviabilidade administrativa (custo/benefício; MELO, PINHEIRO (2010);


exigências das autoridades sanitárias);
(3) Riscos à saúde (contaminação com doenças BURTON (2003); DEMIRUÜREK, BAYRAMOGLU,
infecciosas); USTAÇELEBI (2002); DE CRAEMER (1994); HEALING,
HOFFMAN, YOUNG (1995); BELL, IRONSIDE (1993);
HILLIER, SALMON (2000);

(4) Condutas morais inadequadas (exposição HAFFERTY (1988);


indevida e utilização não-responsável do material
anatômico nos processos de socialização);

(5) Cognitivo-pedagógicas (aprendizado MCLACHLAN, DE BERE (2004); MCLACHLAN (2003);


descontextualizado e limitações dos cadáveres);
(6) Psico-emocionais (transtornos alimentares, de JAVADNIA et al. (2006); BOECKERS et al. (2010);
sono, de ansiedade, de comportamento e WILLIAMS, TAYLOR, DAWSON (2004); DEMPSTER et
estresse); al. (2006); DUBHASHI et al. (2011);

Tabela 2 – Principais desvantagens gerais da dissecação de cadáveres no ensino de Anatomia Humana

IV – Observações finais
Poucas investigações empíricas abrangentes abordam o impacto das novas
tecnologias de ensino na formação anatômica (WINKELMANN 2007). Alguns estudos
apontam que grupos instruídos utilizando material cadavérico apresentam resultados mais
satisfatórios do que amostras de alunos formados, por exemplo, em alternativas pedagógicas
computadorizadas (BIASUTTO, CAUSSA, CRIADO DEL RÍO 2006). Outros sublinham que
estudantes que dissecaram cadáveres mostram melhor desempenho nas avaliações do que
colegas sem essa vivência (ANYANWU, UGOCHUKWU 2010).
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Em resumo, conhecimentos anatômicos adquiridos apenas em situações clínicas concretas


sugerem menor eficiência do que quando são conjugados à dissecação cadavérica (NAYAY et
al. 2008). Os próprios estudantes corroboram essa perspectiva (REVERÓN 2010; JOHNSON
2002). Então, os defensores da abordagem tradicional demandam uma uniformização do ensino
de anatomia usando dissecação de restos humanos (SUGAND, ABRAHAMS, KHURANA
2010). Porém, apesar das críticas, outros estudos-piloto com acadêmicos do terceiro ano de
Medicina em outras instituições apontaram que, de fato, a perspectiva do Aprendizado Baseado
em Problemas (PBL, em inglês) gera melhores resultados do que o TDL (Aprendizado
Didático Tradicional) (PRINCE et. al 2003; SAALU, ABRAHAM, AINA 2010).
Se, pois, em nível pedagógico o debate se mostra inconclusivo ou questionável, a
posição cético-tradicionalista, em particular, enfrenta problemas fundamentais. Além dos vários
efeitos negativos que somente a prática da dissecação acarreta, alguns dos alegados benefícios da
dissecação são ou falaciosos ou compartilhados com abordagens alternativas. Assim, se
confrontarmos a Tab.1 (10) com a Tab.2 (5) notamos que tanto bonecos simuladores quanto
cadáveres apresentam alterações na coloração, forma, texturas etc. Portanto, a “fidedignidade”
do cadáver não é integral ou categórica. Em outro caso, em desacordo com o argumento Tab.1
(5), não há fundamento teórico no raciocínio de que a reflexão tanatológica seja privilegio da
formação biomédica ou, mais importante, que a dissecação de corpos seja o método adequado
de realizá-la (COHEN, GOBBETTI 2003). Ademais, os argumentos (1), (2), (4) e (6) da Tab.1
parecem ser plenamente consistentes com o referido tripé metodológico do ensino anatômico
defendido pelos reformistas, que lançam mão de um pluralismo metodológico que inclui
anatomia viva e de superfície, técnicas de imagiamento e modelos artificiais e virtuais.
Uma pesquisa realizada na Nigéria revelou que 21,6% dos cadáveres disponíveis
para estudo anatômico provinham de acidentes em rodovias ou corpos não-reclamados
(OSUAGWU, IMOSEMI, OLADEJO 2004). Este número indica que, mesmo em menor
proporção, restos mortais de pessoas não retirados pelos familiares representam uma
porcentagem importante do fornecimento de material para ensino anatômico naquele país
(STIMEC, DRASKIC, FASEL 2010; AJITA, SING 2007; HULKWER 2011).
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A legalização do uso de cadáveres não-reclamados se reporta ao combate das práticas


criminosas de obtenção de corpos decorrentes da crescente diminuição de cadáveres disponíveis
para estudo a partir do século XVIII. No entanto, embora tenha reduzido a obtenção ilícita de
corpos humanos destinados a pesquisas científicas, a permissibilidade jurídica do uso de corpos
não-reclamados não torna, por si, essa conduta eticamente legítima (STURROCK 1977;
MacDONALD 2009; HENDERSON, COLLARD, JOHNSON 1996; DEWAR,
BODDINGTON 2004). Os programas de doação voluntária tendem a reconhecer essa
diferença conceitual central (mas nem sempre levada em consideração) entre eticidade e
legalidade (CHAMPNEY T, 2011; STIMEC, DRAKTIC, FASEL 2010). Assim, estimulam
doações fomentando valores morais como voluntarismo, altruísmo ou reciprocidade de
benefícios porque priorizam o respeito à vontade autônoma e consentida dos sujeitos ou seus
representantes legais relativamente ao destino do corpo (VERHEIJDE, RADY, MCGREGOR
2007). No meio dessas indefinições, a normatização internacional da destinação de cadáveres
não-reclamados não engloba diretrizes de uso do material cadavérico nem deriva de uma
reflexão sobre o estatuto ético-filosófico de restos mortais humanos (CHAMPNEY 2011). Neste
horizonte, os céticos-tradicionalistas ignoram ou simplificam as elaboradas objeções reformistas.
Não obstante, tudo leva a considerar que a saída eticamente justificada para superar tal
controvérsia científica consiste no fomento de campanhas de doação voluntária e consentida de
corpos, cujos resultados já se mostram extremamente positivos (PAWLINA et. al. 2011).
Concepções que ambicionem apoiar o avanço do conhecimento usando corpos humanos,
preterindo, para tanto, princípios humanistas – principalmente o consentimento voluntário e
esclarecido e o direito à privacidade (abarcando corpos não-reclamados) –, antepõem negócios e
valores científicos ao respeito das vontades individuais autônomas quanto à destinação do
material cadavérico (incluindo, note-se, os caracteres cromossômicos que comportam dados
genéticos de terceiros) (BRAZIER 2008). Tais concepções, tudo leva a crer, afiguram-se como
uma espécie de retrocesso face aos avanços morais e tecnológicos logrados, não sem muito
empenho, ao longo do século XX (e, de resto, definidores da escarpada agenda bioética do
século XXI).
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Luiz Henrique de Lacerda Abrahão


Professor de História, Filosofia e Historiografia das Ciências do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG campus Ouro Preto)
E-mail: luizpaideia@hotmail.com

Pesquisa financiada pelo CNPq e vinculada às atividades acadêmicas do NEFHIS-CT (Núcleo


de Ensino, Filosofia e História da Ciência e da Técnica do IFMG-OP).

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