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FORMAÇÃO LEITORA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
VIVÊNCIAS DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE
CERTA
Camila Bernardelli
Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Uberlândia
camila_bernardelli@hotmail.com
RESUMO
INTRODUÇÃO
Contextualização do PNAIC
Fundamentação teórica
O ato de ler é complexo, pois por meio dele há interação consigo mesmo, com o
outro e com o conhecimento, desse modo “a leitura é uma habilidade indispensável à
vida social. É através dela que entendemos o mundo e interagimos com o outro, seja nos
estudos, na nossa comunicação, na forma de nos expressarmos, nos conhecimentos que
ela nos proporciona.” (CAVALCANTE FILHO, 2011, p. 1721)
Sendo assim, a língua não pode ser compreendida como estática, acabada, por isso
Bakhtin concebe-a “como organismo vivo, repleto de significações ideológicas e
constituído histórica e socialmente. A língua só pode ser entendida e estabelecida no
fluxo da comunicação verbal.” (RÉ, 2014, p. 23)
Desse modo, o ato de ler não pode ser considerado como algo mecânico, mas
sim provido de significados dados pelas vivências e experiências do leitor a partir de
suas interações sociais. Assim, de acordo com Bakhtin/Volochínov (2009, p.127) “A
interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua.”
Ao compreender que a constituição do sujeito se dá por meio das interações
sociais, podemos citar a teoria histórico-cultural de Vygostky. Nessa perspectiva, “o
desenvolvimento humano é compreendido [...] através de trocas recíprocas, que se
estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o
outro.” (REGO, 1995, p.95)
Ainda sobre a importância da leitura na formação humana, não podemos deixar
de citar Paulo Freire, um educador brasileiro que acreditava em uma educação
libertadora, na qual defende que o sujeito aprende a partir de suas vivências, pelo que
faz sentido e tem significado para ele. Sendo que o conhecimento de mundo estabelece
uma relação dialética com o processo de que aquisição da linguagem; nesse sentido “a
leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
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prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente.” (FREIRE, 2008, p. 11).
Desse modo, Freire considera importante a compreensão crítica do texto e o
contexto cultural do sujeito e não apenas sua decodificação. Tanto Freire (2008) quanto
Vygotsky (1991) concebem a palavra como “[...] um signo mediador, que guarda
relação com o meio onde se encontra o sujeito e tem o seu sentido fornecido por este
último.” (MUNIZ, 1999, p. 262)
A partir dessa compreensão de leitura, podemos considerá-la como
emancipatória a com uma postura crítica do indivíduo com vistas à transformação da
realidade social. Nesse sentido, a partir da concepção de Freire “Ler, para ele, não é
“caminhar sobre as letras”, e sim uma tomada de consciência para melhor interpretação
do mundo e intervenção na realidade pela ação. Esta perspectiva daria à leitura e à
escrita o caráter de práticas libertárias.” (SODRÉ, 2012, p. 140)
Diante dessa complexidade do ato de ler, precisamos discutir a importância do
hábito de leitura na formação docente e na prática pedagógica. Assim propomos a
reflexão de quanto tempo os professores, destinam a leitura de livros literários no
cotidiano e de como formar leitores se não experimentam o hábito e prazer pela leitura.
Nessa perspectiva Andrade (2016, p. 90) destaca que “Dentre todas as formas de leitura
a serem postas em prática entre docentes e crianças nas instituições educacionais, a
leitura literária tem um espaço irrefutável, pois é nessa forma de leitura que o sujeito
leitor tem seu lugar mais destacado.”
A partir dessa inquietude, a pesquisa de Barros e Gomes (2008) apresenta que a
maioria dos educadores possuem uma relação pouco favorável com a leitura. Essa
postura influencia diretamente nas práticas de leitura e escrita na sala da aula. “Ao
desejar formar bons leitores é necessário gostar de ler e realizar leituras prazerosas. Tais
dados mostram que, é fundamental que os professores e demais mediadores de leitura
modifiquem a sua postura em relação à leitura.” (2008, p. 339), Portanto, o docente
precisa ter momentos que favoreçam o hábito de ler como um momento de deleite,
contribuindo tanto para a sua formação quanto de seus alunos.
Bom para mim a Tertúlia Literária foi um momento de reflexão sobre o que
já havia lido, retomando anos atrás, tendo outra concepção do que havia lido
no passado [...]. Muito interessante e incentivador este momento
reconhecendo as marcas que determinada literatura deixou em nós
independente do tempo que passou. (P01)
Eu não conhecia o projeto da Tertúlia literária até fazer o PNAIC com vocês.
A Tertúlia nos permitiu conhecer diversas obras, ouvir e dar opinião sobre
diversos assuntos, foi uma troca de conhecimento e interação que muito
contribuiu para o nosso crescimento pessoal e profissional. (P05)
O maior desafio da proposta era despertar o prazer pela leitura dos professores
que atuam na educação infantil. Em relação a esse aspecto Barros e Gomes (2008)
afirmam que “É muito importante considerar as condições afetivas, interesse e
motivação em relação ao ato de ler, para que se possa garantir prazer e gosto pela leitura
no dia-a-dia da vida.” (p.336). Nessa perspectiva acreditamos que pudemos contribuir
para leitura como um momento de deleite a partir dos seguintes depoimentos:
Quanto à Tertúlia Literária, eu gostei muito porque às vezes você foca mais
num tipo de leitura que tem afeição, mas quando uma colega coloca outra
leitura que ela também tem afeição às vezes a maneira como o outro coloca te
renova alguma coisa que faz com que você queira ler também, que sinta
vontade em fazer aquela leitura. (P02)
ANDRADE, Ludmila Tomé de. Parte 1: a leitura literária entre professores e crianças
na educação básica. In: Ser docente na educação infantil: entre o ensinar e o aprender /
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OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes,
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