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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Renato Brasileiro de Lima


Lavagem de Capitais
Aula 13

ROTEIRO DE AULA

LAVAGEM DE CAPITAIS
(Lei 9.613/1998, com redação determinada pela Lei 12.683/2012)

1. Histórico da Lei 9.613/1998

Surge com o compromisso assumido pelo Brasil, na Convenção de Viena de 1988 (Convenção Contra o Tráfico Ilícito de
Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas – ratificada pelo Decreto 154/1991). Nela, há dispositivos que buscam
criminalizar mecanismos usualmente usados no tráfico de drogas para mascarar a origem ilícita dos recursos, no
denominado processo de “lavagem de capitais”.

Posteriormente, 14 anos após a edição da Lei 9.613/1998, grupos de trabalho específicos reconheceram a necessidade
de atualização da legislação, a fim de torná-la mais efetiva, haja vista o pequeno número de condenações e resultados
conseguidos até então.

1.1. Lei 12.683/2012

Para fins de estudo, verifica-se que a Lei 12.683/2012 produziu três alterações principais e sensíveis:

a) Extinção do rol taxativo de infrações antecedentes

Na entrada em vigor da Lei, a redação original estabelecia que somente se constituiria a Lavagem caso o crime
antecedente que produziu o dinheiro em questão estivesse nela listado.

Antiga redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/1998:

“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de


bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II – de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003)
III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;”
IV - de extorsão mediante sequestro;
V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de
qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos;
VI - contra o sistema financeiro nacional;

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VII - praticado por organização criminosa. […]
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal). (Inciso incluído pela Lei nº 10.467, de
11.6.2002) Pena: reclusão de três a dez anos e multa.”

Nova redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/1998, alterada pela Lei 12.683/2012:

“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de


bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
I a VIII – revogados pela Lei nº 12.683, de 2012.”

Ao substituir os crimes listados pela expressão “infração penal”, entende-se que qualquer infração penal, seja ela um
crime ou contravenção penal (como jogo do bicho, p. ex.), poderá figurar como antecedente da lavagem de capitais.
Todavia, a infração penal em questão, para que possa ser antecedente da lavagem de capitais necessita ser
“produtora”, ou seja, capaz de gerar bens, direitos ou valores passíveis de ocultação ou dissimulação.

b) Aprimoramento das medidas assecuratórias

Há conscientização de que a prisão de um agente pode não ser tão eficaz no combate ao crime quanto a realização de
medidas assecuratórias de caráter patrimonial, pois elas atingem o objeto, a motivação ou finalidade da conduta ilícita,
não só da lavagem, mas também da infração antecedente.

Lei 9.613/1998 (em redação dada pela Lei 12.683/2012): “Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público
ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo
indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do
investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito
dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes.
§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a
qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.”

Medida do § 1º também prevista, com maior detalhamento procedimental, no art. 144-A do Código de Processo Penal.

- Alienação antecipada de bens: consiste na expropriação antecipada de bens móveis ou imóveis, fungíveis, de fácil
deterioração e de difícil conservação, que tenham sido objeto de medidas cautelares patrimoniais, adotada com o
objetivo de preservar o valor dos bens.

c) Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de operações suspeitas (Lei 9.613/1998, art.
9º)

A Lei busca forçar a colaboração dos agentes financeiros (gate keepers) na identificação, registro e comunicação de
atividades suspeitas (know your customer). Trata-se da identificação do “cheiro do dinheiro”, para que eventuais crimes
sejam conhecidos pelas autoridades (ao COAF, por exemplo).

2. Expressão “Lavagem de Dinheiro”

Origem no Direito norte-americano, onde há uso da expressão “money laundering”, pela prática criminosa durante a
década de 1920 de se utilizar pequenos estabelecimentos (literalmente lavanderias) para a ocultação da ilicitude da
origem de capitais.

Em alguns países europeus, como Espanha e Portugal, há o uso da expressão “branqueamento de capitais”, termo
evitado pelo legislador brasileiro para afastar conotação racista.

3. Conceito

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É o ato ou a sequência de atos praticados para encobrir a natureza, localização ou propriedade de bens, direitos ou
valores de origem delituosa, com o objetivo de reintroduzi-los à economia formal com aparência lícita.

Apesar de a doutrina trabalhar com vários conceitos e fases da Lavagem de Capitais, a jurisprudência do STF entende
que não há necessidade de complexidade das operações financeiras (ler julgado do RHC 80.816). Ex.: mero depósito em
conta de familiar para esconder a origem ilícita já é capaz de constituir a lavagem de dinheiro.

4. Gerações de leis de lavagem de capitais

São tendências históricas mundiais, relacionadas às infrações antecedentes:

- Leis de 1ª geração: a única infração penal antecedente era o tráfico de drogas;

- Leis de 2ª geração: previu-se um rol taxativo de crimes antecedentes (Lei 9.613/1998);

- Leis de 3ª geração: enxerga-se a lavagem de capitais com qualquer infração penal como antecedente (Lei 12.683/2012)

Há o risco, todavia, que seja vulgarizado o crime de lavagem, abarcando condutas de pouca relevância jurídica. Por isso,
muitos países têm previsto pena mínima necessária do crime antecedente, para que haja constituição do crime de
lavagem.

5. Fases da Lavagem de Capitais

Fases idealizadas pelo GAF (Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro), cujo modelo é composto por três
fases:

- 1a fase (colocação/placement): é a introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro, por meio de técnicas como o
smurfing, que consiste na pulverização de uma quantidade grande de dinheiro em pequenos depósitos;
- 2ª fase (dissimulação/layering): a realização de operações financeiras que dificultem o rastreamento da origem ilícita
dos valores (ex.: movimentação efetuada em contas de laranjas, para distanciar o dinheiro de sua origem);
- 3ª fase (integração/integration): retorno dos bens e valores ao sistema, seja no próprio mercado, ou para refinanciar a
atividade ilícita que deu origem ao capital lavado;

Observação importante: A tipificação e consumação da lavagem independe do preenchimento das três fases descritas
acima.

6. Bem Jurídico Tutelado

Não há consenso na doutrina sobre o bem jurídico tutelado.


A primeira corrente afirma tutelar o mesmo bem jurídico daquele tutelado pela infração antecedente, mas possui
problemas porque com a expansão das possibilidades de infrações antecedentes, o mesmo crime de lavagem pode ser
realizado para ocultar capital proveniente de inúmeras infrações diversas;
A segunda corrente, sustentada por Roberto Podval, Rodolfo Tigre Maia, Gustavo Badaró e Pierpaolo Bottini, defende
que o bem jurídico tutelado seria a administração da Justiça (similar ao crime de favorecimento real);
A terceira corrente, majoritária, defende ser a ordem econômica financeira, pelo desequilíbrio causado no mercado;
A quarta corrente, por sua vez, trazida por Alberto Silva Franco, entre outros, sustenta que o crime de lavagem de
capitais viola mais de um bem jurídico (a ordem econômica financeira e a administração da justiça, ou a ordem
econômica financeira e o bem jurídico tutelado pela infração antecedente), sendo um crime pluriofensivo por isso.

Seguindo a linha da terceira corrente, que prevalece na doutrina, tem-se que é possível aplicar o princípio da
insignificância ao crime de lavagem, trabalhando-se com o mesmo raciocínio usado em relação aos crimes tributários,
que usa como parâmetro o valor de R$ 20 mil, adotado pelo STJ e STF (com base no art. 20, da Lei 10.522/2002, com as
mudanças das Portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda).

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7. Acessoriedade da Lavagem de Capitais

A infração penal antecedente é uma elementar do crime de lavagem de capitais, prevista na sua própria tipificação. Por
isso, a lavagem é conhecida como um crime acessório, ou parasitário. Entretanto, o art. 2º, inciso II, estabelece uma
aparente independência do processo e julgamento do crime de lavagem em relação ao processo e julgamento da
infração antecedente.

Lei 9.613/1998: “Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. [...]
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: [...]
II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país,
cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento;
§ 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os
fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração
penal antecedente. (Redação dada pela Lei n. 12.683/12).

- Os processos pelas infrações necessitam tramitar juntos? Podem ser feitos num único processo?
Não necessariamente, conforme art. 2º, inciso II. Há evidente conexão probatória entre eles, por isso podem ser
reunidos, mas não obrigatoriamente.
- Quem decidiria sobre a eventual reunião dos feitos?
Quando há conexão, a decisão cabe ao Juízo com força atrativa. O primeiro critério adotado pelo CPP é daquele juiz da
infração mais grave, mas a Lei 9.613/1998, no mesmo inciso, traz uma regra especial, atribuindo ao juiz competente
para o crime previstos nela a decisão sobre a unidade ou separação dos processos e consequente julgamento.
- Caso haja absolvição pelo crime antecedente, poderá haver condenação pela lavagem?
A teoria adotada pela legislação é a da “acessoriedade limitada”. Por ela, bastará que a infração penal antecedente seja
típica e antijurídica para se configurar o crime de lavagem, não importando a ausência de culpabilidade ou a extinção da
punibilidade. A doutrina, todavia, cita duas exceções que impediriam a ocorrência do crime: a anistia ou a abolitio
criminis.

O aparente conflito entre os dispositivos é solucionado conforme entendimento jurisprudencial:

STJ: “(...) Não há que se falar em manifesta ausência de tipicidade da conduta correspondente ao crime de
"lavagem de dinheiro", ao argumento de que o agente não foi igualmente condenado pela prática de algum
dos crimes anteriores arrolados no elenco taxativo do artigo 1º, da Lei 9.613/98, sendo inexigível que o autor
do crime acessório tenha concorrido para a prática do crime principal, desde que tenha conhecimento quanto
à origem criminosa dos bens ou valores. Complexidade da prova e ausência de manifesta inadequação da
conduta ao tipo penal. (...)”. (STJ, 6ª Turma, HC 36.837/GP, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 06/12/2004, p. 372)

8. Sujeitos do Crime

Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma qualidade especial do
agente quanto ao sujeito ativo. E a lei brasileira pune exclusivamente pessoas físicas pelo crime. A pessoa jurídica não
poderá responder pelo crime, como ocorre com o crime ambiental.

Quanto ao sujeito passivo, seria a coletividade, caso admitida a ordem econômica financeira como bem jurídico
tutelado; ou o próprio Estado, caso a administração da justiça seja a tutelada.

8.1. Autolavagem (selflaudering)

Ocorre quando o mesmo indivíduo responde pela infração penal antecedente e pelo delito de lavagem de capitais
provenientes da mesma infração. Cada vez mais incomum, por conta da especialização de agentes no crime de lavagem.

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Há uma 1ª corrente, seguida por Roberto Delmanto, que diz não ser possível a autolavagem (na Itália e na França, por
exemplo, não existe). Argumenta-se que o crime de lavagem deve ser interpretado como semelhante ao favorecimento
real, que atinge apenas terceiros; além de que a lavagem seria mero exaurimento do crime antecedente (princípio da
consunção); ou que a punição da lavagem afrontaria o princípio da não autoincriminação (nemo tenetur se detegere).
Corrente bastante minoritária, entretanto.

A 2ª corrente, dominante, afirma existir a autolavagem no Direito brasileiro, já que a redação da Lei 9.613/1998 difere
da redação do art. 349 do CP, que traz o crime de favorecimento real; porque as condutas são autônomas e muitas
vezes violam bens jurídicos diversos; além de sua previsão não ofender o princípio da não autoincriminação, tendo em
vista a aceitação do ordenamento jurídico brasileiro acerca da existência de crimes que sirvam para encobrir delitos
anteriores.

STJ: “(...) A lavagem de dinheiro pressupõe a ocorrência de delito anterior, sendo próprio do delito que esteja
consubstanciado em atos que garantam ou levem ao proveito do resultado do crime anterior, mas recebam
punição autônoma. Conforme a opção do legislador brasileiro, pode o autor do crime antecedente responder
por lavagem de dinheiro, dada à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à autonomia deste delito. (...)”.
(STJ, 5ª Turma, Resp 1.234.097/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 03/11/2011).

8.2. Desnecessidade de participação na infração antecedente

O sujeito ativo da lavagem não necessariamente precisa ter concorrido para a infração antecedente, desde que tenha
consciência da origem ilícita dos valores ocultados. Ex.: joalheria que vende joias sem notas fiscais, ao receber dinheiro
decorrente de propinas.

8.3. Advogado como sujeito ativo do crime de lavagem de capitais

- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o advogado. Mas teria ele a obrigação de comunicar operações
suspeitas? Estaria ele incluso nas hipóteses legais abaixo?

Lei 9.613/1998: “Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham,
em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não: (...)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações: (…)
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria,
contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou participações societárias de qualquer
natureza;
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos;
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores mobiliários;
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou estruturas
análogas;
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas
profissionais;”

- Advogados de representação contenciosa

Parte da doutrina entende que os advogados que atuem na defesa de clientes em processo contencioso, judicial ou
administrativo, não teriam a obrigação de informar operações suspeitas de seus clientes.

- Advogados de operações

A doutrina, nesse caso, entenderia que o advogado que presta assessoria jurídica fora de circunstâncias contenciosas
teria a obrigação de denunciar as operações suspeitas de seus clientes.

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Não obstante, o Conselho Federal da OAB e o COAF, por meio de sua resolução 24, deixaram expresso o entendimento
de que os advogados não estão obrigados a informar as operações suspeitas de seus clientes, ainda que exerçam
advocacia de operações:

“[…] Lei 12.683/12, que altera a lei 9.613/98, para tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de
lavagem de dinheiro. Inaplicabilidade aos advogados e sociedades de advogados. Homenagem aos princípios
constitucionais que protegem o sigilo profissional e a imprescindibilidade do advogado à Justiça. Lei especial,
estatuto da Ordem (lei 8.906/94), não pode ser implicitamente revogado por lei que trata genericamente de
outras profissões. Advogados e as sociedades de advocacia não devem fazer cadastro no COAF nem têm o
dever de divulgar dados sigilosos de seus clientes que lhe foram entregues no exercício profissional.” (Ementa
da resposta à Consulta ao Conselho Federal da OAB)

9. Tipo objetivo

- Ocultar: “esconder”;
- Dissimular: “encobrir” ou “disfarçar”.

9.1. Distinção entre o exaurimento da infração antecedente e o crime de lavagem de capitais

Há uma linha tênue entre o iter criminis da infração penal antecedente e o momento de início do crime de lavagem.
Para identificar o momento de transição de um crime para outro, será preciso encontrar o exaurimento da infração
antecedente.
O crime de lavagem se inicia com atos, ou sequência de atos, que buscam dar aparência lícita aos valores ou bens
obtidos de forma ilícita. A simples guarda dos bens e valores sem o objetivo de criar tal aparência de licitude, portanto,
ainda não consiste na lavagem. Ex.: Furto de dinheiro levado para casa e guardado no colchão não consistiria no crime
de lavagem; mas a compra de apartamento com dinheiro ilícito e registro em nome de outra pessoa já consistiria no
crime, por conta do intuito.

9.2. Natureza instantânea ou permanente

Há uma corrente que sustenta a natureza instantânea do crime de lavagem de capitais. Assim, a manutenção do bem
ocultado ou dissimulado seria mero desdobramento ou decorrência do crime já consumado, na opinião de Pierpaolo
Bottini por exemplo.
Outra corrente sustenta ser crime permanente, por conta da redação do art. 1º da Lei 9.613/1998, que traz as condutas
“ocultar” e “dissimular” separadamente.

Essa definição da natureza do crime é importante para fins de contagem prescricional, diante da disposição do Código
Penal:

“Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: [...]
I - do dia em que o crime se consumou; […]
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;”

Verificar decisão condenatória proferida pelo STF na Ação Penal 863, que entendeu se tratar de crime permanente.

Súmula n. 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência
é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

10. Tipo subjetivo

No Brasil, o crime de lavagem de capitais é punido exclusivamente a título de dolo (direito ou eventual).

10.1. Dolo eventual

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Há exceções para a punição do crime antecedente por dolo eventual, por conta da redação dos tipos penais, quais
sejam:

Código Penal: Denunciação caluniosa


“Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
sabe inocente:
Receptação
“Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto
de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:”

Lei 9.613/1998: Art. 1º (...)


“§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (...)
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é
dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.”

- Caso do Banco Central de Fortaleza

Lei 9.613/1998: Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham,
em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não: (...)
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua comercialização
ou exerçam atividades que envolvam grande volume de recursos em espécie; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de
2012)

10.2 Teoria da cegueira deliberada (instruções da avestruz)

As pessoas que tenham a obrigação de informar operações suspeitas, não o fazendo, assumem o risco do resultado
(dolo eventual). Ocorreria dolo eventual quando a pessoa deliberadamente ignora a origem dos bens e valores
suspeitos, sob receio de vir a ser responsabilizada pela operação.

Todavia, tal teoria foi rejeitada em Segunda Instância, no caso do Banco Central de Fortaleza, em que gerentes de
concessionária de carros efetuaram vendas volumosas ao receber dinheiro suspeito, mas não as denunciaram. O
Tribunal sustentou sua decisão principalmente no fato de que o tipo penal em questão na época não admitia o dolo
eventual.

11. Objeto material

Lei 9.613/1998: “Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.” (redação dada pela
Lei n. 12.683/12).

BEM JURÍDICO OBJETO MATERIAL


Bem da vida que é tutelado pelo tipo penal São as pessoas ou coisas sobre as quais recai a conduta do
agente.

- Produto direito e/ou indireto da infração antecedente

Produto direto: resultado imediato da infração;


Produto indireto ou proveito: é o resultado mediato, ou seja, a substituição ou utilização econômica do objeto do delito.

Exemplo: venda de drogas em dinheiro (produto direto) com posterior compra de carro importado (produto indireto).
para dar caráter de licitude ao valor

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11.1. Lavagem da lavagem (lavagem em cadeia)

Possível com as alterações da Lei 12.683/2012, e ocorre quando a infração penal antecedente de uma lavagem é outra
lavagem de capitais.

12. Regime Especial de Regularização cambial e tributária (RERCT) de valores não declarados mantidos no exterior e
extinção da punibilidade do crime de lavagem de capitais

Criada pela Lei 13.254/2016, que prevê causa extintiva da punibilidade para o crime de lavagem quando houver o
retorno de capitais remetidos ao exterior, dentro de um período específico, para fins de RERCT. Todavia, vem sendo
prorrogada sucessivamente por outras leis posteriores.

13. Causa de aumento de pena-base

Lei n. 9.613/98, com redação


Lei n. 9.613/98 (redação original) dada pela Lei n. 12.683/12
Art. 1º (...) § 4º A pena será aumentada de 1 (um) a 2/3 Art. 1º (...) § 4º A pena será aumentada de um a dois
(dois terços), nos casos previstos nos incisos I a VI do caput terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos
deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou de forma reiterada ou por intermédio de organização
por intermédio de organização criminosa. criminosa.

14. Competência criminal

Será da Justiça Federal, conforme:

CF/88: “Art. 109 (…) VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;”

Lei 9.613/1998:
“Art. 2º (…) III – são da competência da Justiça Federal:
Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas;
Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.
[…] Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

14.1. Varas Especializadas para Lavagem de Capitais

A criação de varas especializadas seria parte do poder de auto-organização do Poder Judiciário, por isso não estando
sujeita à reserva legal em sentido estrito.

Lei 5.010/1966: “Art. 12. Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma Vara, poderá o Conselho da Justiça Federal
fixar-lhes sede em cidade diversa da Capital, especializar Varas e atribuir competência por natureza de feitos a
determinados Juízes.”

- Atribuição para especialização de varas

A especialização não poderá ser feita pelo Conselho da Justiça Federal, pois não está previsto em suas atribuições do
art. 105, inciso II.

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A competência para tais especializações é do respectivo Tribunal Regional Federal, ainda que o faça por intermédio de
Portarias ou Resoluções.

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