PROJETO DE PESQUISA
1 Introdução
As organizações, assim como os indivíduos, desenvolvem seus próprios
conhecimentos e por conseqüência suas habilidades, gerando vantagem competitiva. A gestão
do conhecimento na organização não se resume na aquisição, armazenamento e disseminação
dos conhecimentos explícitos, geralmente repassados para o trabalhador, inclui aqueles
resultantes da experiência, chamados de tácitos, desenvolvidos pelos trabalhadores e muitas
vezes não absorvidos formalmente pela organização.
Por meio de pesquisa bibliográfica percebe-se que as habilidades quando vinculadas
a Gestão do Conhecimento, são tratadas em alguns momentos como extensões do
conhecimento tácito ou como competências. Esta divergência surge em diversos contextos e
são fontes de pesquisa de alguns autores, principalmente vinculados as áreas de Psicologia e
Educação, dentre eles pode-se citar: Santos et al. (2009) e Primi et al. (2001).
A definição de habilidade, delineada pela literatura de Treinamento de Habilidade
Sociais (THS), utilizada nesta pesquisa é: “comportamentos ou conjunto de comportamentos
que caracterizam determinado desempenho do indivíduo” (SANTOS et al., 2009, p. 145).
Observa-se que na prática empresarial há uma confusão entre conhecimento tácito e
habilidades, pois as organizações utilizam como sinônimos. Esta dissociação entre o contexto
teórico e o empírico provoca a realização desta pesquisa, com o intuito de analisar o papel das
habilidades na Gestão do Conhecimento. A investigação sobre o tema proposto contribui para
uma melhor compreensão acerca da dinâmica organizacional, verificando as relações
estabelecidas entre produção, estrutura e pessoas, que servem de sustentação para as
empresas.
Em Gestão do Conhecimento, será utilizado os estudos já realizados por Muniz Jr.
(2007; 2010), que propõe a integração dos conceitos de Gestão do Conhecimento, trabalho e
produção, principalmente no que se refere ao conhecimento tácito. E, as pesquisas de Nonaka
e Konno (1998), Nonaka, Toyama e Konno (2000), e também por Nonaka e Peltokorpi (2006)
sobre o conceito de Ba.
No âmbito organizacional, observa-se que o tema habilidades e competências
vinculam-se a uma dimensão macro-organizacional, quando pesquisas envolvem as chamadas
“competências essenciais”, desenvolvida por Prahalad e Hamel (1995), que enfatizam a
vantagem competitiva, ou vinculado ao processo de aprendizagem organizacional como
descrito por Fleury e Fleury (2001).
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2 Objetivos
O projeto de pesquisa tem como objetivo geral analisar o papel da habilidade dos
trabalhadores na Gestão do Conhecimento. E como objetivos específicos:
- Analisar os aspectos relacionados a Gestão do Conhecimento e as formas de
conversão do conhecimento.
- Investigar as relações entre habilidades, conhecimentos e trabalho no ambiente
industrial.
- Analisar a importância das habilidades e da Gestão do Conhecimento para a Gestão
de Recursos Humanos.
3 Métodos
Atualmente, percebe-se uma preocupação com o homem e seus conhecimentos, a
gestão das empresas deixa de estar centrada apenas nos processos e procedimentos e passa a
se preocupar com o comportamento e o conhecimento humano que envolve também questões
subjetivas como valores, contextos e poder (NONAKA; TOYAMA, 2005). É neste momento,
que se insere a Gestão do Conhecimento como uma área importante a ser investigada e
implementada na organização, levando em consideração questões que envolvem tanto o
indivíduo como o grupo organizacional.
A Gestão do Conhecimento está interligada com o processo de aprendizagem dos
indivíduos dentro da organização. Entre os processos organizacionais pode-se destacar: o
treinamento e desenvolvimento – como forma de capacitar os trabalhadores para o cargo atual
ou futuro, definição de normas e padrões – para manter e melhorar processos de trabalho e de
qualidade do produto (ou serviço), e tomada de decisão – atuando principalmente no
delineamento estratégico da organização.
Visando a manutenção da cientificidade da pesquisa que apresenta como
características metodológicas uma abordagem qualitativa, já que considera uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, sendo utilizada a interpretação dos fenômenos e a
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atribuição de significados (GIL, 2002; SANTOS, 1999), faz-se necessário o delineamento dos
procedimentos metodológicos.
Os procedimentos metodológicos constituem-se em três etapas específicas (detalhados
na figura 1):
1ª Etapa – Caracterização da Pesquisa. Tendo como principal procedimento o
levantamento bibliográfico sobre o tema estudado, realizando a análise das variáveis:
Gestão do Conhecimento, Conhecimento Tácito e Habilidades. A primeira etapa será
do tipo exploratório, pois envolverá levantamento bibliográfico, com o intuito de
articular os conceitos possibilitando maior compreensão do tema.
2ª Etapa – Delineamento do trabalho de campo. Caracterizado pela definição dos
procedimentos metodológicos, dos critérios de confiabilidade e validade da pesquisa
e elaboração de instrumentos de pesquisa. Estão previstas entrevistas individuais e
grupais, com o objetivo de mapear os conhecimentos tácitos e das habilidades
utilizadas no ambiente de trabalho e na Gestão do Conhecimento. Os instrumentos
serão validados por meio de testagem com amostra da população pesquisada.
Salienta-se que será adotado a amostra do tipo não-probabilística, com escolha
intencional dos sujeitos participantes da pesquisa. Para tanto, será necessário definir
o perfil dos indivíduos a serem entrevistados. Nesta etapa a pesquisa assume uma
característica do tipo descritiva, detalhando as possíveis ligações entre as variáveis
pesquisadas.
3ª Etapa – Trabalho de Campo. Delineada pela seleção das organizações onde serão
aplicados os instrumentos de pesquisa de campo, permitindo o mapeamento de
habilidade e conhecimentos tácitos vinculados a Gestão do Conhecimento e ao
trabalho, gerando a integração dos dados coletados (empíricos) com as referências
conceituais pesquisadas.
Quanto à questão de validade, que se refere “ao grau em que um instrumento
realmente mede a variável que pretende medir”, a pesquisa opta pelo tipo de validade de
conteúdo. “Por validade de conteúdo entende-se o nível em que um instrumento evidencia
enfatiza a predominância específica do conteúdo a ser medido” (MARTINS, 2006, p. 5).
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4 Cronograma do Projeto
O cronograma (Quadro 1) indica as atividades previstas na pesquisa proposta no
decorrer do ano.
Meses
ETAPA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses
ETAPA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
6 Referências
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