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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

INSTITUTO DE FILOSOFIA

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

A embriaguez Dionisíaca: uma sabedoria a partir do Eu não


subjetivado.

Aluno: João Paulo Ignacio

RIO DE JANEIRO

2017
Introdução
O camponês e sua tragédia Grega

- O que vi da vida?

Pergunta a si mesmo o pobre homem do campo, jogado ao canto morrendo de


dor!

A si mesmo responde:

- Nada, nada demais ou de menos. Todavia, transformo meus últimos suspiros em


poesia e arte. Pois só assim alcançarei os deuses. Uma poesia harmoniosa e rítmica que
será levada pelo vento como uma melodia que os coros satíricos irão eternizar.

Nesse momento os suspiros fúnebres do camponês transformam-se em palavras e


o sangue que escorre do seu peito muito se assemelha aos vinhos que potencializam os
cultos dionisíacos. Seu gemido se parece com a doce canção das bacantes e seu poema é
idêntico às palavras do sábio Zaratustra. Eis que o Camponês diz:

Ouçam os profetas deste século!


Ouçam, eles são nossos poetas!
Ouçam o que eles dizem nas praças e nos bares. Ouçam...
Ouçam! Pois eles trazem;
Em suas bocas o oráculo;
Em seus olhos o futuro;
Em suas bagagens a sabedoria!

Suas palavras oraculares anunciam a tragédia!


Trágico, trágico são os dias doravante a nós.
Quem foi? Quem é? Quais serão os poetas?
Homens sem rosto e beleza, anônimos, derradeiros do acaso. Ouçam
hoje os poetas.

Apreciem as embriagantes palavras que eles ressoam.


As palavras dos poetas são risonhas aos medíocres,

Mas para o Ubermensch é sabedoria e embriaguez.


A superação do homem está em ouvir seus poetas!

Ouçam os poetas, pois a tragédia por eles anunciada é esta:

“Deus morreu”.

Todavia, os medíocres riem de tal afirmação.

Ouçam hoje os poetas.

Os poetas não sabem rir, mas eles dançam.

Dançam ao som de uma arte não figurada.

Uma arte que é pura vontade e potência.

Os poetas dançam e só creem num deus que sabe dançar.

Os poetas dançam ao som do coro, embriagados e em transe.

Os poetas dançam, ouçam hoje os poetas.

O que os poetas cantam e dançam é embriagante.

Eles cantam sobre a morte de deus.

Eles dançam como um Ubermensch1.

Os poetas se embriagam das videiras de Dionísio.

Nessa embriagues total veem a verdadeira estética.

Em transe, ouçam os poetas.

Ouçam os poetas, pois suas palavras são misteriosas.

Eles dizem que a sabedoria está nas tabernas.

Eles dizem que o homem deve ser superado.

Eles dizem que com Deus morreu e com ele toda blasfêmia.

Eu digo que a morte de Deus reconcilia homem e natureza.

Eu digo que Dionísio é sabedoria.

1
“Sobre-homem”
Uma trágica sabedoria, que implica embriaguez e transe.

Ouçam-me, pois eu sou um poeta.

Em seus últimos suspiros o camponês moribundo, esquartejado pela guerra, diz:

- Montei meu próprio velório e esculpi em minha lápide o meu epitáfio. A frase
que deixo é: “Na dor encontrei poesia, na morte encontrei a paz e na vida por causa de
minhas virtudes, apenas vivenciei guerras.”. Agora despojado de virtudes, embriagado
em meu último suspiro pergunto-me novamente: “o que vi da vida?”. Minha resposta é
mais curta e fúnebre, pois agora vejo que nunca vivi. Em minha rápida vida,
embriaguei-me pouco, contradisse-me de muito e meu EU perdeu-se no nada, porém
após esse transe sei que morrerei, mas minhas palavras ecoarão eternamente como um
louvor a Dionísio.
1.0 – Dionísio e Apolo: os deuses da arte.

A manifestação artística, a partir de elementos “não-humanos”, é uma das marcas


singulares na experiência estética encontrada na arte dionisíaca. Na tradição helênica,
dois deuses compartilham os domínios da arte, a saber, Apolo e Dionísio. Todavia a
experiência estética que emana de ambos é diferente, bem como, a manifestação
propriamente dita da arte que cada um concebe.

Se de um lado, a experiência estética apolínea é de caráter figurado em


contraposição a ela manifesta-se uma experiência dionisíaca inteiramente não-figurada.
Essas configurações de experiência estética são manifestas distintamente na construção
artística; em Apolo, por exemplo, a beleza estética é contemplada nas estátuas, na
arquitetura, etc.; em Dionísio tal beleza manifesta-se na música.

Nietzsche2 propõe que Apolo e Dionísio – os deuses da arte na tradição grega – se


ligam a nossa percepção, a partir do mundo helênico, como dois impulsos que estão em
uma grande “contraposição” um com o outro; principalmente no que tange suas origens
e seus objetos. Todavia, o autor vai apontar que num “miraculoso ato metafísico da
vontade helênica”, esses impulsos até então contrapostos aparecem associados um ao
outro. Nesse emparelhamento entre a obra de arte apolínea e a obra de arte dionisíaca
nasce à tragédia ática.

Esse dois impulsos geradores da tragédia, serão melhores compreendidos,


segundo Nietzsche3, se pensados primeiro como universos artísticos. Esses universos
artísticos serão separados em dois fenômenos fisiológicos, que salientam e representam
bem a contraposição entre o dionisíaco e o apolíneo, a saber, o sonho e a embriaguez.

A experiência do sonho é expressa pelos gregos como algo de caráter apolíneo.


Apolo enquanto deus da luz, da bela aparência e detentor de poderes configuradores,
também governa o mundo interno da fantasia (o sonho). Apolo representa no universo
artístico a boa forma, pois “mesmo quando mira colérico e mal-humorado, paira sobre
ele a consagração da bela aparência4.

Em Apolo esse preservar da boa aparência – inclusive a preservação da imagem


apolínea no sonho, como algo delicado afim de não passar o limites divinatórios

2
Friedrich Nietzsche – O Nascimento da Tragédia (1872).
3
Idem
4
O Nascimento da Tragédia, p. 26.
tornando-se patológico – é uma coisa que evoca o princípio de individuação. Este
princípio que se mostra em Apolo, nos comunica “todo o prazer e toda a sabedoria da
aparência, juntamente com a sua beleza”5, ou seja, o manter da boa aparência é o que
faz com que a Apolo seja anunciado ao mundo como representação.

Com isso Apolo manifesta-se na experiência estética na forma apolínea, cuja


representação é de caráter figurado e que terá em seu universo artístico o sonho como
elemento que evoca o princípio de individuação. O sonho aparece como evocador do
princípio de individuação no momento em que o mesmo; ainda que simbólico, obscuro
e outrora inteligível, diz respeito a uma realidade familiar do sujeito, ou seja, o sonho
sempre se mantém a partir de uma representação equivalente da experiência real do
sujeito que sonha. Preservando assim seu caráter individualizante.

A embriaguez é equivalente ao sonho na experiência apolínea e é expressa pelos


gregos como algo de caráter dionisíaco. Ela é também a forma mais próxima de
experimentação do rompimento do princípio de individuação. É na produção e na
experimentação que Dionísio se relaciona com a experiência estética. Na embriaguez há
um transvio das aparências, desta forma o princípio da racionalidade, em certos pontos,
parece sofrer uma exceção.

Sendo assim, a embriaguez enquanto elemento da experiência estética evoca o


rompimento do princípio individualizante, pendendo para um “Eu coletivo”. É a
embriaguez total, uma sabedoria a partir do “Eu não subjetivado”.

Dionísio é anunciado ao mundo como vontade. Tal vontade se manifesta no


excesso e no transbordamento. A experiência dionisíaca proporciona o transbordamento
de si mesmo, no qual, o “Eu individualizante” esvai-se totalmente.

2 – Sabedoria trágica: uma melodia que não cessa.

Em sua árdua crítica à filosofia clássica, Nietzsche identifica dois tipos de


sabedoria: a Sabedoria Socrática e a Sabedoria Trágica. Assim como nas investigações
anteriores cada sabedoria é regida por um “espírito”. A sabedoria Socrática tem por
maestro o “espírito apolíneo” em contrapartida a sabedoria Trágica que tem por regente
o “espírito dionisíaco”.

5
Idem
Marcondes6 explica que a crítica nietzschiana tem início a partir do surgimento da
filosofia na Grécia clássica. Segundo o autor, para Nietzsche a transição do pensamento
mítico para o lógico-científico é marcada por perdas essenciais. A filosofia instala um
predomínio da razão, em detrimento a isso, aspectos essenciais como: os mitos, a
música dionisíaca, etc. – componentes que conectavam o homem a natureza e a forças
vitais – foram esquecidos.

No momento em que a filosofia se instaura na Grécia clássica ela afeta


diretamente a dinâmica e o equilíbrio que havia entre o “espírito apolíneo” e o “espírito
dionisíaco”. O nascimento da filosofia marca o predomínio do “espírito apolíneo”,
representado por Apolo, o deus racional, ordeiro e equilibrado, aquele que é a medida e
que sustenta sempre uma boa forma. É nessa sustentação da boa forma que o homem
passa – em nome das virtudes – a negar o mundo. Isso fica claro no platonismo, quando
há um mundo real e o mundo das ideias (ou da boa forma). Esse desequilíbrio irá se
agravar com o advento do Cristianismo que será chamado de platonismo do povo; e
assim uma luta entre Dionísio contra O Crucificado irá se manifestar.

Mas a sabedoria advinda do “espírito dionisíaco” é um movimento oposto ou


complementar ao “espírito apolíneo”, pois a sabedoria dionisíaca é uma experiência que
advém de um estado extraordinário da vida. A sabedoria dionisíaca é tão profunda que
suas definições – se é que há alguma – deve ser expressa em aforismos, pois não se
encaixa em um sistema lógico-racional (apolíneo).

A sabedoria trágica contrapõe-se ao herói, – o virtuoso – antes disso, a sabedoria


dionisíaca é uma sabedoria que emana da tragédia do herói. Tal sabedoria encontra na
embriaguez total, no transe profundo, terreno fértil para sua manifestação. É isso que
anuncia o coro satírico:

Feliz é o mortal que, consciente da divindade dos mistérios,


santificando sempre sua vida, sente que tem a alma de um devoto, e na
montanha, entregue às bacanais, celebra, depois de purificado como se fosse
um santo, a sacra orgia da Grande Mãe Cibele (...). Vamos, Bacantes!
Vamos! Celebrai! Tu, Brômio, deus e filho de deus, desce, Dionísio, dos
altos montes da Frígia distante para cá, para as cidades gregas onde os coros

6
Danilo Marcondes - Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.
te acolhem em total intimidade! Vem logo, Brômio, tu, que nos transes das
7
dores naturais de um parto (...).

A sabedoria dionisíaca é trágica e envolve uma experiência religiosa ímpar


manifesta dentro e através do coro satírico. Essa experiência religiosa é o sair de si, uma
não subjetivação. Um transbordamento órfico, onde o “Eu individualizante” é diluído
num “Eu coletivo”, pois cultuar Dionísio é derrubar a quarta parede que separa o
público do espetáculo. É um convite para o nascimento da tragédia. O coro é “a muralha
viva contra a realidade assaltante”, pois o coro traduz-se numa realidade que ultrapassa
o confinamento racional do homem civilizado e virtuoso.

A sabedoria trágica é a demonstração da virtude (moral) com manifestação da


decadência. Ela – a sabedoria trágica – destroça o herói por excesso de virtude, convoca
o homem para a loucura como fez com Édipo. Através do transe incita todas as
mulheres de Tebas a deixarem seus lares e ir em direção aos seus desejos mais íntimos e
promíscuos; a se misturarem com as filhas de Cadmo nos rochedos e sob os pinheiros.

A Sabedoria Trágica! Nasce do coro satírico e o coro satírico é a consciência da


sabedoria trágica é a experimentação de todas as máscaras de todas as experiências do
existir.

Ah, a Sabedoria trágica!!

7
As Bacantes – Eurípides
Conclusão:

As máscaras de Dionísio

Dionísio é a própria vida manifesta.

E a vida é isso...

Um eterno devir, um constante movimento.

A mudança da mudança, a exibição do inédito.

A manifestação do ato que jamais se repetirá.

A vida é isso...

Uma curva senoidal.

Um ato que não se ensaia.

Um passo de dança que se improvisa.

Uma energia que não se aplaca.

Uma extensão do ser para o ser.

A vida é como a música.

Ela necessita de harmonia, melodia e ritmo.

Uma harmonia da embriaguez.

Uma melodia do transe.

Um ritmo da mistura coletiva.

Deem-me Dionísio... Eu quero ser Dionísio.


Referências Bibliográficas

NIETZSCHE, F.; O Nascimento da Tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo:


Companhia das Letras; 2007. p. 177.

MARCONDES, D.; Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a


Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar; 2007. p. 303.

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