Não é sobre andar de mãos dada na rua Dos familiares
Também é, mas não é só isso Amigos
Ter medo O buraco é mais embaixo Suar frio Mas pode ser lá em cima Engolir em seco Na periferia Quando vão te falar Onde não pode ser bixa Posso te fazer uma pergunta? Que pode ser chamado na chincha Não saber a reação Pegado de jeito Torcendo pelo privilégio O medo De não rolar a expulsão De não saber qual é o tipo de desejo E se acontecer, pra onde vou correr? Dos fora do meio “Respeito Mas não aceito” É sobre não entender Receio do desprezo Do por quê Desde criança ri de você Se preocupar Rezar De ter que escutar Pra não passar de risadas A turma inteira te chamar de menininha Quando anda A melhor amiguinha falar Na própria quebrada Tu é bixinha Na frente de varios homens O valentão ameaçando a te bater Com os olhares penetrantes Enquanto um coro grita: vira homem Será que vão me espancar?
Recorrer a professora E esses mesmos
Chorando No meio Estão me xingando Tem aquele que tem desejo De novo Que por tanta repressão E nada acontecer Acabou entrando contramão De novo Odiando a si mesmo
Ter vergonha de falar pra mãe Um corpo fadado a ter
Chorar de novo Hematomas de paixão E não falar Ou roxos de agressão Aprender desde criança Apenas pela sua orientação A segurar o choro E eu nasci Não entender até hoje Nasci da nascente O por quê de ninguém falar Que cai constantemente A quantidade de pedofilia Perfurando com unhas e dentes Que parece um parasita O cimento que nunca vai asfaltar a Que não é exclusividade das meninas corrente Que também pode acontecer com as bixas E agora sei Quando são criancinhas Que não sou um erro Da sua igreja Ter que se esconder Ciência Mas talvez sim desse sistema Que desrespeita as bixa bolada da nossa quebrada Que você não tem o direito de abusar Um menino afeminado Que já julgava ser viado Desde as civilizações antigas E depois de anos Rebelião de Stonewall contra a polícia Ser sem noção de perguntar Perseguição nazista Se o motivo de ser gay Ditadura militar Foi por causa daquela vez lá Epidemia do vírus nos anos 80 Até os dias de hoje Não deixar a heteronormatividade Com vários outros direitos Se instalar na nossa comunidade Que ainda não são assegurados Que sou forte pelo feminino Que habita em mim Tenho convicção E nem preciso ter esse estereótipo Que travesti não é bagunça De ter um companheiro viril e cis E que não foi aqui que começou E nem é aqui que vai terminar Pode chamar no feminino A nossa luta Falar gayzinho Dos guetos com vogue Tudo isso não passa de elogio Das favelas com o funk E toma muito cuidado Com aquela que passa Eu nasci Reboco na cara Nasci da nascente Peruca e Garras Que cai constantemente Que anda pronta pra assustar Perfurando com unhas e dente O cimento que nunca vai asfaltar a E nem adianta corrente Falar da voz fina Que ruge mais alto Pare de nos ignorar Que qualquer tapado Olhe ao seu redor Gritando por pênalti pro Brasil Várias histórias Outras vivências E não precisamos pegar Ônibus e metrô Não é só preconceito Pra ir pra paulista e LGBTQfobia Pra dar close de patrícia E encontrar gente da nossa sigla Somos nascentes Tem aqui na periferia De água doce Rainha dos rios Proteger e não deixar nos tratar Dona das cachoeiras Como água de chuca Somos nascentes Descendo pela descarga Sempre vamos estar lá Os mal elementos que atacam As sapas, as monas, bi, pan e as travas Mesmo pequena Mandar o procede Uma hora, toda nascente Até mesmo se for pras gays No meio do caminho Que é burguês Há de se transformar