PSICANALISTA
JULHO/2012
TEORIA PSICANALÍTICA FREUDIANA I
Sigmund Freud
Traços biográficos
A Metodologia Freudiana
Freud sempre achou que existia um certo conflito entre os impulsos humanos
e as regras que regem a sociedade. Muitas vezes, impulsos irracionais
determinam nossos pensamentos, nossas ações e até mesmo nossos sonhos.
Estes impulsos são capazes de trazer à tona necessidades básicas do ser
humano que foram reprimidas, como por exemplo, o instinto sexual. Freud vai
mostrar que estas necessidades vêm à tona disfarçadas de várias maneiras, e
nós muitas vezes nem vamos ter consciência desses desejos, de tão
reprimidos que estão.
Quanto maior a dor a ser vivida com a recordação, mais a resistência era
mobilizada, tornando-se mais difícil a recordação do trauma. A descoberta da
inconsciência leva Freud a outra questão: se há necessidade de uma força tão
grande para impedir que o trauma se torne consciente, é sinal de que as
recordações traumáticas não estão imobilizadas no inconsciente; se a
resistência deve ser aumentada na proporção em que o trauma é maior, quanto
mais doloroso o evento reprimido, maior é a força que ele deve fazer para se
tornar inconsciente. A esta força que se mobiliza para que o indivíduo não seja
ferido em seus ideais éticos e estéticos, que tira da consciência a percepção de
acontecimentos cuja dor o indivíduo não poderia suportar, Freud chamou de
REPRESSÃO. Se alguém passa por um evento tão doloroso, que sente não
poder suportá-lo, é um processo de autoproteção reprimir o acontecimento.
Mesmo que pudesse explicar a dimensão dos conceitos internos, os conceitos
de consciente e inconsciente não puderam responder algumas questões
levantadas. O consciente não podia suportar a percepção de uma vivência e
mantinha permanentemente a resistência bloqueando esta percepção. Não se
podia considerar inadequado algo que não é conhecido.
INTRODUÇÃO
INCONSCIENTE
Para Freud, é pela ação do “recalque” infantil que se opera a primeira clivagem
entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O inconsciente freudiano é
“constituído”, apesar de o primeiro tempo do recalque originário poder ser
considerado mítico; não é uma vivência indiferenciada.
PRÉ-CONSCIENTE
CONSCIENTE
INTRODUÇÃO
ID OU ISSO
Este foi um termo introduzido por Georg Groddeck em 1923 e conceituado por
Sigmund Freud no mesmo ano, a partir do pronome alemão neutro da terceira
pessoa do singular (Es), para designar uma das três instâncias da segunda
tópica freudiana, ao lado do ego (eu) e do superego (supereu). O id (isso) é
concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem
inconsciente.
Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do
aparelho psíquico. O id constitui o pólo pulsional da personalidade. Os seus
conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado
hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos.
O termo das Es [isso, aquilo] é introduzido em O ego e o id (Das Ich und das
Es, 1923). Freud vai busca-lo em Georg Groddeck e cita o precedente de
Nietzsche, que designaria assim “... o que há de não pessoal e, por assim
dizer, de necessário por natureza do nosso ser”.
A primeira tópica era uma descrição cômoda dos processos psíquicos. Permitia
distinguir entre o consciente e duas modalidades de inconsciente, o
inconsciente propriamente dito, cujos conteúdos só raramente (ou nunca)
podiam ser transformados em pensamentos conscientes, e o pré-consciente,
feito de pensamentos latentes, passíveis de se tornar ou de voltar a se tornar
conscientes.
EGO OU EU
Essa segunda tópica (id, ego, superego) deu origem a três leituras divergentes
da doutrina freudiana: a primeira destaca um eu concebido como um pólo de
defesa ou de adaptação à realidade (Ego Psychology, annafreudismo); a
segunda mergulha o ego no id, divide-o num ego (eu) [moi] e num Ego (Eu) [je]
– sujeito, este determinado por um significante (lacanismo); e a terceira inclui o
ego numa fenomenologia do si mesmo ou da relação de objeto (Self
Psychology, kleinismo).
Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para
com as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e
exigências da realidade. Embora se situe como mediador, encarregado dos
interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é apenas relativa.
Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo
exterior, ter-se-ia diferenciado. No id reina o princípio de prazer. Ora, o ser
humano é um animal social e, se quiser viver com seus congêneres, não pode
se instalar nessa espécie de nirvana, que é o princípio de prazer, ponto de
menor tensão, assim como lhe é impossível deixar que as pulsões se
exprimam em estado puro.
Meynert, cujas aulas Freud acompanhou em 1883, formulou, por sua vez, uma
concepção dual do ego, fazendo uma distinção entre o ego primário, parte
inconsciente da vida mental que tem sua origem na infância, e o ego
secundário, ligado à percepção consciente.
Isso pode ser exemplificado, com uma afirmação que Freud faz em “Sobre o
narcisismo: uma introdução” em 1914, onde diz que o fanatismo, a hipnose ou
o estado amoroso representam três casos nos quais um objeto exterior,
respectivamente: o chefe, o hipnotizador e a pessoa amada vão ocupar o lugar
do ideal do ego no próprio ponto onde o sujeito projeta seu ego ideal.
SUPEREGO OU SUPEREU
O termo Über-Ich foi introduzido por Freud em O ego e o id (Das Ich und das
Es, 1923). Mostra a função crítica assim designada constitui uma instância que
se separou do ego e que parece dominá-lo, como demonstram os estados de
luto patológico ou de melancolia em que o sujeito se vê criticar e depreciar.
Mecanismos de Defesa
INTRODUÇÃO
Foi este o nome que Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de
manifestações que as defesas do Ego podem apresentar, já que este não se
defronta só com as pressões e solicitações do Id e do Superego, pois aos dois
se juntam o mundo exterior e as lembranças do passado.
Quando o Ego está consciente das condições reinantes, consegue ele sair-se
bem das situações sendo lógico, objetivo e racional, mas quando se
desencadeiam situações que possam vir a provocar sentimentos de culpa ou
ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando a ansiedade-sinal
(ou sinal de angústia), de forma inconsciente, ativa uma série de mecanismos
de defesa, com o fim de proteger o Ego contra um dor psíquica iminente.
Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que outros.
Há os que exigem menos despêndio de energia para funcionar a contento.
Outros há que são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia
psíquica.
SUBLIMAÇÃO
a) Inibição do objetivo
b) Dessexualização
REPRESSÃO
RACIONALIZAÇÃO
É uma forma de substituir por boas razões uma determinada conduta que
exija explicações, de um modo geral, da parte de quem a adota. Os
Psicanalistas, em tom jocoso, dizem que racionalização é uma mentira
inconsciente que se põe no lugar do que se reprimiu.
PROJEÇÃO
Manifesta-se quando o Ego não aceita reconhecer um impulso inaceitável
do Id e o atribui a outra pessoa. É o caso do menino que gostaria de roubar
frutas do vizinho sem, entretanto ter coragem para tanto, e diz que soube
que um menino, na mesma rua, esteve tentando pular o muro do vizinho.
DESLOCAMENTO
IDENTIFICAÇÃO
REGRESSÃO
ISOLAMENTO
Certos doentes defendem-se contra uma idéia, uma impressão, uma ação,
isolando-as do contexto por uma pausa durante a qual “…nada mais tem
direito a produzir-se, nada é qualificada de mágica por Freud; aproxima-a
do processo normal de concentração no sujeito que procura não deixar que
o seu pensamento se afaste do seu objeto atual.
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos; nós o vemos
particularmente em ação no tratamento, onde a diretriz da associação livre,
por lhe se oposta, coloca-o em evidência (sujeitos que separam
radicalmente a sua análise da sua vida, ou determinada sequência de idéias
do conjunto da sessão, ou determinada representação do seu contexto
ideoafetivo).
FORMAÇÃO REATIVA
SUBSTITUIÇÃO
FANTASIA
c)Fantasias originárias.
COMPENSAÇÃO
EXPIAÇÃO
INTROJEÇÃO
Segue-se a zona anal, por volta dos 2 anos de idade: o bebê aprende a
manipular e a controlar o esfíncter anal, já que consegue controlar as suas
necessidades. A zona erógena de eleição é, portanto, a zona anal.
A fase fálica começa aos 3 anos e estende-se até à idade escolar, há uma
descoberta dos órgãos genitais e a procura de prazer através destes. Nesta
fase começa a existir uma diferenciação de comportamentos entre rapaz e
rapariga. É também durante esta fase que surge o complexo de Édipo, nos
rapazes, e o complexo de castração, nas meninas.
Por último, existe a fase genital em que o indivíduo procura um objeto de amor
total. Aqui, destacam-se e sucedem-se as diferentes zonas erógenas, mas
todas as outras zonas são secundarizadas em relação à genital. A sexualidade
do adulto é erótica, objetal e hierarquizada sobre o primado da genitalidade.
O indivíduo adulto por princípio atinge a fase genital, mas nem sempre funciona
assim, havendo por isso adultos que se mantêm fixados numa fase mais
primária. As perversões são assim vividas por indivíduos em que o prazer
parcial não se submete ao primado da genitalidade. A sua sexualidade é infantil
e não se desenvolveu totalmente. Há uma fixação numa fase anterior infantil e
a sexualidade infantil é autoerótica, narcísica, pré-genital e anárquica.
Para se atingir a fase adulta tem que se passar por todas as fases e por todos
os recalcamentos que isso implica. Pode-se ficar fixado numa fase se ela não
proporcionar uma satisfação plena ou se, pelo contrário, tiver havido uma
estimulação excessiva associada a determinada fase.
Para Klein, desde o início da vida ocorre uma fusão entre a libido e a
agressividade, o que acarreta que cada etapa do desenvolvimento da libido
seja acompanhada por certo grau de ansiedade, decorrente da agressividade
associada à libido. A culpa, ansiedade e os sentimentos depressivos podem
exercer um papel duplo, tanto levando a libido a buscar novas formas de
gratificação, como também impedir seu percurso e desenvolvimento, gerando
pontos de fixação em objetos e finalidades do passado.
A atitude cindida entre seio bom e seio mau acaba sendo aplicada também em
relação ao pênis paterno. Devido à frustração original, com o seio materno, o
grau de exigência em torno desta nova fonte (o pênis paterno) é alto, assim
como o amor pelo mesmo. Entretanto, o pênis paterno também é uma fonte de
decepção, o que leva a criança a recuar para seu primeiro objeto, o seio;
assim, se configura um estado de alternância e instabilidade, que pode ser
percebida nas emoções e nos vários estágios da organização libidinal.
O bebê, dominado pela libido oral, introjeta seus objetos, o que faz com que as
imagos primárias tenham equivalentes no mundo interno infantil. O seio da
mãe e o pênis do pai ficam, assim, estabelecidos no ego infantil, dando início à
formação do superego. Ao introjetar a mãe boa e má, ocorre também a
introjeção do pai bom e mau. As duas figuras (ou quatro, se pensarmos em
termos de bom/mau), são sentidas como protetoras e auxiliadoras por um lado
e retaliadoras (portanto persecutórias), por outro. Assim, o ego desenvolveu
suas primeiras identificações.
No menino, a inveja da mãe que contém o pênis paterno e os bebês faz parte
de um Édipo invertido. A mesma situação, na menina, participa de um Édipo
positivo. Portanto, tal inveja se manterá como um fator essencial em todo o
desenvolvimento sexual e emocional da garota, levando-a a se identificar com
a mãe (no coito com o pai) e no desenvolvimento de um papel maternal.
Apesar de existir na menina a figura do pai castrador, este não é seu principal
objeto de ansiedade. A grande fonte de ansiedade da menina está na mãe
persecutória. Para que a mãe persecutória não se torne preponderante, é
necessária a internalização de uma mãe boa, que sirva como fonte de
identificações para a garota, mostrando uma atitude maternal. Se tal
identificação boa ocorrer, a relação com o pai bom internalizado também é
reforçada, pois a garota assume uma atitude maternal em relação a ele.
Em relação ao menino, este sente impulsos iniciais para castrar o pai, que
toma a forma de castração pela mordida. Portanto, o medo de castração do
menino também é vivido como um medo que seu próprio pênis seja arrancado
com uma mordida. Este sentimento de medo arcaico é, muitas vezes,
dominado por situações internas de perigo. Conforme a primazia genital se
aproxima, mais e mais, o medo de castração se torna evidente. Portanto,
apesar de Klein concordar que o medo de castração é a principal ansiedade do
homem, ela considera que este não é o único fator que determina a repressão
do complexo de Édipo. O menino, ao mesmo tempo, sente pena de seu pai,
pois este é um objeto amado que foi ameaçado pelos seus impulsos de
castração e assassinato. Em um aspecto positivo, o menino busca no pai um
ideal de proteção e segurança (portanto, o menino deseja preservar o pai).
Quanto mais culpa o menino sente em relação ao pai, devido aos seus
impulsos agressivos dirigidos a este, mais os desejos genitais são reprimidos.
Portanto, na análise de homens, muitas vezes a presença de um sentimento
de culpa em relação ao pai amado é parte integrante do complexo de Édipo. A
sensação de que a morte do pai também seria terrível para a mãe, uma perda
irreparável, também aumenta o sentimento de culpa do menino e reforça a
repressão dos desejos edipianos.
Freud afirmava que o pai e a mãe são objetos de desejo libidinal por parte do
filho. Freud também apontou o papel do amor ao pai no conflito edipiano
positivo, como no caso do pequeno Hans. Entretanto, não deu a devida
importância ao papel crucial desses sentimentos amorosos, tanto no
desenvolvimento do Édipo como em sua superação. Para Klein, a situação
edipiana perde a força não apenas pelo medo de castração, mas também pelo
desejo do menino em preservar seu pai, como figura interna e externa.
Com relação à menina, para Klein esta já apresenta desejos voltados para o
pai desde o início, não apenas os desejos direcionados a mãe, como afirmava
Freud. Assim, existe toda uma interação entre o complexo de Édipo positivo e
invertido. A autora também acredita que, apesar da ocorrerem flutuações entre
os desejos voltados para o pai e para a mãe, em todas as posições libidinais,
ela acredita que existe uma influência inegável da relação com a mãe, que
incide sobre a relação com o pai.
Assim, desejos orais e genitais da menina se dirigem para receber este pênis.
Tais desejos equivalem ao desejo de receber filhos do pai, o que corrobora a
equação “pênis = criança”. A garota, portanto, primeiro deseja internalizar o
pênis e receber um filho, antes de desejar possuir o próprio pênis. Com relação
à ansiedade feminina, apesar de Klein concordar com o medo da perda de
amor, ela considera que a principal ansiedade feminina decorre do medo de ter
seu corpo e seus objetos amados internos atacados e destruídos.
Apesar de estes textos terem sido escritos por Freud dentro do referencial
teórico de sua primeira teoria do aparelho psíquico, proponho que a questão da
sintomatologia nestas organizações psíquicas, histeria de angústia e paranóia,
sejam pensadas a partir da segunda teoria do aparelho psíquico, proposta por
Freud a partir de 1920, pelo fato de que o conceito organizador deste modelo
conceitual é o eu, o que permite pensar a posição intermediária do eu entre o
Isso e a realidade, na oposição neurose-psicose.
Diante deste conflito, o eu poderá assumir duas posições distintas: fazer calar
o Isso e permanecer investindo no mundo externo, ou deixar-se dominar pelo
Isso e empreender um corte libidinal com a realidade externa. Essas diferentes
posições assumidas pelo eu diante do conflito marcam formas distintas de
funcionamento psíquico que irão desencadear, respectivamente, a neurose e a
psicose.
Para pensar as posições ocupadas pelo eu neste relato de Freud, talvez seja
possível tomar como referência inicial para a reflexão um dado clínico: a
paciente jamais procurou relacionamentos amorosos com homens e vivia
tranqüilamente com sua velha mãe, sustentando-a.
Neste circuito afetivo, o sintoma é apenas mais uma representação que se faz
visível e, ao mesmo tempo, oculta todo um mundo de fantasias que constroem
aquele animal desnaturado, impulsionado, dolorido, chamado humano. Vozes,
palavras, histórias... talvez sonhos...
BIBLIOGRAFIA