Carga horária de
trabalho: evolução e
principais
mudanças no Brasil
29 de julho de 2009
COMUNICADO DA PRESIDÊNCIA
2
1. Apresentação
Este Comunicado da Presidência analisa o tempo de trabalho no Brasil recente.
Destaca que, por força da Constituição Federal, o país reduziu, em 1988, a jornada máxima
nacional de trabalho de 48 para 44 horas semanais.
Após duas décadas, o tema do tempo de trabalho voltou a ser discutido pela
sociedade em termos da proposta de uma nova redução oficial. Em função disso, o presente
Comunicado considera tanto a evolução como as principais mudanças ocorridas na carga
média horária trabalhada desde 1988 pelos ocupados brasileiros. Três são as suas partes
constitutivas, conforme descrito a seguir:
• a primeira seção trata brevemente da evolução nacional da jornada média
semanal de trabalho do total dos ocupados entre 1988 e 2007;
• a segunda seção registra sinteticamente um conjunto das características
principais das horas médias tradicionalmente trabalhadas no país; e
• a terceira seção refere-se à mudança na distribuição do tempo de trabalho
dos ocupados no Brasil.
A última parte contém algumas considerações que buscam resumir este
Comunicado da Presidência, que tem como principal fonte de informações a Pesquisa
Nacional de Amostras por Domicílios (PNAD), produzida pelo IBGE. Como norma, o presente
comunicado antecipa análises e informações sistematizadas que correspondem, em grande
1
medida, ao esforço de trabalho em curso de técnicos em pesquisa e planejamento do Ipea .
1
Este documento contou com a assistência e colaboração de: Ricardo L. C. Amorim, Milko Matijascic, Guilherme
Dias, Maria Pereira Dias, James Richard da Silva, Daniel Castro e Douglas Portari.
3
Gráfico 01: Brasil – horas médias trabalhadas por semana entre 1988 e 2007
‐10,7 39,4
BRASIL 44,1
0,0
TO 37,0
‐6,2 41,9
SP 44,6
‐9,2
SE 37,7
41,5
‐11,2 41,1
SC 46,3
‐14,1 39,7
RS 46,2
‐8,5 38,6
RR 42,2
‐21,7 36,6
RO 46,8
‐17,2 36,7
RN 44,3
‐4,6 40,6
RJ 42,6
‐13,4 39,5
PR 45,7
‐21,0 31,1
PI 39,3
‐10,2 38,6
PE 43,0
‐9,4 37,6
PB 41,5
‐9,5 38,5
PA 42,6
‐17,7 39,9
MT 48,5
‐16,1 39,6
MS 47,2
‐12,0 39,6
MG 45,0
‐20,6 35,1
MA 44,2
‐10,5 41,0
GO 45,8
‐12,4 39,7
ES 45,3
‐4,6 40,8
DF 42,8
‐11,0 37,2
CE 41,8
‐11,0 36,6
BA 41,2
‐3,2 40,7
AP 42,0
‐11,9 38,9
AM 44,2
‐14,9 38,2
AL 44,9
‐16,6 35,8
AC 42,9
-25 -15 -5 5 15 25 35 45
4
No ano de 2007, o estado da federação com menor jornada média de trabalho
semanal foi o Piauí (31,1 horas), seguido do Maranhão (35,1 horas), Acre (35,8 horas),
Rondônia (36,6 horas) e Bahia (36,6 horas). Já o estado que registrou a maior quantidade
média de horas semanais foi São Paulo (41,9 horas), acompanhado, na sequência, por Santa
Catarina (41,1 horas), Goiás (41 horas) e Distrito Federal (40,8 horas).
Em 1988, o estado da federação com menor jornada média semanal de trabalho
no país foi o Piauí (39,3 horas), seguido da Bahia (41,2 horas), Sergipe (41,5 horas) e Paraíba
(41,5 horas). Por outro lado, o estado com maior tempo médio semanal de trabalho foi Mato
Grosso (48,5 horas), seguido por Mato Grosso do Sul (47,2 horas) e Roraima (46,8 horas).
Gráfico 02: Brasil– evolução da jornada média semanal de trabalho por regiões
geográficas entre 1988 e 2007
-10,7
Brasil 39,4
44,1
-11,9
Centro-Oeste 40,5
45,9
-13,2
Sul 39,9
46,0
-7,5 Sudeste 41,0
44,3
-13,1
Nordeste 36,7
42,2
-12,3 Norte 38,2 43,5
-20 -10 0 10 20 30 40 50
5
Gráfico 03: Brasil– evolução da jornada média semanal de trabalho segundo
sexo e raça/cor dos ocupados entre 1988 e 2007
-10,7 Br asil 39,4
44,1
-6,1 41,0
Parda
43,7
-11,9
Amarela 38,5
43,7
-9,2 40,1
Preta 44,1
-10,5
Branca 39,7 44,4
-11,1 35,1
Feminino 39,5
-10,0 42,6
Masculino 47,4
-20 -10 0 10 20 30 40 50
-10,1
Mais que 40 e até 55 anos 40,5
45,1
-7,8
Mais que 24 e até 40 anos 41,1
44,6
-14,4
Até 24 anos 37,1
43,3
Por faixa etária, percebe-se que entre 1988 e 2007, os trabalhadores com mais
de 55 anos de idade apresentaram maior redução no tempo médio de trabalho durante a
semana (18,5%), enquanto o segmento entre 24 anos e 40 anos de idade teve a menor
queda (-7,8%). Por isso, os trabalhadores de 24 a 40 anos lideraram, em 2007, a maior
6
jornada média de trabalho por semana no Brasil (41,1 horas), tendo os ocupados com mais
idade (acima de 55 anos) a menor jornada média de trabalho por semana (35,4 horas).
-1,2
11 e mais 39,7
40,2
-6,3 40,5
8 a 10
43,2
-13,6
4 a7 39,3
45,5
-17,5 36,9
1 a3
44,7
-18,1
Até 1 ano 36,2
44,2
7
Gráfico 06: Brasil– evolução da jornada média semanal de trabalho segundo
setor de atividade econômica dos ocupados entre 1988 e 2007
-10,7 Brasil 39,4
44,1
-10,5 41,0
Outros serviços
45,8
-5,1
Adm. Pública 38,9
41,0
3,2
Sociais 35,8
34,7
-2,4
Serviços Industriais
44,7
45,8
-7,2
Transporte 46,2
49,8
-6,5
Comércio 42,9
45,9
-8,7
C. Civil
43,0
47,1
-7,7
Indústria
41,9
45,4
-26,3
Agrícola 33,6
45,6
-9,2
Conta própria 39,5 43,5
-6,6 48,1
Empregador 51,5
-9,1
Empre gado 40,3
44,3
Nos diferentes tipos de ocupações, verifica-se que entre 1988 e 2007, os não
remunerados foram aqueles que apresentaram a maior redução no tempo médio
semanalmente trabalhado (28,2%). Os empregadores também registram queda na jornada
de trabalho (6,8%), porém, a menor observada entre o conjunto dos ocupados do Brasil.
8
4 – Distribuição do tempo de trabalho
30 37,2 30,1
20
10,1
10 9,1
3,4 7,9
0
Tempo mínimo Tempo parcial Tempo completo Tempo adicional
19 88 20 07
Fonte: IBGE – PNAD (elaboração IPEA) Tempo mínimo = até 19 horas; Tempo parcial = de 20 a 29 horas; Tempo
completo = 40 a 44 horas (48 em 1988) e Tempo adicional = mais de 44 horas (48 em 1988)
Entre 1988 e 2007 houve aumento da mão-de-obra nas ocupações tanto com
jornadas significativamente reduzidas de trabalho como nas extremamente elevadas. Com o
tempo mínimo de trabalho (até 19 horas), por exemplo, o Brasil registrou o crescimento de
166% na presença de trabalhadores desde 1988, enquanto com tempo adicional de trabalho
(acima da jornada máxima) o aumento foi de quase 45%.
40 44,2
28,6
30
20
13,4
10,2
10
1,9
1,0
0
Tempo mínimo Tempo parcial Tempo completo Tempo adicional
Ocupação informal Ocupação formal
Fonte: IBGE – PNAD (elaboração IPEA) Tempo mínimo = até 19 horas; Tempo parcial = de 20 a 29 horas;
Tempo completo = 40 a 44 horas e Tempo adicional = mais de 44 horas
9
Em síntese, há crescente parcela dos ocupados com jornada de trabalho baixa e
com jornada máxima de trabalho, ao mesmo tempo em que esvazia a presença de
trabalhadores com o tempo completo. Possivelmente, o quadro geral de baixo dinamismo
econômico acompanhado da elevação do desemprego e de queda na remuneração do
trabalho terminou impondo a muitos ocupados a ampliação do horário de trabalho, bem
como o exercício de qualquer horário, por menor que seja, como estratégia de sobrevivência
mínima.
19,2
BRASIL 29,2
TO 26,4
13,9
SP
11,4
42,5
SE 26,0
20,4
14,8
SC 39,6
20,0
RS 31,2
RR 25,7
14,2
RO 25,0
19,5
RN 28,2
19,8
14,7
RJ 37,0
20,6
PR 32,4
PI 40,6
9,6
PE 22,7
19,8
PB 29,1
14,0
PA 20,9
17,6
MT
17,8 22,0
20,7
MS 24,2
18,9
MG 30,0
MA 32,7
11,8
15,2
GO 26,7
17,9
ES 31,0
DF
10,8
33,2
CE 27,7
18,4
BA 26,9
16,3
15,8
AP 19,8
15,1
AM 23,7
AL 26,1
14,5
AC 26,3
12,4
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
% do emprego privado formal % dos ocupados com até 29 horas semanais
Fonte: IBGE – PNAD (elaboração IPEA)
10
A presença de ocupados com tempo mínimo (10,2%), ou tempo parcial (13,4%)
de trabalho, concentra-se fundamentalmente nos postos de trabalho informais, pois nos
contratos formais mostra ser residual em 2007. Já em relação à alocação dos ocupados com
jornada máxima de trabalho não se observa grande distinção entre formais e informais, pois
em ambas a presença de trabalhadores é extremamente elevada (quase 50% dos ocupados).
Por conta disso, quando se considera a relação do emprego formal no total das
ocupações observa-se a distorção que pode haver em relação à medida média dos horários
semanais de trabalho. Isso porque os postos de trabalho com tempo mínimo e parcial
concentram-se nas ocupações informais, como espécie de estratégias de sobrevivência.
Por isso, na comparação da jornada média de trabalho semanal por estados da
federação, por exemplo, aqueles com menor presença de ocupação formal são os de menor
carga horária de trabalho. Os estados do Piauí (9,6%) e do Maranhão (11,8%), por exemplo,
possuíam, em 2007, as menores presenças relativas de ocupados privados formais, o que se
refletia, na maior parcela de trabalhadores com postos de trabalho com até 29 horas
semanais (tempo mínimo e parcial).
Em contrapartida, São Paulo (42,5%) e Santa Catarina (39,6%) foram, em 2007,
os estados com maior presença relativa de ocupações privadas formais. Nesse mesmo
sentido, apresentaram também as menores parcelas de ocupados com tempo de trabalho
mínimo e parcial, salvo a situação do Distrito Federal.
5 – Considerações finais
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