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RESENHA ISSN 1982-8632

DELORY-MOMBERGER, CHRISTINE. Biografia e educação: figuras do indivíduo- Revista


projeto. Trad. Maria da Conceição Passeggi, João Gomes da Silva Neto e Luis @mbienteeducação.
6(1): 133-5, jan/jun,
Passeggi. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2008. 147p. 2013

Maria da Conceição Passeggi1


mariapasseggi@gmail.com

Biografia e Educação. Figuras esses espaços constitui um dos princi-


do indivíduo-projeto [Biographie et pais objetivos da pesquisa biográfica
Éducation. Figures de l’individu-pro- em educação e um dos seus grandes
jet], de Christine Delory-Momberger, desafios como campo científico.
completou dez anos de sua publicação
na França, em 2003, e cinco anos de A tarefa da pesquisa biográfica,
sua tradução para o português, em como sugere a autora, é pensar o bio-
2008. O interesse desse livro é que se gráfico enquanto uma forma privile-
trata de uma obra inaugural. Nele, a giada da atividade mental e reflexiva,
autora sintetiza sua percepção sobre no momento em que nos enunciamos
os princípios fundantes e as filiações como autores de nossa história. A hipó-
de uma jovem ciência: a pesquisa bio- tese é que, nas narrativas autobiográ-
gráfica em Educação, considerada, até ficas, (re)integramos, (re)estrutura-
o início dos anos 2000, como uma terra mos e (re)interpretamos a experiência
incógnita para pesquisa e a universi- vivida e damos outros sentidos aos
dade francesa. Nesses últimos anos, o quadros social e histórico nos quais
vivemos e nos (re)conhecemos, ao lon-
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esforço de Christine Delory-Momber-
ger concentra-se em fundamentar e go de nossa vida. Trata-se, pois, de in-
consolidar a pesquisa biográfica como vestigar como os indivíduos biografam
campo disciplinar. suas trajetórias, (re)elaboram projetos
de si e como negociam em suas narra-
A atividade de biografização é o tivas os modelos, as crenças e valores
ponto central de sua tese. O trabalho veiculados pelos projetos propostos pe-
de biografar (escrever a vida) é conce- las instituições socializadoras na mo-
bido como uma hermenêutica prática, dernidade tardia.
pelo qual o indivíduo se atribui narra-
tivamente uma figura de si. É a par- A autora situa sua proposta com
tir dessa noção que a autora traça as relação às tradições e às filiações em
linhas mestras de sua proposta para pesquisa nas Ciências Humanas e
demarcar a pesquisa biográfica em Sociais. Lembra, em primeiro lugar,
Educação como um campo de conhe- duas atitudes geralmente opostas com
cimento legítimo nas Ciências Huma- relação ao biográfico. Por um lado, a
nas. O subtítulo do livro, Figuras do que considera o biográfico como domí-
indivíduo-projeto, indica a direção na nio de interioridade e, por outro lado,
qual se tornam indissociáveis o bio- a que o considera como material bruto
gráfico e o educativo, paradoxalmente a ser esvaziado de sua subjetividade
considerados, pela escola e na escola por precauções científicas. É contra
republicana, como dois espaços ao mes- essa antinomia que a noção de bio- RESENHA
Delory-Momberger,
mo tempo conjugados e separados. De grafização é concebida como interface Christine. Biografia e
modo que, evidenciar as relações entre entre o individual e o social, e é apre- educação: figuras do
indivíduo-projeto.

Passeggi MC
  Professora Pós-graduação em Educação da UFRN
1
ISSN 1982-8632 sentada como um conceito fundante se aprofundar na pesquisa biográfica
da pesquisa biográfica. Delory-Mom- em Educação. A primeira é histórica.
berger busca outras filiações para si- Christine Delory-Momberger retraça
Revista tuar a pesquisa biográfica (Recherche com rigor as filiações históricas, so-
@mbienteeducação. biographique), na França. E encontra ciais e religiosas da biografização e
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ressonâncias em correntes há muitos discute as projeções atuais do ato de
anos consolidadas em países anglo- biografar sua vida numa sociedade
-saxões, tal como a Biographical re- biográfica. A segunda direção é práti-
search, assim como a Biographiefors- ca. Ela concerne aos ateliês biográficos
chung de longa tradição na Alemanha. de projeto realizado com adultos em
É também nessa direção que podemos formação. A autora descreve as dife-
situar tanto a investigación biográfico- rentes etapas do ateliê e oferece pistas
-narrativa, desenvolvida em países para sua adaptação a outras situações
ibero-americanos, quanto a pesquisa de formação. A terceira direção é a do
(auto)biográfica, em plena expansão questionamento. Ela analisa os víncu-
no Brasil, desde o início dos anos 2000. los atuais do indivíduo com o mundo
social, assim como a injunção, cada
Nesse sentido, o livro Biografia vez maior, para que ele encontre em si
e Educação traz inegáveis contribui- mesmo os motivos e a força para afir-
ções do ponto de vista teórico e meto- mar sua identidade, agir e interagir
dológico para as pesquisas desenvol- no mundo do trabalho e na socieda-
vidas brasileiro, cujas repercussões de do conhecimento e da informação.
manifestam-se pelo número crescente A quarta direção é a da relação entre
de trabalhos apresentados nos Con- biografização e escola. Como a criança,
gressos Internacionais de Pesquisa o adolescente, o jovem e o adulto inte-
(Auto)Biográfica (CIPA), em sua sexta gram em suas narrativas “os possíveis
edição. Seus Anais e publicações em biográficos”? Como constroem figuras
134 livros e periódicos permitem cartogra- de indivíduos-projetos a partir do que
far a diversidade e riqueza dessas pes- fazem e do que eles pensam que são
quisas e dão testemunho da vitalidade nos mais diversos espaços de apren-
da área e do interesse que ela desperta dizagem: a escola, o trabalho, a famí-
em Educação. lia, a igreja? Como a escola apreende o
Ao tecer as relações entre bio- processo de biografização e se preocu-
grafia e educação, Christine Delory- pa com ele?
-Momberger costuma enfatizar que se Esses são questionamentos de in-
vê como mediadora de tradições cul- teresse para se investigar as relações
turais: a francófona, na qual nasceu entre os espaços biográficos e educati-
e hoje vive, e a alemã, na qual se for- vos. Os modelos preestabelecidos, es-
mou, trabalhou durante muitos anos e táveis, claramente aceitos, que antes
com a qual continua a manter víncu- ajudavam o indivíduo a constituir uma
los de pesquisa. A interculturalidade figura de si, entram em conflito com as
constitutiva de sua formação e a sua noções de empregabilidade, formabi-
erudição fornecem-lhe o quadro teóri- lidade e adaptabilidade, por exemplo,
co e epistemológico para efetuar o en- que entregam ao indivíduo a tarefa de
contro entre o biográfico e a educação, ser dono de seu próprio destino num
tanto nos territórios da formação e da contexto de mobilidade permanente
inserção profissional no mundo do tra- que caracteriza a modernidade tardia.
RESENHA balho, quanto no território da educa- Nessa sociedade biográfica, emerge a
Delory-Momberger, ção, incluindo o mundo escolar e suas figura do indivíduo-projeto, da pessoa
Christine. Biografia e
educação: figuras do diversas modalidades de ensino. que se percebe na ausência do que já
indivíduo-projeto.
O leitor encontrará no livro qua- não pode mais ser e no que ainda deve
Passeggi MC tro grandes direções para se iniciar ou se tornar. A consciência desse inaca-
bamento, no presente, manifesta-se transição histórica, centrado no indi- ISSN 1982-8632
na ótica de uma “incompletude crôni- víduo, numa sociedade de indivíduos,
ca”, gerada e sustentada pela busca de e define o quadro teórico e as orienta-
projetos. Delory-Momberger questio- ções da pesquisa biográfica como cam- Revista
na essa injunção, essa pressão sobre po disciplinar em Educação. É nesse
@mbienteeducação.
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os indivíduos como gestores de sua contexto que a investigação sobre as 2013
vida, alertando que ela pode desviar o narrativas autobiográficas como dis-
processo de aprendizagem biográfica positivo de pesquisa, formação e inter-
da direção da emancipação de si para venção social ganha todo o seu sentido
uma busca interminável de projetos para a pesquisa educacional e contri-
que têm em si mesmos seus objetivos bui para a reflexão e o debate entre os
e finalidade. pesquisadores, atentos à escrita de si
Biografia e Educação conduz, por- e às aprendizagens que, nessas nar-
tanto, o olhar do leitor para desafios rativas e a partir delas, se realizam,
de uma sociedade biográfica. A auto- em ambientes formais e à margem
ra indica pistas de investigação sobre deles, narrativas nas quais se enla-
o mundo da escola neste momento de çam as histórias individuais à grande
História.

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Delory-Momberger,
Christine. Biografia e
educação: figuras do
indivíduo-projeto.

Passeggi MC

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