Na escola éramos muitos por isso a turma era grande, era fantástico,
no recreio da escola brincávamos muito, com jogos tradicionais, uma vez
que na altura não havia jogos de consola nem jogos didácticos. A minha
professora da escola primária premiava-nos quando nós tínhamos boas
notas, eu ainda recebi algumas vezes uma moeda de vinte e cinco escudos
e uma laranja como prémio, mas se tivéssemos más notas, dava-nos
reguadas, como me aconteceu também algumas vezes.
Quando fiz o sexto ano eu queria ir estudar, mas a minha mãe dizia-
me para quê estudar, se for para ficar com o nono que era a mesma coisa
que ficar com o sexto ano e se fosse para tirar um curso que ia estudar até
me casar, ela gostava que eu tirasse um curso de costura, porque uma
vizinha já o tinha tirado e a minha mãe achava uma boa profissão para as
filhas dela, mas eu continuava a dizer que queria ir estudar, e aí os meus
pais tiveram uma conversa comigo, disseram-me para ir experimentar o
curso de corte e alta-costura nas férias de verão, se não gostasse, depois
das férias ia regressar à escola, aí eu concordei com eles.
Lá fui eu tirar o curso, que acabei por gostar bastante, uma vez que
eu também já gostava de andar de agulha e dedal na mão a fazer a roupa
para as minhas bonecas, lá andei eu ano e meio no curso, acabei o curso
com 15 valores, e ainda hoje é a minha profissão.
Mal fiz catorze anos comecei logo a trabalhar na empresa onde hoje
ainda trabalho, na altura eu ainda era muito jovem, tinha uma patroa muito
exigente e severa, ela era muito fria que por vezes até o caminhar dela me
metia medo, eu tão humilde e de tão tenra idade não a conseguia enfrentar,
mas com o tempo as coisas começaram a mudar e comecei por enfrentá-la
em certas alturas e ela também começou por me respeitar, tornando-nos se
assim se pode dizer amigas, ela também começou por conhecer melhor as
minhas capacidades profissionais. Entrei na empresa como aparadora de
linhas alguns dias depois a cozer à máquina, alguns anos depois comecei a
ajudá-la a fazer os moldes para cortar o vestuário, onde ela depositou
confiança em mim e me propôs tirar uma formação para inserir os moldes
no sistema informático, a partir dai fiquei a fazer os moldes sozinha sem a
ajuda dela, assim como dar os consumos e a fazer as amostras para os
clientes assim como também para concursos públicos e desde dois mil e
dois, que fiquei responsável pelo estudo e industrialização do produto.
A minha adolescência não foi muito desfrutada, uma vez que comecei
por trabalhar tão jovem e todo o meu salário era entregue aos meus pais,
após o meu horário de trabalho fazia costura para fora, que ia muitas das
vezes pela noite dentro e ao outro dia era novamente dia de trabalho, e aí
sim o dinheiro que ganhava era para mim, ainda ajudava nas tarefas
domésticas assim como também fazia a comida. Com tanto trabalho poucos
eram os momentos de lazer e mesmo os poucos momentos que tinha de
lazer os meus pais não me davam quase liberdade nenhuma nem à minha
irmã, durante a semana era expressamente proibido sair de casa, ao
Domingo à tarde juntávamo-nos com algumas colegas nossas da povoação
e dávamos uma volta pelo povo a pé e eram assim os meus Domingos. Se
ao Domingo à noite quiséssemos ir a algum baile onde as nossas colegas
costumavam ir nunca podíamos ir com elas, porque era de noite e não
podíamos andar fora de casa sem ser com os nossos pais. Lá ia o meu pai
levar-nos ao baile e ficava lá para nos trazer para casa, como ele ia e depois
queria vir descansar dificilmente vínhamos para casa depois das vinte e três
e trinta e nós ficávamos todas tristes, porque éramos sempre as primeiras a
vir embora.
Aos dezoito anos tirei a carta de condução, que tão ansiosa andava
por esse momento, os meus pais lá compraram um carro para mim e para a
minha irmã, lá começámos a andar com o carro e começámos a sair ao
Domingo à tarde com ele e ai já íamos dar um passeio, mas sem irmos para
discotecas, para os meus pais uma discoteca não era ambiente para as
filhas deles.
Fomos morar para a casa que era dos meus sogros, com o irmão do
meu marido, uma vez que ele só tinha um irmão e era solteiro, ele era
bastante acessível não punha grandes obstáculos, para ele tudo estava
bem. Comprámos um terreno para a construção da nossa casa, em que hoje
vivemos, após termos chegado de lua-de-mel. Começaram logo as grandes
responsabilidades, a escritura, a planta da casa, decidir o empreiteiro para a
construção e tudo o que envolve uma construção.
Desde que casámos temos dois carros, não por brio, mas sim porque
a necessidade assim o exige, mas em dois mil e sete um dos carros
começou a dar muitas despesas de mecânica, pois já estava com vinte e um
anos. Como já nos estava a dar algumas chatices metemo-lo para abate e
decidimos comprar um carro novo para ver se o problema ficava resolvido
por uns anos largos.