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O direito monetário internacional

O DIREITO MONETÁRIO INTERNACIONAL


Doutrinas Essenciais de Direito Internacional | vol. 2 | p. 45 | Fev / 2012
DTR\2012\2378

Jacob Dolinger
Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara.
Titular-interino de Direito Internacional Privado na mesma Faculdade. Membro do Instituto dos
Advogados Brasileiros.

Área do Direito: Internacional


Sumário:

- I– O objeto do Direito Monetário Internacional - II– A posição do Direito Monetário

Revista de Direito Mercantil• RDM 12/27 •1973


I – O objeto do Direito Monetário Internacional

Não é tarefa simples especificar o objeto do Direito Monetário Internacional. O próprio Direito
Internacional Privado ainda não fixou com absoluta nitidez o seu exato raio de ação. E note-se que,
como observa George Schwarzenberger em trabalho entitulado The Province and Standards of
International Economic Law (“The International Law Quarterly”, 1948, págs. 402 a 420), o moderno
Direito Internacional conta com 800 anos de desenvolvimento. Compreende-se, pois, que o moderno
Direito Monetário Internacional, fruto do século atual, não tenha ainda alcançado uma clara
delimitação de objetivos.

Na realidade o próprio Direito Monetário Interno também ainda não teve seu objetivo definido com
clareza.

Coube a Martin Wolff distinguir o estatuto monetário do estatuto da obrigação. Em seu Derecho
Internacional Privado, às pags. 245/6, diz o professor berlinense: “No cabe duda sobre cuál sea la
ordenación jurídica llamada a decidir si una cosa es dinero y qué valor nominal tenga: es la
ordenación jurídica que da a las cosas el carácter de moneda y un determinado valor nominal: el
llamado estatuto monetário“. “Asi, en el caso de modificarse el Derecho Monetário, solo el estatuto
monetário, y no el de la obligación, será competente para determinar el criterio respecto a la
conversion de la deuda pecuniaria”.

Observa Wolff que este foi o critério fixado pela Corte Permanente de Justiça Internacional em suas
decisões de 12.7.1936 sobre os empréstimos sérvios e brasileiros, em que a legislação francesa,
contrária à cláusula ouro, foi desconsiderada em favor da legislação dos países devedores cujo
estatuto monetário não previa esta proibição. Observou-se o estatuto monetário dos países
devedores, sem considerar a legislação do estatuto da obrigação.

Assim temos como primeiro objeto do Direito Monetário Internacional o estatuto monetário – a
fixação do valor das moedas.

Até 1944 os países eram soberanos quanto ao estatuto monetário – a ordenação jurídica que dá às
coisas o caráter de moeda e um determinado valor nominal.

Com a criação do Fundo Monetário Internacional, registrou-se uma alteração substanciai – a


alteração do valor par da moeda de qualquer país membro só se efetuaria mediante aprovação do
Fundo Monetário Internacional com sanções para os países membros que alterassem o valor par de
suas moedas sem esta autorização (Cláusula 4ª do Acordo do Fundo Monetário Internacional em
seus vários artigos).

A atual crise monetária internacional decorre justamente da quebra incontrolada desta disciplina na
fixação do valor das diversas moedas, estando as autoridades monetárias internacionais à procura
de novo sistema que possa reintroduzir ordem no sistema monetário internacional.
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Paralelamente à problemática do valor par das moedas, cuida o Direito Monetário Internacional da
questão do ouro. É o seu segundo objeto.

“O Fundo fixará margens acima e abaixo do valor par para as transações em ouro feitas pelos
membros”.

“Nenhum deles poderá adquirir ouro a preço superior ao valor par mais a margem prescrita nem
poderá vender a preço inferior ao valor par menos a margem prescrita.”

(Cláusula IV, Artigo 2º, da Convenção do FMI.)

Esta é uma disposição tipicamente de Direito Internacional Público, pois é sabido que essas
restrições só afetam os governos, eis que, no mercado livre do ouro, particulares e empresas
especulam livremente.

Outras regras relativas à circulação internacional do ouro encontram-se no Acordo do Fundo, como a
dos Artigos 6º e 7º da Cláusula V, que tratam das transações entre países membros e o Fundo,
envolvendo moedas e ouro. A estrutura do FMI, através do sistema de subscrição de cotas, também
envolve o ouro que constitui parte do pagamento que cada país membro efetua ao Fundo.

O ouro está igualmente presente na subscrição de bancos internacionais, como o Banco


Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD).

A fixação e manutenção dos valores par das moedas e os dispositivos do FMI em torno do ouro
representam o que classificaríamos de Direito Monetário Internacional puro, ou Direito Monetário
Internacional stricto sensu, que se situa no campo do Direito Internacional Público.

Outro setor abrangido pelo Direito Monetário Internacional é e Direito Cambial Internacional. Este é o
mais moderno objeto do Direito Monetário Internacional. É sabido que as restrições contidas nas
legislações cambiais dos países não eram respeitadas pelos órgãos administrativos e judiciários dos
demais países, pois que sua aplicação representava, aos olhos da doutrina e da jurisprudência, um
atentado à ordem pública fori.

A grande inovação produzida pelo Acordo do Fundo Monetário Internacional foi estabelecer a
obrigação do respeito recíproco às restrições cambiais dos seus países membros. O Fundo
pretendeu reduzir as restrições cambiais, a fim de liberar e estimular a expansão do comércio
internacional, exigindo autorização do Fundo para o estabelecimento de “restrições quanto a
pagamentos e transferências relativos a transações internacionais correntes” (Cláusula VIII, Art. 2º,
“a”).

Mas, ao mesmo tempo, fixou o princípio do respeito e da aplicação das normas de controle cambial
impostas com observância do Acordo. É o que se lê na letra “b” do mesmo dispositivo: “Os contratos
de câmbio, em moeda de qualquer país membro, quando contrários aos seus regulamentos de
controle cambial, mantidos ou impostos em harmonia com este Acordo, não vigorarão nos territórios
de nenhum dos países membros. Além disso, os países membros poderão de comum acordo,
estabelecer medidas, com o fim de tornar mais efetiva a regulamentação cambial de qualquer deles,
contanto que tais regulamentos e medidas sejam compatíveis com este Acordo”.

A extensão das regras de controle cambial tem sido objeto de interpretações diversas, umas mais,
outras menos amplas.

Walther Hug, em alentado trabalho publicado no Recueil des Cours, 1951, II, págs. 515/712, sustenta
que os exchange control regulations podem abranger ouro, metais preciosos, moedas estrangeiras,
cheques, cartas de crédito, letras de câmbio, participações em sociedades estrangeiras, imóveis e
hipotecas sobre imóveis no estrangeiro. E, prossegue Hug, podem também afetar a moeda nacional
e valores nacionais, se estes se encontram no exterior.

Compreende-se este alcance dos controles cambiais, pois que visam proteger as reservas cambiais
do país e estas não se limitam aos bens e fundos que se encontram em seu território, ou que nele
devem normalmente ingressar (resultantes da exportação de seus produtos), mas também aos que
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pertencem a seus nacionais no estrangeiro. É a natureza extraterritorial das normas cambiais.

Para melhor compreensão do regime do Direito Cambial sob um prisma internacional, deve-se
atentar para a seguinte divisão:

1. Controle de importação. Na medida em que a licença de importação represente uma mera


habilitação para a importação da mercadoria estrangeira, não se situa ela no âmbito do Direito
Cambial, mas no campo do Direito Comercial Internacional.

É o que afirma Paul Turot em Le Fonds Monétaire International – Son évolution – Son actualité
(Paris, 1966), à pág. 23: “Le Fonds n’a a se préoccuper que des restrictions de change c’est à dire
des opérations sur devises – et nom pas des restrictions aux échanges c’est à dire ventes ou achats
de marchandises ou services, par exemple sous forme de licences d’importation ou d’exportation”.

A licença de importação adquire natureza de Direito Cambial na medida em que ela constitui
condição para a obtenção do câmbio necessário para o pagamento da mercadoria a ser importada.
Aí é uma questão de change e não de échange.

A obrigação imposta aos exportadores de transferir as divisas estrangeiras decorrentes de suas


transações é uma medida de controle cambial.

2. Restrições cambiais. Restrição cambial é toda limitação governamental à disponibilidade e ao uso


do câmbio como tal.

O exemplo clássico da restrição cambial é a medida que interdita ou limita os pagamentos


destinados ao estrangeiro através da moeda nacional ou de divisas estrangeiras.

Assim, verifica-se que a restrição cambial decorre do controle cambial. Teremos que toda restrição
cambial é uma conseqüência do controle cambial, mas nem toda norma de controle cambial resultará
numa restrição cambial.

Joseph Gold, em The Fund Agreement in Courts (Washington, 1962), mostra como esta distinção
ajuda a interpretar as Cláusulas do Acordo do Fundo Monetário Internacional.

A Cláusula VI, Art. 3º da Convenção do Fundo, distingue os “movimentos internacionais de capitais”


dos “pagamentos relativos a transações correntes”. Aqueles podem ser objeto de restrições, o que
não sucede com estes, em vista do estímulo que o FMI dedica à expansão do comércio
internacional.

Os primeiros representam importação e exportação de capitais, os segundos, pagamentos


comerciais.

Reza a Cláusula VI Art. 8º: “Os países membros poderão instituir os controles que julgarem
necessários para regular (= restringir) movimentos internacionais de capitais. Contudo, nenhum deles
se utilizará deste recurso de modo a restringir os pagamentos relativos a transações correntes ou a
atrasar indevidamente transferências concernentes à liquidação de compromisso…”.

Explica Gold à pág. 131 (nota 6) que, se um país quiser restringir transferências de capital, seus
controles se aplicarão a todas as transações, com o objetivo de segregar uma categoria da outra.
Assim, podem-se aplicar controles aos pagamentos relativos a transações correntes, apesar de não
poderem ser objeto de restrição.

Em outras palavras, através dos regulamentos de controle cambial, os governos exercerão o controle
de tudo, distinguindo as transferências de capitais dos pagamentos por transações correntes,
aplicando suas restrições tão-somente sobre as operações da primeira categoria.

3. Sobretaxas cambiais. A sobretaxa cambial é um ônus atribuído aos que se utilizam de câmbio em
operações de todo gênero, visando a economia das reservas cambiais.

No Brasil a Lei n. 4.131, de 3.9. 1962, atualizada pela Lei n. 4.390, de 29.8.1964, em seu art. 29,
estabeleceu a sobretaxa cambial: “Sempre que se tornar aconselhável economizar a utilização das
reservas de câmbio, é o Poder Executivo autorizado a exigir, temporariamente, mediante instrução
do Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito (hoje Conselho Monetário Nacional,Página
cf. art.
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2º da Lei n. 4.595, de 31.12.1964), um encargo financeiro de caráter estritamente monetário que


recairá sobre a importação de mercadorias e sobre as transferências financeiras, até o máximo de
10% sobre o valor dos produtos importados e até 50 % sobre o valor de qualquer transferência
financeira, inclusive para despesas com “viagens internacionais”.

“Art. 30 – As importâncias arrecadadas por meio do encargo financeiro previsto no artigo anterior
constituirão reserva monetária em cruzeiros, mantida na Superintendência da Moeda e do Crédito
(hoje Banco Central, cf. art. 8º da Lei n. 4.595, de 31.12.1964) em caixa própria, e será utilizada,
quando julgado oportuno, exclusivamente na compra de ouro e de divisas, para reforço das reservas
e disponibilidades cambiais”.

Antes do aparecimento da legislação acima citada, havia uma escola no Brasil que repudiava a
natureza monetário-cambial da sobretaxa cambial, conceituando-a como de ordem fiscal. (Parecer
de autoria dos Drs. Gomes de Souza e Gilberto de Ulhôa Canto, noticiado no “Contribuinte Fiscal” de
outubro de 1963, págs. 346/350).

Parece-nos que ante os termos claros da legislação acima citada não pode mais haver dúvida sobre
a natureza cambial deste encargo financeiro.

O mesmo se dá com o imposto de exportação, conforme lição de Aliomar Baleeiro em Direito


Tributário Brasileiro (pág. 132 da 4ª ed.), onde se lê: “Lei n. 5.072, de 1966 – A União, quando lhe foi
transferido o imposto de exportação pela Emenda n. 18, de 1965 regulou-o pela Lei n. 5.072, de
12.8.1966, atribuindo-lhe caráter exclusivamente monetário e cambial, com a finalidade de disciplinar
os efeitos monetários decorrentes da variação de preços no exterior e preservar as receitas de
exportação. De tributo puramente fiscal dos Estados, transformou-se em instrumento apenas
extrafiscal do comércio exterior”.

Esta é a matéria abrangida pelo Direito Cambial Internacional, que se integra no Direito Monetário
Internacional, constituindo seu terceiro objeto.

As questões que envolvem as dívidas em moeda estrangeira e as cláusulas protetoras,


destacando-se a cláusula ouro, tradicionalmente estudadas no campo do Direito Internacional
Privado, devem ser atualmente consideradas como integrantes do quadro do Direito Monetário
Internacional, eis que cuidam de questões eminentemente monetárias. Todavia, a extensão do tema
e a riqueza do material bibliográfico sobre a matéria (o que não se verifica com os tópicos acima
analisados) não permitem sua inclusão no presente estudo.
II – A posição do Direito Monetário

1. Nacional. Direito Público ou Privado?

Esta é uma das questões lançadas por Jean Carbonnier em trabalho publicado em 1954 na “Revista
da Faculdade de Direito e Ciências Sociais de Buenos Aires”, intitulado Existe um Direito Monetário?

Responde o ilustre professor de Poitiers que seguramente existe um Direito Público Monetário livre
de qualquer compromisso com o Direito Privado.

O que se chama comumente de sistema monetário de um país coincide em geral com este Direito
Público Monetário – Direito Constitucional Administrativo ou Financeiro.

A recíproca, diz Carbonnier, não é exata – não existe Direito Monetário Privado sem mescla de
Direito Público. Os vínculos de Direito Monetário são triangulares, nos quais os particulares nunca
estão sós entre si, pois que o Estado sempre está presente.

Só compreendemos um Direito Monetário Público sem qualquer compromisso com o Direito Privado,
quando se trata, no campo internacional, da fixação dos valores par das diferentes moedas, bem
como as regras sobre transações interestaduais em torno do ouro, conforme vimos acima.

Qualquer outra função do Direito Monetário terá repercussões infalíveis no campo do Direito Privado,
pelo que mantemos nossas reservas à categórica afirmação de Carbonnier sobre a desvinculação,
do Direito Público Monetário, de qualquer compromisso com o Direito Privado.
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Arthur Nussbaum, em seu clássico Derecho Monetário Nacional y Internacional (Buenos Aires,
1954), à pág. 61 mostra a interdependência criada pelas normas monetárias nos campos Público e
Privado. Assim exemplifica que a obrigação do credor receber o pagamento que lhe é devido na
moeda de curso legal é, sem dúvida alguma, de Direito Privado. Mas a atribuição de curso legal à
determinada moeda constitui um ato de soberania, e, conseqüentemente, pertence à esfera do
Direito Público.

Assim, quando o Dicionário Enciclopédico do Direito Brasileiro, de Carvalho Santos, na rubrica


“moeda”, citando François Gény, diz que “normas que estabelecem o curso legal da moeda não são
de ordem pública, mas tão-somente supletivas”, encara o tema de um ângulo restrito e um tanto
deturpado.

Diríamos que a atribuição, pelo Direito Público interno, de curso legal a determinada moeda, afeta
acima de tudo o campo do Direito Privado. Assim o que Carbonnier chama de Direito Público
Monetário evidentemente tem sérios compromissos com o que denomina Direito Privado Monetário.

Entre nós, Herculano Borges da Fonseca tem defendido que o Direito Monetário deve ser estudado
como ramo de Direito Público: “Todas as funções relacionadas com o nascimento, a vida e o
desaparecimento da moeda moderna têm as mais íntimas implicações com a vida da coletividade e
representam matéria de relevante interesse público” (Instituições Financeiras do Brasil, pág. 314).

Em nossa tese A Repercussão do Fundo Monetário Internacional no Direito Internacional Privado


(1971), também advogamos a natureza pública do Direito Monetário, tanto no seu aspecto nacional,
como no internacional, “pois a moeda é matéria eminentemente pública, apesar de afetar, e talvez
primordialmente, as transações privadas…. (pág. 22) podendo perfeitamente conceber uma lei que,
regulando relações de ordem privada, mas que, visando interesses do plano público, situe-se no
campo do Direito Público” (pág. 23).

Alex Jacquemin e Guy Schrans, respectivamente professores de Louvain e Gand, em sua obra
conjunta Le Droit Économique (“Que sais-je?”, da Presses Universitaires de France, Paris, 1970),
comparam a noção do Direito Econômico como um Direito Público, à idéia de que o Direito
Econômico concerne unicamente às relações macroeconômicas e que ele exclui todas as regras que
regem as relações entre as atividades econômicas privadas (relações microeconômicas).

Os autores preferem uma concepção ampla, que vê o Direito Econômico incumbido da missão de
regular a vida econômica em seus diversos aspectos, sendo assim da alçada tanto do Direito Público
como do Direito Privado, e interessando tanto às relações macroeconômicas como às
microeconômicas.

Tomamos vênia dos professores belgas para colocar o problema de forma algo diversa. Realmente,
o Direito Econômico se ocupa tanto das relações macro como microeconômicas, mas isto não lhe
retira a natureza de Direito Público. Em outras palavras, a conceituação do Direito Econômico como
Direito Público não deve necessariamente restringir seu raio de ação.

Aplica-se-lhe o que dissemos em nosso citado trabalho, com relação ao Direito Monetário: “É isto o
que acontece com a moeda – a garantia de sua circulação, de sua aceitação, de sua estabilidade
são preocupações de ordem pública. As regras em torno de sua regulamentação afetam
primordialmente relações privadas. Mas como o objetivo é a garantia do interesse público, temos o
Direito Monetário como Direito Público”.

É, portanto, um Direito Público, mas que mantém sérios compromissos com o Direito Privado.

2. Internacional. Em princípio, o mesmo se aplica ao Direito Monetário Internacional; sua natureza é


eminentemente de Direito Público, mas o que ficou dito sobre os compromissos do Direito Monetário
com o Direito Privado se aplica, ainda com mais razão, no campo internacional.

É interessante observar como dois modernos mestres do Direito Monetário Internacional, Joseph
Gold (Interpretation by the Fund, International Monetary Fund, Washington, D.C., 1968, pág. 21), nos
Estados Unidos, e Dominique Carreau (Le Fonds Monetaire International, Paris, 1970, pág. 100), na
França, invocando a mesma lição de Hersch Lauterpacht, o famoso internacionalista inglês, em seu
Private Law Sources and Analogies of International Law, assinalam a grande pobreza de normas
próprias do Direito Monetário Internacional e sua dependência das técnicas e normas doPágina Direito
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Privado.

Assim, temos que o Direito Monetário Internacional não somente afeta substancialmente o Direito
Privado, como acontece no Direito Monetário em geral, mas também que, para sua formação,
recorre às fontes do Direito Privado.

Ninguém melhor do que o Professor F. A. Mann, em sua obra The Legal Aspect of Money, discorreu
sobre como o Direito Monetário Nacional deriva do Direito Internacional. A conexão se estabeleceu
principalmente pelo Acordo do Fundo Monetário Internacional, através de suas normas sobre a
paridade das moedas e o recíproco respeito pelas restrições cambiais de outros países membros.

Hans Aufricht, em The International Monetary Fund – Legal Bases, Structure, Functions (New York,
1964), também mostra como as questões de taxas cambiais, que no passado estavam restritas e
submetidas às legislações internas, passaram a representar matéria de interesse internacional (págs.
10 e 47).

A crise que abala atualmente o sistema monetário internacional acarretará reformas, e talvez de
certa profundidade, na sistemática adotada em Bretton Woods, mas não se concebe mais no mundo
moderno uma desvinculação do sistema e do regime legal internos da moeda, do âmbito mais amplo
do sistema monetário internacional. A existência de um Direito Internacional da moeda que, ainda
que indiretamente, comanda os critérios adotados pelos governos de cada país, é irrefutável e já não
há mais quem pretenda hoje que a soberania nacional em matéria monetária represente obstáculo à
interdependência das normas monetárias nacionais e internacionais.

Assim, se o mundo vem caminhando para as idéias monistas nas relações entre o Direito
Internacional e o Direito Nacional, em nenhum campo esta tendência se manifesta com tanta
unanimidade como no campo do Direito Monetário, por considerações de ordem eminentemente
práticas.

Não se pode deixar de apontar a influência que se manifesta no Direito Monetário, por parte da
chamada “ordem pública universal”, que também se denomina “ordem pública internacional”, “ordem
pública da sociedade internacional”, “ordem internacional minimum “, que determina a cada país
membro do FMI obediência aos regulamentos cambiais dos demais membros.

O Direito Monetário Internacional está intimamente ligado ao Direito Internacional Privado.

O Prof. Elias Krispis, em trabalho publicado no Recueil des Cours da Academia de Direito
Internacional, de Haia, de 1967 (págs. 196/ 306) diz: “Este ramo do Direito á considerado atualmente
parte do Direito Internacional Público”. Em breve, todavia, à medida que a pesquisa fizer novos
progressos, o novo ramo também incluirá inevitavelmente o Direito Internacional Privado da moeda,
que, em última análise, concerne aos aspectos intermediários da função da moeda. Assim, o Direito
Monetário Internacional incluirá duas seções principais:

a) Direito Internacional Monetário Público; e b) Direito Internacional Monetário Privado.

Paul Lagarde, comentando a obra de Thiebaut Flory (Le GATT – Droit International et Commerce
Mondial), na “Revue Critique de Droit International Privé”, 1970, tomo I, à pág. 169, diz: “S’il est vrai,
comme 1’écrivent MM. Loussonarn et Bredin dans leur récent traité de Droit du commerce
international que ce droit “est constitué par l’ensemble des règles governant les operations
commerciales qui ne sont pas enfermées dans le cadre d’un seul État” il est mon moins certain que
ces règles auxquelles il est fait allusion empruntent au droit privé et au droit public, ainsi qu’aux
branches du droit international que ces deux adjectifs qualifient. Ainsi, le droit du commerce
international ne peut être pleinement appréhendé que si l’on se place successivement au niveau de
toutes ces disciplines”.

E à pág. 170: “… Il y a là une sanction efficase quoiqu’indirect, qui fait apparâitre de façon frappante
les liens très concrets qui peuvent unir, dans le domaine économique et commercial, le droit
international public et le droit international privé”.

O mesmo se aplica perfeitamente ao Direito Monetário Internacional.


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O direito monetário internacional

Nos trabalhos do Comitê francês de Direito Internacional Privado no ano judiciário 1969/70, a reunião
de 4.5.1970 foi dedicada aos “problemas atuais do Direito Monetário”, em que a tônica
preponderante foi a integração do campo monetário no Direito Internacional Privado (Revue Critique
de Droit International Privé, 1971, tomo I, págs. 149/150).

Já em 1952, na 45ª conferência do “International Law Association” realizado em Lucerne, a maioria


dos juristas presentes mostrou-se inclinada a aceitar a integração do Direito Monetário Internacional
no Direito Internacional Privado, contra uma minoria, na qual se destacou o Juiz Bagge, da Suécia,
que advogava a classificação do Direito Monetário Internacional como um Direito Internacional sui
juris.

E antes disto, em 1949, o Solicitors Journal, de 25 de julho, publicava um pequeno trabalho que se
iniciava da seguinte forma: “A política do controle da exportação e importação de câmbio e outros
valores de natureza portável forma um tópico em Direito Internacional Privado…”.

Jean Carbonnier formulou o relacionamento do Direito Monetário com o Direito Internacional Privado
de forma mais curiosa: “En una de sus partes fundamentales, el derecho monetário presenta un
parecido con el internacional privado y el intertemporal; como ellos, propone normas de conflicto….
el derecho monetário pretende dar un conjunto de soluciones racionales al conflicto de las monedas:
es un derecho intermonetário”.

Para nós o Direito Internacional Monetário não visa solucionar conflitos de moedas.

Aliás, não atinamos com o que o mestre francês pretende com “conflito de moedas”. O que há é a
dúvida entre a aplicação de legislação estrangeira sobre sua moeda em território estranho à sua
jurisdição e a aplicação da lex fori, o que é solucionado pelo princípio da lex monetae – uma regra de
conexão criada pelo Direito Monetário Internacional, e que se incorpora ao Direito Internacional
Privado, comandando a aplicação internacional da lei da moeda em causa, conforme estabelecido
pela já citada Cláusula VIII, Art. 2º, “b”, do Acordo do Fundo Monetário Internacional, que dispõe: “Os
contratos de câmbio, em moeda de qualquer país membro, quando contrários aos seus
regulamentos de controle cambial, mantidos ou impostos em harmonia com este Acordo, não
vigorarão nos territórios de nenhum dos países membros….”

Vimos acima que uma licença de importação poderá constituir tão-somente uma habilitação
necessária para a importação, hipótese em que pertencerá ao quadro do Direito Comercial
Internacional ou, como se tem preferido modernamente, “Direito do Comércio Internacional”.

Mas se a licença também for necessária para obter ou poder empregar câmbio estrangeiro, ou
mesmo moeda nacional, para pagar a importação, passa a constituir um regulamento de controle
cambial, que pertence ao Direito Cambial Internacional, que, por sua vez, integra o Direito Monetário
Internacional.

Todavia, é difícil traçar um divisor exato entre os dois campos e com freqüência teremos certa
confusão entre medidas estritamente cambiais e regras sobre o comércio internacional.

Tanto assim que o GATT (Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio), em seu Art. XV, contém várias
determinações no sentido de uma estreita colaboração com o Fundo Monetário Internacional, e o
respeito integral de todas as disposições em matéria de câmbio emanadas deste órgão internacional.

Assim, o Direito Comercial Internacional e o Direito Monetário Internacional estão reciprocamente um


a serviço do outro no campo mais largo que se denomina de Direito Econômico Internacional.

No número de setembro de 1972 de “Finance and Development”, órgão do Fundo Monetário


Internacional, Edgar Jones frisa que a interdependência e colaboração entre o FMI e o GATT têm
tido grande influência no comércio internacional.

Até o estabelecimento do Fundo Monetário Internacional, a tendência jurisprudencial pautava-se no


sentido de recusar toda e qualquer aplicação de restrições cambiais emanadas das legislações
estrangeiras, negando reconhecimento a essas normas sob o fundamento de que as mesmas se
equiparam a leis fiscais e penais estrangeiras, inaplicáveis extraterritorialmente.
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Os norte-americanos consagraram o princípio da inaplicação extraterritorial de leis fiscais em seu


Restatement of the Law of Conflict of Laws, no § 610, “c”, que dispõe: “No action can be maintained
by a foreign state to enforce its licence or revenue laws, or claims for taxes”.

Arthur K. Kuhn, em seu Comparative Commentaries on Private International Law or Conflict of Laws,
escreveu em 1937: “As leis fiscais não podem ter efeito extraterritorial porque, por sua própria
natureza, são destinadas à aplicação restrita territorial, segundo Franz Kahn, um jurista alemão.
Niboyet explica isto mais realisticamente quando mantém que do ponto de vista internacional não há
“vested rights” em pretensões fiscais. Ele acredita que algum dia isto poderá ser alterado através de
tratados, especialmente entre países vizinhos”.

R. K. Baker em trabalho publicado no “Stanford Law Review” de dezembro de 1963, intitulado


Extraterritorial Enforcement of Exchange Restrictions, diz: “A regra do Direito Internacional Privado
de que um Estado não enforca as leis fiscais de outro Estado é aceita nos EUA, Inglaterra e Europa.
A regra faz parte do princípio mais amplo de que um Estado não pode manter uma ação nos
tribunais de outro Estado para fazer valer um direito que emana de leis promulgadas com a
finalidade de defender seus próprios interesses governamentais”.

Entre nós Haroldo Valladão, nos seus trabalhos sobre dívidas em moeda estrangeira, publicados em
Estudos de Direito Internacional Privado (1947), versou sobre a matéria exaustivamente,
especialmente no Estudo n. XIV (Do Pagamento e da Força Maior no Direito Internacional Privado),
concluindo à pág. 376: “O estudo comparativo que acabamos de fazer mostra indiscutivelmente o
caráter político das diversas leis sobre “divisas”, controle de câmbios, proibição de remessas, etc.,
promulgadas em vários países, de acordo com uma orientação político-econômica particular, de
autobenefício, e explica a sua inaplicabilidade, por motivo de ordem pública, quer nos países que
ainda não as estabeleceram, quer naqueles em que são adotadas idênticas prescrições”.

***

É certo, pois, que não podem ter aplicação no Brasil, apesar de nossa legislação, mui atenuada, de
fiscalização cambial, disposições de leis estrangeiras sobre “divisas”, normas excepcionais, que
visam, de manifesto, alterar contratos em curso, diminuir direitos de certa categoria de credores
estrangeiros, como medida de proveito da economia de determinada nação, e em prejuízo dos
demais povos, leis tipicamente políticas, territoriais, contrárias à soberania nacional e à ordem
pública”.

No mesmo estudo, à pág. 371, diz o mestre: “Se a jurisprudência e a doutrina alemãs recusam
validade, assim, às leis estrangeiras sobre divisas, como os tribunais de outros países irão
reconhecer efeitos às leis alemãs da mesma natureza? São regras excepcionais de política
econômica de um Estado, de defesa à moeda nacional e de combate às moedas estrangeiras, e por
isto, como disse Raape, op. cit., II, pág. 314, passageiras, de salus publica. Pertencem,
fundamentalmente, ao Direito Público, Administrativo, Fiscal, Penal, atentando, nas suas
conseqüências civis, contra os direitos dos credores estrangeiros e se aplicando a todos, nacionais e
estrangeiros, que se encontrem no país que as promulgam. Daí o seu caráter rigorosamente
territorial, a sua contrariedade com a ordem pública do fórum, segundo puseram em relevo as
decisões alemãs examinadas”.

Com o advento do moderno Direito Monetário Internacional, criado pela Convenção do Fundo
Monetário Internacional, esta concepção foi inteiramente alterada, criando-se uma distinção
fundamental entre o Direito Fiscal Estrangeiro e o Direito Monetário – Cambial Estrangeiro.

Invocaremos duas lições de juristas estrangeiros que esclarecem esta alteração.

R. H. Graveson em The Conflict of Laws (Londres, 1965, 5ª ed.), à pág. 581 é categórico: “As leis
fiscais estrangeiras devem ser distinguidas da legislação cambial estrangeira, i.e., do controle
cambial estrangeiro. As primeiras cuidam da receita do Estado, as segundas da preservação do valor
internacional de sua moeda”.

F. David Trickey, em trabalho intitulado The Extraterritorial Effect of Foreign Exchange Control Laws,
publicado no “Michigan Law Review”, de 1964, às págs. 1.232/1.241, cuidando do famoso caso
julgado nos tribunais norte-americanos referente a uma exportação irregular de café brasileiro para
Nova York (“Banco do Brasil S/A v. A. C. Israel Comodity Co”), foi muito claro sobre a distinção entre
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O direito monetário internacional

lei fiscal e lei monetário-cambial, ao dizer, às págs. 1.238/9: “O Governo brasileiro arrecada renda da
exportação do café; mas esta renda é utilizada no sentido de garantir controles compreensivos sobre
exportações, importações e transações financeiras”.

A finalidade principal dos controles cambiais é estabilizar a moeda brasileira, para suprir moeda
estrangeira vital para pagamento de obrigações comerciais internacionais, e promover o
desenvolvimento econômico planificado do Brasil.

As operações e finalidades dos controles cambiais se estendem muito além daquelas das leis fiscais
internas.

Assim a regra que proíbe a execução da legislação fiscal estrangeira foi impropriamente aplicada
neste caso.”

Esta é talvez a principal inovação do moderno Direito Monetário Internacional – a exeqüibilidade


extraterritorial das restrições cambiais dos países membros do Fundo, e que, paulatinamente, vem
obtendo maior reconhecimento desde a criação do Fundo Monetário Internacional, com o apoio do
GATT.

Mas sua consolidação está intrinsecamente ligada à consagração de uma política pacífica e estável
de valores par das moedas fortes, e assim, somente se a atual crise monetária internacional conduzir
a um novo equacionamento estará debelado o perigo de uma guerra comercial no plano
internacional, com todos os perigos dela decorrentes.

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