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Quanto custa ser justo com os professores?

Alternativa entre agitar espantalhos ou falar a sério

Este texto foi surgiu após ouvir recentemente o ministro das finanças na comissão de Educação
da Assembleia da República acerca do que custa pagar aos professores a respeito da contagem
integral do tempo de serviço prestado.

Quando alguém propõe aumentos para os salários dos trabalhadores da função pública ou do
sector privado e também reclama a melhoria das condições de trabalho e dos salários indiretos
como são os direitos na saúde, educação e outros auferidos pelos trabalhadores; repito, quando
alguém propõe este tipo de medidas a resposta dos governos de turno e dos partidos que no
chamado “arco do poder” (PS, PSD e CDS/PP) os apoiam é sempre que “não é sustentável”. E
sistematicamente dizem que os proponentes devem mostrar onde vão buscar o dinheiro para
pagar essas medidas acrescentando que terão, ou de aumentar impostos, ou de cortar em certas
despesas. É a versão generalista do “ou há dinheiro para os professores ou para arranjar o IP3”,
ou então, como chegou a dizer o ministro na comissão, que há que aumentar o “IVA” ou o “IRS”.
Na verdade esse truísmo, pese embora a tentada mas não invisível demagogia, tem razão de
ser. Para ter dinheiro no orçamento de estado que pague um aumento salarial de funcionários
públicos há que o ir buscar a qualquer lado. E só há dois lados: ou se consegue esse montante
do lado da arrecadação da receita ou então através do corte de certas despesas para desviar
esse corte para o tal acréscimo salarial. Aqui, penso que os que estão a ler dirão que eu repeti
quando falei em receita e em despesa o mesmo que os governantes de turno dizem
habitualmente. Não é bem assim. Eles são hábeis nas palavras e falam em “impostos” quando
deviam falar em “receitas” o que não é bem a mesma coisa e já vou explicar porquê. E o mesmo
problema acontece quando se referem ao lado das despesas. Tentemos explicar então.

Em primeiro lugar é preciso dizer que nos vamos colocar dentro deste sistema em que vivemos,
isto é, o sistema de economia de mercado que é a forma levezinha de chamar ao capitalismo
real existente. Outro poderia ser o sistema político-económico e aí as coisas seriam muito
diferentes. Mas vamos para já assumir a situação que existe ao nível político e económico no
nosso país e no contexto europeu e mundial em que estamos atualmente inseridos. Não é
inocente que todos os governos de turno e que vão da direita assumida até aos “socialistas”, há
muitos anos que assumiram o neoliberalismo como balizador das políticas possíveis. Para todos
eles, aliás, não há alternativa ao neoliberalismo (a TINA, There Is No Alternative, da Tatcher fez
escola não só nos partidos ditos conservadores mas num espectro político alargado a que
escapam muito poucos). Não é inocente, repito, que esses praticantes do neoliberalismo real
acentuem desde logo a questão do corte de despesas essenciais para demonstrar que aumentar
salários teria consequências negativíssimas sobre aspetos importantes da vida de outras
pessoas; por outro lado tão pouco inocente é que quando colocam a questão do onde ir buscar
dinheiro do lado da receita eles nem usarem o termo receitas e falarem sempre em “aumento
de impostos”. Neste último caso jogam com o significado pejorativo da palavra impostos na
mente da maioria das pessoas escamoteando que para saber o que significa de negativo ou
positivo o “aumentar impostos” é preciso saber em primeiro lugar a quem é que eles são
aumentados, e também a favor de quem são utilizados os proventos desses mesmos impostos.
Aqui é preciso afirmar que se os trabalhadores portugueses já pagam bastantes impostos, e
sobretudo não fogem nem conseguem fugir-lhes mesmo que quisessem. Pelo contrário, há
muitas grandes empresas e acionistas com lucros e dividendos avultadíssimos que, ou não
pagam ou pagam muito poucos impostos, ou têm até benefícios fiscais e, no fim da linha e como
sabemos, levam esse dinheiro para off shores. Nesses casos a esmagadora maioria da população
estará de acordo em que se criem ou aumentem impostos, ou que se tenha uma fiscalização
apertada contra a fuga fiscal. A corrupção no nosso país, segundo um último estudo/relatório
europeu dos Verdes/Aliança Livre Europeia, faz com que cerca de 18,2 mil milhões de euros
escapem à economia portuguesa*. Quantas vezes daria para pagar esse dinheiro a recuperação
total do tempo de serviço dos professores, mesmo dando por boas as contas coxas de Centeno
que afirma que teriam um impacto de 635 milhões por ano? Cerca de 28 vezes. Impressionante
não é? E se me dizem que para diminuir a fuga e a corrupção fiscal é preciso algum tempo, eu
concederei que sim, mas o que se vê é que não se faz praticamente nada para melhorar a
máquina fiscal e de investigação do estado contra estas malfeitorias que sangram a nossa
economia e os responsáveis são os neoliberais que nos governam. Reparem que os 18,2 mil
milhões se referiam a corrupção. Não se referiam a fuga fiscal e a um possível e desejável
aumento de impostos sobre quem nas grandes empresas paga tão pouco ou nada em Portugal
ou ainda tem benefícios fiscais. Essa conta não está feita mas daria com certeza a mais muitos
milhares de milhão. Quando eu referi as contas coxas de Centeno é preciso dizer que ele não
apresentou devidamente como chegou aos valores apresentados e escamoteou que no Estado
ficam desde logo várias centenas de milhão de receitas com os impostos que os professores
pagam à cabeça. Para além disso é importante que todas as pessoas saibam que durante o
período em que os professores viram congeladas as suas carreiras o valor que o Estado não lhes
pagou foi na ordem dos 12 mil milhões, como a deputada Ana Mesquita do PCP bem salientou,
e esse montante descomunal os professores nunca irão receber pois as suas reivindicações não
são da ordem dos retroativos. Do ponto de vista da arrecadação de receitas por agora estamos
conversados, mas mais à frente voltaremos à carga mas noutra dimensão.

Do ponto de vista das despesas muito há também a fazer. As despesas com as parcerias público
privadas (PPP’s), como todos sabemos têm sido ruinosas para o estado e para todos nós. São
verdadeiras receitas cativas e asseguradas para grandes grupos privados que todos nós temos
de pagar. São contratos leoninos assinados no passado de forma irresponsável e de muito
duvidosa legalidade que, esses sim, deveriam ser postos em questão e não o foram nem nos
chamados tempos de vacas magras da “troika”. Quando se tratou de salários e direitos dos
trabalhadores não se coibiram de os cortar, não os olhando como direitos adquiridos. Rasgaram-
se contratos, cortaram-se salários e pensões de forma ad hoc. Pelo contrário, no caso destas
rendas leoninas os contratos aparecem como algo de adquirido e sagrado em que nada nem
ninguém pode mexer. É uma política de dois pesos e duas medidas. As PPP’s na saúde e nas
rodovias, designadamente, devem acabar e enquanto não acabam devem ser renegociadas até
porque os valores que estão a ser pagos pelo estado são absurdamente desproporcionados. Ao
nível da saúde, além do fenómeno das PPP há também o peso cada vez mais crescente dos
operadores de saúde privados que subsistem com dinheiros públicos e que, como também
sabemos, têm práticas de sobrefaturação que oneram sobremaneira o orçamento de estado.
Ainda do lado da despesa há muito a fazer em termos de opções políticas. Há despesas que são
feitas e que não são prioritárias ou mesmo necessárias. E por último há sempre a questão do
desperdício que é sempre algo contra o qual se pode e deve fazer muita coisa.

Até agora quando falámos da questão do aumento de receitas e do corte ou de diferentes


opções ao nível das despesas - que são, efetivamente a forma de balanço contabilístico com que
é possível colocar a funcionar um orçamento de estado - colocámo-nos dentro dos limites de
funcionamento de um estado de natureza capitalista. E mesmo dentro dele é possível funcionar
melhor ou pior. Veja-se por exemplo o que acontece com os níveis de fuga fiscal e corrupção no
nosso país que são enormes quando comparados com países regidos pelo mesmo sistema
político-económico. É possível fazer dentro do sistema muita coisa que reduza em muitos
milhares de milhão as despesas indevidas e que aumente também em muitos milhares de
milhão as receitas arrecadadas. E até aqui os nossos governantes de turno escamoteiam a
realidade.

Mas é preciso dizer mais. Portugal tem uma Constituição que aponta para a construção do
socialismo. Algo que poucos políticos na República realmente respeitam. E é preciso lembrar
que ainda há poucas décadas se deram passos num sentido que foram infelizmente revertidos.
Refiro-me a que no período pós Revolução de Abril foi nacionalizada a banca, seguros e setores
estratégicos da nossa economia. Essas decisões permitiram que o Estado e os governos da altura
pudessem ter nas mãos cordelinhos de decisão importantes, sendo a soberania nacional algo de
real. Os potenciais lucros de grandes empresas nacionais entravam no erário público e mesmo
algumas grandes empresas que de momento não davam lucro, pelo facto de serem
administradas publicamente davam a possibilidade real de serem colocadas soberanamente ao
encontro do interesse nacional e das necessidades das populações. O facto de essas empresas
serem de caráter estratégico deu também aos governos a possibilidade na sua gestão de
tomarem decisões importantes no sentido de certos investimentos onde o interesse de Portugal
e do povo e não a maximização do lucro era o critério de governança. O que aconteceu com a
liberalização de empresas estratégias e da banca e seguros ao grande capital foi, como todos
sabemos, uma perda total de soberania pois o pretenso estado regulador não conseguiu daí
para a frente regular nada. Houve também uma perda enorme de lucros e de impostos (todos
sabemos que das 20 megaempresas do PSI 20, 19 pagam impostos na Holanda fugindo aos
impostos em Portugal, coisa que não sucederia se as empresas fossem do estado). Houve
também como no caso da banca privatizada um descontrolo total que chegou como todos
sabemos a falências fraudulentas pagas pelo erário público para que contribuem todos os
portugueses menos os que fogem aos impostos e que são, ironia das ironias, os mesmos que
levam os bancos e outras empresas à falência. Essas opções políticas neoliberais suportadas pelo
PS, PSD e CDS foram portanto responsáveis objetivamente por perda de soberania, perda de
capacidade de investimento e direção estratégica da economia, perda de impostos e de lucros,
sangria de dinheiro para pagar falências fraudulentas causadas por privados, serviços públicos
de menor qualidade para os portugueses e condições de vida piores por parte da maioria dos
portugueses. E há também que acrescentar que mesmo aquilo que ainda foi mantido no domínio
público, como o caso da CGD, devido às nomeações partidárias de políticos-gestores neoliberais
e a decisões erradas e até desastrosas e ilegais tiveram consequências negativíssimas. Vejam-se
os empréstimos a “fundo perdido” pelas administrações da CGD a certos empresários da nossa
praça. É o que acontece quando se colocam as raposas a tomar conta do galinheiro.

Por outro lado a integração na União Europeia com todas as exigências que ela trouxe e
sobretudo a partir da integração monetária com o euro, provocou como todos sentimos um
aumento do custo de vida e uma fragilização/desmantelamento acrescido ao nível do tecido
económico-social português. As promessas de aproximação dos salários e das condições de vida
dos portugueses em relação aos povos da Europa com melhor nível de vida demonstraram ser
uma falácia.

Quem fala deste modo como eu expus aqui costuma apontar a necessidade de uma política
“Patriótica e de Esquerda”. Eu acho que é a única que consequentemente pode resolver não só
o problema agora colocado aos professores mas também os problemas de soberania, de
condução económica do país que não deve ser subordinada à defesa de lucros para o grande
capital mas pelo contrário para realizar equilibradamente a satisfação das necessidades de todos
os portugueses.
Resumidamente poderemos dizer: para recuperar integralmente o tempo de serviço não
contabilizado daqui para a frente aos professores e também aos restantes funcionários públicos
na mesma situação - faseadamente como os professores pretendem, - e de forma sustentada,
como os neoliberais gostam de repetir, há muito de possível a fazer para realizar nessa direção.
Mostramos como fazê-lo tanto pelo lado da receita, que deve na nossa opinião ser a opção
prioritária onde atuar, mas também pelo lado da contenção de certas despesas. Haja vontade
política marcada desde logo e inicialmente pela seriedade e honestidade intelectual e política
ao assumir as decisões possíveis.

P.S. Foi sintomática a forma como Centeno fugiu inapelavelmente às duas vezes em que foi
confrontado (pela Joana Mortágua do BE e a Ana Mesquita do PCP) com perguntas sobre o
impacto que tiveram e têm as sucessivas e milionárias injeções de dinheiro público em bancos
privados falidos. Será que a não resposta terá a ver com a crença do neoliberal Centeno em que
para esses buracos sem fundo não há necessidade de cuidados orçamentais tanto ao nível dos
“impostos” como da parte das “despesas”?

https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/corrupcao-custa-a-portugal-182-mil-
milhoes-por-ano

Henrique Santos

1 de maio de 2019

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