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ARQUIVOS DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO:

Reflexões sobre as impressões de memória e fragmentos de realidade não previstos


(1932-1937)

Heloisa Helena Meirelles dos Santos1


UERJ
helohmei@gmail.com
Memória revisitada
Cristalizada em lugares de memória, ensinou Nora (1993), está a história de um
passado morto, arrancado de um momento que se desejou preservar através de um
“lugar de impressão” (Roudinesco, 2006)2. Foi com este olhar, e deste ponto de vista,
que revisitei o periódico pedagógico intitulado Arquivos do Instituto de Educação,
idealizado e editado por Manoel Bergström Lourenço Filho, em 1934, 1936 e 1937 para
preservar a memória do movimento renovado de Educação. Mas, esta fonte, além de
guardar, a salvo do tempo, a memória do educador e do movimento a que ele se filiou,
difundindo a proposta educacional de um grupo de educadores denominado pela
historiografia brasileira de “Pioneiros da Educação”, marcando a memória daquele
ideário e seus protagonistas e silenciando (Pollack, 1989) sobre a realidade imprevista
que, talvez, em período da implantação da reforma, pudesse vir a maculá-la. No entanto,
necessário se fez este “estranhamento” (Ginzburg, 2001, p.18) dos Arquivos ao revisitá-
los para este artigo, pois me intrigava uma questão: o movimento, tal como foi retratado
nos Arquivos, não teve tropeços ou dificuldades? Por que não foram retratadas?
Lourenço Filho editou o impresso Arquivos do Instituto de Educação dois anos
após assumir, como diretor3, o educandário formador de professores para que este
impresso cumprisse o papel de suporte de memória cristalizando, a salvo do tempo, a
opinião dos reformistas sobre o lugar e forma como foi experimentada a educação
naquela instituição secular. O periódico apresenta, no seu volume 1, artigos
selecionados para, na visão particular de quem o editou, perenizar ações e pensamentos
seus, e de outros seguidores, sobre a reforma que se implantava. A perpetuidade
pretendida, segundo Lopes (2005) “[legitimava] o projeto de reconstrução do país pela
educação, [ao] dar-lhe maior visibilidade, tomando por base a experiência desenvolvida
[na] escola laboratório e referencial para todo o país” (p.47). Deste modo os Arquivos
não divulgavam as dificuldades, falhas, tropeços e deficiências da realidade imprevista

1
Doutora em Educação (UERJ). Pós-Doutorado em Educação (UERJ), Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa Instituições, Práticas Educativas e História PROPEd/UERJ (registro CNPq//FAPERJ na Área
de Pesquisa Memória e Cultura).
2
Lugar de opinião, onde se concentram as observações..
3
Nomeação feita por Anísio Teixeira, então Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal.
(que incluem carências materiais, precariedade dos espaços físicos usados e as
desavenças entre Anísio Teixeira, diretor da Instrução Pública do Distrito Federal e
Lourenço Filho, diretor do Instituto de Educação e responsável pela Escola de
Professores, sobre a autonomia do diretor na Escola de Professores) que pudessem vir a
macular a autorrepresentação pretendida daquela reforma.
O Instituto de Educação, criado no mesmo dia da publicização do Manifesto,
locus pragmático da concretização da proposta dos “pioneiros”, foi o local escolhido
para “formação e aperfeiçoamento dos profissionais que deveriam reger as classes de
alunos da rede educacional da cidade [do Rio de Janeiro]” (LOPES, 2004, s/p) razão
pela qual foi marcado no título do impresso. Era imprescindível que, divulgadas as
novas e “pioneiras” propostas, criado antecipadamente o laboratório de experiências4,
recebesse o “laboratório” um novo nome5, Instituto de Educação, a diferenciá-lo da
educação até então praticada que não atendia aos princípios da escola ativa. Relevante,
também, que todos os experimentos realizados fossem mantidos para a posteridade para
consolidar, além da singularidade do espaço projetado, os ares da nova “ordem”, o local
onde se vivenciava a nova cultura, que os “pioneiros”, como em qualquer projeto
inovador, pretendiam aprimorar pela experiência, adaptar à brasilidade e consolidar
nacionalmente. Era imprescindível reunir, e fazer circular, os resultados obtidos nas
práticas docentes e administrativas vivenciadas nesta escola-laboratório, pelo impresso,
porque o papel, e o que nele estava cunhado, desafiavam o tempo e preservavam do
esquecimento o que se desejava “memorável”.
Derrida (2001), ao refletir sobre arquivo, revela que este vocábulo designa o
local onde “os deuses comandam, [...] onde se exerce a autoridade, a ordem social, [...] a
partir do qual a ordem é dada [...]” (p.12). Por isso os “arcontes” 6, os guardiões da
memória dos “pioneiros”7, tinham a tripla função de criar, guardar e tornar memorável a
reforma pedagógica. Como preservar a memória de uma realidade não prevista? Ensina
Nora (1993) que “[...] a história total [desenvolve-se] como exercício regulado da
memória [que existe enquanto] reconstituição de um passado sem lacuna e sem falha”
4
Erguido na gestão de Fernando de Azevedo como Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal,
gestão do prefeito Antônio Prado Júnior. O prédio estava parcialmente pronto. Algumas instalações não
chegaram a ser feitas, como o restaurante, as equipamentos e aparelhagens da cozinha e laboratórios,
abertura das Oficinas de Tipografia, denunciadas em carta de 21 de maio de 1932, de Lourenço Filho,
Diretor Geral do Instituto de Educação, a Anísio Teixeira, o então Diretor da Instrução Pública do Distrito
Federal (CENTRO DE MEMÓRIA ISERJ. Ofícios do Diretor, 1932-1936).
5
Era Escola Normal do Distrito Federal.
6
“O Instituto de Educação representa, assim, uma síntese dos três maiores líderes do movimento de
renovação educacional do Brasil, que nele se encontram no seu idealismo e na sua capacidade de
realização” (VENÂNCIO FILHO,1945, p.24),
7
Signatários do manifesto de 1932 que apresentou “ao governo,ao povo e ao país” a educação renovada
(p.10)8 e, pelo que interpretei, através de fontes de confronto, houve regulação e seleção
dos “arcontes” reformistas nos Arquivos, divulgador tipográfico das experiências
daquele movimento. Mas que fragmentos são estes que se apresentaram, à minha
interpretação, como “restos” (Nora, 1997)9 de uma realidade não descrita? Busco
identificar os ‘restos” como pausas na vida, e a pausa nada mais é, creio, que um
intervalo de silêncio. Sou instigada a caminhar pelos restos da História em pausas,
sempre em busca de um silêncio que possa ser ouvido. Creio que, desse modo, posso
ver e ouvir as pausas e senti-las, explicitá-las e narrá-las.
Encontrei, em 2006, fragmentos de realidade não prevista pelo periódico
Arquivos emergindo dos papéis que comporiam o Centro de Memória Institucional
(CEMI) do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ)10 ao perceber um
caderno manuscrito por muitas pessoas11, algo que os “arcontes”, intencionalmente,
creio, não desejaram imortalizar. Era um cotidiário12, materializado em grande e velho
caderno de capa dura. Ao abri-lo, verifiquei ser referente aos anos de 1931 a 1936, sua
finalidade e a quem pertencera13. Este cotidiário da Escola Primária se contrapunha
dicotomicamente à memória do impresso Arquivos e marcava, através de pequenos
recados informais e manuscritos entre um turno e outro, e entre setores diferentes da
instituição, deficiências não descritas, sequer aventadas, que considero como
“silenciadas” (Pollak,1989) pelo impresso. O cotidiário revelava: a perda da regência
das turmas na Escola Primária pelas auxiliares de ensino que as tinham assumido, ao
retornarem as professoras titulares licenciadas; que a professora de educação física da
Escola Primária, ao ocupar-se de outras atividades além da docência, prejudicava sua
principal tarefa; que havia desorganização na “sala da cantina” pois que ainda estava
8
Relevante mencionar que as “falhas” e “deficiências” aparecem, apenas, nos Arquivos de 1945(vol.2,
nº1), em artigo do J, P. Fontenelle (p.46), isto é, em impresso não editado por Lourenço Filho.
9
Segundo o autor são resíduos de um passado que não se foi de todo e que ainda estão por aí, para serem
achados.
10
Criado pela autora em 9 de dezembro de 2005 na gestão do Prof. Ubiratan Castro Vianna..Após minha
saída, em 2011, do Centro de Memória, o nome do espaço institucional foi alterado para Centro de
Memória da Educação.
11
Percepção da autora face à diversidade de caligrafias encontradas na fonte.
12
“O grande livro de Registro de Correspondência da Escola Primária do Instituto de Educação do Rio
de Janeiro possui 200 folhas, numeradas sempre no canto superior direito da página da frente. As folhas,
já amareladas pelo tempo, têm linhas e margens como um caderno. Em sua capa inteiramente preta e dura
não consta quaisquer indício que aponte a utilidade dada ao livro. Ao abri-lo, nos deparamos com uma
folha de rosto na qual encontramos a finalidade escrita em letras cursivas: “servirá para registro da
correspondência da Escola de Aplicação”. Esses dizeres são seguidos da assinatura de Haydéa de Castro
Fiúza Vianna, diretora da instituição, em 1931” (SANTOS e PIMENTEL, 2017, p .2)
13
A pesquisadora Rosa de Souza Braga, celebrando este achado, tomou-o à época por fonte privilegiada
para escrita de sua dissertação de mestrado em Educação, Caligrafia em Pauta: a legitimação de Orminda
Marques no campo educacional. “defendida em 2008, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(disponível em http://www.proped.pro.br/teses/teses_pdf/2006_1-211-ME.pdf ) , cujo objeto era Orminda
Isabel Marques, diretora da Escola Primária do Instituto de Educação.
repleta de materiais do almoxarifado que ali não deveriam estar; que o atraso no
recebimento do material do ano letivo, entregue somente ao término do período,
prejudicava o ensino, alunos e o planejamento dos professores; que a falta de
professores “adjuntas, estagiárias, professora de educação física e música” (SANTOS e
PIMENTEL, 2017, s/p), alteravam a organicidade escolar; que as carteiras eram
insuficientes para o número de discentes. Todas estas dificuldades não mencionadas em
nenhuma das edições dos Arquivos editados por Lourenço Filho.
Também uma carta de Lourenço Filho à Anísio Teixeira, escrita quase dois
meses após o decreto de criação do educandário Instituto de Educação, chegou-me às
mãos, anos depois, quando iniciava pesquisa sobre as carteiras escolares usadas no
Instituto de Educação14. Esta missiva, contendo seis folhas comuns amarelecidas, e
carbonadas em azul, datada de 21 de maio de 1932, estava no livro encadernado dos
Ofícios do Diretor (1932-1936), ainda que não parecesse correspondência
administrativa, e também, como o cotidiário, apresentava as muitas dificuldades com
que o diretor Lourenço Filho, começava a se defrontar ao assumir a direção do
educandário. A epístola, que não obedece à norma de documento administrativo,
distoante dos documentos encadernados como Ofícios do Diretor, pareceu-me carta
afetiva, lamurienta, onde um emitente expõe dificuldades ao destinatário partilhando um
momento adverso. Este resquício documental, talvez acoplado à pilha de ofícios
inadvertidamente, obedecia à norma epistolar de poder revelar intimidades e funcionou,
para mim, também, como fragmento de uma realidade não impressa nos Arquivos:
[...] o que se diz das instalações, com mais razão se dirá do mobiliário,
hoje absolutamente deficiente para o número de alunos matriculados e
o número de professores em exercício. Nem mesmo carteiras há em
numero suficiente. Várias salas de aula da Escola Primária não
possuem armários nem mesa para a professora. Cabides, quadros
negros volantes, porta-chapéus não existem [...] (cf. carta Lourenço
Filho a Anísio Teixeira, datada de 21 de maio de 1932)

A longa escritura, uma correspondência de amigos, pareceu-me correspondência


de companheiros que comungam ideais. A missiva não só relata, mas sugere e pede
auxílio a quem, hierarquicamente encontrava-se, naquele instante, em posição superior,
pois o emitente, Lourenço Filho, lamuria-se a Anísio Teixeira, diretor da Instrução
Pública, que o tinha nomeado para o cargo que ocupava, do prédio recém-entregue
pelos responsáveis pelas obras, que não pode ser concluído; das acomodações que não

14
SANTOS, Heloisa Helena Meirelles dos e MIGNOT, Ana Chrystina Venancio. Com a palavra as
carteiras escolares. In: GASPAR, Vera (org.). Cultura Material Escolar em Perspectiva Histórica:
escritas e possibilidades. Espírito Santo: SBHE/UFES (no prelo).
obedeceram ao planejamento original; da biblioteca que ainda carecia de livros
adequados e do material escolar insuficiente; das salas e laboratórios, que não atendiam
satisfatoriamente à educação renovada que se implantava.
A missiva queixa-se, também, do mobiliário escolar existente, inadequado à
prática de um ensino ativo, “pesado, com dois lugares, bancos e peças fixas, com
inclinação e uma estante para os livros”, que não correspondia ao ideal para o
atendimento da mobilidade que as carteiras não tinham como proporcionar, já que
haviam sido compradas para um modelo de educação pautado na disciplina, ordem,
higiene e organização, e confeccionadas, sem muito critério educativo, segundo a 3ª via
de Notas fiscais15, em empresas pequenas da cidade do Rio de Janeiro tais como “O
Encharcado”, “Móveis e Colchoaria A. Bernardino José da Silva”, “Camillo Alons” e
carpinteiros contratados. A tipografia, necessária à confecção de material impresso para
uso do educandário, como os testes ABC, impressos administrativos e os Arquivos do
Instituto de Educação, não tinha sido ser montada, não tinha sequer equipamentos, “não
existia”. O restaurante dos professores, previsto para ser instalado no torreão, também
não existia, sendo usado o espaço da cantina que também servia aos alunos. Ao mesmo
tempo existiam conflitos que alteravam a harmonia do ambiente escolar entre o diretor e
o reitor, entre o diretor e e diretor da Instrução Pública, entre professores e auxiliares de
ensino, entre funcionários e professores todos comuns e cotidianos, mas nunca relatados
em uma experiência que acreditava pautar-se na cientificidade.
Em razão do conteúdo destas escrituras, e tendo de arrumar o quebra-cabeça de
um mosaico de muitas peças para torná-lo entendível, percebo Arquivos, como um
impresso com duas perspectivas: guardar a memória de uma renovação pedagógica que,
à época, se implementava e silenciar sobre a realidade vivida, e não prevista, que podia
não perpetuar o que se desejou memorável pelo periódico, enquadrando (Pollack, 1989)
o escrito. Que tipo de culto de imortalidade movia o editor do impresso? Elizabeth
Roudinesco (2006), historiadora e psicanalista lacaniana, ao refletir sobre a questão do
“arquivo de si”, o que para Lourenço Filho considero ser aquele periódico, entende esta
arquivo como uma necessidade de perpetuidade temporal de representar a si mesmo,
numa valorização da imagem ”de si”, com intenção de imortalizar-se. Comenta ainda a
autora, que o descrito no impresso, um “arquivo total de saber absoluto”, marca a
autorrepresentação de quem o manipula, projetando o que deve ser lembrado que,

15
Acervo do Centro de Memória ISERJ.
negando o peso da subjetividade, deve preencher o silêncio e as imperfeições que ali
não são visíveis.
Práticas impressas para a posteridade

O primeiro número de Arquivos do Instituto de Educação (vol.1, nº1), de junho


de 1934, apresenta como responsáveis pela edição, o Instituto de Educação e o
Departamento de Educação listando, no sumário, os seguintes artigos: “O ‘Instituto de
Educação’”; “A Escola de Professores”, de autoria de Lourenço Filho; “A Admissão à
Escola Secundária”, cujo autor foi Mário de Brito; “O ensino do Desenho”, escrito por
Fernando de Nerêo Sampaio; “O Ensino de Química”, artigo de J. B. Pecegueiro do
Amaral16, “O Ensino da Escrita”, de autoria de Orminda Isabel Marques; “Como
melhorar a frequência escolar”, texto de Ondina Marques que discute as iniciativas para
um percentual adequado de frequência escolar, mediado pelo teste ABC; “A situação
dos alunos do Jardim de Infância”, texto de Celina Airlie Nina, primeira diretora do
Jardim de Infância do Instituto de Educação, com vistas à leituras das futuras jardineiras
e professoras; “A dissertação em aula” e “A discussão dos trabalhos de seminário”,
ambos escritos por Delgado de Carvalho; “A Educação comparada”, texto de Gustavo
Lessa; “Como é cantado o Hino Nacional”, produção coletiva dos Alunos da E. de P.17,
além de “Alimentação dos Escolares” e “Discotéca18 da Escola de Professores”, ambos
os artigos escritos por M.J. Pegado Camet. Todos os articulistas exercício profissional,
ou discente, naquele momento, no Instituto de Educação, a legitimarem, com suas
pragmáticas experiências, a renovação educacional. Além disso o periódico
complementa, com fotos de turmas, atividades e aspectos construção do prédio, a visita
do presidente da república Getúlio Vargas e do interventor do Distrito Federal, Pedro
Ernesto, imprimindo legitimidade ao educandário e do que ali se praticava.
Ainda que não exista exemplar publicado pelo Instituto de Educação do Distrito
Federal, no ano de 1935, como comentado por Lopes (2005), em razão de conflitos
políticos que culminaram com a demissão da Direção da Instrução Pública do Distrito
Federal de Anísio Teixeira, a Universidade de São Paulo lançou, em sua primeira
edição, em 1935, um periódico de mesmo título, a 30 de setembro, com poucos artigos19

16
João Batista Pecegueiro do Amaral, autor dos livros: AMARAL, João Batista Pecegueiro do. (1899-?).
Compêndio de Química, de acordo com o programa oficial da 3ª série. 385p, Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1947e outros.
17
O título do artigo foi escrito tal qual a fonte, com letras como sigla, tornando perceptível que a edição
adotou designação como era reconhecido o curso.
18
Obedecida a grafia da fonte.
19
A publicação contém os seguintes artigos e seções: Fernando de Azevedo (“A missão da
Universidade”); A. Almeida Júnior(“Nosso Diário Alimentar”); Milton Silva Rodrigues (“A Educação
e outra editoria, o que demonstra que o periódico pedagógico, usado como lugar de
memória “emerge de um grupo que ela une, [porque] há tantas memórias quanto os
grupos que a unem” (NORA, 1993, p.9). O que me fez questionar se a nomeação do
periódico havia sido escolhida por Lourenço Filho ou pelo grupo reformista. Importante
salientar que, naquele ano, foram poucos os registros feitos no cotidiário, apenas 34,
número bastante anterior aos anos anteriores. A razão desta insuficiência de registros é
desconhecida, embora possa ser tomada, também, por silenciamento das reais condições
da instituição.
A segunda edição dos Arquivos do Instituto de Educação foi publicada apenas
em 1936 (vol 1, nº2), já fazendo constar, como responsáveis pela publicação, o Instituto
de Educação e a Universidade do Distrito Federal, criada no ano interior como parte da
educação reformistae, cuja reitoria, funcionava no prédio do Instituto de Educação, esta
também fazendo parte da educação reformista. Esta edição apresenta, nas primeiras
páginas, que seguem a numeração daquele primeiro número de Arquivos, publicado em
1934 na mesma instituição, um balanço, em cinco páginas apenas, das atividades ali
desenvolvidas para a formação de professores primários e secundários, sob o título “O
Instituto de Educação no último triênio”. O pequeno número de páginas para o relato do
triênio pareceu-me, também, silenciamento das dificuldades do educandário formador
que não deveriam ser, em momento político incerto para os “pioneiros”, publicizada ou
deixada para a posteridade.
Descrevendo o ensino ministrado na disciplina de História Natural, com riqueza
de detalhes que inclui a recepção de peças recebidas pela Escola Normal no espólio do
Pedagogium20, em 1919, Carlos L. Werneck apresenta, nesta ediçãoo artigo “O ensino
de História Natural na Escola Secundária”; A. Menezes de Oliveira21 descreve “ O
Ensino de Física na Escola Secundária”; Alfredina de Paiva e Souza explica “O Ensino
de Matemática na Escola Primária” reafirmando a “necessidade de da tabuada, [...] por
combinações divididas em ordem de dificuldade” (ALMEIDA e SILVA, 2014, p.48)22;

através dos países”); Noemy da Silveira Rudolfer (“Aferição dos testes de Dearborn, série I, exame A”);
Celisa Ribeiro de Arruda (“Como estudar com eficiência”); Bibliografia; Notícias e Comentários.
20
Para saber mais ver MIGNOT, Ana Crystina Venancio (org.). Pedagogium. Símbolo da Modernidade
Educacional Republicana. Rio de Janeiro
; Quartet, 2013.
21
Adalberto Menezes de Oliveira (1883-1973). Membro da Associação Brasileira de Educação onde foi
redator da Revista ‘Educação’.
22
ALMEIDA, Denis Herbert de e SILVA, Maria Célia Leme da. Alfredina de Paiva e Souza e o
Instituto de Educação do Rio de Janeiro: a vanguarda da tabuada na era dos testes. Caminhos da
Educação Matemática em Revista (On-line). Vol. 1 nº 1, 2014 pp. 48-70 Disponível em
http://aplicacoes.ifs.edu.br/periodicos/index.php/caminhos_da_educacao_matematica/article/view/5
Acesso 03/05/2017
Maria dos Reis Campos demonstra, no artigo “Execução de um projeto”, as
apropriações do “método de projetos” no Instituto de Educação, apresentando
pragmaticamente a prática docente voltada à criança ativa como centro e motor do
processo educativo; Orminda Isabel Marques descreve as suas “Contribuições para o
ensino da escrita”, apresentando o método de caligrafia que, naquele mesmo ano ainda
comporá o livro de sua autoria, “A escrita na escola primária” (1936); Helena
Mandroni, no artigo “Como ensinei a ler uma classe ‘forte’23, descreve seu trabalho em
classes diferenciadas pelo teste ABC, como ‘forte’24, ou como designado pela Diretora
da Primária, “alunos no primeiro passo de autonomia escolar” (MARQUES, 1933, s/p);
Nair Vianna Freire, dando um contraponto ao artigo de Mandroni, conta como
alfabetizou uma classe ‘fraca’, ou como definiu a partir do teste ABC, de autoria do
diretor Lourenço Filho, Orminda Marques(1933)uma “turma rebelde [...] verdadeiros
alunos-problema” (s/p) em “Como ensinei a ler uma classe ‘fraca’.
O último periódico pedagógico editado pelo Instituto de Educação, com a
responsabilidade, também, da UDF25, sob a coordenação de Lourenço Filho, foi o de
193726. O impresso publicou artigo do editor com o título de “O Instituto de Educação
no ano de 1936”, afirmando que, aquele ano “caracterizou-se pela consolidação dos
processos administrativos e didáticos, inaugurados em 1932, quando da organização do
Instituto”(LOURENÇO FILHO, 1937 p.271), fazendo um longo balanço estatístico da
instituição (matrículas, frequência, percentagem de aprovação, nº de professores, etc.);
O diretor é, também, autor do artigo “ Formação do professor primário”, onde discute,
a partir de um histórico das iniciativas da educação para as crianças pelo mundo, as
finalidades das escolas normais no Brasil divulgando a reforma escolonanovista para
demonstrar que no Instituto de Educação, “[...] eleva-se a formação do mestre, mesmo
primário, ao nível dos estudos universitários[...] (ibidem, 1937, p.285). Outros artigos,

23
“Por descrever sua classe forte como seletiva, e não homogênea, Mandroni (1936, p. 242) ressalta que a
primeira tarefa a realizar fora ‘analisar o perfil da turma, como um todo’, estudando, igualmente, ‘o
psicograma relativo a cada aluno’, pois havia diferenças sensíveis entre seus alunos, que pediam uma
diferenciação entre os exercícios a realizar e a motivação a incitar” (PINTO, 2009, P.63)
24
“Para desenvolver a escrita com sua turma forte, Mandroni estabeleceu uma maneira de verificar o
nível de aprendizagem dos alunos ao longo do ano: no dia 16 de cada mês, repetia com sua turma a
mesma frase modelo para o exercício de escrita e guardava os trabalhos dos alunos.” (PINTO, 2009, p.
64)
25
Houve uma edição, em 1945, editada pelo IE, Secretaria Geral de Educação e Cultura e Prefeitura do
Distrito Federal, vol. II, nº 4.
26
A USP edita, no mesmo ano, também com objetivo de preservação de memória, periódico pedagógico
com o nome de Archivos do Instituto de Educação. Na edição foi usada a palavra arquivos grafada de
modo diverso. A publicação apresenta artigos de Francisco da Luz Rebelo Gonçalves (1907-1982), Paul
Arbousse Batiste (1898-1974) , Milton Camargo da Silva Rodrigues (1904 – 1971) e Ernst Gustav
Gotthelf Marcus (1893-1968)
enunciados no sumário com o título de Programas de Ensino, trazem as colaborações
dos professores J. P. Fontenelle (“Biologia Educacional”, pp. 271-300), Lourenço Filho
(“Psicologia Educacional”, pp.301-306 e “Prática de Ensino”,p.357); Delgado de
Carvalho (“Sociologia Educacional”, p.307-309), Afrânio Peixoto (“História da
Educação” e “Filosofia Educação”, p.309-316), Elvira Nizynsca (“Leitura e
Linguagem”, pp.317-323 e “Literatura Infantil”, pp.337-340), Alfredina de Paiva
(“Cálculo”, pp.323-327), Maria Reis Campos (“Estudos Sociais”, pp.327-332), F.
Venâncio Filho (“Ciências Naturais”, pp.333-336), Ceição de Barros Barreto (“Música
e Canto Orfeônico”, pp.341-344), Lois Marieta Williams (“Educação Física, Recreação
e Jogos”, pp.345-348), F. de Nerêo Sampaio (“Desenho e Artes Industriais”, pp.349-
357).
Todos os impressos do primeiro volume dirimiam qualquer dúvida sobre a
responsabilidade e endereço do local das experiências ali divulgadas, explicitando o
objetivo do impresso: que “[...] têm por fim registrar e divulgar trabalhos e
investigações sobre ensino e organização escolar, realizados no Instituto de Educação,
do Rio de Janeiro, Brasil”, esclarecendo que as correspondências deveriam ser
encaminhadas “ao Prof. Lourenço Filho, Diretor do Instituto de Educação, Rua Mariz e
Barros, 227, Rio de Janeiro, Brasil”. Tais informações visavam incluir na memória do
leitor mais que ações e experiências realizadas, imprimindo na edição a memorabilidade
do autor/editor do periódico, em clara percepção, também, de um “arquivo de si”, como
criador/responsável/adepto/divulgador das atividades no impresso noticiadas, ao
demarcar o êxito, a grandeza e eficiência da reforma mas não mencionam as muitas
dificuldades cotidianas da realidade não prevista, expressas nos documentos de
confronto.
Conclusão
O estranhamento do impresso Arquivos do Instituto de Educação foi ato de
pesquisa movido pela necessidade de reconhecimento de meu objeto de análise sob o
ângulo da perpetuação enquadrada de memória, através da publicação no impresso
apenas dos êxitos obtidos. Confrontar este periódico com “restos” que apresentaram a
realidade imprevista daquele momento levou a refletir que o guardião daquela memória
intencionalmente articulada para os êxitos, tinha receio de maculá-la com deficiências
da realidade naquele momento de implantação do movimento reformista. Revisitar os
Arquivos permitiu, também, revisitar fontes que passaram por minhas mãos em outras
investigações e que, à época de sua identificação, não pudera interpretar como de
realidade cotidiana não prevista pelos memorialistas do periódico Arquivos. Reconheci,
também, no periódico estudado, funções dicotômicas: a de seu óbvio sentido de ser
memória eterna, perfeita e invariável e outro, imprevisto por seu editor e articulistas, de
por ser relativo e circunstancial o cotidiano vivido, de enquadrar a realidade
silenciando-a.
Referências
ALMEIDA, Denis Herbert de e SILVA, Maria Célia Leme da. Alfredina de Paiva e
Souza e o Instituto de Educação do Rio de Janeiro: a vanguarda da tabuada na era dos
testes. Caminhos da Educação Matemática em Revista. Vol. 1 nº 1, 2014 pp. 48-70
Disponível em
http://aplicacoes.ifs.edu.br/periodicos/index.php/caminhos_da_educacao_matematica/ar
ticle/view/5 Acesso 03/05/2017
AZEVEDO, Fernando. Fernando de Azevedo: História de Minha Vida. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio, 1971.
CENTRO DE MEMÓRIA ISERJ. Ofícios do Diretor, 1932- 1936.
____ Registro de Correspondência da Escola Primária (1931-1936).
____ Arquivos do Instituto de Educação. Volume 1. Nº 1, 2 e 3.
GINZBURG, Carlos. Olhos de Madeira: nove reflexões sobre a distância. Trad.:
Eduardo Brandão. São Paulo: Cia. das Letras, 2001.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS/CPDOC. Marques, O. I. (1933). Relatório de
1933. Escola Primária do Instituto de Educação. LF t Inst. Educ., pasta II. Arquivo
Lourenço Filho.
LOPES, Sonia de Castro. Arquivos do Instituto de Educação. Suporte de memória da
educação nova no Distrito Federal (anos de 1930). Anais. XXIII Simpósio Nacional de
História.ANPUH, 2005.
_____Escola de Professores do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932-39):
formando mestres segundo os princípios da "educação renovada". Anais. III Congresso
Brasileiro de História da Educação. SBHE/PUC-Paraná/ UEL,2004.
MIGNOT, Ana Crystina Venancio (org.). Pedagogium. Símbolo da Modernidade
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