VOTO- E M E N T A
4. Em que pese o quanto alegado pelo réu, não consta dos autos a prova de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora. De fato, restou
comprovado nos autos, que a concessionária de serviços públicos procedeu ao
corte no fornecimento de energia da unidade consumidora da parte, argumentando
que a parte autora encontrava-se em débito, em relação às faturas com
vencimento em janeiro e fevereiro de 2015. . A parte acionante, por seu turno,
colaciona aos autos os comprovantes de pagamento relativos a tais meses, o que
prova a caracterização da cobrança indevida, oriunda da falha na prestação dos
serviços da ré, e que teve como conseqüência a suspensão do fornecimento de
energia elétrica da residência da parte autora.
5. Cumpre salientar que estamos diante de uma relação de consumo, impondo-
se a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor, as quais
possuem interesse social e são de ordem pública, sendo a responsabilidade da
recorrente objetiva e fundada na teoria do risco do empreendimento.
6. Com efeito, já é entendimento consolidado em nossa jurisprudência a
ilegalidade no procedimento de suspensão do serviço de energia elétrica sem a
concessão do prévio aviso ao consumidor, para que o mesmo possa providenciar o
pagamento. De igual modo, tal notificação de nenhum modo poderá ser realizada
de modo genérico, no corpo da fatura, sem a especificação do prazo para
pagamento e das conseqüências do inadimplemento, a saber, a suspensão do
fornecimento de bem essencial no caso de não pagamento das faturas em aberto
no prazo . Nesse sentido o STJ já consolidou o entendimento,, conforme julgado:
ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ENERGIA
ELÉTRICA. INADIMPLEMENTO. SUSPENSÃO DO
FORNECIMENTO. CORTE IRREGULAR. AVISO PRÉVIO
LANÇADO NA PRÓPRIA FATURA DE FORMA GENÉRICA E SEM
EXPLICITAÇÃO DO PRAZO DE 15 DIAS ESTIPULADO PELA
ANEEL. SÚMULA 7/STJ. 1. Incide o óbice das Súmulas 211/STJ e
282/STF em relação à suposta vulneração dos arts. 6º, § 3º, da Lei
8.987/95; 17 da Lei 9.427/96; 188, I, 884, 944 e seguintes do Código
Civil, que não foram examinados pelo acórdão de origem. 2. A esse
respeito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não admite
o prequestionamento (ficto) pela simples oposição de Embargos
Declaratórios, reclamando ter havido o efetivo debate na instância
ordinária quanto aos preceitos legais suscitados. Precedente: AgRg
no REsp 1.393.280/RN, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 16.12.2013. 3. Ademais, diversamente do que sustenta
a agravante, a controvérsia não se relaciona com a possibilidade de
inclusão do aviso prévio no corpo da própria fatura, mas sim com a
irregularidade da notificação feita de modo genérico e sem explicitar
o prazo de 15 dias para regularização do débito. 4. Arredar a
conclusão da instância a quo sobre a irregularidade da notificação
demanda reexame do conjunto fático probatório, o que é vedado
pelo enunciado da Súmula 7/STJ. 5. A hipótese dos autos não
permite a revaloração da prova, tendo em vista não se verificar erro
jurídico na aplicação de norma ou princípio. Precedente: AgRg no
AREsp 26.857/GO, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma,
DJe 27.9.2013. 6. Por fim, os precedentes citados pelo agravante
não o socorrem, uma vez que, além de não guardarem similitude
fática com o caso dos autos, esbarram no enunciado da Súmula
420/STJ, cuja ratio decidendi se aplica à espécie, por analogia. 7.
Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 339935 PE
2013/0141457-4, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de
Julgamento: 01/04/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 15/04/2014)
ACÓRDÃO