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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

Votação da Admissibilidade do Impeachment Presidencial em 2016: Análise de


Conteúdo das Motivações na Câmara dos Deputados1

Tariana Brocardo MACHADO2


Simone Alves de CARVALHO3
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

Resumo
O presente artigo analisa as motivações alegadas pelos 511 deputados federais presentes
na sessão para a votação pela admissibilidade do impeachment da presidente Dilma
Rousseff ocorrida na Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016. A metodologia é a
análise de conteúdo das falas dos deputados, de acordo com os parâmetros de
categorização e codificação descritos por Bardin (2011). O estudo encontrou como
resultados referências a regiões de origem dos deputados votantes; valores
conservadores, como pátria, Deus e decência; e aspectos legais do processo de
impeachment, com citações à Constituição Federal, legalidade e justiça. À luz dos
conceitos de política, da relevância dessa votação para o cenário político contemporâneo
no Brasil, da atual indefinição da situação da presidente da república eleita e frente ao
governo interino, observa-se a importância da realização desta pesquisa.

Palavras-chave: deputados federais; votação; impeachment; presidente; Dilma


Rousseff.

Introdução
O cenário político brasileiro tem sofrido consideráveis mudanças nos últimos
meses. A reeleição da presidente Dilma Rousseff em outubro de 2014 com 61,54% dos
votos válidos acirrou o debate na sociedade, dividida entre os dois candidatos do
segundo turno, aumentando a presença de grupos contra e a favor do governo nas
manifestações sociais nas ruas do país, os “vermelhos”, favoráveis à presidente Dilma
Rousseff, e os “verde e amarelos”, contrários ao governo atual, à medida que a crise
econômica se intensificou e que investigações conduzidas pela Polícia Federal
encontraram inúmeras organizações públicas e privadas participantes de esquemas de
corrupção. Em 17 do abril de 2016, devido à alegação de crime de responsabilidade
fiscal, conhecido popularmente de “pedaladas fiscais”, presente no relatório do

1
Trabalho apresentado no GP Políticas e Estratégias de Comunicação, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em
Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP, bolsista CAPES, e-mail:
tariana@gmail.com

3
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP, bolsista CAPES, e-mail:
simonecarvalho@usp.br
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deputado Jovair Arantes (PTB-GO) submetido à prévia aprovação de uma comissão


especial, 511 deputados presentes na sessão de votação de admissibilidade do
impeachment da presidente da república, sendo 367 votos a favor, 137 contra e sete
abstenções (CÂMARA, 2015). Este resultado foi posteriormente aprovado na votação
no Senado Federal, realizada em 12 de maio do mesmo ano, com 55 votos favoráveis e
22 contrário, do toral de 78 senadores presentes, contabilizando 3 ausências. A partir
dessa data, decorrem 180 dias com análises de pareceres, provas, declarações e demais
trâmites legais para chegar ao veredito.
O dia da semana escolhido pela Câmara dos Deputados para realização da
votação foi um domingo e foi transmitida ao vivo pelos principais meios de
comunicação e acompanhada pela população inclusive em telões montados em praça
pública nas diferentes capitais dos estados brasileiros. Os deputados, além de
registrarem seus votos “sim”, “não” ou “abstenção”, expuseram diversos motivos para
tais posicionamentos, e é sobre estas justificativas que o presente artigo trata,
levantando categorias como aspectos legais, sociais, políticos, econômicos e pessoais,
valores conservadores, regionalismo, votos contra determinados políticos e partidos,
contra a mídia, a favor da ciência e sem justificativa.
Para Arendt “a política baseia-se na pluralidade dos homens” (2002, p. 7), e
essa máxima deveria ser a representação política eleita no país, respeitando as
singularidades e heterogeneidades populacionais e eleitorais. Entretanto, conforme
veremos nas análises a seguir, existem ainda algumas categorias de pensamentos
proeminentes reveladas por nossos deputados federais. Arendt critica essa hegemonia:
“a falta de profundidade de pensamento não revela outra coisa senão a própria ausência
de profundidade, na qual a política está ancorada” (idem), o que não deveria
corresponder à realidade, dadas as problemáticas sociais que enfrentamos.
Nesse sentido, Weber considera que o conceito de política “é
extraordinariamente amplo e abrange todas as espécies de atividade” (2011, p. 55), ao
que corrobora Maar ao explicitar as diferenças entre a política como “atividades
associadas de algum modo à esfera institucional política, e o espaço onde se realizam”
(2006, p. 10) e àquela que desenvolve no cotidiano das pessoas, nas relações sociais,
profissionais, institucionais, em um significado mais amplo da vida em sociedade.
Maar considera que a política é feita por pessoas que “têm todas as condições
de interferir, desfiar e dominar o enredo da história” (2006, p. 8), o que denota a grande
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preocupação que a população deveria ter ao eleger seus representantes, no entanto,


muitas vezes “oculta-se ao eleitor o seu ser político, atribuindo-se esta qualidade apenas
ao eleito” (2006, p. 11) ou aos candidatos. Dessa maneira, alienando o cidadão de seu
papel enquanto ser político, de direitos e deveres, torna-se mais fácil a manipulação das
informações e a espetacularização das atitudes ditas políticas.
Para Lima (2009, p. 87), “a política nos regimes democráticos é (ou deveria
ser) uma atividade eminentemente pública e visível”, que, nessa situação específica foi
bastante espetacularizada, tanto pela mídia de massa como pelas mídias digitais.
Matos (2011) afirma que a comunicação pública, dado que acontece no âmbito
público, exige a participação da sociedade e de seus segmentos como sujeito, não
somente receptor da comunicação do governo. As falas e os atos dos deputados são de
interesse público e deveriam refletir as preocupações da população, refletindo em seus
votos àqueles interesses. Nesse sentido, a comunicação pública da política durante todo
esse processo não estabeleceu “um fluxo informativo e comunicativo [entre o governo e
os representantes políticos] com seus cidadãos” (BRANDÃO, 2009, p.4), apresentando
pouca transparência e baixa eficácia no processo comunicativo da política pública.

Categorias de análises
A análise de conteúdo, segundo Bardin (2011), pode ser realizada por meio da
classificação analógica e progressiva dos elementos, trabalhando com atenção às
palavras, sentenças e seus significados, nas fases de pré-análise, exploração das
informações e interpretação dos resultados. Assim, construíram-se as categorias e
analisaram-se todas as falas dos 511 deputados votantes (CÂMARA, 2016) permite a
observação de 11 categorias:
A. Aspectos legais: a categoria inclui intenções expressas contra a corrupção, crimes,
ladrões etc.; menções à inocência da presidente em relação aos crimes alegados no
relatório encaminhado para a admissibilidade do impeachment; menções à
legalidade, incluindo Constituição de 1988, direitos, resultados legítimos das
eleições presidenciais; justiça, incluindo citações ao juiz Sérgio Moro, à chamada
República de Curitiba e à operação Lava-Jato, da Polícia Federal; afirmações contra
golpe de estado; a favor da liberdade; e referências contra a ditadura militar de
1964.
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B. Aspectos sociais: referências a minorias e em defesa de públicos vulneráveis, como


populações indígenas, quilombolas, mulheres, negros e gays, entre outros;
trabalhadores, incluindo a preocupação com geração de empregos, número de
desempregados e trabalho em geral; em defesa de programas governamentais como
Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, entre outros; em nome da igualdade social,
com menções à desigualdade, conflitos entre ricos e pobres, em defesa da reforma
agrária e reforma urbana; e contra o chamado assistencialismo.
C. Aspectos políticos: votos registrados em nome e a pedido dos eleitores, por
determinação partidária, observando-se de tendências e posicionamentos como
esquerda, direita, populismo; em nome de partidos políticos específicos; em
homenagem a pessoas mortas, em sua maioria políticos; em defesa da democracia,
com referências ao Estado Democrático de Direito; por pautas políticas específicas
e caras a cada deputado; a favor da realização de novas eleições; referências
favoráveis à ditadura militar iniciada em 1964 e ao torturador da presidente da
república Dilma Rousseff quando de sua detenção no período.
D. Aspectos econômicos: a categoria engloba referências ao esperado crescimento
econômico, desenvolvimento, futuro melhor, com aspectos como um novo tempo
ou esperança e mudança, indústria, agricultura, incluindo menções aos agricultores
e à agricultura familiar, agropecuária e petróleo ou pré-sal.
E. Valores conservadores: congrega valores tradicionalmente caros à sociedade
brasileira como pátria ou nação e seus símbolos – bandeira, hino –, família,
incluindo crianças e jovens, Deus e todas as menções a religiões, santos, bênçãos ou
a trechos da Bíblia; referências a povo brasileiro; menções a decência e governo
decente e citações explícitas de preconceitos, tanto político, denegrindo
determinados partidos, governos ou tendências, quanto de gênero ou contra
políticas públicas inclusivas para escolas.
F. Regionalismo: menções às regiões do país, estados a que pertencem os deputados
ou municípios homenageados, bem como a população dessas localidades.
G. Aspectos pessoais: incluindo menções a familiares, como filhos, pais, netos, tios,
sobrinhos, irmãos, esposos e amigos; à categoria profissional de origem dos
deputados; de grupos a que pertencem ou representam; valores como ética,
responsabilidade, consciência, dignidade e sabedoria; e referências a aspirações
para a vida, como paz, harmonia e sonhos.
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H. Contra políticos e partidos: aparecem referências contrárias à presidente Dilma


Rousseff, ao deputado Eduardo Cunha, ao presidente interino Michel Temer, ao ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Aécio Neves, ao Partido dos Trabalhadores,
ao O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e ao governador em
exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles.
I. Contra a mídia: menções contra os veículos de comunicação Folha de S.Paulo e TV
Globo.
J. Sem justificativa: votos sem motivação explícita, apenas sim, não ou abstenção.
K. A favor da ciência: em nome da ciência e tecnologia, pesquisa e inovação
tecnológica.

Análises dos resultados


Ao todo, foram encontradas ao todo 2.249 menções aos 53 códigos, elementos
que compõem as 11 categorias, entre todos os votantes.
Quadro 1 – Categorias encontradas nos votos dos deputados
Quantidade de
Categorias Exemplos
ocorrências
A - Aspectos “...pelo fim da corrupção em todos os espaços de
386
legais poder, eu voto ‘sim’.” Carmen Zanotto, PPS-SC
“Mesmo assim, quero saudar todos os trabalhadores e
B - Aspectos
127 trabalhadoras, do campo e da cidade.” Leonardo
sociais
Monteiro, PT-MG
“Agradeço a todo o Partido Progressista, que
entendeu o sentimento das ruas e de toda a sua
C - Aspectos
282 bancada e votou majoritariamente, fez questão de
políticos
fechar o voto em favor do impeachment.” Beto
Rosado, PP-RN
“...em nome de todos esses e em nome do Brasil (E1),
com a esperança de que nós possamos construir, com
D - Aspectos
151 o novo Governo, um diálogo com a política, com a
econômicos
economia e recuperar esta Nação...” Paulo Foletto,
PSB-ES
“Sr. Presidente, que a partir de amanhã, segunda-feira,
E - Valores Deus possa derramar muitas bênçãos sobre o nosso
436
conservadores Brasil e sobre o povo brasileiro.” Washington Reis,
PMDB-RJ
“Sr. Presidente, em defesa do povo cearense, em apoio
aos milhares de fortalezenses que estão, neste
F- momento, na Praça Portugal, pelo fortalecimento dos
509
Regionalismo Municípios brasileiros a partir de Maranguape,
Maracanaú, na região metropolitana...” Raimundo
Gomes de Matos, PSDB-CE
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“Sr. Presidente, quero deixar aqui o meu abraço à


minha mulher Mariana; às minhas filhas Marianinha,
G -Aspectos Heloísa e Camila; aos meus netos Antônio e João; à
231
pessoais minha neta que está por vir, Olímpia; à minha irmã
Zélia; e à minha Tia Elzamir, com 96 anos.” –
Heráclito Fortes, PSB-PI
“Srs. Deputados, eu já ouvi falar aqui de todas as
coisas, mas eu ainda não ouvi falar ainda de conta na
H - Contra Suíça, eu não ouvi falar ainda em recebimento de
políticos e 108 propinas. É preciso falar aqui, Sr. Presidente... V.Exa.
partidos hoje está rindo, mas agora a bola da vez é o senhor. O
senhor vai pagar por tudo que fez.” - José Carlos
Araújo, PR-BA
I - Contra a “Fora, Rede Globo, mentirosa, que fica difamando
2
mídia pessoas.” – Cabo Daciolo, PTdoB-RJ
J - Sem “Sr. Presidente, meu voto é ‘não’.” Antonio Brito,
15
justificativa PSD-BA.
“...pela valorização do trabalho, da produção (B2), da
K - A favor da
2 pesquisa, tecnologia e inovação (K1), eu voto ‘sim’.”
ciência
Alceu Moreira, PMDB-RS
Total 2.249

Convertendo-se os valores em percentuais, observa-se que, de maneira geral,


como mostra a figura 1, as menções a estados, municípios e seus símbolos são aquelas
que mais têm força, representando 22,63% das referências feitas pelos deputados,
seguido dos valores conservadores, com 19,39%, e dos aspectos legais, com 17,16%. Os
aspectos políticos tiveram 12,54% de representatividade, seguidos dos aspectos
pessoais, com 10,27%. A seguir, observam-se os aspectos sociais, com 5,65%, e as
citações contra políticos e partidos, com 4,80%. Por fim, com menor relevância, estão
os votos sem justificativa, com 0,67%, e os votos contra a mídia e a favor da ciência,
ambos com 0,09%.
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Percentual de ocorrência das categorias nos


I - Contra a mídia
votos dos deputados J - Sem justificativa
0,67%
0,09%
K - A favor da ciência
H - Contra políticos e 0,09%
partidos A - Aspectos legais
4,80% 17,16%
G -Aspectos pessoais
10,27% B - Aspectos sociais
F- 5,65%
Regionalis C - Aspectos políticos
mo 12,54%
22,63%
E - Valores
conservadores
19,39% D - Aspectos
econômicos
6,71%

Figura 1 - Percentual de ocorrência das categorias nos votos dos deputados

Considerando-se os aspectos legais, como mostra a figura 2, pode-se observar


que foram feitas mais referências ao tema legalidade, que inclui o respeito à
Constituição Federal de 1988, os direitos dos cidadãos e os resultados legítimos das
eleições presidenciais, com 28,50%. Em seguida, aparecem referências contra a
corrupção, contra crimes supostamente cometidos, políticos ladrões etc., com 27,20%,
enquanto os protestos contra a chamada tentativa de golpe contra o governo de Dilma
Rousseff tiveram 22,02% das referências à categoria, e menções à alegada inocência e
honestidade da presidente, contaram com 9,84%. Com menor relevância percentual
aparecem referências à Justiça, incluindo o juiz Sérgio Moro, a operação Lava-Jato e a
chamada “República de Curitiba”, com 6,22%; a favor de liberdade para o povo, com
4,15%, e citações contra a ditadura militar instaurada em 1964, com 2,07%.
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A7 - Contra a
Categoria A - Aspectos legais ditadura militar de
1964
A6 - Liberdade 2,07%
4,15%

A1 -
A5 - Contra a
Contra corrupção
golpe 27,20%
22,02%

A4 - Justiça A2 - Inocência /
6,22% Honestidade
A3 - Legalidade
28,50% 9,84%

Figura 2 – Categoria A – Aspectos legais

Já as referências aos aspectos sociais, conforme a figura 3, estão divididas


majoritariamente entre a preocupação com os trabalhadores, com a geração de emprego
e o número de desempregados, com 45,67%, e também a preocupação com minorias e
populações vulneráveis, com indígenas, quilombolas, mulheres, negros e gays, entre
outros com 35,43%. Em seguida, apresentam-se as referências à igualdade social,
incluindo desigualdade, conflitos entre ricos e pobres, em defesa da reforma agrária e
reforma urbana, com 14,17%; a manutenção de programas do governo – Bolsa Família,
Minha Casa Minha Vida etc. –, com 3,94%, e falas contra o alegado assistencialismo do
governo, com 0,79%.

Categoria B - Aspectos sociais


B5 - Contra
B4 - Igualdade assistencialismo
social 0,79%
14,17%
B3 - Programas do
B1 -
governo
Minorias
3,94%
35,43%

B2 - Trabalhadores
45,67%

Figura 3 – Categoria B – Aspectos sociais


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A categoria “C – Aspectos políticos”, demonstrada pela figura 4, contém mais


referências à democracia e às instâncias democráticas, com 36,52%, ao voto dos
deputados em nome ou a pedido de seus eleitores, com 22,34%, ao voto em nome de
personalidades mortas, com 12,41%, e por determinação partidária, no caso de partidos
que fecharam questão em relação ao voto na sessão, com 10,99%. Homenagens a
partidos políticos representaram 8,16% das referências à categoria, e o desejo pela
realização de novas eleições foi expresso por 4,96% das menções. Em seguida, com
menor representatividade percentual, estão referências a tendências, formas de governar
e posições políticas, como direita, esquerda e populismo, com 3,19%, e menções a
pautas políticas específicas e citações favoráveis ao golpe militar de 1964, com 0,71%
cada.
C8 -
Novas Categoria C - Aspectos políticos C9 - A favor do
golpe militar de
eleições
1964
4,96%
0,71%
C7 - Pautas
políticas
específicas C1 -
0,71% Eleitores
22,34%
C6 -
Democracia
C2 - Determinação
36,52%
partidária
10,99%

C3 - Tendência
C5 - Em nome de 3,19%
personalidades C4 - Partidos
mortas políticos
12,41% 8,16%
Figura 4 – Categoria C – Aspectos políticos

As referências aos aspectos econômicos, observados na figura 5, revelam maior


preocupação com um futuro melhor para o Brasil, com 64,24%, e com o
desenvolvimento econômico, com 21,19%. Em seguida, revela-se a preocupação dos
deputados com a agricultura e os agricultores, 8,61%. Com menor percentual de
referências estão a agropecuária, com 3,31%, e a indústria e o petróleo, incluindo
menções à exploração da camada pré-sal, com 1,32% cada.
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D5 - Agropecuária Categoria D - Aspectos econômicos


3,31% D6 - Petróleo
1,32% D1 -
D4 - Agricultura Desenvolvimento
8,61% 21,19%

D3 - Indústria
1,32%

D2 - Futuro melhor
64,24%

Figura 5 – Categoria D – Aspectos econômicos

Menções a valores conservadores são majoritariamente ligadas a noções de


país, pátria, nação e aos símbolos nacionais, como bandeira e trechos do Hino Nacional,
totalizando 38,99%, seguidas de referências ao povo brasileiro e variações, com
29,13%, como demonstra a figura 6. Em terceiro lugar na categoria observam-se
citações de trechos da Bíblia, de Deus, de santos e de diversas religiões, com 16,51%. A
família, incluindo crianças e jovens, representam 12,16%, enquanto a decência tem
2,25% do total. Já menções preconceituosas explícitas foram 0,69% da categoria.

Categoria E - Valores conservadores


E5 - Decência E6 - Preconceito
2,52% 0,69%

E4 - Povo
brasileiro E1 - Pátria
29,13% 38,99%

E3 - Deus
16,51%

E2 - Família
12,16%
Figura 6 – Categoria E – Valores conservadores
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O regionalismo, categoria mais mencionada entre as 11, teve 69,35% das


referências dedicadas às regiões do Brasil e aos Estados brasileiros, bem como às suas
populações, enquanto as cidades de origem ou residência dos candidatos tiveram
30,65% das menções, conforme registra a figura 7.

Categoria F - Regionalismo

F2 - Cidade
30,65%
F1 -
Região
e Estado
69,35%

Figura 7 – Categoria F – Regionalismo

Entre os aspectos pessoais, como indica a figura 8, as referências a familiares e


amigos são maioria, com 64,94%. Valores pessoais como consciência, ética,
responsabilidade, dignidade e sabedoria são 19,48%, enquanto as menções a grupos
profissionais representados pelos deputados são 10,39%. Referências a aspirações da
vida como sonhos como paz, harmonia e sonhos totalizam 3,03%, ao passo homenagens
a grupos sociais a que pertencem são 2,16%.
G5 -
Vida Categoria G - Aspectos pessoais
3,03%
G4 - Valores
19,48%

G3 - Grupo social
2,16% G1 -
G2 - Profissão Familiares
10,39% 64,94%

Figura 8 – Categoria G – Aspectos pessoais


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Eduardo cunha foi o político com maior rejeição expressa pelos deputados,
com 41,67% das referências à categoria “H – Contra políticos e partidos”, seguido por
Michel Temer, com 20,37%. A presidente Dilma Rousseff aparece em terceiro lugar nas
menções negativas a políticos, com 17,59%, seguida pelo ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, com 5,56%. Menções contra o Partido dos Trabalhadores (PT) aparecem
em quinto lugar, com 11,11%, seguidas de referências negativas a Aécio Neves
(1,85%), o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (0,93%), e ao
governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (0,93%), como indica a
figura 9.

Categoria H - Contra políticos e partidos


H7 - Contra Pezão H8 - Contra
0,93% Dornelles
H6 - Contra PT 0,93%
H5 - Contra 11,11%
Aécio Neves
1,85% H1 - Contra
Dilma
H4 - Contra Lula
17,59%
5,56%

H3 - Contra
Temer
20,37% H2 - Contra
Cunha
41,67%

Figura 9 – Categoria H – Contra políticos e partidos

Já nos protestos contra a mídia, os deputados mencionaram em igual número o


jornal Folha de S.Paulo e a TV Globo, como mostra a Figura 10. Sobre os votos sem
justificativa por parte dos deputados, 60% foram a favor do impeachment e 40% contra,
conforme a figura 11. Por fim, em relação às menções a favor da ciência e tecnologia,
inovação e pesquisa, todas foram positivas, como mostra a figura 12.
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Categoria I - Contra a mídia

I2 - Contra Folha
I1 - Contra Globo
de S.Paulo
50,00%
50,00%

Figura 10 – Categoria I – Contra a mídia

Categoria J - Sem justificativa

J1 - Contra
impeachment
40,00%
J2 - A favor do
impeachment
60,00%

Figura 11 – Categoria J – Sem justificativa

Categoria K - A favor da ciência


K 1 - Pesquisa,
C&T, inovação

100%

Figura 12 – Categoria K – A favor da ciência

Considerações finais
A forte prevalência das referências às cidades, aos estados e às regiões de
proveniência da base eleitoral dos deputados votantes, que mandam abraços e
lembranças aos seus conterrâneos ou às terras que os adotaram politicamente, bem
como a presença marcante dos valores conservadores, entre eles a pátria, a família, a
decência e sobretudo à pretensa vontade de Deus e em homenagem aos mais diversos
grupos religiosos e igrejas, remete ao estilo coronelista tradicional de gestão da política
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brasileira. Isso pode mostrar que a nossa jovem democracia ainda está demasiadamente
vinculada aos seus vícios mais que aos valores democráticos que almeja.
Os aspectos legais, que deveriam reger a fala dos deputados em se tratando de
admissibilidade do processo de impeachment aparecem em terceiro lugar, seguidos
pelos aspectos políticos, com motivos como a determinação do partido por uma posição
ou em respeito aos eleitores de modo geral, que repete o traço coronelista, também
presente nos aspectos pessoais, com representatividade significativa, em que os
deputados se empenham a dar nome aos mais diversos parentes e amigos a quem
dedicam seus votos.
Já os aspectos econômicos e sociais, que poderiam ter mais relevância em se
tratando da avaliação pública que fizeram os deputados sobre o governo de Dilma
Rousseff na oportunidade, tiveram menor relevância percentual que as demais
categorias citadas.
Sobretudo, não se pode furtar a ressaltar a pequena, mas preocupante presença
de menções favoráveis à ditadura militar implantada em 1964 no Brasil e uma chocante
e lamentável homenagem ao torturador da presidente da república quando de sua
detenção no período.
Esse artigo analisou os discursos da sessão de votação pela admissibilidade do
impeachment realizada na Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016, e esta foi
seguida da votação no Senado Federal, oferecendo mais material para diversas análises
que enriqueçam a pesquisa científica no campo da comunicação política no Brasil.

Referências

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Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. São
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BRANDÃO, Elizabeth, Conceito de comunicação pública. In DUARTE, Jorge (org.).


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Vespertina, da 2ª Sessão Legislativa Ordinária, da 55ª Legislatura, em 17 de abril de 2016.
Disponível em:
<http://www.camara.leg.br/internet/plenario/notas/extraord/2016/4/EV1704161400.pdf> Acesso
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LIMA, Venício. Comunicação e política. In DUARTE, Jorge (org.). Comunicação pública:


Estado, governo, mercado, sociedade e interesse público, São Paulo: Atlas, 2009, p. 84-94.

MAAR, Wolfgang Leo. O que é Política? 20a ed. Brasiliense: São Paulo, 2006.

MATOS, Heloiza. A comunicação pública na perspectiva da teoria do reconhecimento. In:


KUNSCH, Margarida (org.). Comunicação pública, sociedade e cidadania. São Caetano do
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WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Tradução Leonidas Hegenberg e


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