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Organizadores

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fernando Ferrari Putti
Allan Leon Casemiro da Silva
Luís Roberto Almeida Gabriel Filho

TECNOLOGIAS EM
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

1ª Edição

TUPÃ/SP
ANAP
2017
D541e Tecnologias em agricultura sustentável / Fernando
Ferrari Putti, Alla Leon Casemiro da Silva, Luís Roberto Almeida
Gabriel Filho. 1ª ed. – Tupã: ANAP, 2017.

390 p; il. Color. 21,0 cm

ISBN 978-85-68242-54-4
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

1. Agricultura 2. Tecnologia 3. Sustentabilidade

CDD: 630.7
CDU: 631.5
TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
EDITORA

ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista


Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos
Fundada em 14 de setembro de 2003
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã,
Estado de São Paulo. CEP 17.605-31

Contato: (14) 3441-4945


www.editoraanap.org.br
www.amigosdanatureza.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
ORGANIZADORES

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fernando Ferrari Putti
Possui graduação em Administração (2012), pela Faculdade de Ciências e
Engenharia – UNESP Tupã, Mestrado em Agronomia (Irrigação e Drenagem) (2014) e
Doutorado (2015) pela Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP Botucatu.

Atualmente é Professor Assistente Doutor da Faculdade de Ciências e


Engenharia – UNESP Tupã no Departamento de Engenharia de Biossistemas. Docente
permanente do Programa de Pós Graduação (Mestrado) em Sistemas de Produção
na Agropecuária e docente permanente do Programa de Pós Graduação (Doutorado)
em Agricultura Sustentável.

Allan Leon Casemiro da Silva


Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Alta Paulista
(2006) e em Administração pela Faculdade de Ciências e Engenharia – UNESP Tupã
(2014). Especialista em Gestão do Agronegócio e Mestrando em Agronegócio e
Desenvolvimento pela Faculdade de Ciências e Engenharia – UNESP Tupã.

Atualmente é professor da Faculdade de Direito da Alta Paulista –


FADAP/FAP.

Luís Roberto Almeida Gabriel Filho


Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela FCT/UNESP (2000),
mestrado em Matemática pelo ICMC/USP (2004), doutorado (2007) e pós-doutorado
(2011) em Agronomia/Energia na Agricultura pela FCA/UNESP, e Livre-Docência em
Matemática Aplicada e Computacional pela Faculdade de Ciências e Engenharia –
UNESP Tupã (2015).

Atualmente é Professor Adjunto Faculdade de Ciências e Engenharia – UNESP


Tupã e docente permanente dos Programas de Pós-Graduação em Agronegócio e
Desenvolvimento da FCE/UNESP/Tupã e Agronomia/Irrigação e Drenagem da
FCA/UNESP/Botucatu.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CONSELHO EDITORIAL INTERDISCIPLINAR

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE
Profª Drª Angélica Góis Morales – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Antônio Cezar Leal – FCT/UNESP – Campus de Presidente
Prudente
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM
Prof. Dr. Antonio Fluminhan Jr. – UNOESTE
Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto – UFMS
Prof. Dr. Daniel Dantas Moreira Gomes – UPE – Campus de
Garanhuns
Profª Drª Daniela de Souza Onça – UDESC
Prof. Dr. Edson Luís Piroli – UNESP – Campus de Ourinhos
Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto – UEFS
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCAR
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UFMS
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia– FCT/UNESP –
Campus de Presidente Prudente
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA / CEST
Prof. Dr. Joao Osvaldo Rodrigues Nunes– FCT/UNESP – Campus de
Presidente Prudente
Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn – Universidade de San Juan –
Argentina
Prof. Dr. José Carlos Ugeda Júnior – UFMS
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana –
Cuba
Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP – Campus de
Presidente Prudente
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Jureth Couto Lemos – UFU
Profª Drª Kênia Rezende – UFU
Prof. Dr. Luciano da Fonseca Lins – UPE – Campus de Garanhuns
Profª Drª Maira Celeiro Caple – Universidade de Havana – Cuba
Profª Drª Marcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Prof. Dr. Marcos Reigota – Universidade de Sorocaba
Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador – UPE – Campus de
Garanhuns
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG


Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP – Campus de Presidente
Prudente
Prof. Dr. Pedro Fernando Cataneo – UNESP – Campus de Tupã
Prof. Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira – UTFPR
Profª Drª Regina Célia de Castro Pereira – UEMA
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo – FCT/UNESP – Campus de
Presidente Prudente
Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício – USP
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
Profª Drª Roberta Medeiros de Souza – UFRPE – Campus Garanhuns
Prof. Dr. Roberto Rodrigues de Souza – UFS
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – Unifal
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araújo – UFMA
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira – UNOESTE
Profª Drª Simone Valaski – Universidade Federal do Paraná
Profª Drª Silvia Cantoia – UFMT – Campus Cuiabá
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro – UFPR
PREFÁCIO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O Brasil com sua grande extensão territorial concentra a maior
diversidade dos recursos naturais disponíveis no mundo. A pressão
mundial pelo uso desses recursos cresce ano a ano e este é um
grande desafio que se apresenta ao setor do agronegócio brasileiro.

O desenvolvimento de tecnologias é essencial para a resposta


positiva a esse desafio. Elas podem ajudar na forma mais eficiente do
uso dos recursos naturais e também mitigar os impactos ambientais
das atividades agrícolas.

O que se propõe nesta obra é justamente apresentar as


pesquisas e soluções atualmente utilizadas e propostas pelos
autores. As vertentes abordadas são: Solo, Água, Planta, Tecnologia e
Sustentabilidade. Esse conjunto de vertentes representam uma parte
do agronegócio, mas não a sua totalidade, que é muito ampla.

Dentro de cada uma dessas vertentes, são desenvolvidos


capítulos, onde em cada um deles, um conjunto de pesquisadores
detalha e expõe estado da arte das atividades que se propõe
desenvolver.

O agronegócio brasileiro representa hoje cerca de 23 % do


total do Produto Interno Bruto Brasileiro – PIB. Mesmo em um
momento de retração do país, o PIB do agronegócio vem
aumentando sua participação ao longo dos anos na economia
brasileira.

O leitor desta obra observará a interdisciplinaridade dos


assuntos e poderá obter, de forma rápida e objetiva, conhecimentos
sobre os temas expostos. Os pesquisadores igualmente terão
oportunidade de utilizar um material de qualidade, que poderá
auxiliar em suas atividades.

Professor Doutor Fernando de Lima Caneppele


Professor da Universidade de São Paulo
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
APRESENTAÇÃO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A Tecnologia e a sustentabilidade na agricultura são temas de
relevância atual, visam práticas para o aumento de produção de
alimentos com ênfase na sustentabilidade de recursos naturais.
O livro “TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA” é
composto por 16 capítulos divididos em cinco seções que compõe a o
cerne do tema, elaborados por pós-graduandos e docentes de
renomadas instituições de ensino e pesquisa do país, discute sobre
Solos, Água, Plantas, Tecnologia e Sustentabilidade.
A primeira seção da obra é denominada de Seção Solos,
contém três capítulos. O primeiro, intitulado “QUALIDADE FÍSICA DE
SOLO DEGRADADO EM RECUPERAÇÃO” os autores Carolina dos
Santos Batista Bonini, Alfredo Bonini Neto, Marlene Cristina Alves,
Gisele Herbst Vazquez e Nídia Raquel Costa, relatam processos de
recuperação de áreas degradadas e também as propriedades físicas
do solo como indicadoras da qualidade do solo e comportamento
destas.
A ferramenta matemática de Rede Neural Artificial (RNA)
utilizada como forma de estimar classificação do solo é discutida no
segundo capítulo desta seção intitulado “USO DE REDES NEURAIS NO
MONITORAMENTO DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS” cujo
os autores são Alfredo Bonini Neto, Carolina dos Santos Batista
Bonini, Luiz Fernando Sommaggio Coletta, Nídia Raquel Costa e
André Rodrigues dos Reis. Neste, foi utilizado os atributos químicos e
físicos para classificação do solo Latossolos.
No terceiro capítulo, a discussão é em torno de atividades
agropecuárias no Brasil desde a década de 80, o título dado ao
mesmo é “INTEGRAÇÃO DA LAVOURA E PECUÁRIA COMO
ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL” os autores Marcelo
George Mungai Chacur, Camila Dutra de Souza, Luís Roberto Almeida
Gabriel Filho, Camila Pires Cremasco Gabriel, Gustavo Souza
Rodrigues e Fernando Ferrari Putti que apresentam também o
sistema de ILP seus benefícios, finalizando a primeira seção deste
livro.
A Seção Água, segunda do livro, é dividida em quatro capítulos,
sendo o primeiro desta, capítulo intitulado “MANEJO SUSTENTÁVEL
DE RECURSOS HÍDRICOS” os autores Raimundo Nonato Farias
Monteiro, Fernando Ferrari Putti, Ana Paula Russo Schimidt Jefery,
Josué Ferreira Silva Junior e Ilca Puertas de Freitas e Silva,
apresentam que as tecnologias empregadas e difundidas no manejo
da irrigação para otimização dos sistemas de irrigação.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

No capítulo “QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO:


ALTERNATIVAS PARA O USO DE ÁGUAS SALOBRAS NO SEMIÁRIDO
NORDESTINO” o autor Alexsandro Oliveira da Silva apresenta a
viabilidade do tema e aborda sobre a utilização de águas salobras na
agricultura irrigada onde há escassez de recursos hídricos.
Já o capítulo terceiro desta seção, aponta sobre uma técnica de
produção de alimento onde as condições do solo não são propícias e
utiliza-se o mínimo de água, o tema recebeu o título “AQUAPONIA:
SISTEMA DE INOVAÇÃO NO CULTIVO INTERMITENTE DE PLANTAS E
PEIXES” os autores Ariane Flávia do Nascimento, Eloiza de Souza e
Silva Ribeiro, Laura Helena Orfão, José Salles Alvim Júnior e Amanda
Maria Nascimento mostram as vantagens e desvantagens da
Aquaponia.
Encerrando esta seção, o último capítulo, denominado
“APROVEITAMENTO DE ÁGUAS DE QUALIDADE INFERIOR NA
AGRICULTURA” os autores Ana Carolina Barbosa Kummer, Julio
Thoaldo Romeiro Cacea Furlan Maggi e André Luiz Justi destacam
sobre o reúso de efluentes tratados trazendo informações sobre o
uso de diferentes águas e suas implicações nos sistemas agrícolas.
A seção PLANTAS é a terceira da obra, o primeiro capítulo
desta, é o 8º capítulo do livro e trata de reduções na produtividade
causados pela presença de plantas daninhas, intitulado “MANEJO DE
PLANTAS DANINHAS” os autores Ilca Puertas de Freitas e Silva, Josué
Ferreira Silva Junior, Leandro Tropaldi, Ivana Paula Ferraz Santos de
Brito e Bruna Barboza Marchesi.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Os autores do 9º capítulo, denominado “QUIMIGAÇÃO”, Raúl
Andres Martinez Uribe, Fabrício César Lobato de Almeida, Gustavo
Henrique Gravatim Costa, Francisco Carlos Baggio Filho, Dimas de
Abreu Luz faz apontamentos sobre a técnica, sistemas de injeção de
produtos fitossanitários na irrigação e custos operacionais.
Uma discussão sobre a diversidade de microrganismos para
crescimento vegetal é realizada no capítulo “BACTÉRIAS
DIAZOTRÓFICAS E SEU POTENCIAL EM PROMOVER O CRESCIMENTO
VEGETAL”, último da seção de PLANTAS, os autores Ligiane Aparecida
Florentino, Adauton Vilela de Rezende, Adriano Bortolloti da Silva e
Márcio de Souza Dias mostram seus benefícios para planta.
A Seção TECNOLOGIA é composta pelos capítulos 11, 12 e 13
que abordam temas como uso de Drones na agricultura, classificação
de imagens e geotecnologias.
No 11º capítulo, “POSSIBILIDADES E MÉTODOS DE UTILIZAÇÃO
NO USO DE DRONES/VANTS NA AGRICULTURA” os autores Bruno
Timóteo Rodrigues, Mikael Timóteo Rodrigues, Sérgio Campos
Marcelo Campos e Miriam Büchler Tarumoto, afirmam que os
Drones/VANTs são mais uma ferramenta que proporcionam a
identificação dos problemas no campo auxiliando dados confiáveis
para tomadas de decisão na agricultura.
Ainda nesta linha, outra tecnologia é apresentada no 12º
capítulo, “METODOLOGIA DE CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM
IMAGENS DE SATÉLITE PARA ANÁLISE DE ALVOS AGRÍCOLAS” onde os
autores Mikael Timóteo Rodrigues, Bruno Timóteo Rodrigues, Sérgio
Campos, Lincoln Gehring Cardoso e Marcelo Campos apresentam
método de classificação de imagem de satélite.
A seção encerra o tema tecnologia com o ponto,
“ESPACIALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS PARA
CARACTERIZAÇÃO AGRÍCOLA UTILIZANDO AS GEOTECNOLOGIAS”
cujo os autores são Gustavo Souza Rodrigues, Luís Roberto Almeida
Gabriel Filho, Camila Pires Cremasco Gabriel, Marcelo George Mungai
Chacur, Camila Dutra de Souza e Fernando Ferrari Putti, que
evidenciam a importância das ferramentas geotecnológicas para
monitoração de mudanças que ocorrem na natureza para obtenção
valiosa do meio ambiente.
Na quinta e última Seção “SUSTENTABILIDADE”, composta esta
por três capítulos, é apresentada a discussão sobre o efeito estufa na
agricultura no capítulo “INVENTÁRIO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

AGRICULTURA“, onde os autores Geraldo Gomes de Oliveira Júnior


Adriano Bortolotti da Silva, Ligiane Aparecida Florentino, José Ricardo
Mantovani, Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido mostram que a
evolução da agricultura com otimização de processos também
contribuem para a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e fazem
um estudo de caso sobre o inventário de gases de efeito estufa.
A “SUSTENTABILIDADE NO CONTROLE DE FITONEMATOIDES”
intitula o 15º capítulo, os autores Eduardo José de Almeida e Pedro
Luiz Martins Soares dividiram o capítulo em tópicos como o
nematoide, manejo sustentável de nematoides, controle cultura,
controle biológico; mostrando que o manejo de fitonematoides é
possível, a tomada decisão se houver análise nematológica feita em
um laboratório.
E por fim o último capítulo da obra, capítulo 16, encerra a
quinta seção discutindo metodologias de pegada ecológica,
denominado “SUSTENTABILIDADE NA AQUICULTURA” os autores
Laura Helena Orfão, Ariane Flávia do Nascimento e Jaqueline dos
Santos Ronei Aparecido Barbosa efetuam uma avaliação de ciclo de
vida e sustentabilidade na aquicultura e apresentam diversos
impactos que são gerados nos sistemas.
Espera-se que o conteúdo apresentado nas cinco seções deste
livro sobre TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA possam
ser utilizados em pesquisas, aprimoramento e inovação na linha das
tecnologias e sustentabilidade para agricultura gerando resultados
que possam contribuir com o bem estar dos seres vivos e otimização
de processos.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
SUMÁRIO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


PREFÁCIO 9

APRESENTAÇÃO 11

SEÇÃO 01 - SOLOS 23

1º CAPÍTULO

QUALIDADE FÍSICA DE SOLO DEGRADADO EM 25


RECUPERAÇÃO

Carolina dos Santos Batista Bonini


Alfredo Bonini Neto
Marlene Cristina Alves
Gisele Herbst Vazquez
Nídia Raquel Costa

2º CAPÍTULO

USO DE REDES NEURAIS NO MONITORAMENTO DA 47


RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Alfredo Bonini Neto


Carolina dos Santos Batista Bonini
Luiz Fernando Sommaggio Coletta
Nídia Raquel Costa
André Rodrigues dos Reis
3º CAPÍTULO

INTEGRAÇÃO DA LAVOURA E PECUÁRIA COMO 67


ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Marcelo George Mungai Chacur


Camila Dutra de Souza
Luís Roberto Almeida Gabriel Filho
Camila Pires Cremasco Gabriel
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Gustavo Souza Rodrigues


Fernando Ferrari Putti

SEÇÃO 02 - ÁGUA 89

4º CAPÍTULO

MANEJO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS HÍDRICOS 91

Raimundo Nonato Farias Monteiro


Fernando Ferrari Putti
Ana Paula Russo Schimidt Jefery
Josué Ferreira Silva Junior
Ilca Puertas de Freitas e Silva

5º CAPÍTULO

QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO: ALTERNATIVAS 105


PARA O USO DE ÁGUAS SALOBRAS NO SEMIÁRIDO
NORDESTINO

Alexsandro Oliveira da Silva


6º CAPÍTULO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


AQUAPONIA: SISTEMA DE INOVAÇÃO NO CULTIVO 121
INTERMITENTE DE PLANTAS E PEIXES

Ariane Flávia do Nascimento


Eloiza de Souza e Silva Ribeiro
Laura Helena Orfão
José Salles Alvim Júnior
Amanda Maria Nascimento

7º CAPÍTULO

APROVEITAMENTO DE ÁGUAS DE QUALIDADE INFERIOR 151


NA AGRICULTURA

Ana Carolina Barbosa Kummer


Julio Thoaldo Romeiro
Cacea Furlan Maggi
André Luiz Justi

SEÇÃO 03 - PLANTAS 183

8º CAPÍTULO

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 185

Ilca Puertas de Freitas e Silva


Josué Ferreira Silva Junior
Leandro Tropaldi
Ivana Paula Ferraz Santos de Brito
Bruna Barboza Marchesi
9º CAPÍTULO

QUIMIGAÇÃO 213

Raúl Andres Martinez Uribe


Fabrício César Lobato de Almeida
Gustavo Henrique Gravatim Costa
Francisco Carlos Baggio Filho
Dimas de Abreu Luz
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

10º CAPÍTULO

BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS E SEU POTENCIAL EM 227


PROMOVER O CRESCIMENTO VEGETAL

Ligiane Aparecida Florentino


Adauton Vilela de Rezende
Adriano Bortolloti da Silva
Márcio de Souza Dias

SEÇÃO 04 - TECNOLOGIA 247

11º CAPÍTULO

POSSIBILIDADES E MÉTODOS DE UTILIZAÇÃO NO USO DE 249


DRONES/VANTS NA AGRICULTURA

Bruno Timóteo Rodrigues


Mikael Timóteo Rodrigues
Sérgio Campos
Marcelo Campos
Miriam Büchler Tarumoto
12º CAPÍTULO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


METODOLOGIA DE CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM 271
IMAGENS DE SATÉLITE PARA ANÁLISE DE ALVOS
AGRÍCOLAS

Mikael Timóteo Rodrigues


Bruno Timóteo Rodrigues
Sérgio Campos
Lincoln Gehring Cardoso
Marcelo Campos

13º CAPÍTULO

ESPACIALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS PARA 295


CARACTERIZAÇÃO AGRÍCOLA UTILIZANDO AS
GEOTECNOLOGIAS

Gustavo Souza Rodrigues


Luís Roberto Almeida Gabriel Filho
Camila Pires Cremasco Gabriel
Marcelo George Mungai Chacur
Camila Dutra de Souza
Fernando Ferrari Putti
SEÇÃO 05 - SUSTENTABILIDADE 323

14º CAPÍTULO

INVENTÁRIO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA 325


AGRICULTURA

Geraldo Gomes de Oliveira Júnior


Adriano Bortolotti da Silva
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Ligiane Aparecida Florentino


José Ricardo Mantovani
Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido

15º CAPÍTULO

SUSTENTABILIDADE NO CONTROLE DE FITONEMATOIDES 345

Eduardo José de Almeida


Pedro Luiz Martins Soares

16º CAPÍTULO

SUSTENTABILIDADE NA AQUICULTURA 373

Laura Helena Orfão


Ariane Flávia do Nascimento
Jaqueline dos Santos
Ronei Aparecido Barbosa
TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
SEÇÃO 01 - SOLOS

QUALIDADE FÍSICA DE SOLO DEGRADADO EM


RECUPERAÇÃO

USO DE REDES NEURAIS NO MONITORAMENTO DA


RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

INTEGRAÇÃO DA LAVOURA E PECUÁRIA COMO


ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 1

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


QUALIDADE FÍSICA DO SOLO DEGRADADO EM
RECUPERAÇÃO

1
Carolina dos Santos Batista Bonini
2
Alfredo Bonini Neto
3
Marlene Cristina Alves
4
Gisele Herbst Vazquez
5
Nídia Raquel Costa

1
Profº Dr. da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas - FCAT - UNESP – Campus de
Dracena – Docente do curso de Engenharia Agronômica – email: carolbonini@dracena.unesp.br
2
Profº Dr.da Faculdade de Ciências e Engenharia - FCE - UNESP – Campus de Tupã – Docente do
curso de Engenharia de Biossistemas –bonini@tupa.unesp.br
3
Profº Dr. da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEIS – UNESP – Campus de Ilha Solteira
– Docente do curso de Agronomia - E-mail: mcalves@agr.feis.unesp.br
4
Profº Dr. da Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO – Campus de Fernandopolis –
Docente do curso de pos-graduação em Ciencias Ambientais. E-mail: gisele-agro@uol.com.br
5 Pós Doutorando da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas,

Departamento de produção e melhoramento vegetal, Botucatu, São Paulo. email:


nidiarcosta@gmail.com
RESUMO

A utilização incorreta dos solos e grandes construções no meio rural vêm


causando alterações no mesmo, tornando-os menos produtivos,
aumentando assim as áreas degradadas. Técnicas que visam à restauração
ecológica de solos degradados têm sido investigadas e também as
diferentes formas de reverter esse quadro. As técnicas utilizadas na
recuperação têm como objetivo principal a recuperação do horizonte A,
para que a partir daí o condicionamento natural se restabeleça, sendo este
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

dependente da resiliência da área. Neste capítulo são apresentados os


processos de recuperação de áreas degradadas e também as propriedades
físicas do solo como indicadoras da qualidade do solo e comportamento de
cada uma delas.

1 INTRODUÇÃO

A utilização dos recursos naturais de forma inadequada geralmente


dá lugar a um novo sistema ecológico não sustentável. Com isso, solos
utilizados intensamente e de forma inadequada, são levados à degradação.
Técnicas que visam à recuperação de solos degradados têm sido
investigadas.

A partir da década de 60, com o crescimento populacional e a


demanda por maiores quantidades de energia, os governos passaram a
empreender esforços para suprirem suas necessidades. Desta forma,
diversas usinas hidrelétricas foram projetadas para este fim. No Estado de
São Paulo, foi construída a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, no Rio Paraná
(1967 a 1977), com geração de 3.240 Mega-watts. Tendo em vista não
existirem, na época, relatórios de impacto ambiental, a construção
transcorreu sem a adequada preocupação com o nível de degradação do
ambiente. Ainda que a hidroeletricidade, como alternativa para produção de
energia, possa ser considerada ambientalmente mais vantajosa em relação a
outras opções, por utilizar um recurso natural renovável e não-poluente, a
formação de reservatórios implica na ocorrência de diversos impactos ao
ambiente (CESP, 1998).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


No entorno da obra da Usina Hidrelétrica devido a retirada de
camadas de solo para a construção da parede da barragem, tem-se as áreas
de empréstimo, que se constituem em um ecossistema degradado, pois
tiveram eliminado, juntamente com a vegetação, os seus meios de
regeneração bióticos como o banco de sementes e de plântulas. Apresenta,
portanto, baixa resiliência, isto é, seu retorno ao estado anterior pode não
ocorrer ou ser extremamente lento.

Pesquisas realizadas por Bonini et al. (2015), Rosa et al. (2014), Bonini
e Alves (2012), Bonini e Alves (2011), Alves e Souza (2008), Colodro et al.,
(2010), Campos e Alves (2006) e, Campos e Alves (2008) e Kitamura et al.,
(2008) foram desenvolvidas com o objetivo de gerar soluções para amenizar
o quadro exposto. Restaurar ecossistemas é a denominação que se tem
atribuído ao árduo desafio de, por meio de interferências planejadas,
reconstruírem a estrutura e criar condições para que se restabeleçam,
também, os processos ecológicos naturais de cada ecossistema.

Na recuperação de uma área degradada o grande desafio é o


estabelecimento do horizonte A, para que a partir daí o condicionamento
natural se restabeleça, podendo surgir outros horizontes (NOFFS, 2000).
Muitos indicadores têm sido utilizados para a avaliação e monitoramento de
ecossistemas naturais, e este é um assunto muito discutido, cujo objetivo é
eleger aqueles que sejam eficientes para avaliar o nível de degradação.

No processo de recuperação, a seleção de espécies, bem como a


determinação de requerimentos nutricionais, constitui passo importante
para se obter o sucesso esperado. A utilização de espécies de rápido
crescimento, como as leguminosas, que desenvolveram simbioses com
bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos, tem-se mostrado
bastante promissora (ALVES, 2001).
Várias técnicas têm sido utilizadas com o objetivo de recuperar solos
degradados, a maioria delas combina práticas mecânicas, que visam romper
camadas compactadas, com a adição de matéria orgânica.

2 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

No planejamento de recuperação de uma área degradada, o grande


desafio a ser alcançado é o estabelecimento de um horizonte A, para que a
partir daí, o processo seja catalisado pela biosfera, podendo surgir outros
horizontes, conforme o condicionamento natural. Deste modo, em trabalho
de recuperação, a primeira atividade compreende a identificação e
caracterização dos processos de degradação atuantes e a análise de suas
conseqüências ambientais. Para isto, é necessário o uso de indicadores que
traduzam quantitativa ou qualitativamente o grau da degradação existente
e, ainda, permitam estimar a dimensão dos esforços técnicos e econômicos
que deverão ser alocados na recuperação (BITAR, 1997).

No processo de recuperação, a seleção de espécies, bem como a


determinação de requerimentos nutricionais, constitui passos importantes
para se obter o sucesso esperado. A utilização de espécies de rápido
crescimento, como as leguminosas, que desenvolveram simbioses com
bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos, tem-se mostrado
bastante promissora (ALVES, 2001). Segundo Faria et al. (2000) espécies
leguminosas fixadoras de nitrogênio, associadas a fungos micorrízicos, são
reconhecidas na melhoria da fertilidade do solo. Polli et al. (1996) afirmam
que as propriedades físicas do solo potencialmente afetadas pela
incorporação de matéria orgânica promovida pela adubação verde são a
estabilidade dos agregados, densidade do solo, porosidade, capacidade de
retenção de água e taxa de infiltração de água.

Os adubos verdes são plantas leguminosas ou não cultivadas com o


intuito de serem incorporadas ao solo para melhorar a capacidade produtiva
deste (PEREIRA et al., 1990). O estabelecimento e o cultivo de plantas em
solos degradados requerem também a utilização de insumos químicos e
orgânicos (LEITE et al., 1994).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Roth et al. (1991), constataram que manejos que mantêm o solo
descoberto diminuem a estabilidade de agregados, causando selamento
superficial, reduzindo a infiltração de água e, conseqüentemente, induzindo
à enxurrada e à erosão. Por isso, a estabilidade de agregados tem sido usada
como indicador da qualidade física do solo, pois é sensível às alterações,
conforme o manejo adotado.

A adição de várias fontes de matéria orgânica tem sido utilizada com


o objetivo de melhorar as propriedades do solo. O fornecimento contínuo
de material orgânico pela serrapilheira e/ou por excreções radiculares, cujos
subprodutos são constituídos por moléculas orgânicas em diversas fases de
decomposição, atua como agente de formação e estabilização dos
agregados, proporcionando uma melhor estruturação do solo (CAMPOS et
al., 1995; CAMPOS e ALVES, 2008).

Os efeitos promovidos pela adubação verde nas propriedades


químicas do solo são bastante variáveis, dependendo da espécie utilizada,
do manejo dado à biomassa, da época de semeadura, do corte do adubo
verde, do tempo de permanência dos resíduos no solo, das condições locais
e das interações desses fatores (ALCÂNTARA et al., 2000). Avaretto et al.
(2000) mencionam que as culturas forrageiras, gramíneas e leguminosas, em
função de suas características, têm sido utilizadas em programas de
recuperação de áreas degradadas.

Na construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira – SP foram


geradas extensas áreas degradadas, ainda que a hidroeletricidade, como
alternativa tecnológica para produção de energia, possa ser considerada
ambientalmente mais vantajosa em relação a outras opções, por utilizar um
recurso natural renovável e não poluente, a formação de reservatórios
implica na ocorrência de diversos impactos ao ambiente, atingindo
elementos físicos, biológicos e sócio-econômicos (CESP, 1998).
As áreas de empréstimo constituem-se em um ecossistema
degradado, pois teve eliminado, juntamente com a vegetação, os seus
meios de regeneração bióticos como o banco de sementes, banco de
plântulas, chuvas de sementes e rebrota. Apresenta, portanto, baixa
resiliência, isto é, seu retorno ao estado anterior pode não ocorrer ou ser
extremamente lento. Para a recuperação é preciso selecionar e identificar
espécies aptas às novas condições edáficas e que de forma rápida acelere a
estruturação e formação dos horizontes mais superficiais do solo
(CARPANEZZI et al., 1994). A adaptação e desenvolvimento dessas espécies
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

dependerão das condições físicas, químicas, biológicas e hídricas do solo,


bem como das condições do microclima local.

Pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de gerar soluções


para amenizar o quadro exposto. Restaurar ecossistemas é a denominação
que se tem atribuído ao árduo desafio de, por meio de interferências
planejadas, reconstruírem a estrutura e criar condições para que se
restabeleçam, também, os processos ecológicos naturais de cada
ecossistema.

Portanto, a restauração de ecossistemas exige, a princípio, resgatar


as características originais do objeto em questão, assim, faz-se necessário
utilizar elementos e técnicas semelhantes aos que deram origem ao objeto a
ser restaurado, além de controlar os agentes que levam à descaracterização
ou degeneração do mesmo. Esse princípio pode ser obedecido por estudos
básicos, envolvendo inventários qualitativos e quantitativos de solo, planta e
atmosfera, bem como estudos sobre a estrutura das comunidades, que
podem ser realizados em áreas remanescentes próximas à área a ser
restaurada (DURIGAN, 1999).

A diversidade biológica, a intensidade e longevidade das


perturbações determinam a resiliência dos ecossistemas. A resiliência indica
a capacidade do ecossistema de se regenerar após alguma degradação
natural ou antrópica (ARONSON et al., 1993). Várias técnicas têm sido
utilizadas com o objetivo de recuperar solos degradados, a maioria delas
combina práticas mecânicas, que visam romper camadas compactadas, com
a adição de matéria orgânica. Várias fontes de matéria orgânica também
têm sido utilizadas.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Os conceitos ambientais atualmente discutidos baseiam-se nas
teorias do desenvolvimento sustentável, que consideram o aperfeiçoamento
das práticas e da melhoria do desempenho dos empreendimentos por meio
da efetividade e da garantia de atendimento às exigências ambientais, entre
as quais se inclui a recuperação de áreas degradadas (FORNASARI FILHO et
al., 1994).

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -


Tavares (2008) para qualquer grande obra de engenharia é necessária a
movimentação de solo para os trabalhos de terraplanagem e construção
civil, expondo camadas do mesmo que podem resultar em processos
erosivos superficiais ou laminares, em sulcos e até voçorocas. Esses
processos além de causarem o assoreamento das linhas de drenagem,
podem, no seu estágio mais avançado, colocar em risco edificações e vias de
acesso. Assim, muitas vezes a ocorrência de grandes áreas
impermeabilizadas e/ou a sistematização de terrenos associados à falta
e/ou deficiência de um sistema de drenagem das águas pluviais, podem
causar a desestabilização, queda de taludes e o aparecimento de processos
erosivos de grandes dimensões.

Com o crescimento populacional e a demanda por maiores


quantidades de energia, os governos passaram a empreender esforços para
suprirem suas necessidades. Desta forma, diversas usinas hidrelétricas
foram projetadas para este fim a partir da década de 60. No Estado de São
Paulo, foi construída a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, no Rio Paraná
(1967 a 1977), com geração de 3.240 Mega-watts. Tendo em vista não
existirem, na época, relatórios de impacto ambiental, a construção
transcorreu sem a adequada preocupação com o nível de degradação do
ambiente. Ainda que a hidroeletricidade, como alternativa tecnológica para
produção de energia, possa ser considerada ambientalmente mais vantajosa
em relação a outras opções, por utilizar um recurso natural renovável e não
poluente, a formação de reservatórios implica na ocorrência de diversos
impactos ao ambiente, atingindo elementos físicos, biológicos e sócio-
econômicos (CESP, 1998).

Como seqüelas da construção, diversas áreas, anexas ou não ao


corpo da obra, tendem a sofrer acentuada degradação, que se manifesta
sob a forma de ruptura do equilíbrio entre a litosfera (especialmente em sua
porção mais frágil, os solos), a hidrosfera e a biosfera (especialmente a
cobertura vegetal). Entre as áreas, onde esse processo é mais agravante,
encontram-se as áreas de empréstimo, as encostas instáveis e áreas
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

alagadiças, áreas inundadas, etc. (ALVES e SOUZA, 2008).

Esses locais, de onde são retirados materiais para complementar os


volumes de solos necessários à execução dos terraplenos e fundações,
entende-se por "áreas de empréstimo" (LOPES et al., 1994). As áreas de
empréstimo constituem-se em um ecossistema degradado, pois teve
eliminado, juntamente com a vegetação, os seus meios de regeneração
bióticos como o banco de sementes, banco de plântulas, chuvas de
sementes e rebrota. Apresenta, portanto, baixa resiliência, isto é, seu
retorno ao estado anterior pode não ocorrer ou ser extremamente lento.
Para a recuperação é preciso selecionar e identificar espécies aptas às novas
condições edáficas e que de forma rápida acelere a estruturação e formação
dos horizontes mais superficiais do solo (CARPANEZZI et al., 1994).

A definição de degradação do solo está associada à própria definição


de qualidade do solo, ou seja, à medida que as características determinantes
da qualidade de um solo são alteradas negativamente, estabelece-se um
processo de degradação (ALVES e SOUZA, 2008).

Mielniczuk (1999) menciona que vários conceitos de qualidade de


solo foram propostos, sendo o de Doran e Parkin (1994) o melhor deles,
definindo a qualidade do solo como sendo a sua capacidade em manter a
produtividade biológica, a qualidade ambiental e a vida vegetal e animal
saudável na face da terra.

Rodrigues et al. (2007) definem áreas degradadas, como


ecossistemas alterados, onde as perdas são as formas mais comuns de
perturbações e degradações ambientais. A retirada da cobertura vegetal,
dependendo da intensidade, pode ser considerada uma degradação ou uma

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


perturbação ambiental.

Reis e Kageyama (2003) complementam que a sucessão é um


processo complexo e concomitante, ou seja, com a mesma evoluem as
condições de solo, o microclima, a diversidade da flora, da fauna e dos
decompositores sendo esses fatores ressaltados por Alves (1992) que
afirma: para a manutenção e melhoria das condições físicas internas e
externas do solo, a adição e balanço da matéria orgânica são fundamentais,
pois esta manutenção e melhoria só poderão ser alcançadas e mantidas via
biológica, isto é, por meio de ação de raízes, da atividade macro e
microbiológica e da decomposição da matéria orgânica. Dentre os
monitoramentos necessários, as condições de solo e clima são
fundamentais, pois essas são as que fornecerão a sustentabilidade do
sistema. Estudos realizados indicam que a adequada cobertura do solo por
resíduos culturais pode prevenir sua erosão, manter o conteúdo de matéria
orgânica e permitir a sustentabilidade das culturas (ANDRADE JUNIOR,
2004).

Campos (2006) desenvolveu trabalho em área degradada, utilizando


o lodo de esgoto para a recuperação das propriedades físicas e químicas do
subsolo em estudo. A área estava sendo cultivada com eucalipto (Eucalyptus
citriodora (Hook)) e braquiária (Brachiaria decumbens Stapf.), na qual foi
constatado que o lodo de esgoto influenciou as propriedades físicas e
químicas do subsolo estudado e que o mesmo proporcionou maior
rendimento da massa verde e seca da braquiária e, além disso, promoveu
maior desenvolvimento das plantas de eucalipto.

Alves et al. (2007), estudando a recuperação de solo de área


remanescente de obra civil (usina hidrelétrica), concluíram que ocorrem
melhorias na qualidade do solo quando efetuado o seu preparo e a adição
de lodo de esgoto e adubos verdes. Kitamura et al. (2008) verificaram
recuperação de propriedades físicas do solo em área de estudo degradada
também por retirada de solo para construção de barragem, sendo que a
densidade do solo foi o melhor indicador físico das alterações do mesmo.

Portanto, a restauração de ecossistemas exige, a princípio, resgatar


as características originais do objeto em questão, assim, faz-se necessário
utilizar elementos e técnicas semelhantes aos que deram origem ao objeto a
ser restaurado, além de controlar os agentes que levam à descaracterização
ou degeneração do mesmo. Esse princípio pode ser obedecido por meio de
estudos básicos, envolvendo inventários qualitativos e quantitativos de solo,
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

planta e atmosfera, bem como estudos sobre a estrutura das comunidades,


que podem ser realizados em áreas remanescentes próximas (CESP, 1998).

3 PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO

A compactação é um dos problemas mais agravantes das áreas


degradadas, influenciando no crescimento das espécies vegetais e na
capacidade da fauna do solo sobreviver nestas áreas que se tornam
inabitáveis. Sendo assim, uma das primeiras medidas físicas a serem
aplicadas nestas áreas degradadas são relacionadas à diminuição da
densidade do solo, seja por meio de manejo com máquinas pesadas ou da
aplicação de matéria orgânica (KITAMURA, 2007).

O solo é constituído de fase sólida, líquida e gasosa. Um solo é


considerado ideal quando tem 50 % de fase sólida dividida em compostos
orgânicos (matéria orgânica) e inorgânicos (mineral) e 50 % de espaço
3 -3
poroso sendo 1/3 destes poros de macroporos, ou seja, 0,17 m m e 2/3 de
microporos (KIEHL, 1979). O balanço de macro e microporos indicam se o
solo está sendo manejado adequadamente.

Quando ocorre a degradação da estrutura do solo, há modificações


no arranjamento de suas partículas, provocando diminuição no tamanho
dos poros, especialmente daqueles de tamanho maior (macroporos), o que
leva à redução na área da seção transversal para o fluxo de água,
juntamente com percursos mais tortuosos para o movimento de fluido,
afetando com isso o processo de infiltração (SOUZA e ALVES, 2003).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Ingaramo (2003) diz ainda que a porosidade do solo poder ser
dividida em porosidade intra e inter-agregados, o primeiro equivale a
microporosidade que é o espaço entre as partículas primárias do solo e o
segundo o arranjo dos microagregados do solo que é influenciado pelo
manejo, pela atividade de micro, meso e macro organismos e pelo
crescimento das raízes.

Segundo Greenland (1981) a macroporosidade deve ter valor igual ou


3 -3
superior 0,10 m m e abaixo deste limite é considerado valor crítico e
prejudica o bom desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

A relação entre massa e volume do solo, ou seja, o volume ocupado


por poros e por partículas é denominado densidade do solo. Esta
propriedade física do solo varia de acordo com o arranjamento das
partículas (natureza, forma e dimensão). A densidade do solo é variável para
um mesmo tipo de solo dependendo da estruturação e se for manejado
incorretamente pode provocar a compactação, alterando a estruturação.

Teixeira et al. (1997) relataram que os efeitos das plantas podem


resultar em alterações nas características químicas e propriedades físico-
hídricas do solo. Como por exemplo, as alterações que algumas plantas
provocam na macroporosidade, devido aos canais abertos pelas raízes. O
volume e a distribuição do espaço poroso são muito importantes, visto que
são nesses espaços que se processam os principais fenômenos que regulam
o crescimento e a produção vegetal, tais como: reações químicas e
biológicas, difusão de gases e íons, movimento e retenção de água e
penetração de raízes.

Para reduzir o valor da densidade do solo recomenda-se a aplicação


de matéria orgânica nas suas diferentes formas de adubação verde, de
estercos animais, de composto preparado na fazenda, de tortas vegetais e
demais resíduos industriais como a vinhaça, o bagacinho, palha de arroz,
etc. (KIEHL, 1979).
Segundo Carvalho (1998) a função da matéria orgânica é melhorar as
propriedades físicas do solo com o aumento da porosidade (aeração) e da
retenção de água, por meio da formação de grânulos no solo, servir de fonte
de minerais para as plantas, pois a ela estão ligados o nitrogênio, o fósforo e
o enxofre e propiciar o desenvolvimento da comunidade microbiana do
solo, formada por bactérias, fungos, algas, vírus e protozoários que atuam
na sua decomposição.

Estudos realizados por Campos e Alves (2008) com o objetivo de


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

verificar a ação de lodo de esgoto na reestruturação de um solo, verificaram


seu efeito benéfico nas propriedades físicas (densidade do solo, porosidade
total e macroporosidade) e proporcionaram maior rendimento de massas
verde e seca da braquiária e promoveram maior crescimento das plantas de
eucalipto.

Boni et al. (1994) trabalharam em uma área de empréstimo com


cerca de 1,10 m de camada de solo retirada (Latossolo Roxo). A recuperação
foi realizada com o emprego de leguminosas (crotalária e guandu) e com
vegetação espontânea instalada (capim Napier). Após 5 anos (dois ciclos
consecutivos, seguidos de três de pousio), os autores verificaram que as
camadas compactadas tiveram redução de densidade do solo (1,25 para
-3
1,18, e 1,48 para 1,16 kg dm , respectivamente), elevação de porosidade
3 -3
(0,55 para 0,57, e 0,48 para 0,58 m m ) e aumento nos valores de diâmetro
médio ponderado. Essas alterações, segundo os autores, ocorreram em
decorrência dos efeitos das vegetações que se instalaram, implementando a
recuperação do solo degradado que hoje está incorporado às normais
atividades agrícolas de um campo experimental.

A resistência do solo à penetração das raízes é uma das propriedades


físicas que influenciam diretamente o crescimento das raízes e da parte
aérea das plantas. Vários autores utilizaram a resistência do solo à
penetração para a avaliação dos efeitos dos sistemas de manejo do solo
sobre o ambiente radicular (BENGHOUGH e MULLINS, 1990; TORMENA e
ROLOFF, 1996).
Daniel et al. (1994) estudando as mudanças nas características da
resistência do solo sob diferentes manejos, concluíram que ferramentas que

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


provocam um grau maior de mobilidade do solo, como arado de disco,
grade aradora e a enxada rotativa, proporcionaram valores mais elevados de
resistência do solo à penetração, indicando a presença de camadas
compactadas; eles explicam, ainda, que a compactação ou a dureza do solo
está intimamente ligada à umidade e que uma possível compactação pode
ser mascarada pela elevada umidade do solo, no momento da amostragem.

Campos e Alves (2006) com o intuito de estudar a resistência à


penetração de um Latossolo Vermelho de uma área que teve 8,6 m de
camada de solo extraída devido à construção da Usina Hidrelétrica de Ilha
Solteira - SP, constataram que uma área com estado avançado de
degradação na profundidade de 0-5 cm se encontra na classe de resistência
do solo à penetração considerada alta com 5,92 MPa. Isto significa que o
solo está com sérias limitações ao crescimento das raízes. Os mesmos
autores complementam que, em solos em condições naturais de cerrado,
não há limitação ao crescimento das raízes, pois a classe de resistência à
penetração é muito baixa com 0,72 MPa. Este comportamento de
resistência à penetração, descrito acima, nas áreas em estado avançado de
degradação, é explicado pela ausência de plantas e cobertura morta.

Os principais fatores que influem na gênese dos agregados são:


argila, a matéria orgânica e os sesquióxidos de ferro e alumínio, todos tidos
como agentes cimentantes das partículas, os cátions, absorvidos e o manejo
do solo, que também influem no processo de estruturação (KIEHL, 1979). O
autor ainda menciona que para haver formação de agregados no solo são
necessárias duas condições fundamentais: primeira, que uma formação
mecânica provoque a aproximação das partículas do solo e a segunda é que,
após o contato das partículas, haja um agente cimentante para consolidar
essa união, gerando o agregado.

A agregação do solo é influenciada pela micro, meso e macrofauna


do solo, que direta ou indiretamente, por meio da ingestão, decomposição e
excreção de materiais de solo, constituídos por misturas variadas de
compostos orgânicos e inorgânicos. Beare et al. (1995) citado por Alves
(2001) afirmam que a influência direta de microartrópodos no ciclo
biogeoquímico, é devido ao seu papel na mineralização de nutrientes, por
meio da ingestão de organismos da microflora, da fauna do solo e, pela
trituração de detritos de plantas e dejetos fecais.

Em função da natureza química dos compostos orgânicos presentes


no solo, Tisdall e Oades (1982) propuseram três tipos de ação cimentante
para a matéria orgânica. Os compostos que são rapidamente decompostos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

por microrganismos, principalmente os polissacarídeos, são considerados


agentes cimentantes transitórios, e estão associados a formação de
macroagregados. O mucigel, produzido na rizosfera por microrganismos e
pelas raízes, composto essencialmente por polissacarídeos, é considerado
um cimentante orgânico transitório e sua importância na formação de
macroagregados estáveis em água foi observada com o uso de agentes
oxidantes seletivos para polissacarídeos (CHESHIRE et al., 1983). As hifas dos
fungos e as raízes, que permanecem no solo por vários meses e até alguns
anos, são consideradas agentes cimentantes temporários e estão associados
a formação de macroagregados jovens, principalmente em raízes de
gramíneas (TISDALL e OADES, 1979).

Os agentes cimentantes orgânicos persistentes são constituídos pelas


substancias húmicas que, ao se ligarem a cátions polivalentes, presentes na
3+ 3+ 2+
fração mineral Al , Fe e Ca , constituem importante mecanismo de
formação de microagregados. Os microagregados são estáveis à ruptura
provocada pelo umedecimento rápido e por distúrbios mecânicos do solo
(CANELLAS et al., 1999). Os mesmos autores ainda falam que as ligações
organo-minerais formadas pelas substâncias são persistentes, não sendo
influenciadas pelas mudanças no conteúdo de matéria orgânica e pelo
manejo do solo. Todavia, a quantidade de macroagregados estáveis em água
depende do conteúdo de matéria orgânica e diminui com o cultivo intenso
do solo.

A presença de agregados estáveis potencializa a capacidade de


armazenamento de água, diminuindo as perdas de partículas e nutrientes
por processos erosivos e facilita a proteção física e o acúmulo de matéria
orgânica no solo (JASTROW et al., 1998).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Vários trabalhos têm sido desenvolvidos para avaliar o efeito da
adição de matéria orgânica. Andrade Junior (2004) trabalhou em área
degradada com objetivo de estudar o efeito de adubo verde, calcário e
gesso e verificou que os tratamentos de recuperação empregados agiram de
forma semelhante na recuperação das propriedades físicas. Alves e Suzuki
(2004) observaram que o uso de plantas de cobertura aliado à sucessão de
culturas (milho e soja) sob semeadura direta melhorou as propriedades
físicas do solo, como porosidade, densidade do solo e resistência do solo à
penetração. Silva et al. (2002) em estudo realizado na “área de empréstimo”
originada da construção da usina hidroelétrica de Ilha Solteira - SP, com o
objetivo de verificar os efeitos de espécies e variedades de pinus, instaladas
em 1982, na recuperação do solo, verificou que: o Pinus caribaea var.
hondurensis mostrou-se promissor, por apresentar um bom crescimento
aliado a sua sobrevivência; as características físicas do solo
(macroporosidade, microporosidade, porosidade total e densidade do solo),
que não apresentaram diferenças entre os tratamentos.

A infiltração do solo é um dos fenômenos que melhor refletem as


condições físicas internas do solo, pois uma boa qualidade estrutural leva a
uma distribuição de tamanho de poros favorável ao crescimento de raízes e
à capacidade de infiltração de água no solo (ALVES e CABEDA, 1999). E
considerada por Doran e Parkin (1994), como uma das propriedades físicas
utilizadas como indicadores básicos na avaliação da qualidade do solo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos realizados mostram que o uso de resíduos, adubos


verdes têm sido eficiente em fornecer matéria orgânica ao solo e o uso de
operações mecanizadas para a descompactação do solo.

É promissor o uso das propriedades físicas do solo como


indicadoras da qualidade do mesmo ao longo do tempo, como a
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

macroporosidade, densidade, resistência à penetração, estabilidade de


agregados em água e a infiltração de água.

O processo de recuperação é lento e áreas com histórico de


recuperação por 10 anos tem atingido apenas camadas superficiais do solo.

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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 2

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


USO DE REDES NEURAIS NO
MONITORAMENTO DA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS

1
Alfredo Bonini Neto
2
Carolina dos Santos Batista Bonini
3
Luiz Fernando Sommaggio Coletta
4
Nídia Raquel Costa
5
André Rodrigues dos Reis

11 Profº Dr. da Faculdade de Ciências e Engenharia - FCE - UNESP - Campus de Tupã - Docente
do curso de Engenharia de Biossistemas - email: bonini@tupa.unesp.br
2
Profº Dr. da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas - FCAT - UNESP - Campus de
Dracena - Docente do curso de Engenharia Agronômica - email: carolbonini@dracena.unesp.br
3
Profº Dr. da Faculdade de Ciências e Engenharia - FCE - UNESP - Campus de Tupã - Docente do
curso de Engenharia de Biossistemas - email: luizfsc@tupa.unesp.br
4
Pós Doutoranda da Universidade Estadual Paulista - UNESP, Faculdade de Ciências
Agronômicas - FCA, Departamento de produção e melhoramento vegetal, Botucatu, São Paulo.
E-mail: nidiarcosta@gmail.com
5
Profº Dr. da Faculdade de Ciências e Engenharia - FCE - UNESP - Campus de Tupã - Docente do
curso de Engenharia de Biossistemas - email: andrereis@tupa.unesp.br
RESUMO
No Brasil, os solos são classificados em 13 ordens, sendo cada uma delas
com suas características. A classe dos Latossolos é predominante em 54% do
território e tem por característica alta intemperização, propriedades
químicas relaticamente baixas e boa estrutura. A partir disso, este capítulo
tem por objetivo trazer uma ferramenta para analisar o solo acima citado
em função destes atributos. Os dados serão analisados e classificados
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

através de uma Rede Neural Artificial (RNA) com o intuito de fazer uma
estimativa quanto a sua classificação em função dos atributos químicos e
físicos do solo. Os atributos químicos considerados são: pH, CTC, V%, P, Mg
e K. Já para os atributos físicos, foram considerados: Densidade do solo,
Porosidade do solo (macroporosidade e microporosidade) e a Resistência do
solo à penetração. A RNA utilizada neste trabalho é a baseada em
retropropagação (Backpropagation), composta por duas camadas, a camada
intermediária e a camada de saída, com treinamento supervisionado. A
camada intermediária é composta por 10 neurônios e a camada de saída por
1 neurônio, o qual tem a função de informar a classificação quanto a
recuperação do solo (recuperado, parcialmente recuperado ou não
recuperado), além do nível de fertilidade aparente. Dos resultados
analisados, pode-se notar que a rede alcançou os objetivos propostos, com
uma porcentagem baixa de erro na classificação.

1 INTRODUÇÃO

As Redes Neurais Artificiais (RNAs) são sistemas computacionais


adaptativos inspirados nas características de processamento de informação
de neurônios biológicos, tais como aqueles presentes em organismos
inteligentes (HAYKIN, 2001). Com base em unidades de processamento
simples, que têm a propensão natural para armazenar conhecimento
experimental e torná-lo disponível para o uso, RNAs permitem produzir
saídas adequadas para entradas que não estavam presentes durante o
treinamento (KOVACS, 2006).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Esses sistemas se assemelham ao cérebro humano de forma que o
conhecimento de ambos é adquirido a partir do ambiente e um processo de
aprendizagem dado pela força de conexão entre os neurônios. A força de
conexão entre neurônios, ou pesos sinápticos, são particularmente
emulados em RNAs com o objetivo de armazenar o conhecimento adquirido
(BRAGA, et. al, 2007).

Recentemente, e após a publicação do hoje clássico livro Parallel


Distributed Processing, editado por Rumelhart e McClelland do PDP
Research Group da Universidade da California (RUMELHART et. al, 1988), a
área de RNAs teve um desenvolvimento explosivo com a multiplicação
exponencial de periódicos, associações locais e internacionais, sem falar do
grande número de teses e artigos científicos disponíveis (KOVACS, 2006).

Com isso, vários trabalhos têm sido publicados ao redor do mundo.


No Brasil, Soares et al. (2014) avaliaram o desempenho de uma RNA na
predição da produtividade da cultura do feijão, na região fronteira oeste do
estado do Rio Grande do Sul, com base em variáveis morfológicas da
cultura. A rede implementada obteve um desempenho ótimo na previsão de
produção. Em Bucene e Rodrigues (2004), a fim de classificar a fertilidade
aparente do solo via RNA, os autores forneceram atributos do solo, como
pH, CTC, V%, P, Mg e K, para a rede, a qual permitiu a discriminação das
terras para fins de irrigação. Dos resultados obtidos, a situação ótima da
rede obteve 78% dos resultados iguais aos desejados, com duas camadas de
neurônios, uma das quais intermediária (com 5 neurônios) e uma camada de
saída.

Em Silva et al. (2014) e Silva (2014) foi proposto um novo estudo


comparativo utilizando redes neurais e lógica fuzzy para previsão de
produção de trigo (Triticum aestivum). Houve uma integração dos dois
sistemas, fuzzy e redes neurais, formando um sistema híbrido ou neuro-
fuzzy, o qual proporcionou melhores predições por conta de maior eficiência
no aprendizado, na estimativa de parâmetros e na capacidade de
generalização.

Já em Bisi et al. (2015a) e Bisi et al. (2015b) fizeram-se o uso de RNA


para a classificação dos níveis de solos degradados de acordo com seus
atributos químicos. Observou-se que os solos analisados apresentam
fertilidade aparente muito baixa indicando sua degradação.

No exterior, em Beuchera et al. (2015) utilizaram as RNAs para


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

mapeamento de solo e caracterização das propriedades do solo relevantes


para o planejamento ambiental; em Silveira et al. (2013), manipularam as
RNAs do tipo multicamadas com o objetivo de mapear solos de acordo com
seus atributos (topográficos e geográficos). Anagu et al. (2009), utilizaram as
redes neurais artificiais para desenvolver modelos de sorção (conjunto dos
fenômenos de absorção, adsorção e dessorção) em função de propriedades
básicas do solo.

Outro trabalho bastante citado foi o de Mouazen et al. (2010), o qual


fez uma comparação entre os três métodos utilizados para medição das
propriedades dos solos (regressão, mínimos quadrados e redes neurais
artificiais). Licznar e Nearing (2003) investigou a aplicabilidade do uso de
redes neurais para prever quantitativamente a perda de solo das parcelas de
escoamento naturais. Foram utilizados dados de 2.879 eventos de erosão de
oito locais nos Estados Unidos. As redes neurais foram desenvolvidas
utilizando apenas oito parâmetros de entrada. Os resultados indicaram que
as redes neurais foram melhores do que o modelo já adotado na previsão de
ambos os volumes de escoamento de eventos e valores de perda de solo.

O sucesso desses estudos se deve ao grande poder de aplicação


destas metodologias em diversas áreas. As RNAs são capazes de extrair
informações não apresentadas explicitamente através de exemplos. São,
portanto, adequadas para a análise de sistemas com incertezas, que exigem
a predição de dados e o reconhecimento de padrões, sendo usadas como
alternativas aos métodos estatísticos.
Com isso, este trabalho tem por objetivo trazer uma ferramenta de
análise dos dados de solos através da RNA com o intuito de classificar o solo

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


quanto à sua recuperação em função dos atributos físicos e químicos. A
ideia foi desenvolver uma rede bem treinada capaz de classificar qualquer
tipo de amostra não observada durante o processo de treinamento.

2 MATERIAL E MÉTODOS

As amostras geradas para o processo de treinamento da rede foram


desenvolvidas com base nas Tabelas 1 e 2. A Tabela 1 apresenta as classes
dos atributos químicos do solo (muito alta, alta, média, baixa e muito baixa)
(RAIJ et al. 1997), enquanto que a tabela 2 apresenta as classes dos
atributos físicos do solo (não recuperado, parcialmente recuperado e
recuperado), com os valores restritos respectivamente para cada classe
(BONINI e ALVES, 2012). Ambas as tabelas apresentam as saídas desejadas
com valores entre 0 e 1, em que o 0 representa o solo não recuperado
fisicamente e muito baixo quimicamente e o valor 1 representa o solo
recuperado fisicamente e muito alto quimicamente. Outros valores
poderiam ser especificados pelos autores, no entanto, uma única saída
como proposto neste trabalho representa uma maior facilidade na
interpretação dos resultados bem como a montagem dos gráficos
comparando as saídas desejadas e obtidas.
Tabela 1 – Classes dos atributos químicos do solo

Muito baixa Baixa Média Alta Muito alta

pH (CaCl2) ≤ 4,3 4,4 – 5,0 5,1 – 5,5 5,6 – 6,0 > 6,0

CTC (mmolc dm-3) < 30 30 - 50 51 – 100 101-120 > 120

V (%) ≤ 25 26 - 50 51 - 70 71 – 90 > 90

P (mg dm-3) ≤ 6,0 7 – 15 16 - 40 41 – 80 > 80


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Mg (mmolc dm-3) < 2,0 2,0 – 4,0 5,0 – 8,0 9,0 – 11 > 12

K (mmolc dm-3) ≤ 0,7 0,8 – 1,5 1,6 – 3,0 3,1 – 6,0 > 6,0

Saídas desejadas 0,0 – 0,19 0,2 – 0,39 0,4 – 0,59 0,6 – 0,79 0,8 – 1,0

Fonte: RAIJ, 1997.

Tabela 2 – Classes dos atributos físicos do solo

Atributos Parcialmente
Não recuperado Recuperado
recuperado
Densidade do solo
(1,61 – 1,80) g.cm-3 (1,56 – 1,60) g.cm-3 (1,30-1,55) g.cm-3

Macro.
0–9% 10 – 13 % 14 – 17 %
Porosidade do solo
Micro.
41 – 50 % 37 – 40 % 33 – 36 %

Resistência do solo
> 2,8 MPa 2,1 – 2.8 MPa 0 - 2,0 MPa

Saídas desejadas
0,0 - 0,33 0,34 – 0,66 0,67-1,0

Fonte: KIEHL, 1979.


2.1 Redes Neurais Artificiais

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Na Figura 1 é apresentado o modelo de um neurônio biológico (a) em
contraste com um neurônio artificial (b).

Figura 1: Rede neural

(a) Neurônio biológico (b) Neurônio artificial

Fonte: Autores, 2017.

onde  representa o somatório dos produtos das entradas pelos


n
respectivos pesos, ou seja, u  x
i 1
i Wi  bias (em particular, o bias visa

a aumentar os graus de liberdade, permitindo a melhor adaptação da rede


neural ao conhecimento à ela fornecido) e f (u ) é a função de ativação para
obter a saída. A função de ativação utilizada neste trabalho para a saída de
ambas as camadas é a função tangente sigmoide:

f (u)  (1  e  λu ) / (1  e  λu ) (1)

em que λ é uma constante arbitrária e corresponde a inclinação da curva.


Uma rede neural é representada por n dados na camada de entrada,
m neurônios na camada intermediária e i neurônios na camada de saída.
Para este capítulo, na parte química do solo, assumiu-se n=6, m=6 e i=1,
como mostrado na Figura 2(a). Já para a parte física, foi definido n=4, m=5 e
i=1 de acordo com a Figura 2(b).

A plataforma utilizada para a programação da RNA, bem como para a


obtenção dos resultados, foi o Matlab. O Matlab, além de ser amplamente
utilizado nas mais diversas áreas do conhecimento humano, possui uma
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

linguagem de fácil assimilação.

2.2 Treinamento de uma Rede Neural Artificial

O treinamento de uma rede neural pode ser supervisionado ou não


supervisionado. Enquanto o treinamento não supervisionado não requer
uma saída desejada (i.e., a rede realiza um treinamento auto-organizável
levando em conta apenas os dados de entrada), o treinamento
supervisionado considera a aprendizagem da rede a partir de dados de
entrada e suas respectivas saídas desejadas (BRAGA, et al., 2007). Em outras
palavras, o treinamento supervisionado, que é o adotado neste capítulo,
consiste em conhecer um alvo a ser acertado para que a rede consiga
adaptar seus pesos de modo que, posteriormente, no processo de operação,
Figura 02: RNA utilizada, (a) química do solo, (b) física do solo.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fonte: Autores, 2017.

conhecido também como diagnóstico da rede, possa se classificar ou


estimar dados que não fizeram parte no processo de treinamento. Portanto,
a aprendizagem da RNA se dá pelo ajuste de seus pesos, Wi, presentes nas
conexões dos neurônios na Figura 2 e em função de dados de entrada cujas
saídas são conhecidas.

A rede utilizada nesse trabalho é distribuída com n entradas na


primeira camada, m neurônios na camada intermediária e i neurônios na
camada de saída. O método de treinamento supervisionado é o de
retropropagação não recorrente (sem laços de realimentação) do inglês
“feedforward backpropagation” (HAYKIN, 2001).
2.2.1 Química do solo

Para o treinamento da rede foram utilizadas seis entradas referentes


aos parâmetros químicos apresentados na Tabela 1, os quais apresentam as
restrições de cada atributo que foram utilizadas como as entradas da RNA e
suas respectivas saídas desejadas.

Utilizou-se um total de 155 amostras, sendo 31 de cada classe de


recuperação (cinco classes). Do total, 60% foram utilizados para o
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

treinamento (93 amostras), 20% para validação (31 amostras) e 20% para
teste (31 amostras). Cada amostra é composta pelos atributos químicos pH,
CTC, V%, P, Mg e K (seis atributos de entrada). O tempo do processador
utilizado para o treinamento da rede foi de 0,608 segundo em um
equipamento “Pentium Dual-Core E5800 3.20 GHz de 4,00 GB de memória”,
ou seja, o tempo de processamento das 17 iterações. A tabela 3 apresenta
esses valores especificados para o treinamento da rede.

Após o treinamento da RNA, todas as saídas obtidas de todas as


amostras inseridas foram submetidas ao processo de operação da rede, os
quais foram comparados com as saídas desejadas conforme a figura 3.
Observa-se que os valores são bem parecidos, ou seja, o erro quadrado
médio do treinamento (do inglês Mean Square Error - MSE) calculado por
-4
meio da equação (2) foi em torno de 10 , mostrando que os pesos W i foram
todos ajustados para a rede desenvolvida. A Tabela 4 apresenta esses
resultados.

n
1
MSE 
n
 (Y
i 1
obtida  Ydesejada) 2 (2)

Os respectivos valores dos pesos são mostrados na Tabela 5, 6 e 7,


em que na Tabela 5 é apresentado os pesos correspondente a ligação da
camada de entrada com a camada intermediária, na tabela 6, referente aos
pesos da ligação da camada intermediária com a camada de saída e na
tabela 7, os pesos bias correspondente a camada intermediária (10
neurônios) e a camada de saída (1 neurônio), logo 10 pesos e 1 peso
respectivamente.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Tabela 3: Valores especificados para o treinamento
Valor especificado na Valor máximo Mélhor valor de
rede atingido pela rede treinamento

Iterações 100 17 7

Tempo inf 0,608 seg 0,421 seg

Fonte: Autores, 2017.

Tabela 4: Desenpenho da rede neural (MSE)


Valor máximo atingido pela rede Mélhor valor de treinamento
com 17 iterações com 7 iterações

Treinamento 0,000030501 0,000674


Validação 0,004802 0,000966
Teste 0,00431 0,00431
Fonte: Autores, 2017.

Figura 3: Processo de treinamento e operação da rede para todas as amostras dos atributos
químicos do solo, saída obtida versus saída desejada.

0.8

0.6
Saídas

0.4

0.2

0 50 100 150
― = saída obtida (valor estimado) Amostras

― = saída desejada

Fonte: Autores, 2017.


Tomando como exemplo a tabela 5, os valores do primeiro, segundo
e terceiro número da primeira linha correspondem aos pesos das ligações
do primeiro, segundo e terceiro atributo (x1) (x2) e (x3) da camada de
entrada com o primeiro neurônio da camada intermediária, e assim por
diante. Outro exemplo, o número (0.9900) da última linha e última coluna
da tabela 5 corresponde ao valor do peso da ligação entre o último atributo
(x6) da camada de entrada com o último neurônio (neurônio 6) da camada
intermediária.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

A diferença (Deo) entre o valor obtido e o valor estimado (erro da


rede) foi calculada por meio da equação (3).

Deo  Yobtida  Ydesejada (3)

Tabela 5 – Pesos correspondentes à ligação da camada de entrada com a camada intermediária

6 Neurônios 6 Atributos de entrada


(Camada
intermediária) X1 X2 X3 X4 X5 X6

1 0.8068 0.5199 1.0135 0.9863 0.3946 0.4304

2 0.4020 1.2645 -0.1037 -1.0310 -0.7269 0.2910

3 0.6213 0.2399 -1.4269 -0.5971 -0.5366 0.2389

4 -0.5197 0.3961 0.8224 -0.2752 -0.4637 -1.1167

5 -1.4425 -0.0665 -0.3596 -0.6304 0.9487 1.0745

6 0.3431 -0.6409 -1.1955 -0.7150 -0.1714 0.9900

Fonte: Autores, 2017.


Tabela 6 – Pesos correspondentes à ligação da camada intermediária com a camada de saída

6 Neurônios 1 Neurônio

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


(Camada intermediária) (Camada de saída)

1 -0.1352

2 0.7559

3 -0.7026

4 -0.9361

5 -0.8197

6 0.0102

Fonte: Autores, 2017.

Tabela 7 – Pesos bias correspondentes à camada intermediária e à camada de saída

6 Neurônios 1 Neurônio

(Camada intermediária) (Camada de saída)

-1.9498

-0.8658

-0.8036
-0.60361
-0.5500

-0.8678

1.9077

Fonte: Autores, 2017.


2.2.2 Física do solo

Para o treinamento da rede foram utilizadas quatro entradas


referentes aos parâmetros físicos apresentados na tabela 2, os quais
apresentam as restrições de cada atributo que foram utilizadas como as
entradas da RNA e suas respectivas saídas desejadas. As entradas
consideradas foram a densidade do solo, a porosidade do solo
(macroporosidade e microporosidade) e a resistência do solo à penetração
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

(quatro dados de entrada).

Utilizou-se um total de 123 amostras, sendo 41 de cada classe de


recuperação (três classes). Do total, 60% foram utilizados para o
treinamento (73 amostras), 20% para validação (25 amostras) e 20% para
teste (25 amostras). O tempo de treinamento foi de 0,624 segundo com 18
iterações, sendo que o melhor resultado foi obtido com 8 iterações no
tempo de 0,468 segundos.

A figura 4 apresenta o desempenho da rede neural artificial para os


atributos físicos do solo. Na Figura 4 são comparadas as saídas obtidas com
as saídas desejadas, pode-se observar que ambas apresentam
comportamentos similares mostrando novamente que a rede foi bem
treinada sendo capaz de classificar solos, não apenas amostras de solos que
fizeram parte do treinamento e sim qualquer tipo de amostra servindo tanto
como uma ferramenta de classificação como uma ferramenta de previsão.
-2
Para todos os testes o MSE (erro de treinamento) ficou em torno de 10 .

A diferença entre o valor obtido e estimado (erro da rede) foi


calculado por meio da equação 3, conforme pode-se observar na Figura 4 os
pontos em verde no gráfico. Para a parte física o erro foi maior se
comparado a parte química, isso pode ser explicado devido aos dados de
entrada serem mais complexos acarretando em uma maior dificuldade para
o treinamento (0,468 segundos contra o 0,421 segundo na parte química do
solo), além da estrutura da RNA possuir um número menor de neurônios na
camada intermediária.
Figura 4: Processo de treinamento da rede para 100% das amostras dos atributos físicos do
solo, saída obtida versus saída desejada.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


1
0.9
0.8
0.7
0.6
Saídas

0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0

0 20 40 60 80 100 120
--- = saída obtida (valor estimado)
Amostras
― = saída desejada

Da mesma forma que foi apresentado para os atributos químicos do


solo, as Tabelas 8, 9 e 10 mostram os respectivos pesos obtidos durante o
treinamento para parâmetros físicos do solo.

Tabela 7 – Pesos correspondentes à ligação da camada de entrada com a camada intermediária

5 Neurônios (Camada 4 Atributos de entrada


intermediária)
X1 X2 X3 X4

1 -1.5147 0.7330 -1.9606 2.5086

2 0.7440 -1.3177 -0.8539 -1.5841

3 -1.5873 0.5397 -1.0948 -0.5787

4 -0.3273 -1.5934 -0.0404 -0.4120

5 1.5209 -0.2493 -0.7204 -0.5916

Fonte: Autores, 2017.


Tabela 8 – Pesos correspondentes à ligação da camada intermediária com a camada de saída

5 Neurônios 1 Neurônio

(Camada intermediária) (Camada de saída)

1 -1.5696

2 -0.2068

3 0.7038
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

4 -0.4224

5 0.3608

Fonte: Autores, 2017.

Tabela 9– Pesos bias correspondentes à camada intermediária e a camada de saída

5 Neurônios 1 Neurônio

(Camada intermediária) (Camada de saída)

1.5767

-1.2056

-0.6703 0.4192

-1.8066

2.1760

Fonte: Autores, 2017.


CONCLUSÕES

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Neste capítulo foi desenvolvido um programa baseado em uma
implementação computacional de RNAs com o objetivo de analisar dados de
solos a partir de seus atributos químicos e físicos. A rede foi desenvolvida
para classificar Latossolos, mais especificamente o Latossolo Vermelho de
textura média, conforme as especificações fornecidas nas Tabelas 1 e 2.

A partir da rede treinada, com todos os seus pesos ajustados, a RNA


pôde atuar como um classificador sobre a recuperação do solo podendo,
portanto, predizer seus níveis de recuperação e fertilidade aparente.

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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 3

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


INTEGRAÇÃO DA LAVOURA E PECUÁRIA
COMO ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO
SUSTENTÁVEL

1
Marcelo George Mungai Chacur
2
Camila Dutra de Souza
3
Luís Roberto Almeida Gabriel Filho
4
Camila Pires Cremasco Gabriel
5
Gustavo Souza Rodrigues
6
Fernando Ferrari Putti

1
Profº Dr. Marcelo George Mungai Chacur - Universidade do Oeste Paulista, E-mail:
chacur@unoeste.br
2
Doutoranda Camila Dutra de Souza – Universidade do Oeste Paulista, E-mail:
camiladutrasouza@hotmail.com
3
Doutor, Professor Adjunto, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de Tupã, São
Paulo, Brasil. E-mail: gabrielfilho@tupa.unesp.br
4
Doutora, Professora Assistente, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de
Tupã, São Paulo, Brasil. E-mail: camila@tupa.unesp.br
5
Mestre, Professor Fundação Educacional de Machado, FEM, Machado, Minas Gerais, Brasil.
Email: profgustavo@outlook.com
6
Doutor, Professora Assistente, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de Tupã,
São Paulo, Brasil. E-mail: fernandoputti@tupa.unesp.br
1 INTRODUÇÃO AO HISTÓRICO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA NO BRASIL

No Brasil, a agricultura sustentável se iniciou nas décadas de 50 e 60,


esta sofreu facilitação em ser resolvida com o passar das décadas, devido à
modernização da tecnologia e de práticas na agricultura, sendo de fácil
acesso e de grande praticidade ao homem do campo; mitigando efeitos
adversos ao meio ambiente; aumentando a produtividade e valorizando os
bens e prestação de serviços na área ambiental (PRETTY, 2008).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Devido à política do governo federal de ampliar a fronteira agrícola a


partir da década de 50, um aumento significativo da área destinada à
agricultura e pecuária, elevando o uso de insumos como herbicidas e demais
produtos químicos. Modelo esse usado em grandes extensões de terra de
forma independente e dissociado uns dos outros. Atualmente, se observa
um desgaste nesse modelo independente de produção, devido à alta
demanda de energia não renovável, o mesmo ocorrendo com os recursos
naturais empregados (BALBINO et al., 2011a).

2 SISTEMAS PARA MAXIMIZAÇÃO DO USO DE ÁREAS DE TERRA

Alternativas visando à maximização de áreas de terra foram


desenvolvidas para que se possam integrar em uma mesma área rural mais
tipos de exploração comercial, simultaneamente. Dessa forma, foram
idealizados os seguintes sistemas de integração: 1) integração lavoura-
pecuária (ILP), usando rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área, em
um ano ou em vários anos agrícolas; 2) integração pecuária-floresta (IPF),
em consórcio; 3 ) integração lavoura-floresta (ILF), em consórcio de árvores
e cultivos agrícolas anuais ou perenes; e 4 ) integração lavoura-pecuária-
floresta (ILPF), em sucessão ou consórcio, na mesma área, os componentes
floresta, pecuária e agrícola (BALBINO et al., 2011b).

Estudos relatam que em torno de 80% da área cultivada de pastagem


na região Centro-Oeste do Brasil apresenta algum grau de degradação. Área
essa responsável por 55% da carne produzida. Quando a pastagem tem bom
estado de manutenção, em sistema de criação de gado de corte, essa

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


pastagem é até seis vezes mais produtiva, em relação às pastagens
degradadas (MACEDO et al., 2000; MACEDO; ZIMMER, 1993; 2015).

Nas atividades de agricultura e pecuária, realizadas de forma


individualizadas, ocorre a degradação física, química e biológica do solo.
Degradação essa que é reduzida quando do uso do sistema de integração
lavoura-pecuária (ILP) com recíprocos benefícios (KLUTHCOUSKI; STONE,
2003).

A diversificação das atividades econômicas, redução de custos com


insumos e elevação da produtividade são fatores inerentes aos sistemas de
integração. No sistema de rotação lavoura-pasto, a produção agrícola de
grãos se eleva após a pastagem. A pastagem mais produtiva levará a maior
produção de litros de leite e de quilogramas de carne. Uma opção é a
inclusão da floresta com produção de madeira na mesma área utilizada,
sendo uma fonte a mais de lucro (SALTON et al., 2015a).

Tradicionalmente, na região Sul do Brasil, áreas com lavoura de arroz


irrigado eram alternadas com o plantio de pastagens para a produção de
gado de corte, em um sistema chamado de rotação ou rotacionado.
Também na região Sul, o plantio direto de soja se desenvolveu em áreas de
planalto no lugar dos campos nativos, cultura essa realizada com uso de
herbicidas e máquinas agrícolas. No Brasil Central áreas degradadas de
pastagens foram recuperadas pelo sistema intitulado barreirão, formado
com tecnologias e práticas que forneceram amparo para se recuperar o solo
que resultaram no sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) com rotação
de área, alternando pecuária e agricultura (BALBINO et al., 2011a;
KLUTHCOUSKI et al., 1991; 2015a).

Variações nos diversos sistemas de ILP são observadas no Cerrado do


Brasil, dependendo do objetivo e perfil da empresa agropecuária. Clima,
solo, infraestrutura da fazenda e domínio de tecnologias são fatores que
colaboram com a variação do sistema adotado. Pode-se destacar três
modalidades de integração: 1 – propriedades de criação de gado, onde as
culturas de grãos são utilizadas para a recuperação de pastagens; 2 –
propriedades voltadas para o plantio de grãos que usam gramíneas
forrageiras para auxiliar depois no plantio direto; e 3 – propriedades com
rotação de áreas de lavoura e pasto, aproveitando o sinergismo dessas duas
atividades (VILELA et al., 2011).

Na bovinocultura de corte, ganhos entre 6 e 12 arrobas / ha em


equivalente-carcaça podem ser obtidos, em sistemas de integração lavoura-
pecuária, com ciclagem de nitrogênio, potássio e fósforo, estimada em
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

-1 -1
equivalente-fertilizante chegando a 60kg.ha .ano de ureia, até
-1 -1 -1
95kg.ha.ano de superfosfato simples e de 85kg.ha ano de cloreto de
potássio (VILELA et al., 2015).

Tradicionalmente, a bovinocultura de corte é uma atividade


econômica realizada em grandes extensões de áreas de pastagem,
visualizada como viável do ponto de vista econômico se realizada
extensivamente. Essa visão foi preconizada no passado devido a política
macroeconômica de expansão da fronteira agrícola. Nas últimas três
décadas, a demanda por maior produtividade na cadeia da carne bovina
causou o desenvolvimento e absorção de tecnologias que elevam a
produtividade, reduzindo, simultaneamente, a área de pastagem levando a
um “efeito poupa terra” (VILELA et al., 2012).

Dentre os sistemas de produção sustentáveis, a integração lavoura-


pecuária (ILP) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) são exemplos,
pois aliam a proteção do ambiente com a lucratividade, produzindo carne,
fibras vegetais e madeira, reduzindo o desmatamento e emissão de gases.
Sistemas de produção mais lucrativos são importantes ainda mais em
conjunto com a redução de áreas que seriam abertas, maximizando as áreas
existentes (KLUTHCOUSKI et al., 2015a). A intensificação do uso do solo
pode ser exemplificada na pecuária de corte com uso de integração lavoura-
pecuária. Pode-se ampliar, gradativamente, a área de produção de grãos em
rotação com a pastagem, dessa forma após 11 anos do início da adoção
desse sistema, uma propriedade de Minas Gerais reduziu para um terço a
área de pastagem, mantendo o mesmo número de animais, em relação ao
início da adoção do sistema (CORDEIRO et al., 2015).
Resultados negativos em investimentos podem ocorrer em qualquer
atividade econômica. Avaliou-se que no sistema de integração lavoura-

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


pecuária a porcentagem de chances de perdas monetárias gira em torno de
26%, para a lavoura de produção de grãos 52% e para a pecuária de corte
39%. Dados esses coletados de propriedades do estado do Paraná que
adotaram o sistema de integração (LAZZAROTTO et al., 2009).

O estresse térmico leva ao desequilíbrio no metabolismo dos


animais, elevando o gasto de energia e reduzindo a ingestão de alimentos. A
chuva e o vento também colaboram para a queda de produtividade do
rebanho sendo fatores estressantes (JORDAN, 2003; SILANIKOVE, 2000).
Para mitigar os efeitos do estresse térmico, os sistemas de integração
lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ofertam sombras aos animais, reduzindo até
30% a radiação solar direta que os atinge. A temperatura ambiente na
sombra de árvores é de 2 a 4ºC inferior a temperatura sob céu aberto, além
da sombra proporcionar maior umidade do ar. Esses fatores contribuem
para o aumento da produção e da reprodução de rebanhos (ALVES et al.,
2015; PORFIRIO DA SILVA et al., 2001).

Os sistemas chamados de integração lavoura-pecuária (ILP) podem


ser definidos como mistos, pois aliam a criação de animais com áreas de
agricultura, caracterizados pela sucessão ou consórcio e rotação de
atividades econômicas (KLUTHCOUSKI et al., 1991). Nos sistemas de
integração de atividades agropecuárias o solo é utilizado o ano todo ou na
maioria dos meses do ano, colaborando com a produção de grãos, proteína
de origem animal como leite e carne e produção de madeira, criando um
sinergismo entre as atividades (GONÇALVES e FRANCHINI, 2007).
3 PONTO DE VISTA ECONÔMICO DA INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
(ILP)

Em propriedades especializadas no Brasil, um estudo envolvendo


1.791 empresas rurais revelou alta concentração em duas faixas: com um
único produto responsável por até 80% da receita e na faixa entre 50 a 80%
e a segunda atividade por mais de 10%. Dessa forma, nessas empresas
especializadas, se verifica que a maioria da receita vem de uma única
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

atividade agropecuária (GARAGORRY et al., 2003). Os sistemas intensivos de


produção de grãos com o passar do tempo levam ao desgaste do solo,
principalmente da sua qualidade física. À partir da década de 90, se verifica
aumento do interesse pelos sistemas de integração entre distintas
atividades agropecuárias (AYARZA et al., 1999).

Os riscos no negócio agropecuário podem ser reduzidos pela


diversificação de atividades. Os custos unitários de produção são reduzidos
nos sistemas de integração, devido à rotação de culturas. Ocorre menor
variação de produtividade entre anos nos sistemas de integração, elevando
lucros e reduzindo custos unitários (HELMERS et al., 2001). A pecuária em
termos de produtividade média anual resulta em sistema de integração
-1
lavoura-pecuária (ILP) em 537 kg de peso vivo.ha , já na pecuária
-1
especializada a produção gira em torno de 211 kg de peso vivo.ha . Este
acréscimo na produção é um dos diferenciais para a adoção do sistema de
integração (MARTHA JÚNIOR et al., 2009; 2010a). Um dos pontos que
devem ser analisados, antes da implantação de um sistema de integração é
o da aquisição de insumos e de animais para trabalhar com taxa elevada de
lotação. No modelo de comparação os sistemas de integração não são
competitivos, em relação à produção especializada de soja. A aquisição de
animais entra com 50% dos custos iniciais para a adoção do sistema de
integração lavoura-pecuária (ILP) (MARTHA JÚNIOR et al., 2011).
4 A BOVINOCULTURA DE LEITE NO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-
PECUÁRIA (ILP)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A bovinocultura de leite é realizada em propriedades de diversas
dimensões de áreas. O estado do Paraná dos manejos intensivos e semi-
intensivos possui a principal bacia leiteira, situada no município de Castro,
sendo um dos focos principais da economia da região, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012). Devido a especialização
na produção de leite dessa região, 70% da litragem é oriunda dos manejos
intensivos e semi-intensivos aos quais as vacas são mantidas, sistemas esses
de criação com custos totais relativamente elevados (SILVA et al., 2008).
Diante desse cenário, uma alternativa é a implantação do sistema de
integração lavoura-pecuária (ILP), criando fêmeas para reposição das vacas
de leite em pastagens anuais de inverno, nas mesmas áreas que foram
utilizadas no verão para produzir grãos, incluindo nova fonte de renda para
a empresa rural (BALBINOT JUNIOR et al., 2009).

Os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) se adequam para a


produção de carne e leite, colaborando para diversificar as fontes de renda
e ajudando com benefícios biológicos e técnicos, resultando na queda dos
riscos de produção (LAZZAROTTO et al., 2010). Em estudo da rentabilidade
do sistema de ILP realizado no estado do Paraná com novilhas de leite, em
relação a agricultura de cereais de inverno e ao plantio de soja e milho na
estação do verão, recomenda-se a criação de novilhas de leite em pastagens
de ciclo anual de inverno como alternativa rentável aos produtores (SILVA et
al., 2012).

O segundo estado em produção de leite no Brasil é o Rio Grande do


Sul, respondendo por 3,4 bilhões de litros, na modalidade de agricultura
familiar nas propriedades, caracterizando as pequenas áreas rurais como
principais produtoras de leite (MARTINS et al., 2006; BRASIL, 2009). A
integração lavoura-pecuária no Rio Grande do Sul vem se desenvolvendo na
região Norte do Estado, visando principalmente a pecuária de leite
(FINAMORE, 2010). Propriedades familiares que adotam o sistema de ILP
reduzem os riscos de prejuízo e elevam os lucros (AMBROSI et al., 2001).
Para o sucesso da ILP cuidados especiais devem ser direcionados para um
manejo correto das áreas de pastagem, bem como da correção da
fertilidade e acidez do solo (BALBINOT et al., 2009).

A qualidade do leite, teor de proteína, gordura e sólidos não


gordurosos foi objeto de estudo em propriedades familiares com atividade
leiteira que adotavam o sistema de ILP. Os autores concluíram que o solo
utilizado na ILP para o cultivo de grãos reduz a área de pastejo,
influenciaram negativamente a qualidade do leite, principalmente na
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

estação do verão (SANTOS et al., 2012).

5 INFLUÊNCIA DA ILP NA QUALIDADE FÍSICA E FERTILIDADE DO SOLO

A pecuária realizada de forma sustentável deve zelar pela não


degradação das pastagens. Essa degradação de áreas de pasto se deve ao
manejo inadequado dos animais e a não reposição de nutrientes extraídos
pela vegetação do pasto (MACEDO, 2009). A recuperação de áreas
degradadas pode ser feita com o uso da integração lavoura-pecuária (ILP),
devido à incorporação ao solo de resíduos vegetais (VILELA et al., 2008). A
densidade do solo e a resistência à penetração aumentam com a elevação
da densidade de animais na pastagem, o sistema de integração ILP permite
rotacionar a área, minimizando esses efeitos negativos, ainda não se sabe
por quantos anos consecutivos a área de pastagem deve ser mantida para
que o solo não sofra os efeitos deletérios do pisoteio (MARCHÃO et al.,
2007; SANTOS et al., 2011).

Em sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) a qualidade física do


solo não se mostrou superior após quatro anos da implantação da rotação
de área, em solo do Cerrado, quando comparado com área de pastejo
contínuo de forma tradicional. Sabe-se que a produtividade da atividade
agrícola após o uso da área com pastagem é superior, revelando assim uma
vantagem da integração (SANTOS et al., 2011). Nos sistemas de plantio
direto, a pecuária é visualizada como um fator complicador devido a
compactação do solo, do consumo da massa vegetal que serviria de
cobertura natural e da necessidade do emprego de mão-de-obra
especializada (FONTANELI et al., 2006). A fixação de nitrogênio no solo

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


oriundo do ar é feita pelas leguminosas em culturas anuais em rotação de
áreas de pastagem. Assim, melhorando a fertilidade do solo e melhorando a
estrutura físico-química do solo. O uso de rotação com diferentes espécies
vegetais quanto ao tipo de raiz, reduz as doenças na lavoura (SANTOS et al.,
2001).

No sistema de integração lavoura-pecuária, com produção de grãos


em rotação com pastagem anual de inverno e de verão, a fertilidade do solo
após oito anos de uso do sistema elevou os teores do solo de fósforo,
potássio e matéria orgânica nas camadas de 0 até 10 cm de profundidade
(SANTOS et al., 2009).

6 POLÍTICAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A INTEGRAÇÃO LAVOURA-


PECUÁRIA

Nesses últimos 20 anos, o Brasil vem ampliando sua característica de


produtor e exportador no setor do agronegócio, colaborando com o
desenvolvimento de novas tecnologias (FERNANDES et al., 2014). As
emissões de dióxido de carbono e de gases que colaboram com o efeito
estufa como: o óxido nitroso e metano vêm aumentando dentro do cenário
da intensificação da produção industrial e do agronegócio, causando
preocupação com o aquecimento global e mudanças no clima (IPCC, 2007).
Na vegetação de Cerrado, a recuperação de pastagens e a produção de
grãos em áreas antes degradadas são importantes para a sustentabilidade e
ampliação da agropecuária eficiente (VILELA et al., 2008). Os sistemas
especializados de produção de milho e soja da região Centro-Oeste,
apresentam lucratividade maior, em relação ao sistema de integração
lavoura-pecuária (ILP) (FERNANDES; FINCO, 2014).

Verifica-se um desgaste do tradicional modelo de exploração


agropecuária de áreas do Brasil Central, devido ao manejo inadequado do
solo e da não reposição com adubos e nutrientes. Preconiza-se o uso de
sistemas que colaborem com a ideia do conservacionismo de áreas rurais,
como o plantio direto, das culturas em rotação e mais recentemente do
sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) (COSTA et al., 2015).
Os efeitos do aquecimento global podem ser atenuados pelo sistema
solo=planta, onde o carbono é mantido ou acumulado no solo. O solo
manejado de forma inadequada contribui para a emissão de gases do efeito
estufa com a presença de degradação da matéria orgânica e alterando os
atributos físicos e químicos da área de cultura (CARVALHO et al., 2010).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Uma recente alternativa para as pequenas propriedades e a


ensilagem de forrageiras consorciadas com a produção de grãos, em sistema
ILP, produzindo alimento aos animais e favorecendo a cobertura vegetal do
solo para a adoção do sistema de plantio direto (COSTA et al., 2015).
Alterações químicas e físicas no solo do tipo latossolo vermelho foram
identificadas na região de Cerrado, manejado em sistema de integração
lavoura-pecuária (ILP), seguido por plantio direto. Ao longo de três anos
esse sistema ILP, propiciou melhoria na macroporosidade e porosidade
total, e redução da resistência mecânica à penetração além do decréscimo
da densidade do solo nas camadas de zero a 10 cm e de 10 a 20 cm de
profundidade (COSTA et al., 2015).

O sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) associado ao manejo


de plantio direto tem sido empregado em diversos países do mundo com
vantagens para as duas atividades: agricultura e pecuária, preservando o
meio ambiente e trazendo lucros (KLUTHCOUSKI et al., 2000; LANDERS,
2007; TRACY; ZHANG, 2008). A cultura de milho no Brasil plantada em 7.724
-1
ha, com 4.412 kg.ha se destaca como a principal lavoura produtora de
grãos em sistemas de integração lavoura-pecuária (COSTA et al., 2012).
Sendo uma boa alternativa para as propriedades que criam vacas de leite no
sistema de agricultura familiar.

Indicadores de produtividade e custo operacional total foram


avaliados em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP), onde se
verificou que a associação em sistema de plantio direto resultou em melhor
desenvolvimento técnico e econômico foi o milho em consórcio com a
-1 -1
Brachiaria brizantha, adubados com N a 100 kg.ha .ano e cultivo de feião
no inverno (COSTA et al., 2012). Compilando resultados de experimentos e
análises de sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) se observa que no
Sul do Brasil efeitos positivos na qualidade do solo e na produção de leite,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


carne e produtos agrícolas com redução de custos e aumento dos lucros
(BALBINOT JUNIOR et al., 2009).

7 BEM-ESTAR ANIMAL NA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL MONITORADO PELA


TERMOGRAFIA DE INFRAVERMELHO

A produção de bovinos na pecuária brasileira caracteriza-se por ser


realizada, predominantemente, em sistemas extensivos de criação. A
produtividade de bovinos de corte em pastagem nas regiões tropicais está
diretamente relacionada à capacidade de adaptação às condições
ambientais, sendo a tolerância ao calor um dos aspectos mais importantes
neste processo (MAGALHÃES et al., 2000; McMANUS et al., 2009).

Um dos fatores limitantes na produção de bovinos no clima tropical é


o estresse térmico. Sob altas temperaturas, a produção dos animais é menor
e o índice reprodutivo aparece reduzido (FUQUAY, 1981). Em gado de corte,
diferentes raças ou animais mestiços são utilizados para o clima quente.
Raças cruzadas de gado leiteiro apresentam menor sucesso, pois produzem
menos leite que a raça Holandesa (McDOWELL et al., 1996).

A produtividade máxima só pode ser atingida se os animais forem


mantidos na zona de termoneutralidade (ZTN), a qual consiste em uma faixa
de temperatura que confere conforto térmico com gasto mínimo de energia
para manter a homeotermia (SILVA, 2000). De acordo com o NRC (1981), os
animais de produção possuem zonas de conforto térmico, às quais
dependem da espécie animal, do estado fisiológico dos mesmos, umidade
relativa e velocidade do ar, além do grau de radiação solar.

Um conceito comumente utilizado de bem-estar é o proposto pela


Farm Animal Welfare Council (FAWC, 1992) que propõe um programa
contendo as “cinco liberdades”, sendo: 1) fisiológica: ausência de fome ou
de sede; 2) ambiental: edificações adaptadas; 3) sanitária: ausência de
doenças; 4) comportamental: possibilidade de exprimir comportamentos
normais e sua interação com outros animais e 5) psicológica: ausência de
medo ou ansiedade.

Uma das formas de monitorar o conforto térmico dos animais é com


o uso da termografia de infravermelho. Esta tecnologia consiste na captação
da energia calórica dissipada pelos animais, a qual é captada pelo
equipamento de infravermelho e registrada em forma de termogramas que
são analisados por programas de computador, fornecendo dados de
temperatura que auxiliam na tomada de decisões na propriedade para
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

mitigar o estresse térmico dos animais. Existem muitas aplicações da


termografia por infravermelho ou imagem térmica na área de bem-estar
animal e produção. Estes incluem a medição da temperatura corporal e
caracterização de troca térmica em uma variedade de ambientes
desafiadores e durante procedimentos como a manipulação, transporte e
abate. A termografia também permite que o monitoramento da eficácia dos
tratamentos e práticas destinadas a melhorar o bem-estar e a saúde dos
animais e pode ser utilizado para monitorar a recuperação de estados
patológicos e lesões e para avaliar a cura (EDDY et al., 2001).

Distribuição de temperatura anormal ou assimétrica tem sido usada


como indicadores para a identificação de problemas com circulação
sanguínea ou respostas inflamatórias. A natureza não invasiva da
Termografia digital por infravermelho tornou-se, particularmente, uma
vantagem para o estudo do bem-estar de animais domésticos. (STEWART et
al., 2005).

Em andrologia veterinária, a termografia digital por infravermelho


tem sido utilizada para avaliar as temperaturas da superfície da bolsa
escrotal. Em condições normais, a temperatura da superfície do escroto de
um touro é 4 a 6°C mais baixa do que a temperatura abdominal (ARTEAGA
et al., 2005;.BRITO et al., 2003; 2004; KASTELIC et al., 1996a; KASTELIC et al.,
1997) e tem um gradiente de cima para baixo positivo, com a parte superior
mais quente do que a parte inferior (KASTELIC et al., 1996a).

Nosso grupo de pesquisa faz uso da termografia digital de


infravermelho para o estudo e seleção de touros e vacas mais adaptados às
altas temperaturas, a seguir descrevemos alguns resultados obtidos: estudo
1) Souza et al. (2014) encontraram gradiente de temperatura escrotal de
4,04ºC, sendo a temperatura média do cordão espermático de 36,91±1,56ºC

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


e a temperatura da cauda dos epidídimos de 32,87±1,88ºC com aumento da
temperatura ambiente, verifica-se a intensificação da circulação,
vasodilatação, perda de água, pela respiração e pela pele. Ocorre um
aumento da temperatura reta e da taxa respiratória; estudo 2) Souza et al.
(2015) encontraram correlação significativa da temperatura retal
(38,85±0,62ºC) com a temperatura ambiente (r=0,25; P<0,05) e temperatura
do termômetro de globo negro que indica radiação solar (r=0,37; P<0,05);
estudo 4) a temperatura retal, por sua vez, apresentou correlação positiva
significativa com: temperatura do cordão espermático (r=0,51; P<0,05);
temperatura do terço dorsal, médio e ventral dos testículos (r=0,43; 0,37 e
0,33; P<0,05), respectivamente) e temperatura das caudas dos epidídimos
(r=0,32; P<0,05) (CHACUR et al., 2015); e estudo 5) Rydygier et al. (2016)
concluíram que as temperaturas da superfície do escroto e os fatores
climáticos, temperatura e umidade do ar, influenciaram na qualidade do
sêmen, e os autores recomendam o uso da termografia como exame
complementar na avaliação reprodutiva de touros.

Em gado leiteiro, a instalação de câmeras fixas no local, em certos


locais estratégicos (como a sala de ordenha, pós ou calha), ele pode ser útil
para o monitoramento contínuo dos animais e do ambiente, permitindo a
detecção precoce de estados de doença ou fisiológica particularmente útil
para o manejo do rebanho, fornecendo uma vantagem significativa em
termos de bem-estar para o animal e para a economia para o produtor ou
para a empresa. A termografia digital por infravermelho pode auxiliar na
detecção precoce do estro, com reflexos positivos na eficiência reprodutiva
(HURNIK et al., 1985), no diagnóstico precoce de processos inflamatórios da
glândula mamária, como a mastite (SCOTT et al., 2000; BERRY et al., 2003) e
no auxílio diagnóstico de afecções do aparelho ósteo-muscular que pode
levar o animal a apresentar claudicação (NIKKAH et al., 2005).

Bastos et al. (2015) concluíram que a termografia digital por


infravermelho deve ser utilizada como exame complementar da glândula
mamária de vacas visando a detecção precoce da elevação da temperatura
da superfície da pele, colaborando para o manejo preventivo da mastite
subclínica nas granjas de leite.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade agropecuária no Brasil sofreu modificações constantes


desde a década de 50, onde a política de abertura da fronteira agrícola e
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

pecuária foi utilizada como ferramenta pelo governo Federal para colonizar
e ocupar novas áreas, principalmente, nas regiões Centro-Oeste e Norte. À
partir da década de 80, a abertura da fronteira agrícola e pecuária começou
a ser questionada devido impactos causados na vegetação nativa, fauna e
componentes químicos e físicos do solo. Nos anos 2000, se acirrou a disputa
por áreas rurais, concomitante a necessidade econômica de se produzir
mais alimentos nas mesmas áreas existentes, propiciando a ampliação do
sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), o qual compartilha em rotação
de atividades de produção vegetal e animal uma mesma área ou áreas
vizinhas, maximizando o uso das áreas. O sistema de ILP pode ser usado em
pequenas propriedades, diversificando as fontes de renda no sistema
sustentável de produção familiar, com grãos e leite ou carne, reduzindo
assim as chances de prejuízos econômicos do pequeno produtor. Vale
destacar que o sistema de ILP traz benefícios à fertilidade do solo, reduzindo
a compactação devido à densidade animal, e aumentando a porosidade e
elementos químicos e biológicos importantes nas camadas até 20 cm de
profundidade. A monitoração do estresse térmico em animais é
recomendada, sendo a termografia de infravermelho um indicador de
acurácia para direcionar as tomadas de decisão e manejo para mitigar o
estresse em animais de produção.
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(Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
SEÇÃO 02 - ÁGUA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


MANEJO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS
HÍDRICOS

USO DE REDES NEURAIS NO MONITORAMENTO DA


RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

INTEGRAÇÃO DA LAVOURA E PECUÁRIA COMO


ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 4

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


MANEJO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS
HÍDRICOS

1
Raimundo Nonato Farias Monteiro
2
Fernando Ferrari Putti
3
Ana Paula Russo Schimidt Jefery
4
Josué Ferreira Silva Junior
5
Ilca Puertas de Freitas e Silva

1
Dr. em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”. E-mail: raimundomonteiro@live.com.
2
Dr. em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”. E-mail: fernandoputti@gmail.com.
3
Doutoranda em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”. E-mail: schimidtana@gmail.com.
4
Doutorando em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”. E-mail: josue_ferreira@hotmail.com.
5
Dra. em Agronomia (Agricultura), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. E-
mail: ilca_pfs@yahoo.com.br
RESUMO
Sabe-se que a fonte essencial para a vida em nosso planeta é a água, e
mesmo sendo constituinte de grande parte da superfície do globo, apenas
uma pequena porção está acessível ao uso. Grande parte do volume de água
doce existente no mundo está concentrada em poucos países e o Brasil, com
suas dimensões continentais, possui 13,7% do total deste recurso, no
entanto ainda sofre problemas de restrição hídrica, devido sua má
distribuição espacial. À agricultura é o setor que mais consome água em
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

nosso país, seguida pelo uso doméstico e industrial. Apesar de o homem ter
consciência da importância deste recurso, bem como de seu valor
econômico, pouco se tem dado a devida atenção à questão da sua
preservação.
A preservação dos recursos hídricos leva em conta dois parâmetros
imprescindíveis, o primeiro diz respeito à unidade do corpo d’água, levando
em consideração sua integridade e proteção dentro da sua unidade de
conservação, a bacia hidrográfica. O segundo parâmetro é sobre a qualidade
da água e a conservação de suas propriedades naturais.
Segundo Callisto e Gonçalves Júnior (2005) além da preservação dos
corpos d’água, a qualidade da água pode ser considerada um dos principais
problemas da humanidade no século XXI, em decorrência de diferentes
atividades como mineração, lançamento de esgotos sem tratamento nos
leitos dos rios, utilização de produtos químicos na agricultura sem a devida
precaução dos danos, retirada da vegetação ripária e depósito de lixo.
A garantia de preservação dos recursos hídricos, bem como a
conservação da natureza e a proteção ambiental são áreas estratégicas para
a obtenção do desenvolvimento sustentável. Em se tratando deste assunto,
o manejo sustentável dos recursos hídricos, nada mais é que uma gestão
integrada em função dos seus diferentes tipos de uso.
Em nosso país a Lei nº 9.433 de janeiro de 1997, também conhecida
como a “Lei das Águas” assegura a disponibilidade deste recurso, bem como
a sua utilização racional e integrada para a atual e para as futuras gerações.
O Brasil, conhecido como o "país das águas", vem buscando servir de
exemplo para o mundo no quesito gestão e preservação deste recurso.
Atualmente, vários países enfrentam problemas com a falta de água,
e em alguns deles o problema de escassez é crônica. No Brasil, a ocorrência

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


mais frequente de seca reside no Nordeste, enquanto problemas sérios de
abastecimento em outras regiões já são identificados e conhecidos. Alguns
organismos internacionais têm alertado para o fato de que nos próximos
anos cerca de 2,8 bilhões de pessoas poderão viver em regiões com extrema
falta de água, inclusive para o próprio consumo (PAZ et al., 2000).
Tundisi (2008) destaca no contexto social, econômico e ambiental do
século XXI, os principais problemas e processos que influenciarão na
escassez de água como sendo o intenso processo de urbanização,
aumentando assim a demanda pela água e ampliando a descarga de
recursos hídricos contaminados; a infraestrutura deficiente, em muitas
áreas urbanas com até 30% de perdas na rede após o tratamento das águas;
problemas de estresse e escassez em razão de mudanças climáticas globais
com a maior probabilidade de eventos hidrológicos extremos (chuvas
intensas e períodos intensos de seca), aumentando assim a vulnerabilidade
da população humana e comprometendo a segurança alimentar; problemas
relacionados a falta de ações governamentais de segurança hídrica e na
questão da sustentabilidade ambiental.

1 RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO AMBIENTAL

Independente de ambiente em que vivemos, dependemos


diretamente da água para nossa sobrevivência, sendo sua preservação e
conservação uma prática de grande importância devido a sua essencialidade
à vida. Cerca de 71% da superfície do nosso planeta está coberta por água
em seu estado líquido, entretanto 97,4% aproximadamente desse montante
está nos oceanos, contendo muito cloreto de sódio dentre outros minerais,
impossibilitando seu uso ao consumo humano. Os outros 2,6% restantes
encontram-se com uma concentração inferior desses sais, porém nem todo
esse volume está prontamente disponível ao homem e a outros seres vivos.
68,9% encontra-se em estado sólido na forma de geleiras e icebergs
localizados nos pólos do planeta, 29,9% encontra-se em leitos subterrâneos,
0,9% encontra-se em nuvens e nos próprios seres vivos, apenas 0,3%
encontra-se em rios e lagos na forma de água superficial.
A desuniformidade de distribuição dos recursos hídricos no globo é
uma condição importante no desenvolvimento dos povos. Em regiões onde
há ampla disponibilidade hídrica favorece esse desenvolvimento, já em
regiões onde o déficit desse recurso é forte, ocorre o inverso. Ainda se
tratando da desuniformidade dos recursos hídricos no globo, essa situação
gera a ocorrência natural de eventos extremos, como inundações, secas,
deficiência hídrica em diferentes regiões, o que expande o nível de conflitos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

pela posse desse recurso.


A gestão de águas inicia-se com o entendimento do ciclo hidrológico
e seu maior foco de estudo é na fase terrestre, que tem como seu elemento
fundamental de análise a bacia hidrográfica. De acordo com Silveira (2013) a
bacia hidrográfica é uma área de captação natural de água da precipitação
que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu
exutório. Para Leal (1998) os processos hidrológicos, em suas fases terrestre
e fluvial estão estreitamente relacionados com os elementos do meio
ambiente, particularmente, em relação à ocupação do uso do solo: uso
urbano, com lançamento de esgoto, deposição do lixo, captação para
abastecimento e impermeabilização do solo; o uso industrial, como
lançamentos de poluentes e captações; uso rural, como irrigação,
carreamento de sedimentos, erosão de encostas e assoreamento dos cursos
d água; os aproveitamentos minerais, e etc. Todas essas interações com os
elementos ambientais fazem com que a qualidade da água, seja um
indicador da situação ambiental da bacia hidrográfica.
Dessa forma, os problemas relacionados com recursos hídricos não
devem ser separados dos problemas ambientais, devendo suas políticas de
gestão ser articuladas e integradas com as políticas ambientais vigentes.
Alterações climáticas oriundas do aquecimento global terão papel
relevante no ciclo hidrológico e na quantidade e qualidade dos recursos
hídricos. Segundo Tundisi (2008) essas alterações do clima promoverão
diversas mudanças, tanto na disponibilidade deste recurso, quanto na saúde
da população humana. Segundo o mesmo autor, três problemas oriundos
das mudanças do clima sob os recursos hídricos devem ser estudados a fim
de promover possíveis soluções, que são a ocorrência de extremos
hidrológicos, que afetarão milhares de pessoas em razão de desastres
naturais (enchentes, chuvas intensas, aumento de áreas áridas e

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


semiáridas), o que compromete tanto a saúde humana, como a segurança
alimentar. O segundo problema citado pelo autor refere-se à contaminação
dos recursos hídricos em função das alterações do clima, isto é, problemas
com salinização, eutrofização entre outros que agravam a toxidade das
nascentes, bem como as fontes naturais de abastecimento. Em terceiro
lugar o problema é relacionado à economia regional e nacional, em função
dos dois primeiros problemas. No entanto, a solução para o enfrentamento
dessas implicações é adaptar-se a esse novo cenário, promovendo novas
políticas públicas em nível de bacia hidrográfica, desenvolvendo novas
tecnologias de monitoramento e gestão, aumentando a participação da
comunidade, nesse novo modelo de gestão e no compartilhamento dos
processos tecnológicos que irão melhorar a infraestrutura do banco de
dados e dar maior sustentabilidade às ações propostas.

2 MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA

À medida em que a sociedade se desenvolve intensificam-se as


demandas por água em quantidade e qualidade. No princípio a água
destinava-se principalmente para dessedentação humana, criação de
animais e outros usos agrícolas, e sua fonte principal era a chuva.
Na medida em que a civilização se desenvolveu, outros tipos de
necessidades foram surgindo. Segundo as Nações Unidas (1976), as
demandas de água podem ser inseridas três grandes classes:
- Da infraestrutura social: refere-se às demandas gerais da sociedade
nas quais a água é um bem de consumo final. São demandas dessa classe: a
dessedentação de animais, a navegação, os usos domésticos, o uso para
recreação e os usos públicos;
- Da agricultura e aquicultura: referem-se às demandas de água como
bem de consumo intermediário visando à criação de condições ambientais
adequadas para o desenvolvimento de espécies animais ou vegetais de
interesse para a sociedade. Como por exemplo: São exemplos das
demandas de água como bem de consumo intermediário: a
agricultura, a piscicultura, a pecuária, o uso de estuários, a irrigação e a
conservação
de banhados.
- Da indústria: Nesta classe estão inseridas as demandas para
atividades de processamento industrial e energético nas quais a água entra
como bem de consumo intermediário. O uso para o arrefecimento de
processos com geração de calor, a mineração, a hidroeletricidade, o
processamento industrial, a termoeletricidade e o transporte hidráulico são
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

exemplos das demandas para atividades de processamento industrial.


Analisando as demandas sob a ótica do tipo de utilização da água
pode-se destacar três possibilidades: uso consuntivo, uso não-consuntivo e
o uso local. O uso consuntivo refere-se aos usos que retiram parte da água
captada de sua fonte natural diminuindo sua disponibilidade no tempo e no
espaço. Os usos não consuntivos por sua vez, são aqueles que utilizam a
água e ela retorna ou permanece em sua fonte natural podendo haver
alguma alteração na sua disponibilidade quantitativa temporal.
Uso local refere-se aos usos que aproveitam a disponibilidade de
água em sua fonte sem qualquer modificação relevante, temporal ou
espacial, de disponibilidade quantitativa.

Tabela 1 Principais categorias de demandas de água.


CATEGORIAS DEMANDAS TIPO DE USO

- dessedentação animal; - consuntivo;


- navegação; - não-consuntivo;
- usos domésticos; - consuntivo;
Infraestrutura social
- recreação; - não-consuntivo;
- usos públicos; - ambos;
- amenidades. - não consuntivo.
- consuntivo;
- agricultura;
- não-cosuntivo;
- piscicultura;
- consuntivo;
Agricultura e aquicultura - pecuária;
- não- consuntivo e
- uso de estuários;
local;
- irrigação;
- consuntivo;
- conservação de banhados.
- uso local;
- arrefecimento; - consuntivo;
- mineração; - não-consuntivo;

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Industrial - hidroeletricidade; - não-consuntivo;
- processamento industrial; - consuntivo;
- termoeletricidade; - consuntivo;
- transporte hidráulico. - consuntivo.
- transporte, diluição e depuração
Em todas as categorias - não-consuntivo.
de efluentes.
Proteção (Preservação, - consideração de valores de opção
- não-consuntivo e local.
conservação e recuperação). de uso, de existência ou intrínseco.
Fonte: Adaptado de Nações Unidas (1976).

Tem-se, portanto, um único recurso ou bem comum, para atender à


diversos usos e interesses. De acordo com Di Mauro (2014), são muitos os
países, cerca de oitenta (80), com problemas críticos que tendem a se
transformar em conflitos pela baixa disponibilidade hídrica. Enquanto isso,
dez (10) países, entre os quais o Brasil, possuem em seus territórios 60% do
total da água doce. Torna-se evidente que, nessas condições da distribuição
hídrica na superfície do planeta, surgem disputas e interesses por territórios
onde haja disponibilidade hídrica e recarga de aquíferos, a água se
transforma em importante fonte de poder, com controle econômico e
social.
Há inúmeros registros de conflitos que tiveram como motivação o
controle de áreas com disputas hídricas, a exemplo da Guerra entre Irã e
Iraque, no ano de 1980, para controlar o rio Chatt-El-Arab; Lutas bélicas
entre a Turquia, Síria e Iraque, envolvendo os rios Tigre e Eufrates; os
conflitos entre Mauritânia e Senegal, em 1989, para controlar as margens do
rio Senegal, para as etnias de criadores de gado nômades e agricultores
sedentários (DI MAURO 2014; SHIVA 2006).
No Brasil também não faltam exemplos de conflitos gerados pelos
múltiplos usos da água. Segundo levantamento da Comissão Pastoral da
Terra (CANUTO et al., 2014), conflitos foram registrados em todas as regiões
do país e em todas as bacias hidrográficas. Quanto aos biomas, a Mata
Atlântica e a caatinga são onde aconteceram mais disputas.
O mesmo levantamento aponta o Pará como estado com o maior
número de famílias envolvidas (69.302), entre 2005 e 2014, em conflitos
pela água a maior parte por conta da Construção da Hidrelétrica de Belo
Monte.
O Rio de Janeiro apresentou em 2013 o maior número de famílias
envolvidas, e ficou em segundo lugar em 2014 devido sobretudo à
implantação do complexo industrial da Companhia Siderúrgica do Atlântico,
um empreendimento que envolve Vale, Thyssen Krupp e CSA.
O gerenciamento integrado dos recursos hídricos deve harmonizar a
oferta com as necessidades de água, para atender os usos consuntivos e não
consuntivos, sem que haja o risco de conflitos, nem redução da quantidade
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

ou deterioração da qualidade pela água de retorno pelo lançamento de


resíduos nos corpos de água e, também, atender as necessidades dos
ecossistemas (CHRISTOFIDIS, 2013).
O modelo de gestão de recursos hídricos no Brasil está baseado na
Lei Federal 9433/97 que criou a base normativa da Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH), bem como o Sistema Nacional de Gerenciamento
dos Recursos Hídricos (SINGREH). Atribui aos Comitês de Bacias
Hidrográficas (CBHs) a responsabilidade de administrar em primeira
instância os conflitos identificados pelo uso da água, no território que está
sob sua jurisdição.
A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos: I - a água é um bem de domínio público; II - a água é um
recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situações de
escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a
dessedentação de animais; IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre
proporcionar o uso múltiplo das águas; V - a bacia hidrográfica é a unidade
territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e
atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI - a
gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
Tem como objetivos: assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,
incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
sustentável; a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de
origem natural ou decorrente do uso inadequado dos recursos naturais.
Os Comitês de Bacias Hidrográficas são órgãos onde representantes
do Poder Público (das esferas municipal e estadual), da sociedade civil

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


(ONGs, universidades, associações) e de usuários de água se reúnem,
discutem e decidem sobre um interesse comum – o uso d'água em
determinada bacia hidrográfica.
Cada bacia hidrográfica deve ter um comitê com seu próprio
estatuto, no qual são definidas as regras e procedimentos. No entanto,
todos têm as mesmas atribuições, definidas pela Política Nacional de
Recursos Hídricos:
a) de natureza deliberativa (decisória): arbitrar em primeira instância
administrativa os conflitos pelo uso da água; aprovar o Plano de Recursos
Hídricos da Bacia Hidrográfica (metas de racionalização de uso, aumento da
quantidade e melhoria da qualidade; prioridades para outorga de direito de
uso de recursos hídricos; diretrizes e critérios gerais para cobrança; e
condições de operação de reservatórios, visando a garantir os usos
múltiplos); estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos
hídricos; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso
múltiplo, de interesse comum ou coletivo.
b) de natureza propositiva: acompanhar a execução do Plano de
Recursos Hídricos da Bacia e sugerir as providências necessárias ao
cumprimento de suas metas; propor os usos não outorgáveis ou de pouca
expressão ao Conselho de Recursos Hídricos competente; escolher a
alternativa para enquadramento dos corpos d'água e encaminhá-la aos
conselhos de recursos hídricos competentes; sugerir os valores a serem
cobrados pelo uso da água; propor aos conselhos de recursos hídricos a
criação de áreas de restrição de uso, com vista à proteção dos recursos
hídricos; propor aos conselhos de recursos hídricos as prioridades para
aplicação de recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos
do setor elétrico na bacia;
c) de natureza consultiva: Promover o debate das questões
relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades
intervenientes.
Qualquer cidadão ou instituição tem acesso livre às reuniões dos
Comitês. Contudo, somente entidades ou usuários que compõem o plenário
podem votar e decidir sobre propostas e projetos apresentados.
Através da página Comitês de Bacias Hidrográficas da Agência
Nacional de Águas – ANA, é possível obter informações sobre todos os
comitês atualmente existentes, sejam eles estaduais ou interestaduais.

3 MANEJO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA NA AGRICULTURA

A crescente demanda por água, principalmente pelo setor agrícola


(PIMENTEL et al., 1999; QADIR et al., 2003), tem proporcionado sérias
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

preocupações quanto à sua disponibilidade para usos futuros. Nesse sentido


grandes esforços têm sido realizados por pesquisadores e agricultores a fim
de garantir a qualidade e a disponibilidade deste recurso vital (MOHAMMAD
et al., 2013).
Dados da FAO estimam que cerca de 70% da água consumida no
mundo é utilizada na agricultura para a produção de alimentos. Entretanto,
os recentes eventos de extremos climáticos têm revelado a sensibilidade do
planeta às interferências humanas e, em episódios de secas prolongadas,
restringem-se ou impedem-se a captação de água para a produção de
alimentos, uma vez que o consumo humano e a dessedentação animal são
prioridades conforme o Art. 1, Inciso III, da Lei 9.433 de 8 de janeiro de
1997.
Estima-se que metade da água utilizada nas atividades agrícolas são
desperdiçadas e os motivos são, entre outros, irrigações mal executadas e
falta de controle do agricultor na quantidade usada em lavouras e no
processamento dos produtos. Esses impactos recaem sobre o ecossistema,
já que lençóis freáticos e rios sofrem com a falta de chuvas e correm o risco
de secar ao longo dos anos (ANTONELLI, 2012).
Em uma propriedade rural seja ela pequena ou grande; baseada na
atividade familiar ou na atividade empresarial a água é sempre um recurso
natural indispensável. A água é usada para dessedentação das pessoas que
ali residem ou trabalham; para a limpeza de casas, barracões, máquinas e
equipamentos; é usada no preparo de alimentos; é usada para
dessedentação animal e como recurso para a produção vegetal
propriamente dita.
A preocupação mundial com os recursos hídricos e,
consequentemente, com a quantidade de água utilizada na irrigação

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


resultam em uma busca por um manejo racional da irrigação, que seja mais
eficaz, que utilize somente o que é realmente necessário para obter altas
produtividades e não desperdiçar água de boa qualidade (PEIXOTO, 2011).
A irrigação pode ser aplicada das seguintes formas: por inundação,
por aspersão e localizada. Essa ordenação segue uma sequência crescente
quanto à eficiência de aplicação e distribuição de água, sendo a irrigação por
inundação menos eficaz que a irrigação localizada. Entretanto, a escolha do
método de irrigação não se baseia apenas na eficiência da aplicação e
distribuição de água, o tipo de solo, a declividade do terreno e os recursos
financeiros do irrigante devem ser levados em consideração.
Independentemente do método de irrigação escolhido, para um
manejo eficiente da água na agricultura é essencial a determinação da
evapotranspiração; e por outro lado, quanto mais precisa for essa
determinação, melhor será a quantificação das lâminas de irrigação a serem
aplicadas (CARVALHO et al., 2007).
Entende-se por evapotranspiração o processo de ocorrência
simultânea da evaporação da água do solo e da transpiração da água pela
planta, sendo uma parcela da água cedida à atmosfera. A evapotranspiração
é o principal componente de saída do balanço hídrico, sendo um processo
de grande relevância para o manejo agrícola (CUNHA et al., 2013). Para
Pereira et al. (1997), a evapotranspiração é controlada, principalmente, pela
disponibilidade de energia, pela demanda atmosférica e pelo suprimento de
água do solo às plantas.
Entre as formas de determinação da evapotranspiração citam-se: a
equação de Penman-Monteith, Hargreaves, Blaney-Criddle (corrigida por
Doorenbos e Pruitt) e o método do tanque classe A. Além da determinação
da evapotranspiração, o conhecimento da curva de retenção de água e o
monitoramento da umidade do solo completam um manejo adequado da
irrigação (MANTOVANI et al., 2009).
Juntas, essas ferramentas auxiliam o agricultor na tomada de decisão
do momento da irrigação e da quantidade necessária a ser aplicada. Por si
só, o conhecimento do manejo da irrigação já torna a utilização dessa
tecnologia, a irrigação, sustentável.
Entretanto, a maioria dos agricultores desconsideram os princípios
básicos que norteiam a irrigação e assim o fazem arbitrariamente. Ignoram
que a aplicação de água, ora em excesso, ora em déficit, de acordo com “o
bico da botina” prejudica o desenvolvimento da cultura.
No primeiro caso, quando excesso, além das perdas econômicas e
dos recursos hídricos, o irrigante contribui, por exemplo, para o aumento de
doenças fitopatogênicas por garantir as condições de umidade ideais ao
desenvolvimento de diversos patógenos. Quando em déficit, a planta
desenvolve-se abaixo do ótimo. Em ambos, o reflexo do manejo inadequado
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

da irrigação é a perda de produtividade e o uso irresponsável de recurso


hídrico.
O manejo sustentável da água na agricultura alia novas tecnologias e
conhecimento técnico ao processo da irrigação. O resultado disso é alta
produtividade com baixo consumo de água. Em Cristalina – GO, maior
parque de irrigação por pivôs centrais, o produtor Audacir Minetto adquiriu
junto a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) uma estação
meteorológica. Quando o produtor inicia um plantio, o agricultor já alimenta
um site do sistema e cadastra a área, o pivô, a cultura, o sistema de plantio,
o espaçamento entre linhas e o número de plantas, para então receber
recomendações diretamente dos técnicos da universidade, com base na
análise de itens como temperatura, umidade do ar e velocidade do vento
(CAETANO, 2012).
Resultado da parceria, redução de 33% no consumo de água gerando
uma economia de R$ 10 mil. O produtor ressalta que, além do uso racional
da água, houve a redução de doenças na lavoura (CAETANO, 2012).
O manejo sustentável da água na agricultura impõe uma quebra de
paradigma. A aparente abundância de água no país sugere que este recurso
é ilimitado, o que não é verdade. O uso irresponsável dos corpos hídricos
compromete a manutenção da irrigação em áreas agrícolas e a segurança
alimentar. Desta forma, o manejo sustentável da água na agricultura
garante a permanência da agricultura irrigada na produção agrícola.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O manejo racional e sustentável da irrigação deve ser utilizado e
adequado conforme as características de cada propriedade. As tecnologias
empregadas e difundidas no manejo da irrigação são fundamentais para
otimização dos sistemas de irrigação, com o objetivo de preservação das
fontes de água e lençóis freáticos.

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CAPÍTULO 5

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO:
ALTERNATIVAS PARA O USO DE ÁGUAS
SALOBRAS NO SEMIÁRIO NORDESTINO

1
Alexsandro Oliveira da Silva

1
Doutor, Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia Agrícola. E-mail:
alexsandro@ufc.br
1 INTRODUÇÃO

Devido à elevada demanda hídrica utilizada na agricultura,


principalmente em regiões áridas e semiáridas, a utilização de águas de
qualidade inferior vem crescendo de maneira significativa, pois o uso de
águas de boa qualidade como as águas superficiais, cada dia se torna um
bem raro, sendo este recurso priorizado para dessedentação humana e de
animais. Por isso, fontes alternativas de água para suprir as necessidades
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

hídricas das culturas em regiões áridas e semiáridas são de vital importância


para o desenvolvimento da agricultura irrigada.
Uma dessas fontes alternativas de água em detrimento das águas
superficiais na Região Nordeste do Brasil, são as reservas subterrâneas que
podem ser racionalmente exploradas para atividades econômicas (SOARES
et al., 2007). Contudo nas regiões semiáridas do Brasil, devido a sua
constituição rochosa, e fatores climáticos como a baixa infiltração de água,
consequência do baixo regime pluviométrico desta região, as águas
subterrâneas em sua maioria são salobras (AUDRY; SUASSUNA, 1995;
REBOUÇAS, 1999), o que impede sua exploração para consumo humano.
Portanto, essas águas podem ser aproveitadas para o uso na agricultura
irrigada, porém, o uso dessas águas de maneira sustentável, sem agressões
ao meio ambiente ainda é um desafio recorrente, sendo necessário o
desenvolvimento de técnicas para o seu uso adequado.
Dentre as técnicas para o controle de águas com teor elevado de sais,
utilizadas de maneira frequente, podemos destacar a drenagem agrícola,
lâminas de lixiviação e o uso de culturas tolerantes. A drenagem agrícola é
uma técnica que possibilita o controle do nível freático, além de assegurar a
eliminação de parte da água salina e o deslocamento de sais a lugares mais
profundos do solo (AYERS; WESTCOTT, 1991). O controle da salinidade por
lâminas de lixiviação é realizado aplicando-se na zona radicular mais água do
que a necessidade das plantas, com o intuito de remover uma parte dos sais
acumulados no solo (RHOADES, 1980) é uma técnica complementar ao uso
da drenagem, sendo de grande importância para remoção de sais próxima a
zona radicular. O uso de culturas tolerantes a salinidade é uma técnica
bastante explorada, contudo apesar de ser uma alternativa, existe a questão
da restrição econômica em certos períodos do ano, que podem inviabilizar
tal uso. Neste contexto, o uso destas técnicas de maneira conjunta podem

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


obter resultados interessantes para o uso de águas de qualidade inferior na
agricultura irrigada.
Há alguns anos, uma outra alternativa vem sendo utilizada de
maneira bastante eficaz no uso de águas salobras, esta técnica é a
hidroponia. O uso do cultivo hidropônico segundo diversas pesquisas
(SOARES et al., 2010; SILVA et al., 2011) pode auxiliar no reuso de águas,
principalmente as de elevada salinidade, pois a ausência de solo promove
redução no potencial osmótico, contribuindo para maior absorção de água,
o que abre a possibilidade de utilizar águas com elevada condutividade
elétrica como as oriundas dos sistemas de drenagem ou de poços artesianos
(SOARES, et al., 2007; SOARES et al., 2010; SANTOS et al., 2010a), fazendo
deste cultivo, uma opção ideal para uso de águas salinas.
Neste contexto, busca-se relatar neste capítulo as principais
alternativas para o uso de águas salobras na agricultura, identificando as
condições ideais para seu uso.

2 DRENAGEM AGRÍCOLA E LIXIVIAÇÃO DE SAIS

A drenagem na agricultura consiste em remover o excesso de água


existente em áreas agrícolas, onde estas podem sofrer redução da sua
produção devido à elevação do lençol freático e pela deposição de sais
próximos ao sistema radicular. No Nordeste brasileiro nas regiões
semiáridas onde os perímetros irrigados estão localizados, existe a
necessidade desta técnica (Figura 1) para evitar o processo de salinização
dos solos e a consequente desertificação destes, já que nestas áreas o
regime de chuva é baixo não promovendo assim, o carreamento dos sais
para camadas de solos mais profundas.
Devido a isto, uma série de fatores são levados em consideração para
a obtenção de um correto projeto de drenagem, dentre estes podemos
destacar: os fatores climáticos, que levam em consideração as recargas de
projeto e as características das chuvas intensas curtas, o escoamento
superficial que observam a magnitude do escoamento e suas estimativas
(DUARTE et al., 2015). Contudo, apesar destes fatores serem de grande
importância, a análise da qualidade da água de irrigação não pode ser
esquecida ou ignorada, pois é fator preponderante para que se possa
quantificar o balanço de sais, e consequentemente calcular a lâmina de
lixiviação necessária para o equilíbrio da concentração de sais no solo e a
remoção destes pelo sistema de drenagem (CRUCIANI, 1988).

Figura 1. Dreno superficial próximo a parreiral de uvas de mesa em fazenda no município de


Lagoa Grande, Sertão pernambucano.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Foto: Diogo Ronielson Marinho de Souza

O controle efetivo da salinidade inclui tanto uma eficiente drenagem


como a lixiviação necessária para evitar a acumulação excessiva de sais na
zona radicular das plantas. Tais técnicas são essenciais para o cultivo com
uso de águas de qualidade inferior como as águas salobras, pois estas águas
podem causar acúmulos de sais significativos no solo conforme sua
utilização na agricultura irrigada (SILVA et al., 2013; AYERS; WESTCOT,
1991). Tal fato é demonstrado por Silva et al. (2013) em estudos sobre a
qualidade da água em irrigação da cultura da beterraba, no qual observaram
um aumento crescente da salinidade do solo conforme o uso destas águas,
-1
mesmo com águas com condutividade elétrica de 0,26 dS m , no qual houve
um aumento relativo da salinidade do solo (Figura 2), o que confirma a
necessidade de lâminas de lixiviações para que a quantidade de sais
localizadas nas camadas de solos próximo as raízes possam ser percolados
para regiões mais profundas ou sejam removidos pelo sistema de
drenagem.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Figura 2. Estimativa da condutividade elétrica do extrato de saturado durante o ciclo produtivo
da beterraba, para diferentes níveis de salinidade da água de irrigação.
14
T1= 0,26 dS/m
12 T2 =2 dS/m
T3 = 3 dS/m
10
CEes (dS m-1)

T4= 4 dS/m

8 T5= 5 dS/m
T6= 6 dS/m
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8
Semana
Fonte: Silva et al., 2013.

Para um correto cálculo da lâmina necessária para lixiviação (NL) dos


sais, deve-se conhecer as lâminas de água de irrigação (Li) e de drenagem
(Ld) com suas respectivas condutividades elétricas (CEi e CEd), conforme
equação abaixo:

O controle da salinidade com o uso de águas salobras depende de


maneira direta do manejo da água, ou seja da irrigação, da lixiviação e da
drenagem conforme Duarte et al. (2015), contudo a frequência da aplicação
das lâminas de lixiviação deve ser de tal maneira, que a concentração de sais
na solução do solo fique abaixo do nível tolerado pelas plantas, portanto o
monitoramento do teor de sais deve ser sempre realizado. Pesquisas como
as de Rhoades (1980) demonstram de maneira clara a relação entre a fração
de lixiviação e a redução da condutividade elétrica em diferentes tipos de
solo, o que evidência a importância desta técnica para o uso de águas
salinas na agricultura irrigada. Contudo, apesar das lâminas de lixiviações e
drenagem serem técnicas imprescindíveis principalmente para o uso de
águas de qualidade inferior, o destino da água drenada pelo sistema ainda é
um problema, já que esta leva consigo uma grande quantidade de sais e
produtos químicos, além do que em diversos lugares do mundo, o seu
destino ainda são as fontes hídricas como rios e lagos o que gera um
elevado impacto ambiental. Por isso, armazenar estas águas como fonte de
reuso pode ser uma opção, podendo reduzir assim, os impactos ambientais
causados por estas.
Segundo Tanji e Kielen (2002) os maiores problemas para o uso de
águas oriundas da drenagem são o excesso de sais e íons como sódio, cálcio,
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

magnésio, cloro, nitrato e etc., traço de elementos tóxicos oriundos de


produtos químicos, além de sedimentos. Uma opção adequada para uso
destas águas seria a utilização conjunta através de mistura ou pelo uso
cíclico das águas de drenagem e outras fontes de água de irrigação.
Contudo, a extensão da reutilização depende da qualidade do efluente de
drenagem, o tempo de disponibilidade, tolerância das culturas e etc.

3 TOLERÂNCIA DAS CULTURAS A SALINIDADE

Na agricultura existe uma gama de espécies de plantas cultivadas que


apresentam entre elas diferentes tolerâncias a um determinado nível de
salinidade do solo, sendo consideradas desde tolerantes, por suportarem
solos com alto teor de sais, a sensíveis, por não resistirem a níveis baixos de
salinidade. Segundo Cruciani (1988) as culturas sensíveis à salinidade sofrem
uma redução progressiva da produção à medida que a concentração salina
aumenta, além de um menor crescimento que é evidenciado pelo tamanho
das folhas, caule e frutos. Lima (1997) afirma que em condições salinas as
plantas passam a ter dificuldades de absorção de água tendendo a excluir os
sais na absorção da solução do solo pelas raízes, havendo, contudo um gasto
extra de energia para tanto, levando ao estresse hídrico por osmose. Tal
dificuldade de absorção de água pelas plantas segundo Reichardt (1996) é
explicado pela contribuição do potencial osmótico no potencial total de
água no solo.
Com relação aos demais efeitos causados nas plantas Larcher (2000)
e Ayers e Westcott (1991) mencionam que altos teores acumulados de Na e

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Cl- na solução do solo provocam perda acentuada de matéria seca nas
plantas, reduzindo assim o desenvolvimento destas. Segundo Silva (2000) a
energia gasta para absorção de água pelas plantas é ainda maior quando a
concentração de sais da solução do solo é elevada, pois o potencial
osmótico neste caso contribui de maneira significativa para o aumento do
potencial total do solo, o que provoca dispêndio maior de energia dos
vegetais para absorção de água, causando redução do consumo de água e
consequentemente da produtividade das culturas. Além do que, absorção
elevada de sais pode provocar toxicidade das plantas, causando
desequilíbrios nutricionais.
Apesar da salinidade do solo causar perdas de produtividade das
culturas, algumas espécies vegetais são mais adaptáveis ao ambiente salino
do que outras, podendo de acordo com nível de salinidade do solo, produzir
de maneira satisfatória, sendo uma alternativa a detrimento de culturas
mais sensíveis ao excesso de sais, principalmente em regiões já afetas por
problemas de salinização. Mass e Hoffman (1977) demonstraram através de
seus trabalhos, uma classificação das culturas de acordo com a sua
tolerância a salinidade do solo, onde a adaptação das culturas varia desde
sensíveis até o nível de tolerantes conforme a Figura 3.
Figura 3. Relação entre produtividade e a salinidade do solo mediada através do extrato de
saturação do solo (CEes), adaptado de Ayers e Westcot (1991).
100

90

80

70
Produtividade (%)

60

50

40
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

30

20
Moderadamente Moderadamente
Sensível Tolerante
10 Sensível Tolerante

0
0 5 10 15 20 25 30 35
CEes (dS m-1)

Na literatura existem diversos trabalhos sobre o uso de águas salinas


e a tolerância das plantas. Garcia et al. (2007), observaram em estudos com
milho sob estresse salino que os teores de sódio nas folhas aumentaram de
acordo com o nível de salinidade no solo reduzindo consequentemente os
teores de cálcio, magnésio e potássio ao longo do ciclo da cultura, refletindo
o desequilíbrio nutricional causado pelo estresse salino progressivo. Silva et
al. (2008) observaram que o uso de águas salinas em ciclos sucessivos no
meloeiro podem causar redução na produção da cultura, causando até a
morte da planta. Em estudos sobre a cultura da beterraba sob a influência
da qualidade da água de irrigação, Silva et al. (2013) observaram uma
redução na produção da cultura em solo com condutividade elétrica do
-1
extrato de saturação (CEes) acima de 1 dS m , sendo que a utilização de
águas de qualidade inferior foi realizada desde o início do cultivo,
mostrando a necessidade do uso de águas de melhor qualidade no
desenvolvimento inicial desta cultura (Figura 4), estes mesmos autores
demonstram a diferença entre a tolerância da beterraba de mesa para a
beterraba açucareira (MASS; HOFFMAN, 1977), observando-se assim que as
condições de cultivo e a espécie podem ser responsáveis pela variação da
tolerância das plantas a salinidade.
Figura 4. Produção total e comercial da beterraba em função da condutividade elétrica do
extrato saturado.
100

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


90 Produção Comercial
Produção Total
Produção relativa (%) 80
70 Maas & Hoffman (1977)

60
50
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
CEes (dSm-1)

Fonte: Silva et al., 2013.

Ayers e Westcot (1991) relatam os efeitos relativos de cada íon nas


plantas e afirmam que nem todas as culturas apresentam a mesma
sensibilidade e que os sintomas de toxicidade frequentemente
acompanham ou complicam os efeitos da salinidade ou de infiltração da
água no solo, podendo aparecer mesmo quando a salinidade é
relativamente baixa. Segundo Silva (2002), a toxidez mais comum é a toxidez
por cloreto de sódio, advinda da água de irrigação, além de serem
absorvidos diretamente através das folhas quando se molha estas durante a
irrigação por aspersão. Porém, existem trabalhos que relatam o problema
de toxicidade das plantas com outros elementos como, por exemplo, o íon
boro em que os sintomas, segundo Ayers e Westcot (1991), aparecem nas
plantas em geral nas folhas, através de manchas amarelas e queima das
bordas foliares.
Portanto, as diferentes espécies de plantas variam sua tolerância à
salinidade como afirmam Maas e Hoffmann (1977) e Lima (1997),
possibilitando assim em alguns casos, o cultivo em solos salinos com manejo
adequado, combinando a espécie a ser utilizada com as épocas de plantio, já
que em épocas mais frias, o baixo consumo de água pode contribuir para
utilização de águas salobras.
4 CULTIVO HIDROPÔNICO COM ÁGUAS SALOBRAS

No Nordeste do Brasil a produção hidropônica vem ganhando


destaque principalmente nas regiões semiáridas, devido a sua maior
eficiência do uso da água com relação ao cultivo convencional (SOARES et
al., 2007), e a oportunidade do aproveitamento de águas salobras oriundas
de poços (SANTOS et al., 2010b). Dessa forma é de suma importância avaliar
técnicas de manejo e a tolerância dessas hortaliças cultivadas em hidroponia
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

com o uso de águas salobras, visando gerar informações práticas para os


agricultores do semiárido brasileiro.
Após testes iniciais sobre o uso de águas salobras na produção da
cultura da alface realizados por Soares et al. (2007) e a resposta positiva
desta cultura em determinados níveis de salinidade da água, pesquisadores
do Nordeste Brasileiro vem desempenhando papel importante no estudo de
várias hortaliças com águas de diferentes qualidades, impróprias para
consumo humano e oriundas principalmente de poços artesianos (SANTOS
et al., 2010a; SILVA et al., 2011; SOARES et al., 2015).
Dentre os efeitos gerados a partir do uso de águas salobras pode-se
destacar a redução da massa das plantas. Entretanto, resultados de
pesquisa (SOARES et al., 2015) tem mostrado que o uso alternado de água
salina, com água de boa qualidade pode reduzir o efeito deletério, podendo
assim ser uma opção de cultivo em regiões em que águas de boa qualidade
são escassas.
Contudo é importante alertar que problemas nutricionais em plantas
cultivadas com águas salobras são quase sempre potencializados, visto que
as águas salobras possuem excesso de íons como o cloreto e o sódio que
podem causar toxidez as plantas, bem como outros íons presentes na água
em excesso, como o carbonato, podendo assim precipitar nutrientes
essenciais. Dentre os efeitos visuais de toxidez observados em hortaliças,
SANTOS et al. (2010a) em pesquisa realizada com o cultivo da alface
hidropônica com o uso de águas salobras, observou-se queima das folhas
devido ao uso intensivo de águas salobras, formação irregular da cabeça,
amarelecimento das folhas (clorose), e coloração escura das folhas.
Com relação aos aspectos nutricionais, estudos mostraram um
aumento considerável de sódio nas plantas hidropônicas quanto se utilizam

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


águas de qualidade inferior (SOARES et al., 2015; MALHEIROS et al., 2010),
tal efeito deve ser levado em consideração na produção hidropônica, já que
a excessiva quantidade de sódio pode tornar o alimento impróprio para o
consumo humano. Soares et al. (2010) afirmam que a qualidade química da
água para hidroponia é fator a ser considerado na seleção de áreas mais
favoráveis para o cultivo hidropônico, contudo técnicas como a reposição
das águas consumidas nos sistemas por águas de melhor qualidade, ou até
mesmo o preparo das águas resultante das misturas das águas salobras com
águas de boa qualidade podem amenizar esses efeitos (SOARES et al., 2015).
A Figura 5 mostra problemas nutricionais causados em cultivo de alface e
rúcula hidropônicas pelo uso de águas salobras proveniente de poços em
região semiárida de Pernambuco.

Figura 5. Sintomas de alface (A) e rúcula (B) submetidas a águas salobras provindas de poços
em cultivo hidropônico

A B

Fonte: Santos et al., 2010 e Silva et al., 2011.

Com relação ao rendimento das culturas em sistemas hidropônicos


com águas salobras, os resultados mostram viabilidade em certos níveis de
salinidade. Em cultivo hidropônico com águas salobras Silva et al. (2011)
observaram uma redução na produção da rúcula de acordo com o aumento
da salinidade da água subterrânea em torno de 3,10%, podendo-se obter
produções satisfatórias com determinadas concentrações de sais na água
utilizada no sistema hidropônico. A figura 6A demonstra a redução na
produção relativa de rúcula submetida a diferentes salinidades de água
salobra provinda de poços em cultivo hidropônico no Semiárido de
Pernambuco. Boa parte da redução relativa da produção do cultivo
hidropônico com águas salobras é explicado pelo baixo consumo de águas e
nutrientes pelas plantas (Figura 6B), já que estas são sensíveis a elevados
níveis de condutividade elétrica da água (CEa) o que dificulta a absorção de
água pelas raízes.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Figura 6. Produção relativa de fitomassa (A) e consumo hídrico (B) de rúcula hidropônica
submetida a diferentes salinidades da água (CEa) de poço na região de Ibimirim-PE
A

B
Dantas (2012) em estudos com agrião e couve chinesa hidropônica,
com águas salobras oriundas de poços na região semiárida de Ibimirim-PE,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


observou diferentes respostas a produtividade da couve, o que leva a crer
que a diferente composição mineral das águas destes poços interferiu na
produção da cultura. Sendo assim são necessárias maiores investigações
sobre a qualidade da água dos poços para a obtenção de resultados mais
conclusivos.
Com o uso de águas salobras a produção do tomate hidropônico
tem sido estudada de maneira abrangente em diversas regiões do país
(COSME et al., 2011; SANTOS et al., 2016 e AMOR et al., 2001) onde algumas
pesquisas observaram reduções na produtividade das culturas entre 7,7% e
5,2% de acordo com o aumento da salinidade da água. Contudo segundo
Santos et al. (2016) os efeitos do uso de águas salobras no cultivo de plantas
podem ser amenizados trabalhando o manejo e a aplicação dessa água em
diferentes fases do ciclo de cultivo da cultura, o que poderia reduzir o
estresse provocado pela composição salina destas águas.
Os sistemas hidropônicos utilizados para o cultivo de hortaliças são
dos mais variados tipos, desde o tipo fechado como NFT (Figura 7A) em que
há recirculação da solução nutritiva, aos do tipo aberto (Figura 7B), no qual
a solução nutritiva que passa além do sistema radicular das plantas não é
aproveitada (SOARES et al., 2010).
A eficiência destes sistemas com relação ao uso de águas salobras,
ainda é estudada com certa cautela, já que os diferentes tipos de qualidade
de água e os diferentes sistemas utilizados podem variar a resposta
produtiva. Contudo, existe um consenso em relação à redução dos efeitos
negativos causados por estas águas, principalmente devido a redução do
potencial total, atribuído a ausência de solo. Em sistema hidropônico aberto,
Santos et al. (2016) observaram reduções da produção dos frutos de tomate
de acordo com o aumento da salinidade da água utilizada no cultivo e o
tempo em que a cultura era exposta a este tipo de água. Em tal estudo, os
autores concluíram que a exposição moderada a salinidade provoca menor
redução da produção dos frutos (1,2%) do que quando submetida ao
período prolongado de exposição (5,6%), o que poderia viabilizar dessa
maneira o uso destas águas.
Figura 7. Tipos de sistemas hidropônicos utilizados para o uso de águas salobras: sistema
fechado circulante tipo NFT (A) e sistema semiaberto (B) utilizando pó de coco como substrato
em vaso.

A B
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Foto: Alexandre Nascimento dos Santos

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de águas salobras na agricultura irrigada em regiões onde a


escassez de recursos hídricos é acentuada deve ser considerada uma
alternativa, pois com práticas adequadas pode-se viabilizar a agricultura de
maneira rentável nessas regiões.

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CAPÍTULO 6

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


AQUAPONIA: SISTEMA DE INOVAÇÃO NO
CULTIVO INTERMITENTE DE PLANTAS E PEIXES

Ariane Flávia do Nascimento1

Eloiza de Souza e Silva Ribeiro2

Laura Helena Orfão3

José Salles Alvim Júnior4

Amanda Maria Nascimento5

1
Professora Dra. do Departamento de Medicina Veterinária - Universidade José do Rosário
Velano – UNIFENAS/ FETA. Email: ariane.nascimento@unifenas.br.
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal - Universidade José do Rosário
Velano – UNIFENAS/ FETA. Email: eloizass1@hotmail.com.
3
Professora Dra. do Departamento de Ciências Agronômicas - Universidade José do Rosário
Velano – UNIFENAS/ FETA. Email: laura.orfao@unifenas.br.
4
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Sistemas Agropecuários - Universidade José do
Rosário Velano – UNIFENAS/ FETA. Email: aquaminas@hotmail.com.
5
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia/Entomologia - Universidade
Federal de Lavras – UFLA. Email: amandanascimentoagro@yahoo.com.br.
Aquaponia é um sistema de produção resultante da integração entre
aquicultura e a hidroponia, por meio de um sistema intensivo de cultivo com
recirculação de água. O termo aquaponia é derivado da ligação das palavras
“aquacultura” que é a produção de organismos aquáticos e da “hidroponia”
que é a produção de plantas sem presença de solo. O sistema tem baixo
consumo de água e um alto aproveitamento de resíduos, onde a água rica
em compostos orgânicos do processo de cultivo de peixes é utilizada como
uma fonte de água e de nutrientes para as culturas vegetais. Através dessa
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

integração é possível produzir peixes e vegetais com menor impacto ao


meio ambiente tanto em escala comercial como em ambientes domésticos
para subsistência.
Na agricultura tradicional o solo é somente um meio de sustentação
e reservatório de nutrientes para as plantas, podendo estas serem
cultivadas sem o uso do solo quando os nutrientes são devidamente
fornecidos. Muitos vegetais são cultivados com sucesso na hidroponia com a
utilização de uma estrutura de apoio para a sustentação das plantas e com o
fornecimento dos nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. A
hidroponia permite o cultivo de vegetais em áreas onde o solo e o clima são
impróprios. Embora muitas pesquisas estejam sendo feitas nesta área, uma
das principais desvantagens da hidroponia é ser um sistema “não orgânico”,
pois existem poucas opções de fertilizantes compostos por matéria orgânica
passíveis de se dissolverem nesse sistema. O sistema de aquaponia
possibilita a redução no uso de fertilizantes inorgânicos, de mão de obra e
infraestrutura, gerando produtos mais saudáveis e sustentáveis. Ainda, a
integração da cultura de plantas com a aquacultura permite que ambas as
operações diminuam a entrada de água e a eliminação de resíduos.

O fundamento da aquaponia é preconizar a reutilização total da


água, evitando assim, seu desperdício e diminuindo, ou até eliminando a
liberação dos efluentes no meio ambiente. No sistema aquapônico o volume
de água necessário é muito baixo quando comparado aos sistemas
tradicionais de agricultura e aquicultura que envolvem irrigação diária e
renovação constante de água, respectivamente. Depois do sistema
abastecido e em funcionamento, pode permanecer por tempo
indeterminado e sem a necessidade de troca de água, havendo reposição
somente da água perdida pela evaporação, evapotranspiração e pelas

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


colheitas. Sendo assim, a aquaponia é mais eficiente na utilização da água e
dos efluentes ricos em nutrientes gerados pela aquicultura. As propriedades
físicas e químicas dos efluentes gerados pelos peixes são dependentes da
espécie e densidade dos peixes, ou organismos aquáticos cultivados,
devendo a espécie vegetal utilizada estar adaptada a essas propriedades.

A redução na utilização de fertilizantes na produção agrícola


tradicional é uma tendência, pois está diretamente relacionada com a
queima de combustiveis fósseis, tanto para sua produção como na sua
aplicação, gerando consequentemente impactos ambientais, como a
contaminação do solo, do lençol freático e contribuindo para o aquecimento
global. Na aquaponia, quando as plantas reutilizam os nutrientes excretados
pelos peixes, atráves do reuso da água da aquacultura, contribuem para a
redução de resíduos da produção dos peixes, e ao mesmo tempo se produz
alimentos gerando menor impacto ao meio ambiente. Assim, o
aproveitamento de efluentes da produção aquícola e a produção de
vegetais com baixa utilização de água vem de encontro às demandas
mundiais de produção de alimentos sustentáveis e de alto valor biológico.

1 PRINCÍPIOS DA AQUAPONIA

A aquaponia é um sistema fechado e complexo, onde existe uma


interação formando um ecossistema artificial que envolve três componentes
biológicos: as plantas, os peixes (ou outro cultivo aquícola) e as bactérias
(Figura 1). Essa interação gera um reaproveitamento de restos de rações,
excretas e outros produtos resultantes do metabolismo dos peixes pela ação
de microrganismos que disponibilizam nutrientes e minerais necessários
para o crescimento das plantas, gerando um ambiente equilibrado e
simbiótico.

Figura 1: Sistema aquapônico.


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na figura acima, a água rica em nutrientes do cultivo dos peixes passa


por um processo de filtração e é bombeada para o sistema de hidroponia.
Os resíduos nitrogenados da aquacultura são transformados por bactérias e
são aproveitados pelos vegetais.

As plantas são produtos secundários, pois o seu crescimento


depende dos níveis de nutrientes providos da decomposição bacteriana e da
eliminação direta pelos peixes na água. Portanto, o insumo mais importante
dentro do sistema aquapônico é a ração fornecida aos peixes, os resíduos
desta darão origem aos nutrientes necessários para o desenvolvimento das
plantas.

Qualquer fator ambiental que possa interferir no consumo e/ou


metabolismo dos peixes, poderá gerar alterações no seu crescimento e
desenvolvimento. Em ambientes controlados, como tanques de cultivo ou
em laboratório, é possível manter estáveis, ou até modificar alguns
parâmetros com a finalidade de aumentar a eficiência na utilização da ração,
e por consequência aumentar o crescimento dos peixes e das plantas. Em
condições de cultivo, muitos parâmetros variam ao mesmo tempo, fazendo
com que as oscilações tenham efeito maior do que isoladamente. Assim, em
criações de peixes em sistemas com recirculação de água devem ser

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


observados fatores como: nitrificação e mineralização por ação das
bactérias, pH, nível de oxigênio (O2) ou oxigênio dissolvido (OD),
temperatura, alcalinidade e dureza da água.

1.1 NITRIFICAÇÃO

No sistema aquapônico existe um fluxo contínuo de nutrientes entre


os diferentes organismos vivos que estão interligados por meio de ciclos
biológicos naturais. A nitrificação corresponde à oxidação biológica da
amônia a nitrato com a formação de nitrito como intermediário, sob
condições aeróbias.

As rações comerciais utilizadas no cultivo de peixes normalmente


possuem altos níveis de proteínas. Parte da ração é assimilada e depositada
no corpo como proteína animal, porém em excesso, o nitrogênio do
metabolismo das proteínas é eliminado na forma de amônia, que é a
principal forma de excreção de nitrogênio dos peixes. A amônia é muito
tóxica para ser armazenada pelos peixes, mas sua conversão em metabólitos
menos tóxicos (uréia e ácido úrico) requer muita energia. Uma vez no
-
ambiente aquático, a amônia é oxidada a nitrito (NO2 ) por bactérias do
-
gênero Nitrosomonas. O nitrito, por sua vez, é oxidado a nitrato (NO 3 ) por
bactérias do gênero Nitrobacter (Figura 2).
- +
2NH4 + 3O2NO2 + 4H + 2H2O (Nitrosomonas)
- -
2 NO2 + O2 2NO3 (Nitrobacter)
Figura 2: Sistema aquapônico demonstrando a reciclagem do nitrogênio
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na imagem acima, o ciclo do nitrogênio no sistema aquapônico


inicia-se com a proteína presente na ração que é fornecida aos peixes e,
consequentemente, há produção de amônia que é excretada na água. A
3-
amônia (NH3) é convertida em nitrato (NO ) por bactérias nitrificantes
4+
(Nitrosomona spp. e Nitrobacter spp.). O nitrato e o íon amônio (NH ) são
absorvidos pelas plantas.

A amônia e o nitrito são tóxicos em baixas concentrações, enquanto


o nitrato apenas em altas concentrações. Os níveis de resíduos nitrogenados
podem ser controlados em sistemas de cultivo com grande fluxo de água,
porém em sistemas fechados, é importante a presença de um filtro
biológico com bactérias.

No sistema de aquacultura, apenas 25% do nitrogênio consumido é


utilizado pela biomassa do peixe, e mais de 70% é excretado para o meio na
forma de amônia. Para que se mantenha uma boa qualidade da água para o
desenvolvimento dos peixes é necessário que a água seja trocada por água
fresca a uma taxa de recirculação de 5 a 10% por dia, eliminando assim
grande parte da amônia acumulada. Esse processo representa um

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


desperdício de recursos naturais e, além disso, o efluente rico em amônia
eliminado no ecossistema pode levar a eutrofização, entre outros problemas
ambientais. Na aquaponia o ciclo de nitrificação é estabelecido e a
reciclagem dos nutrientes minimiza o efeito dessa atividade sobre o
ambiente. No sistema de aquaponia o ciclo de nitrificação tem inicio com a
introdução da proteína através da ração e com a liberação dos dejetos dos
peixes na água. Em sistemas de criação, o alimento introduzido na água é o
principal fator condicionante da dinâmica do nitrogênio. Como produto do
metabolismo proteico, a amônia (NH3) é excretada na água. Portanto, é
necessário retirar ou transformar a amônia presente no sistema. Parte da
remoção da amônia se dá diretamente pelas plantas, uma vez que plantas
utilizadas em hidroponia ou mesmo as plantas utilizadas em filtros
biológicos, apresentam certa capacidade de absorver a amônia. A maior
parte da amônia dissolvida na água necessita ser convertida em nitrato
pelas bactérias, para que seja mais eficientemente aproveitada pelas
plantas. No processo de nitrificação as bactérias dos gêneros Nitrosomonas
e Nitrobacter realizam uma interação sinérgica: oxidam a amônia
inicialmente para nitrito, e, posteriormente, para nitrato, respectivamente.
+
A amônia está presente na água nas formas ionizada (NH 4 ou
amônio) e não ionizada (NH 3 ou amônia). A forma não ionizada é mais tóxica
para os peixes e tem a capacidade de se difundir livremente através das
membranas biológicas. A quantidade dessas formas no ambiente é
extremamente dependente do pH, e de forma menos relevante, da
temperatura e da concentração de íons na água. Em águas alcalinas, a baixa
+
concentração de H , faz com que a reação de conversão de amônio para
amônia se desloque para a esquerda e favoreça o acúmulo de amônia.
+ +
NH3 + H NH4

Em relação à temperatura, quanto mais alta maior a produção da


forma não ionizada NH3.
As espécies de peixes apresentam capacidade variável de tolerância
aos níveis de amônia na água. Normalmente espécies adaptadas a águas
alcalinas possuem maior resistência a altos níveis de NH 3. Para se
estabelecer um bom controle da quantidade de amônia no tanque é preciso
saber as características da espécie utilizada no sistema, bem como ter
controle sobre a temperatura e pH da água.

Os níveis de oxigênio dissolvido também interferem na toxicidade da


amônia, quanto menos oxigênio maior será a toxicidade.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Bactérias nitrificantes são relativamente lentas em se multiplicarem e


estabelecerem colônias, requerendo dias e às vezes semanas. É de extrema
importância que se respeite o tempo necessário para que elas se
estabeleçam para iniciar o funcionamento de todo o sistema. Existem vários
parâmetros para que as culturas bacterianas nitrificantes ajam de forma
eficiente. Bactérias nitrificantes precisam de ambiente amplamente
aeróbico, pH perto da neutralidade, temperaturas entre 20 e 28ºC,
-1
alcalinidade ótima mínima de 100 mg.L e superfície de fixação suficiente
para realizar seu papel na nitrificação. No geral, quanto menor e mais
porosa a partícula de meios para fixação, maior é a superfície disponível
para as bactérias colonizarem.

Assim, ao projetar um sistema de aquaponia, é necessário incluir um


ambiente com ampla superfície de fixação que funcione com um substrato
adequado para as bactérias: argila expandida, brita, telhas coloniais
quebradas, cascalho, bolas plásticas de biofiltro comercial e raízes de
plantas, são alguns exemplos de substratos comumente utilizados. Bactérias
nitrificantes geralmente tem atividade maior em pH alcalino, 7,2 a 7,8 para
Nitrosomonas e 7,2 a 8,2 para Nitrobacter. No entanto quando
consideramos todos os organismos envolvidos no sistema aquapônico a
faixa ideal de pH é de 6,0 a 7,0, e qualquer baixa na atividade bacteriana
pode ser corrigida com um biofiltro maior.

Durante o processo de nitrificação também pode ser gerado o óxido


nitroso (N2O), considerado um importante gás de efeito estufa com o
potencial de aquecimento global 296 vezes maior do que o dióxido de
carbono (CO2). Este processo é conhecido como desnitrificação anóxica ou
respiração de nitrato, por ocorrer na ausência de oxigênio. Ocorre

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


principalmente no sedimento, que normalmente tem baixas concentrações
de oxigênio e grande disponibilidade de matéria orgânica. Em comparação
com o sistema de recirculação da aquicultura convencional, na aquaponia
- -
podem ser observadas menores concentrações de NH 3, NO2 e NO3 o que
conduz a baixa emissão de N2O. Portanto, a aquaponia se torna mais segura
do que a aquicultura convencional.

O nutriente requerido pelas plantas em maior quantidade é o


nitrogênio e o nitrato é sua forma preferida pela absorção. Portanto o
entendimento do manejo adequado das bactérias é de suma importância. A
presença das bactérias nitrificantes no filtro biológico é natural, porém
podem ser inseridas junto com a água. O crescimento dessas bactérias
ocorre em biofilmes aderidos à superfície ou de partículas orgânicas. Depois
dos peixes introduzidos no sistema aquapônico, levam em média de 20 a 30
dias para o ciclo nitrificante entrar em equilíbrio. Na primeira semana de
introdução dos peixes o nível de amônia é continuo, e a partir desse
momento ocorre um decréscimo na concentração desse elemento ao
mesmo tempo em que são observados níveis mais altos de nitrito, contudo,
pode-se afirmar a presença das colônias da bactéria Nitrosomonas. Após
uma semana os níveis de nitrito baixam e os de nitrato sobem, indicando a
presença da bactéria Nitrobacter.

Amônia e nitrito são muito tóxicos para os peixes e devem sempre


-1
ser mantidos abaixo de 1 mg. litro . Em um sistema de aquaponia
-1
estabelecido, amônia e nitrito estão sempre entre 0-1mg. litro e não
devem ser um problema para as plantas, estes valores servem para
monitorar se bactérias estão presentes e funcionais. Se os valores estiverem
acima do mencionado, pode ser indicativo de que o filtro é muito pequeno
para a quantidade de peixes e resíduos de ração. Caso haja esse
desequilíbrio, é necessário aumentar o filtro, diminuir a quantidade de
peixes ou a taxa de arraçoamento. Se o sistema estiver dimensionado
apropriadamente, pode indicar um desequilíbrio na função bacteriana.
Neste caso, os parâmetros de qualidade da água devem ser mensurados
cautelosamente. No inverno, devido a baixa de temperatura a atividade
bacteriana diminui naturalmente.

1.2 BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS E MINERALIZAÇÃO

Existe outro grupo de bactérias importantes, assim como outros


microrganismos, envolvidos na aquaponia. Este grupo de bactérias é
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

geralmente chamado de heterotróficas. Estas bactérias utilizam carbono


orgânico como fonte de alimento, e estão envolvidas, principalmente na
decomposição de resíduos sólidos dos peixes e dos vegetais. A maioria dos
peixes somente é capaz de aproveitar 30 a 40% do alimento que ingerem,
assim de 60 a 70% do que é ingerido é liberado como resíduo. Deste
resíduo, 50 a 70% é liberado como amônia dissolvida. Entretanto, o restante
é um resíduo composto de matéria orgânica, contendo proteínas,
carboidratos, lipídeos, vitaminas e minerais. As bactérias heterotróficas
metabolizam estes resíduos sólidos em um processo chamado
mineralização, o qual torna micronutrientes essenciais disponíveis para as
plantas. Essas bactérias, assim como alguns fungos, ajudam a decompor os
resíduos sólidos eliminados pelos peixes. Ao fazê-lo, elas liberam os
nutrientes presentes no resíduo na água.

Este processo de mineralização é essencial porque as plantas não


conseguem assimilar os nutrientes na forma sólida, sendo necessária sua
metabolização em moléculas simples, capazes de serem absorvidas pelo
sistema radicular das plantas. Bactérias heterotróficas são capazes de
decompor qualquer tipo de matéria orgânica (fezes dos peixes, ração não
ingerida, plantas mortas, folhas, até mesmo bactérias mortas). Existem
muitas fontes de alimento disponíveis para este tipo de bactéria em uma
unidade aquapônica.

Bactérias heterotróficas requerem condições de crescimento


similares às das bactérias nitrificantes, especialmente altos níveis de
oxigênio dissolvido. As bactérias heterotróficas colonizam todos os
componentes da unidade aquapônica e crescem mais rápido que as
bactérias nitrificantes, mas se concentram onde há acúmulo de resíduos

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


sólidos. A mineralização é importante na aquaponia porque libera vários
micronutrientes que são necessários para o crescimento das plantas. Sem
mineralização, algumas plantas podem apresentar deficiência de nutrientes
e podem precisar de suplementação com fertilizantes. Bactérias
heterotróficas decompõem os resíduos sólidos com o auxílio de outros
organismos, como minhocas, isópodes, anfípodes, larvas e outros pequenos
animais que podem ser encontrados dentro do sistema de aquaponia.

1.3 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH) NO SISTEMA AQUAPÔNICO

O pH (potencial hidrogeniônico) é uma escala que mede a


+
quantidade de íons (H ) em uma solução, e indica a acidez ou basicidade de
uma solução aquosa, assim quanto mais íons hidrogênio, mais ácida. Um pH
de 7,0 é neutro; abaixo de 7,0 é ácido e acima de 7,0 é considerado básico.
O pH da água é extremamente importante para aquaponia, especialmente
para as plantas e bactérias. Qualquer reação química que ocorra em um
organismo vivo é regulada pelo pH do meio onde a reação está ocorrendo,
porém, o pH ideal pode variar de acordo com as necessidades do meio e do
organismo. O pH controla o acesso das plantas aos micro e macro
nutrientes. Em um pH de 6,0 a 6,5, todos os nutrientes são prontamente
disponibilizados, mas fora dessa faixa o acesso aos nutrientes se torna difícil.
Um pH de 7,5 pode levar as plantas a deficiências de ferro, fósforo e
manganês, em contrapartida, pH abaixo de 6,0 faz com que o fósforo, cálcio,
magnésio e molibdênio também fiquem menos disponíveis para as plantas.
As bactérias nitrificantes diminuem sua atividade em pH abaixo de 6,0 e a
capacidade de converter amônia em nitrato é então, reduzida. Isso pode
levar a uma diminuição na atividade do biofiltro, aumento nos níveis de
amônia, levando a um desequilíbrio no sistema, prejudicial para os outros
organismos.
Os peixes têm uma faixa de tolerância específica de pH, mas a
maioria das espécies usadas na aquaponia tem uma tolerância que varia de
6,0 a 8,5. Entretanto, como já discutido no processo de nitrificação, o pH
afeta a toxicidade da amônia, quanto mais elevado o pH maior a toxicidade.
A água ideal para a aquaponia é ligeiramente ácida, com uma faixa ótima de
pH de 6,0 a 7,0. Esta faixa manterá as bactérias funcionando em alta
capacidade permitindo que as plantas tenham completo acesso aos micro e
macro nutrientes. Um pH abaixo de 5,0 e acima de 8,0 pode rapidamente se
tornar um problema crítico para todo o sistema aquapônico. Muitos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

processos biológicos e químicos que ocorrem dentro do sistema aquapônico


afetam o pH da água, os mais importantes são: o processo de nitrificação,
densidade de estocagem dos peixes e população de fitoplâncton.

O processo de nitrificação, naturalmente, baixa o pH do sistema


aquapônico. Uma pequena quantidade de ácido nítrico (HNO 3) é produzida
durante o processo de nitrificação à medida que as bactérias liberam íons
hidrogênio durante a conversão de amônia a nitrato.

Durante a respiração os peixes liberam dióxido de carbono (CO 2) na


água. O CO2, quando dissolvido na água, se converte na naturalmente em
ácido carbônico (H2CO3). Quanto maior for a densidade de estocagem dos
peixes, mais CO2será liberado, e consequentemente, ocorrerá baixa no pH.
Este efeito é aumentado quanto os peixes estão mais ativos, bem como em
temperaturas mais elevadas.

Enquanto a respiração dos peixes reduz o pH, a fotossíntese do


fitoplâncton, algas e plantas aquáticas removem o CO2 da água causando
aumento do pH. O efeito das algas no pH segue um padrão diário, onde o pH
sobe durante o dia devido à remoção do CO 2 pela fotossíntese e, em
seguida, cai durante a noite devido a respiração das plantas com
consequente liberação de CO2. Portanto, o pH é, mais baixo ao amanhecer,
e alcança nível máximo ao pôr do sol. Em sistemas de recirculação de água,
como no caso do sistema aquapônico, os níveis de fitoplâncton são
geralmente baixos e, portanto, há pequena oscilação do pH. Em sistemas
onde os peixes ficam localizados em lagoas ou tanques escavados é
necessário se atentar para essa oscilação.
Após a colonização do filtro biológico pelas bactérias e o
estabelecimento do equilíbrio geral do sistema é observado uma contínua

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


queda dos valores de pH, sendo de suma importância essa observação, pois
indica o bom funcionamento do filtro biológico. Porém, por outro lado, é
necessária a correção do pH para atender as necessidades biológicas dos
organismos envolvidos no sistema. Existem várias substâncias tamponantes
para a correção e estabilização do pH, dentre elas, á base de potássio (K),
cálcio (Ca) e magnésio (Mg) são as mais indicadas, pois estes elementos
apresentam-se em quantidades inferiores daquelas exigidas pelas plantas.
Dessa forma, adições periódicas de substâncias como bicarbonato de
potássio, hidróxido de potássio, hidróxido de cálcio e calcário dolomítico
dentro do sistema de aquaponia não apenas corrigem o pH da água, como
também são fonte de suplementação nutricional para as plantas. A
suplementação de algumas dessas substâncias deve ser feita com cautela,
pois a adição em excesso de hidróxido de potássio ou de hidróxido de cálcio
podem gerar um aumento do pH rapidamente. Mas o uso de bicarbonato de
potássio e calcário dolomítico fornecem carbonatos que auxiliam na
elevação da alcalinidade, garantindo assim, a estabilidade dos valores do pH
da água dentro do sistema aquapônico. O pH pode ser monitorado com um
uso de um peagâmetro (medidor de pH, que confere escala exata), fitas
indicativas ou kits líquidos a base de azul de tornassol (indicam se o pH está
ácido, básico ou alcalino pela mudança de cor do meio).

1.4 OXIGÊNIO

O oxigênio é o elemento mais importante na dinâmica dos


ecossistemas aquáticos. O oxigênio da água provém da dissolução do ar
atmosférico e dos organismos fotossintéticos presentes na água e é
consumido através da decomposição da matéria orgânica (oxidação), perdas
diretas para a atmosfera, respiração dos organismos aquáticos, nitrificação e
oxidação química de compostos inorgânicos.
A forma aproveitada pelos organismos aquáticos é conhecida como
oxigênio dissolvido (OD). O OD é quantidade de oxigênio molecular junto à
água, ou seja, solubilizado. Por apresentar característica apolar, a
solubilidade do O2 em água é baixa, e diminui com o aumento da pressão
-1
atmosférica. O OD é medido em geral em miligramas por litro (mg.l ) ou
partes por milhão (ppm).

A dissolução do oxigênio do ar atmosférico para a água através da


difusão superficial depende de alguns fatores. Em uma mesma temperatura
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

a solubilidade do oxigênio na água decresce com o aumento da altitude,


pois há uma diminuição da pressão atmosférica e o oxigênio terá sua
pressão parcial também reduzida.

Em condições naturais o OD é suficiente para o crescimento e


sobrevivência dos peixes, porém em um sistema de produção intensivo, com
altas densidades a difusão de OD é insuficiente para suprir a demanda dos
peixes, plantas e bactérias. Assim, é necessária a suplementação através de
bombas de água e aeradores. O movimento e aeração da água são
imprescindíveis na aquaponia. Os níveis ótimos de OD para cada organismo
-1
varia de 5-8 mg.L . Algumas espécies de peixes como a tilápia, podem
-1
tolerar níveis baixos de OD como 2-3 mg.L . Ainda que algumas espécies
tolerem estes baixos níveis de OD, é importante salientar que além dos
peixes, as plantas e bactérias demandam o OD da água.

Dentre os fatores que interferem na solubilidade do oxigênio na


água, a temperatura é a mais relevante. Com o aumento da temperatura da
água, a solubilidade do oxigênio diminui. Assim, as espécies aquáticas
tropicais estão mais adaptadas a níveis mais baixos de oxigênio. Nas épocas
mais quentes do ano é recomendado aumentar a aeração da água.

O consumo de oxigênio tem relação direta com a ingestão de


alimento devido à demanda metabólica do mesmo. Quanto maior a
ingestão, maior o consumo de oxigênio e quando a concentração de
oxigênio diminui o mesmo acontece com o consumo de alimento. A
concentração ideal de oxigênio para que se tenha uma taxa máxima de
crescimento dos peixes varia de acordo com a espécie.
O oxigênio é essencial para as plantas, peixes e bactérias nitrificantes
do sistema aquapônico, é o parâmetro da água que tem maior impacto

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


sobre o sistema. Quando em concentrações abaixo da demanda metabólica
dos peixes, pode causar diminuição na taxa de crescimento, aumento da
conversão alimentar, maior ocorrência de doenças e até a mortalidade dos
peixes. Assim, o monitoramento deste parâmetro é crucial para o bom
funcionamento do sistema. Entretanto, os aparelhos utilizados para
mensurar os níveis de oxigênio, são caros e difíceis de utilizar. A
concentração de oxigênio pode ser mensurada através de análise química da
-1
água (método de Winkler) normalmente expressa em mg.L , ou com a
utilização de um aparelho (oxímetro), que mede a concentração de oxigênio
em porcentagem de saturação. De forma empírica, a observação frequente
do comportamento dos peixes e crescimento das plantas, bem como
assegurar o funcionamento das bombas de água e ar, muitas vezes, é
suficiente para monitorar o oxigênio em pequenas unidades de produção.

1.5 TEMPERATURA

A temperatura da água afeta parâmetros fundamentais do sistema


aquapônico como: a toxicidade (ionização) da amônia, OD, atividade
metabólica e absorção de nutrientes pelos organismos vivos do sistema.

A combinação de peixes em plantas a serem introduzidos no sistema


deve levar em conta a temperatura do local onde o mesmo será instalado.
Mudar a temperatura natural da água normalmente é muito dispendioso e
consome muita energia. Peixes de água quente (tilápia, carpa, bagre) e
bactérias nitrificantes se desenvolvem bem em temperaturas de 22-29°C,
assim como alguns vegetais populares, como quiabo, berinjela e manjericão.
Em regiões mais frias, alguns vegetais comuns, tais como alface, acelga e
pepinos crescem melhor em temperaturas mais baixas de 18-26° C, e peixes
de água fria como a truta, por exemplo.
Recomenda-se sempre escolher as plantas e os peixes já adaptados
ao clima local, porém existem técnicas de gestão que podem minimizar as
oscilações de temperatura e consequentemente melhorar o desempenho
dos peixes e plantas. O sistema pode ser instalado em áreas protegidas por
sombrites e até em estufas. Ainda, pode-se utilizar o aquecimento solar para
evitar as oscilações e melhorar o desempenho durante o inverno. Também é
possível adotar estratégias de produção que utilizem diferentes espécies de
acordo com a estação do ano. Espécies adaptadas ao frio são cultivadas no
inverno e com o amento da temperatura na primavera o sistema é alterado.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

No caso dos peixes existe uma faixa de temperatura ideal para a


maior taxa de crescimento para cada espécie. Como são ectotérmicos, seu
metabolismo sobre influência direta da temperatura e a espécie introduzida
no sistema aquapônico deve ser escolhida de acordo com as variações de
temperatura apresentadas na região onde o sistema for instalado. Um
aumento na temperatura acarreta um aumento nas reações químicas do
sistema. Assim, por exemplo, o consumo de oxigênio poderá dobrar ou
triplicar quando a temperatura se elevar de 20ºC para 30ºC.

Uma elevação na temperatura da água pode causar aumento na


ingestão de alimento e consequentemente maior crescimento, porém, a
partir de certo limite, pode ocorrer aumento na conversão alimentar e até
morte. Já em baixas temperaturas, o metabolismo dos peixes pode baixar ao
ponto que a taxa de crescimento é tão baixa que o cultivo não é
recomendado. A temperatura de conforto térmico para os peixes tropicais
situa-se entre 20– 28ºC com consumo máximo de alimento entre 24 – 28ºC;
abaixo de 20º C ocorre diminuição no consumo e acima de 28ºC
normalmente os peixes param de se alimentar, podendo ocorrer
mortalidade em temperaturas acima de 32ºC. De forma geral, sempre que a
temperatura baixar a quantidade de alimento fornecida aos peixes deve ser
reduzida para evitar sobras e consequente excesso de matéria orgânica no
sistema. A temperatura ótima para o crescimento, geralmente, situa-se
pouco abaixo da temperatura onde há o máximo de ingestão de alimento. A
temperatura ótima depende da espécie, do estágio de desenvolvimento do
peixe e do fotoperíodo. Juvenis tendem a crescer mais em temperaturas
mais elevadas.
A temperatura é crucial para o bom funcionamento do sistema
aquapônico, portanto deve ser monitorada diariamente. A temperatura

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


pode ser aferida com o auxilio de um termômetro de mercúrio, que é barato
e facilmente encontrado no mercado. Deve-se ter o cuidado de se medir
tanto a temperatura da superfície como a do meio e do fundo do tanque.

1.6 ALCALINIDADE E DUREZA

A dureza total é tradicionalmente considerada como asoma das


concentrações de íons positivos na água, principalmente de cálcio e
magnésio. Além destes, outros íons metálicos bivalentes contribuem para a
dureza total, mas as suas concentrações são frequentemente insignificantes
em águas naturais. A dureza é medida em partes por milhão (miligramas por
litro). Altos índices de dureza são encontrados em locais onde há
abundância de calcário no solo, o calcário é basicamente composto por
carbonato de cálcio (CaCO3). O cálcio e magnésio são nutrientes essenciais
para as plantas se eles são absorvidos conforme a água flui através dos
componentes hidropônicos do sistema. A água da chuva tem baixa dureza,
porque esses íons não são encontrados na atmosfera. A água dura pode ser
uma fonte útil de micronutrientes para aquaponia, e não tem efeitos sobre a
saúde nos organismos. Na verdade, a presença de cálcio na água pode evitar
que os peixes percam outros sais e até a um acúmulo benéfico.

A alcalinidade total é a capacidade da água de neutralizar sua acidez,


2-
dada pela soma de bases tituláveis, principalmente carbonatos (CO 3 ) e
-
bicarbonatos (HCO3 ) dissolvidos na água. Como a dureza, também é
mensurada em miligramas de CaCO3. Quando a água apresenta níveis de
-1
121-180 mg.L de CaCO3, é considerada como altamente alcalina. A
alcalinidade tem influência no pH, atuando como um tampão. Carbonatos e
+
bicarbonatos presentes na água se ligam a íons H livres, removendo estes
+
íons da água. Assim, o pH ficará constante mesmo quando novos íons H
forem adicionados à água. Essa capacidade tamponante é muito importante
porque mudanças bruscas no pH são estressantes para todo o sistema
aquapônico. Quando não existem carbonatos e bicarbonatos na água do
+
sistema, o pH poderá cair rapidamente devido aos íons H liberados no
processo de nitrificação.

De forma geral a dureza e a alcalinidade resultam da dissolução do


calcário, que quando dissolvido produz quantidades iguais de alcalinidade e
dureza. Na maioria das águas a dureza total e a alcalinidade total são
semelhantes. Porém, em águas com maior salinidade ocorre precipitação
dos carbonatos tornando a alcalinidade menor que a dureza. Em águas
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

+
muito ácidas, o bicarbonato é neutralizado pelos íons H , porém os íons que
determinam a dureza permanecem tornando a dureza maior que a
alcalinidade. Em áreas costeiras, em que ocorre troca de sódio por cálcio
nos aquíferos as águas de poço podem possuir alcalinidade superior à
dureza.

A alcalinidade é essencial para o sistema aquapônico, visto que os


carbonatos e bicarbonatos podem neutralizar os ácidos gerados
naturalmente e manter o pH constante. Sem uma concentração adequada
dessas bases as oscilações de pH terão impacto negativo em todo o sistema,
principalmente sobre os peixes. Uma adequada alcalinidade está presente
na maioria das fontes de água, e a taxa de renovação é suficiente para repor
a alcalinidade. Porém, quando a fonte de renovação é a água da chuva,
deve-se adicionar fontes externas de carbonatos.
-1
Águas são classificadas como leves (0–60 mg.L ), moderadas (60-120
-1 -1 -1
mg.L ), pesadas (120-180 mg.L )e muito pesadas (> 180 mg.L ). Os níveis
ótimos tanto para dureza, quanto para alcalinidade estão situados entre 60-
-1
140 mg.L . Normalmente não é necessário monitorar a dureza e
alcalinidade, porém caso a água de reposição não esteja mantendo o pH
relativamente estável (6–7), é importante realizar as correções diretamente
na água do sistema. Os corretivos para controlar a acidez mais utilizados no
Brasil são as rochas calcárias moídas, contendo calcita (CaCO3), magnesita
(MgCO3) e/ou dolomita (CaCO3.MgCO3).
2 COMPONENTES DO SISTEMA DE AQUAPONIA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Todos os sistemas aquapônicos têm componentes essenciais que
incluem: um tanque de peixes, um filtro mecânico, um biofiltro e sistema
hidropônico para cultivo dos vegetais.

2.1 TANQUE DE PEIXE

Os peixes necessitam de algumas condições para sobreviver, assim,


os tanques devem ser escolhidos respeitando as necessidades das espécies
a serem cultivadas. Aspectos como forma, material e cor devem ser
considerados. Normalmente o local de criação de peixes dentro do sistema
aquapônico pode ser formado por um ou vários tanques, de capacidades e
formatos variáveis de acordo com a finalidade do sistema (comercial ou
subsistência). É imprescindível que os tanques sejam de materiais
resistentes, duráveis e atóxicos. Os tanques para peixes representam
aproximadamente 20% do custo de cada unidade.

A forma do tanque afeta diretamente a circulação de água. Todos os


formatos de tanque são funcionais no sistema aquapônico, entretanto
tanques redondos com fundo plano são recomendados. Os tanques
circulares e octogonais, que facilitam a concentrações dos resíduos sólidos
no dreno central, têm sido os mais utilizados na aquaponia no Brasil. A
forma arredondada permite que a água circule uniformemente e os resíduos
são direcionados para o centro do tanque pela força centrípeta. Tanques
quadrados com fundos planos são aceitáveis, mas exigem maiores cuidados
com a remoção dos resíduos. É importante que o formato do tanque
permita uma boa circulação da água, sem pontos mortos. Caso a água não
circule adequadamente, os resíduos sólidos podem se acumular em alguns
pontos, criando condições perigosas de anóxia para os peixes. O tanque
deve ser escolhido baseado nas características das espécies aquáticas
criadas. Espécies de fundo, por exemplo, tem melhor crescimento e menos
estresse quando o tanque apresenta espaço horizontal adequado.
Os tanques devem ser confeccionados de material que tem boa
durabilidade como plástico inerte ou de fibra de vidro. Plástico e fibra de
vidro são fáceis de instalar (também para o encanamento) além de leves e
maleáveis. No geral, tanques de polietileno de baixa densidade são
preferíveis devido às suas características de alta resistência. Outra opção é a
utilização de tanques escavados ou lagoas naturais. Porém estes ambientes
são muito mais difíceis de serem controlados. Tanques de cimento ou
forrados com plástico são mais recomendados, e podem ser uma opção
barata, porém deve-se sempre considerar as dificuldades no processo de
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

encanamento. Outras opções incluem recipientes de segunda mão, como


banheiras, barris ou grandes recipientes para granel desde que não tenham
sido usados anteriormente para armazenar material tóxico.

O tanque preferencialmente deverá ser branco ou outra cor clara,


para facilitar a visualização do comportamento dos peixes e a quantidade de
resíduos depositada no fundo do tanque. Tanques brancos também
refletem a luz solar e mantêm a água fresca. Em alternativa, o lado de fora
dos tanques de cores mais escuras pode ser pintado de branco. Em áreas
muito quentes ou frias, pode ser necessário isolar termicamente os tanques.

Os tanques deverão ser cobertos. As telas ou sombrites, previnem o


crescimento de algas, evitam a fuga dos peixes, evitam a entrada de folhas,
e previnem o ataque de predadores, como aves. Muitas vezes, são utilizadas
telas de sombreamento agrícola que bloqueiam de 80-90 por cento de luz
solar em uma armação simples de madeira.

2.2 FILTROS

2.2.1 Filtro mecânico

A filtração mecânica consiste na separação e remoção dos resíduos


sólidos e suspensos dos tanques de peixes. É essencial para o bom
funcionamento do sistema que os resíduos sejam removidos, porque gases
nocivos são liberados por bactérias anaeróbias se os resíduos sólidos são
decompostos dentro dos tanques. Os resíduos podem, ainda, entupir os
sistemas e interromper o fluxo de água, causando condições anóxicas às

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


raízes das plantas. Existem vários tipos de filtros mecânicos. O método mais
simples é uma tela ou filtro localizado entre o tanque de peixes e os canais
de cultivo das plantas. Esta tela retém os resíduos sólidos e precisa ser limpa
constantemente. Este tipo de filtro somente é eficiente para sistemas de
produção em pequena escala.

Existem muitos tipos de filtros mecânicos, incluindo tanques de


sedimentação, clarificadores de fluxo radial, filtros de areia, tipo tambor,
disco ou esteira; cada um deles pode ser utilizado de acordo com a
quantidade de resíduos sólidos que precisa ser removida.

2.2.2 Filtro biológico

Como já mencionado, a filtração biológica ou biofiltração consiste na


nitrificação da amônia por bactérias. Grande parte dos resíduos da
aquacultura não é retida no filtro mecânico por estar dissolvida na água,
além de serem muito pequenos para serem removidos mecanicamente. A
biofiltração é essencial porque a amônia e o nitrito são tóxicos mesmo em
baixas concentrações, enquanto que as plantas precisam de nitrato para seu
crescimento. A biofiltração ocorre no biofiltro, que consiste em um local
adequado para que as bactérias colonizem e realizem os processos de
nitrificação. Ele deve ter grande área de superfície, temperatura, pH e níveis
de oxigênio dissolvido adequados. O biofiltro precisa ter uma grande área
superficial com grande fluxo de oxigênio, durante a nitrificação são
consumidos cerca de 4,6g de oxigênio para cada grama de amônia oxidada à
nitrato. O biofiltro deve ser instalado entre o filtro mecânico e o sistema
hidropônico

O meio filtrante não deve ser propício para acúmulo de matéria


orgânica, deve ser facilmente aerável e durável. No Brasil materiais como
pedras de rio, cascalho fino, telhas quebradas e pedra britada têm sido
utilizados na confecção dos biofiltros.
A área de superfície de contato do substrato disponível para a fixação
de bactérias é denominada superfície específica. A superfície específica é
2
dada pela área (em m ) disponível para a fixação das bactérias para cada
metro cúbico de volume do substrato. Quanto menor for a partícula, maior
será a superfície específica do substrato. Assim, a superfície específica da
2 -3 2 -3
areia fina é 5000m .m , da areia grossa 2300m .m e das esferas de argila
2. -3
de 3mm é de 1700m m .

Comumente, cascalhos com tamanho variando de 13 a 38 mm são


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

associados a rochas sólidas, resistentes, pouco susceptíveis a mudanças na


forma e permeáveis. Pode-se utilizar areia combinado com solo, porém
embora a areia fina possua uma superfície específica maior que a de outros
meios, sua utilização tem ressalvas tendo em vista sua grande capacidade de
obstruir o sistema. A argila expandida possui alta porosidade associada a
uma grande superfície específica, minimizando o acúmulo de matéria
orgânica e aumentando a eficiência do sistema em tratar a água.

O biofiltro deve ser adequadamente dimensionado para suportar a


taxa de resíduos da aquaponia, de modo que a nitrificação seja capaz de
eliminar eficientemente a amônia do sistema. Normalmente, os biofiltros
-2
são capazes de remover de 0,2 a 0,6g de amônia.m de área de contado do
substrato no interior do biofiltro. Assim, deve ser dimensionado de acordo
com a quantidade de amônia gerada pelos organismos aquáticos do
sistema. É importante salientar que o biofiltro é essencial para o bom
funcionamento do sistema e pode ser confeccionado de forma eficiente com
materiais baratos e fáceis de encontrar no mercado.

2.3 SISTEMAS HIDROPÔNICOS: AMBIENTES PARA CULTIVO DOS VEGETAIS

Componente hidropônico é o termo para descrever a parte do


sistema onde ocorre o crescimento dos vegetais. Cada método tem
vantagens e desvantagens, todos com diferentes estilos de componentes
para atender às necessidades de cada método. Dentre os métodos, os mais
utilizados atualmente serão descritos abaixo.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Sistema NFT (“NutrientFilmTechnique”) ou técnica do fluxo laminar de
nutrientes:

O sistema hidropônico NFT é uma técnica de cultivo em água, no o


sistema radicular das plantas se desenvolve dentro de um canal ou canaleta
(com declividade 1-12%) onde circula uma solução nutritiva composta de
água e nutrientes. Este sistema funciona com o bombeamento da água do
tanque de aquacultura para os canais de cultivo e de um sistema de retorno
ao tanque. A solução nutritiva oriunda da aquacultura é bombeada até os
canais e flui por gravidade irrigando as raízes das plantas. Em alguns casos é
necessário suplementar a água de acordo com as exigências da espécie de
planta utilizada na hidroponia. É um sistema fechado, recirculante podendo
ser realizado em tubos rígidos ou flexíveis de diferentes formas, diâmetros e
comprimentos. Estes canais podem ser quadrados, retangulares ou
circulares. Podem ser alojados no nível do solo ou em plataformas elevadas
confeccionadas de diferentes materiais (concreto, madeira ou metal), para
facilitar o manejo. No caso do sistema aquapônico, a solução nutritiva que
chega ao sistema radicular poderá ser apenas de origem dos dejetos dos
peixes ou adicionada de nutrientes externos necessários ao cultivo da
espécie de vegetal escolhida. Dentre os sistemas aquapônicos apresenta
menor custo de implementação, e facilidade de operação. E como
desvantagem a possibilidade de acúmulo de etileno e déficit de oxigênio em
canais muito longos. Ainda, como precisa de sustentação não comporta a
produção de plantas de porte alto.

Cultivos flutuantes na água (deepwaterculture, floating, raft, cultivo na


água ou ambiente flutuante):

Neste tipo de hidroponia, as plantas são distribuídas em placa única


com diversos orifícios. Em cada orifício é alocada uma planta de forma que
as raízes fiquem submersas na água com a solução nutritiva. As placas
normalmente são confeccionas com poliestireno e como são alocadas em
tanques se faz necessário o uso de aeradores para a manutenção dos níveis
adequados de oxigênio dissolvido na água. O oxigênio é essencial para as
plantas e para as bactérias nitrificantes que estarão colonizando as
superfícies do tanque. Se houver uma grande quantidade de bactérias no
tanque e uma boa filtração mecânica a utilização de filtro biológico pode ser
dispensada. Este sistema é mais indicado para sistema de produção em
média ou grande escala.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Sistemas com substratos (Media-filledbed, gravelbed ou ambiente de


cultivo em cascalho):

Neste tipo de cultivo utilizam-se vasos cheios de material inerte,


como areia, pedras diversas (seixos, brita), vermiculita, perlita, lã-de-rocha,
espuma fenólica, espuma de poliuretano, fibra de coco e outros para a
sustentação da planta, onde a solução nutritiva é percolada através desses
materiais e drenada pela parte inferior dos vasos, retornando ao tanque de
aquacultura. O sistema funciona através do bombeamento da água da
criação de peixes para o ambiente de cultivo dos vegetais, a água flui pelo
substrato e retorna por gravidade através de um sifão que permite um
esvaziamento cíclico do sistema. Este tipo de sistema promove oxigenação
constante e homogênea das raízes das plantas e das bactérias que
colonizam o sistema. Quando bem implantado, dispensa a utilização de
filtros biológicos, além de ser prático e funcional.

2.5 SISTEMA DE AERAÇÃO

Bombas de ar de qualidade são um componente insubstituível dos


sistemas aquapônicos. A aeração é necessária para manutenção das dos
peixes, plantas e bactérias nitrificantes. Recomenda-se manter a aeração
para que os níveis de oxigênio dissolvido nunca fiquem abaixo de 3 mg/L. A
aeração deve ser fornecida diretamente na água do tanque de criação dos
peixes e também no ambiente de cultivo de vegetais quando se tratar do
ambiente flutuante, como já citado anteriormente. Deve-se preconizar
bombas que produzam bolhas pequenas, pois estas têm maior área de

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


superfície e, portanto, liberam oxigênio na água de forma mais eficiente que
bolhas maiores.

2.4 SISTEMA DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA

Como se trata de um circuito fechado, a água deve estar


constantemente circulando para o funcionamento adequado dos sistemas
aquapônicos. A estagnação da água nos cultivos hidropônicos pode levar a
anoxia e até a secagem no caso do sistema NTF. O sistema de
bombeamento utilizado no sistema deve ser de material interno não
reativo, para evitar possíveis interferências nos nutrientes que circulam no
sistema. Para se estabelecer o fluxo de água que circula através do sistema,
deve-se levar em conta o esforço natatório a ser realizado pelos peixes e ao
mesmo tempo a remoção dos dejetos. O fluxo ideal não gera desconforto e
gasto energético desnecessário para os peixes e é capaz de evitar o acúmulo
de dejetos produzidos pelos peixes dentro do tanque. A renovação de água
no sistema deverá ser calculada de acordo com a densidade de estocagem
-3
dos peixes. Recomenda-se que para densidades de até 10 kg.m , a taxa de
renovação seja de pelo menos metade do volume do tanque a cada hora.
Em tanques onde a densidade seja acima deste valor, a taxa de renovação
deve ser de pelo menos uma troca total de água por hora, ou seja, para um
tanque de 1000 L com mais de 10 kg de peixes deve ser utilizada uma
-1
bomba que garanta vazão de pelo menos 1000 L.hora .
3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA AQUAPONIA

Na aquaponia, diferentemente da agricultura tradicional e/ou da


hidroponia, os peixes e plantas são criados em um mesmo corpo d’água e
compartilham estruturas físicas integradas, podendo ser observadas
vantagens e desvantagens:

Dentre as vantagens pode-se destacar:


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

 Sistema integrado, sustentável para produção de alimento;


 Possibilidade de produção de alimento no meio urbano,
próximo ao consumidor final;
 Produção intensiva, com altas densidades de peixes e
vegetais;
 Geração de um produto diferenciado, padronizado e de alta
qualidade, livre de produtos químicos como fertilizantes e
antibióticos;
 Utilização de quantidade mínima de água;
 Controle da proliferação de algas e fungos que podem gerar
sabor desagradável na carne de peixes;
 Minimização dos riscos de introdução de espécies exógenas
aos cursos d’água naturais;
 Aproveitamento dos dejetos produzidos pelos peixes, com
menor contaminação dos corpos d’água;
 Elevada eficiência de utilização do nitrogênio;
 Redução dos custos associados com tratamento de efluentes e
com calhas de escoamento.

Dentre as desvantagens:

 Restrição quanto à utilização de agrotóxicos e antibióticos;


 Dependência contínua de energia elétrica;
 Necessidade de conhecimento básico em algumas áreas como
engenharia, hidráulica, biologia, fitotecnia, agronomia e

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


piscicultura.

4 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS DO SISTEMA AQUAPÔNICO

Diversas associações entre diferentes espécies aquícolas e vegetais já


foram testadas eficientemente na aquaponia. Nos Estados Unidos da
América, o cultivo de tilápia azul (Oreochromis aureus) em consórcio
hidropônico coma tampala (Amaranthus tricolor) demonstrou que com
menor concentração de proteína na ração dos peixes, potencializa-se o
cultivo de tampala, porém reduz-se a produção de peixes. Na Índia, o cultivo
dos peixes ornamentais carpa Koi (Cyprinus carpiovar Koi) e peixe-dourado
(Carassius auratus) em consórcio com o sistema hidropônico de cultivo de
espinafre d’água (Ipomoea aquatica) resultou em boa produtividade em
termos de ganho de peso e taxa de crescimento nos peixes, e no aumento
na altura e no percentual de produção das plantas.

No Brasil, diversas experiências bem sucedida foram relatadas por


diferentes autores. No cultivo associado entre Camarões-da-Amazônia
(Macrobrachium amazonicum), agrião (Rorippanasturtium aquaticum) e
alface (Lactuca sativa) os nutrientes gerados pela carcinicultura de água
doce foi suficiente para o crescimento do agrião, porém em sistemas onde a
água foi suplementada com solução nutritiva por meio de gotejamento as
plantas tiveram maior crescimento e maior fitomassas. A associação entre o
cultivo intensivo de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e a produção de
alface hidropônica, demonstrou que a água residual proveniente da criação
de tilápia pode fornecer nutrientes suficientes para produção de alface, não
havendo necessidade de suplementação com fertilizantes comerciais. Vale
ressaltar que a tanto a tilápia do Nilo quanto a alface são as principais
espécies cultivadas e consumidas no Brasil no que ser refere a peixes e
hortaliças, respectivamente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

A aquaponia é um sistema que se destaca atualmente quando


consideramos as diretrizes atuais da produção de alimentos: produção
intensiva com sustentabilidade. A aquaponia não gera resíduo, se evita o
uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. A técnica possibilita a produção
de alimento onde as condições do solo não são propícias com o uso mínimo
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

de água, tanto em larga escala como para a subsistência. Órgãos como a


FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) disponibilizam
material com instruções para a implantação dos sistemas aquapônicos. É
importante que a comunidade científica torne as informações sobre a
aquaponia acessíveis ao produtor, visto que o consórcio entre diferentes
espécies tem particularidades. O aprimoramento das práticas agrícolas é
necessário para facilitar o acesso ao alimento, melhorar a segurança
alimentar e suportar o desenvolvimento econômico.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado


De Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade José Vellano (UNIFENAS).
REFERENCIAL

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


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isolated from there drhizoplanein an aquaponics plant. Journal of bioscience and
bioengineering, v. 98, p. 309-312, 2004.

ZIMERMANN, S.; RIBEIRO, R. P.; VARGAS, L.; MOREIRA, H. L. M. Fundamentos da moderna


aqüicultura. Canoas: Ed. ULBRA, 2001. 200 p.
CAPÍTULO 7

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


APROVEITAMENTO DE ÁGUAS DE QUALIDADE
INFERIOR NA AGRICULTURA

1
Ana Carolina Barbosa Kummer
2
Julio Thoaldo Romeiro
3
Cacea Furlan Maggi
4
André Luiz Justi

1
Pós-doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental,
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná, Brasil. E-mail: ackummer@hotmail.com
2
Dr. em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Diretor Técnico da Coordenadoria de Assistência
Técnica Integral (CATI), Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. E-
mail: julio.romeiro@cati.sp.gov.br
3
Profa Dra da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus de Laranjeiras do Sul, Paraná,
Brasil. E-mail: cacea.maggi@uffs.edu.br
4
Profº Dr. da Universidade Federal do Paraná, Campus Jandaia do Sul, Paraná, Brasil. E-mail:
aljusti@ufpr.br
1 INTRODUÇÃO

A crise na disponibilidade hídrica surge como um problema mundial,


uma vez que várias regiões e países sofrem com a indisponibilidade desse
recurso, seja pelas condições climáticas e geográficas locais, ou pela
poluição e excesso das retiradas para diversos fins. Dessa maneira, torna-se
evidente a necessidade de se reduzir o consumo de água, bem como reciclar
e utilizar águas residuárias que, se restauradas e em boas condições, podem
ser reutilizadas de forma planejada em diversas atividades (FRIGO, 2008).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Os efluentes tratados têm uma aplicação muito ampla em diversos


meios, podendo ser utilizados na recarga artificial de aquíferos, na indústria,
em áreas urbanas para fins não potáveis e na agricultura. Smanhotto (2008)
lembra que o reúso de água na agricultura é como um instrumento adicional
para a gestão dos recursos hídricos, podendo contribuir para o controle da
poluição no solo e nas águas superficiais, elevar a disponibilidade hídrica de
boa qualidade, disponibilizar nutrientes para as culturas com potencial
aumento na produção agrícola.

Atualmente o Brasil não conta com uma legislação específica sobre o


reúso de efluentes tratados. No entanto, é cada vez mais crescente o
número de publicações de trabalhos científicos sobre a temática, mostrando
os efeitos benéficos e adversos, na tentativa, talvez, de regulamentar a
prática. Nesse sentido, este capítulo traz um compilado de informações
sobre o uso de diferentes águas de qualidade inferior e suas implicações nos
sistemas agrícolas.

2 EFLUENTE DE ESGOTO TRATADO: ASPECTOS GERAIS

O uso de EET é uma prática antiga que vem ganhando importância


com a redução da disponibilidade de recursos hídricos de boa qualidade. O
seu uso planejado implica em necessidade menor de captação dos recursos
hídricos primários e de uma geração menor de efluentes constituindo-se,
portanto, em uma estratégia eficaz para a conservação desse recurso
natural, em seus aspectos qualitativos e quantitativos (FIDELIS FILHO et al.,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


2005).

À medida que as empresas de saneamento expandirem suas redes de


coleta e os órgãos ambientais competentes pressionados pela população
consciente da importância deste tratamento para a sustentabilidade do
país, cobrarem destas empresas o tratamento devido destes resíduos, a
alternativa de utilizá-los na agricultura será uma das principais formas de
disposição. Esta prática, quando implementada de forma controlada, além
de permitir a conservação dos corpos hídricos aporta consideráveis
quantidades de nutrientes ao solo, refletindo-se em melhoria de sua
fertilidade, tendo como consequência o incremento da produtividade das
culturas e redução dos custos com adubação mineral (SOUZA et al., 2005).

Vale ressaltar que, semelhante e ainda mais problemático ao que


ocorre com a disposição da fração sólida do esgoto (lodo), o transporte do
material é um dos maiores, senão o maior fator limitante da ciclagem dos
nutrientes presentes no EET no sistema agrícola, viabilizando apenas áreas
lindeiras às Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs).

2.1 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO EET

A análise detalhada da composição dos esgotos sanitários revela,


simultaneamente, os potenciais e as limitações para sua utilização na
agricultura. Em geral, os esgotos sanitários apresentam teores de macro e
micronutrientes suficientes para o atendimento da demanda da maioria das
culturas. Entretanto, o uso domiciliar da água pode acrescentar 200-400
-1 -1
mg.L de sais (BOWER; IDELOVITCH, 1987) e 300 mg.L de sólidos
dissolvidos inorgânicos. Dessa forma a irrigação com esgotos sanitários é
essencialmente fertirrigação com água salina, devendo, portanto, serem
observados todos os cuidados inerentes a tal prática, o mesmo valendo para
os teores de sódio, correspondentes à razão de adsorção de sódio (RAS) e
cloretos.

A quantidade de nutrientes encontrados no EET pode variar em


função da composição do esgoto e do tipo de tratamento por ele sofrido. De
modo geral, processos biológicos de tratamento quando bem operados
podem alcançar eficiência de remoção de matéria orgânica e sólidos
solúveis em suspensão da ordem de 90%. Quanto aos macronutrientes, em
alguns processos, nitrogênio e fósforo poderão ser transformados, por
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

exemplo, através da nitrificação em processos aeróbios e desnitrificação em


processos anaeróbios (von SPERLING, 1995), entretanto, sólidos e sais
praticamente não são removidos por processos convencionais de
tratamento. A concentração de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, B e Cl) e de
elementos tóxicos (Al, As, Cd, Cr, Hg e Pb) para as plantas no EET varia
amplamente. Nos EUA sabe-se que o esgoto tratado possui uma
-1 -1
concentração de N média de 25 mg L e de 30 mg L de P total (ASANO et
al., 1985). Já no Brasil, a concentração média de N e P, encontrados no EET
de 166 estações de tratamento de esgoto nos Estados de São Paulo e Minas
-1 -1
Gerais, variaram de 22 a 61 mg L e 1 a 6 mg L , respectivamente
(OLIVEIRA; von SPERLING, 2005). Conforme Feigin et al. (1991), geralmente
-1
a concentração de N no EET varia de 10-60 mg L , com 80% na forma de
4+
amônio (NH ) e o restante nas formas de nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-). A
-1
concentração de NO2- raramente ultrapassa 1,0 mg L . A concentração de P
-1
encontrada varia entre 5 e 17 mg L , ocorrendo comumente como fosfato
4 2- 2-
(PO 3-), ácido fosfórico (H3PO4), hidrogenofosfato (HPO4 ), sendo HPO4 a
forma predominante. Já a concentração de K no EET varia entre 10 e 40 mg
-1
L .

Em se tratando de EET domésticos, os metais pesados não devem


constituir problema maior, e provavelmente estarão presentes em
concentrações abaixo dos teores tóxicos e acima da demanda nutricional da
maioria das culturas (BASTOS, 1999). Alguns metais pesados como Cd, Cr, Hg
e Pb também podem ser encontrados no EET, porém, em concentrações
muito baixas, pelo fato da maior parte ficar retida no lodo de esgoto onde
permanece associado à matéria orgânica. Sódio e outros sais estão
presentes em elevadas concentrações no esgoto e, devido à alta
solubilidade, são persistentes no EET, exigindo grandes esforços e
investimentos para redução de suas concentrações (TOZE, 2006).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


2.2 LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

Não somente no Brasil, mas em muitos países, a legislação sobre


reúso é inexistente, muito branda ou muito restritiva. Faltam estudos que
evidenciem quais as taxas seguras de aplicação para cada cultura e quais os
reais danos que cada contaminante pode ocasionar ao sistema solo-água-
planta. No Brasil, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) lançou,
em 2003, uma minuta de resolução, bastante similar à recomendação da
Organização Mundial da Saúde, incentivando o reúso de águas de qualidade
inferior e estabelecendo os padrões de qualidade dos efluentes para cada
modalidade de reúso, o que representou grande passo na legalização da
técnica no país. Contudo, tal resolução não entrou em vigor e no ano de
2005 o órgão publicou a Resolução nº 54, que incentiva a prática do reúso
em diversas modalidades, mas não estabelecia parâmetros específicos para
seu emprego.

O CNRH incentiva discussões e estudos sobre o tema, por meio do


grupo técnico GT-Reúso, composto por pesquisadores, técnicos e demais
interessados no assunto (BERTONCINI, 2008). Em 2006, a CETESB
(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) do Estado de São
Paulo publicou a Instrução Técnica nº 31, que define procedimentos
internos e critérios mínimos para disciplinar o reúso de água proveniente de
Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário. São vários os parâmetros
estipulados para caracterização do esgoto doméstico tratado. Efluentes que
-1
apresentam condutividade elétrica entre 0,75 e 2,9 dS cm somente podem
ser utilizados para aplicação em solos bem drenados e para o cultivo de
espécies tolerantes a salinidade, por exemplo. Essa Instrução estabelece
concentrações máximas permitidas para várias substâncias, dentre as mais
-
importantes, destaca-se as concentrações de B, Cl e Na (0,5; 106,5 e 69 mg
-1
L de efluente, respectivamente), que são tóxicas à plantas sensíveis, como
as frutíferas. Quanto aos parâmetros microbiológicos, os valores permitidos
de coliformes fecais e ovos de helmintos foram compilados da OMS (2006),
que recomenda densidades de 103 a 106 de Escherichia coli em 100 mL de
efluente, e iguais ou inferiores a 1,0 (um) ovo de helminto por litro de
efluente, dependendo do tipo de cultura a ser irrigada.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

2.3 UTILIZAÇÃO AGRÍCOLA DO EFLUENTE DE ESGOTO TRATADO

A aplicação no solo constitui uma das práticas mais antigas de


tratamento e ou disposição final de esgotos sanitários. Evidências históricas
sugerem que os povos da antiga Grécia foram os primeiros a usar esgoto na
produção agrícola, em 3500 a.c. por questões sanitárias, devido aos
nutrientes e o aumento de produtividade (TZANAKAKIS et al., 2007). Outros
exemplos mais antigos do uso de esgoto na agricultura datam de 1531 e
1650, em Bunzlau, na Alemanha, e em Edinburgh, na Escócia,
respectivamente (FEIGIN et al., 1991). Muito embora as primeiras
experiências tivessem como objetivo o tratamento de esgotos, logo surgiu o
interesse pela irrigação com fins de produção agrícola. Porém, o
desenvolvimento da microbiologia sanitária e as crescentes preocupações
de saúde pública fizeram com que esta alternativa se tornasse praticamente
desaconselhada em meados deste século (MARA; CAIRNCROSS, 1989
citados por BASTOS, 1999; MELI et al., 2002).

Por outro lado, diversos fatores vieram a contribuir para que mais
recentemente o interesse pela irrigação com esgotos fosse renovado, como
por exemplo, a crescente escassez de recursos hídricos, o avanço do
conhecimento técnico-científico sobre o potencial e as limitações da
reutilização agrícola e suas inegáveis vantagens como controle de poluição,
economia de água e fertilizantes, reciclagem de nutrientes e aumento da
produção agrícola. Além disso, o interesse pelo reúso controlado, ou seja,
seguro do ponto de vista sanitário e otimizado do ponto de vista agrícola,
surgiu do próprio reconhecimento de que a proibição velada não logrou
banir a utilização de esgotos na agricultura. Ao contrário, apenas se viu

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


crescer a prática espontânea ou clandestina por parte de pequenos
agricultores, perante a escassez de água e, ou cientes do potencial
fertilizante das águas residuárias (BASTOS, 1999).

As experiências mais recentes incluem as mais diversas situações que


abrangem desde o reúso controlado, muitas vezes como parte de planos de
controle ou planejamento com a imposição de sérios riscos de saúde
pública. Um exemplo de destaque é Israel, onde em 2010, os esgotos
sanitários tratados responderão por aproximadamente 30% de toda a água
disponibilizada para a agricultura, sendo atualmente, utilizados
principalmente no cultivo do algodão (SHELEF, 1991).

2.3.1 Efeitos da irrigação com efluente de esgoto tratado no solo

Os principais atributos do solo afetados pela irrigação com EET são:


razão de infiltração, condutividade hidráulica, densidade, porosidade, pH e
conteúdo de nutrientes (GUO; SIMS, 2003). Sabe-se que os efeitos da
irrigação com EET nos solos são mais pronunciados após longos períodos de
irrigação, assim, Rattan et al. (2005) observaram após 20 anos de irrigação
por canais, aumento de 38-79% no C-orgânico do solo, e decréscimo de 0,4
unidade do valor do pH do solo, bem como aumento nos teores dos
micronutrientes Zn (208%), Cu (170%), Fe (170%) no solo. Apesar deste
efeito demorado, mudanças verificadas em curto prazo também foram
observadas por Barton et al. (2005). Os autores irrigando durante dois anos
-1
um solo com EET, observaram aumento de 746 a 815 kg ha de N e de 283 a
-1
331 kg ha de P. Menos da metade do N aplicado estava na forma
inorgânica e mais de 70% do fósforo estava na forma prontamente
disponível. Qian & Mecham (2005) relataram aumento de 200% de Na
trocável, 24% de Ca trocável, 0,3 unidades no valor do pH e 12% na CTC.
Azevedo & Oliveira (2005) verificaram além do aumento na CTC do
solo, elevação nos teores de P, K e matéria orgânica do solo. Fonseca, Melfi
& Montes (2005a) observaram que a aplicação de EET reduziu o efeito da
acidez causada pela adubação nitrogenada mineral, induziu o aumento da
condutividade elétrica e da saturação por bases em um LATOSSOLO
VERMELHO. Santos (2004) observou aumento no teor de Al trocável de um
ARGISSOLO VERMELHO, após seis meses de irrigação com EET. Entretanto,
não houve prejuízo na produção de matéria seca do capim Tifton-85
irrigado.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Avaliando lâminas excessivas de irrigação de 100 até 200% da


evapotranspiração da cultura da cana-de-açúcar, Leal et al. (2009a)
-1
observaram aumentos no teor de Na trocável de 2,4 para 6,0 mmolc kg , na
-1
razão de adsorção de sódio (RAS) de 3,6 para 12 mmol L e a porcentagem
de sódio trocável (PST) de 8 para 18%, corroborando com os dados obtidos
por Herpin et al. (2007). Gloaguen et al. (2007) observaram o aumento da
RAS, da condutividade elétrica (CE), além de leve aumento do pH. Leal et al.
(2009b) concluíram que houve adição de Na, N e K no solo, sob irrigação
com EET cultivado com cana-de-açúcar. Recentemente, Nogueira (2008)
constatou o enriquecimento na abundância natural de N no solo e nas
folhas de capim irrigado com EET. Paula (2008) observou aumento na
concentração de Ca e Na trocáveis e redução da acidez ativa e dos teores de
Mg e K trocáveis em um ARGISSOLO VERMELHO. Além disto, relatou
aumento do potencial metabólico dos microorganismos no solo após a
irrigação com EET.

2.3.2 Efeitos da irrigação com efluente de esgoto tratado em plantas

Diversos trabalhos internacionais demonstraram a influência do EET


na nutrição de plantas. Após um ano de aplicação de EET em roseira
cultivada em fibra de coco, não foram observadas alterações no
comprimento das plantas, coloração e diâmetro das flores, bem como na
concentração de N, P, K, Ca e Mg nas folhas (NIRIT et al., 2006). Por outro
lado, houve um aumento de concentração no tecido foliar de 24%, 26%,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


39% e 47% para Mn, Cu, B e Cl, respectivamente. Outros estudos mostraram
que a concentração de N e P nas folhas e frutos de berinjela submetidas a
irrigações com EET foram superiores às plantas irrigadas com água tratada
(AL-NAKSHABANDI et al., 1997). Barton et al. (2005) notaram aumento de
-1 -1 -1 -1
186 para 437 kg ha ano de N e de 40 para 88 kg ha ano de P em duas
espécies de gramíneas, cultivadas em quatro tipos de solos distintos,
-1
irrigados durante dois anos com 2300 mm ano de EET.

No Brasil, algumas pesquisas foram conduzidas para avaliar o efeito


da irrigação com EET em solo agrícola e sua influência nas plantas. Azevedo
& Oliveira (2005) observaram que a irrigação com EET, quando comparado à
testemunha, aumentou em 47% o peso do pepino fresco. Em condições de
casa de vegetação, Fonseca, Melfi & Montes (2005b) compararam a
aplicação de EET, água pura e adubação com o N mineral (ureia) na cultura
de milho. Esses autores concluíram que o EET substituiu totalmente a
irrigação com água e supriu parcialmente as necessidades da fertilização
mineral nitrogenada da cultura. Eles não relataram alteração no acúmulo de
S, B, Cu, Fe e Mn na parte aérea do milho, embora tenham encontrado
pequeno decréscimo de Zn. Além disso, o Na aumentou quinze vezes no
solo e cem vezes na planta.

Piveli & Mendonça (2003) conduzindo experimentos com EET nas


culturas de milho e de girassol concluíram que a irrigação com EET
aumentou o índice de área foliar, a massa seca da parte aérea e a
produtividade de grãos na cultura do milho. Marques et al. (2003)
apresentaram resultados de experimentos com diversas culturas agrícolas:
algodão, girassol, mamona, milho, sorgo forrageiro e pimentão, conduzidos
por diversas instituições como USP, UNICAMP, UFCG, UFPE, UFRN e UFV.
Esses autores relatam que o EET tem potencial para substituir a adubação
nitrogenada convencional, pois não houve efeito negativo da aplicação de
EET na porcentagem de germinação e na velocidade de emergência de
plântulas, embora a produtividade das culturas tenha sido ligeiramente
inferior quando comparadas com as plantas irrigadas com água
convencional. Fonseca (2005) concluiu que a irrigação com EET em
substituição à AT levou a uma economia de 32 a 81% na dose de fertilizante
nitrogenado mineral necessário para o alto rendimento produtivo de capim
Tifton-85, sem ocasionar alterações negativas no solo e planta.

Romeiro (2012) irrigando laranjeiras com EET para satisfazer a


demanda por nitrogênio da cultura observou que o efluente é capaz de
satisfazer totalmente a necessidade das plantas pelo elemento, e que os
teores de K observados no tecido vegetal foram superiores nos tratamentos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

que substituíam em no mínimo 75% a adubação nitrogenada mineral.

3 ÁGUA RESIDUÁRIA DE SUINOCULTURA EM SOLO CULTIVADO COM SOJA:


EXPERIÊNCIA EM CASCAVEL/PR

O crescente reúso de efluentes tratados na agricultura visa promover


uma atividade sustentável, preservando a qualidade do meio ambiente.

A suinocultura no Brasil é uma atividade predominante em pequenas


propriedades rurais, e é uma atividade importante do ponto de vista social,
econômico e especialmente como instrumento de fixação do homem no
campo. Cerca de 81% dos suínos criados no país, são em propriedades de
até 100 hectares. Essa atividade é considerada pelos órgãos ambientais
como uma atividade potencialmente poluidora, causadora de degradação
ambiental. Nesse sentido, muitos pesquisadores têm estudado os efeitos da
aplicação de água residuária de suinocultura (ARS) sobre as características
químicas do solo e seus impactos no meio ambiente.

Visando avaliar os possíveis impactos causados no solo e no


percolado, instalou-se lisímetros de drenagem em uma área no Núcleo
Experimental de Engenharia Agrícola da UNIOESTE, campus de Cascavel - PR.
Na área foram construídos 24 lisímetros de drenagem nos quais foi semeado
a soja cultivar CD 214 da COODETEC (Cooperativa Central de Pesquisa
Agrícola), sob quatro taxas de água ARS tratados por um biodigestor (0, 100,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


200, e 300 m3 ha-1), sete dias antes da semeadura, em uma única aplicação,
combinados com duas taxas de adubação (com e sem adubação
recomendada na semeadura). O solo da área experimental foi classificado
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, com relevo suave a
ondulado e textura muito argilosa, com composição de 5,90% de areia,
14,73 % de silte e 79,37% de argila (EMBRAPA, 2006).

Os 24 lisímetros de drenagem foram construídos de acordo com a


metodologia da FAO (1982), distribuídos em 3 linhas com 8 lisímetros,
espaçados em 0,6 m na largura e 0,4 m no comprimento, conforme pode ser
3
observado na Figura 01. Cada lisímetro apresentava um volume de 1 m e
2
área de 1,60 m (profundidade de 0,91 m e diâmetro superior de 1,43 m)
compreendendo uma parcela experimental. Em cada parcela havia 4 linhas
da cultura; as duas linhas centrais foram consideradas área útil e outras
duas, uma em cada lateral dos lisímetros com função de bordadura. A água
residuária utilizada foi tratada em um biodigestor, seguido de um tanque de
sedimentação e lagoa de estabilização, sendo a tubulação de saída desta, o
ponto de coleta. No Quadro 01 são apresentados os tratamentos utilizados
no experimento.
Figura 01: Disposição dos lisímetros de drenagem
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Maggi (2009).

Quadro 01: Descrição dos tratamentos

Tratamento Taxa ARS Adubação química


(m3ha-1) Com* Sem
T1 0 X
T2 0 X
T3 100 X
T4 100 X
T5 200 X
T6 200 X
T7 300 X
T8 300 X
* Aplicação de adubação química equivalente a 400 Kg ha-1.

-1
Na Tabela 1 está apresentado a quantidade total, em kg ha , dos
elementos químicos cálcio, magnésio, potássio, fósforo, nitrogênio total e
nitrato, adicionadas aos tratamentos de acordo com as taxas de ARS e
adubação.
Para os tratamentos que receberam adubação na semeadura, (T2, T4,
-1 -1
T6 e T8) foi adicionado pela adubação o equivalente a 40 kg ha e 80 kg ha

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


de K e P, respectivamente. Foram realizadas três coletas de solo, a primeira
aos 40 DAS (dias após a semeadura), no inicio do desenvolvimento da
cultura; a segunda realizada aos 72 DAS, estádio vegetativo e a última os
117 DAS, um dia antes da colheita, para avaliar a variação dos elementos
químicos no perfil. Para o percolado foram realizadas 3 coletas nas mesmas
datas de coletas do solo, os pontos coletores de cada lisímetro eram abertos
para a coleta das amostras, foram avaliados: PH, Ca, Mg, K, P, e N total, no
solo e percolado.

Tabela 01: Quantidade total de cálcio, magnésio, potássio, fósforo, nitrogênio total e nitrato
aplicados de acordo com os tratamentos com água residuária de suinocultura e adubação.
Nutriente Total aplicado (kg ha-1)

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
Ca 0 0 3,8 3,8 7,6 7,6 11,4 11,4
Mg 0 0 3,9 3,9 7,8 7,8 11,7 11,7
K 0 33,2 46 79,2 92 125 138 171,2
P 0 34,9 11 45,9 22 56,9 33 67,9
N total 0 0 89 89 178 178 267 267
Nitrato 0 0 0,2 0,2 0,4 0,4 0,2 0,2

A aplicação de ARS e adubação na semeadura não influenciaram os


valores do pH do solo bem como no percolado. O pH é uma propriedade
química essencial que controla a solubilidade dos nutrientes no solo,
exercendo assim considerável influência sobre a adsorção dos mesmos. A
decomposição da matéria orgânica no solo, em seus estágios iniciais
promove aumento da acidez, fenômeno que se inverte com o passar do
tempo. De acordo com a Resolução n. 357/2005 do CONAMA (BRASIL, 2005)
que estabelece valores de pH entre 5,0 e 9,0 como parâmetro o padrão de
lançamento de efluentes, os valores encontrados no percolado dos
lisímetros se enquadram nesta faixa permitida.
Os teores de Ca no solo foram significativos apenas para a variável
dias após a semeadura (DAS), reduzindo-se ao longo das coletas. Apesar da
concentração de Ca na água residuária ser baixa, as concentrações
encontradas no solo apresentam valores considerados adequados para a
classe de fertilidade do solo (COELHO, et al.; 2006). Mesmo para as médias
observadas antes da semeadura, as concentrações encontradas no solo
apresentavam-se na faixa considerada como muito boa quanto à
disponibilidade do elemento no solo.
Estudos conduzidos por Mendonça e Rowell (1994) demonstraram
que pequenas variações dos teores de Ca no solo podem ocorrer em função
da baixa concentração do elemento Ca na água residuária, ou pela maior
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

retenção de Ca pela matéria orgânica.


O teor de Ca no material percolado foi maior para os tratamentos
que receberam adubação. Isso pode ter ocorrido porque o adubo apresenta
um percentual do elemento em sua composição, estimada em torno de
11%, e esse fator contribuiu para esse aumento das concentrações de Ca
nos tratamentos que receberam adubação na semeadura.
As concentrações de Ca no percolado elevaram-se à medida que se
aumentaram as taxas de ARS, comprovando que os resíduos orgânicos
contribuem para o aumento da lixiviação pelo fato de que a água residuária
pode ocasionar elevação do pH favorecendo a mineralização, aumentando a
liberação de CO2, e consequentemente, a lixiviação de Ca(HCO3)2 com a
água. Já se comparado à quantidade de Ca no início do ciclo da cultura, a
concentração foi maior do que ao final, comprovando que a cultura utilizou
esse nutriente para seu desenvolvimento.
Observou-se que os teores de magnésio no solo ao longo do
experimento reduziram. Esta redução foi causada, possivelmente, pela
formação de complexo com algum composto orgânico aplicado via dejetos
líquidos de suínos (MALAVOLTA, 1976), outro fator que contribuiu pra essa
redução foi à absorção pela planta. No percolado, as concentrações de
magnésio não foram influenciadas pelas taxas de ARS, adubação e coletas,
bem como por suas interações.
Os valores de K no solo e no percolado aumentaram conforme o
aumento das taxas de ARS e adubação. Os teores de potássio nos
tratamentos que receberam adubação na semeadura foram 21,15%
superiores ao que não receberam adubação. Estes resultados justificam-se
uma vez que nos tratamentos que receberam adubo químico foi

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


incorporado um valor de 28,85% superior de potássio em relação aos
tratamentos com maiores doses de ARS. Resultados semelhantes foram
encontrados por Freitas et al. (2004) que verificaram aumento nas
concentrações de potássio no solo com a aplicação de água residuária de
suinocultura. Seganfredo (1998) verificou que os teores de K no solo são
superiores nos solos que receberam aplicação de ARS em comparação aos
que não receberam. Porém, houve uma maior proximidade entre os teores
dos solos com e sem aplicação e isso pode ser devido ao fato de que com a
aplicação de ARS pode haver maior crescimento das plantas, que resultou
em maiores quantidades exportadas.
Já os tratamentos que receberam adubação na semeadura
apresentaram maiores concentrações de K no percolado. Isso ocorreu pelo
fato de que no solo, o K é um elemento móvel e está sujeito à lixiviação a
qual será tanto maior quanto maior for a dose. A lixiviação de potássio será
maior quanto mais expressiva for a presença, em solução, de ânions com
menor capacidade de adsorção, lembrando que se tem no solo a seguinte
- 2-
ordem preferencial de adsorção: H2PO4 (hidrogenofosfato) > SO4 (sulfato)
- -
> NO3 (nitrato) > Cl (cloreto). Essa maior lixiviação nos tratamentos que
receberam adubação química na semeadura ocorreu porque o potássio
usado na adubação foi aplicado na forma de KCl (cloreto de potássio), e esse
nutriente quando aplicado na forma KCl, sofre maior lixiviação do que
-
quando aplicado na forma K2SO4 (sulfato de potássio), ânion com maior
capacidade de absorção do que o KCl, ou de KAISiO 4 (kalsilita) que além de
-
apresentar baixa solubilidade em água, contém o ânion SiO 4 que é mais
-
fortemente adsorvido pelo H2PO4 .
Os teores de P no solo sofreram aumento de acordo com as taxas de
-3
aplicação de ARS. O maior valor de P no solo foi de 2,73 (mg dm ), para a
3 -1
maior taxa de ARS aplicada (300 m ha ). O comportamento verificado no
presente estudo pode ser observado em estudos realizados por Queiroz et
al. (2004) que verificaram um aumento no teor de P disponível em relação à
condição inicial com aplicação de ARS, indicando um acúmulo desse macro
nutriente no solo.
As maiores concentrações de fósforo no percolado foram
encontradas nos tratamentos que receberam maiores taxa de ARS. A
mobilidade de fósforo no solo é muito pequena, e por isso as perdas por
percolação em solos agricultáveis são consideradas insignificantes (Basso,
2003), devido a isso se observam baixas concentrações do elemento no
percolado. Comparando-se a lixiviação de fósforo com aplicação de
fertilizantes e resíduos orgânicos, alguns autores verificam que ocorre maior
mobilidade de fósforo no solo na forma orgânica (MOZAFFARI e SIMS, 1994;
EGHBALL et al.; 1996).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Bertol (2005) evidenciou que o solo que recebe dejeto líquido de


suíno propicia maior suscetibilidade do solo para perda de fósforo, em
relação ao solo que recebem formulados com NPK. Isso significa, ainda, que
a transferência de fósforo para o solo por meio de dejeto líquido de suíno
apresenta maior risco ambiental do que se essa transferência fosse feita por
uma fonte inorgânica.
O N-total no solo foi influenciado pela aplicação de ARS e as
concentrações de nitrogênio no solo aumentaram ao logo do ciclo de
desenvolvimento da cultura, já no percolado, o N-total não foi influenciado
pela aplicação de ARS. Resultados semelhantes foram encontrados por
Smanhotto (2008) aplicando ARS em solos cultivados com soja, em que não
observou diferenças significativas nas concentrações de nitrogênio total no
percolado com aplicação de água residuária de suinocultura e adubação
bem como para interação adubação ARS. Boeira e Souza (2007)
completaram que outros mecanismos, além da lixiviação podem afetar os
estoques de N no solo, pois este elemento é sujeito a diversos outros
processos e transformações no solo, como desnitrificação, volatização,
armazenamento de N orgânico no solo e absorção pelas plantas. As
concentrações de nitrogênio total no percolado não ultrapassaram os
valores estabelecidos na resolução do Conama (BRASIL, 2005), indicando
que não há risco de contaminação do lençol freático pela quantidade de
nitrogênio total encontrado no percolado.
4 VINHAÇA NA IRRIGAÇÃO DE CULTURAS AGRÍCOLAS

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Considerado um efluente altamente poluidor, dezenas de vezes
maior que o esgoto doméstico, a vinhaça possui características fertilizantes
muito boas, porém com elevado grau de nocividade ao meio ambiente
como um todo (FREIRE & CORTEZ, 2000).
A produção de vinhaça no Brasil está diretamente ligada à fabricação
de etanol, e como tal, foi alavancada com os incentivos e consequente
aumento de produção de etanol, onde estima-se uma proporção que varia
de 1:10 a 1:18 (Litrosetanol:Litrosvinhaça) (SILVA et al., 2007).
Conforme afirmou Rosseto (1987) apud Silva (2007), a vinhaça em
sua essência é constituída de material orgânico, majoritariamente ácidos
orgânicos e em minoria, cátions (K, Ca e Mg). Os autores ainda salientam
que em termos nutricionais, a origem do mosto é fator importante e de
acordo com o tipo de mosto tais valores caem drasticamente. É apresentado
na Tabela 3, um exemplo de caracterização físico-química da vinhaça, obtida
no Estado de São Paulo em uma média de 28 usinas.
Rosseto (1987) apud APTA (2007) afirmaram que houve alterações
na tecnologia de aplicação da vinhaça ao longo dos anos, passando de
rudimentares sistemas de irrigação por superfície para sistemas de
aspersão, tendo destaque para o canhão hidráulico, que ainda é usado em
usinas de açúcar e etanol.
Nunes Junior et al. (2005) apud Prado & Pancelli (2008) realizaram
uma pesquisa com 54 usinas do Brasil, com metade delas localizadas no
Estado de São Paulo, onde puderam constatar que o sistema de irrigação
por meio de canhão hidráulico mostra-se como o mais usual para
distribuição de vinhaça. As Tabelas 2 e 3 apresentam, respectivamente, a
distribuição de vinhaça no Brasil e a maneira como é realizada a aplicação
por região.
Tabela 2: Caracterização Físico-química da vinhaça (média de 64 amostras de 28 usinas do
Estado de São Paulo)
Descrição Concentrações
Padrão / litro álcool
Mínimo Média Máximo
Dados de Processo
Brix de Mosto (oB) 12,00 18,65 23,65
Teor alcoólico do vinho (oGL) 5,73 8,58 11,30
Taxa de vinhaça (L/L álcool) 5,11 10,85 16,43
Vazão de referência (m³/dia) 530,00 1908,86 4128,00 10,85 L
Caracterização da Vinhaça
Ph 3,50 4,15 4,90
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Temperatura (oC) 65,00 89,16 110,50


Demanda Bioquímica de 6680,00 16949,76 75330,00 175,13 g
Oxigênio (DBO5) (mg/L)
Demanda Química de Oxigênio 9200,00 28450,00 97400,00 297,60 g
(DQO) (mg/L)
Sólidos Totais (ST) (mg/L) 10780,00 25154,61 38680,00 268,90 g
Sólidos Suspensos Totais (SST) 260,00 3966,84 9500,00 45,71 g
(mg/L)
Sólidos Suspensos Fixos (SSF) 40,00 294,38 1500,00 2,69 g
(mg/L)
Sólidos Suspensos Voláteis 40,00 3632,16 9070,00 43,02 g
(SSV) (mg/L)
Sólidos Dissolvidos Totais (SDT) 1509,00 18420,06 33680,00 223,19 g
(mg/L)
Sólidos Dissolvidos Fixos (SDF) 588,00 6579,58 15000,00 77,98 g
(mg/L)
Sólidos Dissolvidos Voláteis 921,00 11872,36 24020,00 145,21 g
(SDV) (mg/L)
Resíduos Sedimentáveis (RS) 1 0,20 2,29 20,00 24,81 ml
hora (ml/L)
Cálcio (mg/L) 71,00 515,25 1096,00 5,38 g
Cloreto (mg/L) 480,00 1218,91 2300,00 12,91 g
Cobre (mg/L) 0,50 1,20 3,00 0,01 g
Ferro (mg/L) 2,00 25,17 200,00 0,27 g
Fósforo total (mg/L) 18,00 60,41 188,00 0,65 g
Magnésio (mg/L) 97,00 225,64 456,00 2,39 g
Manganês (mg/L) 1,00 4,82 12,00 0,05 g
Nitrogênio (mg/L) 90,00 356,63 885,00 3,84 g
Nitrogênio amoniacal (mg/L) 1,00 10,94 65,00 0,12 g
Potássio total (mg/L) 814,00 2034,89 3852,00 21,21 g
Sódio (mg/L) 8,00 51,55 220,00 0,56 g
Sulfato (mg/L) 790,00 1537,66 2800,00 16,17 g
Sulfito (mg/L) 5,00 35,90 153,00 0,37 g
Zinco (mg/L) 0,70 1,70 4,60 0,02 g
Etanol-CG (ml/L) 0,10 0,88 119,00 9,1 ml
Glicerol (ml/L) 2,60 5,89 25,00 62,1 ml
Levedura (base seca) (mg/L) 114,01 403,56 1500,15 44,1 g
Fonte: ELIA NETO & NAKAHONDO, 1995, adaptado de PREZOTTO (2009).
Tabela 03: Distribuição da aplicação da vinhaça nas diversas regiões brasileiras na safra 2003/04
Distribuição da Vinhaça (%)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Canais Caminhão
São Paulo 76,6 23,4
Centro Sul 80,9 19,1
Nordeste / Leste 100 0,0
Brasil 82,5 17,5
Fonte: Nunes Junior et al. (2005) adaptado de APTA (2007).

Tabela 04: Modos de aplicação da vinhaça nas diversas regiões brasileiras na safra 2003/04
Aspersão Caminhão
Montagem Carretel Na Lavoura Com Carretel
Direta Enrolador
São Paulo 6,7 69,9 9,9 13,5
Centro Sul 24,0 56,9 9,2 9,9
Nordeste / Leste 100 0,0 0,0 0,0
Brasil 30,0 52,2 8,4 9,1
Fonte: Nunes Junior et al. (2005) adaptado de APTA (2007).

No Estado de São Paulo, a Companhia Ambiental do Estado (CETESB)


é o órgão responsável pela regulamentação da aplicação da vinhaça, sendo
que a mesma é feita baseando-se em sua capacidade poluente, por meio da
Normativa P 4.231 (CETESB, 2006). Tal normativa indica características da
área de aplicação, como não conter APP (área de Preservação Permanente)
ou de reserva legal regulamenta o uso da vinhaça, indicando que a área de
aplicação não deve estar contida no domínio das Áreas de Preservação
Permanente – APP ou de reserva legal, ou ainda não estar em área de
domínio de ferrovias e/ou rodovias, tanto estaduais e federais, bem como
ainda estarem ao menos 1000 metros distantes de centros populacionais.

Ainda conforme a normativa da CETESB, deve-se aplicar vinhaça


apenas quando o aquífero estiver com nível a ao menos 1,5 metros de
profundidade e, no caso de áreas com grande desnível, indica-se a adoção
de práticas conservacionistas em relação ao solo, tomando-se cuidado em
relação a velocidade de infiltração básica (VIB) da vinhaça no solo e a
quantidade aplicada, esta não devendo ser maior que a VIB. Em relação ao
armazenamento da vinhaça, a mesma normativa indica que ela deve ser
armazenada em tanques impermeabilizados. No que tange a aplicação da
vinhaça, dosagens maiores podem ser aplicadas quando da deficiência de K
na CTC do solo for inferior a 5% e no caso deste valor ser atingido, a CETESB
indica apenas o uso da dose de K que será utilizada pela cana no ano em
questão. A normativa da CETESB cita a Equação 1 para a obtenção da
dosagem de vinhaça a ser aplicada por hectare.

( )
[ ] (1)

Em que:
-1
Dosagem – quantidade de vinhaça aplicada, m³ ha ;
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

CTC – capacidade de troca de cátions, cmolc dm³;


ks – concentração de potássio no solo, cmolc dm³;
kvi – concentração de potássio na vinhaça, kg de K2O m³;

4.1 APLICAÇÃO DE VINHAÇA EM ESPÉCIES VEGETAIS

A EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, em seu Boletim de


Desenvolvimento e Pesquisa nº 97 de dezembro de 2015, apresenta um
estudo sobre o uso de vinhaça em cultivares de alface, com um experimento
conduzido no período de janeiro a fevereiro de 2015, no Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal de Alagoas, no Município de Rio Largo, AL.
Conforme os resultados obtidos pelos autores, de uma forma geral, as
demais fontes suprem as demandas nutricionais das cultivares avaliadas.

Pode-se citar ainda o estudo de Palaretti et. al. 2015, em relação ao


uso da vinhaça como componente de incremento na irrigação de manjericão
(Ocimum basilicum L.), que ao longo do uso de 3 meses de experimento,
avaliando altura de planta, diâmetro do caule, massa fresca e seca da raiz,
volume da raiz, área foliar, massa fresca e seca de folhas e inflorescência,
massa fresca e seca do caule, produtividade da massa fresca e seca das
folhas, concluíram que para as características biometrias das plantas, houve
aumento com aplicação da vinhaça concentrada.

Silva et al. (2014), em seu estudo da aplicação de vinhaça na cultura


da cana-de-açúcar, verificou o efeito no solo e na produtividade de colmos,
com tratamentos constituídos de cinco doses de vinhaça (0, 100, 200, 400 e
-1 -1
800 m³ ha ano ), distribuídas em parcelas experimentais de 10,0 m de
comprimento por 4,2 m de largura, concluindo assim com seu estudo que a

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


há uma correlação positiva entre a aplicação de vinhaça e o aumento da
produtividade de colmos (o autor encontra valores médios em torno de 10,5
-1
t ha ) em solos arenosos, com aumentos significativos no incremento de K
no solo.

Tais trabalhos mostram o potencial de uso da vinhaça na agricultura


dada suas características e principalmente por possuir escoamento
semelhante ao da água, em geral com maior perda de carga, fato este que
pode ser contornado com uso de aditivos no escoamento, como
comprovado por Justi et al. (2012), em seu estudo de verificação do uso de
aditivos para escoamento forçado de fluidos, onde verificou que as
características de ambos fluidos diferem, porém o resultado efetivo do uso
de tais aditivos, hidraulicamente, é significante para aplicação do produto
no meio.

5 REAPROVEITAMENTO DE REJEITO SALINO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

A demandada água tem se elevado nas últimas décadas em função


do aumento populacional que força as retiradas permanentes para, entre
outros, o uso industrial, o doméstico, a irrigação, dessedentação de animais
e abastecimento público, esse, exigindo padrões de potabilidade muito
restritivos.

Nesse contexto, novas tecnologias vêm surgindo para garantir a


disponibilidade de água de boa qualidade, principalmente em regiões que
naturalmente sofrem com problemas de escassez de água ou em regiões
onde a poluição, pode comprometer negativamente a qualidade desse
recurso, inviabilizando a utilização em diversas atividades.

Em algumas dessas regiões os métodos de dessalinização têm sido


amplamente empregados para elevar a disponibilidade hídrica de boa
qualidade. ARAUJO (2013) menciona que a dessalinização tem sido utilizada
como uma fonte potencial de fornecimento de água em regiões áridas do
oriente médio, em países como a Austrália, China, e Estados Unidos, mais
especificamente nas zonas costeiras da Califórnia; ainda salienta que essa
tecnologia destaca-se à medida que os custos inerentes ao processo
decrescem tornando-a cada vez mais competitiva em relação às alternativas
tradicionais. De acordo com Fernandes et al. (2015) alguns dos países
localizados nos continentes Asiático, Europeu e Americano realizam o
processo de dessalinização de água salina, que em alguns casos é
responsável por grande parte da água potável disponível para a população
local.

A salinidade nas águas ocorre devido à própria constituição natural


das mesmas, ou em função de fatores climáticos, tipos de solo e distância
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

em relação ao mar (SOUZA, 2006). Em algumas regiões litorâneas pode


ocorrer intrusão de água salina (do mar) nas águas subterrâneas ou em
mananciais de abastecimento, dificultando o tratamento convencional para
o abastecimento público.

Segundo Salassier et al. (2006) a salinidade está diretamente


relacionada à quantidade de sais solúveis presentes na água, podendo ser
expressa em termos de condutividade elétrica ou partes por milhão (ppm).
No Brasil, a Resolução do Conama n. 357 de 2005, que traz um conjunto de
condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos
usos preponderantes, atuais ou futuros, define águas salobras como aquelas
que possuem salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰; e águas salinas
aquelas com salinidade igual ou superior a 30 ‰. Águas salobras, por
exemplo, podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano,
após tratamento convencional ou avançado; também podem ser utilizadas
na irrigação, exceto àquelas culturas com desenvolvimento rente ao solo
(BRASIL, 2005).

Para a conversão da água salina em água doce são utilizados métodos


associados físicos e químicos para a retirada se sais presentes na água salina
ou salobra, tornando-a uma água doce e/ou potável. Além da remoção de
minerais, este processo, pode remover outros componentes químicos,
orgânicos e biológicos (ARAJUJO, 2013).

Em todo mundo o processo de dessalinização pode ser realizado por


diferentes métodos, combinados ou não, tais como: dessalinização térmica,
método por congelamento, destilação multiestágios, ultrafiltração e osmose
reversa (SABESP, 2015), esse último o mais conhecido e amplamente
utilizado no Brasil.
Em regiões áridas e semiáridas no nordeste brasileiro, a prática da
dessalinização é muito fomentada visando principalmente o tratamento de

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


águas salobras de poços para o abastecimento de pequenas comunidades,
tornando-se um importante instrumento para a melhoria da qualidade de
vida de seus habitantes (SANTOS et al., 2010; DIAS et al., 2012), sendo a
osmose reversa o método de dessalinização predominante na região,
principalmente pela simplicidade operacional e baixo custo (FERREIRA et al.,
2015) quando comparado às demais tecnologias existentes.

A dessalinização por osmose reversa, a partir da água salina ou


salobra, é caracterizada pelo uso de uma tecnologia de separação por
membranas, onde é produzido tanto o permeado (água limpa) quanto o
concentrado, também chamado de rejeito salino ou salmoura. Esse rejeito é
caracterizado como uma água residual de concentração salina muito
superior à água salobra e/ou salina original, possuindo poder poluente
(VALE & AZEVEDO, 2013), o que torna seu descarte um problema ambiental.

A composição física e química do concentrado salino varia em função


da qualidade da água de alimentação, da tecnologia empregada, dos
produtos químicos utilizados no pré e pós-tratamento, e percentual de
recuperação o que também contribui para definição do método de
eliminação (MICKLEY, 1995). Conforme apresentado na Tabela 4, a
concentração de sólidos dissolvidos totais no concentrado salino varia de
acordo com a água de origem, assim como outros constituintes químicos,
como indicado na Tabela 5.

Tabela 4 - Características dos rejeitos salinos gerados no processo de dessalinização por osmose
reversa (OR)
Sódios dissolvidos
Processo (mg L-1)
Origem da água Finalidade
empregado Rejeito
Alimentação
(concentrado)
Água salina (do mar) Potabilidade OR(1) 36.000 64.800
Poços salobros de baixa
Potabilidade OR 2.000 2.800
vazão(2)
Poços salobros de alta
Potabilidade OR 2.000 10.000
vazão(3)
(1) Requer pré-tratamento ou ultrafiltração ou processos convencionais para a remoção de
sólidos suspensos. (2) Poços com vazões de até 4.000 L h-1. (3) Poços com vazões superiores a
4.000 L h-1. Fonte: adaptado de Peig & Ramos (2010).
De acordo com Souza (2006), águas contendo concentração de sais
-1
dissolvidos igual ou superior a 1.000 mg L , são inadequadas para o
abastecimento humano uma vez que podem ser prejudiciais à saúde. Para a
-1
WHO (2007) uma água com concentrações abaixo dos 1.000 mg L de
sólidos dissolvidos totais (SDT) é aceitável para consumidores. Já a
Classificação Proposta pelo laboratório de salinidade dos Estados Unidos,
-1
cita uma condutividade elétrica entre 2,25 e 5,00 dS m para uma água com
salinidade muito alta, podendo ser utilizada, ocasionalmente na irrigação de
culturas, em condições muito especiais (SALASSIER et al., 2006).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Tabela 5 – Composição química do rejeito salino de diferentes usinas de dessalinização de água


salobra
Usina*
Parâmetro Unidade
A B C
pH - 7,54 7,21 7,66
Condutividade elétrica dS cm-1 14,96 16,8 127,41
Sólidos Dissolvidos Totais 10.923 10.553 7.350
Sulfato 2.444 1.552 1.537
Cálcio mg L-1 202 923 173
Magnésio 510 413 311
Sódio 3.190 2.780 1.930
*Usinas de dessalinização localizadas em diferentes países (Omã e Emirados Árabes Unidos -
EAU). (A) localizada em UmmAl Quwain, EAU; (B) localizada em Alssadanat, Omã; e (C)
localizada em Hamriyah, Sharjah, EAU. Fonte: adaptado de Mohamed et al. (2005).

Dependendo do equipamento e das características da água salobra


e/ou salina, a quantidade de rejeito gerado no processo poderá variar de 40
a 60% do total da água processada (PORTO et al., 2001), apresentando
concentração de sais minerais e contaminantes na ordem de 2 a 10 vezes
mais elevada do que na água bruta, dependendo da eficiência do sistema
(WHO, 2007).

Dentre as alternativas para descarte do rejeito salino, destacam-se:


eliminação em sistemas de tratamento de esgoto sanitário; em sistemas
hidropônicos ou de irrigação, associado à aplicação de fertilizantes
(compondo a solução nutritiva); injeção em aquíferos salinos profundos
(aquíferos de água não potável); disposição direta na superfície do solo; e
descarte no mar (MOHAMED et al., 2005). Em geral, o solo e os cursos
d’água são os meios principais de deposição dos rejeitos salinos,
acarretando em impactos negativos ao ambiente das comunidades que se
beneficiam desta tecnologia (REBOUÇAS et al., 2013).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O processo de dessalinização de águas salobras e/ou salinas pode ser
uma grande ferramenta para atenuar os problemas de abastecimento de
água, no entanto, o desenvolvimento do processo, em países
subdesenvolvidos, ainda deve ser aprimorado bem como a reutilização da
água de rejeito (FERNANDES et al., 2015).

Nesse sentido, muitas pesquisas vêm buscando uma alternativa para


descarte e/ou aproveitamento do rejeito salino gerado em sistemas de
dessalinização, de maneira a amenizar os efeitos adversos causados ao meio
ambiente pelo descarte inadequado desse resíduo. Como alternativa, surge
o reúso agrícola, que visa o aproveitamento sustentável do concentrado
salino.

Estudos apontam para a utilização em viveiros para produção de


peixes (ARAÚJO & PORTO, 1999; GURGEL, 2006; DIAS et al., 2012); no
cultivo de espécies halófitas (DIAS et al., 2012); e na composição da solução
nutritiva para cultivo hidropônico (SANTOS et al, 2010; SANTOS et al., 2011;
GOMES et al., 2011; COSME et al., 2011; REBOUÇAS et al., 2013), essa,
tendo como principal vantagem a inexistência do potencial mátrico em
razão do estado de saturação ao qual as plantas estão submetidas (DIAS et
al., 2012). Também é verificada a utilização do rejeito salino para produção
de forragem, utilizando gramíneas com demanda hídrica elevada e alta
tolerância à salinidade da água (DIAS et al., 2012; VALE & AZEVEDO, 2013;
SILVA et al., 2014).

Em estudo realizado por Santos et al. (2010) para avaliação do


potencial aproveitamento de uma água subterrânea e dos rejeitos de sua
dessalinização no cultivo de alface, os autores verificaram redução linear no
crescimento das plantas em função do aumento da salinidade. Já Santos et
al. (2011) inferiram que o uso de rejeito salino no preparo de solução
nutritiva pode substituir a água doce na reposição da lâmina
evapotranspirada na produção hidropônica, sem perdas no rendimento de
alface (cv. ‘Elba’). Gomes et al (2011) não constataram perdas na
produtividade de tomate cereja (cv. ‘Samambaia’) utilizando 25% de rejeito
salino no preparo da solução nutritiva. No entanto Cosme et al. (2011),
observaram que a salinidade da solução nutritiva produzida pelo
concentrado salino provocou reduções significativas na produção de frutos e
na massa fresca e seca da parte aérea da cultura do tomate.

Embora seja verificado que o concentrado salino contribua para


reduções nos parâmetros biométricos das culturas, este pode ser uma boa
alternativa de sustentabilidade socioeconômica para aproveitamento da
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

água residual da dessalinização de águas salobras ou salinas, surgindo como


uma fonte de renda para pequenas comunidades (VALE & AZEVEDO, 2013),
possibilitando economia de água de boa qualidade e contribuindo para
produção agrícola, mesmo que em pequena escala.

REFERENCIAL

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workshop tecnológico. Jaboticabal. 2007. Disponível em:
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ARAÚJO, O. J.; PORTO, E. R. Cultivo de tilápia rosa (Oreochromis sp.) em água de rejeito de
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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
SEÇÃO 03 - PLANTA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

QUIMIGAÇÃO

BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS E SEU POTENCIAL


EM PROMOVER O CRESCIMENTO VEGETAL
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 8

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

1
Ilca Puertas de Freitas e Silva
2
Josué Ferreira Silva Junior
3
Leandro Tropaldi
4
Ivana Paula Ferraz Santos de Brito
5
Bruna Barboza Marchesi

1
Profaº Dra. da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), Câmpus de Cassilândia.
E-mail: ilca_pfs@yahoo.com.br
2
Profº Dr. do Centro Universitário de Votuporanga. E-mail: josue_ferreira@hotmail.com
3
Profº Dr. da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agrárias e
Tecnológicas (FCAT), Câmpus de Dracena – E-mail: tropaldi@dracena.unesp.br
4
Mestre em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e
doutoranda em Agronomia (Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista . E-mail:
ivanapaulaf@yahoo.com.br
5
Mestre em Agronomia (Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista e doutoranda em
Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
brumarchesi@hotmail.com
O Brasil é o quinto maior produtor agrícola do mundo devido à sua
vasta extensão territorial e ao clima que propiciam várias safras ao longo do
ano. Segundo a CONAB (2016), a produção de grãos para a safra 2015/2016
está estimada em 202,39 milhões de toneladas com área planta prevista de
58,14 milhões de hectares, crescimento previsto de 0,3% em comparação à
safra 2014/2015.

A presença de plantas daninhas em áreas agrícolas brasileira é uma


constante, devido aos vários fatores, como falta de assistência técnica e
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

orientação aos produtores para realizarem o manejo correto e sustentável


dessas espécies, preservando a saúde do homem e o meio ambiente.

Reduções na produtividade, não certificação de sementes e


intoxicação de animais, são alguns exemplos de danos causados pela
presença de plantas daninhas, interferindo fortemente nas atividades
econômicas de interesse do homem. Visto que o maior desafio da
agricultura na atualidade é aumentar a produção sem aumentar a área
plantada, o conhecimento da ciência das plantas daninhas se faz importante
como ferramenta de suporte para um adequando sistema de manejo.

1 BIOLOGIA DAS PLANTAS DANINHAS

A Assembleia Geral das Nações Unidas definiu o intervalo de tempo


de 2011 a 2020 como a Década da Biodiversidade (Resolução 65/161). A
razão para esse interesse internacional em biodiversidade é a mudança
global e a redução de espécies, causada pela industrialização. Quando se
fala em biodiversidade na agricultura, refere-se às plantas cultivadas e as
plantas daninhas, tornando-se evidência na política global nos últimos anos
(KRAEHMER et al., 2016).

A presença de plantas daninhas representa uma importante restrição


biológica na produtividade das culturas (ZHANG et al., 2016). Em geral, elas
podem causar cerca de 34% das perdas, sendo a maior em comparação com
insetos pragas e doenças, as quais constam com perda de 18 e 16%,
respectivamente (OERKE, 2006). Porém, Kissmann (2004) afirma que o
conceito de plantas daninhas é relativo, pois nenhuma planta é
intrinsicamente nociva, podendo ser desejadas, indiferentes ou indesejadas,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


de acordo com as circunstâncias.

Existem dois conceitos de plantas daninhas segundo a Embrapa


(2016). O conceito ecológico é o primeiro, referindo-se às plantas daninhas
como colonizadoras, dominando o estágio inicial de sucessão vegetal em um
local perturbado pela ação do homem, sendo elas, as plantas que se
adaptam com maior facilidade às condições edafoclimáticas alteradas pelo
homem. O segundo conceito é o biológico, em que considera-se que as
plantas daninhas contêm características específicas que facilitam sua
sobrevivência e dispersão.

Nas áreas agrícolas, as plantas daninhas só terão importância se


forem persistentes, ocorrendo ano após ano. A persistência é a medida do
potencial adaptativo de determinada espécie daninha que permite seu
desenvolvimento em ambientes modificados pelo homem, tendo para o tipo
de manejo utilizado um atuante na determinação de espécies que serão
persistentes. Assim, a espécie mais adaptada ao ambiente tende a se
perpetuar e distribuir na lavoura. Durante o processo evolutivo das plantas
daninhas, diversos mecanismos lhes conferiram alta agressividade
(CONCENÇO et al., 2014).

As plantas cultivadas passaram e ainda passam por inúmeros


processos de melhoramento genético, com o objetivo de torná-las mais
produtivas. Para isso, as características que conferiam agressividade foram
substituídas por características de produção. E enquanto isso, as plantas
daninhas foram se adaptando naturalmente às condições do ambiente,
sobressaindo às características de agressividade, tornando um possível
problema em áreas cultivadas devido a rápida ocupação do solo.

A agressividade é caracterizada por vários fatores. Segundo Concenço


et al. (2014), a elevada produção de sementes por planta visa maximizar as
chances de perpetuação da espécie no ambiente. O caruru (Amaranthus
viridis), por exemplo, pode produzir até 117.000 sementes por planta; a
buva (Conyza sp.) até 200.000 sementes por planta; e o capim amargoso
(Digitaria insularis), até 6.500 sementes por planta. A guanxuma (Sida
rhombifolia), por outro lado, produz apenas 510 sementes por planta, mas
isso não a torna uma planta daninhas menos importante.

Para Silva et al. (2012) a agressividade das plantas daninhas também


está relacionada à manutenção da viabilidade de sementes em condições
desfavoráveis; na capacidade de germinar e emergir de grandes
profundidades, como é o caso da corda-de-viola (Ipomoea sp.) e amendoim-
bravo (Euphorbia heterophylla) até 12 e 20 cm, respectivamente; grande
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

desuniformidade no processo germinativo e longevidade de dissemínulos


devido aos processos de dormência; mecanismos alternativos de
reprodução, como na tiririca (Cyperus rotundos), por sementes e tubérculos,
e da facilidade de dispersão de propágulos a grandes distâncias pelo vento,
água, animais, homem e máquinas.

Devido aos prejuízos diretos e indiretos causados pelas plantas


daninhas sobre a cultura, o gasto com o controle de plantas daninhas atinge
entre 20 a 30% do custo total de produção de uma lavoura. Os prejuízos
diretos estão relacionados principalmente com a redução da qualidade do
produto comercial. Os prejuízos indiretos referem-se aos prejuízos causados
pelas plantas daninhas em relação à realização das práticas culturais e da
colheita, como o caso da presença da corda-de-viola (Ipomoea sp.) (SILVA et
al., 2012).

Quando se observam as áreas agrícolas, pastagens e


reflorestamentos, os efeitos negativos que ocorrem no crescimento,
desenvolvimento e produtividade das plantas cultivadas, em virtude da
convivência com as plantas infestantes, se devem a um conjunto de
pressões ambientais, conhecido como “interferência”, tendo como efeitos
mais importantes, a competição e alelopatia (PITELLI, 2014).

As plantas, microrganismos e fungos produzem metabólitos


secundários, que quando liberados no meio ambiente, interferem no
desenvolvimento de outros organismos, esse conceito é chamado de
alelopatia (MARASCHIN-SILVA, 2006; MAIRESSE, 2007). A alelopatia
relacionada à interferência de plantas daninhas refere-se à inibição no
desenvolvimento de outra espécie, diferenciando da competição, que
remove ou reduz do ambiente fatores essenciais ao desenvolvimento

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


vegetal (MACÍAS et al., 2007; BORELLA et al., 2009).

A presença de plantas daninhas e culturas no mesmo ambiente


leva-se a competição interespecífica, que inicia em função dos recursos
limitados no meio, como água e nutrientes (VARGAS; ROMAN, 2008).
Maiores perdas de produtividade da cultura ocorrem quando as
características morfológicas entre plantas daninhas e cultivas são
semelhantes (LAMEGO et al., 2004).

O período vegetativo do ciclo de vida da planta define sua habilidade


competitiva, manifestando o potencial de supressão da cultura sobre as
plantas daninhas (LAMEGO et al., 2005). Os períodos de interferência entre
planta cultivada e plantas daninhas foram definidos por Pitelli e Durigan
(1984), compreendendo em: período anterior a interferência (PAI), período
total de prevenção a interferência (PTPI) e período crítico de prevenção a
interferência (PCPI).

A interferência exercida pelas mesmas é um dos fatores responsáveis


por danos significativos no rendimento das culturas. A falta de controle
eficaz das plantas concorrentes na época adequada pode causar impacto
negativo na produtividade (FLECK et al., 2007). Os efeitos da interferência
são irreversíveis, mesmo quando elimina o fator de estresse causado pela
presença das plantas daninhas, ocorrendo perdas tanto no desenvolvimento
como na produtividade da cultura (KOZLOWSHI et al., 2002).

2 MANEJO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

A presença de plantas daninhas nas culturas agrícolas pode provocar


danos severos relacionados tanto ao desenvolvimento e rendimento da
cultura quanto à qualidade da colheita e do produto colhido. Com isso, a
utilização de métodos que promovam e resultem na redução da infestação,
a paralização do crescimento, ou ainda a eliminação de tais plantas, são
extremamente necessários.

É interessante salientar que as comunidades de plantas daninhas


possuem a capacidade de se adaptar rapidamente aos diferentes tipos de
ambientes, e, consequentemente, aos diferentes métodos de controle.
Assim, a implantação do manejo integrado, que diz respeito à adoção de
diferentes métodos, se torna bastante relevante.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

O manejo integrado de plantas daninhas tem como objetivo o uso de


diversos métodos de controle, visando minimizar a interferência dessas
plantas na cultura, mantendo-as em níveis abaixo daquele passível de causar
danos econômicos, além de ser capaz de amenizar os danos ao meio
ambiente (RONCHI et al., 2010). Dentre os diversos objetivos do manejo
integrado de plantas daninhas, destacam-se alguns deles: combinar
diferentes práticas agronômicas reduzindo a dependência de um só método
e aumentando o período de utilização de cada uma delas; manter as
densidades populacionais em níveis manejáveis; evitar a seleção ou a
introdução de espécies ou genótipos de difícil controle; tomar decisões
fundamentadas em dados; constituir bases de dados sobre os métodos de
controle; planejar ações; avaliar resultados; maximizar e preservar a
capacidade de controle das culturas, além de maximizar a capacidade de
controle do meio, ocupando continuamente o ambiente.

As diversas alternativas de manejo e controle de plantas daninhas


podem ser divididas em etapas, sendo elas: prevenção, erradicação e
controle (CONSTANTIN, 2001).

2.1 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

As práticas preventivas utilizam métodos que dificultam a


introdução, infestação, re-infestação e a disseminação das plantas daninhas
em áreas ainda livres da presença de determina espécie. As medidas de
prevenção incluem o uso de sementes e mudas certificadas que obedeçam a
legislação vigente; a limpeza de máquinas e equipamentos; os cuidados com
adubos orgânicos e canais de irrigação, bem como outras áreas próximas à

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


propriedade que possam estar contaminadas com algum tipo de planta
daninha e a utilização de sistema adequado de manejo de solo na
entressafra, como rotação de culturas (CONSTANTIN, 2001). Além disso, se
as medidas preventivas não forem suficientes e as plantas daninhas
conseguirem se disseminar, os focos iniciais de novas plantas também
devem ser isolados, evitando o seu alastramento (GELMINI et al., 1994;
VICTORIA FILHO, 2000).

As medidas de erradicação visam a eliminação de determinadas


plantas na área, sendo destruídas as sementes ou qualquer outra forma de
propagação. Tal medida é bastante utilizada em infestações cuja planta
daninha tenha sido recém introduzida ou ainda naquelas áreas com
infestação em pequena escala.

O controle é o manejo propriamente dito que irá reduzir o número


de plantas daninhas a fim de impedir que a interferência sobre as plantas
cultivadas reduza a produção econômica, além de prevenir o aumento do
número de propágulos (POOLE; GILL, 1987). O controle pode ser físico,
cultural, biológico, mecânico ou químico.

2.2 CONTROLE FÍSICO

Diferentes medidas de controle físico podem ser utilizadas, sendo


elas: o calor, que por meio do uso de lança-chamas (sendo os mesmos
portáteis ou tracionados por trator), promovem a coagulação do
protoplasma de células vegetais, provocando a morte da planta; a
solarização, que consiste na utilização de coberturas plásticas (polietileno)
transparentes ocasionando o superaquecimento do solo e fazendo com que
o mesmo atinja temperaturas elevadas que irão causar a morte das
sementes das plantas daninhas (GELMINI et al., 1994). Tal medida, quando
realizada anteriormente ao plantio, apresenta um bom controle de plantas
daninhas (GHINI, 2001). No entanto, apesar de não ser eficiente tanto
quanto o controle químico, a solarização do solo não apresenta problemas
relacionados à toxicidade e aos danos ao meio ambiente, sendo uma
alternativa bastante interessante para o sistema orgânico de produção
(BAPTISTA et al., 2006).

Outra medida física é a utilização da água, em inundação ou em um


sistema de drenagem, sendo esse método bastante eficiente para aquelas
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

espécies que não conseguem sobreviver quando encontram-se totalmente


imersas em áreas inundadas (VICTORIA FILHO, 2000); a eletricidade, que é
realizada por meio da utilização de um equipamento capaz de produzir uma
descarga elétrica às plantas daninhas (Eletroherb - Sayyou do Brasil). Tal
descarga, ao atingir as plantas, provoca uma alteração irreversível na
fisiologia das plantas, as quais murcham e morrem em pouco tempo
(BRIGHENTI; BRIGHENTI, 2009) e, por fim, o controle por meio da utilização
da cobertura morta.

A conservação da cobertura morta na superfície do solo,


implementada com o desenvolvimento do sistema de plantio direto, tem
sido uma das melhores alternativas para a manutenção da sustentabilidade
dos recursos naturais na utilização agrícola dos solos, além de ter promovido
modificações na dinâmica populacional das plantas daninhas.

A mesma apresenta efeitos físicos (interferindo na germinação e na


taxa de sobrevivência das plântulas), químicos (alelopatia) e biológicos
(instalação de uma diversificada microbiocenose na superfície do solo) sobre
as plantas invasoras (TREZZI; VIDAL, 2004; GOMES Jr.; CHRISTOFFOLETI,
2008; MONQUERO et al., 2009), ocasionando alterações nas comunidades
infestantes (VELINI; NEGRISOLI, 2000). Assim, a eficiência do manejo pela
palhada da cultura, utilizada como cobertura morta, pode ser constatada
pela dificuldade dos processos de germinação dos propágulos, como
também pela presença de dormência, pois a palha atua na incidência da luz,
na temperatura e na umidade, funcionando como uma barreira física de
impedimento à emergência das plântulas infestantes, além de apresentar,
muitas vezes, um efeito alelopático (CORREIA; DURIGAN, 2004). No entanto,
algumas espécies daninhas (tais como Ipomoea grandifolia e Euphorbia
heterophylla) não têm a germinação inibida pelas quantidades de cobertura

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


morta que normalmente são encontradas em campo (MARTINS et al., 1999;
VELINI; NEGRISOLI, 2000; CORREA; DURIGAN, 2004).

Já o herbicida, por sua vez, quando aplicado sobre a palha, é


interceptado pela superfície da mesma e, assim, torna-se disposto aos
diversos tipos de degradação, seja ela causada pela volatilização ou foto
decomposição, até que seja lixiviado para o solo (LOCKE; BRYSON, 1997).
Com relação a lixiviação, sabe-se que a quantidade de resíduos presentes no
solo e a distribuição do mesmo podem influenciar diretamente na retenção
dos herbicidas. Além disso, outro fator relacionado a lixiviação diz respeito à
solubilidade do produto aplicado, bem como do período que a área
permanece sem chuva após a aplicação do defensivo (LAMOREAUX et al.,
1993). Ao atingir o solo, tais produtos apresentam maior distribuição e
persistência, devido aos canais formados pelos restos vegetais, por
organismos do solo ou pelo abrandamento dos processos de degradação
(JONES et al., 1990; SORENSON et al., 1991).

As variações na quantidade e na composição da cobertura morta


podem ou não suprimir a germinação da comunidade das plantas daninhas,
além de influenciar mais ou menos intensamente na dinâmica de herbicidas
aplicados sobre a palha. Assim, a manutenção da cobertura morta sobre o
solo pode ao mesmo tempo reduzir o potencial de infestação das plantas
infestantes como dificultar o desempenho do herbicida, considerando que
os principais elementos da dinâmica de herbicidas sobre a palha são a
transposição do produto através da mesma e a dinâmica de molhamento da
palha pela água das chuvas (MACIEL; VELINI, 2005).
2.3 CONTROLE CULTURAL

O método cultural por sua vez consiste na utilização de qualquer


condição ambiental ou procedimento que favoreça a competitividade da
cultura em relação à planta daninha, destacando que tudo o que favorece a
cultura, desfavorece, consequentemente, as daninhas. Tal método é
baseado em dois princípios, sendo eles: as primeiras plantas que ocupam a
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

área tendem a levar vantagem na captura dos recursos do meio e a espécie


melhor adaptada ao ambiente torna-se dominante ao final (FLECK, 1992).
Assim, práticas culturais como o preparo do solo, adubação, escolha do
cultivar, época de semeadura, número de plantas por área e rotação de
culturas são importantes e devem ser empregadas visando beneficiar ao
máximo a cultura. Desse modo, um bom manejo permite que a planta
cultivada ganhe no aspecto competitivo em relação às daninhas (VICTORIA
FILHO, 2000), alcançando, assim, direta ou indiretamente, a eliminação ou
redução da infestação por plantas daninhas (SILVA; SILVA, 2007).

A escolha do cultivar é determinante no sucesso do controle de


plantas daninhas. Especial atenção deve ser dada àquelas que tenham
fechamento mais rápido, controlando melhor as daninhas (LIEBAMN et al.,
2001). O período de interferência deve ser respeitado, não só visando a
interferência das plantas daninhas sobre a produção da cultura, como
também o controle até a colheita (CARVALHO; VELINI, 2001). O
planejamento do espaçamento consiste em um tipo de controle cultural, no
qual tem-se que, quanto menor o espaçamento entre as linhas de plantio e
maior a densidade de plantio da cultura na linha, mais precoce e efetivo é o
fechamento da cultura, sendo então mais eficiente o controle das plantas
daninhas (LIEBAMN et al., 2001).

Quando diferentes culturas exploram uma mesma área, assim como


ocorre na rotação de culturas, a intensidade de competição e os efeitos
alelopáticos são modificados, ocasionando mudanças na população da
comunidade infestante e possibilitando o uso de herbicidas com diferentes
mecanismos de ação, permitindo a rotação de herbicidas e de métodos de
controle (GRAVENA et al., 2004), além de promover a redução de
dissemínulos de espécies que vegetam na área.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Destaca-se, assim, que a rotação de culturas é um fator indispensável
no manejo integrado de plantas daninhas em plantio direto. Tal prática
permite o controle de diversas espécies daninhas que vegetam
simultaneamente às culturas (LORENZI, 1986; PAES; REZENDE, 2001), no
entanto, tal controle pode ser mais ou menos significativo, dependendo das
culturas em rotação e da combinação cronológica de cultivo, ocasionando
efeitos distintos sobre à comunidade infestante da área de cultivo (PEREIRA;
VELINI, 2003).

Assim, com o objetivo de melhorar a eficiência e o espectro de


plantas infestantes a custos reduzidos, a prática da rotação de culturas deve
ser bem elaborada, de maneira que interrompa o ciclo das plantas daninhas
comuns (SANTOS; REIS, 1991), além de ser associada a um programa de uso
simultâneo de herbicidas, métodos culturais e biológicos, (RUEDELL, 1995).

2.4 CONTROLE BIOLÓGICO

O controle biológico diz respeito à uma técnica em que se utiliza


organismos vivos (inimigos naturais como predadores, parasitas, etc.)
capazes de reduzir ou controlar a população de uma espécie de planta
daninha. Existem duas estratégias de controle biológico que dependem da
interação entre o agente de controle e a planta daninha, sendo elas: a
clássica, que ocorre a liberação de um inimigo natural (exótico) em uma
área infestada de modo que o mesmo se estabeleça no ambiente e se
perpetue; e a inundativa, técnica na qual um patógeno endêmico pode ser
completamente destrutivo para uma planta daninha hospedeira se
inoculado em concentrações massais quando esta se encontra em um
estágio de crescimento particularmente susceptível (bioherbicida).
2.5 CONTROLE MECÂNICO

A eliminação das plantas daninhas, no controle mecânico, se dá por


meio do efeito físico-mecânico (tração humana, animal ou tratorizada). O
controle de plantas daninhas pelo efeito mecânico de quebra, arranquio e
exposição das estruturas à secagem pelo sol é promovido pelo preparo
periódico do solo (SILVA et al., 2005). No entanto, tal método, apesar de ser
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

eficiente, apresenta baixo rendimento, demanda muita mão-de-obra, além


de ser de alto custo. Devido a isso, normalmente é utilizado de forma
complementar aos outros. Ressaltando, ainda, que para algumas espécies
de plantas que se propagam vegetativamente, o contínuo revolvimento do
solo pode promover um aumento da infestação das mesmas (JAKELAITIS et
al., 2003; SILVA et al., 2005).

2.6 CONTROLE QUÍMICO

O controle químico diz respeito à utilização de herbicidas, produtos


capazes de interferir nos processos bioquímicos e fisiológicos das plantas
daninhas, podendo matar ou retardar o crescimento das mesmas. Na
ocasião em que o período crítico de prevenção da interferência de plantas
invasoras é longo, a principal medida de controle, visando minimizar as
perdas de produtividade, é por meio do uso de herbicidas aplicados em área
total (HERNANDEZ et al., 2007)

Algumas das vantagens relacionadas ao uso do herbicida são:


controle em pré-emergência; abrangência em se atingir as plantas daninhas;
redução do risco de erosão, por não modificar a estrutura do solo; controle
bastante eficaz para plantas daninhas perenes; redução de mão-de-obra;
rapidez e eficiência da operação de controle por unidade de área; tem
capacidade de controlar as plantas daninhas por um período mais longo;
pode ser usado em períodos chuvosos. No entanto, para essa prática é
necessário mão-de-obra especializada, pois, o controle, se efetuado
inadequadamente, pode intoxicar a lavoura, o meio ambiente e o próprio

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


aplicador. Nesse contexto vale a pena ressaltar que o uso de herbicidas,
apesar de ser bastante eficiente no controle de plantas daninhas, podem
ocasionar e ainda, favorecer, o desenvolvimento de biótipos resistentes
(GOMES Jr.; CHRISTOFFOLETI, 2008).

Sabe-se que os métodos de controle, quando usados isoladamente,


mostram-se pouco eficientes, e sempre acabam por selecionar novos
problemas. Assim, a combinação de dois ou mais métodos pode tornar
muito mais eficiente o sucesso no manejo das plantas daninhas (OLIVEIRA
NETO et al., 2013).

É interessante destacar que na prática, se não houver um


planejamento, a escolha dos métodos recai sobre a utilização de herbicidas,
isso porque os outros métodos de controle exigem planejamento e ações
antecipadas. Não existe um único e melhor método que consiga se adequar
a todas as situações e aos diferentes ambientes. Assim, para que se alcance
o objetivo de tornar o manejo de plantas daninhas altamente eficaz e
sustentável, de modo que não haja perdas de produção e nem riscos ao
meio ambiente, o conhecimento dos métodos e o planejamento torna-se
imprescindível.

3 RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS

A resistência a herbicidas é o resultado da adaptação evolutiva das


plantas daninhas a pressão de seleção imposta pelos herbicidas (DÉLYE,
2013). Por isso, o problema da ocorrência de plantas daninhas resistentes,
que começou a ser discutido no final da década 1950, foi ganhando maior
importância à medida que os cultivos se tornaram mais dependentes do
método químico de controle (herbicidas). Embora muitos avanços tenham
sido obtidos, especialmente na última década, esse tema possivelmente
ganhará maior importância e complexidade nos próximos anos.

As diversas características das plantas daninhas, apresentadas


anteriormente, as tornam capazes de dispersar e colonizar em diversas
condições, inclusive sob ação de agentes estressores. Os herbicidas por sua
vez, são substâncias capazes de afetar o funcionamento de
proteínas/enzimas vitais às plantas, podendo inclusive levá-las à morte.
Portanto, a evolução da resistência a herbicidas pode ser considerada como
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

uma estratégia das populações de plantas daninhas para eliminar ou


minimizar o efeito de estresse provocado pelos herbicidas (DÉLYE, 2013).

A identificação de biótipos de plantas daninhas com resistência a


herbicidas é contínua e, o acompanhamento dos casos identificados no
mundo todo pode ser obtido pelo site do The International Survey of
Herbicide Resistant Weeds (<http://www.weedscience.org/>.). Até o
presente momento, já foram relatados 470 casos de plantas daninhas
resistentes no mundo e 37 no Brasil (HEAP, 2016). No panorama mundial, as
plantas daninhas desenvolveram resistência a 23 dos 26 mecanismos de
ação de herbicidas conhecidos, englobando 160 moléculas herbicidas
diferentes (HEAP, 2016).

Os mecanismos das plantas responsáveis por conferir resistência a


herbicidas podem ser relacionados ou não ao sítio de ação dos herbicidas. A
resistência relacionada ao sítio de ação é provocada por uma mutação no
gene que resulta na alteração de algum aminoácido da enzima alvo,
impedindo então a ligação do herbicida e/ou a super-expressão do gene que
compensa a ação inibitória do herbicida (POWLES; YU, 2010; DÉLYE et al.,
2013). Nesse caso, algumas vezes a mutação responsável por conferir
resistência ao herbicida pode prejudicar a funcionalidade da enzima e/ou o
desempenho da planta, gerando o que se chama de custo de adaptação,
podendo facilitar o desenvolvimento da resistência ou limitá-la (POWLES;
YU, 2010). Infelizmente, informações sobre a existência ou não do custo de
adaptação ainda não é disponível para todas as mutações já relatadas.
Por outro lado, a resistência não relacionada ao sítio de ação se
refere a qualquer mecanismo que impeça que o herbicida alcance o sítio de

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


ação na quantidade necessária (POWLES; YU, 2010). Os principais
mecanismos são aqueles que ocasionam diminuição da penetração e
translocação do herbicida, aumento da degradação (resistência metabólica)
e/ou projete a planta contra danos colaterais dos herbicidas, como o
estresse oxidativo provocado por alguns herbicidas (DÉLYE, 2013). Também
é importante mencionar que os mecanismos não ocorrem exclusivamente
de forma independente, e que é possível encontrar em uma mesma planta
vários mecanismos de resistência.

Normalmente, dependendo da pressão de seleção dos herbicidas e


das características da biologia das plantas daninhas a frequência dos alelos
que conferem resistência aos herbicidas podem aumentar tanto dentro da
população como no próprio indivíduo (JANIENIUK et al., 1996). Em geral,
populações com autopolinização, alelos de resistência dominante ou
recessivos são aptos a terem aumentos similares na frequência sobre
pressão de seleção (JANIENIUK et al., 1996). No entanto, naquelas com
fecundação cruzada a frequência de alelos dominantes de resistência
aumenta mais rapidamente que os alelos recessivos expostos a pressão de
seleção de herbicidas, principalmente se o aumento dos alelos dominantes
de resistência conferir aumento da heterozigose (GOULD, 1995).

No geral, ainda são poucos os estudos que buscam reestabelecer a


sensibilidade de populações resistentes, pois a maioria dos estudos são
restritos à identificação de biótipos resistentes, desenvolvimento de curvas
de dose-resposta, avaliação da resistência cruzada e seleção de herbicidas
alternativos para uso em genótipos resistentes.

Além desses, nos últimos anos as ferramentas de análise ao nível


molecular têm ganhado destaque, e possibilitam a identificação com
exatidão das mutações genéticas no sítio de ação dos herbicidas. No
entanto, atualmente a compreensão ao nível molecular da resistência
metabólica, como por exemplo, sobre os genes ou enzimas desintoxicadoras
como da família das fosfatase monoxigadases (P450) e/ou glutationa-S-
transferase, ou mesmo a base genética da translocação reduzida, na maioria
dos relatos de resistência, ainda é limitada.

Alguns dos motivos para essa compreensão limitada dos processos,


se deve ao fato de que a regulação da expressão de um determinado gene
pode ocorrer em diversos níveis, tanto a nível de transcrição (transcrição do
DNA genômico para RNA mensageiro (RNAm)), envolvendo vários fatores de
transcrição (NAKASHIMA et al., 2009). Além da possibilidade de ocorrer ao
nível pós-transcrição, por meio de vários outros mecanismos, como os de:
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

modificação da estabilidade do RNAm, splicing alternativo e/ou edição


RNAm.

Todas essas possibilidades evidenciam que a variabilidade fenotípica


pode ser muito maior que a genotípica, no entanto, ainda são escassos os
trabalhos envolvendo plantas daninhas. Porém, Délye (2013), discute que a
resistência relacionada ao sítio de ação também pode ser decorrente desses
mecanismos de regulação gênica.

Além disso, a tecnologia do silenciamento de gene, por meio de RNA


de interferência (RNAi) também precisa ser considerada como uma
tecnologia promissora para inativar genes de resistência, e restaurar a
susceptibilidade da planta daninha a herbicidas. Os RNAi são pequenas
moléculas que RNA (cerca de 25 nucleotídeos) que se ligam perfeitamente
ao RNAm alvo degradando-o imediatamente, por isso, que se diz que o gene
é silenciado (HAMILTON; BAULCOMBE, 1999).

Por fim, vem sendo discutido que processos epigenéticos, como a


metilação do DNA genômico e/ou modificação por histonas, também podem
estar envolvidos na regulação da expressão dos genes envolvidos na
resposta ao estresse (BOYKO; KOVALCHUK, 2008). Esse processo tem sido
destacado pois esses mecanismos podem permitir ao indivíduo expressar
um gene sem haver a alteração na sequência do DNA, sendo esta
capacidade transmitida diretamente para as progênies (BOYKO;
KOVALCHUK, 2008; DÉLYE et al., 2013). Assim, todos esses processos podem
contribuir para o aumento dos alelos relacionados à resistência não
relacionada ao sítio de ação.
As estratégias de manejo da resistência podem ser adotadas antes do
desenvolvimento da resistência, por meio da redução da pressão de seleção

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


que minimiza a sobrevivência e reprodução de indivíduos resistentes ou
após a resistência ter evoluído, minimizando a dispersão da resistência
(NORSWORTHY et al., 2012). O conhecimento da biologia das plantas
daninhas, uso de métodos alternativos, monitoramento periódico das áreas
de produção, uso de herbicidas de vários mecanismos de ação e respeitando
a dosagem e estágio da planta daninhas, além do manejo na entressafra,
são as principais práticas para minimizar e/ou reduzir a evolução de
resistência (INOUE; OLIVEIRA Jr., 2011). No entanto, o conhecimento
incompleto da biologia das plantas daninhas, o aumento dos custos de
produção para adoção de outros métodos de controle, necessidade de
habilidades de planejamento e assistência especializada correspondem a
alguns desafios para o manejo de plantas daninhas e que precisarão ser
encarados.

4 TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE HERBICIDAS

A tecnologia de aplicação está relacionada à pesquisa de


equipamentos, processos e obtenção de resultados visando a melhoria dos
processos de aplicação de agroquímicos, minimizando ao máximo os riscos
de contaminação humana e do meio ambiente (SANTOS, 2000).

Considerando as diversas etapas dos processos de produção agrícola,


a aplicação de defensivos pode ser considerada como uma das mais
exigentes, visto que devesse atentar não somente ao tratamento realizado
na área cultivada, mas também aos cuidados com a preservação do
ambiente (CHRISTOFOLETTI, 1999).

A presença de plantas daninhas em áreas agrícolas é um dos


principais fatores limitantes da produtividade, conforme demonstrado
anteriormente. Para controlar as plantas daninhas, grande parte das áreas
de produção comercial utilizam o método químico, pelo uso de herbicidas,
porém, para alcançar os melhores resultados após a aplicação de herbicidas
deve-se atentar tanto à eficácia no controle das plantas indesejadas da área,
quanto à manutenção das melhores condições da cultura e do ambiente.

A eficiência das pulverizações não depende somente da quantidade


de produto ativo depositado na planta, mas também da uniformidade e da
distribuição desse produto sobre a superfície-alvo (COSTA et al., 2008).
Muitas vezes as aplicações, apesar de produzirem os efeitos desejados, não
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

são realizadas de forma eficiente, por não ser utilizada a técnica mais
adequada, que poderia implicar em menor deriva, menor quantidade de
ingrediente ativo necessário, menor intoxicação às culturas e maior eficácia
no controle de plantas daninhas (VELINI et al., 2015).

Diversos fatores devem ser levados em conta para a utilização


adequada desse método, sendo eles meteorológicos, biológicos e
agronômicos (GAZZIERO et al., 2006). O estádio da cultura e das plantas
daninhas, o tipo de solo, as condições ambientais no momento da aplicação,
o tipo de produto utilizado (herbicidas e adjuvantes), a dose necessária, a
presença ou ausência de palha no sistema de produção, e a tecnologia de
aplicação a ser utilizada, são alguns desses fatores.

Ao se realizar uma pulverização deve-se atentar aos equipamentos


que estão sendo utilizados, se estão regulados e calibrados devidamente.
Um mesmo equipamento pode gerar volume de pulverização e tamanho de
gotas variáveis, em função da pressão determinada, do tipo de ponta
utilizada e do diâmetro do orifício de saída do jato do produto. Segundo
Azevedo e Freire (2006), o volume de aplicação ideal é aquele que gera
gotas adequadas, com deposição e penetração satisfatória, com maior
economia de produto, e maior rendimento dos equipamentos.

O principal resultado que se busca obter no momento da


pulverização de herbicidas é uma distribuição uniforme e suficiente, do
produto em toda a área tratada, de modo que gere o controle eficiente das
plantas daninhas. Porém, isso nem sempre é atingido, e, em geral a
ineficácia dos herbicidas é atribuída a erros na recomendação e
posicionamento dos mesmos, no entanto, o mau uso do equipamento, tanto
na sua estrutura como no momento adequado da aplicação, em sua maioria,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


deveria merecer mais atenção e cuidados (SANTOS, 2000).

Realizar uma pulverização desuniforme é admitir duas situações,


extremas em certos pontos. Uma delas é que parte das plantas tratadas
receberá produto abaixo do necessário, gerando controle deficiente,
estímulo de crescimento, pelo efeito hormesis, e contribuindo para a
seleção de genes de resistência; o controle deficiente faz com que seja
necessária a complementação, independente do método utilizado,
aumentando os custos e diminuindo, por consequência, a rentabilidade da
cultura. Hormesis é considerado o efeito estimulatório de baixas doses de
uma substância, que, em diversas doses é tóxica. Duke et al. (2006)
demonstraram que a resposta e o mecanismo fisiológico verificado,
depende do produto químico aplicado e/ou das espécies de plantas
expostas ao composto. Esse estímulo, nos últimos anos verificado em
diversas espécies cultivadas, principalmente após o uso do herbicida
glyphosate, pode alterar o comportamento também de plantas daninhas.
Plantas com genes de resistência podem ser selecionadas, como discutido
anteriormente, e a desuniformidade ou ineficácia no momento das
pulverizações podem ser decisivos para a aceleração desse processo.

Por outro lado, parte da área estará recebendo quantidade excessiva,


levando ao desperdício de produtos, aumentando os custos e os riscos de
intoxicação da cultura e do ambiente (CORDEIRO, 2001). Velini et al. (2015),
indicam o aumento de pelo menos 30% nos custos de aplicação, devido às
diversas perdas. A aplicação de altas doses pode gerar o escorrimento da
calda na superfície das folhas, reduzindo o tempo de exposição das plantas
ao produto, reduzindo a absorção e a eficácia, ficando então, depositado no
solo, onde a atividade é bastante limitada. Além disso, os produtos, por
serem aplicados em momentos indevidos, podem ser carreados de uma
área para outra, e se atingirem culturas sensíveis em áreas próximas, causar
prejuízos ainda maiores.
Devine et al. (1983), citam que fatores como a umidade presente no
solo, a temperatura e a umidade relativa do ar interferem diretamente na
dinâmica dos herbicidas. Das variáveis operacionais, pode-se citar a
movimentação vertical e horizontal dos equipamentos de pulverização
como sendo uma das principais causas.

Carbonari et al. (2011) analisando aplicações comerciais de


herbicidas em oito áreas de produção de cana-de-açúcar no estado de São
Paulo, observaram que houve, em média, 17,93% de deriva, sendo atingidos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

até 38,65% de deriva. Tal fato foi associado a variáveis operacionais e/ou
climáticas desfavoráveis no momento das aplicações. Considerando como
deriva a diferença entre o que foi aplicado e o que de fato atingiu o alvo,
significa dizer que quase 39% do volume aplicado foi perdido.

A deriva de produtos fitossanitários gera prejuízos financeiros, além


de causar, de acordo Ozkan (1998), possíveis contaminações de alimentos,
do ar e recursos hídricos, e efeitos prejudiciais à saúde e segurança dos
seres humanos e rebanhos. Foloni (2000) afirma que a deriva pode ser
minimizada usando-se as técnicas e métodos de aplicação mais adequados,
realizando-se a limpeza e regulagem dos equipamentos, realizar a aplicação
em condições climáticas adequadas e/ou uso de formulação apropriada.

O uso de adjuvantes tem por objetivo alterar as características físico-


químicas da calda de pulverização, e, segundo Theisen et al. (2004), os
adjuvantes também melhoraram as condições para a proteção e absorção
dos herbicidas, já que a chegada desses produtos ao alvo (sítio enzimático)
dificilmente ocorreria sem esse acréscimo.

Com o advento e expansão do sistema de plantio direto, a aplicação


de herbicidas passou a ter mais importância. O glyphosate, principal
herbicida utilizado para dessecação e obtenção de cobertura morta,
atualmente apresenta baixo custo de produção e comercialização, e é tão
importante para os sistemas de produção agrícola que a sustentabilidade do
seu uso está relacionada à própria sustentabilidade desse sistema (VELINI et
al., 2009).
Além de utilizados no início do ciclo de produção das culturas, os
herbicidas passam a ser fundamentais ao longo dele, tendo em vista a

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


necessidade do controle de plantas daninhas que se adaptaram à presença
da palha. A cobertura vegetal morta ou viva influencia a incidência da
radiação solar que atinge a superfície do solo, provocando mudanças na
temperatura e no conteúdo de umidade do solo ao longo do tempo, sendo
que estes fatores têm influência direta nos fluxos de emergência de
plântulas no campo (CARMONA, 1992).

Pelos diversos modos de se utilizar a palha nas áreas agrícolas, e pela


dificuldade em se obter a cobertura uniforme das áreas, a presença de
plantas daninhas se torna muito variável. Em locais com pouca cobertura,
provavelmente será possível encontrar diversas plantas de diversas
espécies, enquanto que em altos volumes o número de espécies será
reduzido, porém, elas estarão bem adaptadas, dificultando o controle.

Utilizando-se herbicidas, nas duas situações produtos terão que


ultrapassar a camada de palha para terem ação no solo ou sobre as
plântulas, e a desuniformidade, já verificada em áreas de solo exposto, se
torna ainda maior nessas condições.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário das plantas daninhas está em constante mudança, gerando


desafios para a pesquisa, que busca inovações tecnológicas visando facilitar
a vida dos produtores rurais e a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 9

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


QUIMIGAÇÃO

1
Raúl Andres Martinez Uribe
2
Fabrício César Lobato de Almeida
3
Gustavo Henrique Gravatim Costa
4
Francisco Carlos Baggio Filho
5
Dimas de Abreu Luz

1
Profº Dr. da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita filho” UNESP. FCE-Tupã. E-mail:
raul@tupa.unesp.br
2
Profº Dr. da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita filho” UNESP. FCE-Tupã. E-mail:
fabricio@tupa.unesp.br
3
Profº Dr. da Universidade do Sagrado Coração USC-Bauru. E-mail: gustavo.costa@usc.br
4
Eng. Agrônomo pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita filho” UNESP. FEB-
Bauru. E-mail: chicobaggio@hotmail.com
5
Msc. pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP. FEB-Bauru. E-mail:
dimas_deabreuluz@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO

Com o intuito de atingir níveis de sustentabilidade em conformidade


com a atualidade, vários tratos culturais comuns nas explorações agrícolas
têm sido revistos. É amplamente conhecido o efeito que tem o tráfego de
máquinas agrícolas na redução da porosidade do solo, no aumento da
densidade, e consequentemente na compactação do mesmo (GÖTZE et al.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

2016). Sabe-se também que a exposição a agroquímicos é comum nas


lavouras, causando sérios problemas à saúde da papulação (RAKSANAM et
al. 2014). Somada à problemática anterior pode-se mencionar a luta
constante pelo uso racional dos recursos hídricos e o melhor
aproveitamento da água utilizada em sistemas de irrigação.

Tendo isto em consideração e tentando minimizar o impacto tanto na


compactação do solo quanto na saúde dos trabalhadores rurais é que se
propõe o uso da quimigação como tecnologia sustentável no processo
agrícola. A quimigação é a aplicação de produtos químicos e biológicos via
sistema de irrigação. Entretanto, de forma prática, observa-se que o termo é
utilizado principalmente para a aplicação de agroquímicos via água de
irrigação, e não para a aplicação de fertilizantes (fertirrigação). No mundo as
primeiras experiências com esta técnica tiveram início na década de 60 nos
Estados Unidos, com aplicação de herbicidas, inseticidas, fungicidas e
nematicidas. No Brasil se reportaram aplicações de inseticidas desde a
década de 80. Levando em consideração o aspecto amplo da quimigação
que inclui produtos biológicos, a técnica é antiga sendo exemplificada pela
adição de dejetos animais nos canais de irrigação por superfície há centenas
de anos.
2 CARACTERÍSTICAS DA TÉCNICA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Neste cenário é fundamental que a adoção desta tecnologia seja no
mínimo entendida, estudada e adaptada às realidades locais, sendo que
muitas variáveis são envolvidas no dimensionamento, planejamento,
execução e controle da mesma. Alguns aspectos fundamentais são: a origem
e qualidade da água usada, o sistema de irrigação utilizado, as condições
edáficas e climáticas regionais, a topografia, a cultura e o estádio fenológico,
o produto a ser injetado, os mecanismos de controle no sistema, entre
outros.

A água usada na quimigação deve ser primeiramente estudada e


analisada conforme padrão normalmente utilizado para efeitos de irrigação.
Aspectos como origem (poço e corpos de água livres) resultarão em cargas
de solutos diferentes e consequentemente em estratégias diferentes para
remoção e filtração dos mesmos. Ressalta-se que os entupimentos, que por
ventura acontecerem, redundarão em diminuição dos coeficientes de
uniformidade de aplicação, e isto, levando em consideração que se está
injetando uma calda e que a efetividade da mesma é diretamente
proporcional ao cobrimento, é um aspecto a ser constantemente
monitorado. Adicionalmente, aspectos químicos da água também devem ser
estudados, pois além dos efeitos que derivam no uso da água como
irrigação, muitos deles podem afetar os ingredientes ativos dos produtos
injetados, precipitando, quelando, desequilibrando e/ou reagindo de
diversas formas. Parâmetros como pH, condutividade elétrica, sulfatos,
cloretos, bicarbonatos e carbonatos, dureza, fosfato, nitrogênio total e
amoniacal, nitratos, silício, DBO e DQO; são alguns dos que deveriam fazer
parte da rotina de análises inicial e costumeira.

Com o desenvolvimento de diversos sistemas de irrigação presentes


hoje no mercado global se têm aumentado as possibilidades de utilização
dos mesmos para tal técnica. No entanto, a quimigação adapta-se com
eficiência aos sistemas pressurizados e nem tanto aos sistemas de irrigação
por superfície. Isto se deve a baixa uniformidade de aplicação que estes
sistemas apresentam e ao regime de escoamento lâminar (Re<2000)
dificultando a agitação necessária da calda. O alvo a ser atingido constitui
um dos primeiros critérios de decisão ao se planejar a aplicação da técnica.
Sistemas de aspersão convencional, auto propelido, deslocamento linear e
pivô central; oferecem a possibilidade de atingir a superfície do solo,
importante para produtos sistêmicos e herbicidas, e também a superfície
foliar, produtos de contato e fungicidas, por exemplo. Já os sistemas de
irrigação localizada se restringem à superfície do solo, driblando
eficientemente o dossel de culturas de grande porte como gramíneas. Estas
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

caraterísticas não implicam em melhores ou piores sistemas, e sim em


sistemas adaptados para alvos determinados.

Os solos apresentam alta variabilidade espacial, mais ainda levando


em consideração alguns sistemas de irrigação como pivô central que podem
abranger superfícies de mais de 150 ha. Nestas áreas devem ser observados
aspectos físicos do solo como: velocidade de infiltração afetando a
percolação e até a lixiviação do produto, densidade do solo (grau de
compactação), horizontes presentes no perfil do solo (mudanças de
condutividade hidráulica) e, textura e composição dos mesmos (alguns solos
argilosos podem apresentar camadas pouco permeáveis). Aspectos químicos
também devem ser levados em consideração pelas mesmas razões que
foram elencados nos parâmetros químicos da água.

Fatores como a velocidade e direção do vento, a evapotranspiração e


o regime de precipitação constituem informações iniciais importantes na
prospecção da técnica. Locais com alta incidência de ventos propiciará
deriva e por tanto, baixa eficiência de aplicação. Altas evapotranspirações
podem diminuir a quantidade de calda que realmente chega ao alvo, bem
como, altas precipitações podem lixiviar e deslocar o produto aplicado.
Certamente devem ser considerados os outros fatores do tempo
atmosférico como umidade e temperatura do ar, normalmente monitorados
ao se realizar uma aplicação de produtos agroquímicos pelo método
convencional.

A topografia pode influenciar o coeficiente de uniformidade de


aplicação (redução), item controlável com a implementação de sistemas
para manutenção da pressão ao longo das linhas e também, com relação à
possibilidade de escoamento superficial da calda, desregulando a dose

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


aplicada por unidade de área.

Aspectos como a espécie, densidade populacional, tipo e ângulo de


inserção das folhas, arquitetura da planta e hábito de crescimento
determinam a deposição da calda seja no solo e/ou na planta. O estádio
fenológico da espécie possibilitará ou não a interceptação do produto.
Alguns estudos em milho reportaram valores de “precipitação interna” da
ordem de 1,5 a 2 mm (redução de 45 a 50% da lâmina irrigada) (MUNDIM,
1996).

A solubilidade do produto tem sido historicamente um tópico


controverso. Alguns exemplos com aplicação de inseticida na cultura do
milho reportaram que no início produtos muito solúveis em água
aumentavam a possibilidade de lavagem e por tanto, reduziam a eficiência
do controle de pragas da parte área. Entretanto, se o alvo forem insetos
presentes no solo (sistema radicular) esta alta solubilidade é fundamental.
Paralelamente alguns inseticidas insolúveis em água com adição de óleo são
palicados com o objetivo de formar gotículas do produto, aderindo-se as
folhas das plantas e posteriormente penetrando pela cutícula dos insetos. A
dose aplicada comumente segue a mesma recomendação da aplicação
convencional, embora a concentração seja drasticamente inferior. Pode-se
-1
observar volumes de 300 a 600 L ha nas aplicações com pulverizador. Já na
-1
quimigação podem variar de 20.000 a 100.000 L ha com lâminas de 2 a 10
mm, respectivamente.

No Brasil não existe uma legislação que regulamente os


equipamentos necessários para realizar quimigação, contudo é sabido que
devem ser seguidas todas as normas de segurança de qualquer aplicação de
agroquímico, envolvendo EPI’s, condições atmosféricas propícias,
proximidade de centros urbanos, outras culturas, corpos d’água, entre
outros. Também é importante observar a necessidade de possuir
mecanismos de controle para evitar vazamentos de produtos em áreas em
que os mesmos não serão aplicados e retornos de caldas com agroquímicos
para fontes de captação de água (açudes, rios, lagoas, poços). Alguns dos
equipamentos que devem ser instalados no sistema de irrigação são:
dispositivo anti-sifão na linha principal de água (Figura 1) sendo este
dispositivo geralmente uma válvula de retenção na linha; uma válvula de
purga de ar e vácuo; um sensor de baixa pressão na linha (Figura 2); uma
porta de inspeção para verificar o funcionamento da válvula de retenção
(Figura 3); um injetor do agroquímico a jusante da válvula anti-sifão (Figura
4); uma bomba apropriada para injeção dos produtos (Figura 5), sendo que
esta bomba deve ser de material resistente devido aos fluidos na sua
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

maioria corrosivos que serão bombeados; um sistema de intertravamento


entre a bomba de água e a bomba de injeção de agroquímicos (Figura 6),
este último com finalidade de interromper o bombeamento de
agroquímicos imediatamente após a interrupção do fluxo da água.

Figura 1: Dispositivo anti-sifão

Fonte: NDSU, 2016.


Figura 2: Sensor de pressão

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fonte: NDSU, 2016.

Figura 3: Porta de inspeção

Fonte: NDSU, 2016.

Figura 4: Injetor de agroquímico

Fonte: NDSU, 2016.


Figura 5: Bomba de agroquímico
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: NDSU, 2016.

Figura 6: Sistema de intertravamento

Fonte: NDSU, 2016.

Uma ressalva que deve ser realizada é a importância de se ter


produtos agroquímicos com os devidos registros necessários para proceder
à aplicação via sistemas de irrigação. Estes produtos deverão passar pelas
etapas comuns a fim de obter ditas permissões, avaliando aspectos como
princípios ativos, solubilidade, classe toxicológica, modo de ação, alvo, e
principalmente efeito residual. Esta, sem dúvida, constitui um dos maiores
gargalos no desenvolvimento da técnica, tendo em vista o complexo
processo de aprovação junto aos órgãos competentes.
3 SISTEMAS DE INJEÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS NA IRRIGAÇÃO

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Como já mencionado, quimigação utiliza o sistema de irrigação como
forma de realizar a distribuição de produtos químicos de maneira controlada
proporcionando a redução dos riscos de contaminação para o usuário. A
forma com que o produto químico é inserido no sistema, ou seja, a maneira
com que o sistema de injeção é projetado se dá de diferentes maneiras
sendo classificado de acordo com as mesmas (COSTA et al., 1986; HAMAN et
al., 1990). Basicamente o sistema de injeção é divido de quatro maneiras:
pressurizado utilizando bomba centrífuga, por diferencial de pressão,
gravidade e/ou superficial e combinado (EMBRAPA, 2010; TESTEZLAF, 2016).

Geralmente evita-se o uso de bomba centrífuga na injeção do


produto químico na via de irrigação. Vale lembrar aqui que o sistema de
irrigação é pressurizado, ou seja, a bomba centrífuga mencionada
anteriormente pode ser secundária ao sistema de irrigação tendo que
fornecer uma pressão maior do que o sistema primário (bomba para o
sistema de irrigação), ou pode ser a bomba primária onde o produto é
inserido no recalque da bomba (EMBRAPA, 2010). Em ambos os casos, além
do sistema ter um custo mais elevado em relação aos quatro citados (talvez
menor que o combinado em alguns casos), o produto químico quando em
contato com a bomba pode danificá-la mais rapidamente, reduzindo seu
tempo útil de operação.

Em geral, entretanto, aplica-se o venturi, que é um sistema


diferencial de pressão, por ser um sistema simples, de baixo custo e que não
sofre intempéries (quando de PVC ou polipropileno) quando em contato
com produtos químicos. A figura 7 mostra o esquema de um tubo de venturi
clássico. O tubo de venturi pode ser descrito por uma entrada, geralmente
do diâmetro da tubulação da linha (diâmetro d1) que a mesma será
conectada (ponto A), onde a partir de certo ponto tem seu diâmetro
reduzido gradativamente até uma determinada bitola (diâmetro d2
mostrada no ponto B), e depois seu diâmetro aumenta gradativamente até
atingir o diâmetro nominal (d1) da tubulação ao qual o tubo é conectado
(ponto C).
Figura 7 – Esquema típico de um tubo de venturi
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Os autores, 2017.

Essa variação de diâmetros aumenta a velocidade do fluido, bem


como reduz a pressão no estrangulamento do venturi (ponto B). Dessa
maneira, se um reservatório contendo a solução química que se quer
introduzir na tubulação for conectado ao ponto B como mostrado na figura
7, bem como se a pressão no recipiente for suficientemente maior que a
pressão no estrangulamento (ponto B), então a solução química contida no
reservatório fluirá pelo duto e se misturará a água de irrigação. A figura 8(a)
mostra o esquema do uso do tubo de venturi em um sistema de tubulação
típico em irrigação. A bomba centrífuga alimenta a linha de irrigação. O
venturi é acoplado a esta linha de distribuição em uma determinada posição
de interesse. Conectado ao venturi está a tubulação de sucção que liga o
reservatório de solução química ao venturi. Geralmente uma válvula de
retenção é colocada na linha de sucção entre o venturi e o recipiente
visando o controle fino de inserção da solução química na linha principal.
Figura 8 – Esquema do uso de tubo de venturi em um sistema de irrigação: (a) convencional (b)
utilizando um by-pass.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


(a) (b)

Fonte: Os autores, 2017.

Entretanto, uma desvantagem do tubo de venturi é a alta perda de


carga que o componente gera no sistema. Em alguns casos a simples
conexão do venturi na linha principal não é suficiente para gerar a diferença
de pressão necessária para sugar a solução química. Para isso pode-se até
mesmo utilizar uma bomba centrífuga secundária antes da entrada do tubo
de venturi, aumentando assim a pressão de entrada requerida, bem como o
custo do projeto. Como o objetivo deste capítulo é descrever o uso de
quimigação na agricultura familiar, o uso de equipamentos simples é o
desejado. A figura 8(b) mostra uma derivação do sistema mostrado na figura
8(a) visando suavizar as perdas devido o uso de venturi. Para isso um
sistema by-pass de menor diâmetro é utilizado. Esse sistema é conectado a
tubulação de maior diâmetro (principal) que pode ter sua dinâmica alterada
pelo uso de uma válvula de redução de pressão. Além do mais, válvulas de
controle de fluxo (registro) são colocadas na tubulação by-pass visando
garantir a diferença de pressão necessária.
4 CUSTOS OPERACIONAIS COMPARATIVOS

Ao se estabelecer um sistema de irrigação, abre-se uma via contínua


para injeção de defensivos agrícolas. Com este pressuposto se assume que o
custo de aplicar estes produtos por vias convencionais como bombas
costais, pulverizadores, ou ainda aplicações aéreas, são comparáveis com os
custos do sistema de irrigação que já foi planejado para fornecimento de
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

água e as possíveis adequações no sistema para realizar a quimigação.

Na tabela 1 observa-se a comparação por número de aplicação de


adubo (A), herbicida (H), inseticida (I) e fungicida (F) em um ano com relação
aos custos fixos, variáveis e ao saldo da quimigação.

Tabela 1: Custos comparativos da quimigação versus aplicação convencional em


função do programa de aplicações

Economia
Custo Custo Custo Convencional/
Aplicaçõesa da
fixob variávelc total custo totald
Quimigação
------------------------------- (US$/ha) ------------------------------------
1A 8,56 4,50 13,06 6,20 -6,86
1A 1H 4,28 9,30 13,28 20,20 6,92
2A 1F 2,85 13,50 16,35 26,40 10,05
2A 1H 1I 2,14 14,78 16,92 32,00 15,08
2A 1H 1I 1F 1,71 16,06 17,77 37,60 19,83
2A 1H 2I 1F 1,43 17,34 18,77 43,20 24,43
2A 1H 4I 1,22 18,62 19,84 48,80 28,96
3A 1H 4I 1,07 23,12 24,19 55,00 30,81
3A 2H 4F 0,95 17,62 28,57 69,00 40,43
3A 2H 5I 0,86 29,90 29,76 74,60 44,84
a
Número de aplicações/ano. A-adubo, H- herbicida, I-inseticida, F-fungicida. b custo fixo do
sistema de quimigação de US$ 4000,00 mais US$ 2,00/ha de manutenção. c Custo operacional
de um pivô de 61 ha. d Custo de aplicação aérea igual a custo tratorizada.
Fonte: Adaptado de Johnson et al., 1986.
5 CONCLUSÕES

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Os sistemas de quimigação apresentam-se como vantajosos com
relação aos custos, quando comparados à aplicação convencional, pois se
aproveita a estrutura já instalada e se evita a realização de um novo trato.
Além da questão financeira, as possibilidades de realizar aplicações de
forma mais rápida, quando da aparição dos sintomas e também de forma
preventiva fraccionadamente, podem levar a redução do volume total de
defensivos utilizados ao longo do ciclo da cultura, reduzindo o capital
investido e a carga ambiental de tais aplicações. Todavia existem pontos
críticos que devem ser estudados como os riscos ambientais de
contaminação de lençóis freáticos pela lixiviação de produtos; baixas
uniformidades de aplicação de alguns sistemas de irrigação podendo
ocasionar falhas na cobertura dos defensivos originando retrabalhos e
perdas nas culturas, necessidade de ampliação dos produtos com registro
legal para aplicação por essa via, e estabelecimento de legislação clara dos
mecanismos de segurança que devem ser incorporados aos sistemas de
irrigação. A técnica é promissora, mais ainda se acompanhada de pesquisa e
desenvolvimento.

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Agropecuário, 1986. 63 p.

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1990. 21 p.

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998-1004, 1986.
MUNDIM, P.M. Uniformidade de distribuição de água por aspersão convencional na presença
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Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

NDSU, North Dakota State University. Disponível em: <


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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

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pp.588-595. 2014.

TESTEZLAF, R.. Engenharia de Irrigação - Notas de aula AP 219. Acesso em: 26 Out. 2016.
CAPÍTULO 10

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS E SEU POTENCIAL
EM PROMOVER O CRESCIMENTO VEGETAL

1
Ligiane Aparecida Florentino
2
Adauton Vilela de Rezende
3
Adriano Bortolloti da Silva
4
Márcio de Souza Dias

1
Profa Dra. da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS. E-mail:
ligiane.florentino@unifenas.br
2
Profº Dr. da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS. E-mail:
adauton.rezende@unifenas.br
3
Profº Dr. da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS. E-mail:
adriano.silva@unifenas.br
4
Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Ciência Animal - UNIFENAS. E-mail:
marciodesouzadias2013@gmail.com
1 MICRORGANISMOS DO SOLO

O solo constitui-se no habitat de diferentes comunidades


microbianas, as quais são encontradas em alta densidade e diversidade.
Estima-se que em um grama de solo podem ser encontradas cerca de 109
células (GANS et al., 2005) e 104 espécies distintas (CURTIS et al., 2002). No
entanto, a distribuição dos microrganismos no solo está diretamente
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

relacionada à comunidade vegetal e animal presentes na superfície, sendo


que a variação de um deles pode ocasionar alteração nos demais (MOREIRA
& SIQUEIRA, 2006).

Os microrganismos do solo exercem importante função na regulação


e funcionamento dos ecossistemas, sendo responsáveis pela realização de
atividades, como: decomposição da matéria orgânica, ciclagem de
nutrientes, fixação biológica de nitrogênio (FBN), aumento na
disponibilidade de nutrientes para as plantas, por meio das associações
micorrízicas e solubilização de fósforo e potássio. Dessa forma, a presença
destes pode ser considerada como indicador da qualidade solo (KENNEDY &
PAPENDICK, 1995).

Destes, o processo de FBN tem sido intensamente estudado devido à


contribuição econômica e pela sua característica de contribuir para a
sustentabilidade dos ecossistemas agrícolas. Esse processo é realizado por
um grupo restrito de procariotos, denominados fixadores de N2 ou
diazotróficos. Entretanto, estudos indicam que além de fornecer nitrogênio
(N) para as plantas, estas bactérias podem atuar na promoção do
crescimento das plantas por meio da produção de fitormônios, como o
ácido indolacético (AIA) (MOREIRA et al., 2010), solubilização fósforo
(MARRA et al., 2012) e potássio (LEAUNGVUTIVIROJ et al., 2010). Ao longo
desse texto serão abordados esses três importantes processos realizados
pelas bactérias fixadoras de N2.
2 BACTÉRIAS FIXADORAS DE NITROGÊNIO ATMOSFÉRICO (N2)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Dentre os elementos essenciais para o desenvolvimento das plantas,
destacam-se o Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), os quais são
denominados macronutrientes primários, devido ao alto requerimento
exigido pela maioria das espécies vegetais cultivadas. O nitrogênio (N), de
modo geral, é o elemento exigido em maior quantidade pela maioria das
culturas, sendo constituinte de aminoácidos, proteínas, DNA e outras
biomoléculas da célula. No solo, a maior parte do N é encontrada na matéria
orgânica, no entanto, esta fração de N não consegue atender a exigência da
maioria das culturas agrícola, necessitando, portanto, de adubações com
fertilizantes nitrogenados.

O principal reservatório do N é o ar atmosférico, que contem cerca


de 78% de N gasoso (N2). No entanto, a maioria dos seres vivos não
consegue utilizar o N nesta forma, devido à tripla ligação entre os átomos de
nitrogênio (N ≡ N), que, para ser rompida, necessita de combustíveis fósseis
e altas temperatura e pressão, técnica utilizada para a fabricação de
fertilizantes nitrogenados (Processo Haber-Bosch). Dentre os
microrganismos do solo, algumas bactérias possuem uma enzima
denominada nitrogenase, que consegue romper a tripla ligação do N 2,
reduzindo-o o na forma de amônia (NH3). Esse processo é denominado
fixação biológica de nitrogênio (FBN) e as bactérias que desempenham esse
processo são as diazotróficas ou fixadoras de N2.

Estas bactérias estão amplamente distribuídas no solo, podendo ser


encontradas em vida livre, em associação com diversas espécies vegetais ou
em simbiose com leguminosas (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006). Nas
associações com espécies vegetais, as bactérias fixadoras de N 2 podem
colonizar a rizosfera e/ou os tecidos internos, podendo contribuir assim com
parte do N necessário ao desenvolvimento vegetal. São conhecidos
diferentes gêneros de bactérias associativas, como Azotobacter,
Beijerinckia, Derxia, Azospirillum, Herbaspirillum, Burkholderia,
Gluconacetobacter, Azoarcus, Bacillus e Paenibacillus (MOREIRA et al.,
2010). Dentre as espécies vegetais que essas bactérias podem se associar
destacam-se as gramíneas, que apresentam grande importância na
alimentação humana e na produção animal.

O estabelecimento da simbiose entre bactérias fixadoras de N 2 e


espécies vegetais é evidenciado, principalmente pela formação de nódulos
radiculares e/ou excepcionalmente caulinares em algumas leguminosas
(DREYFUS et al., 1988). A simbiose entre bactérias fixadoras de N 2 não está
restrita somente à família das leguminosas, embora esta tenha recebido
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

maior atenção nas pesquisas, provavelmente devido ao maior número de


espécies nodulíferas e a sua importância econômica e ecológica.

A FBN é um processo passível de manipulação pelos agricultores,


visando a substituição total ou parcial de fertilizantes nitrogenados.
Atualmente existem estirpes de bactérias fixadoras de N 2, aprovadas pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para cerca de
100 leguminosas de grãos, forrageiras e arbóreas. O melhor exemplo de
utilização destas bactérias é na cultura da soja, na qual ocorre a substituição
total dos fertilizantes nitrogenados pela inoculação com bactérias do gênero
Bradyrhizobium (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006; HUNGRIA et al., 2013).

Já para as gramíneas observa-se que os estudos de FBN ainda são


incipientes quando comparadas às leguminosas, fato que reflete
diretamente no número disponível de estirpes de bactérias fixadoras de N 2
aprovadas pelo MAPA para estas plantas, tendo somente algumas estirpes
do gênero Azospirillum como inoculantes para as culturas do milho, arroz e
trigo (MAPA, 2011).

A utilização destas bactérias na agricultura, além de reduzir a


utilização de fertilizantes nitrogenados, contribui para a sustentabilidade do
ecossistema, uma vez que o nitrogênio apresenta alta mobilidade no solo,
podendo, através de reações bioquímicas, serem lixiviados ou volatilizados,
diminuindo assim a sua eficiência e podendo contaminar os cursos d’água e
o ar atmosférico (HUNGRIA et al., 2013).
Considerando a preocupação atual com a sustentabilidade dos
ecossistemas agropecuários, os agroecossistemas, o governo aprovou em

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


2010 o Decreto no 7.390, que estabelece a constituição do Plano setorial
para a consolidação de uma economia de baixa emissão de carbono na
agricultura, também denominado Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão
de Carbono). Dentre as diversas ações propostas nesse decreto, destaca-se
o processo de fixação biológica de N2 (FBN) o qual se constitui numa
biotecnologia capaz de reduzir a utilização de fertilizantes nitrogenados na
agropecuária, reduzindo os custos de produção e a emissão de gases como o
óxido nitroso (N2O), um dos constituintes dos gases do efeito estufa (GEE).

2.1 PRODUÇÃO DE ÁCIDO-3-INDOLACÉTICO

A produção ácido-3-indolacético (AIA) por diferentes espécies de


bactérias fixadoras de N2 têm sido relatada por diversos autores (BASTIÁN
et al., 1998; DOBBELAERE et al., 1999; RADWAN et al., 2004; MONTEIRO et
al., 2012). Esse hormônio estimula o crescimento das raízes e proliferação
de pelos radiculares, aumentando assim a absorção de água e nutrientes
(DIMPKA et al., 2009), sendo denominadas bactérias promotoras do
crescimento vegetal (BPCV).

De acordo com os estudos desenvolvidos, tanto bactérias fixadoras


de N2 nodulíferas e associativas podem produzir AIA. Segundo Antoun et al.
(1998), estirpes dos gêneros Bradyrhizobium e Rhizobium, consideradas
BPCV, promovem maior desenvolvimento quando inoculadas em rabanete
(Raphanus sativus L.).

Para produção de AIA, o triptofano (TRP) constitui um importante


precursor para a rota biossintética desse hormônio (KHALID et al., 2004), de
forma que a adição desse aminoácido no meio de cultura estimula a
produção de AIA pelas bactérias (DOBBELAERE et al., 1999; CHAGAS-JUNIOR
et al., 2009; DIAS et al., 2014). Entretanto, algumas estirpes são capazes de
produzir este hormônio independente da presença do TRP (PRINCEN et al.,
1993; CHAGAS-JUNIOR et al., 2009).

Das estirpes fixadoras de N2, a espécie Azospirillum brasilense tem


recebido destaque especial nos estudos associados à capacidade de produzir
AIA. Alguns autores relatam os benefícios da inoculação com estirpes de A.
brasilense no desenvolvimento vegetal (COSTA et al., 2013) e no cultivo in
vitro (TSAVKELOVA et al., 2007).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

2.2 BIOSSOLUBILIZAÇÃO DE ROCHAS

Os solos brasileiros possuem características de solos ácidos e pobres


em nutrientes, sendo que para torná-los produtivos são necessárias
aplicações elevadas de fertilizantes, os quais possuem altos custos. Além
disso, o Brasil possui alta dependência do mercado externo (ANDA, 2016),
tornando-se necessário encontrar mecanismos e novas tecnologias que
possam reduzir essa dependência de fertilizantes dos mercados
internacionais, ampliando assim a competitividade do agronegócio
brasileiro.

Uma das alternativas para reduzir o custo com os fertilizantes pode


ser por meio da utilização de pó de rocha, rocha moída ou rochagem. O
principal objetivo desta técnica consiste em adicionar os nutrientes minerais
essenciais ao solo. Por isso, alguns autores denominam esse processo de
remineralização (CAMPE et al., 1996). Dentre as vantagens da utilização do
pó de rocha, podemos destacar o baixo risco de lixiviação, fonte de macro e
micronutrientes, matéria-prima abundante em todo país e baixo custo (VAN
STRAATEN, 2007).

No entanto, a liberação dos nutrientes presentes nestas rochas pode


ser lenta, impossibilitando o uso destas rochas nos sistemas de cultivo.
Técnicas físicas e químicas podem ser utilizadas no tratamento destas
rochas, visando aumentar a liberação destes nutrientes, no entanto, de um
modo geral, estas técnicas envolvem altos gastos energéticos, aumentando
o custo do produto final.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Buscando solucionar este problema, diversas pesquisas estão sendo
desenvolvidas com o objetivo de aumentar a liberação dos nutrientes de
rochas em menor tempo, por meio dos processos de biossolubilização,
envolvendo diversas espécies microbianas (HUNGRIA & URQUIAGA, 1992;
RESENDE et al., 2006).

Segundo a literatura, o principal mecanismo adotado por estes


microrganismos consiste na liberação de ácidos orgânicos ou de enzimas
específicas capazes de promover a liberação do nutriente contido nas rochas
para o meio (BIGHAM et al., 2001; YUAN et al., 2004; CALVARUSO et al.,
2006).

Estudos associados a seleção desses microrganismos capazes de


solubilizar minerais apresentam grande relevância na utilização de
tecnologias alternativas de produção de fertilizantes, os biofertilizantes.

2.3 BACTÉRIAS SOLUBILIZADORAS DE FOSFATO

O Fósforo (P), assim como o nitrogênio, é um elemento exigido em


grande quantidade para o crescimento das plantas. Este elemento é
constituinte de biomoléculas, como ácidos nucleicos, ATP e coenzimas.
Dentre os nutrientes, o P é considerado o que mais limita a produção
agrícola em solos tropicais, devido ao fato de encontrar-se complexado com
outros elementos, como os óxidos de Ferro (Fe) e Alumínio (Al) no solo,
tornando-se, portanto, indisponível à absorção pelas plantas. Quando
disponível nos solos de forma solúvel, as plantas podem absorver o P na
solução de solo como ânions de fosfato, predominantes nas formas de
2- 4-
HPO4 e H2PO (NOVAIS, 2007).
Na crosta terrestre, o P é um elemento pouco abundante,
concentrando-se principalmemente em jazidas sedimentares e magmáticas
(CHAVES & OBRA, 2004; NOVAIS, 2007). Algumas estimativas indicam que as
reservas mundiais de P com atual viabilidade econômica de exploração
podem ser suficientes até 2050 (VANCE et al., 2003). Evidenciando assim a
importância dos estudos relacionados à eficiência agronômica de fontes
alternativas de P.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Algumas espécies de fungos e bactérias possuem a capacidade de


disponibilizar o fosfato ligado a outro elemento (ferro ou alumínio),
processo que pode favorecer a disponibilidade de P no solo. No entanto, a
quantidade de P solubilizada in vitro é variável de acordo com a espécie
microbiana e fonte de carbono (BARROSO & NAHAS, 2008; LIRA-CADETE et
al., 2012). No campo, condições como o tipo de solo, espécies de plantas
cultivadas, aplicação de calcário e fertilizantes podem interferir na
comunidade de fungos e bactérias solubilizadores de fosfato (RODRIGUEZ &
FRAGA, 1999; BARROTI & NAHAS, 2000).

Dentre os microrganismos solubilizadores de fosfato, merecem


destaque as bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico, que, além de
fornecer o N para o desenvolvimento vegetal podem, também, contribuir
com o fornecimento de P para as plantas (MARRA et al., 2012). Lira-cadete
et al. (2012), estudando bactérias diazotróficas isoladas de cana-de-açúcar,
observaram alta diversidade genética associada à capacidade de
solubilização de fosfato.

Souza et al. (2015), estudando o potencial de bactérias fixadoras de


N2 isoladas da rizosfera e endofíticas de B. brizantha em solubilizar fósforo,
verificaram que estas quando inoculados em meio líquido contendo os
fosfatos naturais de Arad ou Gafsa, aumentaram a disponibilidade de P no
meio de cultura, que está relacionada ao abaixamento do pH. Esses
resultados estão apresentados na tabela 01.
Tabela 1. Valores de fósforo residual (P) (mg dm-3) e pH em meio de cultura NBRIP líquido
suplementado com duas fontes de fosfato natural distintas, incubado por sete dias(1).
Fontes de P/ Fosfato Natural de Arad Fosfato Natural de Gafsa

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Tratamentos P (mg dm3) pH P (mg dm3) pH
Controle 0,00 G a 6,00 A a 0,0 E a 5,89 A a
UNIFENAS 100-01 2,48 C a 4,22 C a 1,77 B b 3,75 C b
UNIFENAS 100-10 1,65 D a 4,26 C a 1,27 C b 3,70 C b
UNIFENAS 100-13 3,14 B a 3,90 D a 1,43 C b 3,57 C a
UNIFENAS 100-16 4,89 A a 3,40 E b 3,77 A b 3,93 C a
UNIFENAS 100-27 0,90 E a 5,40 B a 0,38 D b 5,17 B a
UNIFENAS 100-39 0,45 F a 5,13 B a 0,18 E b 3,62 C b
UNIFENAS 100-40 0,31 F a 5,70 A a 0,05 E b 5,65 A a
(1)
Médias seguidas de letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre
si pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. Fonte: Souza et al. (2015).

2.4 BACTÉRIAS SOLUBILIZADORAS DE POTÁSSIO (K)

O potássio (K) é essencial para a produção vegetal e, na planta está


envolvolvido em diferentes processos metabólicos, como fotossíntese,
translocação de carboidratos e equilíbrio hídrico. Além disso, proporciona
melhor qualidade de frutos e resistência das plantas a estresses bióticos
(pragas e doenças) e abióticos (frio e seca) (MALAVOLTA, 2006; DECHEN &
NACHTIGALL, 2007).

Estimativas indicam que o potássio é o segundo fertilizante mais


utilizado no Brasil, correspondendo a cerca de 30% do mercado de
fertilizantes, sendo que a forma de cloreto de potássio (KCl), é a forma
predominantemente consumida (aproximadamente 95%). A maioria do KCl
é importada, principalmente do Canadá, resultando nos elevados custos
encontrados no mercado (DNPM, 2014).
A utilização de pó de rochas silicatadas pode ser uma alternativa à
utilização de fertilizantes potássicos e os microrganismos podem contribuir
aumentando a liberação de K presentes nos minerais das rochas (LOPES-
ASSAD et al., 2006).

Meena et al. (2014) em sua revisão descrevem a contribuição dos


microrganismos rizosféricos na liberação de nutrientes, como o K, para as
plantas. Nesta revisão são apresentados também os principais grupos de
microrganismos solubilizadores de K, bem como a contribuição destes para
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

o desenvolvimento vegetal.

Brandão et al. (2014), realizaram estudos que envolvem A. niger na


solubilização de pós de diabásio e de fonolito e obtiveram resultados
satisfatórios em relação a quantidade de K solúvel, no tratamento com pó
de fonolito, sendo que a presença de determinada linhagem do fungo A.
niger pode solubilizar minerais contidos nesses pós de rochas.

Dentre as diversas rochas silicatadas, destaca-se o fonolito, rocha


vulcânica encontrada em Poços de Caldas, Sul de Minas Gerais, constituída
principalmente por feldspatos alcalinos, feldspatóides e feldspatos
potássicos, com cerca de 9% de K2O (TEIXEIRA et al., 2012). Estudos
desenvolvidos por Mancuso et al. (2014), relatam a viabilidade de uso do
fonolito na cultura do café.

Analisando os resultados obtidos por Florentino et al. (2017),


observa-se que estirpes de bactérias diazotróficas solubilizam K do pó da
rocha fonolito, aumentando em 12 vezes a concentração de K2O em meio de
cultura, quando comparado ao controle sem inoculação (Figura 01). Estes
resultados apresentam grande relevância, uma vez que estudos envolvendo
os dois processos, fixação biológica de N2 e solubilização de K, têm sido
relatados num pequeno número de trabalhos (WU et al., 2005;
LEAUNGVUTIVIROJ et al., 2010).
Figura 1. Concentração de K (mg L-1) e valor do pH do meio cultura Aleksandrov suplementado
com fonolito contendo glicose (A) e sacarose (B) como fonte de carbono, cultivado com as
diferentes estirpes bacterianas. ** = p < 0,01.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


(A) (B)
Fonte: Florentino et al. (2017).

3 POTENCIAL DE INOCULAÇÃO DE BACTÉRIAS FIXADORAS DE N2 E


PROMOTORAS DO CRESCIMENTO DE PLANTAS EM GRAMÍNEAS
FORRAGEIRAS

Conforme abordado no tópico anterior, o processo de FBN possui um


caráter altamente sustentável, devendo ser mais difundido para os
produtores, principalmente para os pecuaristas, uma vez que o Brasil possui
vasta área cultivada com pastagens (ABIEC, 2013). Essas áreas são
cultivadas, predominantemente com forrageiras do gênero Brachiaria,
devido à grande capacidade adaptativa, tolerando às diferentes condições
edafoclimáticas.

De acordo com Macedo et al. (2014), cerca de 50% destas pastagens


encontram-se degradadas, que pode ser causada, principalmente, pela falta
de reposição de nutrientes. Segundo Ferreira et al. (1999), a quantidade
aplicada de NPK é muito pequena e não atende as exigências nutricionais
das forrageiras, consequentemente, tem-se um produto com baixa
qualidade nutricional, refletindo diretamente na produção de carne e leite.
Diante disso, torna-se importante encontrar alternativas visando a
recuperação destas áreas visando aumentar a produtividade de forma
sustentável. É importante ressaltar ainda que a recuperação das pastagens
compreende uma das ações do plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de
Carbono), uma vez que a pastagem vigorosa atua no sequestro de CO 2
atmosférico, contribuindo assim para reduzir os gases do efeito estufa (GEE)
a o aquecimento do planeta.

Dos nutrientes requeridos pelas forrageiras, o N constitui no


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

elemento mais limitante à produtividade e sua deficiência tem sido


apontada como principal causa de degradação das áreas cultivadas com
Brachiaria spp. (VASCONCELOS, 2006). Nas gramíneas, de um modo geral, o
N constitui-se no elemento mais limitante à produção devido à grande
quantidade requerida pelas plantas e às funções fisiológicas desempenhadas
por esse elemento (BONFIM-SILVA & MONTEIRO, 2006, 2010; DE BONA &
MONTEIRO, 2010).

Estudos com bactérias fixadoras de N 2 mostram o benefício da


inoculação destas em diferentes gramíneas forrageiras (DIDONET et al.,
1996; OKON & VANDERLEYDEN, 1997; CAVALLET et al., 2000; OLIVEIRA et
al., 2007).

Em estudo realizado recentemente por Dias (2015) foi observado


grande diversidade morfológica de isolados na rizosfera e endofíticos de B.
brizantha, sendo que cerca de 1/4 destas bactérias fixadoras de N 2 foram
capazes de produzir AIA (Tabela 2) e cerca de 35 de solubilizar fosfato
inorgânico de Fe (FePO4.2H2O), conforme dados apresentados na Tabela 3.
Tabela 2. Origem dos isolados que apresentaram resultado positivo para produção de ácido-3-

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


indolacético (AIA).
Total de
Origem dos isolados Isolados
isolados
UNIFENAS-100-47; 48; 50; 53; 54; 55; 61; 62;
78; 159; 163; 167; 170 a 173; 178; 181; 184; 32
Solo
185; 198; 212; 223; 227; 228; 230; 238 a 240; isolados
263; 323; 325.
UNIFENAS-100-03; 17; 19; 21; 26; 34; 38; 40;
52; 63; 72; 73; 85; 88; 105; 125; 129; 130; 137;
46
Tecido vegetal (raiz) 138; 142 a 145; 147; 150 a 153; 274; 281; 282;
isolados
303; 307; 308,310; 311; 313 a 315; 317; 318;
321; 322; 330; 331.
Fonte: Dias (2015).

Tabela 3. Índice de solubilização (IS) de fosfato de ferro (FePO4.2H2O) em meio sólido GELP por
bactérias diazotróficas de Brachiaria brizantha.
Estirpes IS (mm)

100-40 10,34 a
100-05 8,27 b
100-01; 100-02; 100-59 7,12 ± 0,25 c
100-23; 100-116 6,14 ± 0,19 d
100-08; 100-15 5,42 ± 0,01 e
100-35; 100-14; 100-16; 100-70; 100-71; 100-78; 100-82; 100-32 4,35 ± 0,48 f
100-09; 100-44; 100-69 3,50 ± 0,13 g
100-12; 100-43; 100-49; 100-51; 100-67; 100-17; 100-33; 100-34; 100-
2,81 ± 0,29 h
265
100-07; 100-28; 100-30; 100-31; 100-42; 100-280 2,09 ± 0,28 i
Fonte: Dias (2015).

Esses resultados revelam a diversidade de microrganismos benéficos,


como os fixadores de N2, produtores de AIA e solubilizadores de P habitando
a rizosfera e os tecidos de B. brizantha. Estudos posteriores são necessários
visando identificar os principais gêneros e espécies, a real contribuição
desses isolados para esta gramínea, bem como as condições edafoclimáticas
que favorecem a ocorrência destas no solo.

AGRADECIMENTOS

À Fapemig pelo auxílio financeiro, no projeto intitulado: “Alternativas


para a auto suficiência na utilização de fertilizantes nitrogenados e rochas
silicatadas para o cultivo de Brachiaria brizantha no estado de Minas
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Gerais”, Processo: APQ-01115-14 e pelo auxílo concedido ao Programa de


Pós Graduação, Mestrado Porfissional em Sistema de Produção na
Agropecuária.

REFERENCIAL

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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
SEÇÃO 04 - TECNOLOGIA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


POSSIBILIDADES E MÉTODOS DE UTILIZAÇÃO
NO USO DE DRONES/VANTS NA AGRICULTURA

METODOLOGIA DE CLASSIFICAÇÃO
SUPERVISIONADA EM IMAGENS DE SATÉLITE
PARA ANÁLISE DE ALVOS AGRÍCOLAS

ESPACIALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS


CLIMÁTICOS PARA CARACTERIZAÇÃO
AGRÍCOLA UTILIZANDO AS GEOTECNOLOGIAS
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 11

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


POSSIBILIDADES E MÉTODOS DE UTILIZAÇÃO
NO USO DE DRONES/VANTS NA AGRICULTURA

1
Bruno Timóteo Rodrigues
2
Mikael Timóteo Rodrigues
3
Sérgio Campos
4
Marcelo Campos
5
Miriam Büchler Tarumoto

1
Doutorando pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: brunogta21@gmail.com
2
Doutor e Pós-Doutorando pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: mikaelgeo@gmail.com
3
Profº Dr. pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: seca@fca.unesp.br
4
Profº Dr. pela UNESP/Tupã-SP. E-mail: marcelocampos@tupa.unesp.br
5
Doutoranda pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: miriamtarumoto@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

Com a chegada dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) ou


Veículo Aéreo Remotamente Pilotado (VARP), também chamado UAV (do
inglês Unmanned Aerial Vehicle) e popularmente conhecido como Drone
(zangão, em inglês), os mesmos entraram no mercado como um marco da
evolução tecnológica, onde algum tempo atrás dizer que equipamentos que
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

atuassem de forma autônoma sobrevoando céus desempenhando tarefas


seriam considerados uma utopia.

O principal ponto que proporcionou a popularização dos VANTs foi o


fato da acessibilidade financeira à tecnologia, o que antes, a exemplo da
Fotogrametria, seu auto custo de viabilidade era apenas disponível para o
setor público e grandes empresas de engenharia.

Geralmente os avanços das geotecnologias inicialmente ocorrem no


mercado militar, felizmente estas tecnologias posteriormente ganham
espaço no mercado civil, proporcionando grandes benefícios, foi assim com
o GPS e está sendo com os VANTs.

Uma das grandes vantagens de utilização da tecnologia por detecção


remota é que tal ferramenta pode apanhar informações de caráter
relevante de forma momentânea sem que haja visitas in-loco, ganhando-se
tempo e propriedade na pesquisa. Particularmente, na agricultura de
precisão, pesquisas utilizando tecnologias de sensoriamento remoto tem
aumentado consideravelmente, ainda que a aquisição de imagens de
satélite de alta resolução não é adequada para monitoramento agrícola
devido a resolução temporal dos grandes programas orbitais detentores de
produtos com alta resolução espacial (CHUNGDEA-RO; CHEONGJU-SI;
CHUNGBUK, 2015). Além disso, é complexo adquirir imagens com pouco ou
nenhum ruído devido fenômenos meteorológicos em regiões costeiras ou
regiões de relevo de alta flutuação topográfica, sobretudo no período
fundamental entre dezembro a março para monitoramento agrícola.
Nos últimos anos, pode ser observado que os Drones/VANTs vêm
apresentado inúmeras vantagens no tocante as técnicas de sensoriamento

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


remoto convencionais, onde tais equipamentos podem exercer serviços de
aquisição de imagens de alta resolução espacial e temporal, adquiridas de
forma pratica e rápida, podendo obter qualidade em seus produtos até
mesmo em tempo nublado. Deste modo, estes equipamentos vêem
conduzindo uma implementação de novas metodologias adaptadas, onde
tais são aplicadas ao auxílio do monitoramento e controle de culturas
agrícolas em diferentes fases do seu desenvolvimento, designado para
melhorar o custo-benefício dessas atividades.

Portanto, os Drones e VANTs, são apontados como a nova revolução


das geotecnologias após o sistema GPS, esta tecnologia adéqua inúmeras
possibilidades, onde será apresentado neste capítulo os meios e
oportunidades que estão surgindo com praticidade logística e financeira da
área de aerolevantamentos por meio de Drones.

2 SURGIMENTO E TIPOS DE DRONES/VANTS

A história da aviação mundial, assim como grande parte da


tecnologia atualmente conhecida é decorrente de uma necessidade bélica
envolvendo conflitos armados no curso da história. Neste sentido, os
veículos aéreos não tripulados (VANTs) surgiram como uma resposta às
necessidades da indústria armamentista, sendo utilizados no mapeamento
de áreas estratégicas, reconhecimento de terrenos e identificação de alvos,
ou até mesmo em ataques aéreos, como o Kettering Aerial Torpedo, o
primeiro VANT usado para combates (Figura 1), em 1918 (CALOU, 2016).
Neste período, porém, os VANTs eram imprecisos na coleta de informações
e suas aplicações não tiverem reconhecimento por muitos militares e líderes
políticos (FAHLSTROM; GLEASON, 2012).
Figura 1 – Kettering Aerial Torpedo, o primeiro VANT usado para combates.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: http://doctordrone.com.br/ (2016)

Dentre os VANTs da atualidade pode se destacar dois tipos de


categorias, os VANTs de Asa Fixa (Figura 2 - A) e os VANTs de asa Rotativa
(Figura 2 - B), este último grupo de Drones/VANTs também são conhecidos
como Multirrotores, quando apresentam configuração e forma que dispõem
acima de três rotores (hélices).

Figura 2 – A) MicroVANT Zangão 5 Asa Fixa, SkyDrones; B) Solo-3DR Multirrotor, 3DR.

Fonte: http://doctordrone.com.br/ (2016)


3 APLICAÇÕES DOS DRONES/VANTS

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O mercado dos veículos aéreos não tripulados está em constante
expansão, apresentando-se como uma nova tendência a ser explorada. As
diversas aplicações, bem como os diversos modelos, podem ser empregados
adaptando-se à demanda de cada profissional, de cada região (SILVA, 2013).

Os VANTs quando comparados a outros sistemas de aquisição de


imagens aéreas, como fotogrametria por aviões e satélites, possuem
algumas vantagens, como destacam Honkavaara et al. (2013), citando a
capacidade do sistema em adquirir dados com resolução espacial e temporal
desejadas. O custo benefício é outro fator vantajoso, pois os VANTs
oferecem uma boa relação entre custo e eficiência, comparado com outros
métodos de aquisição. Outro fator destacado pelos autores é o emprego dos
VANTs inclusive sob condições de nebulosidade. Tamminga et al. (2015)
apontam o baixo custo, alta eficiência, flexibilidade operacional e resolução
espacial centimétrica. A facilidade no tratamento e processamento dos
dados coletados está relacionada com a interface e fluxo de trabalho de
cada software disponível no mercado.

3.1 GERAÇÃO DE BASES CARTOGRÁFICAS

A Fotogrametria é uma ciência que surgiu na França em meados do


século XIX, primeiramente desempenhada com balões. Desde então, esta
ciência passou por distintas modificações protagonizadas pelo avanço
tecnológico, como a chegada dos aviões, dos computadores, das câmeras
digitais e mais recentemente com a surgimento dos Drones, que possibilitou
a sua popularização devido sua praticidade de logística e baixo custo de
operação.
Com essa chegada dos Drones no campo da fotogrametria a principal
transformação foi com relação à logística, expansão na resolução temporal
(uma vez que tais equipamentos possuem versatilidade de vôos) e
diminuição custo, tendo em vista que era necessário um elevado
investimento para contratação de serviços para empresas ligadas a
aerofotogrametria, assim, tornando-se inviáveis alguns projetos devido o
alto valor agregado, restringindo o acesso apenas à órgãos públicos e
grandes empresas de engenharia e impossibilitando projetos de cunho
acadêmico.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Devido a isto, a fotogrametria tornou-se competitiva com a


topografia, a ciência mais antiga das geociências. Por este fato, surgem
diversas dúvidas entre os usuários, relativo a acurácia do mapeamento
aéreo com relação à topografia, bem como, o emprego correto da utilização
das técnicas para um determinado objetivo. Os produtos gerados pelo
mapeamento aéreo é uma base cartográfica da área, através desta base
podem ser realizadas diversas análises e operações.

Uma base cartográfica nada mais é que um produto georreferenciado


da área de interesse, antigamente estes produtos eram cartas impressas em
escala, com o avanço tecnológico os mapas foram perdendo sua função
estática e hoje temos mapas dinâmicos e totalmente interativos, como um
bom exemplo temos o software Google Earth.

Em contrapartida não é recomendado e nem se deve utilizar as


imagens do Google Earth, pois as mesmas não oferecem, resolução
temporal, resolução espacial e nem uma boa acurácia, estes sendo fatores
imprescindíveis para a maioria das atividades de levantamentos na
agricultura.

As bases cartográficas geradas pelos VANTs são: Mosaico de


Ortofotos, Modelo Digital de Superfície, Modelo Digital do Terreno e Curvas
de nível, onde em seguida será abordado cada produto e sua aplicação na
agricultura.
4 METODOLOGIA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Os procedimentos a serem executados são aplicados para
desenvolver metodologias e amparar pesquisas bem como e trabalhos de
levantamentos. A Figura 3 demonstra em síntese como devem proceder as
atividades de levantamento de dados.

Figura 3 – Fluxograma de trabalho.

Fonte: Autores (2017).

4.1 PLATAFORMA E VOO PROGRAMADO

Os comandos de voos são realizados nos três eixos, podendo ser para
frente e para trás (Pitch), direita e esquerda (Roll), para cima e para baixo
(Elevator) e rotação no próprio eixo para direita e esquerda (Yaw). A
plataforma do Drone/VANT possui um sistema embutido denominado
Inertial Measurement Unit (IMU) que possibilita o controle da altitude
através de um sensor de inércia e um altímetro barométrico. Os sistemas
embarcados realizam a leitura da informação geomagnética com o auxílio
do GPS (Global Position System) aumentando a acurácia do cálculo da
posição e altura do VANT. Os Drones também podem possuir sistemas de
estabilização da câmera (Gimbal), que auxiliam na qualidade das imagens ou
vídeos obtidos durante o voo.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

A definição da área do voo é estabelecida com o auxílio de programas


computacionais do tipo Ground Station, a exemplo o programa Mission
Planner, este sendo um software livre, de código aberto e disponibilizado
gratuitamente na internet, onde nestes softwares é possível programar os
voos com os Drones/VANTs, assim, definindo a altura desejada e a
velocidade de voo bem como as áreas e a porcentagem de sobreposição das
imagens (Figura 4).

Figura 4 – Software Mission Planner com exemplo de programação de voo com


Drone/VANT sobre fazenda experimental Lageado - UNESP-FCA.

Fonte: Autores (2017).


Contudo, devem ser implantados na área de estudo pontos de
controle, que podem ser feitos com qualquer tipo de alvo que possa ser

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


visualizado para a determinada altura de voo, estes podendo ser feitos de
cerâmica (Figura 5), sendo utilizados posteriormente para o
georreferenciamento das imagens aéreas com auxilio de métodos de
levantamentos com GPS.
Figura 5 – Exemplo de pontos de controle.

Fonte: Autores (2017).

4.2 PROCESSAMENTO DOS DADOS

Para o processamento dos dados levantados em voo, podem ser


utilizados softwares específicos de processamento de Imagens de Drones, a
exemplo do software PhotoScan, da empresa desenvolvedora AgiSoft, por
sua fácil interface, baixo custo e bastante aceitável em trabalhos desta
natureza. Em seguida os processamentos podem se dividir em basicamente
oito etapas:
1. Importação das imagens aéreas;
2. Alinhamento das imagens;
3. Calibração da câmera;
4. Criação da malha (mosaico de imagens)
5. Georreferenciamento (feito pelos pontos de controle);
6. Geração da Nuvem de Pontos;
7. Geração da Ortofoto e exportação dos relatórios;
8. Exportação dos pontos da nuvem.
O software ainda permite a texturização do modelo 3D, bem como
outras opções de fluxo de trabalho (Figura 6).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Figura 6 – Fluxograma do processamento das imagens aéreas no PhotoScan, da AgiSoft.

Fonte: Autores (2016).

4.3 MOSAICOS E ORTOFOTOS

Fininho (2016) relata que Ortofoto é uma foto ajustada de


deformações apresentadas na fotografia aérea, seja por Drones/VANTs ou
aerolevantamentos convencionais. Essas deformações são decorrentes das
variações do relevo e da projeção cônica da fotografia, que interferem
diretamente em variações nas escalas dos objetos fotografados, sendo
assim, essas deformações dão à foto uma aparência distorcida.
Para que seja obtida uma ortofoto é necessário ser feito
"conversões" e "correções" na imagem original (fotografia aérea) para que

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


todas as feições presentes nesta imagem se apresentem na mesma escala,
corrigindo assim as deformações do relevo bem como a projeção cônica
exercida no ato da coleta das imagens aéreas. Desta maneira tornando-se
possível a medição de distâncias, áreas e posições, como em um mapa e/ou
carta convencional.
Para tanto se faz necessário a coleta de Pontos de Controle em
campo (malha de pontos coletados na mesma área correspondente à
imagem a ser Ortorretificada) para que estes sirvam de orientação na
confecção do Modelo Digital de Terreno bem como na qualidade a
ortorretificação.
De maneira simples o Mosaico de ortofotos (Figura 7) é uma junção
das imagens individuais tomadas pelo VANT em uma única imagem
georreferenciada que cobre toda a área de interesse, feita por uma planilha
de corelações das imagens com as respectivas coordenadas geográficas. Em
relação ao Mapa de traço o Mosaico de ortofotos apresenta uma maior
riqueza de detalhes e uma maior rapidez para ser confeccionado.

Figura 7: Mosaico de ortofotos

Fonte: Adaptado de EBOOK - Drones na Agricultura


4.4 TOPOGRAFIA - MODELO DIGITAL DE TERRENO E CURVAS DE NÍVEL

Com medidas lineares e angulares, realizadas sob a superfície da


Terra, a Topografia atua calcula coordenadas, áreas, volumes, dentre outras
variáveis. Ademais, estas distinções poderão ser simuladas por meio de
mapas ou plantas, no entanto, torna-se imprescindível um adequado
conhecimento referente a instrumentação, técnicas de medição, métodos
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

de cálculo e estimativa de precisão (KAHMEN; FAIG, 1988).

De acordo com Brinker e Wolf (1977) e adaptado pelos autores, o


trabalho prático da Topografia pode ser dividido em quatro etapas:

1. Tomada de decisão: Onde se relacionam os métodos de


levantamento, equipamentos, posições ou pontos a serem
levantados, nesse caso quais os tipos de VANTs e sensores (câmeras)
que melhor atenderão ao levatamento;

2. Trabalho de campo ou aquisição de dados: Efetuam-se as


medições e gravação de dados. Voo e obtenção de imagens bem
como marcação dos pontos de controle;

3. Cálculos ou processamento: Elaboram-se os cálculos baseados nas


medidas obtidas a partir das Ortofotos ou Modelos Digitais de
Terreno (MDT) para a determinação de coordenadas, volumes, áreas;

4. Mapeamento ou representação: Produz-se o mapa ou carta a


partir dos dados medidos e calculados.

Desta forma o aerolevantamento com Drones/VANTs veem para


contribuir com novas técnicas e métodos que podem vir a otimizar
levantamentos fazendo um melhor aproveitamento de questões como
tempo e custos operacionais, podendo ser gerados Modelos Digitais de
Terreno (MDTs) e consequentemente a composição de Curvas de Nível.
4.4.1 Modelo digital de terreno

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Os Drones/VANTs podem proporcionar uma representação
matemática da distribuição espacial e das características de um fenômeno
vinculada a uma superfície real.

Diferente do Modelo Digital de Superfície (MDS) o Modelo Digital do


Terreno (MDT) é a real representação do terreno, não considerando os
objetos acima do solo. Para gerar o MDT é necessário realizar um processo
conhecido como filtragem na nuvem de pontos do Modelo Digital de
Superfície (MDS) eliminando os objetos acima do solo.

Desta forma, para uma possível representação de superfície


fidedigna no computador é imprescindível a criação de um modelo digital
(Figura 8), podendo ser por arquivo matricial com representação de MDT,
equações analíticas e/ou por uma rede de pontos regulares ou irregulares.

Figura 8: Exemplo de Modelo Digital de Terreno (MDT)

Fonte: Autores (2017).


Em meio aos vários tipos de usos e produtos que podem ser
extraídos e trabalhados com um Modelo Digital de Terreno pode-se citar:
Armazenamento de dados de altimétricos; Análises de corte-aterro;
Elaboração de mapas de declividade, entre outros mais. Podendo assim
apoiar e auxiliar vários tipos de atividades como: análise de geomorfologia e
erodibilidade; suporte a projetos de estradas e barragens; criação de mapas
topográficos; Análises de variáveis geofísicas e geoquímicas; bem como
possibilitando ser feita uma apresentação tridimensional (em combinação
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

com outras variáveis).

4.4.2 Curvas de nível

A partir do Modelo Digital de Terreno (MDT) que é possível ser


determinado as curvas de nível. Tanto o MDT como as Curvas de nível são
dados e valores altimétricos que representam a forma e declividade do
terreno.

Alguns softwares mais robustos tem a possibilidade de se trabalhar


diretamente com os Modelos Digitais de Terreno, dependendo também da
capacidade de processamento computacional da máquina que o operador
está trabalhando. Caso o software e/ou a máquina na qual o operador está
trabalhando não suporte os níveis de processamento é possível trabalhar
com as Curvas de Nível (Figura 9) que é um dado mais leve.

Para tanto se faz necessário uma simples conversão e extração de


dados do Modelo Digital de Terreno para o arquivo de curvas de nível, este
podendo ser feito em qualquer software de Sistemas de informação
geográfica a partir de ferramentas de "extração de contorno".
TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
Figura 9: Curvas de Nível e processo de extração das curvas.

Fonte: Autores (2016).


4.5 ANÁLISES AUTOMATIZADAS

Quando se fala em análises automatizadas, refere-se a produtos


exclusivos que são gerados através dos produtos oriundos do levantamento
aerofotogramétrico, desta forma se tornando viável e acessível por meio da
disseminação e popularização do Drones/VANTs.

Os índices de vegetação têm sido muito empregados no


monitoramento de áreas vegetadas, com intuito de estimar o índice de área
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

foliar, biomassa, bem como da radiação fotossinteticamente ativa.

Com base em uma proposta de melhor rendimento nas atividades


agrícolas, considera-se a utilização de Índices de Vegetação por Diferença
Normatizada (Normalized Difference Vegetation Index - NDVI), que resulta
de combinações de dados espectrais, destacando as configurações e formas
da vegetação (JACKSON; HUETE, 1991).

Portanto, comparações quanto à atividade fotossintética terrestre,


podem ser realizadas em aspectos espaciais e temporais promovendo o
monitoramento em diferentes épocas, safras e até relacionada à ocupação e
uso do solo a longo prazo, de forma mais eficiente, com base em
características estruturais, fenológicas e biofísicas da cultura em campo
(WANG; LIU; HUETE, 2003), como pode ser observado na Figura 10.
Figura 10: Exemplo de Índice de Vegetação por Diferença Normatizada (NDVI)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fonte: Adaptado de EBOOK - Drones na Agricultura

Com o desenvolvimento das geotecnologias, os sensores remotos


passaram a permitir a análise por meio de imagem orbitais, a distribuição
espacial de áreas cultivadas e as possíveis modificações da cobertura vegetal
em diversas períodos, possibilitando o monitoramento das áreas vegetadas.

No entanto um fator principal que se deve levar em consideração é o


nível de detalhamento que esta técnica proporciona, como citado
anteriormente, o fato dos satélites estarem em órbitas ao redor da terra
estão muito distantes do terreno, consequentemente não conseguem
alcançar níveis aceitáveis de detalhamento (resolução espacial) para a
utilização dos produtos para uso na agricultura. Pois na atualidade o satélite
mais robusto com à resolução espacial não consegue identificar feições e
objetos menores de que 30 centímetros em sua banda pancromática (preto
e branco), descarando assim qualquer possibilidade de se trabalhar com
produtos oriundos de satélites para a agricultura de precisão.

Desta forma os Drones/VANTs, com o auxílio de softwares específicos


(sejam Sistemas de Informação Geográfica e/ou softwares exclusivos de
processamento de imagens de Drones), fornecem Análises Automatizadas,
onde, nesses métodos computacionais, podem ser identificados ervas
daninhas e outros parâmetros de saúde da vegetação (NDVI), bem como a
identificação de falhas de linhas de plantio (Figura 11).

Figura 11: Monitoramento de Falhas em linhas de plantio.


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Adaptado de EBOOK - Drones na Agricultura

Sendo assim, considera-se as Análises Automatizadas fornece


agilidade na obtenção de dados e consequentemente nas tomadas de
decisões e possibilitando diminuição de custos e aumento de produtividade.
Por fim, a chegada e popularização dos Drones/VANTs proporcionam dados
exclusivos que até então não eram acessíveis no mercado do agronegócio e
agroflorestais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Observa-se que, nos últimos anos, o mercado e a tecnologia dos
Drones/VANTs tem ganhado força no âmbito nacional e principalmente no
setor internacional.

É nítido o crescimento exponencial desta tecnologia, crescimento


este que se deu principalmente por meio do mercado da agricultura que,
devido a diversos benefícios proporcionados entre otimização de custos e
operacionalidade, é o mais otimista.

Com isso os Drones/VANTs são mais uma ferramenta que


proporcionam a identificação dos problemas no campo fornecendo dados
precisos para tomadas de decisão, ferramenta esta que veio para otimizar o
trabalho das ciências do agronegócio e agroflorestais,

Contudo, entende-se que os Drones/VANTs não conseguem


identificar as causas e quais soluções poderão ser tomadas, este sendo um
serviço de extrema importância e que cabe aos profissionais da área
fazerem as suas interpretações e executarem as medidas cabíveis
pertinentes.

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DRONENG. Ebook - Drones na Agricultura. 1ª Edição. São Paulo, 2015. Disponível em:<
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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 12

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


METODOLOGIA DE CLASSIFICAÇÃO
SUPERVISIONADA EM IMAGENS DE SATÉLITE
PARA ANÁLISE DE ALVOS AGRÍCOLAS

1
Mikael Timóteo Rodrigues
2
Bruno Timóteo Rodrigues

3
Sérgio Campos

4
Lincoln Gehring Cardoso

5
Marcelo Campos

1
Doutor e Pós-Doutorando pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: mikaelgeo@gmail.com
2
Doutorando pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: brunogta21@gmail.com
3
Profº Dr. pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: seca@fca.unesp.br
4
Profº Dr. pela UNESP/FCA - Botucatu/SP. E-mail: lincoln@fca.unesp.br
5
Profº Dr. pela UNESP/Tupã-SP. E-mail: marcelocampos@tupa.unesp.br
1 INTRODUÇÃO

Cultivar o solo para produzir alimentos com objetivo de prover as


necessidades da população torna-se uma categoria que não pode ser
suprida por meios alternativos, com algumas exceções de cultivos a exemplo
das hortaliças, que já algum tempo vêem sido produzidas no sistema
hidropônico. No entanto, este tipo de cultivo não supre a produção de
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

elevadas quantidades de alimentos, especialmente aqueles avaliados como


fundamentais para a nutrição humana, como: o arroz, o feijão, a batata
dentre outros plantios.

Porém, tais atividades tornam-se agressivas ao meio ambiente na


tentativa de produzir alimentos, modificando grande volumes de dosséis
florestais e numerosos ecossistemas, ocasionando riscos de erosão e
degradação do solo. Por conseguinte, é indispensável o planejamento e
desenvolvimento sustentável de grandes áreas cultiváveis, com o desígnio
de restringir conflitos em limites protegidos legalmente, bem como em
perímetros ambientais aquém normatização legal. Na década de 60 houve
uma mudança nos paradigmas de gestão ambiental brasileira, influenciada
pelo Ato Nacional de Política Ambiental dos Estados Unidos, surgiu o Código
Florestal brasileiro de 1965, para conservação e manutenção da biota
considerando a flora como protetor natural dos agentes erosivos exógenos,
bem como a preocupação com a beleza cênica.

Desta forma, o emprego do geoprocessamento se tornou dinâmico


na espacialização e quantificação de ambientes naturais em um
determinado espaço, tanto a nível regional quanto a nível local,
compreendendo o plano e utilização apropriada da ocupação de um referido
perímetro, assim se tornando uma alternativa viável na observação das
admissíveis falhas e lacunas. A utilização de Sistemas de Informações
Geográficas (SIG) tem contribuído no uso de técnicas de mapeamento e
modelagem para zoneamento, atuando como ferramenta de inspeção e
planejamento de perímetros agroflorestais, bacias hidrográficas, bem como
seus respectivos espaços, uso e ocupação do solo, tendo em vista que
modificações acontecem em uma pequena escala temporal (RODRIGUES, et
al, 2013).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O sensoriamento remoto desempenha uma tarefa fundamental no
ambiente SIG, confiando um seguro leque de informações a respeito de
inúmeras variáveis de uso e ocupação de extensas áreas, determinando
atuações ajustadas para tomada de decisão, por instituir ferramentas de e
dados geoespaciais (FUSHITA, et al, 2013). Com base nas características
físicas dos alvos terrestres em uma determinada região, é possível fazer um
monitoramento das condições ambientais da área em questão e descobrir
possíveis modificações por meio do seu comportamento espectral.

Metodologias empregando dados derivados de ambiente SIG têm


sido ampliadas com a finalidade de demarcar e classificar bacias
hidrográficas e os referentes manejos do uso e ocupação das referidas
áreas. Por outro lado, o número elevado de bandas que devem ser
avaliadas, as extensas áreas de estudo com elevado grau de detalhamento,
torna bastante lento e trabalhoso o processo de interpretação de um
determinado perímetro. Com base nessas dificuldades foram elaboradas as
técnicas de classificação digital de imagens, que automatizam a metodologia
de extração das imagens de satélite, acabando com a subjetividade da
interpretação humana, bem como, reduzindo esforços e encurtando o
tempo de trabalho do analista.

A forma mais usual e difundida entre os pesquisadores que


trabalham com sensoriamento remoto e que foi adotada pelos softwares
comerciais e livres que utilizam módulos de processamento de imagens,
subdivide os classificadores em supervisionados e não-supervisionados. A
proposta metodológica de classificação supervisionada, empregada no
presente capítulo requer conhecimentos prévios dos alvos, a fim de
classificar a imagem nas classes de interesse pré-fixadas pelo analista, onde
o algoritmo precisa ser treinado para poder diferenciar as classes uma das
outras.

Neste capítulo, uma metodologia de classificação supervisionada por


meio do padrão espectral em imagem orbital, para análise de dados da
cobertura do solo (alvos agrícolas) por meio de software SIG livre, é
proposta.

2 CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA

O método de identificar e qualificar alvos presentes em uma imagem,


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

claramente, é uma tarefa simples sem maiores dificuldades. Entretanto, há


uma série de fatores que causam interferências nesse trabalho, pois
inúmeros alvos naturais não possuem assinatura espectral distintas a óptica
de um respectivo sensor imageador, de tal forma que a atmosfera pode
amortizar os contrastes espectrais ou ainda impossibilitar a aquisição de
dados e características de alvos em comprimentos de onda que sofrem
fortes absorções. No que se refere a topografia, as sombras podem intervir
de forma negativa no saldo geral da reflectância, bem como sobrepor
“ruídos” nas imagens. Desta forma, a resolução espacial torna os pixels uma
mistura de alvos (MENESES; ALMEIDA, 2012). Um pouco dessa consequência
podem ser modelados pelos algoritmos, mas nem sempre é possível
modelar tais parâmetros inteiramente.

Ainda que fosse admissível uma modelagem de inúmeras variáveis, a


maior parte dos algoritmos de classificação se fundamenta nas estimações
digitais dos pixels, o que é aceitável para admitirmos que não é auto-
suficiente para se ter uma classificação/modelagem 100% satisfatória. Ao
interpretar uma imagem, o analista é capaz de destacar uma classe de
vegetação vigorosa de mata de galeria, ou mesmo de uma vegetação nativa
de um reflorestamento, mesmo que tais usos estejam espectralmente
semelhantes. Provavelmente tais classes serão confundidas por um
classificador automático, porém, o analista utiliza-se de características de
textura, forma e estrutura para diferenciá-las (MENESES; ALMEIDA, 2012).

Para o método da classificação supervisionada, utilizado neste


capítulo, torna-se necessário um conhecimento prévio de alguns aspectos
da área em que se deseja trabalhar, o que permite a seleção de amostras de
treinamento confiáveis para que se tenha posteriormente uma confiável
verdade terrestre. As respectivas áreas de controle são empregadas como

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


modelo de comparação com as quais todos os pixels não identificados serão
confrontados e, em seguida classificados. Para tal método de classificação, o
treinamento surge como reconhecimento de padrão da assinatura espectral
de cada uma das classes de uso da imagem. Para alguns algoritmos de
classificação, esse reconhecimento abrange a aquisição de parâmetros
estatísticos como média, matriz de covariância, dentre outras variáveis de
cada classe presente na área. Para outros, há necessidade somente do nível
mínimo e máximo de níveis de cinza. (CROSTA, 1992).

Diferentes autores alegaram em seus estudos que dados procedentes


de classificação digital de imagens de satélite ficam sujeitos a erros
originados na própria aquisição e imageamento do sensor remoto, da
retificação e da classificação da imagem. Para tanto, advertiram que a
estimativa da qualidade das informações, determinadas por meio de
classificação digital, deve estar conexa a um controle de qualidade para que
possam ser corroboradas.

3 ANÁLISE DE ALVOS AGRÍCOLAS

De modo óbvio, uma singular imagem de satélite não irá permitir


classificar de forma correta uma área com inúmeras concentrações de
culturas, bem como outros tipos de usos da terra, devido a variabilidade da
resposta espectral, que se altera nas distintas fases dos ciclos fenológicos
das culturas, ou seja, os polígonos agrícolas não estão, na mesma fase
fenológica ou em um mesmo tipo de solo (HALL; BADHWAR, 1987, HILL;
STURM, 1991). Mais um fator que pode influenciar a análise de alvos
agrícolas, apontado por Steven e Jaggard (1995) é a perda de características
espectrais em função das larguras das bandas utilizadas nos sensores,
havendo assim uma maior segmentação. Deste modo, diferentes culturas
agrícolas podem apresentar respostas espectrais similares ou talhões
distintos, porém, pertencentes a mesma cultura, ou seja, variações
fenológicas e pedológicas de iguais cultivados, que essencialmente terão
respostas espectrais diferentes em uma mesma imagem.

Existem várias representações e formas de visualização dos dados


produtos derivados dos sensores multiespectrais, onde os mais difundidos e
usualmente trabalhados é a imagem propriamente dita, que auxilia o
analista a fazer a vinculação entre um conjunto de pixel e a área que ele
representa na realidade e também o gráfico de espaço espectral (Figura 1)
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

que propõe a mudança da reflectância de uma determinada superfície em


função do comprimento de onda, consequência na resposta espectral de
alvos terrestres (LANDGREBE, 1997). Por conta da dinâmica de alvos
agrícolas, a apreciação em algum um desses ambientes, para um período
exclusivo, não oferece uma boa diferenciação dos mesmos.

Figura 1: Espaço espectral.

Fonte: Autores (2017). Adaptado de Gleriani (2005).

4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para a classificação supervisionada por máxima verosimilhança
também conhecida como “MAXVER”, geradas como exemplos para o

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


presente capítulo, foram utilizados dados coletados pelo sensor Thematic
Mapper de uma imagem do satélite Landsat-5, atuando com sete bandas
espectrais, de forma que a metodologia aqui proposta são utilizados três,
com a composição RGB através das bandas 3, 4 e 5 (TM3, TM4 e TM5) com
escala 1:50000, na órbita 220, ponto 76, com resolução de 30 X 30 metros.

4.1 COMPOSIÇÕES FALSA COR

Composições em “falsa cor” são imagens coloridas construídas a


partir de três imagens autônomas com diferentes tonalidades da cor cinza.
Tais composições recebem esta nomenclatura por serem detentoras de
informação espectral fora do intervalo de comprimento de onda do visível,
onde o mesmo é a única faixa do espectro sensível ao olho humano.

Assim sendo, deve ser elaborada uma composição “falsa cor”,


ajustando as três bandas espectrais em um software SIG para composição
Red (Banda 5), Blue (Banda 3) e Green (Banda 4), conhecida como RGB,
inseridas na faixa do visível (Figura 2) e do infravermelho próximo, onde
ambas são derivadas da luz do sol e da faixa de ondas termais emitidas pela
terra, onde o visível corresponde as faixas de comprimento de onda entre
0,4 μm e 0,7 μm. Já para o infravermelho a faixa correspondente encontra-
se de 1μm a 2,5 μm.
Figura 2: Espectro eletromagnético.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Figueiredo (2005).

Os diferentes níveis de cada cor variam de 0 a 255 tons (para imagens


de 8 bits), onde 0,0,0 corresponde ao preto e 255, 255, 255 corresponde ao
branco. O sistema de intersecção desse gradiente de tonalidades é
representado pelo “cubo de cores” representado na Figura 3, onde se pode
observar que ao unir as cores verdes e vermelhas são alcançadas diferentes
variações de amarelo, como também, o verde juntamente com o azul gera o
ciânico e o vermelho ao ser mesclado ao azul dá origem ao magenta.

Se for unificado o vermelho, azul e verde em seus valores mais


elevados, será notado o branco total. Deste modo, distintas combinações
podem ser utilizadas para diversas finalidades, como modelo clássico de
composição, formações das bandas 3, 4, 5, são conexas respectivamente ao
azul, ao verde e ao vermelho, onde tal formação costuma ser bastante
empregada para extração de dados relativa às classes de uso e ocupação da
terra (PIROLI, 2010).

Esta ordem de composição acontece devido ao conforto visual para


melhor analisar as informações contidas na imagem, sobretudo, por
apresentar os melhores resultados no que se refere à leitura da cobertura
do solo e seus respectivos usos.
Figura 3: Cubo de cores.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Fonte: Autores (2017). Adaptado de Piroli (2010).

4.2 VERDADE TERRESTRE

Interpretação de imagens orbitais é elaborada pelo analista por meio


de um SIG, selecionando-se uma parte da área de estudo, a fim de se
conhecer as características físicas e antrópicas de uma área piloto, servindo
de padrão de comparação (verdade terrestre) para a posterior classificação
supervisionada dos alvos agrícolas. Os produtos do processamento digital de
imagens devem ter sua acurácia avaliada por meio de uma verdade de
terrestre a fim de aferir maior confiabilidade e facilitar o processo de
tomada de decisão (PEREIRA et al., 2011).

Para construção de verdades terrestre, recomenda-se a construção


de algumas chaves de interpretação utilizadas para auxiliar a identificar de
forma fidedigna as classes de uso do solo com base nas descrições de cada
feição de uso e cobertura propostas pelo Manual Técnico de Uso da Terra
(IBGE, 2006), onde apresenta cada classe e subclasse de uso do solo, bem
como as respectivas cores a serem consideradas para cada uma delas
(Figura 4).
Figura 4: Classes da cobertura e do uso solo.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Autores (2017). Adaptado do Manual Técnico de Uso da Terra (IBGE, 2006).
4.3 VETORIZAÇÕES DAS ÁREAS DE TREINAMENTO (TRAINING SITES) DO USO
DO SOLO E AS CLASSIFICAÇÕES EM SOFTWARE SIG LIVRE

As áreas de treinamento supervisionado devem ser definidas por


meio de polígonos que representaram as respectivas classes de uso e
ocupação da terra, considerando a cor, brilho e textura emitida por cada
pixel da imagem. Assim, cada polígono supervisionado, teve um conjunto de
pixel com o mesmo contexto, iguais feições e padrões, sendo consolidado o
mesmo objeto irradiante.

As áreas de treinamento são amostras homogêneas das classes com


toda a variabilidade dos níveis de cinza. Desta forma, é recomendado que o
analista utilize mais de uma área de treinamento (CROSTA, 1992), utilizando
o maior número de informações disponíveis, como trabalhos de campo,
mapas, dentre outras informações. A quantidade de áreas para treinamento
de pixels deve ser elevada quanto à complexidade da área a ser classificada.

Neste capítulo, vamos utilizar uma classificação a nível de exemplo


prático, onde foi utilizado 47 training sites (áreas de treinamento) para
classificar de forma automática o uso do solo da bacia do rio Lavapés.
O método de classificação supervisionada por máxima
verossimilhança (MAXVER) utiliza a estatística de treinamento para calcular

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


a probabilidade de um pixel pertencer a uma determinada classe, onde o
limite de aceitação de uma classificação, no ponto onde as duas
distribuições se cruzam. Desta forma, um pixel localizado na região
interseção, ainda pertencendo à classe A, será classificado como classe B,
pelo limite de aceitação estabelecido, como pode ser observado na Figura 5
(FREITAS; PANCHER, 2012).

Figura 5: Limite de aceitação de uma classificação

Fonte: Autores (2017). Adaptado de Freitas e Pancher (2013).

Quando não existe um limite de aceitação claro ou bem distribuído, o


método de máxima verossimilhança examina a função de probabilidade de
um pixel para cada classe e atribui a este à classe com a maior possibilidade
de pertencer, ponderando também as distâncias entre médias dos níveis de
cinza das classes, fornecendo assim uma classificação com melhor precisão.

Assim sendo, a classificação supervisionada MAXVER poderá ser


realizada em diversos aplicativos de plataforma SIG (softwares livres e
comerciais) que possuam Processamento Digital de Imagem (PDI). Para
resultado do presente capítulo, o processo de classificação foi realizado no
software SIG TerraView versão 4.2.2 (desenvolvido pelo INPE) onde foram
definidos as amostras de treinamento (Figura 6) - tomando como base o
Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE - por meio de polígonos
representados nos três aplicativos, onde os mesmos representam as classes
de uso e ocupação da terra.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Figura 6: Amostras de treinamento na bacia do rio Lavapés.

Fonte: Autores (2017).

As amostras de treinamento supervisionado de cada uso e ocupação


foram modeladas no TerraView por meio do algoritmo da máxima
verossimilhança. Também foi utilizado no SIG, como ferramenta de pós-
classificação, a extensão filtro majoritário para a retirada de grupos pixels
que provavelmente tenham sido classificados de forma errônia pelo
algoritmo do software (Figura 7), surgindo como pequenos pontos dentro
de classes maiores, padronizando as classes de uso e suprimindo pontos
isolados, classificados desigualmente de grupos vizinhos. No entanto, é
originada uma segunda classificação do mesmo SIG e da mesma unidade
classificada anteriormente, todavia, com menos ruídos, por sua vez, com
menor erro agregado.
O software livre Terraview possui em sua extensão do filtro
majoritário a flexibilidade da escolha referente à quantidade de pixels que o

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


usuário pode eliminar por classes em sua pós-classificação (Figura 8),
reduzindo ruídos de pixels classificados em classes não pertencentes ao
mesmo. Com essa opção, o usuário pode fazer inúmeras tentativas de pós-
classificação até chegar a uma acurácia mais próxima da desejada.

Figura 7: Classificação supervisionada sem filtro (A); Pós-classificação com uso do Filtro
Majoritário (B)

Fonte: Autores (2017).

Figura 8: Extensão de filtro majoritário do TerraView 4.2.2 e sua opção de escolher a


quantidade de pixel que o usuário pode eliminar por classes.

Fonte: Autores (2017).


Por tal ferramenta apresentar uma mobilidade de inúmeras
tentativas, além da classificação supervisionada modelada no Terra View, o
usuário também pode se fazer uso de várias tentativas de redução de ruídos
provocados por pixels fora de suas respectivas classes, utilizando a opção
em destaque na Figura 8. No entanto, além da primeira classificação e da
pós-classificação, só será considerada neste capítulo mais dois produtos
derivados das pós-classificações, onde estes reduziram ruídos
significativamente, de tal modo, aumentando acurácia da modelagem. Na
Figura 9 pode ser observado um mosaico proveniente de tais classificações
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

no TerraView, porém, visualizadas na interface do aplicativo Idrisi Selva,


onde foi elaborado o cruzamento das matrizes.

Visualmente pode ser visto uma “limpeza” de ruídos entre os


produtos pós-classificados, sobretudo os (D) e (E). Foram elaborados vários
testes de pós-classificação com números de exclusão de pixels baixo,
moderado e altos, porém, a acurácia tende a cair quando se eleva bastante
o número de exclusão de ruídos, pois com altos grupos de pixels migrados
de uma classe para outra, o algoritmo tende mover não só os pixels que
causam ruídos, mas também pixel que já se encontra em sua classe
verdadeira, assim, fazendo o sentido inverso do que seria uma satisfatória
pós-classificação.
Figura 9: Mosaico de classificação e pós-classificação proveniente do software TerreView. O
produto (A) refere-se à primeira classificação ainda com bastante ruído. O produto (B) a pós-
classificação com menos 5 pixels por classe. O produto (C) faz alusão ao produto de pós-

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


classificação com menos 10 pixels errados por classe. Já o produto (D) e (E) fazem referência a
pós-classificação com menos 50 e 75 pixels respectivamente.

Fonte: Autores (2017).

4.4 ÍNDICES KAPPA E O CRUZAMENTO DE MATRIZES

Para identificar a melhor classificação, devem ser cruzados os mapas


da classificação supervisionada derivados do software SIG (neste capítulo foi
empregado o TerraView) com a verdade terrestre, demostrando a precisão
(acurácia) de cada modelagem/classificação, cruzando matrizes de pixel ou
conjuntos de pixels. O índice Kappa (Tabela 1) é o mais aconselhado por
empregar todas as células da matriz ao oposto de simplesmente os dados
diagonais - diferentemente de métodos que fazem uso apenas da Exatidão
Global, utilizando dados derivados dos cruzamentos das classes, onde os
mesmos se situam na diagonal principal da matriz de confusão - o que
garante ao índice Kappa uma maior precisão em relação aos outros métodos
devido à medição de um pixel estar corretamente classificado. (DEMARCHI
et. al, 2011).
Tabela 1: Intervalos de caracterização da acurácia em relação a verdade terrestre.
Valor de Kappa Qualidade da Classificação
<0,00 Péssima
0,00 – 0,20 Ruim
0,20 – 0,40 Razoável
0,40 – 0,60 Boa
0,60 – 0,80 Muito boa
0,80 – 1,00 Excelente
Fonte: Landis e Koch (1977) e adaptados por Piroli (2010)

O índice Kappa é definido como um coeficiente de concordância para


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

escala nominal que pede a proporção de concordância depois que a


concordância atribuída a casualidade é retirada de consideração (COHEN,
1960).

Na matriz de confusão, o erro de omissão indica a possibilidade de


um elemento amostral, no caso pixel ou grupos de pixels, estar
perfeitamente classificada, bem como o erro de inclusão representa a
possibilidade de um pixel classificado na modelagem, representar a
categoria no terreno.

5 RESULTADOS

Em decorrência da variação temporal das culturas encontradas nas


diversas áreas agrícolas, é que durante o processo de escolha de amostras
de treinamento e a elaboração da verdade terrestre, o usuário tem que
determinar várias subclasses da mesma cultura, como elaborado por
Rodrigues; Rodrigues; Tagliarine (2014) e Rodrigues (2015), e/ou avaliar
todas as amostras em uma mesma classe, onde desta forma irá ocorrer um
desvio padrão alto e por sua vez uma confusão entre classes e diminuição
significativa da acurácia. Na imagem de composição RGB (Figura 10) pode-se
observar essa variação fenológica, da cana-de-açúcar, assim, subdividida em
três subclasses. Um agravante à metodologia são as plantas daninhas,
comuns em pastagens e solos cultivados com diversas formas de cultura,
pois elas ocasionam interferência no padrão espectral das referidas classes,
assim, proporcionando “ruído” que altera a resposta espectral pura das

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


culturas induzindo a erros de classificação digital.

Figura 10: Imagem de composição RGB e subclasses da cana-de-açúcar com diferentes


respostas espectrais.

Fonte: Autores (2017).

O TerraView encontrou resultados aceitáveis para o índice Kappa,


atingindo a ordem 0.23 (Figura 11A), o que caracteriza, segundo a Tabela 1
uma classificação de nível Razoável.

O aplicativo Terraview possui em sua extensão de filtro majoritário a


flexibilidade da escolha referente à quantidade de pixels que pode ser
eliminado por classes em sua pós-classificação, onde o usuário pode
estabelecer a quantidade de pixel por bloco. Por tal ferramenta apresentar
esta mobilidade de inúmeras tentativas a pós-classificação com seu filtro
majoritário, foram modeladas e consideradas para o capítulo, as pós-
classificações com retirada de grupos com 75 para redução de ruídos
provocados por pixels fora de suas respectivas classes. O grupo de 75 pixels
foi considerado por apresentar o valor majoritário máximo referente a
grupos de pixels removidos que causam suavização e melhor acurácia.

Os testes feitos com valores maiores que 75 (90, 150, 200 e 250)
ocasionaram uma maior homogeneização das classes, porém uma acurácia
menor. Isso ocorre devido a um grande deslocamento de pixels, onde o
algoritmo não desloca apenas grupos ruidosos, mas também os grupos
classificados corretamente, assim, a pós-classificação com valores acima de
75 pixels suavizam o mapa, entretanto reduz acúracia.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Em uma função quadrática de coeficiente positivo, o valor dos grupos


de 75 seria o vértice de uma parábola, ou seja, o ponto máximo absoluto de
desenvolvimento, tornando-se o maior valor que a função pode assumir
(Figura 12). Os grupos menores e maiores de 75 assumem posturas
semelhantes no que se refere ao índice Kappa, com porcentagem de erros
mais alta, tendo como diferenciação apenas a suavização estética do mapa
classificado.
Figura 11: (A) Classificação supervisionada TerraView. (B) Pós-Classificação supervisionado
TerraView com filtro majoritário (grupo 75 pixels).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A B

Fonte: Autores (2017).

Figura 12: Parábola positiva representando o padrão de acurácia por grupo de pixels.

Fonte: Autores (2017).


Assim sendo, a modelagem da pós-classificação com retirada de
grupos 75 pixels por região reduziram de forma bastante significativa os
ruídos de pixels isolados elevando a acurácia da primeira classificação do
TerraView, saindo de 0,23, onde faziam parte do intervalo referente a
razoável segundo Landis e Koch (1977), saltando para ordem de 0,53 (Figura
11B), onde o mapa foi suavizado e suas estimativas recalculadas elevando a
acurácia da classificação para o intervalo de “boa” segundo a Tabela 1.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

6 CONCLUSÕES

O comportamento do software SIG avaliado por meio de classificação


supervisionada através do padrão espectral em imagem de satélite,
mostrou-se satisfatório, mesmo com a complexidade espectral da área,
atestando classificações “regulares” e “boas”. Outro fator evidente foi à
clara diferença dos produtos derivados a partir da pós-classificação com o
filtro majoritário, onde após a reclassificação a acurácia foi elevada,
apresentado menor erro de omissão e comissão, suavizando os mapas
classificados e elevando o índice Kappa.

REFERENCIAL

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2014.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 13

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


ESPACIALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS
CLIMÁTICOS PARA CARACTERIZAÇÃO
AGRÍCOLA UTILIZANDO AS GEOTECNOLOGIAS

1
Gustavo Souza Rodrigues
2
Luís Roberto Almeida Gabriel Filho
3
Camila Pires Cremasco Gabriel
4
Marcelo George Mungai Chacur
5
Camila Dutra de Souza
6
Fernando Ferrari Putti

1 Mestre, Professor Fundação Educacional de Machado, FEM, Machado, Minas Gerais, Brasil.
Email: profgustavo@outlook.com
2 Doutor, Professor Adjunto, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de Tupã,

São Paulo, Brasil. E-mail: gabrielfilho@tupa.unesp.br


3 Doutora, Professora Assistente, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de

Tupã, São Paulo, Brasil. E-mail: camila@tupa.unesp.br


4 Profº Dr. Marcelo George Mungai Chacur - Universidade do Oeste Paulista, E-mail:

chacur@unoeste.br
5 Doutoranda Camila Dutra de Souza – Universidade do Oeste Paulista, E-mail:

camiladutrasouza@hotmail.com
6 Doutor, Professor Assistente, Faculdade de Ciências e Engenharia/UNESP – Câmpus de Tupã,

São Paulo, Brasil. E-mail: fernandoputti@tupa.unesp.br


RESUMO

Devido às mudanças climáticas que ocorreram nestes anos,


justifica-se a importância da análise de tendências dos eventos climáticos e
hidrológicos para a compreensão dos possíveis impactos que tais mudanças
poderão ocasionar na sociedade em geral. As metodologias que permitem à
espacialização dos elementos climáticos e assim realizar o zoneamento
agrícola para uma cultura, utilizando às geotecnologias, possibilitando a
análise dos elementos climáticos de qualquer região. Para tal, utilizam-se
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

dados obtidos das estações meteorológicas como as do Instituto Nacionais


de Meteorologia – INMET, referente às médias mensais e anuais de uma
série histórica superior a 30 anos referentes à temperatura, precipitação e
umidade, apresentando dados satisfatórios, possibilitando representar as
variáveis climáticas estudadas e entender melhor as mudanças que ocorrem
no clima na região.

1 INTRODUÇÃO

O interesse no estudo sobre o clima e o ambiente do planeta vem


crescendo ao longo dos séculos. No decorrer das últimas décadas o clima do
planeta vem sofrendo constantes alterações, devido principalmente ao
aquecimento global.
Algumas pesquisas abordam as mudanças climáticas e o aquecimento
global como o início de uma nova reconfiguração geográfica no plantio e
produção de diversas culturas agrícolas em todo o planeta. No Brasil, como
por exemplo, poderemos ter impactos na produção de café (Coffea
arabica), trazendo possíveis perdas econômicas, e as áreas com plantio de
café aptas atualmente poderão se tornar inaptas ou de alto risco climáticos
com as mudanças no clima.
Em todo o globo terrestre ocorrem diferentes tipos de clima, e para
definir as regiões com os diferentes climas e seus limites geográficos
procura-se fazer a classificação ou caracterização climática, sendo
considerado estudo básico para melhor gestão do uso dos recursos naturais
e ambientais. Entretanto, os sistemas de classificações climáticas, são pouco
utilizados e explorados, já que o considera uma escala temporal muito
abrangente.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O Brasil possui um vasto território agrícola, e é um dos países mais
desenvolvidos em relação à agricultura, além de possuir inúmeras fábricas e
indústrias, e o desenvolvimento dessas atividades interfere intensivamente
na natureza e no meio ambiente, contribuindo para as mudanças ambientais
e climáticas, sendo esta razão pela qual possui um número considerável de
estações meteorológicas monitorando diariamente o tempo e o clima,
fornecendo uma infinidade de dados climáticos importantes principalmente
para a agricultura.
Os diversos eventos climáticos existentes podem reduzir
significativamente rendimentos em lavouras como também podem
restringir os locais, as épocas de plantio e os solos, onde animais e espécies
vegetais, de interesse econômico, são trabalhados atualmente. Como
ferramenta para a tomada de decisão, a classificação e o zoneamento
agroclimático não podem ser definitivos e devem ser constantemente
atualizado, sempre incorporando novas metodologias de estudo para
auxiliar futuras tomadas de decisões no âmbito do zoneamento agrícola e
climatológico de uma região, contribuindo principalmente para a maior
eficiência na gestão dos recursos hídricos e pluviais, melhorando políticas
públicas quanto ao uso dos recursos naturais, tanto na agricultura como na
indústria e na área urbana.
O objetivo deste trabalho foi pesquisar e conceituar os principais
parâmetros sobre as características climáticas e investigar as melhores
ferramentas de geotecnologias empregadas na caracterização do clima.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 IMPORTÂNCIA CLIMÁTICA

O estudo dos elementos climáticos e suas variações ao longo do


espaço e tempo desperta grande interesse na comunidade científica,
agrícola e ambiental, suas intensas e bruscas variações provocam inúmeros
transtornos e prejuízos em todos os aspectos. Conforme relata o Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA (2015), alguns eventos
como: estresse hídrico causado pela seca, o excesso de chuvas,
temperaturas muito baixas ou altas, podem trazer sérios prejuízos às
atividades agrícolas e pecuárias.
Uma das etapas no estudo meteorológico de uma região é o processo
de compreensão de um fenômeno climático pela quantificação de suas
propriedades por intermédio da observação e medição. Para o MAPA (2015)
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

e INMET (2015), os dados meteorológicos coletados devem ser de boa


qualidade, pois são indispensáveis para o levantamento do potencial
agrícola de uma região, especialmente no que se refere à necessidade
hídrica de uma cultura.
As informações agrometeorológicas são aquelas que consideram os
dados meteorológicos associados aos requerimentos dos cultivos agrícolas,
com o objetivo de estimar os respectivos impactos sobre as culturas e as
práticas agrícolas, tanto no âmbito do planejamento quanto da tomada de
decisão, assim, os Serviços Nacionais de Meteorologia têm muito a
contribuir com a economia nacional, com a divulgação e do uso eficiente de
tais informações (INMET, 2015; RIJKS e BARADAS, 2000).
De acordo com a ORGANIZAÇÃO METEOROLÓGICA MUNDIAL - OMM,
só se caracteriza o clima de uma região depois de um estudo minucioso de
longos períodos, de no mínimo 30 anos, sendo que a origem e qualidades
dos dados analisados são fundamentais para dar confiabilidade na
classificação (INMET, 2015; IPCC, 2014).
As informações agrometeorológicas, de acordo com Cunha e Martins
(2009) e Mavi e Tupper (2004), podem ser empregadas de diferentes
maneiras na agricultura. Primeiramente, tais informações podem ser
utilizadas para o planejamento dos cultivos, podem ser empregadas no
processo de tomada de decisão, quanto ao melhor momento para a
execução de diferentes práticas agrícolas e permitir aos sistemas agrícolas
adquirir maior capacidade para enfrentar condições meteorológicas
adversas, tornando-os mais resilientes.
São diversas as práticas agrícolas que se beneficiam do uso eficiente
das informações agrometeorológicas, principalmente: o preparo do solo, a
semeadura, a adubação, a irrigação, o controle fitossanitário, a colheita, e o
beneficiamento da produção. Como se vê, há uma variedade de

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


informações que podem ser organizadas pelo método do zoneamento, que
nada mais é que a espacialização de uma ou mais informações combinadas
(MAPA, 2015 e RIJKS e BARADAS, 2000).
A classificação climática visa identificar em uma grande área ou
região, zonas com características climáticas e biogeográficas relativamente
homogêneas fornecendo indicações valiosas sobre as condições ecológicas,
suas potencialidades agrícolas e o meio ambiente da região.
Para realizar a caracterização climática de uma região utilizam-se os
sistemas de classificações climáticas (SCC), pois, analisam e definem os
climas dos diferentes locais do planeta levando em consideração vários
elementos climáticos ao mesmo tempo, facilitando a troca de informações e
análises posteriores para diferentes objetivos (INMET, 2015; MARIN, ASSAD,
PILAU, 2008).
No SCC de Thornthwaite e Mather (1955), a vegetação é vista como
um meio físico pelo qual é possível transportar água do solo para a
atmosfera. Dessa maneira, o tipo climático de uma região é definido como
seco ou úmido relacionado com o balanço hídrico. A partir dos valores
anuais são definidos os índices ligados à disponibilidade hídrica (ROLIM et.
al, 2007; PEREIRA, ANGELOCCI, SENTELHAS, 2002).
Conforme os mesmos autores, na classificação climática proposta por
Thornthwaite e Mather (1955), utilizam-se os índices calculados no Balanço
Hídrico Climatológico (BHC), fornecendo informações da disponibilidade
hídrica ao longo do ano, pelo cálculo de excedente (EXC), deficiência (DEF),
retirada e reposição (ALT) hídrica no solo. Através dos dados de
evapotranspiração potencial ou de referência (ETP) também se têm uma
visão da disponibilidade térmica da região.
A execução desse tipo de BHC exige na sua estimativa mais simples,
tão somente a temperatura do ar e volume de precipitação pluviométrica.
Por esse motivo, esse método tem ampla aplicação em agroclimatologia, e
em diversos estudos geográficos (INMET, 2015; BLACK, 2007).
O zoneamento agroclimático é a determinação da aptidão climática
das diferentes regiões do país, assim, para cada região, define-se a aptidão
de cada área para o cultivo de determinada espécie agrícola de interesse
econômico, considerando as exigências agroclimáticas da espécie cultivada.
Definindo as áreas menos sujeitas a riscos de insucessos, devido à
ocorrência de adversidades climáticas, o zoneamento agroclimático
constitui-se numa ferramenta de fundamental importância em várias
atividades do setor da agropecuário (CONAB, 2015; OMENA, 2014;
ROSSETTI, 2001).
ASSAD et al., (2013) inferiram os impactos das mudanças no clima no
zoneamento agrícola de risco climático para o algodão, os autores ressaltam
que a falta da previsão das variabilidades climáticas pode ser considerada
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

uma das principais fontes de riscos à atividade agrícola e pecuária. Um


exemplo bem comum é a disponibilidade hídrica para cultura no decorrer da
safra, definindo a produtividade da lavoura.
Nesse contexto, as informações, quando associadas aos avanços nas
áreas de agrometeorologia, climatologia, sensoriamento remoto,
geoprocessamento e informática, têm melhorado substancialmente a
possibilidade de os agricultores ajustarem suas atividades às variabilidades e
mudanças do clima, levando à redução dos riscos na agricultura. No
entanto, ainda há muito a ser realizado para facilitar a adoção deste
conhecimento e difundir sua aplicação prática na produção agrícola (INMET,
2105; SANTOS et al., 2015; OMENA, 2014).
Tanto as estimativas de produção e da qualidade do produto, assim
como as de ocorrência de infestações de pragas e doenças, também
assumem papel importantíssimo no processo de tomada de decisão,
contribuindo para a importância do zoneamento agrícola no emprego não
somente para a delimitação de áreas aptas, marginais ou inaptas às culturas,
como realizado por Santos et. Al., (2015) para o estado do Espírito Santo e
Camargo et al., (1974) para o estado de São Paulo, mas também para o
estabelecimento das melhores épocas de semeadura como Assad et al.,
(2013) e Alfonsi et al, (1995).
Seguindo as pesquisas de Mavi e Tupper (2004), Farias et al., (2001) e
Ortolani (2001), o zoneamento agrícola também contribui para melhor
determinação do risco climático associado aos impactos do déficit hídrico
nas culturas, melhor definição das áreas de escape de doenças, do potencial
produtivo e da qualidade dos produtos.
O zoneamento agrícola de risco climático, além das variáveis
analisadas de clima, solo e planta, aplica-se funções de estatísticas com o

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


objetivo de quantificar o risco de perda das lavouras com base no histórico
de ocorrência de eventos climáticos adversos, principalmente a seca (MAPA,
2015).
Dada sua importância, o zoneamento do risco climático vem sendo
empregado por bancos e seguradoras, para subsidiar as ações de
financiamento e seguro agrícolas (ROSSETTI, 2001).
Assim, a caracterização climática e o zoneamento agrícola tornam-se
uma técnica para delimitação de regiões propícias ao desenvolvimento de
culturas em condições de ambiente e de viabilidade econômica favorável,
de forma a potencializar seu desenvolvimento e produtividade, de acordo
com o potencial genético (FERREIRA, 1997; SANTOS et al., 2015).

2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS

O estudo das variações espaciais de informações ambientais e


climáticas tem alcançado excelentes resultados na compreensão da
variabilidade de fenômenos atmosféricos que ocorrem pelo crescimento
populacional desordenado e a antropização do ambiente, sendo o clima a
variável mais afetada neste processo (MONTEIRO et al., 2009; PEREIRA,
ANGELOCCI, SENTELHAS, 2002).
Conforme a Agência Nacional das Águas – ANA (2015), as alterações
climáticas ficam cada vez mais evidentes quando se aborda temas sobre a
escassez hídrica, aquecimento global, desmatamento, poluição dos rios e
oceanos, dentre outros.
As mudanças ambientais e as características de uma região estão
diretamente associadas às alterações no clima, e sua importância é
amplamente conhecida na agricultura, pelo tamanho do impacto na
produtividade e qualidade final dos produtos (LANDAU et al., 2013; ROLIM
et al., 2007; FARIAS et al., 2001; FERREIRA, 1997).
Para obter informações práticas sobre o tempo e clima, com
interesse agronômico e ambiental, são necessárias técnicas e ferramentas
objetivas que combinem informações sobre o comportamento
meteorológico da região, sobre a relação entre as variações do clima com o
ambiente e o impacto resultante do clima sobre os diferentes cultivos
agrícolas, exigindo uma boa gestão da coleta de dados para avaliar o risco
climático da região na produtividade (SANTOS et al., 2015; LOPES et al.,
2014; CUNHA, 2009 e MONTEIRO et al., 2009).
Conforme os mesmos autores são diversos parâmetros que
contribuem para a formação do clima de uma região, e os elementos e
fatores climáticos influenciam diretamente no processo produtivo de uma
cultura, tanto as plantas como também outros organismos que compõe o
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

ambiente da lavoura como: insetos, fungos, bactérias, plantas daninhas,


entre outros, são influenciadas pelas condições climáticas, sendo benéfico
ou não na produtividade final.
Os elementos climáticos conferem propriedades e peculiaridades ao
meio atmosférico e definem as características momentâneas da atmosfera.
São grandezas que variam no espaço-tempo onde caracterizam o estado da
atmosfera, ou seja: radiação solar, temperatura, umidade relativa, pressão,
velocidade e direção do vento, precipitação. Esse conjunto de variáveis
descrevem as condições atmosféricas num dado local e instante (STEINKE,
2012; MARIN et al., 2008).
De acordo com estes autores, os fatores climáticos são as
circunstâncias ou um agente físico capaz de influenciar os elementos
climáticos. Fatores como latitude, altitude, continentalidade ou
oceanalidade, tipo de corrente oceânica, afetam diretamente e
indiretamente um ou mais elementos do clima.
De modo geral, as principais variáveis meteorológicas que afetam o
crescimento, o desenvolvimento e a produtividade das culturas são chuva,
temperatura do ar e radiação solar, havendo ainda a influência do
fotoperíodo, da umidade do ar e do solo, da velocidade e da direção do
vento (PEREIRA et al., 2002; CUNHA, 2009; SANTOS, et al., 2015).
As práticas sustentáveis na produção agrícola buscam a máxima
produção utilizando o mínimo dos recursos naturais e com o menor risco
econômico, tornando-se necessário reunir uma série de dados e
conhecimentos para analisar e interpretar diversos parâmetros ambientais
(MONTEIRO et al., 2009; MAVI e TUPPER, 2004).
O conhecimento das relações entre as condições físicas do ambiente,
em especial, solo, hidrografia e atmosfera, como as diversas espécies

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


cultivadas, permite a obtenção de informações mais precisas acerca da
influência do tempo e do clima no crescimento, no desenvolvimento e na
produtividade das culturas e os possíveis impactos que podem ocorrer se
houver mudanças climáticas e ambientais (MAPA, 2015 e INMET, 2015).
Conforme Assad et al. (2013, 2008, 2004) e Monteiro et al., (2009),
conhecendo as condições climáticas ideais em uma atividade agrícola, pode
diminuir o risco de produção da cultura, facilitando e reduzindo o custo de
manejo da lavoura, problemas fitossanitários, melhorando a colheita e a
qualidade final do produto, possibilitando obter melhores condições de
mercado.
Na realidade, a interação entre os elementos climáticos e a cultura
pode ser complexa, resultando em uma variedade de reações biológicas e
de condições ambientais em constantes mudanças. Portanto, como
ferramenta para a tomada de decisão, a caracterização climática e o
zoneamento agroclimático não podem ser definitivos e devem ser
constantemente atualizados, sempre incorporando novas metodologias de
estudo, aperfeiçoando as informações das condições climáticas das culturas
selecionadas, proporcionando um maior retorno dos investimentos a médio
e longo prazo (SANTOS et al., 2015; SEDIYAMA et al., 2001).

2.2.1 Atmosfera terrestre

A atmosfera é uma camada gasosa que envolve o planeta Terra, com


espessura máxima de cerca de 100 km de altitude, sob o ponto de vista
meteorológico, a camada mais importante da atmosfera está restrita aos
primeiros 20 km de altitude, sendo denominada de Troposfera. Tem a
característica de absorver e emitir energia da irradiação solar na superfície
terrestre, somente cerca de 50% da radiação solar passa pela atmosfera,
fazendo com que o ar se aqueça e emita radiação infravermelha em todas as
direções (STEINKE, 2012; MARIN et al., 2008).
Segundo os mesmos autores, a atmosfera compreende uma mistura
de gases, vapor d'água e partículas dispersas, tendo como principais
constituintes o nitrogênio, o oxigênio, o dióxido de carbono, o argônio e o
vapor d'água, e se mantém aderida à crosta terrestre por causa da força da
gravidade. Estes gases merecem atenção especial quando se estuda a
atmosfera sob o ponto de vista ambiental, suas variações e concentrações
ao longo da atmosfera conferem propriedades distintas à medida que se
afasta da superfície terrestre (MONTEIRO et al., 2009; PINÊ et al., 2014).
De acordo com o IPCC (2014), no decorrer dos anos, pelos danos
causados das ações antrópicas do uso dos recursos naturais, as atividades
agropecuárias, industriais e pela crescente urbanização, causou um
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

aumento nas concentrações dos gases presentes na atmosfera,


principalmente o gás carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O),
responsáveis pelo aumento do efeito estufa e consequentemente do
aquecimento global, aproximadamente grande parte do CO2 que o Brasil
emite para a atmosfera são oriundos das práticas agrícolas e pecuária, além
do desmatamento (PINÊ et al., 2014).
O conhecimento das relações entre as condições físicas e químicas da
atmosfera, e as diferentes espécies vegetais cultivadas permite a obtenção
de informações mais precisas sobre a influência do tempo e do clima no
crescimento, no desenvolvimento e na produtividade das culturas,
evidenciando ainda mais a importância do seu estudo. (CERRI, CERRI, 2007;
PINÊ et al., 2014; INMET, 2015).

2.2.2 Radiação Solar

A energia solar é a principal fonte de energia para a superfície do


nosso planeta, e todos os processos físico-químicos e biológicos que
ocorrem no globo terrestre é atribuída a ela, sendo considerado o principal
elemento meteorológico e a relação entre a Terra e Sol envolve até as leis
físicas da radiação (BERUSKI, PEREIRA, SENTELHAS, 2015).
As condições climáticas e meteorológicas e todos os fenômenos
atmosféricos e ambientais das diferentes regiões do planeta ocorrem de
modo alternado pela diferença de intensidade que a energia solar chega ao
longo da superfície do planeta, sendo a fonte primária de energia em
diferentes fenômenos naturais como no ciclo hidrológico, na fotossíntese,
na distribuição da temperatura e na caracterização dos fatores climáticos de
uma região (MARIN et al., 2008; STEINKE, 2012)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Uma planta na realização da fotossíntese utiliza a radiação solar que
fornece a energia necessária para os processos fotossintéticos, estando
diretamente ligado à produção de carboidratos e, consequentemente, o
crescimento da biomassa das plantas. A fotossíntese responde também à
temperatura do ar, que afeta a taxa das reações metabólicas das plantas,
regulando o crescimento e o desenvolvimento vegetativo (MONTEIRO et al.,
2009).
A produção de biomassa pela planta está relacionada com a radiação
fotossinteticamente ativa, que é parte da radiação solar de ondas curtas
absorvidas pela clorofila no processo fotossintético, e que corresponde a
somente 40% a 50% da energia total da radiação solar (HERNANDEZ,
FRANCO, TEIXEIRA, 2015).
Os conceitos sobre a natureza da radiação solar e sua influência no
clima formam a base principal para o entendimento dos balanços da
radiação e energia nos ecossistemas rurais e urbanos. Pelas leis da radiação,
qualquer objeto com temperatura acima do zero absoluto emite radiação.
No estudo da radiação solar e seus efeitos no clima, a abordagem
ondulatória é a que mais interessa, onde a energia se propaga na forma de
um campo oscilatório que contém um componente elétrico e outro
magnético, caracterizando por sua frequência de oscilação e comprimento
de onda (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE, 2015;
BERUSKI et al., 2015).

2.2.3 Temperatura do Ar

Conforme relata Marin et al, (2008), depois da precipitação, a


temperatura do ar é o elemento climático de maior interesse para o
homem, para Monteiro et al, (2009), a temperatura é de fundamental
importância para a aptidão climática de uma cultura. Para estes autores, a
variação espaço-temporal da temperatura do ar é em função principalmente
da radiação solar, sendo mais elevada em locais onde ocorre maior
incidência de energia solar e consequentemente baixa nas regiões com
menor incidência de radiação, assim se mostrando correlacionadas.
Além da fotossíntese, a temperatura também afeta uma série de
outros processos nas plantas, como a respiração de manutenção, a
transpiração, o repouso vegetativo, a duração das fases fenológicas das
culturas, a indução ao florescimento, o conteúdo de óleo em grãos, a taxa
de germinação de sementes, etc. (PEREIRA et al., 2002; MONTEIRO et al.,
2009).
Tantas interferências tornam a temperatura a principal variável
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

meteorológica a ser considerada nos zoneamentos agroclimáticos,


juntamente com a chuva (CAMARGO et al., 1974; ASSAD et al., 2013;
SANTOS et al., 2015).
A variação espaço-temporal da temperatura do ar é função
principalmente da radiação solar, sendo mais elevada em locais onde há
maior disponibilidade de energia e mais baixa, evidentemente, nas regiões
com menor incidência de radiação solar (MARIN et al., 2008; STEINKE,
2012).

2.2.4 Precipitação Pluviométrica

A chuva, ou precipitação atmosférica, ou precipitação pluviométrica


é um fenômeno caracterizado por sua variabilidade espaço-temporal, é o
principal elemento hidrológico de entrada de água no balanço hídrico de
uma região, e o entendimento desta variação da chuva em uma região é de
grande importância e interesse para as ações ligadas à gestão do uso dos
recursos hídricos. Assim a chuva constitui-se num dos elementos climáticos
de maior importância para a agricultura por sua grande influência em todas
as fases de desenvolvimento das plantas (BURIOL, ESTEFANEL, CHAGAS,
2004; CRUZ et al., 2013; MARTINS et al., 2015).
Pela constante mudança que ocorre no clima, analisar as tendências
de precipitação para a compreensão de possíveis eventos hidrológicos
críticos ganha grande destaque na sociedade em geral, e no país como o
Brasil, que sua principal fonte econômica está associada ao agronegócio,
compreender estas mudanças no regime pluviométrico e no clima em geral
é fundamental para minimizar as perdas e prejuízos que afetam a
agricultura, a economia e a população (MONTEIRO et at., 2009; CERA,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


FERRAZ, 2015).
Diretamente, a precipitação não afeta nenhum dos processos
metabólicos das plantas. Contudo, ela age indiretamente, afetando tanto o
crescimento quanto o desenvolvimento das culturas, além da
disponibilidade hídrica dos solos que, por sua vez, influência a absorção de
água pelas raízes e no status hídrico das culturas. Em períodos de poucas
chuvas, a seca induz as plantas ao fechamento de seus estômatos, fixando
menos CO2, afetando negativamente a fotossíntese (FARIAS et al., 2001).
Por outro lado, períodos com chuvas excessivas levam à redução da
oxigenação dos solos, diminuindo a atividade radicular e a absorção de água
e nutrientes pelas plantas, como pode aumentar a proliferação de
patógenos do solo. Tanto as secas quanto o encharcamento dos solos levam
à redução da produtividade das culturas (STEINKE, 2012; LUZ et al., 2015).

2.2.5 Umidade Relativa do Ar

A umidade relativa do ar é uma variável que atua de diversas formas


indiretas sobre as culturas, ambientes muito secos levam ao aumento
excessivo da transpiração, na maioria das plantas. Em outros casos, podem
provocar danos indiretos resultantes de desordens fisiológicas (MARIN et
al., 2008; STEINKE, 2012; COLTRI, 2015). Além destes aspectos, a umidade
do ar é muito importante na interação entre as plantas e os microrganismos,
especialmente fungos e bactérias, causadores de doenças.
Em condições de alta umidade, onde a duração do período de
molhamento foliar é mais prolongada, há o favorecimento da ocorrência de
doenças que afetam o desempenho das culturas, reduzindo a quantidade e
a qualidade dos produtos agrícolas (MAVI, TUPPER, 2004; PEREIRA et
al.,2002).
Por outro lado, a falta de umidade, característica pela condição de
seca, afeta diretamente a evapotranspiração das culturas, a extração de
umidade pelas raízes e consequentemente a distribuição do sistema
radicular, o tamanho do dossel e as taxas de desenvolvimento e produção
(MATIELLO et al., 2010).
Determinando a aptidão agrícola para o cultivo de café em Minas
Gerais, Sediyama et al, (2001) destacam que eventos hidrológicos críticos de
uma região como a seca podem ser previstas pelos estudos e medições das
características do clima e do comportamento do balanço hídrico feito ao
longo dos anos.
Quando o déficit é acentuado na cultura do café como exemplo, as
plantas apresentam murchamento, desfolha, seca de ramos, aparecimento
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

de deficiências nutricionais, pragas e doenças induzidas ou favorecidas,


estando associada com o surto e com o aumento populacional de pragas
agrícolas como o bicho mineiro do café (MARTINS et al., 2015; SILVA et al.,
2015; LOMELÍ-FLORES, BARRERA, BERNAL, 2010).

2.2.6 Ventos

O vento é um fenômeno que afeta indiretamente as culturas,


conhecer sua velocidade e direção média nos fornece informações
importantes para a agricultura, como na definição dos horários de
pulverizações, no dimensionamento de quebra-ventos, e na construção de
estábulos e currais, e sua influência pode ser positiva ou negativa,
dependendo de sua velocidade. (GOIS, BALTRUSCH, 2013; MAVI, TUPPER,
2004).
Em velocidades baixas a moderadas, o vento contribui para a
renovação do suprimento de CO2 e para a manutenção da transpiração das
plantas. No entanto, em velocidades excessivas, o vento é responsável pelo
aumento demasiado da transpiração das plantas, levando ao fechamento
dos estômatos, à redução do número de folhas e da área foliar, resultando
em queda brusca da fotossíntese. Além disso, ventos intensos provocam
danos mecânicos nas plantas, como acamamento, queda de folhas e quebra
de galhos e troncos (MONTEIRO et al., 2009; PEREIRA et al., 2002).
A velocidade do vento é também um parâmetro que interfere
diretamente na evapotranspiração das culturas e conhecer sua interação
com os outros elementos climáticos é fundamental para compreender os
fenômenos atmosféricos e o ciclo hidrológico de uma região (TAGLIAFERRE
et al., 2015; STEINKE, 2012).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A ocorrência de vendavais em lavouras cafeeiras é um evento raro,
localizado e atinge pequenas áreas, porém, seus danos podem ser enormes
para a cafeicultura, prejudicando tanto as plantas novas, ainda na fase de
mudas, quanto às plantas adultas, principalmente se estiverem nas fases de
floração ou frutificação (MARTINS et al., 2105; MATIELLO et al., 2010).

2.2.7 Geadas e Ponto de Orvalho

Ponto de orvalho é a temperatura na qual o vapor de água presente


no ar passa ao estado líquido na forma de pequenas gotículas. Quando a
temperatura do ponto de orvalho se encontra abaixo do ponto de
congelamento da água (0°C), para a água pura, há a formação de geada,
fazendo com que o vapor de água, presente no ar, passe diretamente para a
fase sólida (sublimação). Em meteorologia, considera-se ocorrência de
geada quando há formação de gelo sobre objetos expostos durante a noite,
cuja temperatura cai abaixo de 0°C, vindo a ser o que os meteorologistas
denominam de geada branca, devido ao aspecto visual (COSTA et al., 2015;
MARIN et al., 2008).
As geadas também são caracterizadas segundo a origem. Por este
critério, há geadas de advecção, provocadas por invasões de ar frio; geadas
de radiação, resultantes do resfriamento das superfícies por perda de
radiação solar de ondas longas, durante a noite; e geadas mistas, quando
estão envolvidos os dois processos, correspondendo à maioria dos casos.
Conforme a época de ocorrência tem-se as geadas do cedo, ou precoces
(outono) e geadas da tarde, ou tardias (primavera). Há ainda a “geada
negra”, em geral, não considerada nas observações meteorológicas, embora
seja uma adversidade bastante conhecida no meio rural, pelos danos
causados às plantas. Nesse tipo de geada, não ocorre formação de gelo. A
designação corresponde à coloração adquirida pelos tecidos vegetais, após
se submeterem ao fenômeno. Em geral, massas de ar úmido produzem
geadas brancas, enquanto massas de ar seco ocasionam geadas negras
(MONTEIRO et al., 2009; MATIELLO et al., 2005).
O que dá à geada o caráter de risco para a agricultura é a falta de
uma regularidade cronológica, dificultando a previsão do fenômeno. Tal fato
exige seguidos estudos prévios de agroclimatologia regional, que, mesmo
não isentando completamente de risco a atividade, ajuda a mitigar os
problemas causados por geadas não previstas. Em alguns anos, dependendo
da intensidade da geada e, principalmente, do estádio de desenvolvimento
em que se encontra a lavoura, os danos podem ser elevados, severos e até
mesmo irreversíveis. (INNOCENTINI, 2015; COSTA et al., 2015; ROSISCA et
al., 2015; MARIN et al., 2008).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

2.2.8 Evapotranspiração

A evapotranspiração é um fenômeno que pode ser definido como


toda perda de água do sistema solo-planta para a atmosfera, através da
combinação dos processos de evaporação e transpiração ocorrida nesse
sistema, de acordo com a variação espacial e temporal, dentro das classes
de uso e ocupação do solo. É a variável mais ativa do ciclo hidrológico e a
principal componente no balanço hídrico em ecossistemas agrícolas, sendo
um parâmetro fundamental para estudos agrícolas e ambientais (CARVALHO
et al., 2015; LOPES et al., 2014; MONTEIRO et al., 2009).
Os dados de evapotranspiração são utilizados como critério
fundamental nas operações de irrigação, no cálculo do balanço hídrico e no
zoneamento agroclimatológico. Para MINUZZI et al., (2014) e LANDAU et al.,
(2013), conhecer a taxa de evapotranspiração das plantas é de fundamental
importância para o manejo dos recursos hídricos de forma a contribuir
racionalmente para o aumento da produção agrícola principalmente em
áreas irrigadas.

3 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS NA CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA

As Geotecnologias surgiram a partir dos avanços tecnológicos que


ocorreram ao longo dos anos, assim como diversas outras áreas também
obtiveram progressos, são compostas por soluções em hardware, software e
peopleware, onde juntos se constituem em poderosas ferramentas para a
tomada de decisões (INPE, 2015).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


As Geotecnologias podem ser definidas como um conjunto de
técnicas, métodos científicos e tecnologias para: coleta, processamento,
análise e disponibilização de informação com referência geográfica,
proporcionando análises mais detalhadas dos processos naturais que
ocorrem na superfície terrestre e dos diferentes padrões de crescimento do
uso e ocupação do solo (SANTOS et al., 2015; NOVO, 2008).
Muitas vezes confundido com Geoprocessamento, Geotecnologia é
um termo genérico, muito utilizado, para designar todas as etapas que
envolvem uso e análise espacial de dados geográficos e seu
compartilhamento, aplicados na análise, exploração, estudo e à conservação
dos recursos naturais, considerando diferentes escalas e a informação
espacial (SILVA, 2015; INPE, 2015).
Conforme estes mesmos autores, o conjunto de técnicas é composto
por hardware (satélites, câmeras, GPS, computadores) e software capaz de
armazenar, manipular informações geográficas e processar imagens digitais.
As geotecnologias incluem tecnologias de processamento e armazenamento
de dados geoespaciais por meio dos seguintes sistemas: Sistemas de
Informações Geográficas (SIG); Sistema de Navegação Global por Satélite
(GNSS); Sistemas de Processamento de Imagens (SPI).
O avanço das tecnologias da informação, o número crescente de
satélites e sensores e a ampliação da capacidade de processamento e
armazenamento de dados e informações geoespaciais contribuíram para a
popularização das geotecnologias (SANTOS et al., 2015; NOVO, 2008).
As geotecnologias também são usadas para estudar a paisagem
como: a topografia, hidrografia, geologia e geomorfologia; variáveis
ambientais como: temperatura, radiação solar, precipitação e umidade;
analisar e auxiliar na prevenção de desastres naturais como: enchentes,
terremotos e erupções vulcânicas; além de gerenciar e de monitorar a
atividade humana empregada na infraestrutura, agropecuária e dados
socioeconômicos (SHIMABUKURO, MAEDA, FORMAGGIO, 2009).
As Geotecnologias são essenciais para monitorar a agricultura no
Brasil. Zoneamentos agrícolas, mapeamentos e monitoramentos do uso e
cobertura da terra, além de indicadores de sustentabilidade e
competitividade, são alguns dos produtos desenvolvidos, voltados para a
agricultura, pecuária, florestas e meio ambiente. As geotecnologias apoiam,
por exemplo, a identificação de áreas de expansão da fronteira agrícola ou
intensificação da atividade produtiva, a detecção de áreas afetadas por
eventos climáticos extremos e a espacialização de processos de degradação
das pastagens, fitossanidade das culturas relacionadas com ataques de
pragas e doenças, e deficiências nutricionais relacionadas com a fertilidade
do solo (INPE, 2015; JENSEN, 2011; FLORENZANO, 2011; CAMARA et al.,
2004).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Neste contexto, as Geotecnologias surgem como ferramentas


essenciais para o monitoramento das mudanças no clima e no ambiente
aliadas com as ferramentas de sensoriamento remoto, geoprocessamento e
as tecnologias de informação (INPE, 2015; INMET, 2015).

3. 1 SENSORIAMENTO REMOTO

Basicamente o Sensoriamento Remoto pode ser descrito como a


interação da energia proveniente da radiação solar eletromagnética com os
elementos da superfície terrestre, como corpos hídricos, solos, rochas,
florestas, plantações agrícolas e áreas urbanas. Através desta interação, a
energia refletida e/ou emitida por esses elementos é registrada por
diferentes instrumentos de sensores remotos (MACHADO et al., 2015;
SANTOS et al., 2014; JENSEN, 2011).
No Sensoriamento Remoto a radiação solar é de fundamental
importância, como explica Florenzano (2011) e Novo (2008), pois além de
fornecer a energia eletromagnética da radiação solar que irá interagir com o
alvo e que será coletada pelos sensores, também fornecerá energia para o
satélite permanecer em órbita no planeta e manter seus equipamentos em
funcionamento.
O Sensoriamento Remoto pode ser definido como a obtenção de
uma determinada informação sobre um alvo qualquer, a partir da
identificação e medição das mudanças que ocorrem ao seu redor. Essa é
uma abordagem bem ampla, e que para os estudos das características da
superfície terrestre adota o contexto de Sensoriamento Remoto como
sendo a obtenção da informação pela interação e balanço da energia
eletromagnética proveniente do objeto analisado (SILVA, 2015; NOVO,

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


2008; CAMARA et al., 2004).
Porém, o Sensoriamento remoto é mais que simplesmente captar
informações de um objeto sem estar em contato físico direto com o mesmo,
para Jensen (2011), Ponzoni e Shimabukuro (2010), o sensoriamento remoto
é uma ciência tecnológica a ser usada para avaliar, monitorar, medir e
resolver os problemas importantes decorrentes das mudanças que ocorrem
na natureza e no clima do planeta principalmente pela ação do homem.
As técnicas de Sensoriamento Remoto utilizadas no estudo dos
recursos naturais, conta com a ajuda e comprometimento de vários
profissionais de diferentes áreas engajados na aplicação, desenvolvimento
de métodos e ferramentas para o estudo e trabalhos de outros profissionais
específicos (MACHADO et al., 2015; SHIMABUKURO, MAEDA, FORMAGGIO,
2009).
Como exemplo é a geração de dados e imagens captadas pelos
sensores em satélites artificiais, usadas em avaliações ambientais, essas
imagens permitem avaliar o planeta Terra de uma posição privilegiada, além
de proporcionam uma visão de extensas áreas e em diferentes épocas do
ano. Assim ambientes de difícil acesso, ficam mais fácil de serem analisados
ambientais (HERNANDEZ et al., 2015; FLORENZANO, 2011).

3.1.1 Radiação eletromagnética

A radiação solar é a principal fonte de energia eletromagnética


disponível para Sensoriamento Remoto. Esta energia é transmitida na forma
de radiação eletromagnética (REM), expressa em termos de comprimento
de onda ou frequência sendo representada pelo espectro eletromagnético.
A partir do conhecimento da interação entre a REM e a vegetação possibilita
a interpretação de dados provenientes de sensoriamento remoto, que por
sua vez possibilita mapear e monitorar a vegetação de extensas áreas a
baixo custo (MACHADO et al., 2015; INPE, 2015).
Embora não haja limites entre as diversas formas de radiação
eletromagnética, o espectro pode ser dividido em regiões ou faixas que
possuam características similares, a faixa espectral que se estende de 0,3 a
15 micrômetros é a mais usada em sensoriamento remoto (MARTINS, GALO,
2015; NOVO, 2008). De acordo com INPE (2015) e Queiroz (2003), em
relação às faixas do espectro, têm-se:
• Ondas de rádio: As Ondas eletromagnéticas nesta faixa são
utilizadas para comunicação a longa distância, pois além de serem um pouco
atenuadas pela atmosfera, são refletidas pela ionosfera propiciando uma
propagação de longo alcance.
• Microondas: Nesta faixa de comprimentos de ondas podem-se
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

construir dispositivos capazes de produzir feixes de radiação


eletromagnética altamente concentrada chamados radares. Por ser muito
pouco atenuada pela atmosfera ou nuvens, propicia um excelente meio para
uso de sensores de microondas em qualquer condição de tempo.
• Infravermelho: Radiação facilmente absorvida pela maioria das
substâncias, de grande importância para o sensoriamento remoto. Engloba
radiação com comprimentos de onda de 0,75 µm a 1,0mm.
• Visível: É definida como a radiação capaz de produzir a sensação de
visão para o olho humano. É um pequeno intervalo de comprimento de
onda (380 a 750 nm), importante para o sensoriamento remoto, pois
imagens obtidas nesta faixa, geralmente, apresentam excelente correlação
com a experiência visual do intérprete.
• Ultravioleta: Extensa faixa do espectro (10 nm a 400 nm), é usada
para detecção de minerais por luminescência e poluição marinha. Estas
ondas são também usadas em observatórios de astronomia.
• Raios X: São gerados, predominantemente, pela parada ou
freamento de elétrons de alta energia. Por se constituir de fótons de alta
energia, são altamente penetrantes e constituem-se em uma poderosa
ferramenta de pesquisa sobre a estrutura da matéria, com grandes
aplicações para a medicina.
• Raios GAMA: São raios mais penetrantes, gerados por átomos
radioativos e explosões nucleares, e são usadas também em aplicações da
medicina. Imagens do universo adquiridas por raios gama têm fornecido
importantes informações sobre a vida e a morte de estrelas.
3. 2 SISTEMAS DE SENSORES

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Sensores são equipamentos capazes de coletar energia proveniente
do objeto, converte-la em sinal passível de ser registrado e apresentá-lo em
uma forma adequada para a extração de informações. Em outras palavras,
são definidos como sendo qualquer dispositivo ou equipamento capaz de
registrar a radiação eletromagnética (INPE, 2015; CAMARA et al., 2004).
Um fluxo de radiação eletromagnética ao se propagar pelo espaço
pode interagir com superfícies ou objetos sendo por estes refletido,
absorvido e mesmo reemitido. As variações que essas interações produzem
no fluxo considerado, dependem das propriedades físico-químicas dos
elementos da superfície. Durante a fase de aquisição de dados pelos
sensores, podem-se distinguir os seguintes elementos básicos: energia
radiante, fonte de radiação, alvo, trajetória e sensor. Os sistemas de
sensores podem ser classificados em “imageadores” e “não imageadores”,
de acordo com o produto obtido (HERNANDEZ et al., 2015; NOVO, 2008;
QUEIROZ, 2003).
O os sensores imageadores fornecem uma imagem fotográfica da
cena de interesse; enquanto os sensores não imageadores geram um
produto em forma de gráfico ou números. Os sistemas imageadores podem
ser divididos em: Sistema de quadro: ("framing systems"): adquirem a
imagem da cena em sua totalidade num mesmo instante. Ex.: RBV; Sistema
de varredura: ("scanning systems"): Ex.: TM, MSS, SPOT; Sistema
fotográfico: Limitada capacidade de captar a resposta espectral (filmes
cobrem somente o espectro entre ultravioleta próximo ao infravermelho
distante). Limitam-se as horas de voo e devido a fenômenos atmosféricos
dificulta observar o solo a grandes altitudes (INPE, 2015; SHIMABUKURO et
al., 2009).
Os sistemas imageadores também podem ser classificados de acordo
com a forma de operação em Passivos e Ativos. Os sensores passivos são
aqueles que não possuem uma fonte própria de radiação. O sensor capta a
energia originada de uma fonte externa ao sistema sensor. Representa a
maioria dos satélites de sensoriamento remoto. Os sensores ativos são
aqueles que produzem sua própria radiação, registrando a energia por eles
emitida e refletida pelo alvo (INPE, 2015; HERNANDEZ et al., 2015;
FLORENZANO, 2011).

3.3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

O Sistema de Informações Geográficas – SIG, é um valioso


instrumento de auxílio ao planejamento, à gestão e à análise de projetos e
atividades socioeconômicas, é um sistema que nos permite automatizar
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

tarefas realizadas manualmente, integrar dados geocodificados, o que


facilita a realização de análises complexas (INPE, 2015; SANTOS et al., 2015).
O SIG nos permite uma verificação rápida, precisa e objetiva da
distribuição espacial e temporal de dados coletados. Ultimamente com a
evolução e a popularização dos SIG’s, muito mais trabalhos e pesquisas
utilizam destas ferramentas em suas metodologias e análises de dados
georreferenciados do que há poucos anos atrás (SILVA, 2015;
SHIMABUKURO et al., 2009).
A espacialização dos dados climatológicos observados em uma
determinada região, para obtenção das áreas aptas ao plantio de
determinada cultura, normalmente faz-se necessária o uso de SIG e neste
sentido, tem sido de primordial importância, pois possibilitam a análise dos
mais diversos cenários de forma abrangente e consistente, organizando,
armazenando, fazendo a distribuição espacial, a edição e o processamento
de dados georreferenciados, disponibilizando um conjunto de ferramentas
que proporcionam melhor planejamento, análise e tomada de decisões,
embasando em diversos parâmetros (ESRI, 2012; CAMARA et al., 2004).

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado


De Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade José Vellano (UNIFENAS).
REFERENCIAL

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Sistema de Informações Hidrológicas – Dados online.
Disponível em: < http://hidroweb.ana.gov.br/> Acesso em: 11/2015.

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ASSAD, E. D.; MARTINS, S. C.; BELTRAO, N. E. M.; PINTO, H. S. Impacts of climate change on the
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ASSAD, E. D.; PINTO, H. S.; ZULLO JUNIOR, J.; EVANGELISTA, S. R. de M.; OTAVIAN, A. F.; ÁVILA,
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BERUSKI, G. C.; PEREIRA, A. B.; SENTELHAS, P. C. Desempenho de diferentes modelos de


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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA
SEÇÃO 05 - SUSTENTABILIDADE

INVENTÁRIO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA


AGRICULTURA

SUSTENTABILIDADE NO CONTROLE DE
FITONEMATOIDES

SUSTENTABILIDADE NA AQUICULTURA
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 14

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


INVENTÁRIO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA
AGRICULTURA

1
Geraldo Gomes de Oliveira Júnior
2
Adriano Bortolotti da Silva
3
Ligiane Aparecida Florentino
4
José Ricardo Mantovani
5
Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido

1
Profº Msc. Instituto Federal do Sul de Minas. E-mail: geraldo.ifsuldeminas@gmail.com
2
Profº Dr. Universidade José do Rosário Vellano. E-mail: adriano.silva@unifenas.br
3
Profª Dra. Universidade José do Rosário Vellano. E-mail: ligiane.florentino@unifenas.br
4
Profº Dr. Universidade José do Rosário Vellano. E-mail: jose.mantovani@unifenas.br
5
Profº Msc. pela Universidade Estadual Paulista. E-mail: lucas-aparecido@outlook.com
1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem crescido a preocupação mundial em relação às


questões ambientais, em especial no que se refere à possibilidade de
ocorrer mudanças climáticas drásticas nos próximos anos. O aumento da
concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, devido às atividades
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

antrópicas, como a mudança no uso da terra, queima de combustíveis


fósseis tem contribuído consideravelmente para o aquecimento do planeta
(LESSIN; GHINI, 2009).

Estima-se que as atividades dos setores agrícolas e mudanças no uso


do solo respondam por 35% e 22% respectivamente das contribuições
brasileiras de gases de efeito estufa (GHG PROTOCOL AGRICULTURA, 2014).

O Brasil também está sujeito aos efeitos dos cenários de mudanças


climáticas globais, podendo ter impactos diretos nos ecossistemas,
distribuição de biomas, na biodiversidade, na agricultura e recursos hídricos
(JACOBI et al., 2011). Cenários extremos de mudanças climáticas foram
projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), os quais estão ligados diretamente à continuidade das emissões,
portanto estratégias de restrições ou redução das emissões podem
contribuir positivamente para controle das mudanças climáticas decorrentes
do efeito estufa (MORAES, 2010).

Muito embora a agricultura esteja evoluindo ao longo do tempo,


através da otimização de seus processos, a realização de operações
mecanizáveis, uso de insumos, transporte e escoamento da produção,
contribuem para a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), sendo
necessário, portanto a realização de inventários que permitam determinar a
fonte, bem como a contribuição da mesma para que se possam estabelecer
estratégias de reduções futuras no processo de produção.
2 GASES DE EFEITO ESTUFA

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


O efeito estufa é um fenômeno natural que mantem a temperatura
média do planeta constante em torno de 14º C, fundamental para manter a
vida no planeta terra, visto que caso contrário à temperatura seria de
aproximadamente 33º C, negativos; o que seria uma condição muito
adversa para a vida (GOMES, 2012).

Embora os gases de efeito estufa sejam encontrados em pequena


parcela na atmosfera, pequenas alterações de suas concentrações podem
representar mudanças significativas no clima do planeta ao longo do tempo,
causando efeitos adversos (MAPA, 2012). O dióxido de carbono (CO 2),
metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são os gases de efeito estufa presentes
na atmosfera que mais têm sido discutidos e estão diretamente
relacionados às emissões das atividades antrópicas (BELIZARIO, 2013).

O agravamento do efeito estufa pode quebrar o equilíbrio energético


no planeta e originar um fenômeno complexo chamado de aquecimento
global (GOLDEMBERG; GUARDAZASSI, 2012). Na agricultura, existem várias
etapas que resultam em emissões de GEE, sendo que os três principais GEE
diretamente relacionados com a atividade são: dióxido de carbono, o
metano e óxido nitroso (DUXBURY, 1994).

Os fluxos de CO2 na atmosfera e nos ecossistemas são controlados


basicamente pelo processo de fotossíntese das plantas. Vale destacar que o
CO2 é o principal gás de efeito estufa tendo apresentado aumento
expressivo de concentração na atmosfera, principalmente em função da
queima de combustíveis fósseis e desmatamentos (LESSIN; GHINI, 2009).

O metano também é um importante gás de efeito estufa, que


apresenta um potencial de aquecimento global 25 vezes maior que o CO2
(GHG PROTOCOL AGRICULTURA, 2014). O metano é o segundo composto de
carbono mais presente na atmosfera depois do CO 2 (LIMA; PESSOA; VILELLA,
2013).
O óxido nitroso (N2O) é um gás de efeito estufa emitido direta e
indiretamente na agricultura, fortemente associado à utilização de
fertilizantes sintéticos nitrogenados, constituindo-se como produto das
reações de nitrificação e desnitrificação (CARVALHO, 2006).

2.1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O IPCC foi criado em 1988 e possui como característica demonstrar


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

uma visão científica das mudanças climáticas, bem como seus possíveis
impactos no ambiente (ABREU; ALBUQUERQUE; FREITAS, 2014). Os
relatórios do IPCC descrevem dados, fatores de emissão e projetam cenários
futuros, caso não sejam adotadas medidas de controle do aumento da
concentração de gases de efeito estufa (JACOBI et al., 2011).

Em 1990, o IPCC lançou seu primeiro relatório, descrevendo que a


mudança climática era uma ameaça real, sendo que os cientistas afirmaram
que as atividades humanas estavam aumentando significativamente as
emissões de gases de efeito estufa, tendo influência direta no aquecimento
global (JURAS, 2008).

No século 21, as possíveis alterações climáticas têm alcançado


grandes destaques nos debates, tendo em vista sua influência a nível global
nas sociedades e economias do mundo todo (MORAES, 2010). O
aquecimento global é o processo pelo qual a temperatura atmosférica está
aumentando ao longo dos anos, em função do aumento da concentração
dos gases de efeito estufa (MAPA, 2012).

As mudanças climáticas podem trazer vários efeitos negativos à


sociedade como um todo, atingindo as diversas regiões do planeta. O
grande problema é que a intensidade e consequências das mudanças nem
sempre são percebidas e ocorrem de forma desigual ao longo do espaço e
tempo (SCHONS, 2012).

Segundo IPCC (2007), vários são os efeitos do aumento da


temperatura média da terra, entre os quais se podem destacar influência
direta no volume e distribuição das chuvas bem, como previsão de aumento
da frequência da ocorrência de eventos extremos que podem trazer vários

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


danos à agricultura.

Os resultados produtivos da agricultura estão ligados diretamente às


variações climáticas, sendo que os cenários futuros projetados de mudanças
demonstram a possibilidade de ocorrerem alterações no zoneamento
agrícola de algumas culturas dentro do mesmo território, por exemplo, o
café, estaria sujeito a estas alterações existindo a possibilidade do
deslocamento da cultura das regionais tradicionais para regiões mais ao sul,
em especial no caso da elevação da temperatura (MORAES, 2010).

Embora a agricultura demonstre um grande avanço tecnológico,


muitas culturas poderão sofrer graves consequências, caso os cenários
futuros projetados se confirmem, visto sua interdependência das condições
e variáveis climáticas (MORAES, 2010). Cerri et al. (2007) relataram que
alterações climáticas têm influência direta na quantidade e qualidade da
produção agrícola, influenciando-as, em muitos casos, de forma negativa.

É evidente que os impactos ambientais decorrentes desta projeção


de cenários influenciam a sociedade e economia, demonstrando a
necessidade de busca de uma cadeia produtiva mais sustentável (ABREU;
ALBUQUERQUE; FREITAS, 2015).

Embora as tecnologias de produção na agricultura estejam evoluindo


ao longo do tempo, a crescente exigência dos mercados internacionais em
busca de uma cadeia produtiva de baixo carbono, faz com que as
propriedades agrícolas, busquem compreender melhor como suas
atividades contribuem para a emissão de GEE.

Neste sentido o desafio da agricultura brasileira como um todo é o de


reduzir as emissões de GEE e ao mesmo tempo aumentar a produção e
produtividade. Portanto, inventariar as emissões de gases de efeito estufa
na agricultura é fundamental para compreender o perfil de suas emissões e
estabelecer a gestão estratégica de boas práticas agrícolas; reduzindo
consequentemente suas emissões diretas. As empresas que se destacam
por longos períodos e nos mais diferentes setores possuem como
característica em comum a habilidade de medir o seu próprio desempenho
e de usar a medição para promover a gestão estratégica (PELOIA, 2010).

2.2 INVENTÁRIOS DE GASES DE EFEITO ESTUFA

O inventário de gases de efeito estufa é uma ferramenta


fundamental para ações de mitigação de emissões e adaptação aos cenários
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

de mudança climática. Siqueira Neto (2011) afirma que é necessário


conhecer as fontes de emissão de gases de efeito estufa, a fim de permitir
tomadas de decisões que contribuam para a mitigação do aquecimento
global.

Frente às incertezas dos cenários ambientais na relação com os


aspectos econômicos, os inventários de GEE, permitem também que as
propriedades repensem suas ações organizacionais, inclusive na eficiência
do uso energético. Uma análise da matriz energética exige a necessidade de
estratégias, que podem gerar vantagens competitivas, tornando um cenário
desfavorável em oportunidades econômicas (ABREU; ALBUQUERQUE;
FREITAS, 2015).

Um inventário de emissões pode ser utilizado como uma ferramenta


administrativa que permite aumentar a eficiência operacional, econômica,
energética e redução de riscos. As ações de redução de emissões a partir de
inventários se verificam, por mudanças em processos de produção através
do uso de tecnologias (ABREU; ALBUQUERQUE; FREITAS, 2015).

Para a realização de inventários, as emissões são divididas em três


escopos, que devem ser descritos em função da responsabilidade ou
controle da organização. No escopo 1, estão as fontes de emissão direta que
tem origem ou são controladas pela própria organização. No escopo 2, estão
as fontes de emissão consideradas indiretas como a aquisição e consumo de
energia elétrica. No escopo 3, estão as fontes de emissão que não
pertencem e não são controladas pela empresa, mas são consequências de
suas atividades como o transporte da produção (GHG PROTOCOL
AGRICULTURA, 2014).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Para que a agricultura possa promover ações para a redução das
emissões de GEE é necessário que seja realizado o inventário das referidas
emissões, bem como sua origem. Vale destacar que durante a conferência
das partes COP -16, o Brasil confirmou o compromisso de ações voluntárias
para a redução de gases de efeito estufa com valores entre 36,1% a 38,9%
em relação às emissões brasileiras projetadas para o ano de 2020 (CNA,
2012).

O GHG Protocol, originalmente desenvolvido nos Estados Unidos, em


1998, pelo World Resources Institute (WRI), é uma metodologia reconhecida
e utilizada no mundo para inventários de GEE, compatível com as
metodologias do IPCC. Os usos de metodologias reconhecidas facilitam a
gestão das empresas em relação as emissões dos GEE e melhoraram a
qualidade e a consistência dos dados (GHG PROTOCOL, 2013). O Programa
Brasileiro GHG Protocol, foi iniciado em 2008, sendo adaptada a
metodologia internacional ao contexto nacional (GHG PROTOCOL, 2013).

No Brasil, trabalhos de GEE na agricultura têm sido realizados,


principalmente com o seguimento da agroindústria canavieira (CLAROS
GARCIA; VON SPERLING, 2010; FIGUEIREDO; LA SCALA JUNIOR, 2011;
GOUVEIA et al., 2009; MACEDO; SEABRA; SILVA, 2008).

2.3 FATORES DE EMISSÃO

O Fator de emissão é um indicador estabelecido que deve ser


multiplicado pela quantidade de insumos utilizados no processo produtivo
ou em determinada atividade realizada (CUNHA, 2010).

Entretanto somente é possível aplicar o fator de emissão após


determinação das fontes diretas e indiretas, além da quantificação e
padronização das unidades requeridas. O carbono equivalente (CO 2 eq) é
uma unidade que permite realizar a conversão das emissões de gases de
efeito estufa pela multiplicação do potencial de aquecimento global, após
determinação individualizada de cada um dos gases (LOPES, 2012).

O potencial de aquecimento global, conhecido como GWP é um


índice divulgado pelo IPCC, como parâmetro de referência, permitindo assim
somar quantidades de diferentes gases de efeito estufa (LOPES, 2012).

O dióxido de carbono (CO2) tem um potencial de aquecimento global


de 1, visto que o mesmo, apresenta um tempo de vida curto na atmosfera e
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

um baixo potencial para absorver a radiação infravermelha, quando


comparado aos demais gases de efeito estufa como o CH4, N2O que possui o
potencial de aquecimento global de 25 e 298 vezes maior que uma molécula
de CO2, respectivamente, para um período de 100 anos (IPCC, 2007).

3 ESTUDO DE CASO

3.1 INVENTÁRIO DE GASES EFEITO NA CULTURA DO CAFÉ

O estudo foi realizado em fazendas produtoras de café, pertencentes


ao Grupo Fazenda da Onça, apresentando 1828,58 ha, sendo que 462,94 ha
são ocupados pela cultura do cafeeiro. As lavouras foram plantadas no
sistema adensado e mecanizado, localizadas nos municípios de Guaranésia,
Guaxupé e Monte Santo de Minas, pertencentes à região Sul de Minas
Gerais (Figura 1).

O sistema adensado apresenta espaçamento predominante de 1,80 x


0,80m e o mecanizado de 3,80 x 0,60m. A mecanização ocupa 337,11 ha,
correspondendo a 73% do total da área, sendo que 80% da área é ocupada
por lavouras de café com mais de 6 anos de idade e produção média de
11.770 sacas de café beneficiadas.
Figura 1 - Localização geográfica das regiões estudadas

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A região é caracterizada por clima, segundo a classificação climática
de Thornthwaite (1948) é B4rB’2a (clima úmido com pequena deficiência
hídrica) (APARECIDO et al., 2014). Os dados pluviométricos indicam que a
região possui dois períodos bem característicos, sendo um chuvoso, outubro
a março com precipitações bem distribuídas e outro seco, entre os meses de
abril e setembro. A precipitação média anual está em torno de 1.500 mm,
o
temperatura média de 18 C e altitude média de 887 metros.

A área produtiva é manejada com as melhores práticas agronômicas,


sendo determinadas desde a adubação, controle de plantas daninhas,
pragas e doenças, manejo de podas e tratos pós-colheita, a partir de
recomendações do corpo técnico, de acordo com as necessidades das
diferentes lavouras de cada fazenda, sendo conduzidas no manejo
convencional, visando alta produtividade.

Para a realização dos cálculos, foi levantado o consumo de energia


nas instalações das propriedades em Megawatts (MWh), consumo de
combustível para realização das operações agrícolas em litros (L), consumo
de nitrogênio nas adubações do café em quilogramas (kg). Todos os dados
foram coletados em conjunto para as quatro fazendas do Grupo Fazenda da
Onça, exceto para o consumo de energia elétrica.
A estimativa do carbono equivalente foi realizada considerando os
GEE: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), utiliza,
utilizando-se como referência para o cálculo os parâmetros de referências
do Ministério da Ciência e Tecnologia MCT, (2012), além de metodologias do
IPCC, (2006) e metodologia do GHG da Agricultura (GHG PROTOCOL
AGRICULTURA, 2014).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

3.2 METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DA EMISSÃO DE CO2 EQUIVALENTE


DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

As emissões indiretas de carbono equivalente (CO2 eq), do consumo


de energia elétrica, foi obtida a partir da determinação da quantidade de
energia elétrica gasta em Quilowatt hora (KWh), sendo posteriormente
convertida para Megawatt hora (MWh) e calculada a emissão em dióxido de
carbono equivalente (CO2eq), a partir da seguinte equação:

tCO2eq = CEE x FE
Onde:

tCO2 eq - Emissão total de CO2 em toneladas;

CEE - Consumo de Energia Elétrica (MWh);

FE - Fator de Emissão nacional Ministério da Ciência e Tecnologia MCT


-1
(0,0653t CO2eq MWh );

Exemplo:
-1
Considerando o consumo da Fazenda Onça de 273,456 MWh ,
temos que CO2eq = CEE x FE, ou seja, CO2eq = 273,456 x 0,0653= 17,85 t
CO2eq.
3.3 METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DA EMISSÃO DE CO2 EQUIVALENTE
DO CONSUMO DE FERTILIZANTES NITROGENADOS

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


A estimativa das emissões de Kg CO2 eq no consumo de adubos
nitrogenados foi determinada a partir da quantificação de nitrogênio, em kg,
presente nos fertilizantes sintéticos empregados na propriedade e
posteriormente aplicados a seguinte equação:

Onde:
-1
N - Quantidade necessária gasta em ano ;
FE - Fator de emissão do nitrogênio 0,01 Kg N2O - Kg N (IPCC, 2006);
44/28 - Razão da conversão de N para N2O peso molecular (IPCC,
2006);
PAG - Potencial de aquecimento global do N2O, com valor de 298
(IPCC, 2007).
Exemplo:

Considerando o consumo de adubo nitrogenado da Fazenda Onça de


100.221 kg, temos que: , ou seja,
= 468.84 t .
3.4 METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DE EMISSÃO DE KG CO2
EQUIVALENTE PARA OPERAÇÕES MECANIZÁVEIS DOS TRATOS CULTURAIS
DO CAFÉ

Para quantificar as emissões de CO 2, CH4 e N2O devido ao consumo


de combustíveis fósseis, foi realizado o levantamento do volume de
combustível (óleo diesel), tratores, máquinas e equipamentos, visando à
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

produção do café. Posteriormente foi determinada a emissão de CO 2, CH4 e


N2O multiplicando-se os valores obtidos pelos parâmetros apresentados na
Tabela 1.

Tabela 1 - Parâmetros de referência para o cálculo das emissões de gases


efeito estufa (GEE).

Fatores de conversão
-1
Combustível (kg GEE.unidade ) Fonte
CO2 CH4 N2O
-Diesel* 2,681 0,0003 0,00002 GHGProtocol Agricultura, 2014
-Biodiesel 2,499 - - GHGProtocol Agricultura, 2014
*Tratores, máquinas agrícolas e colheitadeiras. Adaptado de Oliveira Junior
et al. (2015).

Em seguida, foi realizado o fracionamento dos 95% de diesel e 5%


-1
de biodiesel presente na quantidade L Diesel ha em cada operação
conforme resolução ANP Nº 14, de 11/05/2012 (ANP, 2012). Posteriormente
-1
foi obtida a quantidade de kg CO2 eq ha para cada operação através da
utilização da seguinte expressão:

∑ ( ) ( )

Onde:
Σ - Somatória dos valores obtidos da multiplicação da quantidade
fracionada pelo fator de emissão e potencial de aquecimento global;

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


OL - Volume de óleo diesel em litros;
F1 - Fração diesel no diesel (0,95);
F2 - Fração biodiesel contida no óleo diesel (0,05);
FE - Fatores de emissão CO2, CH4, N2O (GHG PROTOCOL
AGRICULTURA, 2014) (Tabela 1);
PAG - Potencial de aquecimento global do CO2, CH4 e N2O, tendo
potencial 1, 25 e 298, respectivamente (IPCC, 2007). Exemplo:

Considerando o consumo de óleo diesel total dos tratores do grupo


Fazenda Onça foi de 36.560,6 de litros, e que fracionamento do diesel (95%)
foi de 34.732,57 e biodiesel (5%) 1.828,03 temos que: ∑
( ) ( ), ou seja, ∑ = 36.560,6
(0,95 x 2,6810x1) + (0,95 x 0,00030 x 25) + (0,95 x 0,000020 x 298) +
36.560,6 (0,05 x 2,4990 x 1) = 93.118,02 + 260,49 + 207,00 + 4.568,24 =
98.153,77. Vale lembrar que, o óleo diesel apresenta emissões de CO 2, CH4 e
N2O (Tabela 1), que devem ser levados em conta no calculo de CO2 eq,
constituindo-se os três primeiros termos utilizados no somatório, e o
biodiesel apresentam somente emissões de CO 2, último termo do somatório
(Tabela 1).

3.5 RESUMO DAS EMISSÕES DE GEE COM EMPREGO DA METODOLOGIA


DO CARBONO EQUIVALENTE

Os resumos dos exemplos utilizados para estimar as emissões de


GEE pelo emprego da metodologia do carbono equivalente estão
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Resumo estimativas de emissão de CO2 equivalente

Emissões de GEE (kg) (3)


Fontes Consumo* tCO2eq
CO2 CH4 N2O
Energia 273,456 - - - 17,85
elétrica
(2)
A. nitroge. 100.211 - - 1.002,1 468,84
(4)
Óleo Diesel
- Tratores 36.560,6 97.686,27 10,42 0,69 98,15
Total - 97.686,27 10,42 1.002,79 584,84
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

*Consumo: Energia elétrica em MWh; (2) Adubos nitrogenados em kg; Óleo diesel em litros. (3)
Estimativa de emissão CO2, CH4, N2O, em carbono equivalente aplicando fator de correção 1,
25, 298 respectivamente (IPCC, 2007). (4) Fatores de conversão na tabela 1. Adaptado de
Oliveira Junior et al. (2015).

As emissões advindas do consumo de energia elétrica são devidas em


grande parte ao processo de pós-colheita e beneficiamento no café (Tabela
2). Importante destacar que a emissões do uso de energia elétrica são
consideradas como emissões indiretas provenientes do seu consumo e
respectivamente sua aquisição.

A expressiva contribuição do setor agrícola brasileiro às emissões de


N2O indica a necessidade de esforços, especialmente no que tange a
identificação e desenvolvimento de estratégias e tecnologias eficientes em
promover a redução das emissões de N2O (ZANATTA, 2009).

Neste sentido informações sobre a emissão de GEE decorrentes das


adubações nitrogenadas são fundamentais para buscar a sustentabilidade
dos sistemas agrícolas de produção da cultura do café (DA COSTA et al.,
2009). Estimativa da emissão de Kg CO2 eq em decorrência da utilização de
adubação nitrogenada no cafeeiro considerando recomendação da 5ª
aproximação (Figura 2).
Figura 2 – Emissão de Kg CO2 eq adubações nitrogenadas.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


As emissões de gases de efeito estufa em atividades ou operações
mecanizadas (Tabela 2) que consomem combustíveis e são originadas ou
controladas pela propriedade, são consideradas emissões diretas (GHG
PROTOCOL AGRICULTURA, 2014).

Cunha (2015) cita que, nos últimos anos, a cultura do cafeeiro vem
passando por mudanças profundas, em especial no que se refere ao
processo de mecanização das operações agrícolas, que anteriormente eram
realizadas de forma manual.

É fundamental observar que as empresas que vem se destacando ao


longo do tempo nos mais diferentes setores apresentam como característica
comum, a habilidade de medir o seu próprio desempenho e de usar a
medição para promover a gestão estratégica (PELOIA, 2010). Neste sentido
a capacidade e desempenho de um equipamento na realização de uma
determinada atividade, afeta diretamente as decisões sobre seu
gerenciamento (TAYLOR; SCHROCK; STAGGENBORG, 2002).

A realização de inventário de GEE são ferramentas de gestão


fundamentais para dar suporte a mitigações das emissões, visto que através
da contabilização, podem ser estabelecidas metas e planos de ações mais
efetivas (ABREU, 2015).
AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado


De Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade José Vellano (UNIFENAS).

REFERENCIAL

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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 15

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


SUSTENTABILIDADE NO CONTROLE DE
FITONEMATOIDES

1
Eduardo José de Almeida
2
Pedro Luiz Martins Soares

1
Profº Dr. da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS. E-mail:
eduardo.almeida@unifenas.br.
2
Profº Dr. da Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: pedrolms@fcav.unesp.br.
1 INTRODUÇÃO

Nematoides é o grupo de metazoários mais abundantes na biosfera.


Estima-se que constituem até 80% de todos os metazoários. Ecologicamente
são extremamente adaptados, de forma que é comprovado pela grande
diversidade de espécies. Mais de 20.000 espécies já foram descritas, de um
número estimado em mais de 1 milhão de espécies atuais (BRIGGS, 1991).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Foi sugerido que os nematoides compõem uma das três principais radiações
de organismos multicelulares que produziu a maioria das espécies do
planeta, sendo as outras radiações são os insetos e os fungos (GASTON,
1991). Naturalmente, essa diversidade é dividida em nematoide marinhos
(50%), parasitos de animais (15%), vida livre (25%) e parasitos de plantas
(10%).

Os nematoides são organismos vermiformes que vivem nos mais


diferentes habitats. Generalizando, é possível afirmar que onde existe vida,
há nematoides, frequentemente em grande número. Essa diversidade
possibilita classificar os diferentes nematoides em várias classes segundo
diversas características como nematoides de vida livre, fitoparasitos,
entomopatogênicos, micófagos, bacteriófagos, marítimos, etc.

Os solos cultivados estimam-se que contenha de 2 a 20 milhões de


2
nematoides por m , nos primeiros 30 cm de profundidade.

Do ponto de vista agrícola os mais importantes são os fitonematoides


e os entomopatogênicos. Os primeiros se destacam por causarem danos nas
culturas acarretando grandes perdas na produção e sérios prejuízos
financeiros; e os segundos, por serem agentes de controle biológico de
pragas agrícolas. Contudo, a maioria dos nematoides presentes no solo não
são fitopatogênicos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) as perdas


causadas por fitonematoides no Brasil são estimadas em 12% da produção
mundial, que alcança cifras de 80 bilhões de dólares no mundo todo. No
Brasil não há levantamentos consistentes, mas são registrados diversos
danos informados de forma isolada nas diversas culturas como anuais,
perenes, olerícolas e ornamentais de forma que o Ministério da Agricultura

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


inseriu em 24/08/2015, em sua lista de pragas, vários fitonematoides como
responsáveis por um dos maiores riscos fitossanitários as principais culturas
no país.

O fato é que fitonematoides vem apresentando crescente


importância na agricultura e seu controle não vem sendo feito a contento
em função de vários fatores, como a falta de conhecimento nematológico
suficiente por parte dos produtores e técnicos atuantes e a deficiência na
comunicação efetiva sobre o risco representado por esses parasitos. O
controle dessas pragas muitas vezes requer mudanças bruscas nas práticas
agrícolas e no proceder do produtor com relação à fitossanidade.

2 O NEMATOIDE

Os nematoides parasitas de plantas ou simplesmente,


fitonematoides, por possuírem as características de patógenos de solo,
infectam principalmente raízes, podendo algumas espécies migrar para
partes aéreas como folhas, flores e frutos. Os fitonematoides se distinguem
dos demais por possuírem em sua cavidade bucal o estilete, que é uma
estrutura rígida usada para penetrar a parede celular por meio de
movimentos de distensão e contração muscular.

Em função da sua forma de alimentação são classificados como


endoparasitas – quando penetram com seu corpo totalmente dentro das
raízes; ou ectoparasita – quando o corpo do parasita se mantém de fora da
raiz. Outra importante classificação quanto ao hábito do fitonematoide é
com relação ao comportamento sedentário – quando se aloja no sítio de
alimentação, ou migrador – quando se movem dentro da raiz.

Os nematoides são animais ovíparos ou ovovivíparos, ou seja,


nascem de um ovo. Algumas espécies de nematoides sobrevivem como
ovos, enquanto outras sobrevivem no solo e nos restos radiculares em
diferentes estádios, inclusive na forma de cistos ou em anidrobiose, isto é
perdem quase que completamente a água de seu corpo reduzindo seu
metabolismo à inação de forma que quando percebem um ambiente mais
adequado retoma a sua hidratação e continua seu ciclo de vida. Os
nematoides causam uma variedade de sintomas nas plantas, incluindo
necrose radicular, galhas radiculares, ramificação anormal das raízes,
murcha e clorose.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Os fitonematoides são importantes patógenos que causam danos


diretos, mas também podem causar ou predispor outras doenças
indiretamente nas plantas por meio de ferimentos abertos na sua
alimentação que propiciam a infecção por fungos ou bactérias aos tecidos
radiculares intercelulares. Nesse caso, os danos dos fitonematoides às
plantas são resultantes da sua habilidade parasítica em interação com
outros fitopatógenos, causando doenças a qual chamamos “complexo”.

No Brasil as doenças radiculares têm recebido pouca atenção se


comparadas às doenças foliares, á despeito de sua relevante importância. O
volume de pesquisas com doenças causadas por fitonematoides em
particular é significativo, contudo estudos com a relação patógeno-
hospedeiro-ambiente, interações entre outros organismos do solo e
características bióticas e abióticas do solo que interfiram no
desenvolvimento das doenças são incipientes ou inexistentes. Em grande
parte essa lacuna no estudo da fitonematologia se deve a dificuldade de
observação de sintomas abaixo do solo e a complexidade de fatores
envolvidos na ecologia de microorganismo aliados a fatores estranhos a
área técnica.

Os fitonematoides podem ser classificados como polífagos – quando


se alimentam de muitas espécies vegetais, ou específicos a uma ou poucas
espécies. Muitas espécies de nematoides são registradas ocorrendo em
raízes ou na rizosfera de plantas cultivadas, porém ainda não comprovadas
suas patogenicidades, de forma que muitos danos latentes ou crônicos
podem estar ocorrendo na agricultura sem a devida detecção da perda de
produção ou como causa de prejuízos.
A mobilidade de um nematoide é extremamente restrita, atingindo
pequenas distâncias como poucos centímetros por seu ciclo de vida, em

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


boas condições de deslocamento. Com isso, torna-se o homem o principal
agente dispersor do patógeno por meio de mudas contaminadas, tratos
culturais como gradagem e aração do solo contaminado, transporte de solo
contaminado. Esse fato auxilia o manejo dessa doença a partir do momento
que com cuidados básicos e conhecimento pode-se cortar a dispersão do
patógeno. Por outro lado, esse patógeno uma vez introduzido no ambiente
torna-se impraticável sua erradicação.

3 MANEJO SUSTENTÁVEL DE NEMATOIDES

São várias as estratégias sustentáveis utilizadas no controle de


nematoses que, atuando em conjunto e concomitantemente, compõem o
Manejo Integrado de Nematoides (MIN). O MIN parte do princípio de se dar
as melhores condições possíveis para a planta cultivada expressar seu
potencial produtivo e por outro lado inibir ou prejudicar o desenvolvimento
do patógeno. As estratégias de manejo de fitonematoides principais são
aquelas que reduzem os custos, aumentam a produção e não agridem o
ambiente.
Dentre as estratégias preconizadas pelo MIN podemos citar a
quarentena ou profilaxia, o manejo genético, o manejo cultural (diversas
práticas culturais que diminuem a população do nematoide), controle
biológico.

3.1 MANEJO GENÉTICO

No manejo integrado de nematoides, o uso de cultivares resistentes


é uma alternativa vantajosa e econômica, altamente desejável do ponto de
vista da sustentabilidade. Segundo Roberts et al. (1998), resistência é usada
para descrever a habilidade de uma planta suprimir a reprodução ou o
desenvolvimento do nematoide. O termo resistência, em nematologia,
frequentemente também é usado para se referir à capacidade de suprimir a
doença.

Muitas espécies vegetais possuem alcalóides esteroidais que são


substâncias capazes de desencadear atividades antimicrobianas,
antifúngicas, deterrentes e nocivas a muitos insetos e moluscos (Robbers et
al., 1996).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Muitas espécies cultivadas e economicamente importantes no Brasil


são descritas como suscetíveis a diferentes espécies de fitonematoides e
relacionadas a sérios danos como, por exemplo, cafeeiro, cítricas, olerícolas,
frutíferas, ornamentais, soja, cereais diversos.

3.2 CAFÉ

O cafeeiro (Coffea arabica) é hospedeiro a diversos fitonematoides


tanto os formadores de galhas (Meloidogyne exigua, M. incognita, M.
paranaensis, M. goeldi, M. coffeicola, M. hapla) quanto o de lesões
radiculares (Pratylenchus coffeae, P. brachyurus) de modo que o
comportamento responsivo das plantas de café apresenta algumas
variabilidades tanto em função da genética da planta quanto do patógeno.

Um caso que ilustra bem essa relação é o fato de que em Cuba o M.


enterolobii é considerada a principal nematose em cafeeiros. Já, no Brasil
conforme Alves et al. (2009) esse patógeno não infectou as principais
cultivares de C. arabica. Esse fato, ainda não estudado, pode se dar em
função da variabilidade de espécies e cultivares do cafeeiro ou do patógeno.
Quanto a resistência genética de espécies de Coffea, é encontrada fontes
em Coffea canephora, principalmente para M. exigua, porém tem sido
registrado frequentes segregações para suscetibilidade para M. incognita.

A resistência ao M. incognita e M. paranaensis vem sendo


encontrada em C. canephora e em C. congensis (GONÇALVES et al., 1988,
SERA et al., 2004a). A cultivar Híbrido de Timor é um possível híbrido natural
entre C. arabica e C. canephora identificado no Timor Português em 1917. A
partir da década de 1970 a Universidade Federal de Viçosa e a Epamig

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


passaram a estudar esse genótipo como fonte constituída de genes que
conferem resistência múltipla a ferrugem, a antracnose do cafeeiro, a
bacterioses e aos nematoides de galhas. De acordo com Carvalho, (2008)
tendo em vista como um material muito importante para o melhoramento
do cafeeiro, ele vem sendo utilizado no melhoramento para a obtenção de
várias populações de cafeeiros resistentes a ferrugem e nematoides, como
por exemplo, o Catimor, Cavimor, Sarchimor, Blumor, Cachimor.

A obtenção de fontes de resistência a espécies de Pratylenchus é


muito pouco pesquisada no Brasil.

Uma grande dificuldade de se estabelecer o controle genético em


cafeeiros é devido a complexidade da herança genética nessas espécies e
outro importante entrave encontrado pelos pesquisadores é a variabilidade
genética das espécies de Meloidogyne com a possibilidade de ocorrerem
patotipos ou raças capazes de quebrar a resistência genética adquirida. Um
exemplo clássico é a população de M. exigua do Rio de Janeiro, da cidade de
São Bom Jesus de Itabapoana apresentou-se altamente capaz de reproduzir-
se em cafeeiro portadores de genes de resistência, denominado Mex-1, que
até então era resistente a outras populações do mesmo nematoide.

3.3 CITROS

Quanto a citros, no Brasil somente duas espécies de fitonematoides


(Tylenchulus semipenetrans e Pratylenchus jaehni) são registradas causando
danos, por isso, consideradas nematoides chaves na cultura. Outras espécies
como P. brachyurus, P. coffea e P. vulnus são descritas como patogênicas a
citros em outros locais do mundo, porém, apesar de esses nematoides
ocorrerem no Brasil, não há registro de danos.

A natureza da resistência de alguns porta-enxertos de citros a T.


semipenetrans pode estar associada a fatores como a reação de
hipersensibilidade celular, exibido pelos hospedeiros imunes ou altamente
resistentes (P. trifoliata) e a formações peridérmicas no córtex do tecido
radicular em hospedeiros moderadamente resistentes (citrange Troyer).

Conforme Calzavara (2007), o porta enxerto Limoeiro 'Cravo' (Citrus


limonia Osbeck) é altamente suscetível ao P. jaehni e são resistentes o porta
enxerto Tangerina 'Cleópatra' (C. reshni Hort. ex. Tanaka), Citrumelo
'Swingle' (C. paradisi x Poncirus trifoliata), Tangerina 'Sunki' (C. sunki Hort.
ex. Tanaka), Poncirus 'Trifoliata' [P. trifoliata (L.) Raf.] e Citrange 'Carrizo' (P.
trifoliata x C. sinensis) de modo que esses últimos genótipos podem ser
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

recomendados em locais com presença desse patógeno.

Contudo é altamente contra-indicado o uso da sub-enxertia nesses


casos, pois a co-existência de uma raiz suscetível com uma raiz resistente
poderia provocar uma pressão de seleção de indivíduos adaptados a cultivar
resistente, quebrando a resistência genética. Antes, seria recomendável
reduzir a população do nematoide previamente no caso de renovação do
pomar. Para isso pode-se utilizar várias práticas descrita a seguir.

3.4 BANANEIRA

De acordo com Teixeira (2007) os nematoides são as pragas de solo


mais importantes na bananicultura e 4 são as espécies que podem causar
danos significativos, a saber: Radopholus similis, Helycotilenchus
multicinctus, Pratylenchus coffeae e Meloidogyne spp. O melhoramento
vegetal de bananeiras (Musa sp.) é importante estratégia de manejo de
fitonematoides e que no Brasil iniciou-se em 1982 na Embrapa Mandioca e
Fruticultura visando obter genótipos resistentes a pragas e doenças.

No melhoramento de bananeiras o genótipo diplóide contribui com


diversas fontes de resistência e outras características desejáveis. Como os
cultivares comerciais geralmente são triplóides é preciso fazer a introgreção
desses genes, o que é uma dificuldade. A variabilidade genética da
bananeira é alta, porém os trabalhos direcionados para resistência a
fitonematoides são poucos. Até a década de 1930 a principal cultivar
plantada era GrosMichel, porém a partir dessa época o mal do panamá
(Fusarium oxysporum) dizimou as plantações e foi gradualmente substituída
por variedades do grupo Cavendish, mais resistentes a doenças.

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


No melhoramento de bananeira o parental diplóide contribui com
resistência a diversas doenças e outras características desejáveis. E o
parental triplóide garante a ausência de sementes e características
agronômicas. São utilizadas duas espécies (Musa acuminata e M. balbisiana)
no melhoramento da bananeira e a Embrapa Mandioca e fruticultura
Tropical possui um dos maiores bancos ativos de germoplasma da cultura,
com 280 genótipos.

Segundo Teixeira (2007), os clones 4279-06 e Birmanie foram


resistentes a M. incognita e M. arenaria. Já os clones Psang-Nang e Jaran
foram resistentes a M. incognita e M. javanica. Esse autor afirmou ainda
que esses clones são importantes genótipos no melhoramento da bananeira
visando obter resistência múltipla aos nematoides de galhas.

3.5 PÊSSEGO

Na cultura do pessegueiro foram relatadas mais de trinta espécies de


fitonematoides, que variam na severidade dos danos que causam e algumas
limitam o cultivo desta frutífera. As principais espécies de fitonematoides
em prunáceas em geral são as dos gêneros Criconemella, Pratylenchus e
Meloidogyne. As espécies do gênero Meloidogyne causam os prejuízos mais
severos e estão amplamente distribuídas. No Brasil destaca-se as espécies
Meloidogyne incognita, M. javanica e M. arenaria. Acrescenta-se o
nematoide das lesões radiculares Pratylenchus spp. E no Rio Grande do Sul
Criconemella xenoplax, Xiphinema americanum Cobb e Helicotylenchus spp.
são as espécies mais freqüentemente encontradas. Em viveiros, a presença
de galhas nas raízes das mudas é motivo mais que suficiente para sua
interdição devido ao risco de disseminação desses nematoides. Em função
do que foi exposto, nota-se a importância da utilização de porta-enxertos
resistentes, principalmente às espécies do gênero Meloidogyne.
No Brasil a produção de frutas de caroço está baseada no uso de
porta-enxertos formados a partir de sementes. Os cultivares mais utilizados
como porta-enxerto no Sul do Brasil são Capdeboscq e Aldrighi, devido à
boa compatibilidade com praticamente todos os cultivares de pessegueiro,
nectarineira e ameixeira, à facilidade de obtenção de caroços e boa
germinação. Porém, essas espécies são classificadas como suscetíveis à
Meloidogyne incognita. No Sul de Minas Gerais, é mais utilizado o porta-
enxerto Okinawa, com cerca de 70% do total de plantas enxertadas. Em São
Paulo, os porta-enxertos mais usados são Okinawa, Talismã, Néctar e Rei da
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Conserva. Exceto a cv. Okinawa, todos os demais materiais vegetais são


susceptíveis aos nematoide de galhas Meloidogyne spp. e a forma de
produção desses porta-enxerto é por sementes. Considerados resistentes
tem-se as cultivares Okinawa, R-15-2, Nemaguard, Nemared.

Com isso, a forma de produção de mudas vem mudando em função


da necessidade de se estabelecer genótipos resistentes aos principais
fitonematoides e a necessidade de garantir a manutenção da carga genética
que confere resistência ao patógeno sem que haja o risco de variabilidade
genética e conseqüente segregação para suscetibilidade. Isso pode ser
conseguido com a identificação de fontes de resistência, melhoramento e
propagação vegetativa ou clonagem.

Pereira e Mayer (2005) desenvolveram estudos identificando fontes


de resistência em clones de Prunus mume e um sistema de produção
vegetativa utilizando esse material como porta-enxerto. Ao fim de uma série
de estudos lançaram a cultivar Rigitano de porta-enxerto resistente a
nematoides de galhas e confere produtividade das variedades copa.
Contudo ainda não foram identificadas fontes de resistência a Criconemella
xenoplax, nematoide relacionado ao complexo denominado morte precoce.

Pode ser obtido de forma convencional, por hibridização


interespecífica, por plantas transgênicas. Segundo Bueno et al. (2006),
hibridação interespecífica consiste no cruzamento entre diferentes espécies
afins (espécies diferentes dentro do mesmo gênero), com a manutenção de
certos genótipos produzidos a partir dos produtos de segregação. Segundo
esse mesmo autor, hibridações interespecíficas têm sido usadas para
transferir alelos de plantas silvestres para plantas cultivadas e que essa
prática contribuiu, também, para o desenvolvimento de frutíferas, entre as

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quais se citam ameixeiras, aveleiras, cerejeiras e macieiras. O melhoramento
convencional pode ser obtido a partir do melhoramento por meio de
cruzamentos e retrocruzamentos de genótipos identificados como
resistentes ou tolerantes ao nematoide. Além do método de seleção massal.

3.6 SOJA

No Brasil, os nematoides mais prejudiciais à cultura da soja são os das


espécies de Meloidogyne spp., o nematoide de cisto, Heterodera glycines, o
das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus e o reniforme Rotylenculus
reniformis. Embora mais de 100 espécies de nematoides de cerca de 50
gêneros, foram associadas a cultivos de soja em todo o mundo.

Cerca de 80 cultivares de soja resistentes ou moderadamente


resistentes a M. incognita e/ou M. javanica estão disponibilizadas no Brasil
por diversas empresas produtoras de sementes. As maiorias descendem de
uma única fonte de resistência, a cultivar norte-americana ‘Bragg’. Os níveis
de resistência dessas cultivares não são altos, entretanto por se tratar de
culturas anuais podem e devem ser precedida de rotação com uma outra
cultura não hospedeira, isto é, usar a resistência ou imunidade de outras
espécies cultivadas para baixar a população do nematoide chave.

O nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines, foi


detectado pela primeira vez no Brasil na safra de 1991/92. Atualmente, está
registrado em cerca de 150 municípios de 10 Estados (MG, MT, MS, GO, SP,
PR, RS, BA, TO e MA) e alcança área com cerca de a 3,0 milhões de ha.

A resistência genética é um método de controle do NCS econômico e


eficiente com boa aceitação pelo produtor. Contudo, esse nematoide
apresenta elevada diversidade genética e aparente facilidade para
desenvolver novas raças que quebram a resistência desenvolvida. Dessa
forma a semeadura de cultivares resistentes deve ser, também precedida de
cultivos com espécies imunes ao NCS como o arroz, algodão, sorgo,
mamona, milho e girassol. Para se ter ideia, já foram encontradas 11 raças
(1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). As raças 4+ e 14+ diferem das raças 4 e
14 clássicas por apresentarem habilidade em parasitar a cultivar Hartwig.

Atualmente registra-se cerca de 50 cultivares com resistência ao NCS,


mas como há o sério problema fitopatológico causado pela ferrugem
asiática há a recomendação por plantio de cultivares de ciclo curto, que por
sua vez não dispõem de resistência ao NCS.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Nos últimos 20 anos o nematóide reniforme vem aumentando em


importância na cultura da soja no Mato Grosso do Sul. Já é considerado um
dos principais problemas da soja e está disseminado em mais de 20
municípios do estado de MS. Acrescenta-se, também que já houve relatos
de danos nos municípios de Bela Vista do Paraíso e Cornélio Procópio, no
norte do Paraná. Muitos trabalhos precisam ser feitos para estabelecer um
método consistente de controle genético do Rotylenculus reniformis. O que
se tem depreendido é que as principais fontes de resistência ao nematóide
de cisto da soja (NCS), exceto a PI 88788, conferem resistência a R.
reniformis. As cultivares de soja resistentes ao NCS já liberadas no Brasil,
especialmente, aquelas derivadas de ‘Peking’ (‘Custer’, ‘Forrest’, ‘Sharkey’,
‘Lamar’, ‘Pickett’, ‘Gordon’, ‘Stonewall’, ‘Thomas’, ‘Foster’, ‘Kirby’ e ‘Padre’,
dentre outras), da PI 90763 (‘Cordell’) ou da PI 437654 (‘Hartwig’) merecem
ser avaliadas quanto à resistentes ao nematoide reniforme.

As plantas transgênicas são obtidas com a transferência por técnicas


biotecnológicas de manipulação do genoma. Parte-se da identificação de
material com gene de resistência (gene R), posteriormente identifica-se e
isola-se esse gene R. Depois este gene será introduzido num genótipo de
interesse comercial que deverá expressar como sua a característica de
resistência ao nematoide. Os métodos são vários que vão desde a Fusão de
Protoplastos inteiros até a transferência de seguimentos do DNA que
podem ser a transferência indireta e direta de genes. Na primeira utiliza-se
um vetor como Agrobacterium tumefaciens e A. rhizogenes. Já a
transformação direta de DNA utiliza-se de métodos físicos ou químicos,
como a transformação com polietilenoglicol (PEG), eletroporação e
aceleração de partículas.
4 CONTROLE CULTURAL

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O controle de nematoides por meio de práticas culturais é
importante e recomendável forma de conviver com o patógeno instalado no
ambiente. Dentre as práticas temos, segundo os preceitos da agricultura
alternativa, um manejo adequado do solo, da nutrição e do cultivo, fator
fundamental para a sanidade da planta. Uma nutrição equilibrada que
proporcione à planta uma boa condição fisiológica promoverá uma maior
resistência às fitomoléstias. O estado nutricional na planta hospedeira é um
dos fatores que pode minimizar os prejuízos causados pelos fitonematoides,
pois plantas bem nutridas suportam melhor o ataque desses patógenos
(Huang, 1985).
Algumas práticas culturais já foram avaliadas e estão descritas a
seguir:

4.1 ALQUEIVE OU POUSIO

Consiste em manter a área limpa, ou seja, sem cultivo com qualquer


cultura ou planta daninha por algum tempo. Com isso, os nematoides que
são parasitos obrigatórios morrem na ausência de hospedeiros, diminuindo
significativamente a população. Porém, nematoides do gênero Meloidogyne
apresentam anidrobiose, ou seja, perdem quase totalmente a água do corpo
e se mantém quiescentes, com atividade mínima por muito tempo e quando
as condições de hospedagem se apresentam ele retorna a absorver água e
volta a infectar normalmente. O alqueive pode ser feito com herbicidas e
recomenda-se realizar arações para expor os nematoides ao sol e aumentar
a eficiência da prática.

Souza et al. (2006) não observaram J2 de M. enterolobii em solo de


uma área infestada submetida ao pousio por oito meses. Entretanto,
goiabeiras transplantadas para essa área, apresentaram infecção (galhas)
após seis meses de plantio. Estes autores concluíram que M. enterolobii
pode sobreviver no solo, possivelmente na forma de ovos dormentes, em
nível populacional indetectável. Assim, esses autores desaconselham a
prática do pousio como forma de controle do nematoide de galhas da
goiabeira.

Outra desvantagem desse método de cultivo é a susceptibilidade do


solo exposto á erosão e o custo de manter uma área inativa, porém, com
gastos de controle de plantas daninhas.

4.2 NÃO USAR GRADE OU QUALQUER TIPO DE REMOÇÃO DO SOLO NO


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

POMAR

O nematoide tem como característica se dispersar em reboleiras, ou


seja, não ocorre em área total, mas sim em locais pontuais e isolados. E a
grade, assim como arado ou qualquer outro implemento que revolva o solo
ao passar por essas reboleiras, que contém altas concentrações de
nematoides, levam consigo inóculos desse patógeno, aumentando assim, a
área infestada no pomar.

Além disso, a grade quebra a estrutura do solo levando a


depauperação física deste e, gradativamente, diminui a sua fertilidade, o
que aprofunda os sintomas do parasitismo do nematoide.

Figura 1. Gradagens ou aração, práticas que devem ser banidas ou reduzidas no cultivo. A
depauperação dos solos revolvidos (A), aliado a dispersão de patógenos de solo como os
fitonematoides em torrões infestados (B) juntamente com outras práticas, podem
comprometer a sanidade de áreas agrícolas.

B
A

Fonte: Almeida, E. J.
4.3 CONSTRUÇÃO DE TERRAÇOS EM NÍVEL PARA EVITAR O ESCORRIMENTO
DE ÁGUA DA CHUVA OU IRRIGAÇÃO

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Assim como os implementos, rodagens, solados a enxurrada é um
excelente dispersor de patógenos de solo, pois carregam de forma eficiente
o inóculo dos nematoides, das cotas mais altas para as mais baixas, onde for
passando. Em terrenos em declive com reboleiras nas cotas maiores
certamente serão dispersas pelas enxurradas. Para isso deve construir
terraços em nível para evitar a dispersão do nematoide trazido pelas
enxurradas e conseqüente infecção e condenação do pomar das cotas mais
baixas.

Figura 2. A construção de terraços em nível pode impedir a disseminação de fitonematoides em


áreas contaminadas para áreas isentas.

Fonte: Almeida, E. J.

4.4 CULTIVAR PRIMEIRO AS PLANTAS SADIAS DEPOIS AS DOENTES

Deve realizar os tratos culturais (roçagem, adubações, pulverizações,


etc) primeiro nos talhões das plantas sadias e depois nos talhões com
plantas doentes. Assim evita-se intercalar passadas em plantas doentes com
sadias, aumentando o risco de transportar inóculos do nematoide para os
talhões livres da praga. Após o manejo do pomar doente, lavar com água
rodas e implementos antes de manejar pomares sadios.
4.5 ADUBAÇÃO ORGÂNICA

A adubação orgânica consiste em usar materiais como estercos de


bovinos, aves (frango, galinha), compostos de material orgânico e as tortas
de mamona, de algodão, amendoim, soja, cana de açúcar, palhas de arroz,
café, etc. O adubo orgânico melhora as condições físicas e químicas do solo
favorecendo desenvolvimento das raízes da cultura. Mas o efeito principal
dessa prática cultural é a adição de populações de inimigos naturais do
nematoide, como: fungos, bactérias, nematoides predadores, protozoários,
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

etc. Ocorre também a produção e liberação de substâncias de efeito


nematicida como o ácido indolbutírico e ácidos graxos voláteis.

Souza et al. (2006) estudaram o manejo de M. enterolobii com


adubações químicas, foliares e esterco bovino, torta de neem e plantio de
menta e mucuna preta sob a copa da goiabeira. Estes autores consideraram
satisfatória a convivência com o nematoide da goiabeira utilizando como
matéria orgânica esterco bovino, pois esses tratamentos reduziram
acentuadamente a população do nematoide no solo. A torta de neem e a
mucuna preta debaixo da copa da goiabeira tiveram efeito secundário.

O uso de matéria orgânica no controle de nematoides vem sendo


largamente utilizada no controle de populações de fitopatógenos, inclusive
os nematoides (LOPES, 2007; GOMES, 2007, DINARDO-MIRANDA e
FRACASSO, 2010). O mecanismo de controle de nematoides por meio de
adição de matéria orgânica envolve vários modos de ação, entre eles, o
aumento da microbiota antagonista ao patógeno, a liberação de
metabólitos secundários, ou a maior capacidade da planta resistir ao
parasitismo, todos atuando de forma isolada ou integrada (RITZINGER &
Mcsorley, 1998).

Gomes (2007) obteve bons resultados com testes de convivência com


nematoide de galhas da goiabeira (M. enterolobii), baseado na adubação
orgânica com esterco de aves, torta de filtro de cana de açúcar e esterco
bovino. Esse autor concluiu que houve redução da população de M.
enterolobii em goiabeiras tratadas com resíduos orgânicos.
Com diversos compostos químicos presentes na torta de mamona, a
ricina, componente altamente tóxico que apresenta interessante atividade

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nematicida, quando liberado na decomposição do material orgânico (RICH
et al, 1988, DINARDO-MIRANDA e FRACASSO, 2010). De acordo com
Dinardo-Miranda e Fracasso (2010), a torta de mamona é uma ferramenta
promissora para o manejo integrado de fitonematoides, pois a aplicação da
dose de 600 kg/ha proporcionou a melhor produção de cana/ha em solos
infestados por M. incognita e P. zea e P. brachyurus, e redução da população
desses nematoides, em relação ao controle químico.

4.6 CONTROLAR PLANTAS INVASORAS HOSPEDEIRAS

Muitas plantas invasoras são hospedeiras de M. enterolobii. Essas


plantas mantêm e aumentam a população dos nematoides num solo
infestado.

Embora seja recomendável o manejo do mato por roçadeiras, a


roçada somente elimina a parte aérea das plantas e mantém o sistema
radicular, onde se encontra o patógeno. Nesse caso, recomenda-se o
controle por herbicidas sistêmicos das plantas invasoras hospedeiras, para
que se eliminem as raízes e o nematoide por ser um parasita obrigatório,
também morrerá.

A Tabela 1 contém a relação das plantas invasoras atualmente


comprovadas como hospedeiras de M. enterolobii.

Tabela 01: Plantas invasoras hospedeiras de Meloidogyne enterolobii.


Planta invasora Nome científico
Agriaozinho Synedrellapsis grisebachii
Agriaozinho Synedrellapsis grisebachii
Apaga-fogo Alternathera tenella
Beldoegra Porutlaca oleracea
Buva Conyza canadensis
Capim-colchão Digitaria horizontalis
Capim-fedegoso Senna occidentalis
Caruru amargoso Erechtites hieraciifolius
Caruru Amarantus retroflexus
Erva-de-Santa-Luzia Chamaesyce hirta
Jitirana-cabeluda Merremia aegyptia
Maria-pretinha Solanum americanum
Picao-preto Bidens pilosa
Serralha Sonchus oleraceus
Sojinha Cleome affinis
Urtiga Urtica dioica
Fonte: Almeida, E. J. (2008)
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

4.7 CULTIVO DE PLANTAS ANTAGONISTAS

Plantas antagonistas são aquelas que na maioria das vezes são


favoráveis à invasão de determinados nematoides, mas não permitem o seu
desenvolvimento e multiplicação, quebrando desta forma o ciclo de vida.
Geralmente são plantas que tem exudato tóxico como a tagetes ou cravo de
defunto (Tagetes spp.) que produzem o composto tertienil que é um
nematicida para as espécies de Meloidogyne. Outras atuam atraindo as
larvas e matando o sítio de alimentação, impedindo que cheguem a fase
adulta, como é o caso da mucuna preta (Mucuna aterrima) e a crotalária
(Crotalaria juncea, C. spectabilis).

Scherer (2009) afirmou que são resistentes a M. enterolobii as


coberturas verdes: amendoim cavalo (Arachis hypogaea) ‘Vermelho’, aveia
branca (Avena sativa) ‘IAPAR-126’, aveia preta (Avena strigosa) ‘IAPAR-61’,
canola (Brassica napus) ‘CAN-420’, canola ‘CAN-401’, capim-moa (Setaria
italica), capim pé de galinha gigante (Eleusine coracana), crotalaria
anguroides (Crotalaria anguroides), crotalaria apiclolice (Crotalaria
apiclolice), crotalaria grantiana (Crotalaria grantiana), crotalaria juncea
(Crotalaria juncea), crotalaria ocraleuca (Crotalaria okraleuca), feijão caupi
(Vigna unguiculata), feijão caupi ‘Australiano’, labe labe (Dolichos lablab),
mamona (Ricinus communnis var. oleiferus) ‘IAC-80’, mucuna cinza (Mucuna
cinerea), mucuna verde (Mucuna aterrima), mucuna preta (Mucuna
aterrima), nabo forrageiro (Raphanus sativus) ‘AL 1006’, nabo forrageiro
‘Jesuita’, nabo forrageiro ‘N4’, nabo forrageiro ‘Seletina Nova’, tefrosia
(Tefrosia candida), timbo (Ateleia lazioveana) e triticale (Triticum aestivum x
Secale cereale ). Nove materiais foram imunes: amendoim ‘IAC-OIRA’,

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amendoim ‘IAC-POITA’, amendoim ‘IAC-TATUI’, azevem (Lollium
multiflorum), centeio (Secale cereale) ‘IPR- 89’, clitoria ternata (Clitoria
ternatea), feijão mungo (Vigna radiata) e soja perene (Glycine wightii)

Franco (2010) concluiu que o milheto (Pennisetum glaucum) cv.


ADR300, amendoim rasteiro (Arachis pintoi), crotalaria (Crotalaria
spectabilis) são resistentes a M. enterolobii. Esse mesmo autor observou o
cultivo e posterior roçagem de crotalaria, milheto e amendoim rasteiro
reduziram a população do nematoide no solo e raízes de goiabeira
infectadas.

O uso de plantas antagonistas deve ser feito com muito critério, pois
há casos em que causam um decréscimo da população do nematoide alvo,
mas um aumento da de nematoides secundários. Há caso em que planta-se
juntamente com a cultura principal, nas entrelinhas. Contudo não haverá
efeito no controle do nematoide, pois a cultura principal está mantendo e
reproduzindo normalmente o nematoide. Por isso, deve-se realizar este
método de controle de nematoides com boa orientação e embasamento
teórico de um engenheiro agrônomo.

As crotalárias além de diminuírem a população dos nematoides, são


leguminosas e, por isso, importantes fixadoras de nitrogênio atmosférico.

Algumas plantas antagonistas apresentam bom mercado de semente.


Por isso o tratamento do solo em área total com cultivo dessas espécies alia
a possibilidade de baixar a população de fitonematoides, enriquecer esse
solo, combater a erosão e ter a semente comercializável, representando
uma fonte de receita.

Contudo, para melhor efeito nematicida, em geral, se incorpora a


planta toda ao solo na época da floração.
5 CONTROLE BIOLÓGICO

O controle biológico é um dos, se não o mais promissor método de


controle de fitonematoides. Destaca-se em razão de sua eficiência,
segurança aos animais e meio ambiente e cada vez mais viável
economicamente.

Essa estratégia de controle consiste em encontrar e reconhecer os


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

inimigos naturais dos nematoides que naturalmente existem no solo, para


cultivá-los e multiplicá-los em laboratório e fazer, posteriormente, a sua
aplicação ao solo reconhecidamente com alta infestação de nematoides.
Esses inimigos naturais atuarão predando, infectando ou parasitando os
fitonematoides e ou seus ovos, culminando na redução de suas populações.

Esses agentes são conhecidos como organismos antagonistas e


compreendem mais de 200 espécies de fungos, bactérias, nematoides
predadores, ácaros.

Desses organismos os de maior destaque são os fungos. Sua forma


de ação se dá por parasitismo de ovos dos nematoides, predação de várias
formas de vida da praga ou por meio de exsudação de substância tóxica aos
nematoides. Os organismos mais estudados são os fungos nematófagos que
utilizam os nematoides como fonte de nutrição. Esse grupo em especial
compreende cerca de 70 gêneros e 160 espécies em estudo ou já sendo
aplicados em diversas culturas em diferentes formulações.

Outro promissor grupo de inimigos naturais são as bactérias


epifíticas ou endofíticas que se associam às plantas ou sua rizosfera
colonizando interna ou externamente os tecidos vegetais. Não causam
moléstias, mas suas exsudações promovem o crescimento das plantas e ou
reduzem a multiplicação dos nematoides.
5.1 FORMAS DE AÇÃO DOS FUNGOS NEMATÓFAGOS

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O primeiro fungo nematófago descrito foi Arthrobotrys oligospora
em 1852 (GRAY, 1988). Desde essa época, uma diversidade de gêneros e
espécies desses microorganismos vem sendo registrados e classificados
quanto a suas formas de ação: ecto ou endoparasitos, predadores, ovicidas,
oportunistas.

No Laboratório de Nematologia da Unesp/FCAV, campus de


Jaboticabal vem sendo realizadas diversas pesquisas com fungos
nematófagos que confirmam a capacidade desses microorganismos
controlar fitonematoides de diversas culturas. Na Figura 4, vê-se raízes de
pimentão em que se percebe a diferença entre plantas “protegidas” com um
coquetel de fungos nematófagos e outra sem tratamento, cujas raízes se
apresentavam com sintomas severos de meloidoginose.

Na figura 5 pode-se observar o desenvolvimento vegetativo de


plantas atacadas por Meloidogyne incógnita em que plantas com adição de
fungos nematoides apresentaram desenvolvimento e produção visivelmente
superior.

Diversos outros testes foram e estão sendo conduzidos em culturas


como, por exemplo, espécies florestais, crisântemo, seringueira, cafeeiro,
olerícolas em geral, goiabeira, citros, cana de açúcar. Esses microorganismos
possuem ainda a possibilidade de serem aplicados em diversas formulações,
inclusive em combinação com fertilizantes organominerais.

Os fungos ovicídas consomem todo o conteúdo dos ovos dos


nematoides após fixarem suas hifas na parede externa e penetrarem e o
colonizarem. Alguns autores acreditam ser esse grupo de fungos mais
eficientes no controle de nematoide do que os demais.

Outros fungos possuem habilidades saprofíticas e podem colonizar o


solo de forma que sua ação se dá por meio de estruturas especializadas na
captura de nematoides ao longo de suas hifas. Os principais gêneros de
fungos predadores são Arthobotrys, Dactylaria, Dactylella e
Monacrosporium. Espécies desses gêneros produzem em suas hifas
verdadeiras armadilhas. Geralmente são parasitas obrigatórios de
nematoides e passam a parte vegetativa do ciclo de vida dentro do
nematoide parasitado.

Figura 4. Plantas de pimentão colhidas 30 dias após o transplante das mudas infectadas por M.
incognita e tratadas e não tratadas com os fungos nematófagos. Sistema radicular da planta da
parcela não tratada (NT) e sistema radicular da planta da parcela tratada (T).
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Fonte: Soares, P. L. M. (2007).

A partir da digestão do conteúdo do corpo hospedeiro são formados


conidióforos que contém numerosos conídios, do lado de fora da cutícula do
nematoide. Após a maturação desses conídios ocorre a infecção de outros
nematoides.

Outro fungo importante no biocontrole é Pochonia chlamydosporia,


um parasita de ovos e fêmeas. No Brasil, isolado deP. chlamydosporia var.
chlamydosporia, proporcionou o controle de nematoides de galhas em
diversas culturas olerícolas em aplicações conjuntas com rizobacterias, de
modo que o produto, denominado comercialmente como Rizotec, foi
registrado para uso comercial em 2016.

Importantes resultados têm sido obtidos, também, nas pesquisas


com gêneros de fungos produtores de metabolitos tóxicos a diversos
fitonematoides, como o Trichoderma, que demonstrou produzir substâncias
inibidoras da eclosão e da mobilidade de juvenis de M. incognita. A partir de
Trichoderma asperellum, T. harzianum e/ou T. viride foram formulados os
produtos BiotrichR, EcotrichR e Quality WG, disponíveis para emprego no

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Brasil, atuando sobre fungos fitopatogênicos e como promotores de
crescimento das plantas tratadas e podendo apresentar, ainda, certo efeito
antagonista sobre nematoides de galhas e outras formas fitoparasitas.

Figura 5. Mudas de pimentão em parcelas infestadas por Meloidogyne incognita e


tratadas e não tratadas com fungos nematófagos, exibindo plantas apresentando
desenvolvimento satisfatório (setas) nas parcelas tratadas com os fungos, enquanto, nas
parcelas não tratadas (testemunha), o desenvolvimento das plantas foi comprometido pela
ação do nematóide.

Fonte: Soares, P. L. M. (2007).


Figura 6. Eletromicrografias de varredura de nematóides capturados por diferentes
estruturas de captura formadas sobre o micélio de fungos nematófagos. A e B) Rede
tridimensional. C) Anel constritor. D) Anel não constritor. E) Ramo adesivo (seta). F) Anel
constritor atípico não constituído por três células dilatadas e infecção já consolidada, conforme
hifas em desenvolvimento no interior do corpo do nematóide (seta).

A B
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

D
C

E F

Fonte: Soares, P. L. M. (2007)

Algumas bactérias do gênero Pasteuria (P. penetrans, P. thornei, P.


nishizawae e P. usgae) possuem grande potencial para emprego no controle
biológico de nematoides. O odo de ação é por meio dos endósporos que
uma vez em contato com a cutícula do nematoide, se aderem e emitem
tubos germinativos que a perfuram e desenvolvem novos endósporos no
interior do corpo levando-o a morte. A eficiência é comprometida pelo fato

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


de que endósporos são imóveis no solo ao contrário de hifas fúngicas que
crescem e se ampliam no ambiente. Outra séria dificuldade é a
impossibilidade de produção massal in vitro, devido a falta de metodologia
viável. Essa bactéria possui alta especificidade in vivo ao nematoide, dessa
forma é muito onerosa sua produção e escala.

Muitos estudos ainda devem ser feitos, contudo o biocontrole já é


uma realidade na agricultura nacional para o controle de fitonematoides.

5.2 USO DE PLANTAS ISENTAS DE NEMATOIDES

Uma das principais recomendações é o uso de mudas isentas de


fitonematoides, pois a dispersão de nematoides por meio de substrato
infestado consiste num dos principais meios ainda nos dias de hoje. Paes-
Takahashi (2015) registraram na região de Itapetininga (SP), a apreensão
pela Defesa Agropecuária de São Paulo, mudas de aceroleira, goiabeira e
amoreira que constataram a presença de M. enterolobii e eram
comercializadas em caminhões ambulantes. Tratou-se do primeiro relato do
parasitismo de M. enterolobii em mudas de amoreira no mundo. E assim são
dispersos várias espécies de fitonematoides todos os dias por meio de
mudas.

Recomenda-se ao adquirir mudas de frutíferas, ornamentais,


principalmente que venham acompanhadas pelo Certificado Fitossanitário
de Origem (CFO) emitido por profissional habilitado assinando
responsabilidade técnica e com análise nematológica.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quaisquer que sejam as táticas de manejo de fitonematoides a


serem adotadas é imprescindível a análise nematológica feita em um
laboratório idôneo para uma tomada de decisão correta e adequada. É com
base na correta identificação da(s) espécie(s) ocorrente e do seu nível
populacional que serão direcionados os devidos métodos de controle a
serem adotados.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

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PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO
CAPÍTULO 16

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


SUSTENTABILIDADE NA AQUICULTURA

1
Laura Helena Orfão
2
Ariane Flávia do Nascimento
3
Jaqueline dos Santos
4
Ronei Aparecido Barbosa

1
Prof.ª Dra. da Universidade José do Rosário Vellano. E-mail: laura.orfao@unifenas.br
2
Prof.ª Dra. da Universidade José do Rosário Vellano. E-mail: ariane.nascimento@unifenas.br
3
Discente do Programa de Mestrado em Sistemas de Produção na Agropecuária. E-mail:
msnjaqueline@yahoo.com.br.
4
Discente do Programa de Mestrado em Ciência Animal. E-mail: barbosaronei@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO

A aquicultura é a produção de organismos aquáticos para a produção


de alimentos ou outros fins. A maior busca da população mundial por
alimentos saudáveis fez surgir uma demanda pela disponibilidade contínua
de produtos aquícolas de qualidade, principalmente de peixes de água doce
e marinha.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

Nas últimas cinco décadas, a aquicultura cresceu, mostrando um


incremento de 39 vezes maior, fornecendo assim grande parte dos peixes
para o consumo humano (TACON e METIAN, 2009), superando pela primeira
vez o fornecimento pela atividade extrativista pesca (FAO, 2010). Esse
acréscimo é reflexo da expansão das áreas produtivas, aumento do
conhecimento sobre as espécies e dos avanços das tecnologias de produção.

Este incremento implica na utilização de insumos, tais como terra,


água, alimentos, energia, produtos terapêuticos e produtos químicos que
levam à exploração dos recursos naturais, e consequentemente, aumentam
a preocupação sobre o impacto da atividade aquícola sobre o ambiente.

Além disso, o aumento da produção aquícola gera impactos


ambientais graças à emissão de gases resultantes da queima de
combustíveis durante o transporte dos insumos e escoamento da produção.
Estas emissões podem resultar em desequilíbrios nos ecossistemas,
especialmente quando excedem a capacidade de transporte dos corpos
hídricos.

Os impactos de uma produção aquícola mal executada podem atingir


escala mundial, assim, estudos sobre suas consequências em relação ao
aquecimento global, acidificação, destruição da camada de ozônio, têm sido
foco de pesquisas (PELLETIER et al., 2007).

A sustentabilidade de uma atividade pode ser medida dentro de


vários aspectos, por exemplo, econômico, social e ambiental. Pode-se
caracterizar uma atividade como sustentável quanto essa prioriza a
produção eficiente sem causar danos ao meio ambiente e respeitando as

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


relações sociais existentes. Dentro deste contexto a aquicultura atual não
se adequa a este conceito e necessita de mais conhecimentos para alcançar
o objetivo de sustentabilidade.

A aquicultura pode ter impactos negativos na biodiversidade da


ictiofauna como também quanto ao lançamento de efluentes ou ainda a
contaminação por resíduos. Mudanças nas tecnologias para tornar a
aquicultura mais sustentável têm sido exigidas dentro de todo o contexto da
cadeia produtiva.

Objetiva-se com este capítulo analisar as metodologias de pegada


ecológica e a avaliação de ciclo de vida quanto a avaliações de
sustentabilidade na aquicultura, incluindo os diversos impactos que são
gerados nos diferentes sistemas.

2 PRINCIPAIS IMPACTOS DA AQUICULTURA

Como em qualquer atividade agropecuária ou industrial, a


aquicultura gera impactos no ecossistema, dependentes do ambiente e das
características do sistema de produção a ser implantado.

Embora danos irreversíveis possam ser atribuídos ao manejo


inadequado da aquicultura, o ecossistema apresenta a capacidade de
resiliência e na maioria das vezes se adapta a atividade.

Os impactos negativos estão relacionados aos diferentes sistemas de


produção. No Brasil a forma de classificação mais usual destes sistemas é de
acordo com a produção. Os sistemas extensivos se caracterizam
normalmente por criações em açudes sem qualquer planejamento e sem o
fornecimento de ração. Já os sistemas semi-intensivos são aquelas
produções em tanques escavados ou viveiros, construídos com a finalidade
de produzir peixes e com fornecimento de ração. Nos sistemas intensivos a
produção ocorre valendo-se da alta densidade de peixes em tanques-redes
ou sistemas de recirculação.

Nas criações extensivas poucos são os impactos negativos da


atividade. Geralmente neste sistema acontece o reaproveitamento de um
corpo hídrico (lago, lagoa, açude, ou pequeno reservatório) destinado à
irrigação, ou qualquer outro fim, para a engorda de peixes. Como na maioria
das vezes não há o fornecimento de ração e a emissão de resíduos não é
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

significativa. A população local de peixes geralmente se encontra em


equilíbrio quanto às diferentes espécies e quanto ao número de indivíduos,
nestes corpos hídricos. A inclusão de uma nova espécie ou de novos
indivíduos pode causar um desequilíbrio local, levando até a extinção de
determinadas espécies. Por exemplo, a inclusão de espécies carnívoras
como dourado ou traíras podem levam a exterminação de peixes menores
como as diferentes espécies de lambaris.

Nos sistemas semi-intensivos são construídos viveiros ou tanques


escavados para a engorda dos peixes. Neste caso os impactos negativos
podem ser oriundos da derrubada de florestas ou áreas de preservação
permanente para construção dos tanques. Muitas vezes se observa o desvio
de um corpo hídrico como um córrego ou mesmo um rio para obtenção das
águas. Outro fator relevante é a afloração de minas de água que podem
diminuir o nível de água no lençol freático. Ainda, é de suma importância
planejar as instalações que não permitam o escape dos peixes para o
ambiente. Por exemplo, o escape de uma espécie exótica ou híbrida pode
acarretar em interferências na cadeia alimentar das espécies nativas. Poucos
são os estudos que avaliaram o impacto de animais híbridos na natureza.
Nesses sistemas há a complementação da alimentação com ração. Assim, o
manejo alimentar correto, como a quantidade e qualidade da ração devem
ser aplicadas para evitar o lançamento de efluentes com altas quantidades
de nitrogênio.

Nos sistemas intensivos ou superintensivos, como os tanques rede


utilizados na engorda de tilápias nos reservatórios e os raceways para trutas,
os animais são criados em alta densidade e consequentemente grande
quantidade de ração é fornecida. Assim, pode haver maior contaminação da
água residuária com alta concentração de nitrogênio, seja por sobras de

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


ração ou por dejetos produzidos pelos peixes. A produtividade é alta, porém
a sustentabilidade do sistema é comprometida por possíveis contaminações
do ambiente. Os impactos causados por tanques rede limitam-se a
contaminação da água por ração ou dejetos dos peixes e ao possível escape
de espécies exóticas. Um fato recorrente nos locais onde se instalam esse
tipo de sistema de produção é a alteração de espécies que pode levar a um
desequilíbrio da cadeia alimentar. Muitas espécies se aproximam dos
tanques rede atraídas pelas sobras de ração e consequentemente facilitam
o ataque de predadores e possíveis contaminações por microrganismos
como bactérias e vírus. Quanto à instalação, este sistema de produção causa
poucos impactos sendo necessário somente um acesso ao local de
instalação (estrada) e alguma estrutura para armazenamento de ração e
materiais utilizados no manejo, respeitando-se a legislação vigente para
construções às margens dos corpos hídricos.

A poluição de águas para consumo humano pode ocorrer devido ao


manejo inadequado na aquicultura. Embora existam poucos estudos, alguns
indícios mostram que os efluentes e resíduos oriundos da aquicultura
podem tornar água potável imprópria para consumo. Para evitar este
impacto negativo são necessários cálculos para dimensionar a produção de
peixes visando uma menor descarga de efluentes, bem como seu
tratamento adequado quando necessário. Na produção em tanques
escavados e em sistemas de recirculação são necessários tratamentos
eficientes possibilitando que a água retorne ao meio ambiente com boa
qualidade. Porém em produções de peixes em tanques-rede, como o fluxo
da água é contínuo, deve-se levar em conta características do corpo hídrico
e da produção para que não ocorram excessivos descartes de resíduos
(ração ou fezes dos animais) que resultem em contaminação da água
tornando-a inapropriada para consumo.
3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE APLICADOS A AQUICULTURA

Muitos indicadores têm sido usados para facilitar os estudos dos


impactos ambientais das diferentes atividades. Na aquicultura a aplicação
desses indicadores é um pouco mais complexa devido à diversidade dos
aspectos ambientais e as muitas variáveis envolvidas no processo de
produção. Nesse sentido, são necessárias adequações para estudar as
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

interações entre as variáveis e os fatores naturais não padronizados que


interferem na produção de organismos aquáticos (Figura 1).

Figura 1. Principais interações ambientais que sustentam o aumento da produção


aquícola. Adaptado de Samuel-Fitwi et al. (2012)

Fonte: Elaborado pelos autores


A grande quantidade de nutrientes e matéria orgânica resultante

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


da alimentação artificial fornecida (ração de alto nível proteico) é inserida
nos corpos hídricos utilizados na aquicultura e produzem efluentes
altamente carregados em nutrientes. Esse carreamento de nutrientes
conduz a um aumento substancial na produção primária, subsequente
decomposição de matéria orgânica e aumento da demanda bioquímica de
oxigênio (DBO), limitando a capacidade de carga do sistema aquático
receptor, embora essa limitação seja altamente dependente do ecossistema
receptor desses efluentes. Portanto a quantidade de nutrientes dispendidos
nos efluentes dependerá da quantidade de ração fornecida e do
aproveitamento dessa ração pela espécie produzida.

O escape de peixes ou de outras espécies aquáticas dos locais de


produção leva à transmissão de doenças e à introdução de espécies exóticas
ou invasivas, que irão competir com a flora e fauna nativas (CASAL, 2006;
STEPIEN e TUMEO, 2006). Tais efeitos são difíceis de mensurar, mas podem
causar grande modificação na interação ecológica complexa dos ambientes
naturais. Além disso, as espécies que escapam podem cruzar com os
estoques nativos, o que implica na hibridação e introgressão de genes nas
espécies nativas, influenciando assim o desempenho reprodutivo dos
indivíduos, bem como as populações em termos de frequência de alelos.
Algumas pesquisas afirmam que esses escapes não afetam as populações
nativas, e que este é um problema específico da aquicultura devido a alta
variabilidade de espécies produzidas. O escape de espécies exóticas exige a
incorporação de medidas de acompanhamento e prevenção específicas na
aquicultura, as quais ainda não estão disponíveis.

Recentemente, os estudos de impactos da atividade aquícola no


meio ambiente têm focado na quantificação da emissão de matéria
orgânica, gerando modelagens dos respectivos impactos. Os métodos de
avaliação de impactos consideram danos ambientais associados a atividades
específicas durante todo o ciclo de vida produtivo de acordo com sua
contribuição para determinado impacto ambiental desde a obtenção de
insumos até o produto final. Os impactos avaliados são: consumo de energia
elétrica e combustíveis fósseis, emissões de gases de efeito estufa,
acidificação por emissões de gases ácidos, eutrofização (resultante da
liberação de nitrato, nitrogênio amoniacal e fosfatos), liberação de
substâncias que afetam a camada de ozônio, ecotoxicicidade e esgotamento
dos recursos bióticos e abióticos.

Entretanto, é importante observar que os indicadores de impactos


atualmente utilizados, focam as mudanças climáticas, especialmente a
pegada de carbono. Este indicador tem influenciado as escolhas de
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

consumidores e decisões do mercado, devido a fácil comparação entre os


produtos usando simplesmente os valores de emissão de dióxido de
carbono. Porém, a pegada de carbono é um de muitos indicadores de
impactos, e este não reflete os impactos gerais de um sistema de produção,
por exemplo, as emissões de dióxido de carbono são principalmente
relacionadas ao uso de energia à base de combustível fóssil. Sistemas de
produção aquícola que não utilizam energia podem ser considerados como
ambientalmente favoráveis em relação àqueles onde são necessários o uso
de equipamentos dependentes de combustíveis para seu funcionamento.
Sendo assim, outras emissões que não aquelas oriundas do uso de energia e
que potencialmente podem impactar o ambiente são completamente
ignoradas. Portanto, para avaliação dos impactos na aquicultura, a análise é
mais exigente devido à complexidade do sistema de produção que faz uso
de uma grande diversidade de insumos e recursos de diferentes origens.

Consequentemente devem-se utilizar indicadores multi-impactos


como análise de pegada ecológica (PE) e avaliação de ciclo de vida (ACV),
que são metodologicamente mais avançados. Ambos os indicadores têm
como objetivo proporcionar uma completa visão dos impactos ambientais
de um produto. As análises de PE e ACV levam a tomadas de decisões que
visam mudanças nos sistemas de produção a fim de reduzir os impactos
ambientais identificados. Por exemplo, através de uma abordagem holística
multi-impacto essas ferramentas consideram todas as formas de emissões a
nível global, consequentemente, cada unidade produtiva identifica o real
impacto que causa ao ambiente.
3.1 ANÁLISE DA PEGADA ECOLÓGICA (PE)

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


Em 1990, desenvolveu-se um conceito para medir a demanda
humana no ecossistema da Terra comparando o consumo humano com a
capacidade de regeneração biótica global (MONFREDA et al., 2004;
WACKERNAGEL et al., 2004). Ou seja, a análise de PE quantifica a demanda
humana da natureza através da avaliação das áreas de terra e de água
biologicamente produtivas necessárias para produzir os recursos
consumidos e para absorver os resíduos correspondentes. O consumo
humano de fontes naturais é convertido em uma medida padronizada de
área de terra conhecida como hectar global (gha).

A PE tem sido adotada na aquicultura por indicar grandes


diferenças dos impactos de acordo com os sistemas de produção (LARSSON
et al., 1994; BERG et al., 1996; KAUTSKY et al., 1997; FOLKE et al., 1998; Roth
et al., 2000; BUNTING, 2001). Estes resultados mostram que uma produção
intensiva exige maior quantidade de hectares globais para a regeneração da
capacidade biológica a cada ano, tornando a dimensão da produção um dos
fatores mais importantes sobre o ambiente.

Na aquicultura, a PE será diferenciada de acordo com a intensidade


de produção. Em estudo realizado por Berg et al. (1996), verificou-se que na
2
produção de tilápias, a cada 1 m de área de tanques escavados em sistema
2
semi-intensivo seriam necessários 0,9 m de área de tanque para a
2
assimilação do fósforo produzido e mais 0,5 m de área para a produção de
oxigênio consumido. Quando o sistema avaliado foi em tanques-rede,
2
altamente intensivos, a cada 1 m de produção foi estimado uma área de
2 2
115 m para assimilação do fósforo e 160 m para a produção de oxigênio.
Os autores concluíram que do ponto de vista ecológico, o sistema semi-
intensivo de tilápias em tanques escavados é mais sustentável do que o
sistema intensivo em tanques-rede.

Obviamente um sistema de produção não pode ser escolhido


somente pelo ponto de vista ecológico. Para análise de sustentabilidade é
necessário considerar a quantidade real produzida para comparações
abrangentes dentro do aspecto econômico. Para comparar adequadamente
sistemas semi-intensivos com sistema intensivos deve-se considerar a
quantidade total de peixes produzidos em cada sistema.

De uma perspectiva ecológica, cada ecossistema tem uma


capacidade de carga, ou seja, o quanto uma determinada área pode
suportar de um determinado impacto, independente das unidades de
produção. Embora a PE não seja constante para um determinado impacto é
de suma importância que determine a capacidade de regeneração de um
ecossistema.
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

De forma geral, as atividades mais intensas com maior densidade


de produção requerem áreas maiores para a regeneração do sistema, como
é o caso de monoculturas intensivas de salmão e as fazendas de camarões
(FOLKE et al. 1998).

A capacidade de regeneração é altamente dependente das


características do ecossistema e representa um aspecto altamente
dinâmico, o que dificulta a avaliação da PE. Usualmente a PE considera
2 -2
somente a área (m m ) de ecossistema necessária para regenerar os
impactos da produção (BERG et al. 1996). Bunting (2001) recalculou a PE na
produção de tilápias em sistemas de produção semi-intensivos e intensivos
transformando a medida de área de ecossistema em produção anual de
2 -1
peixe (m kg ). Consequentemente, a área necessária para assimilação do
excesso de fósforo, considerando 1 kg de tilápia produzido, foi menor (0,78
2
m ) em sistemas de produção intensiva quando comparada com as
2
produções de tilápia semi-intensivas (1,78 m ).

Além disso, a área necessária para produzir as mesmas quantidades


de tilápia em sistema intensivo é 210 vezes menor do que no sistema semi-
intensivo, refletindo na economia da aquisição de terras. Por outro lado, a
demanda por oxigênio em explorações intensivas é maior do que em
sistemas semi-intensivos, adicionando custos e recursos na produção.

A metodologia PE refere-se à quantidade de terra necessária para


regenerar os impactos de uma atividade específica. Assim, as propriedades
do ecossistema são generalizadas considerando o ecossistema global como
padronizado em termos de bioprodutividade média. Desse modo, a PE é
expressa em hectares globais necessários para sustentar uma determinada

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


atividade humana. Interações específicas para ecossistemas distintos são
negligenciadas nessa metodologia. Isto é particularmente crítico em
ecossistemas isolados, vulneráveis, como recifes de corais. Em particular, os
ecossistemas aquáticos são caracterizados pela multiplicidade de fatores
bióticos e abióticos que subsequentemente determinam o impacto de um
agente estressor antropogênico. Por exemplo, a emissão de efluentes é
altamente dependente da circulação de água e a acumulação ou a
metabolização é muito variável para os diferentes ecossistemas locais com
base na distribuição e abundância da biota.

Quando se utiliza um procedimento generalizado para avaliação


ambiental simplificam-se as interações ecológicas, resultando em PEs iguais
para produtos de origem diferentes (MONFREDA et al, 2004; WACKERNAGEL
et al, 2004). Dessa forma, os valores de PE não consideram as variações
físicas do ecossistema em estudo, por exemplo, as diferenças entre as
características de um deserto e uma floresta. A fim de resolver esta
limitação, Limnios et al. (2009) usou medidas diretas de áreas de terra, em
vez de áreas de terra por volume de produto produzido. No entanto,
somente o uso de medidas da terra em algumas produções, como de frutos
do mar não é funcional, devido às características da produção que são
dinâmicas e relativamente imprevisíveis. Para análise em sistemas marinhos,
é preferível o uso de fluxos ecológicos dinâmicos ao invés de medidas
relacionadas com a área (Roth et al., 2000). Portanto, o cálculo de PE tem
que ser adaptado aos ecossistemas específicos, apropriado à capacidade de
suporte destes ecossistemas e definidos baseados nos tipos distintos de
impacto.

Os sistemas de produção intensivos implicam na utilização de


recursos para alta produção em curto prazo com consequentes prejuízos
para o ambiente em longo prazo. Por exemplo, o aumento na produção de
camarão exigiu a expansão de incubatórios em muitas partes do mundo
levando a depleção local dos reprodutores selvagens, reduzindo assim a
produtividade em longo prazo nos locais de pesca e levando ao
esgotamento biótico dos estoques. O aumento em curto prazo na
produtividade dos incubatórios geram valores inferiores equivocados de PE
porque não se coleta mais pós-larvas do seu meio natural, porém provoca-
se o esgotamento dos estoques naturais de reprodutores em longo prazo.
Limnios et al., (2009) abordou o problema considerando os impactos
ambientais atuais e os potencias. É possível estabelecer os impactos atuais
de forma definida, no entanto atribuir a um impacto um potencial futuro do
ponto de vista ecológico e de biodiversidade é difícil e altamente
especulativo. Pequenos desvios e imprecisões na previsão geram resultados
PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

intensamente divergentes, principalmente devido às complexas interações


ecológicas a serem consideradas.

Além disso, os ecossistemas aquáticos são de longe menos


entendidos do que os terrestres, portanto extrapolar as avaliações de PE
para ecossistemas aquáticos específicos torna-se um grande problema.

3.2 AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA (ACV)

Nas últimas duas décadas, a ACV tem sido muito aplicada como
uma ferramenta de avaliação em diferentes campos para a quantificação da
utilização de recursos e avaliação de impacto ambiental, identificando
pontos importantes (hot spots) no processo de produção. Assim, a extração
e o processamento de matérias-primas são quantificados ao longo do ciclo
de vida do produto, integrando a manufatura do produto, transporte e
distribuição, uso e reuso, além da reciclagem e resíduos (ISO, 1997, 2006).

A ACV pode ser definida como uma técnica para determinar os


potenciais impactos ambientais associados a um produto, mediante a
compilação de um inventário das intervenções ambientais relevantes desse
produto em todo o seu ciclo de vida, desde a retirada das matérias-primas
necessárias à sua produção até a liberação dos resíduos e efluentes no meio
ambiente, avaliando os potenciais impactos ambientais dessas intervenções.

O impacto da aquicultura era medido apenas pela liberação de


resíduos no ambiente. A ACV descreve todo o ciclo, considerando o fluxo de
entradas (desde a obtenção dos insumos, uso de energia, reprodutores,
água etc.) e fluxo de saídas (efluente, resíduos e produto), dando um

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS NA AGRICULTURA


panorama geral da atividade, que inclui todas as atividades relevantes ao
longo de um ciclo de vida. Poucos trabalhos fazem essa abordagem, não
havendo dados disponíveis sobre espécies nativas do Brasil. A grande parte
dos trabalhos especifica fluxos econômicos e os fluxos ambientais são
frequentemente limitados ao ciclo de nutrientes, focando principalmente na
eutrofização. Todos os estudos, além disso, utilizam bases de dados
europeias, através de adaptações regionais, havendo necessidade real para
bancos de dados que representem as tecnologias dos países em
desenvolvimento. Grande parte dos estudos onde são avaliados uma maior
diversidade de impactos foram realizados com salmonídeos.

O principal problema desta metodologia de avaliação de impactos é


a falta de padronização das características das produções. Por exemplo, não
há padronização nos sistemas de produção, assim a avaliação em diferentes
locais geográficos, também é uma comparação da tecnologia de produção
influenciada por alterações nas condições de criação regionais.

Além disso, essa comparação quando envolve processos de


natureza econômica em uma escala mais ampla, podem resultar em
avaliação global tendenciosa, se não for avaliada com cuidado.

Em ACV aplicados na aquicultura as emissões acumulativas de


energia geram impactos potenciais dentro de várias categorias. As emissões
acumulativas de produção dependente de energia são na grande maioria as
emissões diretas do processo de combustão (DONES et al., 2007). Por isso, o
fornecimento de energia primária e a utilização de recursos influenciam em
fluxos importantes da produção, por exemplo, a exploração de terras ou uso
de energia fóssil que não podem ser desconsiderados na avaliação. Isto
implica que diferentes fontes de energia (energia eólica comparada com o
combustível fóssil) podem resultar em grandes diferenças nos valores de
emissão. Por exemplo, a principal fonte de energia do Chile é baseada em
combustível fóssil, enquanto que na Noruega o gás natural é comum. O
impacto dessas diferentes fontes é drasticamente variável resultando em
ACV distintas, pelos diferentes usos de energia e não proveniente da
produção de peixes.

Outras limitações da ACV incluem a diversidade de espécies


produzidas, o uso de unidades funcionais de diferentes dimensões e a
influência do nível de gerenciamento do produtor que resultam em
impactos no meio ambiente.

Apesar dessas limitações, a ferramenta ACV tem potencial de


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

utilização para a avaliação sistêmica, já que integra uma grande variedade


de impactos. No entanto, não são geralmente interpretações conclusivas
devido à diversidade de atividades e espécies aquícolas.

Um dos itens mais importantes para ACV na aquicultura é a


definição da quantidade de fluxos, baseados na coleta de dados. Neste
processo de coleta é preciso adoção de critérios fidedignos para evitar falsos
resultados. Para realização da ACV é necessário averiguar a disponibilidade
dos dados, o tempo necessário para a coleta e realização do estudo e os
recursos financeiros utilizados. Estes fatores influenciarão na escolha do
número de impactos estudados e quais as respostas este estudo irá
fornecer. A escolha de somente alguns impactos pode levar a subestimação
de problemas ambientais graves, diminuindo a confiança de usar ACV para
comparação dos produtos aquícolas. Na Tabela 1 são apresentados alguns
impactos comuns na aquicultura.
Tabela 1- Impactos ambientais específicos da aquicultura. Adaptado de
Samuel-Fitwi et al., (2012)

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EFEITOS NO AMBIENTE.
IMPACTOS DESCRIÇÃO INCLUSÃO DA PE OU
ACV.
Liberação de efluentes das Potencial eutrofização
produções e associado a incluído como potencial
coeficiente alimentar, eutrofização na ACV e
Nutrientes
composição da ração e como área de
processos metabólicos. bioassimilação dos
nutrientes liberados na PE.
São adicionados a ração: Poucos estudos abordam
Aditivos e vitaminas, antibióticos e este impacto.
medicamentos pigmentos. Uso de produtos Não incluído no PE ou ACV.
químicos para tratamentos.
Seleção de microrganismos Poucos estudos abordam
resistentes em animais em este impacto.
Resistência a tratamentos que os transferem Não incluído no PE ou ACV.
antibióticos para outras populações
(inclusive humanos) via cadeia
alimentar.
Disseminação de doenças de Dificuldade de identificar
animais de produção para os doenças em uma população
Doenças estoques selvagens. que foi contaminada por
outra.
Não incluído no PE ou ACV.
Escapes de espécies não nativas, Introdução e
Escapes de ou ainda de um grande número estabelecimento de
indivíduos de indivíduos. espécies não nativas.
Não incluído no PE ou ACV.
Os mangues são áreas de Diminuição de desovas e de
Destruição dos
reprodução que são destruídas nascimentos.
mangues por fazendas marinhas. Não incluído no PE ou ACV.
Captura de Para coletas de gametas ou Diminuição das populações
espécies pesca. naturais.
selvagens Incluído na ACV.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do crescimento exponencial que a aquicultura passou nos


últimos anos e pela exigência de sistemas de produção cada vez mais
sustentáveis é imprescindível que as metodologias de avaliação de impactos
já utilizados em outros sistemas sejam adaptadas às particularidades e
complexidades dos diferentes cenários encontrados na aquicultura.

O grande desafio é adaptá-las de forma que possam refletir


PUTTI; SILVA E GABRIEL FILHO

corretamente, aqueles impactos mais importantes para os sistemas


estudados. E a partir desses resultados, espera-se que decisões buscando a
qualidade e a sustentabilidade das produções aquícolas sejam tomadas para
fornecer ao consumidor um produto de alta qualidade nutricional e que
possa ser certificado como sustentável.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado


De Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade José Vellano (UNIFENAS).

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