Janet Frame foi sem dúvida uma das mais importantes representantes da narrativa de seu
país natal, Nova Zelândia. Sua obra obteve fama internacional a partir de um filme da
escritora, que foi acolhido pelo público do Festival de Veneza de 1990 com grande
Para alguns leitores, a Nova Zelândia já existia no mapa da literatura por um dos pilares
que a família Beauchamps zarpou de Londres rumo a nova Zelândia em 1906 depois de
uma temporada no continente, e esse mesmo navio que em 1964 levou Frame de volta à
sua pátria seguindo a mesma rota, não se interpõe só a distância entre o modernismo e a
A distância entre as duas é também o abismo que existe entre a filha de um banqueiro
Mansfield abandonaria seu país natal em 1908 para nunca mais voltar. Vitimada por uma
doença pulmonar, faleceu muito jovem. Outra enfermidade, muito diferente, alimentou a
Ao invés de nos estendermos nas diferenças entre as duas escritoras, talvez seja melhor
retroceder no tempo, até a"Mansão do desespero" descrita pela predecessora comum das
escritoras ocidentais, Mary Wollstonescraft em sua novela póstuma "Maria or the wrongs
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Frame, Janet. Un Ángel en mi mesa. Barcelona: Seix Barral,1991. Trad.Ana M.de la Fuente.
of the women". Neste romance a autora descreve a miséria e a opressão peculiar em que
as mulheres viviam e que se originava dos costumes e das leis da sociedade. A heroína,
Maria, foi forçada por seu marido a ir para um manicômio pois este queria controlar sua
foi obrigada a viver, tornou-se um símbolo das instituições criadas pelo poder masculino.
Maria, no entanto, não encontrou nenhuma razão para lutar por sua sanidade ou sua
liberdade: "Não era afinal o mundo uma grande prisão onde as mulheres nascem
escravas?"
Para Frame segundo nos conta em sua autobiografia, a saída da "mansão" que em seu
caso também eram as instituições psiquiátricas onde esteve durante oito anos e onde levou
250 eletrochoques se deu graças a palavra, instrumento que abriu as portas para a
escritora.
Em seus livros não há apenas protesto pessoal, mas também social. Não existe somente
o desejo de abrir uma a uma as portas do ego, mas também a denúncia explícita de uma
situação opressiva.
O resultado é uma obra prima do que Moers denomina gótico feminino. Nos anos 60, esta
linha produziu outros romances importantes como "The Bell Jar" da poeta norte-americana
Silvia Plath. Curiosamente, Plath que também sofreu a experiência do internamento e dos
algumas semanas de seu suicídio naquela cidade. Também Frame escreveu em Londres
"Faces in the water" seu segundo romance ainda de cunho autobiográfico, em que narra
Ao contrário de Plath, para Frame a estada de sete anos em Londres, significou um feliz
ponto final ao erro médico que a qualificava como esquizofrênica e que a manteve durante
"An angel at my table" pode ser considerado como uma das novelas autobiográficas mais
originais do século XX. Neste livro não há sensacionalismo nem rancor pela família por
Assim, com relação a epilepsia do irmão descrita no livro, a mãe declara que nunca
não só o internamento de Frame, mas também uma lobotomia. Desta operação a escritora
é salva por sua literatura pois ela já havia publicado seu primeiro romance e ganhou um
prêmio literário. Se não fosse este prêmio, esta inquietante escritora teria perdido sua
Creio que a força dos escritos de Frame, sua ironia sempre presente, a tornam, junto com
Plath uma das artífices que escavaram uma porta de saída da mansão do desespero de