Denilson Lopes 1
Houve um momento, na segunda metade dos anos 90, em que o travesti2 atingiu um
inteiro, a MTV e a Hollywood, sem falar na sua presença em programas de auditório, talk
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Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, presidente
da Associação Brasileira de Estudos de Homocultura e pesquisador do CNPq. Autor de Nós os Mortos:
Melancolia e Neo-Barroco (RJ, 7Letras, 1999) e O Homem que Amava Rapazes e Outros Ensaios (RJ,
Aeroplano, 2002).
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Uso o termo travesti, num sentido amplo, mas seria interessante lembrar uma distinção entre transexual,
travesti e transformista. Todos envolvem cruzamento de fronteiras entre o masculino e o feminino. Os
transexuais sentem-se mulher, desejam cruzar a fronteira radicalmente, se servindo até de operação de
troca de sexo. Os travestis vivem 24 horas do dia como travestis, carregam em seu próprio corpo as
ambigüidades do masculino e do feminino e, sobretudo, aqueles que trabalham na prostituição não fazem
a operação de troca de sexo. Já os transformistas, de longa tradição no teatro e no mundo dos espetáculos,
como as drag queens, apenas se servem da troca de papéis de gênero por motivo de trabalho, durante um
período do dia, não implicando alteração do corpo com hormônios ou outros recursos cirúrgicos. É claro
que esta separação não é estanque, podendo haver uma passagem de uma possibilidade para outra. Para
mais detalhes, ver OLIVEIRA (1994, 38/48).
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Ver Wilkins (1996), Norbury (1994), Chermaieff et al. (1995), Fleischer (1996)
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carnaval, Roberta Close vira símbolo sexual e a presença de travestis na televisão deixa de
ser tema exclusivo de programa policial ou atração exótica. Também não se deve esquecer
que talvez por ser o lado mais visível de uma subcultura gay, embora a rigor a ela não se
Garfinkel, Esther Newton até recentes trabalhos feitos sobre o travesti brasileiro. Agora
que a moda drag parece refluir e se estabilizar quase num lugar-comum, deixando o
modismo de lado, é o momento de repensar o travesti não como um grupo social a ser
Harlem em Nova York onde gays latinos e negros dançavam imitando poses. O travesti
não é uma simples construção intelectual, que coloca o artifício como uma categoria
bem antes das atuais discussões sobre corpo e tecnologia. Não se trata aqui de falar de um
atravessa nossos desejos e emoções, nossas incertezas e nosso lugar no mundo. Sendo
assim, é aqui um travesti que fala, neste misto de testemunho, crítica autobiográfica,
identidade (MUÑOZ, J.: 1999, 11/2), construído por fragmentos de textos e imagens.
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Sempre fui fascinado e não atraído por travestis, na mesma proporção em que atraído por
homens fortes, sem ser fascinado por eles, embora nunca tenha usado vestidos, salto alto,
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maquiagem, nem tenha trejeitos nos gestos, afetação na voz. Não importa. Sempre me
senti que, se eu tivesse uma alma, ela seria travesti. Não me pergunte por que, como. Eu
só sinto que cada parte de mim transita por gêneros e desejos que cada vez menos consigo
que me constitui, me faz ser o que sou. É bom parar por aqui, ou não? Demasiado
alegria, numa alegria afirmadora da realidade, em todas suas nuances e fantasias, me faz
presente. Agora, aos 30 anos, pareço reconquistar o desejo de descobertas. Por favor,
Coco Peru, me guie por este caminho que começo a trilhar. Tantas estórias ainda por
existencial mas uma tática de coexistir numa sociedade onde o primado é o da velocidade. Há
Silviano Santiago , entre memória e olhar, narcisismo e tribalismo,. Seu centramento na vida
pessoal, íntima, se configura como uma estratégia complexa e difícil de ser mantida frente às
em Nova York, é uma Mme. Bovary atual, cindida entre a realidade e a fantasia. Longe do
Brasil, exilada pelos pais quando da descoberta de sua homossexualidade, deseja a praia, o
sol do Rio de Janeiro, e Ricky, em quem ela vê um James Dean reencarnado, a possibilidade
de uma grande paixão e não um mero michê. Stella Manhattan é um romance de ilusões
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Para estudos sobre travestimento e aubiografia, ver Pat Califia (1997) e Maria Consuelo Cunha Campos
(1999).
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articular satisfatoriamente o efêmero e o durável nas relações pessoais. Stella, no fim, pode
dizer "agora sou uma estrela". Ainda que ela tivesse morrido numa prisão americana,
violentada pelos presos (uma das versões do fim), o que há de mais belo e terrível do que
uma morte sobre a lama? Uma morte em pleno ar como estrela? Stella, de fato, não morre,
ela desaparece nas palavras dos outros personagens. Seu corpo se dispersa. "Viado não
Não mais o ressentimento acumulado, nem o silêncio, nem o desaparecimento. “No more
crying games”. Novos jogos em que os papéis são trocados, em que sejamos abertos
quando o inesperado entra na nossa vida, que o ridículo não nos impeça de subir
“montados” nos desertos mais ásperos, como no filme “Priscila, a Rainha do Deserto”, só
para realizar um sonho, só por um ato gratuito, de afirmação. Um simples trejeito revela
um mundo.
Teatro do desejo eu sigo, rompendo expectativas, colocando cada vez mais a dimensão da
experiência no ato crítico. É tempo de esquecer leituras e ver o que resta delas no corpo.
(1997) e Jameson (1994), que não conseguem ir além da imagem como última etapa da
teatro do mundo para nos livrar do tédio e da indiferença diante do excesso de imagens,
sem cair no fascínio nostálgico pela autenticidade. Nas ruínas, jogar não é apenas a atitude
Em Cobra de Severo Sarduy, como bom herdeiro do grande romance neo-barroco cubano, o
temor não se trata tanto, como no Barroco, de uma tensão entre mundo e transcendência,
mas entre cópia e original, (CHIAMPI, I.: 1994, 19), ou melhor da precariedade do
simulacro. Cobra é uma espécie de herdeiro do príncipe melancólico, "o mártir do exílio num
corpo simulante" (idem, 19). Seu dilema, particularmente, num primeiro momento, é
cristalizado no tamanho dos pés. "Meu Deus (...) por que me fizeste nascer se não era para
ser absolutamente divina?" (idem, p. 11) Mas a sucessão de violências, remédios, culmina
numa metamorfose poética: dos pés de Cobra nascem flores (idem, 37). Vitória da poesia
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Meu corpo se renova, tira as amarras dos temores e se expõe livre, forte. A cada olhar ele
se faz diferente, atento ao olhar do outro. Me faço espetáculo, na rua, na sala de aula,
quando agora escrevo. Pego gentilmente meu casaco. Me protejo. Caminho. É hora de
com uma voz que não conhecia. A canção está presa na garganta. Ela vai começar. Ela
está começando.
Life", como lema e desafio: "Eu sou muito superficial/Odeio tudo que é
convive com novos ritos tribais, como no estilo vogue, nome tirado da
nightclub, talvez não sejam ninguém. Foi essa tragédia romântica que
Minelli cantando “New York, New York”, seus braços querendo saltar do corpo, o corpo
querendo sair de si mesmo, numa explosão, numa dispersão. Lembro Judy Garland, no fim
palhaço”. Lembro Rita Lee cantando I wanna be a star, mesmo dizendo que é a ovelha
Só queria escrever algo de tão simples e direto que fizesse você ficar feliz, mas só o que
consigo pensar é em textos e imagens já feitas. Meus sentimentos são canções. Meus
desejos, cenas de filme. Meus sonhos, literários. Quero me desnudar e sempre encontro a
pose, a afetação, a escritura. A vida não me é suficiente a não ser como teatro.
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Suspendo um pouco o vestido. Suave desço as escadas. Feliz, apenas feliz. No meio da
escadaria. Continuo a descer as escadas. O pé direito está suspenso. O braço direito toma
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uma espécie de serviço militar social; não posso ficar isento, não posso
(Andy Warhol). Tentei o excesso. Sonhei com o sucesso. Minha vida, pequenos
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momentos. Quis que as palavras me dessem o que não tenho. Hoje, apenas busco as
palavras da minha estatura. Depois da procura do brilho, quando chego em casa e caio em
mim, que máscara é esta que me faz companhia? Rio disso tudo.
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Antes escrevia para explicar, me justificar; maquiava sentimentos com idéias e teorias, me
escondia por trás do professor. Pegava os restos de leitura e construía textos, me criava
uma impostura, o intelectual iniciante. O que resta agora sou eu diante do texto. Não
quero mais idéias como muletas ou escudos, que elas morram se não forem vivas, se não
experiência.
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criminoso, da humilhação, como em Jean Genet: só resta a solidão, estar com suas
próprias imagens. Norma Desmond revê sempre seus próprios filmes em “O Crepúsculo
dos Deuses” (“Sunset Boulevard”) de Billy Wilder, talvez para ter a ilusão de ainda ser
uma grande estrela, talvez apenas para existir. Envelhecendo naquela cadeira, no quarto
escondido, Saul do romance Onde Andará Dulce Veiga? de Caio Fernando Abreu, só com
suas, minhas lembranças, tão apaixonadamente obcecado por Dulce Veiga, síntese das
divas da MPB, a ponto de querer ser ela. Quando isso vai chegar? Eu sei que vai chegar.
Temo mas vai chegar. Os poucos amigos mortos. Os conhecidos distantes. Ninguém
precisa mais de mim. Queria uma cena menos dramática. Como não seria dramática? Vem,
morte, me arrebata como um cavaleiro andante, Percival nas campinas da Índia. Faz da
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minha dor uma última máscara, um riso lancinante, que nunca se ouviu. Morrer mil vezes
tremendo, tateando seu corpo. Uma fruta delicada. A polpa demora a se decompor, a
revelar a ossatura dura. Os traços ganham novas amibigüidades, montanhas, vales, rios. O
relevo do corpo ganha em diversidade, não mais a planície sem fim. Poderia me perder na
minha própria pele. É isso que penso hoje, 1999, quase aos 33 anos, em mais uma manhã
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Os olhares violentam. Cresço como se fosse sair de mim mesmo. A cabeça é um mundo de
velozes. Minha voz apaga o tempo. Os alunos se foram. Perdido, caminho pela
universidade. Não há mais palco. Exausto, pego o carro. Mal consigo dirigir. A cidade
fere. A solidão devasta. Não há voz para este desamparo. No parque. A cada pessoa por
que passo, desejo penetrar nos seus olhos, ser um outro, ser de qualquer um. Qualquer
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selvagem que se oferece, provoca. A voz de um, o corpo de outro. A voz que devora o
mundo, me devora. Corpo em que mergulho, sonho. Got to be there. Chaka Khan, I feel
love for you. Como evocar esses desejos em que o corpo se faz música e a imagem,
desejo? Mas quando olho no espelho não é uma diva, nem um adolescente que vejo, mas
um homem adulto, ainda jovem, vá lá, mas que nem sempre se sente jovem e gosta disso,
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meio gordo, meio calvo, óculos pequenos, olhos menores ainda, dizem que quando estou
com cabelo curto, lembro Mário de Andrade. Não sei, às vezes, me cansa escrever em
distanciar do que sinto, vivo. A escrita acaba por seu meu espelho melhor, o que eu
escolhi.
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Também queria cantar. Também queria tocar. Cada homem bonito levar pra casa, levar
todos, todos meus, mesmo que não fossem. Quando aquele menino veio falar comigo, só
olhava sua boca, desejo de mordê-la. Mal me concentrava no que estava falando. Esqueci
que uma aluna tinha marcado pra conversar comigo. Parece assim, sempre. As imagens
fugazes e fragmentadas ocupam um lugar cada vez mais enorme. As pessoas não ficam.
Meus olhos cansarão? Eu cansarei? A solidão bate em cada intervalo. Só a escrita me fará
companhia, quando tudo for mais lento? O que me espera quando o que me cerca não
houver mais? Por que pensar isso? Tudo clichês e frases feitas. Tento recomeçar, procurar
caminho entre essas ruínas, mas o que fazer se toda estória, idéia esconde uma banalidade
presente ou futura?
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Pego a bolsa. Saio de casa. Rápido, de carro. Nos corredores, não mais invadido, tomado
por cada olhar. Não importa mais, olhado ou não, dou o meu espetáculo. Feliz de ser
homem, mulher, o que eu quiser, o que você quiser. Quando o dia vai nascendo, vou me
transformista, falar da máscara para falar de si. Cada verdade é uma impostura; cada afeto,
uma afetação; cada gesto, uma pose; cada momento, uma encenação; cada voz, um canto.
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1, 2, 3, filmando. Agora, as cortinas se abrem. A cena vai começar. Ela já começou. Não é
amparar quando não houver mais o que falar, nem por que agir, nada por fazer? Só aquela
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Lembro das coletâneas compradas de Diana Ross e Dionne Wariwck, quando tinha 10, 12
anos. Faz tanto tempo que só me lembro que na época queria começar a fazer uma
discoteca, procurando conhecer mais a fundo cantores de que gostava. Era época dos
músicas disco de Ross. “I’m coming out”. Com certeza, não sabia o que a letra podia
significar, mas gostava da alegria. Sem poder ver “Os Embalos de Sábado a Noite”,
imitava os trejeitos de John Travolta. Proibido para menores de 16, ou seria, menores de
14? Só anos depois, vi o filme numa sessão da tarde, sem mais a magia de antes. Continuei
gostando de disco. “Dance bem, dance mal, dance sem parar, sem saber dançar”
tantas mudanças, mas esta música não mudou. Me lembro ainda da voz de Gal cantando.
Já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim. Eu, que criava amigos
poderia dar o fora em alguém? Depois, veio a era dark. Siouxsie e sua versão brasiliense,
Marielle, do Arte no Escuro. Por que as divas parecem mais interessantes quando não as
vemos ou quando estão no passado? Marielle, pequenininha no palco. Siouxsie parecia tão
porque eu não era como elas; mas sua energia, excentricidade, me faziam aceitar o que
sou, ou melhor, me davam força de aceitar minha diferença. As divas são também homens
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frágeis, andróginos, gays. Morrissey afetado, coberto de flores no clipe de “The Boy with
the Thorn in his Side”, ainda pertencendo aos Smiths, ou dançando num deserto em
sonhos, fora de época. Então veio David Bowie (GUTMAN, D. e THOMSON, E.:
1993), com todas as suas transformações, freak estiloso. Redescobri outros anos 70.
Depois, Bryan Ferry, já não mais no Roxy Music, a eterna elegância, como depois ia ver
em Sade Adu e Duran Duran. A moda como forma de beleza etérea, música sinuosa, soul
chic, dor suave. Houve também Madonna5, Marina, Bjork, certamente outras e outros.
Houve filmes de estrelas arrogantes de bom coração, com frases de efeito. Houve os
Rosalía de Castro, ouvidos numa paisagem de “Morro dos Ventos Uivantes”, o filme, ou
de “E o Vento Levou”: “Não cuidarei dos rosais que ele deixou, nem dos pombos: que
eles sequem como eu seco, que eles morram, como eu morro”. Como queria alguém assim
para odiar, amar e morrer por! Mrs. Dalloway, perdida no meio do trânsito de Londres,
sozinha em alto mar. Mas também que, no fim, está ao alcance do olhar de quem ama.
“For there she was”. Todos estes personagens me fazem lembrar artigo atento e
emocionado de Richard Dyer sobre Judy Garland e os homens gays. A drag queen da
epígrafe que coloca em Garland sua marca de exclusão e sua força: “eu tinha a recusa de
todos eles, mas eu tinha Judy Garland” (1987, 141). E Vito Russo, o autor de Celluloid
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Há uma intensa produção sobre Madonna, desde trabalhos de fãs e detratores, como I love Madonna e I
Hate Madonna a comentários de Camille Paglia (1993) e diversas coletâneas de ensaios
(SCHWICHTENBERG, C.: 1993; Frank, L e SMITH, P..: 1993 e ROBERTSON, P.: 1996).
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ser gay com ela. A alegria da música pode retirar a pecha de alienação de
("Cabaret" de Bob Fosse, 1972). Você não quer se juntar a nós? Agora,
parece que um outro tempo pouco a pouco emerge. Divas espero que sempre haja. Mas
que eu não me apague diante desses espetáculos permanentes. Agora eu sou uma estrela.
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A ela todos notam quando passa mesmo que não desejem. Eu sempre fico quieto no meu
canto. A ela sucedem estórias fantasiosas e imaginadas. A mim cabe a beleza e o fardo do
cotidiano. Ela fala, mesmo quando escreve. Eu escrevo, mesmo quando falo. Ela gosta de
posições arrebatadas, verdades incontestáveis, ainda que as esqueça logo depois. Eu busco
ouvir, conciliar, deixar que o outro se exponha. Ela busca a alegria, desesperadamente. Eu
vivo com uma dor, constantemente. Depende de quando e onde nos vejam, nem todos
percebem o que tem um a ver com outra, quem é quem. Quando escrevo estas frases, cada
vez tenho mais dúvidas sobre quem estou falando quando digo ela e eu.
Referências6
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Como este ensaio é muito marcado pelas minhas memórias, muitas referências
vieram de cabeça, não sabendo mais onde se encontram.
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DELEUZE, Gilles. “Introdução: Rizoma” in Mil Platôs. Vol. 1. Rio de Janeiro, 34, 1996.
DYER, Richard. “Judy Garland and Gay Men” in Heavenly Bodies. Londres,
FLEISCHER, Julian. The Drag Queens of New York. New York, Riverhead, 1996.
FRANK, Lisa e SMITH, Paul (orgs.). Madonnarama. São Francisco, Cleis, 1993.
1993.
WARHOL, Andy. “Warhol in his Own Words” in Andy Warhol. A Retrospective. New York,
WILKINS, Marc (fotos). Wigstock. New York, St. Martin’s Griffin, 1996.