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Dor e cultura

A dor, componente intrínseco ao ser humano, tem sido alvo de análises que vão
além da prática clínica. Acerca desta temática, a fisiologia aborda que é “um tipo de
dispositivo sinalizador para chamar a atenção para uma lesão tecidual ou um mau
funcionamento fisiológico”. Ademais, biologicamente, ela é um componente necessário
de defesa, indicando possíveis lesões orgânicas. Contudo, a dor não se restringe a um
evento neurofisiológico: a ela, podem ser associados fatores psicológicos, sociais e
culturais.

Sendo assim, o primeiro tópico a ser analisado são as respostas que a dor
desencadeia no indivíduo. Estas podem ser involuntárias – ou seja, instintivas, de modo
a afastar o agente causador da dor – ou voluntárias, sendo estas influenciadas por fatores
socioculturais. Essas reações foram denominadas por Fabrega e Tyma como
comportamento de dor. As manifestações comportamentais são diversas, podendo
incluir caretas, pedidos de ajuda, gritos ou, até mesmo, o ato de mascarar a dor,
guardando-a para si.

Nessa perspectiva, dado que a dor é algo individual, para que saibamos se
alguém está a senti-la, faz-se necessário uma sinalização, especialmente quando a lesão
não é evidente. Quando essa dor “invisível” não é expressa, ela pode resultar em um
isolamento por parte da vítima, posto que o incômodo faz com que o senso de realidade
do indivíduo seja diferente da realidade de outrem. Esse comportamento de privatização
da dor é comum nas sociedades que valorizam o estoicismo e a força, tais como os
anglo-saxônicos. Dessa forma, não expressar a dor pode ser considerado um sinal de
masculinidade.

Quando a dor, por sua vez, é traduzida em um comportamento social, ela


depende da interpretação pessoal acerca do significado da dor. Por exemplo, a
disminorreia pode ser considerada uma dor normal para algumas mulheres, enquanto
para outras, não. Tal interpretação pode ser influenciada por variáveis sócio-econômicas
da vida feminina, tais como a necessidade de continuar trabalhando, mesmo com a dor.
Sendo assim, a aceitação da dor – também determinada por grupos culturais – vão
determinar se ela é vista como um problema clínico que requer solução.

Ademais, acerca da temática “a apresentação da dor”, esclarece-se que cada


indivíduo tem sua forma particular de expressar seu sofrimento. Alguns são mais
expressionistas e divulgam sua dor de forma teatral, entretanto, existem outros mais
contidos, os quais preferem deixar só para si suas queixas. Essas atitudes bem opostas
são determinadas – dentre outros fatores - pela cultura na qual o indivíduo foi inserido.
Isso significa que a cultura tem, portanto, a capacidade de moldar o comportamento do
sujeito e, por conseguinte, já que não existe apenas um tipo de cultura, não haverá
apenas um tipo de comportamento.
Contudo, o modo como o indivíduo reage a suas doenças depende de como ela é
vista pela sociedade e pelas pessoas mais próximas a ele. Os cuidados e a atenção são
imprescindíveis para o indivíduo suportar sua dor, pois é como se ele a
“compartilhasse” com os outros. A maneira como as vítimas se comportam diante de
suas dores chama a atenção das pessoas para seu sofrimento. Sendo assim, o modo
como o doente chama a atenção é uma alternativa de transformar sua dor privada em
pública e, de certa forma, tentar aliviá-la.

A dor, ainda, desempenha grande papel na construção psicológica humana, visto


que ela nos ensina sobre o ambiente e seus riscos, além de nossas limitações. Ela
acompanha todas as fases da vida, sendo manifestada de diversas maneiras: o choro
provocado pela dor em um bebê é um sinal de alerta para a sua mãe; na infância, a dor é
uma punição e indica que a criança fez algo de errado, e o faz sentir-se culpado; no
adulto, a dor emocional é muito frequente devido aos diversos problemas que surgem
nessa fase da vida. A dor trabalha na construção da nossa personalidade e pode ser
manifestada diferentemente para cada indivíduo; em alguns pode ser usado até como um
instrumento de penitência ou autocorreção.

A dor também pode ser vista como um infortúnio, uma desgraça. Essa forma de
representação da dor é vista ao associá-la a uma penitência divina por algo que a pessoa
fez de errado, e este sofrimento pode ser interpretado muitas vezes como necessário
para que o indivíduo possa se redimir de seus “pecados”. Desse modo, percebe-se o
quão grande é a influência da cultura na percepção, tolerância, demonstração e
tratamento da dor. Assim, as expectativas e as crenças dos indivíduos acerca de um
tratamento pode gerar uma dor mais ou menos intensa do que o normal. De forma
complementar, a disponibilidade de agentes da saúde e a forma como o paciente relata
sua dor para o mesmo podem resultar em avaliações diferentes.

O texto aborda, ainda, o contexto de dor relacionado à prática da criação de


filhos. Deve-se ter em mente, pois, que a cultura é algo que nos acompanha desde o
nascimento, sendo passada de pais para filhos, e de geração a gerações. Trazendo isso
para o contexto discutido, a forma como os pais lidam com a dor é passada para seus
filhos dando-lhes atitudes e expectativas em relação à dor que possa ser encontrada
posteriormente na vida.

Comparando-se duas diferentes culturas, é notável a existência de diferenças nas


atitudes e expectativas em relação à dor. Filhos de pais super-protetores (grupos
religiosos) são ensinados a evitar a dor ou fugir dela; essas crianças, portanto, tinham
seus pais como seus escudos e tinham consciência excessiva da dor, de modo que, ao
crescerem, tornavam-se pessoas mais emocionais, exageradas e teatrais.
Diferentemente, os filhos de pais menos protetores (protestantes tradicionais) são
ensinados a enfrentar a dor, tornando-se pessoas menos emocionais, mais insensíveis e
calmos. O modo como as diferentes culturas enxergam a dor pode influenciar, inclusive,
no modo de tratar as disfunções orgânicas.
Além disso, até mesmo a dor do parto também está condicionada pela cultura em
que a mulher foi moldada. Na cultura indiana, por exemplo, ela é muito bem-vinda. As
mulheres em trabalho de parto insistem para aplicarem drogas com ocitocina, esta
atuando ao elevar a intensidade da dor. Segundo elas, quanto mais dor, maior é o sakti,
o poder regenerativo espiritual feminino e o principio da vida. Tal prática não é
analisada da mesma forma por mulheres ocidentais, as quais muitas vezes temem a dor
do parto e recorrem ao uso de anestésicos.

Analisando-se a temática, percebe-se, ainda, que os aspectos religiosos também


são grandes influenciadores individuais. A religião faz parte de toda cultura, e a cura é o
desejo de qualquer indivíduo que está passando pela dor. Nas diferentes religiões, a dor
pode ser compartilhada, enquanto, para outras, a dor é usada para relembrar uma data ou
para punição. Em diversas religiões, os rituais de cura estão presentes. Nesses rituais, a
dor é compartilhada como forma de aliviá-la, ou é incorporada como diagnóstico e cura
– ou seja, a dor era um sinal da cura. Algumas sociedades dos EUA a veem como algo
positivo, um tipo de lição. Muitos grupos religiosos praticam a dor usando a
autoflagelação, podendo ser usado para lembrar-se de uma data (como a crucificação de
Cristo) ou comemorar um acontecimento, como é o caso de alguns grupos xiitas; outros
grupos usam a autoflagelação como penitência a o pecado.

Os significados associados à dor são determinantes no compartilhamento ou não


desse estado com outras pessoas, porém, em muitas sociedades a dor aguda é um ritual
de passagem, cheio de simbolismos e significados, podendo ser também uma forma de
aproximar as pessoas, já que a consciência do sofrimento pode gerar uma conexão
emocional entre elas. Nesta perspectiva, a abordagem dada pela sociedade à dor
determina muitas vezes se vai haver ou não esta conexão, já que pela medicina oriental,
especificamente a acupuntura chinesa tradicional, as agulhas causam uma conexão entre
o paciente e o agente da cura, diferentemente da medicina ocidental, a qual preza o
alívio imediato e a todo custo da dor.

Observando-se através de outros significados, a dor, há muito tempo, vem sendo


usada como uma forma de impor sistemas políticos. Apesar da proibição da tortura,
ainda não estamos livres desse mal. Frequentemente a tortura física vem sendo
acompanhada ou substituída por outros tipos de abuso, como o psicológico, moral ou
sexual, que também ocasionam algum tipo de dor, e podem vir acompanhados da
vergonha, caso a dor privada torne-se pública.

Por fim, a dor pode se apresentar de duas maneiras: aguda, quando começa de
forma súbita, dura apenas algum tempo e desaparece; ou na forma de dor crônica, a qual
perdura continuamente nos pacientes. Esta forma de dor é considerada pelo autor como
um distúrbio privado, que afeta não somente o paciente, mas também as pessoas
presentes em seu meio, interferindo no convívio entre os mesmos.

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