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// AULA DE 02/06/1993 – O "TARDE-DEMAIS" COMO DIMENSÃO DO TEMPO

Aula de 02/06/1993 – O "tarde-demais"


como dimensão do tempo

capa- (http://claudioulpiano.org.br/wp-

grande- content/uploads/2016/10/Capa-Grande-Aventura.jpg)[Temas

aventura abordados nesta aula são aprofundados na Introdução e nos


capítulos 1 (Implicar - Explicar), 13 (Arte e Forças), 18 (Proust,
o Ponto de Vista ou a Essência) e 20 (A Linha Reta do Tempo) do livro "Gilles Deleuze:
A Grande Aventura do Pensamento", de Claudio Ulpiano. Para pedir o livro, escreva
para: webulpiano@gmail.com (mailto:webulpiano@gmail.com)]
PARTE I
Começo com a imagem-tempo, o que eu vou fazer via Visconti
(http:// lmescult.com.br/luchino-visconti/)... ou Proust
(https://www.youtube.com/watch?v=70wO-xjs50w). Via Proust é uma associação com
Bergson, sempre muito difícil. Bergson não tanto, mas o tema é difícil!
O ponto de partida da aula vocês já conhecem, mas esquecem. [É que] na hora em
que o pensamento se associa com o tempo, o que vai desaparecer é o bom senso: entra-
se no paradoxo, aproxima-se do não-senso. O que vou fazer exatamente é a busca do
tempo feita pelo Visconti. Então, pode colocar o lme e logo, logo, vai aparecer o que me
importa. Quando isso ocorrer, corto o lme e começo a falar. [Tem início a projeção do
lme - Morte em Veneza (http:// lmescult.com.br/morte-em-veneza-1971/)].
Deixa o som, não precisa abaixar... porque vai ser praticamente a música... [Ao
fundo, ouve-se a 5ª Sinfonia de Mahler].

GUSTAV MAHLER-Film "MORT A VENISE"-"MORTE A VENEZIA"-"D...

(Eu vou falar):


(http:// lmescult.com.br/morte-em-veneza-
1971/)
A gente tem uma visão fácil de se entender
para quem acompanha o cinema ou lê livros, que
é, ou pode ser, uma ilusão de uma associação entre
o pessimismo e  a aristocracia - ou seja, o
aristocrata pessimista; o otimismo seria uma
herança burguesa.
O Visconti usa muito o pessimismo, que
[aplica] em Burt Lancaster, o aristocrata dele. A
gente pode embarcar nesse pessimismo e não
compreender o que está se passando - uma espécie
de jogo que o Visconti faz. Pensar que tudo se
origina no pessimismo do aristocrata. Então, o que não se pode esquecer, é que há um
pessimismo na Weltanschauung, ou seja, na interpretação de mundo que o aristocrata
faz. Às vezes, confundimos o que vai se passar no lme com esse pessimismo do
aristocrata, mas eu vou mostrar para vocês que isso não tem nada a ver. Embora muitos
dos que assistem a esses lmes do Visconti pensem que a [questão dele] está fundada no
pessimismo do aristocrata, não está. Então... a questão do lme é, literalmente, a busca
da imagem-tempo.
Quando digo busca da imagem-tempo o processo se torna um pouco difícil, porque
implica numa certa cultura, numa certa leitura - não de cinema, mas de loso a. Mas
acho que eu resolvo essa situação com facilidade!
Nós não sabemos o que vem a ser a imagem-tempo, não podemos nem mesmo
saber antes do que vai ser visto e dito; mas sabemos que há uma busca dessa imagem,
com a aparência de uma prática pessimista. O que ocorre é que o cinema, e o Visconti
está na ponta da partida desse processo,   decidiu conquistar o tempo... repetindo a
história do pensamento - a conquista do tempo!
Cada autor que vai fazer essa prática - Orson Welles
(http:// lmescult.com.br/orson-welles/); de uma certa maneira, Mankiewisz
(http:// lmescult.com.br/joseph-l-mankiewicz/); a nouvelle vague francesa - cada um
deles vai utilizar uma estratégia, uma maneira de fazer essa conquista do tempo
(http:// lmescult.com.br/o-ano-passado-em-
marienbad-1961/)Por exemplo: quem viu O Ano
passado em Marienbad (http:// lmescult.com.br/o-
ano-passado-em-marienbad-1961/)[A. Resnais e
A. Robbe-Grillet] assiste à conquista do tempo via
Santo Agostinho - porque o que o Robbe-Grillet
faz é introduzir [as] três idéias de presente do
tempo [do Santo. Agostinho]: o presente do
passado, o presente do futuro e o presente do
presente. Isso não nos interessa no momento, mas
ele vai fazer [a conquista do tempo pela] via do
Santo Agostinho.
Já o Visconti, não! Ele [também] vai tentar
conquistar o tempo, a imagem-tempo, e aquele de
quem ele mais se aproxima é o Proust,
literalmente Proust! Deleuze não diz bem isso aqui mas, se você assistir ao lme do
Visconti, você vai ver que a aproximação da conquista do tempo é realmente Proust. E é
isso que nós vamos ver daqui a pouco: como esse processo vai se dar, de uma maneira
drástica, sofrida, torturante... O que mostra que a arte não tem nenhum compromisso
com o otimismo nem com as tendências do homem burguês. Nada disso. Talvez aqui no
começo tudo pareça terrivelmente pessimista e entristecedor para muitos, porque o que
há de mais elevado no espírito humano, que é a arte, vai nos oferecer uma [visão] muito
trágica - [tendo origem] aí a confusão com o pessimismo. Confusão que nós ainda vamos
fazer por muito tempo, pensando que é isso o que está ocorrendo.
Quando eu falo em tempo, ainda muito mal colocado, uma coisa que tem que ser
de nitiva é que o tempo possui dimensões. Não podemos esquecer esse dado. As
dimensões do tempo são muito fáceis de entender. Ao menos no nível cotidiano,
passado, presente e futuro são as dimensões do tempo. Mas, se por acaso, encontrarmos
um artista buscando conquistar o tempo, o que temos que descobrir é que, em
consequência dessa busca, ele vai produzir [outras] dimensões no tempo: a arte invade o
tempo e produz suas próprias dimensões.
O tempo, então, seria alguma coisa que aceitaria sobre si o ato de produção. É como
se o tempo fosse o próprio caos, ou até melhor dizendo, não é o tempo que a arte
conquista: o que a arte conquista é a eternidade. E ao conquistar a eternidade... gera o
tempo!
Então, como princípio de aula, eu vou dizer que o Visconti vai introduzir uma [nova]
dimensão no tempo! Daqui a pouco vou mostrar como ele faz essa introdução, para vocês
começarem a entender.
A loso a distingue essência e acidente. A essência é algo que pertence à estrutura
de um ser. O acidente, aquilo que ocorre mas poderia não ocorrer. Então, todos nós, na
nossa vida comum, o que temos como ocorrência das nossas vidas são fatos acidentais,
sem a menor importância! O maior sofrimento que um homem tiver não tem a menor
importância, porque todos podem ter. Ele pode ter aquele sofrimento ou pode não ter.
Nenhum homem deveria ter eticamente o direito de dizer eu sofro; ele deveria ter o
direito de dizer eu penso!
Então, a arte não trabalha com acidente mas com essência. E é exatamente essa a
linha de busca da imagem-tempo: buscar uma dimensão essencial ao tempo - e é o que o
Visconti vai tentar realizar em toda a obra dele.
Visconti teve muita di culdade para encontrar a pureza da sua própria obra... mas
nunca abandonou os componentes fundamentais dessa busca - que é a busca da
imagem-tempo.
A maior di culdade, nesta aula, é falar na imagem-tempo... que é realmente muito
difícil  para quem não estuda loso a. No momento, no entanto, vamos car com duas
imagens: a imagem-tempo e a imagem-movimento. A imagem-movimento é a imagem
clássica do cinema e o Visconti vai visar encontrar a imagem-tempo. É isso que ele diz.
[Referência ao lme em projeção]: Ainda está cedo, daqui a pouco vai aparecer o que
eu quero.
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/Marcel-Proust-Em-
Busca-do-Tempo-Perdido-Obra-Completa.pdf)Agora, entendam o que eu quero dizer: há
um livro famoso no século XX, que é a  Recherche
(https://beq.ebooksgratuits.com/auteurs/Proust/proust.htm)do Proust. Recherche:
investigação, busca. Busca do tempo perdido (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/Marcel-Proust-Em-
Busca-do-Tempo-Perdido-Obra-
Completa.pdf). Vejam esse nome: Recherche
do tempo perdido... Buscar o tempo. É isso
que o Proust chama de Recherche. É buscar a
essência do tempo. Não é buscar, recherche
não se traduz por "buscar", porque com o que
o artista lida não é o tempo; ele lida com a
eternidade. Mas é nesse encontro com a
eternidade que emerge o tempo. É uma
emergência do tempo, a partir do encontro
com a eternidade.
A noção de eternidade [aqui aplicada] é a
noção de complicatio. Não vou discorrer agora
sobre essa noção; apenas dizer o que alguns
de vocês já conhecem.
A eternidade é uma matéria caótica, e o encontro do artista com essa eternidade
gera o tempo. Para quê [o artista faz esse encontro]?
Para nada: [esse encontro] não vai trazer para o artista nenhuma vantagem no jogo
do bicho, não vai garantir-lhe um melhor emprego, não vai deixá-lo mais gordo, nem
fazê-lo comer melhor. Ou seja, [esse encontro] não gera nenhum valor utilitário; não
acrescenta mais tempo à vida; não nos produz otimismo; não nos liga a entidades de
felicidade. Nada disso! A arte não tem nada a ver com isso. Nada!
O tempo, para Visconti, é uma dimensão que ele vai criar; isto é, ele vai produzir
uma dimensão, que vocês ainda não conhecem, e é surpreendente: é o tarde-demais. Essa
a dimensão: é incrível!
O que é o tarde-demais? É... quando um homem diz para uma mulher: puxa, é tarde
demais! Quando um revolucionário diz para os seus soldados: é tarde demais! Quando
Deus provavelmente disse para a serpente: é tarde demais! Tarde demais é [quando] não
há retorno, não há volta. Tarde-demais é isso: não há volta. Gravem, porque daqui a
pouco ele [Aschenbach/Dick Bogard] vai falar uma frase... e nós vamos começar a
entender.
Tarde demais: não há retorno no tempo! É exatamente esse, segundo Deleuze, o
elemento importante da relação de Visconti com a imagem-tempo. Uma coisa que
surpreende... e que a gente pensa: isso não é nada, qual a importância que isso tem? Mas
vai ter: ele vai conquistar o tempo por essa gura do tarde demais.
Não sei se vocês conhecem o poema O Corvo (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/o_corvo.pdf), de Edgar Allan Poe, e a famosa frase dele -
Nunca mais (Nevermore). Deleuze diz aqui (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/1985-Cinema-2-A-imagem-tempo.pdf), fantasticamente: o
tarde-demais do Visconti e o nunca mais do Poe têm o mesmo  acento dramático, a
mesma dramaticidade.
Não é a sensação de perda, não, não é nada disso! É alguma coisa que, daqui a
pouco, a partir da fala do Aschenbach que supostamente é o Mahler, ou coisa que o
valha, eu vou começar a falar.
(Prestem atenção!) Já z todos esses enunciados e agora já posso dizer alguma coisa
para vocês. Essa palavra, revelação - olhem que coisa interessante o Deleuze está falando.
Ele diz assim: Como revelação sensível, como revelação sensual, como revelação do professor
- e ele vai usando essa palavra revelação - como revelação da moça, como revelação do
velho... Ou seja, existe uma prática do homem que é rara, extraordinária, mas que em
determinados momentos de sua vida revela alguma coisa - revela um amor, revela uma
tristeza - e marca isso por um olhar, marca por um gesto, marca por uma palavra.
Então, a revelação está na base do nascimento do tarde-demais. Revelação e tarde-
demais. Ou seja: alguma coisa é revelada, mas... tarde demais! Vejam bem, que coisa
estranha - alguma coisa é revelada tarde demais - e isso seria a emergência do tempo;
mas não há ali nenhum pessimismo. Então, ainda é difícil entender, porque parece uma
ação de altíssimo pessimismo... Mas não, não! Não tem nada a ver com pessimismo...
porque a arte não é nem pessimista nem otimista - a arte é trágica!
Aluno: É o amor, Claudio, que é revelado... mas é tarde demais?
(http:// lmescult.com.br/o-leopardo-
1963/)Claudio: O amor, dentre outras
coisas... Digamos que, por exemplo, em O
Leopardo (http:// lmescult.com.br/o-
leopardo-1963/) (ll Gattopardo), o que é
revelado é o amor, mas tarde demais!
E aqui é muito fácil. Não sei se vocês
viram O Leopardo. É muito fácil, porque é a
dança da Cláudia Cardinale com o Burt
Lancaster - ele é o príncipe e ela a lha de um
burguês rico! Eles dançam... Ela vai se casar
com o Alain Delon, que é o garoto bonito,
sobrinho do Burt Lancaster. O Burt Lancaster
dança com ela... e, na dança, ela se entrega
apaixonada por ele, mas... é tarde demais!
Deleuze diz: Enquanto o próprio sobrinho é
rejeitado ao fundo, fascinado e anulado pela
grandeza do casal, é tarde demais, tanto para o velho como para a moça.
Il Gattopardo (Vals Lancaster-Cardinale)

O tarde-demais é nitidamente uma dimensão do tempo que aparece na arte do


Visconti. É então que ele se torna um artista do tempo: porque ele produziu a dimensão
tarde-demais.
O lme Morte em Veneza vai ser necessariamente marcado pela presença dos ashes-
back. São ashes-back brilhantes, porque nada do tempo presente se modi ca. Ele [o
lme] se remete para o tempo passado... mas com o mesmo tipo de imagem [que é
empregada no tempo presente]; você até se confunde - por isso [essa indistinção] recebe
o nome de ponto de indiscernibilidade - às vezes nem se sabe se aquilo dali é um ash-
back. Você tem que prestar uma certa atenção ao lme, porque senão você perde. Salvo
equívoco, é no primeiro ash-back, não tenho certeza, nós vamos ter... [Diante de uma
cena, indica um ator que aparece na tela.] Esse aí é o famoso Romolo Valli - o gerente do
Hotel! Ele é um excelente ator, um ator clássico do Visconti, mas também trabalha com o
Sérgio Leone. Um guraço!
Agora... é preciso lembrar que Proust vai chegar... O Visconti é todo ligado com a
obra do Proust!
Bom. Eu falei para vocês sobre a questão do tarde demais, mas há uma revelação
nesse lme. Vocês vão ver, que existe [um personagem] no lme, um garoto muito bonito
- belíssimo - o Tatzio.
Bjorn Andresen Alla ricerca di Tadzio Death in Venice

O Aschenbach (Dick Bogard) vai ter uma surpresa incrível com a beleza do Tatzio.
Vamos ver essa cena, para eu poder falar. Daqui a pouco... acho que o tarde demais vai
aparecer. Daqui a pouco vai aparecer o tarde demais aí. Depois a revelação! Tarde demais
primeiro, a revelação depois. Aí eu falo para vocês o que está havendo. (Pode aumentar o
volume agora!) Então, quer dizer, Aschenbach não dá importância ao mundo sensível,
não dá importância ao mundo da carne. Toda a arte dele é intelectual, é cerebral. Essa é a
questão dele. Toda a arte que ele faz é cerebral! Não adianta entrar, porque já é tarde
demais...
Nós vamos ver esse tarde-demais já, já. O Aschenbach/Dick Bogard vai descer [do
quarto] do hotel agora... A questão dele é que ele é um artista, e a arte tem sempre uma
questão, sempre um confronto. A arte é produto do intelecto - se for produto do
intelecto é produto do trabalho humano... Ou a arte é produto da sensibilidade - se for
da sensibilidade, se encontra na natureza: a natureza nos dá a arte ou o intelecto produz
a arte.
Aschenbach é um artista intelectual, para ele a arte é intelectual, é platônica... e ele
vai ter uma revelação: a sensualidade imbatível, a beleza de Tatzio. Aí, inicialmente, nós
vamos pensar que ele está tendo processos homossexuais, o que é equivocado. Ele não
está tendo nenhum processo homossexual, ele está tendo uma revelação, que é a beleza
de Tatzio... a sensualidade de Tadzio. Ele vai car inebriado!...
Agora, eu não posso montar muito bem, vocês têm que veri car.... O lme não é um
lme-ação, é um lme-contemplação - o que já é tempo. Já é tempo! Nós estamos vendo
o lme pelos olhos dele [Aschenbach]: é ele vendo... e a gente vendo pelos olhos dele.
Quem trabalhou muito com essa ideia foi Pasolini (http:// lmescult.com.br/pier-paolo-
pasolini/). Chama-se subjetiva indireta livre, vem da teoria literária, da teoria do discurso.
Então, o olhar dele nos revela o lme.
Um dos momentos mais brilhantes desse lme é essa passagem do hotel... Nela,
[dois elementos] vão se encontrar - o ótico e o sonoro, a transbordância da imagem
visual... e uma valsa, fazendo ela eleger-se em --?? --.
É a revelação que transtorna o músico em Morte em Veneza, ao receber do garoto a
visão daquilo que faltou à sua obra: a beleza sensual.  Ele nunca tinha incluído a beleza
sensual em sua obra... Não tinha... e o garoto a revela. É esse o momento do tarde-
demais! É essa a dimensão do tempo [criada]: a dimensão do tempo é o tarde-demais.
Prestem atenção: a revelação puxa para ele criar a imagem-tempo. A imagem tempo
é uma dimensão essencial do tempo: o tempo passa a ter essa dimensão essencial. Não é
um fato psicológico! Eu tenho uma aluna que diz: "sofrido, é muito sofrido...". Não é nada
disso! Tarde demais é uma dimensão do tempo, como se diz passado, presente e futuro.
Pertence ao tempo! Se você quiser [operar] com o tempo saiba que isso vai acontecer: os
paradoxos do tempo, as dialéticas do tempo.
É isso que o Visconti vai trazer, muito semelhante ao Proust. No meio da aula eu
vou tentar passar uma associação com Proust, com o que Proust chama de tempo
reencontrado. O reencontro com o tempo.
Agora o garoto vai fazer uma coisa incrível. [referência ao lme] O garoto é a
exuberância da natureza... o que Aschenbach nunca tinha percebido! A natureza é
exuberante, a natureza não precisa de nada, ela dá tudo. É que ele não via, porque ele
considerava, ele combatia o mal da natureza. [Claudio chama a atenção para o que está
se passando na tela:] Olha só... olha a revelação! Vai enlouquecê-lo, não é? Ele vai entrar
num [processo de] enlouquecimento!
Ele sempre traz alguma coisa que machuca o burguês: o aristocrata chega de viagem,
almoça ricamente e pede para trazer o piquenique. O burguês não entende! Isso não
deixa de passar como um componente para a constituição da imagem-tempo. Figuras
aristocratas. [referência ao momento da revelação, no lme] Vocês sabem que nós
estamos entrando aí no invisível - só quem está vendo o Tatzio é ele: aquela força da
natureza está se revelando para ele [Aschenbach], para mais ninguém! Estão todos [se
relacionando] normalmente com o Tatzio. Muitos pensam que é uma prática
homossexual, todo mundo confunde muito isso. Mas, no nal, ele enlouqueceu
totalmente, ele piorou, o encontro o degradou. Mas aí, não: aí é uma obra de arte que
está... a essência da obra de arte.
Aluno: Claudio, pode fazer.... numa aula você falou de singularidade e indivíduo,
não é?
Claudio: Pode fazer! Pode: ele tem um encontro com uma singularidade!
Aluno: Enquanto para os outros... eles estão em contato com um indivíduo.
Claudio: Os outros estão em contato com um indivíduo belíssimo, é. Ele, o Tadzio,
é um indivíduo.
[referência ao lme] Olha o que o Tatzio vai fazer... Olha lá! Olha lá! Quer ver?
Terrível, terrível! Perturbou o professor!
Deleuze: "A obra de arte é feita de uma queixa, como com as dores e os sofrimentos de
que tiramos uma estátua. O tarde demais condiciona a obra de arte e condiciona seu êxito, já
que a unidade sensível e sensual da natureza com o homem é por excelência a essência da
obra de arte...". Então, a essência da obra de arte, é o que está acontecendo aí. É o
encontro que o homem faz com a singularidade natural. É a revelação, a essência, a
dimensão da obra de arte. Toda a questão do Visconti...
Agora eu vou contar uma história para vocês entenderem a questão da obra de arte...
qual é exatamente a questão da obra de arte:
Um poeta francês, chamado Gérard de Nerval, tinha como prática de vida,
de nitivamente, a compreensão do que vem a ser uma obra de arte. Em seus momentos
de loucura - porque ele transitava numa loucura muito grande, loucura em tudo: loucura
sexual, loucura... ele tinha todas as loucuras possíveis! - ele fazia encontros com
determinadas imagens saturadas de gases, imagens densas, que não queriam dizer nada;
como mais vulgarmente a gente faz com imagens do sonho, imagens hipnagógicas,
imagens delirantes... E ele fazia encontros com uma imagem; colava-se a ela... e a vida
dele se tornava um agenciamento com essa imagem - não dormia, não comia, não fazia
mais nada! - cava o tempo todo grudado na imagem, para extrair a beleza dela.
Então, o artista é isso: o artista é aquele que se associa ao mais surpreendente. A
obra de arte é alguma coisa com a qual a gente se surpreende - inclusive de ela servir ao
burguês, mas ela serve; e você ca sabendo como: ela serve como um mundo que cerca o
burguês e tal. Não é a questão do artista. A questão do artista é pura e simplesmente criar
essa inutilidade absoluta, que é a obra de arte.
[referência à discussão sobre a arte, que passa em ash-back no lme] A discussão é
linda!
Ele está entrando no tempo através de uma imagem hipnagógica, enlouquecida... É
porque o homem tem diante de si um quadro - um quadro muito nítido - que são as
signi cações: as signi cações sociais, as matérias perceptivas de um tempo histórico.
Porque você é educado para entrar nas signi cações dessa matéria perceptiva. Você entra
nelas. E é onde está a marca do artista: ele não entra. Ele se arrisca em matérias vazias e,
para correr esse risco em matérias vazias, ele tem que utilizar seu pensamento. E ele vai
ao extremo nessa experiência. É uma experiência de vida terrível - porque é uma
experiência de loucura, uma experiência de morte - é uma experiência toda original que o
artista vai fazendo [ao longo de sua obra]. Ele entra nessas dimensões do tempo,
rompendo com as signi cações clássicas, com as percepções ordinárias, com o modelo de
campo social de um determinado tempo histórico.

PARTE II

"O tarde-demais condiciona a obra de arte, e condiciona seu êxito, já que a


unidade sensível e sensual da natureza com o homem é por excelência a essência
da arte, na medida em que é sua propriedade ocorrer tarde demais no que diz
respeito a tudo, exceto a uma coisa: o tempo reencontrado."

Quando Deleuze introduz aqui o tempo reencontrado, ele está introduzindo uma
ideia proustiana. Visconti aqui começou a fazer uma associação com Proust. E é muito
interessante, que Deleuze diz aqui uma coisa que eu nem sabia: pois parece que Visconti
teria traduzido Proust, teria feito um trabalho sobre Proust.
Deleuze vai dizer assim: "Podemos listar os temas que ligam Visconti a Proust" - uma
coisa muito clara, todo mundo sabe, não precisa nem ter lido Proust para saber - o
mundo dos aristocratas. Proust só trabalha com aristocratas. Mas só que Deleuze fala - o
mundo cristalino dos aristocratas. Quando Deleuze fala "mundo cristalino dos aristocratas",
é que ele está opondo cristalino a órgão; ao organismo do burguês. Ele vai fazer essa
oposição.
Aluno: --? --- Proust sempre opõe o aristocrata ao burguês --? --
Claudio: O confronto? O Barão de Charlus é um exemplo, (não é?) Sendo que o
Proust leva isso ao paroxismo, porque, no mundo de Proust, vai aparecer um aristocrata,
como Charlus, que inclui a loucura. Porque... uma coisa fantástica, que o Proust marca, é
que todo mundo pensa que Charlus é um homem mau e tem horror dele; mas quando
descobrem que ele não é mau, que é louco, é aí que as pessoas correm: ele apavora, ele
enlouquece!
Bem, primeiro elemento da entrada no tempo: o mundo cristalino dos aristocratas.
Segundo elemento, terrível: decomposição interna.  Para gerar a imagem tempo, ele tem
que puxar o mundo aristocrata e introduzir a decomposição.
Olhem, aqui vocês podem pensar assim: não há diferença para um cozinheiro que
está fazendo um bife - um bife... tem-se que colocar manteiga e sal; para gerar a imagem-
tempo, ele tem que entrar com o mundo aristocrata e produzir decomposição: ele tem
que decompor.
(Assustou um pouco, não é? Isso cou um pouco perdido!..)
Prestam bem atenção: ele está construindo alguma coisa - a imagem-tempo; então...
é assim que ele está construindo a imagem-tempo!
Foi o que eu disse no começo da aula: há momentos em que o Visconti "fracassa"
nos lmes dele, ele mesmo se esquece. Porque, se vocês lerem a Crítica da Razão Pura
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/critica_da_razao_pura.pdf ), Kant
vai dizer com todas as letras: quando um pensador produz alguma coisa - por exemplo,
quando Platão produz a teoria das Idéias - o pensamento dele está tão tomado por
aquela produção que ele não tem muito domínio: o próprio Visconti não tinha muito
domínio sobre o que ele fazia. Aquilo escapa: escapa ao artista. Por isso, o comentador
tem muito mais potência do que o próprio gerador. Kant, quando fala nos ideais
platônicos, fala com muito mais facilidade que o próprio Platão.
Deleuze vai dizer que os elementos que vão produzir a imagem-tempo são: o mundo
cristalino dos aristocratas; a decomposição interna e a história; e nalmente o "tarde
demais" do tempo perdido, mas que também cria a unidade da arte e o reencontro do
tempo. Então, a unidade da arte vai implicar na presença do "tarde demais", (tá?)
Creio que agora posso parar um pouco com o Visconti e dar um pouquinho de
Proust, a m de que vocês possam associar e compreender de nitivamente o que é a
produção da obra de arte. Por exemplo...
Greenaway pode ser considerado um artista? Se ele for um artista, ele está
convivendo com o tempo - parece que é o que o Ca. quer dizer -, ele tem que ter
produzido uma dimensão essencial, deve ter produzido, ali dentro, alguma coisa da
essência do tempo, senão [surge] o caos. O artista vai produzir o caos? Não! Caos é o que
ele recebe. Ele entra ali e produz alguma coisa. Alguma coisa emerge. O cientista produz
atratores estranhos, produz balanças, produz equações. O artista também produz alguma
coisa: por afeto.
"Os signos da arte e a essência" [em Proust e os signos
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1964-Proust-e-os-
signos.pdf)do Deleuze] - esse capítulo parece que... (Entender uma leitura, entender, eu
não gosto de criticar ninguém, perder tempo com críticas, mas... as leituras são muito
mal feitas; porque, para poder entender, você tem que sobrepor uma leitura a outra. Se
você quer entender um texto desses... [referência ao capítulo "Os cristais do tempo", em
Imagem-Tempo (http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1985-
Cinema-2-A-imagem-tempo.pdf)do Deleuze] sem uma leitura de "Os signos da arte e a
essência"... você não entende!)
Bom, o Proust vai dizer aqui... - acho que esta frase também é muito de nitiva, está
entre aspas - Proust está falando:
"Só pela arte podemos sair de nós mesmos, saber o que vê outrem, de seu universo que
não é o nosso (é exatamente pela arte que nós estamos vendo o Visconti nos mostrar a
"revelação" da beleza sensual), cujas paisagens nos seriam tão estranhas como as que
porventura existem na lua. Graças à arte, em vez de se contemplar um só mundo, o nosso,
vemo-lo multiplicar-se, e dispomos de tantos mundos quantos artistas originais existem, mais
diversos entre si do que os que rolam no in nito. Se não houvesse a arte, nós estaríamos
prisioneiros de um mundo só."
Nas práticas sociais, é a coisa mais fácil de vocês entenderem: o homem comum está
preso a um mundo só, ele não consegue quebrar aquilo de jeito nenhum, ele vive ali em
torno, supondo que aquilo é a essência da natureza. Sem saber que a natureza não tem
essência: ela... cria a essência dela: a arte cria!
(http://claudioulpiano.org.br/doacoes/ajude-nos-a-preservar-e-difundir-o-acervo-
de-aulas/)
Então, a arte produz sistemas individuados. Ela produz, gera, e aí nos dá a
possibilidade de viver em múltiplos mundos. Isso é muito fácil de entender, se vocês
forem ver qualquer coisa da passagem do século XIX para o século XX.
Se vocês forem estudar o Modigliani, vocês se lembram dos olhos azuis que ele
pintava, aqueles olhos que ele fazia - azuis - "aquela coisa"? A psicologia nos revelou
isso. [Aqueles olhos azuis] produziram um diferencial na sensibilidade. A sensibilidade
se alterou - como esses jogos que o meu neto joga alteram a sensibilidade; como a
psicodelia altera a sensibilidade. Alteração de percepção! A arte está muito associada
com a alteração de percepção.
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/woman-with-blue-eyes-1918.jpg)
Woman With Blue Eyes, 1918. Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, Paris, France

Em outro nível, o Paul Veyne e o Foucault sempre disseram isso: o que você vê no
século XVI você não vê no século XX. O seu olho não vê qualquer coisa em qualquer
tempo. E quem produz essas modi cações são essas singularidades que produzem novos
sistemas individuados.
Então, é bobagem pensar-se que a arte é apenas para tomar o chá das cinco... Não é
nada disso! A arte produz mundos. A arte é uma coisa seríssima - produz mundos!
Não sei se vocês entenderam isso. Não é só para quem vai ao Museu de Belas Artes,
não - é para todos! Nela, [encontram-se] novos mundos. Sem ela... é difícil viver. Acho
que é impossível. Impossível! Porque você caria preso a um sistema de mundo só e isso
geraria uma sufocação... e você se submeteria à tirania de um ideário, geralmente
totalitário, - daí a associação da arte com a política -, e se tornaria impossível a vida. A
vida tem que ter essa relação com a prática artística. Aconselho a leitura deste texto: "Os
signos da arte e a essência" [Capítulo IV do livro  Proust e os Signos
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1964-Proust-e-os-signos.pdf ), de
Gilles Deleuze]. É muito fácil esse texto. Com isso daí vocês vão começar a compreender o
que é a arte.
Eu sempre disse e repito para todo mundo: a arte não vai trazer nada: nada, nada,
nada. A arte é... uma experimentação. Não sei quem disse isso, talvez o Rilke, é o estilo
dele, não tenho certeza: a arte é uma revelação de experiência. Mas não é experiência de
você, porque... a magia é que faz mais experiência, viaja mais, vai mais a Paris, vai mais a
Nova York, não! É uma experiência nessas essências!
Então quando vocês virem um poema, não pensem que um poema é apenas uma
exibição de palavras: é uma experimentação de sentidos que nunca emergiram. Então, é
uma coisa louca! São sentidos que nunca viriam a um sistema individuado se não
houvesse o artista para extraí-lo. Em Bergson vocês encontram isso. Bergson diz que o
passado é em si, que o sentido é em si, que a idéia é em si. O pensamento vai lá e gera
alguma coisa. Vai produzir ali algo de fundamental para a vida.
A vida engasga. A arte é superior à vida - essa é a tese do Proust. A vida engasga.
Chega a um ponto em que ela se torna suicidária. Não há mais como passá-la.
A melhor idade para se começar a lidar com arte é [aos] onze anos. Como nós
estamos muito infestados pelos valores burgueses, nós nos decepcionamos com esse
enunciado sobre a arte, e achamos que é muito pouco. Mas não é muito pouco. Fernando
Pessoa, de quem meu aluno C. gosta muito, escrevia que ele se considerava um homem
em estado de sacrifício para salvar a humanidade... fazendo poemas. Quando o Fernando
Pessoa diz isso, o homem comum morre de rir, "que sujeito idiota!", "que imbecilidade!"
Realmente é uma prática que ele está fazendo, de querer dar um desvio e um caminho
para a vida. E ele se dizia um sacri cado. "Eu não quero nada da vida, vou sacri car
inteiramente a minha vida a favor da humanidade" - e faz aqueles poemas dele: "O
Guardador de Rebanhos (http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/O-
Guardador-de-Rebanhos.pdf)"
O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de, vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...

Fernando Pessoa, in: O Guardador de Rebanhos

Eu acho que nós já entramos, não é? Podemos voltar para o lme...


Para quem faz pesquisa no Deleuze, a melhor indicação sobre o naturalismo é essa
da pág. 120 - Losey e Harold Pinter [referência ao pé de pág nº 35 do capítulo 4 de A
Imagem-Tempo (http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1985-
Cinema-2-A-imagem-tempo.pdf)].
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1985-Cinema-2-A-
imagem-tempo.pdf)
Deleuze vai fazer uma comparação do Visconti com o cinema americano. Vamos
chamar o cinema americano de cinema realista. E o cinema do Visconti de neo-realismo.
O realista é o cinema da ação e da paixão. O cinema do movimento.
Deleuze cita Obsessão (http:// lmescult.com.br/obsessao-1943/)mostrando que no
cinema neo-realista "é preciso, portanto, que não somente o espectador, mas também os
protagonistas invistam os meios e os objetos pelo olhar, que vejam e ouçam as coisas e as
pessoas, para que a ação e a paixão nasçam, irrompendo numa vida cotidiana preexistente".
(Deleuze, A imagem-tempo, pág. 13) É o problema do investimento do olhar nesse lme.
Vocês notem que o tempo todo o lme está centrado no olhar. Não são ações, não são
duelos, não são disputas, não é nada disso, é o olhar que está passando ali. Ele vai dizer
que isso é uma constante na obra do Visconti.
(Se vocês conseguirem dominar esse enunciado que eu vou fazer... Perguntar ca
mais fácil! Eu trabalho... se vocês zerem perguntas laterais do próprio trabalho.)
O cinema americano - que é chamado o cinema da segundidade, o cinema da ação -
é a situação se prolongando em ação. Agora, no neo-realismo é exatamente o contrário,
"a situação não se prolonga diretamente em ação: não é mais sensório-motora, como no
realismo, mas, antes, ótica e sonora, investida pelos sentidos antes de a ação se formar,
utilizar e afrontar seus elementos." (A imagem-tempo, pág. 13)
Então nós passamos do lme chamado ação e paixão para o lme chamado ótico e
sonoro. É greco-judaico: o grego vê, o judeu ouve. Então, os dois estão se juntando - ótico
e sonoro. Claro que o sonoro foi uma conquista recente do cinema, a partir da década de
[trinta]. O cinema era mudo. Então, não é só ver, é também ouvir. Isso é o neo-realismo.
Mas agora vocês prestem atenção: é possível fazer o neo-realismo com... um rato?
Ou seja, nós levarmos um rato a ver, ao invés de reagir a um movimento do mundo? Você
pega um rato na mão e aí coloca um movimento em cima dele. O que é que ele faz?
Devolve movimento imediatamente! Por que ele faz isso? Porque ele está dominado pelo
esquema sensório-motor. A vida é governada pelo esquema sensório-motor. O
nascimento dessa arte é... quebrar o esquema sensório-motor. Quebra-se esse esquema!
Então, pode-se até dizer, é a "desanimização" - quebra o sistema sensório-motor. Está
claríssimo aqui:
"Tanto assim que a situação não se prolonga diretamente em ação: não é mais sensório-
motora, como no realismo, mas, antes, ótica e sonora, investida pelos sentidos, antes de a
ação se formar, utilizar e afrontar seus elementos. Tudo permanece real nesse neo-realismo,
porém, entre a realidade do meio e a da ação, não é mais um prolongamento motor que se
estabelece, é antes uma relação onírica, por intermédio dos órgãos dos sentidos...". (IT, p. 13).
É facílimo entender isso! Se você está num lugar e recebe um movimento que vem
de fora, e ao invés de você prolongar aquele movimento dando uma resposta àquele
movimento, você faz como o Gérard de Nerval - você sonha aquilo que está vindo,
introduz uma imagem onírica e quebra o esquema sensório-motor. A introdução de
imagens-oníricas, imagens-lembranças, imagens-devaneios, quebra o esquema
sensório-motor. Se um rato delirar, devanear e sonhar, acaba a espécie. Vai acabar a
espécie! O homem pode fazer isso, não é?
Aluno: É essa quebra que gera a alteração de percepção, não é?
Claudio: Que gera a alteração de percepção, pois a percepção não se prolonga mais
em ação. Porque, se vocês lerem a história da psicologia, a história da epistemologia, elas
dizem a mesma coisa, todas elas: a percepção é considerada uma prática do
conhecimento. O homem percebe para conhecer. Essa tese aqui não é fundamentada
nisso. O que se diz aqui é que percebe-se para reagir, não é para conhecer. A percepção
não é uma atividade do epistemológico, é uma resposta que você dá ao mundo - é a tese
do Bergson. Você percebe para prolongar sua percepção em ação ou reação. Se não
quebrar de dentro isso daqui, você nunca sairá do realismo. Permanecerá eternamente
preso a essa situação que está aí.
[referência ao lme] O travelling, essas idas e vindas, não é, R. , travelling? Ele usa
muito ali no Hotel - que ele vai muito até o garoto e volta - o tempo todo: é o olhar dele
fazendo uma aproximação e um recuo, (não é?)

Luchino Visconti Morte a Venezia 1971

Aluno: Com um movimento subjetivo!


Claudio: Com um movimento subjetivo.
Então, o Deleuze vai citar aqui... exatamente a questão do travelling, para citar outro
autor fantástico que introduziu a imagem-tempo - que é o Orson Welles, na
profundidade de campo. Eu já estou passando isso para vocês, para vocês saberem que o
uso da tecnologia está imbricado à arte. A arte se serve realmente da técnica, dos efeitos
especiais, dos instrumentos - que são objetos de fundamento para ela. Isso não é dito
por nenhum teórico de arte - leiam Leroi-Gourhan (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/André-Leroi-Gourhan.-A-libertação-da-mão.pdf) que vocês
vão entender. O ser vivo tem a capacidade de produzir uma tecnologia. É fantástico! O
caranguejo, por exemplo, produziu uma tecnologia: a presa dele é uma tecnologia do
corpo. O corpo é tecnológico! A arte usa muito a tecnologia e o que nós temos que fazer,
então, é a distinção entre o técnico e o artístico. Mas estão muito associados! Deleuze
também vai fazer uma associação com o dinheiro.
Bom, tudo o que foi dito até agora nos deu pelo menos uma noção da "revelação" e do
"tarde-demais".
Agora, o que resta é falar da revelação e do tarde-demais, que é o que importa, -
nada mais importa! -, para saber exatamente o que é a arte do Visconti: não a arte do
Visconti..., mas a arte do tempo - o que é o tempo; o que é a conquista do tempo!
Di cilmente vocês conseguirão reproduzir um discurso desses e ele ser aceito numa
universidade, numa faculdade de arte - ali geralmente essas coisas não passam! Porque
se a gente não zer uma associação com a história do pensamento, a gente não
compreende o que está se passando. Então é um esforço muito grande para o professor -
mas que o artista não precisa fazer, o artista não precisa esperar que alguém venha lhe
ensinar... para fazer alguma coisa! Mas aquele que vive em função do... - que é o meu
caso, (não é?) - meu gozo maior é conhecer amplamente todos os movimentos do
pensamento; e é isso que eu exponho para vocês: o que o pensamento tem que fazer para
conquistar essas coisas.
A tese - assustadora! - é basicamente que a conquista do tempo produz uma nova
subjetividade. Alguns dizem isso... Eu acho pouco! A conquista do tempo produz uma
subjetividade - não existia! É isso que eu estou dizendo - é gravíssimo o que eu estou
dizendo! Esse gesto que está aí, que há séculos vem se processando - conquistar o tempo,
liberar o tempo do movimento - está associado à produção da subjetividade - que é a
mesma coisa que produção da liberdade, produção da vida! Diz-se muita tolice por aí.
Ou seja: se a vida pudesse passar o tempo todo em torno dessa imagem-tempo, nós
teríamos a presença de uma subjetividade - base do livro V da Ética do Espinosa
(http://claudioulpiano.org.br/wp-content/uploads/2016/10/1661-1675-Ética-trad.-
Tomaz-Tadeu.pdf) - que é ser livre, conquistar a beatitude, conquistar a vida. Nada tem
importância, se isso não acontecer! Quer dizer: sem a conquista do tempo não se tem
uma subjetividade: nós nos tornamos um bando de bobões, bebendo cerveja! Um bando
de bobões bebendo cerveja e... "esperando Godot (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/Esperando-Godot.pdf)"... como diz o Samuel Beckett!
E é isso mesmo! No livro 5 da Ética, descobre-se isso de imediato. Porque, quando
sentimos que a nossa liberdade é tocada, nós saltamos! É isso o cinema do Fassbinder
(http:// lmescult.com.br/rainer-werner-fassbinder/). Mas aqui é em nível excepcional! É
você compreender, à maneira do Castañeda, que, na experiência mais trágica da vida,
você pode ter uma subjetividade livre. Aí você começa a entender inteiramente o
Deleuze: "tome conta do inconsciente", "produza o inconsciente", "produza uma vida" - é o
exercício da arte! Então, a produção do tempo não vai produzir uma tela para o Museu de
Arte Moderna, nem uma musiquinha para o Municipal, nem um lmezinho para nós
assistirmos aqui, não! Produz a vida, produz a liberdade!...
Vocês podem ler o Foucault, que chegou ao extremo, quando se juntou com
Baudelaire. Ele falava em arte como estética da existência. Eu acho que todo o mundo
conhece isso, (não é?)... produzir sua própria vida como obra de arte!
E é exatamente isso, (não é?). Ou nós caminhamos para isso, citando um artista de
teatro que foi entrevistado outro dia, o Jorge Dória... ele é muito interessante!
Interessantíssimo esse Dória, eu nunca tinha ouvido ele falar. Ele é interessantíssimo!
Ele é capaz de falar da morte com uma facilidade incrível. E ele diz que a vida é uma
pequena brincadeira; o teatro é uma brincadeira mais séria! Interessantíssimo o que ele
falou.
Mas... É mais ou menos isso: a existência é trágica! Uma matéria inerte, regida pelo
princípio de inércia... as forças da vida penetrando nela... nuras espirituais, nervos,
essas coisas aparecendo numa matéria...pesada, idiota, imbecilizada e... emergindo o
espírito! O espírito não é nada do que tinha sido escrito pelos Salmões, pelo livro
sagrado. O espírito é a nura dos nervos. E aparece essa nura, e nós conduzimos - cada
um de nós conduz isso - e isso é dor profunda! Essa dor profunda (-? -) tudo o que se
passa no cinema hoje. Naquele lme "Esposamante (https://www.youtube.com/watch?
v=cqHPvlcNK-c)", o Marcelo Mastroianni tem uma fala espetacular: quando sabe que a
mulher dele está envolvida com Igreja, ele diz: "deixa ela car, porque senão ela não
aguenta a tragédia da vida!".
Nietzsche tinha a pretensão de ser um mártir - não deixar que a humanidade
soubesse que tanto terror se esconde por trás de tudo - e dizia que a arte era uma
pequena linha que se estendia sobre o abismo do tempo. E é realmente isso; é realmente
isso, sem saída... - a vida está sobre o abismo do tempo!
A religião e a moral se tentaram terapêuticas para curar isso. Só pioraram! A arte é a
nossa saída. É muito pouco, eu sei que é muito pouco... isso não desfaz o abismo do
terror sobre o qual nós estamos, mas a arte é o caminho que nós temos.
Três fenômenos fundamentais na vida do homem reaparecem o tempo inteiro
nesses discursos: a arte, o amor e a amizade. Sempre estão reaparecendo! Por onde a
gente vai escapar, por onde? São essas as três linhas de fuga possíveis. Parece aqui que
Proust vai parar no amor, mas acaba não cando. Ele vai [ter que ir] para o espiritual, não
adianta! Ele vai [ter que ir] para a arte, não tem jeito! Ou seja: segundo a massa dos
artistas que estão passando por aí, nem o amor e a amizade vão trazer a liberação. E isso
é terrível, não é? Não quer dizer que a gente não tenha que amar, nem ter amizades,
nada disso; mas que não é o caminho para produzir novos mundos. Isso torna o nosso
compromisso com a vida, como dizia Nietzsche: nos força a ser vikings - rigorosos! duros!
impenetráveis! insuportáveis!... para não deixar que a tolice venha a aviltar isso aqui.
Porque ela vai tentar aviltar. A tolice vai tentar aviltar isso aqui. Vai tentar considerar
isso aqui [a vida] de pouca importância.
Nietzsche, em Para além do bem e do mal (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/1886-Para-Além-do-Bem-e-do-Mal.pdf ), diz: "seja um viking,
endureça o seu coração, e não ceda..." para que... a vida se torne mais bonita! É um canto à
beleza, como se a essência da vida fosse a arte. A beleza como essência da arte, como se a
essência da vida fosse a própria beleza. A produção da beleza seria um caminho para a
vida. Muito pouco! O homem pode alcançar isso. A gente prefere se submeter..., (não é?)...
os homens preferem car... - Eu acho que isso é uma escolha - ser medíocres, ser
medíocres!..."Deixa passar... daqui a pouco eu esqueço"... Mas não tem jeito, essa minha
voz vai bater em vocês até o m da vida. Aqui assim... [Claudio dá pequenas batidas na
cabeça, apontando!] Não tem jeito!
Quanto mais se aproxima (não é?) mais bate! Quanto mais vocês tomam conta de
que a nitude faz parte da gente... não tem esse negócio de esconder... - isso é tolice!... -
(esconder dos meus netos!?), não tem porquê esconder: a nitude está aí, vai bater
mesmo, nós temos que efetuar uma prática qualquer de potencialização! Pode ser pela
ciência, pela arte, pela loso a... - o que esses [pensadores] estão dizendo é que pelo
amor e pela amizade não dá: não chega a nada.
Bom, eu achava que a exposição desse texto... [referência ao capítulo "Os cristais do
tempo" do livro A imagem-tempo de Gilles Deleuze] - Chega a um ponto em que cada um
tem que puxar para o que interessa, para o "tarde demais" começar a aparecer... porque a
arte funda uma verdadeira intersubjetividade. (A gente pode começar a falar sobre isso.
Não é só ver a imagem: é a imagem e mais alguma coisa!)
"Esse mundo não é o do artista-criador, embora Morte em Veneza ponha em cena um
músico, mas cuja obra, justamente, fora intelectual e cerebral demais". (A imagem-tempo, pág.
116)
É exatamente isso que o destrói [o Aschenbach], "a obra ser intelectual e cerebral
demais": a revelação é que vai transtornar tudo. Deleuze vai dar a isso o nome de cristal
do tempo. A obra de Visconti atingiu a perfeição com esses "quatro elementos fundamentais
que o obcecavam" - o mundo aristocrático, a decomposição interna, a História e, no nal,
o tarde demais. São os elementos dele.
"O padre de O Leopardo (http:// lmescult.com.br/o-leopardo-1963/)explicará: não
compreendemos esses ricos, porque criaram um mundo só deles, do qual não podemos
entender as leis, e onde o que nos parece secundário ou mesmo inoportuno assume uma
urgência, uma importância extraordinárias, por isso seus motivos sempre nos escapam como
se fossem ritos de uma religião por nós desconhecida (é o caso do velho príncipe que retorna a
sua casa de campo e encomenda um piquenique)". (A imagem-tempo, 116)
Quer dizer: são coisas que é impossível de o homem comum entender: daí a
importância de aparecer o aristocrata na obra do Visconti e de Proust. Não é uma
presença acidental, é uma presença essencial. (Há alguma coisa essencial para o Ivan ver
aquelas guras em O Conquistador? É mais ou menos a mesma questão!) [referência a
uma peça infantil - cujo diretor e elenco se encontravam presentes - em cartaz naquela
ocasião]. Aqui vai se repetir tudo isso em Ludwig (http:// lmescult.com.br/ludwig-1972/),
em Os deuses malditos (http:// lmescult.com.br/os-deuses-malditos-1969/), nas Vagas
estrelas da Ursa Maio (http:// lmescult.com.br/vagas-estrelas-da-ursa-1965/)r. (--? --)
Tarde demais! (Vocês agora têm que começar a conversar comigo sobre esse tarde
demais.) Eu acho que não ca claro, porque trazemos para a socialização... e para o abalo
dos interesses perceptivos. Revelação-tarde demais - é o esquema dele: o esquema do
tempo. Ontologia - é o tempo que se revela! Ele disse: quando eu quero pensar aquilo - o
que acontece? - não posso mais, porque já acabou. Ele disse isso ali! [referência à cena da
ampulheta, em Morte em Veneza]
Olha, então, está aparecendo a essência do pensamento. O que ele está dizendo
sobre o pensamento... O que é o pensamento? É o m! O pensamento é o m; a
revelação é o m - se revela como um vazio. O pensamento é o próprio vazio. É isso o que
o tempo inteiro eu explico para vocês - é a terceira síntese do tempo: é o vazio do
pensamento. É a experiência mais terrível que se faz. Se você quer pensar...
Blanchot extremiza e diz: "o supremo sofrimento é o supremo pensamento". É começar
a compreender que realmente há o trágico na vida. A vida é o trágico. A vida não é um
exercício a ser decantado por um otimismo!
Há um texto do Lawrence, traduzido em francês como Eros et le chien - no capítulo
[intitulado] "Estes pintores" (uma coisa assim) - onde ele vai fazer uma experiência
extraordinária na sexualidade, talvez do mais alto nível que eu já tenha lido em toda a
minha vida! Ele diz que os ingleses não conseguem pintar, porque eles têm a sexualidade
abalada... pela sí lis. Estranho (não é?), esse enunciado... parece banal... mas não é, não!
Porque a sí lis é um fenômeno real, concreto, ela penetra no corpo, e abala a
imaginação.
Lawrence teria mostrado Hamlet como o exemplo da sexualidade inglesa - fuga de
todo o contato com qualquer corpo. É isto que eu estou mostrando para vocês. Mostrando
que... talvez o que leve à di culdade de entender a revelação e o tarde demais - que parece
tão claro - seja porque nós banalizamos tudo. Nós banalizamos tudo!... Quando
encontramos um Lawrence falando sobre a sexualidade dessa maneira, extraordinária,
mostrando a doença que é o Hamlet e que são agenciamentos do mundo que geraram
aquela doença... é o que se processa em nós: uma tendência a banalizar!
Aluno: Eu... (--? --)
Claudio: Ela não é de fato, é de direito, talvez seja isso...
Aluno: Eu estou entendendo, mas, como você sempre coloca, eu não gosto de car
na sinonímia. (--? --) Por exemplo (--? --) O que eu não compreendo com clareza é que
você falou que quando ele se revela, é tarde demais. E justamente porque isso tem uma
dimensão trágica, que é confundida com o pessimismo. É essa relação
tragédia/pessimismo, que pode acontecer. Mas é engraçado, quando o Proust usa a
palavra tempo perdido.
Claudio: Exatamente. Nós vamos passar para o tempo reencontrado para
compreender o que é "tarde demais". Vamos começar com o tempo perdido e passar para o
tempo reencontrado, para encontrar o tarde demais.
Aluno: E é engraçado que não tem que haver uma relação direta, o porquê dele ter
usado essa expressão tarde demais. Eu sei, essa expressão tarde demais dá o sentido
trágico do acontecimento...
Claudio: Não, A., veja bem! Nesse campo ontológico, a expressão e o
acontecimento são a mesma coisa! Tarde demais é o próprio ser do acontecimento. O
acontecimento é este - revelação e tarde demais. Ou seja, por exemplo, quando você quer
recuperar uma pessoa que você ama, mas essa pessoa que você ama está perdida no
tempo, o que você pode fazer é sentir saudade. É essencial você sentir saudade, senão
você não consegue recuperar aquela pessoa. É a mesma coisa que está acontecendo, ele
está dizendo que a revelação e o tarde demais são essenciais ao tempo. Eles são
essenciais, não tem jeito - você vai entrar no tempo, vai encontrar isso!
Então, o ponto de partida é essencial: não pertence a uma estrutura psicológica -
você quer entrar no tempo, vai encontrar isso. Você quer sair do movimento, quer passar
para um novo capítulo da sua existência, entra no tempo e encontra isso: não tem jeito!
Então é exatamente o que nós vamos fazer: vamos pegar o tempo perdido, vamos pegar o
tempo reencontrado e tentar compreender por aí. O problema é esse - pegar o tempo
perdido e o tempo reencontrado e vamos tentar compreender por [essa via].
Aluna¹: (---)Você sustentou super bem a primeira síntese, depois você sustentou
super bem a segunda síntese e a reminiscência, e quando chegar na terceira síntese...
você sempre dá uma beiradinha assim...
Claudio: Vocês recusam! Há uma recusa nítida da terceira síntese do tempo, na não
aceitação de que, na terceira síntese, é o pensamento e o vazio. É uma fenda no
pensamento, as pessoas não aceitam.
Aluna²: Eu não sei se é isso, ou se a mim me provoca... porque eu entendi
perfeitamente o que você falou a respeito desses fatos. Eu sinto exatamente a mesma
coisa. Não é a primeira vez que eu sinto isso. O que me ocorre é que quando chega nesse
momento, você diz que você sente uma recusa. Eu me sinto completamente perplexa, eu
não sei o que fazer, não sei o que dizer, não sei o que perguntar...
Claudio: Mas é exatamente isso: é uma recusa. É evidente! Se você se sente
perplexa... - o que é sentir-se perplexa? Sentir-se perplexa é você não entrar. Eu não
estou fazendo nenhuma teoria psicológica, não. Estou fazendo uma teoria ontológica! Se
você está no mar, dentro d'água, você se molha; se você está na perplexidade você não se
move. É isso que eu estou dizendo!
Aluna¹: É que a terceira síntese vai ter que ser revelada!
Aluna²: Ah, talvez seja isso!
Claudio: É muito simples!  Se você diz: eu estou na perplexidade, você está na
perplexidade! Você não penetra mais.
Aluna²: É verdade! Fico parada, é verdade!
Claudio: É isso que eu chamo de recusa. Não é uma recusa psicológica, não é nada
disso, não! A recusa é de ordem ontológica, você se defronta com a perplexidade; é
pensar ontologicamente. A perplexidade não é da ordem psicológica, é um
transcendental afetivo. Você entra naquilo. E você não passa, você não atravessa mais,
você paralisa ali. Ou então nós temos que fazer o que fazemos sempre: chamar as pessoas
de burras???... não!!!! Isso é uma idiotice! Não tem nada disso. Você não consegue mais
passar!
Quando se diz que Artaud, na década de quarenta, mandou uns poemas para
Jacques Rivière (?), que retornou com os poemas.... e o Artaud disse: "não quero que você
fale sobre esses poemas como você está falando, porque esse poemas estão revelando que eu
não consigo pensar". E Jacques Rivière diz: "Não, você vai acabar pensando...". Artaud: "Não
é isso o que estou dizendo!".
O pensamento não consegue lidar senão com o vazio, é o que ele está dizendo. O
pensamento é sofrimento absoluto, então é isso o que está acontecendo aqui [no lme
do Visconti] - a entrada no tempo, a conquista do tempo!!! Para conquistar uma cidade,
morre-se, para conquistar um bife com batata frita, morre-se - então, para conquistar o
tempo... é o sofrimento absoluto! Sofrimento absoluto!!!
A vida tenta invadir o tempo! Não é tenta invadir, no sentido de que o tempo está
separado dela, não. É que ela [a vida] está dentro dele [o tempo]! O que você faria, por
exemplo, na casa em que você mora? Conquistar! Nós estamos dentro do tempo, nós
estamos no interior do tempo. É isso que a vida descobriu, é isso que o pensamento
descobriu: nós estamos no interior do tempo! O que se faz? Produz-se alguma coisa ali
dentro! É o que Visconti está tentando produzir. ..
Mas agora..., estando no interior do tempo - a primeira frase que eu disse na aula... -
entra-se no não-senso, entra-se no paradoxo, abandona-se o modelo do bom senso. Não
tem mais jeito: não há mais volta para ele! Essas guras que aparecem agora, não são
guras religiosas: são guras dramáticas; dramáticas!!!
Deleuze associou aqui o tarde demais... (não está muito claro, não; não é?) - "o tarde
demais do tempo perdido, mas que também cria a unidade da arte e o reencontro do tempo". É
difícil, mas é clariável...
O tempo perdido é que produz o tarde demais. O tempo perdido com a arte cerebral
que, na revelação, já era tarde demais. "...ao mesmo tempo que isso ocorre, a unidade da
arte aparece e o tempo é reencontrado". (Vocês vão ter que fazer um esforço para entender
isso!) Surge aquela revelação, decepcionante, mas ao mesmo tempo, a unidade da arte e
o reencontro do tempo. Ou seja, o Visconti está nos dizendo que, na revelação, o tempo
é reencontrado. É isso que ele está mostrando ali.
Aluno: O que ele quer dizer com unidade da arte, eu não entendo bem o que é isso.
Claudio: A unidade da arte ali, na revelação, é o que o professor viu - é a unidade da
natureza e do homem. Por que o que o Aschenbach está dizendo o tempo todo, é que o
artista tem que trabalhar e se liberar da natureza, se liberar dos sentidos; e o que Tatzio
revela, é que não é nada disso: que há uma unidade! A surpresa dele foi essa - há uma
unidade - e ele não precisava car lá em cima, trabalhando no vazio. Há uma unidade!
Não interessa se é verdadeira ou não! O fato é esse, a revelação foi essa. A natureza faz
uma unidade com o homem. Essa unidade da natureza com o homem é o lugar da arte e...
o reencontro no tempo. O tempo estava perdido. Tentem compreender isso: o tempo
estava perdido!
Aristóteles viveu o tempo perdido - todos eles [os lósofos clássicos] viveram o
tempo perdido: eles não transaram o tempo, transaram o movimento. Então, [no lme]
Aschembach reencontra o que tinha sido perdido. Eu citei, dizendo que, pela saudade,
pode-se recuperar, no tempo, uma pessoa querida - isso não é arte, isso é amizade, é
amor!
O artista não quer recuperar pessoas perdidas no tempo, ele quer recuperar o tempo -
o próprio tempo. É a ontologia, é isso o que ele recupera. Então, tarde demais e
revelação... é o reencontro do tempo. Visconti é atavicamente o cineasta do tempo. E ele
vai e descaracteriza Losey, porque Losey era naturalista. É isso. Vou passar para Proust,
mas se vocês não chegaram até aí...não sei o que eu faço!
Perdeu o tempo, reencontrou o tempo, pela unidade da natureza e do homem. (É
isso! Nada mais do que isso! Se vocês não entenderam, é impossível passar. Eu não paro
de dizer que há duas maneiras de se compreender esses temas: de brincadeira ou
seriamente. Seriamente não tem jeito: tem que entrar.)
Vamos dizer que o artista tivesse uma obsessão - a verdade: o que é a verdade; a
verdade do tempo. No caso, o que vem a ser a verdade do tempo? Como ele vai encontrar
a verdade do tempo... se o tempo está perdido?
Conquistar! Conquistar o tempo, reencontrar o tempo. A primeira prática dele tem
que ser essa. Ele reencontra pela revelação. Ao encontrar, "tarde-demais!" Tarde demais
passa a ser o quê? Passa a ser a verdade do tempo. Já não é mais decepcionante, torna-se
a verdade do tempo! A categoria... a categoria do tempo: é "tarde demais".
Vocês não sabem o que é viver seis horas da tarde? Vão viver o "tarde demais"! Vão
ver no que vai dar. A essência da arte é essa - não é a decepção psicológica, é essência, é a
natureza mesmo. Encontra o tempo, e reencontra a revelação de tudo, ali vai transbordar
para você. O quê? O tarde demais! Difícil uma expressão dessas: "C'est trop-tard!"
Eu acho que o melhor caminho aqui é Proust - no capítulo "Signo e Verdade", o
capítulo dois [do livro Proust e os signos (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/1964-Proust-e-os-signos.pdf)do Deleuze]. (Não sei como é
que está indo, não é?)
"Mas perder tempo não é o su ciente. Como vamos extrair as verdades do tempo que se
perde, e mesmo as verdades do tempo perdido?" [Prout e os signos, pág. 23] O que está sendo
dito é que quem quer conviver com o tempo vai encontrar nele a verdade. É nele que está
a verdade. Tem-se que saber como isso vai ser feito. Recusar-se a perder tempo. Quem
procuraria a verdade se não tivesse primeiro... (virada de ta)

PARTE III
(Então é melhor deixar passar o lme, não é? Aí, vocês vão ser inundados de signos.
Na hora em que despertar alguma coisa..., pára!)
Aluno: Engraçado que, ao que parece, ele apresenta dois tipos de revelação: uma
revelação com a madeleine - ele tem uma revelação, mas está preso num objeto sensível;
e uma segunda revelação, que já é o tempo puro direto...
Claudio: Olha, o Deleuze não diz bem assim. É possível ser dito como você está
dizendo... o Deleuze vai mais fundo nisso. Está bem dito, mas o Deleuze aprofunda mais
o que você acabou de falar quando ele diz aqui assim...
"Fórmula proustiana: um pouco de tempo em estado puro." O que Proust quer ao dizer
isso? Como é que vocês diriam? A fórmula proustiana: "um pouco de tempo em estado
puro." O que quer dizer isso? (Quem não decifrar vai morrer enforcado. Quem não se
arriscar... morre enforcado!..)
"Um pouco de tempo em estado puro" - ele está dizendo que há tempo que não está
em estado puro. Proust está dizendo o quê? Proust está dizendo que existe um tempo
para o estado puro. Esse tempo, que está fora do estado puro, é exatamente isso que você
acabou de falar: é um tempo que pode ser apreendido pela memória, pela imaginação -
[enquanto que] o tempo em estado puro... só o pensamento pode apreender.
Então, ele diz aqui: "A fórmula proustiana, um pouco de tempo em estado puro, designa
em primeiro lugar o ser em si do passado, isto é, a síntese erótica do tempo, mas, designa
mais profundamente a forma pura e o vazio do tempo."
Por que ele diz isso? Porque ele quer o tempo puro, o tempo puro é vazio, e todas as
teses sobre o tempo, inclusive as do Bergson, misturam o tempo com Eros, misturam o
tempo com Narciso, o tempo do Narciso, o tempo do erótico, e Proust quer tempo puro,
tempo vazio - que é a mesma coisa de Visconti - é vazio! (Não sei se vocês entenderam!)
(Se vocês não souberem perguntar, é que a questão talvez não tenha passado bem.)
[É preciso] entender isso: O rompimento, quando Deleuze aponta para Proust e critica
Bergson, é [que] Bergson está prisioneiro do tempo misturado com Eros, misturado com
Narciso - um tempo todo penetrado de coisas!... Para se tornar um pensador... é preciso
querer o tempo puro.
Aluno: Eu acho que é aí que eu tenho di culdade...
Claudio: É muito simples, há uma maneira de dar conta disso... - confronta
pensamento e inteligência. Qual de nós aqui não é inteligente? Todos nós somos. Qual de
nós não quer ser inteligente? Não ser enganado no troco, ganhar juros no "centrão",
arranjar um bom emprego, obter sucesso na vida?! - isso chama-se ter inteligência. E com
que nós confundimos isso?
Aluno: Com o pensamento!?
Claudio: Com o pensamento!..- não tem nada a ver! A inteligência vive no campo
social, no campo comunicativo, no campo intersubjetivo - o pensamento é aquilo que
lida com o tempo puro. É a coisa mais simples!
Aluno: A imagem da ampulheta é muito forte, Claudio! É quando acaba... e ele vê:
quando ele vê o vazio da ampulheta - ele fala que o pensamento quer entrar, mas que,
a nal, é tarde demais...
Claudio: Mas entra!
Aluno: Mas entra!?
Claudio: O tarde demais entra! O tarde demais não é um estado do homem. É uma
dimensão [do tempo]. Isso é o trágico! Tarde demais é o trágico; o transcendental! Esse
enunciado que eu z aqui sobre a diferença entre Proust e Bergson... é que o Bergson não
foi atrás do tempo puro... - quem foi atrás dele foi Artaud, foi Proust - que é o tempo sem
penetração de nenhum fantasma, de nenhum deus, de nada! Por isso, Proust... eu vou ler
aqui, que você vai ter a compreensão do que você citou... "A experiência proustiana tem
evidentemente uma estrutura totalmente distinta das epifanias de Joyce, mas trata-se também
de duas séries (olha a marcação: duas séries!), a de um antigo presente (o antigo presente é
aquilo que está no nosso passado), Combray tal como foi vivida, e a de um presente atual.
(duas séries!) Sem dúvida, permanecendo numa primeira dimensão da experiência, há uma
semelhança entre as duas séries: a madeleine, a refeição da manhã, e mesmo a identidade e o
sabor com qualidade não somente semelhante, mas idêntica nos dois momentos. Todavia não
está aí o segredo. O sabor só tem poder porque ele envolve alguma coisa igual a x."
Quer dizer: alguma coisa igual a x - para vocês que não estudam loso a...
[referência aos bailarinos e atores presentes], para eles que estudam loso a, é matar
vocês: matar! Por quê? É exatamente a experimentação que se faz nesse trabalho daqui -
para se fazer um trabalho desses..., para encontrar Proust, você tem que sair do plano da
identidade - que é o plano da inteligência. A inteligência só trabalha se ela tiver o
princípio de identidade submetido por ela, senão ela não trabalha. A inteligência não
suportaria dizer "S. está sentada e está em pé". Ela precisa da identidade para se sustentar!
O que Deleuze está dizendo aqui é que, para entrar na arte, é preciso encontrar um tal de
objeto - "alguma coisa igual a x" - que não mais se de ne pela identidade: de ne-se pela
sua própria diferença essencial.
É como se você fosse posto para fora de casa:  "Vai embora, não ca mais aqui, você
agora tem que arranjar tua comida, tem que se cobrir de noite, vai se virar, cara! Sai dessa
segurança idiota que você está tendo aqui e vai se virar". Ou seja, é rompido tudo aquilo - e
se você quiser fazer a prática de arte, a prática do pensamento, tudo aquilo que você
supunha que era o fundamento, não é! (Não sei se vocês estão entendendo bem...)
Aluno¹: Claudio, o Bergson chegou a de nir só as duas primeiras sínteses, quem
de niu a terceira, foi o Deleuze?
Claudio: Não. Não foi o Deleuze... O Deleuze é o pensador dos agenciamentos.
Deleuze não para de enquadrar aqueles que se agenciaram com a terceira síntese, no caso
é o Proust, no caso é o Artaud. Eu acho que se vocês lerem o Artaud, do Maurice
Blanchot, vocês vão entender bem. Não é assim: entender... não é o entendimento da
inteligência. A inteligência só entende se houver identidade e não-contradição. Se você
disser para a inteligência que S. está sentada e está de pé, ela não vai entender... Não é
justo, ela não vai entender isso! Então, não é a inteligência que entende. É o
pensamento que vai... Eu posso dizer para você que o Artaud produziu os grandes
enunciados sobre a terceira síntese.
Aluno¹: Mas quem deu o nome de terceira síntese. ..?
Claudio: Ahhh, sim, o Deleuze!!
Aluno²: Deleuze que organizou?
Claudio: [Deleuze] é o administrador - o pensador da administração! Deleuze é um
lósofo: um lósofo do tempo!
Aluno³: Ele está tornando visível...
Claudio: Ele está trazendo essa matéria para a especulação, para o pensamento
especulativo.
Aluno²: Você diz que o Deleuze administrou. Mas, talvez, mais do que o termo
administrar... ele compôs alguma coisa com isso?!
Claudio: Não, Deleuze não interfere, como o historiador clássico da loso a
interfere nas obras dos lósofos, dizendo que é verdadeiro ou falso. Deleuze não faz esse
tipo de coisa! Deleuze se importa se ela for sedutora e criadora. Ele não dá importância
para a tolice!... Ele não faz essa clássica interferência, que o historiador da loso a faz
numa obra losó ca, chamando-a de verdadeira ou de falsa. Ele não faz isso. Ele não
acrescenta ao Artaud. A leitura que ele faz é muito original! Talvez por isso as pessoas
tenham di culdade para entendê-lo. Ele não lê como os historiadores clássicos de
loso a leem. Ele não faz comentários, não faz interpretações, o que ele faz são
sobretudo avaliações. Pega o Nietzsche, por exemplo: lendo Nietzsche, di cilmente você
vai dizer que reconhece [ali] o que o Deleuze diz. Não! É  bem diferente! Mas o Deleuze
não diz como... um historiador como Bertrand Russell, por exemplo, diz, que o Nietzsche
é louco, porque falou no eterno retorno. Não é nada disso! Para que serve o eterno
retorno? O que eu vou fazer com isso?
Aluno²: Como funciona aquilo...
Claudio: É. Como funicona? Para que serve, como funciona? É esse o trabalho do
Deleuze. Ele não é um historiador da loso a.
Isso daí, em qualquer universidade que você for, no mundo inteiro, todo mundo vai
chamar o Deleuze de "historiador da loso a"... por sordidez! Por sordidez! Não é por
epistemologia: é por sordidez!
Aluno³: Eu acho que ca muito claro se você pegar uma aula de loso a de um
professor comum... e uma aula de loso a do Claudio. Dá para se perceber a diferença.
Ele está mostrando como se pensa... como isso funciona...
Claudio: É uma máquina! Você está diante de uma máquina: como ela funciona,
para que serve... serve para quê? Para entrar no tempo! Nada mais do que isso!...
Atualmente, os... - isso é (-? -) dos deleuzeanos; são muito poucos! -...eles estão
procurando mostrar como o Deleuze faz com o pensamento... como é que Deleuze lê.
Como é a leitura dele.
Há um engano - todo mundo se engana!. .. - [acerca] do Deleuze ou [de mim mesmo],
admitindo ou iludido de que isso implica em formação de seitas, de grupos. Não! Nada
disso! Na verdade isso aqui é um caminho solitário - a solidão pode ser em grupo! Mas
não busca seitas, não busca solidariedade, não busca reconhecimento, nada disso. Nada
disso! Não está no universo deleuzeano, de forma nenhuma. É fácil distinguir... basta ler
Hegel, lendo Hegel, entendendo Hegel, você vê que ele trabalha com o reconhecimento...
Hoje, quando a Fernanda Montenegro estava falando numa propaganda na
televisão... eu até ri muito... porque [essa propaganda] era toda fundada no
reconhecimento. "Tudo isso só pode ser feito, porque o passado garante o futuro!" - é Hegel!
Então... essa prática daí, eu não tenho nada disso: é um exercício de vida! Um exercício!...
Bom, eu não sei o que eu faço. Se vocês conseguiram entrar nessa dimensão... É o
tempo, o tempo chegou.. entrou o tempo. .. e... (-? -). As minhas leituras garantem o que
estou falando, (não é?) Talvez esteja aí o rigorismo que eu atravesso, admitindo que
todos têm que fazer uma espécie de leitura semelhante. Mas há um exagero meu, nisso.
Talvez não seja preciso! Embora o Deleuze se sustente [dessa maneira]. Ele se sustenta
assim. Nas... leituras muito fortes que você tem que fazer... para conduzir a sua
existência.
Bom... eu vou fechar esta aula, tá? Aí a gente passa a ver o lme...
O que difere Bergson de Proust, Proust de Robbe-Grillet, de Resnais, desses todos
que estão aí, de Godard, é que cada um tira uma porção dessa criatura chamada tempo. A
do Visconti é o tarde demais!
Na página 99 desse livro aqui [A Imagem-Tempo (http://claudioulpiano.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/1985-Cinema-2-A-imagem-tempo.pdf)] - o texto vocês devem
ler, [é sobre] a fundação do tempo (--? --). Deleuze vai falar agora no cristal do tempo - a
formação do cristal, o problema da música, o cristal sonoro, estribilho, memória, tempo
e até.. Olha, quando eu faço uma associação com meus alunos... - geralmente faço isso na
universidade, fora dela raramente eu faço isso. Eu faço uma associação de construir um
mundo neutro entre mim... que eu e os alunos habitemos aquele mundo neutro; que
todo mundo se admita dentro de uma posição. Que é... que... ter excesso de vaidade,
excesso de orgulho..., isso prejudica o estudo! É... o encaminhamento que o Braudel fez
para mim. Ele dizia que, numa sala de aula com 500 alunos, ele encontrava dois ou três
que podiam atravessar!
Muitas coisas a gente não entende, mas isso não tem problema. É isso... Você vai ler
um livro de arte, como o do Wölf in, por exemplo, e ele vai falar de uma gura
chamada... profundidade de campo; ele nem usa esse nome, é um nome moderno, (não
é?). A profundidade de campo... não, ele usa outro nome, não me lembro, comparando a
arte clássica com arte barroca. Não é nada, não dá nem importância para isso. Mas
acontece que a profundidade de campo é do barroco conquistando o tempo. É o tempo
sendo conquistado!
Aluno: É plano e profundidade.
Claudio: É plano e profundidade... mas ai, sabe o que é, L, é no capítulo dois, do
Wöll in, se não me engano, (não é?) você estudar a profundidade, porque há uma
diferença nos mecanismos utilizados pela pintura clássica e pela pintura barroca. As
diagonais, as luzes barrocas (não é isso?) e as dimensões clássicas. Que realmente, quem
vai conquistar o tempo é o barroco! O clássico se limita ao espaço. Essa noção de tempo
talvez seja um bloqueio para vocês. Talvez ela bloqueie...
Eu vou levantar uma questão: existe uma gura que a matemática, por exemplo, lida
muito com ela - que é a gura do in nito... O que é o in nito? Os séculos trazem um
debate sobre se o in nito é real ou não... - é uma discussão entre o in nito atual e o
in nito potencial. Então, essas noções, que parecem de pouca importância, elas são
elementos fundamentais para se entender essas criaturas que estão aparecendo aqui:
tempo, cinema, arte, pintura, teatro, loso a, invadir essas coisas. Por isso, eu digo, que
criar um espaço neutro com o aluno dentro da universidade é muito fácil para mim.
Sempre muito fácil para mim. Não tem vaidade em dizer eu sei, eu sei qual o problema,
nada disso! Você não tem que viver isso! Você tem que fazer agenciamentos ali, para
poder... desde que se queira usar isso na vida... (não é?) Servir-se disso.
Eu acho que não tendo mais nada a dizer... que vocês não perguntam... eu não tenho
mais o que falar. Chegamos na revelação/ tarde demais... vocês se viram com isso, não é?
Não vai levar muito longe, hein? Porque nós vamos chegar a dimensões extraordinárias,
nisso aqui. Por exemplo: o cinema do Robbe-Grillet... é assustador. Eu não poderia
explicar o Robbe-Grillet para vocês com facilidade... é impossível!...
Passa o lme... O lme vai explicar tudo isso!
....Aristocracia, decomposição, história e tarde demais. Pega a aristocracia [trecho
inaudível, misturado com as vozes e a música do lme]
O tarde-demais demais é que penetra... tira você da... do ordinário. Tira você daí. (...)
Eu estou dizendo desde o começo: é a insuportabilidade deste encontro que gera a
obra de arte.
Aluno: A expressão é isso?
Claudio: Isso é a expressão!!! Você não tem outra saída!!! Se você não expressa, está
morto!!! É isso o que eu estou dizendo desde o começo...
Aluno: É uma dobra, então, seria isso?
Claudio: Aí vira um nome, vazio...
Ou você expressa aquilo, ou você morre!!! O artista é isso. Muitas vezes você não
consegue expressar: você pira, você enlouquece. É o que Proust conta no "Contra Saint-
Beuve", é isso! Basta isso: o artista não aguenta! Vocês acham que Fernando Pessoa
morreu de quê? De "bife com batata frita" ou de arte? Morreu de arte!!! Mata!
(----------)
Vocês não entendem é o problema: como você entra nessa matéria... no
pensamento.  Para Platão - quando é que você pensa para Platão? Quando você se
espanta! [Platão] Espantou, entrou! [Visconti-Proust] Revelou, entrou! Confrontem que
vocês vão entender: Revelou, entrou. Espantou, entrou. É a diferença dos dois! Agora:
Platão... espantou, entrou e pensou. Revelou, entrou... foi tarde-demais! Que coisa grave,
hein? Porque, se é tarde demais... é o vazio!!!!!
A música é maravilhosa... Esse menino, o Mahler, foi perseguido pela mulher do
Wagner. A Cosima destestava ele... Por causa disso aqui, dessa sinfonia aí...

Mahler Symphony No 5, Adagietto Vienna S Orchestra, Bernstein

(-------------)
Se um homem sofre mais que do que outro, não tem a menor importância, porque
poderia não ter sofrido. Nenhum sofrimento garante a você maior nota metafísica. É o
erro de muitos pensadores! O Rubens Correia, quando foi fazer uma peça sobre Artaud,
ele pensava que Artaud era importante porque sofreu muito. Eu conheço um sujeito em
Macaé que sofreu muito mais do que o Artaud. Não há nada no mundo da contingência,
ou seja: daquilo que acontece, mas poderia não ter acontecido, que nos dê uma posição
superior ao outro. Não é por aí. Esse é o primeiro ponto da (-? -) O sofrimento é o da arte.
Aluna: Tem até uma máxima cristã, não é? Quem mais sofreu...
Claudio: (--? --) Esse é o sofrimento vulgar, mas não é isso! É uma experimentação
radical... muitos não fazem... outros fazem... Há um autor, que se chama Clément Rosset,
que pergunta qual a importância de se fazer ou não essa experimentação. O homem
trágico tem mais valor existencial que o homem não trágico? Não! Não é por aí. É querer
fazer da vida esse caminho... Acredito que quando você entra...não tem volta!... Não tem
volta!... Não tem volta!... Como é que vai voltar???
Mas o enunciado básico é aquele da ampulheta...

Fim
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 29 DE OUTUBRO DE 2016

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