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Aspectos da sexualidade na adolescência

TEMAS LIVRES FREE THEMES


Aspects of sexuality in adolescence

José Roberto da Silva Brêtas 1


Conceição Vieira da Silva Ohara 2
Dulcilene Pereira Jardim 3
Wagner de Aguiar Junior 4
José Rodrigo de Oliveira 2

Abstract The study involved 920 adolescents be- Resumo O estudo envolveu 920 adolescentes en-
tween 12 and 19 years of age in junior and senior tre 12 e 19 anos de idade em escolas de ensino
high schools of the region of Santo Eduardo of the fundamental e médio da região de Santo Eduardo
city of Embu, São Paulo. The objective was to do município de Embu, São Paulo. Teve por obje-
identify aspects of sexuality of adolescents of both tivo identificar aspectos da sexualidade de adoles-
sexes. Data were collected through a structured centes de ambos os sexos. Os dados foram obtidos
questionnaire, the results of which established the por meio de um questionário estruturado, cujos
difference between boys and girls with respect to resultados demonstraram a equivalência entre ga-
their quest for specific information about sexual- rotas e rapazes com relação à busca de informa-
ity; 39% of boys and 17% of girls practiced sexual ções específicas sobre sexualidade; 39% dos rapa-
intercourse, and among these, 77% of boys and zes e 17% das garotas tinham prática sexual, des-
84% of girls used preservativos. tes, 77% dos rapazes e 84% das garotas utiliza-
Key words Adolescente, Adolescent Development, vam preservativo.
Sexual behavior, Sexuality Palavras-chave Adolescência, Comportamento
sexual, Desenvolvimento do Adolescente, Sexua-
lidade

1
Grupo de Estudos sobre
Corporalidade e Promoção
da Saúde (GECOPROS),
Universidade Federal de São
Paulo. Rua Napoleão de
Barros 754. 04024-001
São Paulo SP.
bretas@ymail.com
2
Universidade Federal de
São Paulo.
3
Universidade de Santo
Amaro.
4
Curso de Graduação em
Enfermagem, Universidade
Federal de São Paulo.
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Brêtas JRS et al.

Introdução entação sexual materializada pelo Projeto de Ex-


tensão Universitária “Corporalidade e Promo-
A adolescência é um período muito especial no ção da Saúde” da Universidade Federal de São
desenvolvimento humano, considerada a transi- Paulo (UNIFESP).
ção entre a infância e a idade adulta, caracterizada Neste contexto, este estudo teve como objeti-
por intenso crescimento e desenvolvimento que vo identificar e comparar alguns aspectos do
se manifesta por marcantes transformações ana- comportamento sexual de adolescentes do sexo
tômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. Em masculino e feminino.
um contexto mais psicológico, é a etapa na qual o
indivíduo busca a identidade adulta, apoiando-se
nas primeiras relações afetivas, já interiorizadas, Metodologia
que teve com seus familiares e verificando a reali-
dade que a sua sociedade lhe oferece1. Trata-se de um estudo exploratório com abor-
Com o decorrer do amadurecimento do pro- dagem quantitativa. Este tipo de estudo, tem por
cesso de adolescer, diante do novo corpo que está finalidade desenvolver, esclarecer e modificar con-
surgindo, os adolescentes passam a preocupar- ceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de
se e valorizá-lo, principalmente na aparência vi- problemas mais precisos para estudos posterio-
sual, adotando comportamentos sociais e sexuais res5. O mesmo foi desenvolvido com o objetivo
atribuídos a cada sexo2. de proporcionar visão geral, de tipo aproximati-
Estes elementos constitutivos configuram a vo, acerca da sexualidade de um grupo específico
identidade do adolescente, em que é importante de adolescentes. Esta abordagem permitiu que o
considerar os processos sociais e culturais que de pesquisador conhecesse e interpretasse a realida-
certa forma delineiam a construção desta identi- de sem nela interferir. Interessa-se em descobrir e
dade. A identidade constitui-se talvez, o fator cen- observar fenômenos, procurando descrevê-los e
tral do gênero e da sexualidade, tendo em vista a interpretá-los. Desta maneira deseja-se conhecer
identificação desta enquanto processo constante a natureza do fenômeno, sua composição, pro-
de mudança, como também nas suas implica- cessos que o constituem ou nele se realizam5,6.
ções para a experiência da vida sexual. Vale ressaltar que o projeto deste estudo foi
A sexualidade é algo que se constroi e apren- aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP e
de, sendo parte integrante do desenvolvimento obedeceu aos padrões estabelecidos pela Resolu-
da personalidade, capaz de interferir no processo ção 196/96, que trata das Normas de Pesquisa
de aprendizagem, na saúde mental e física do in- Envolvendo Seres Humanos7.
divíduo3. Assim, entendemos que toda essa trans- O recorte etário da população estudada se-
formação biológica e psicológica também acarre- gue a definição da Organização Mundial da Saú-
ta em mudanças na convivência social. O adoles- de para Adolescência8, representada por indiví-
cente começa a se relacionar com o “grupo”, inici- duos na faixa etária entre 10 e 19 anos.
almente separados, meninas em um grupo e me- A população deste estudo foi constituída em
ninas em outro, no exercício da bissexualidade4, sua totalidade por 920 adolescentes (444 / 48%
posteriormente, pouco a pouco, exercitam possi- do sexo masculino e 476 / 52% feminino), com
bilidades de relacionamento com os outros. idade entre 12 e 19 anos, que frequentavam três
Diante deste contexto, ressaltamos a impor- escolas estaduais de ensino fundamental e médio
tância do presente estudo para obtenção de co- na Região de Santo Eduardo, do município de
nhecimento sobre alguns aspectos da sexualida- Embu. Como princípio de inclusão adotou-se:
de da população de adolescentes e na formação estar matriculado em uma das três escolas e par-
de um banco de dados destinado a alimentar o ticipando das atividades educativas do Projeto
conteúdo das ações educativas nas escolas junto de Extensão Universitária “Corporalidade e Pro-
à população estudada. moção da Saúde”.
Este estudo faz parte de um conjunto de pes- A população estudada mostrou que 74% do
quisas-intervenção que estão sendo desenvolvi- sexo masculino / 67% feminino encontravam-se
das junto a adolescentes e jovens que frequen- cursando o ensino fundamental, enquanto 26%
tam algumas escolas de ensino fundamental e masculino / 33% feminino o ensino médio. Quan-
médio da região de Santo Eduardo no município to à religião, a maioria referiu ser católica (50%
de Embu, São Paulo. Visou coletar informações masculino / 64% feminino), seguido dos evangé-
para subsidiar a elaboração de ações voltadas à licos (18% masculino / 13% feminino), espíritas
promoção da saúde, por meio da prática da ori- (1% masculino / feminino), testemunha de Jeo-
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vá (2% masculino / 1% feminino) e os agnósti- iniciar um namoro. Ainda com relação ao namo-
cos (29% masculino / 21% feminino). Com rela- ro, 50% masculino acharam que a idade para ini-
ção ao estado civil 100% masculino / 89% femi- ciar o namoro era entre 13 e 15 anos, enquanto
nino eram solteiros e apenas 1 % feminino se 70% feminino entre 14 e 16 anos. Os dados obti-
declarou casado. dos indicaram que 70% masculino / 63% femini-
A coleta de dados deu-se entre 2004 e 2005, no já haviam namorado ou namoravam na oca-
mediante a aplicação de um questionário semi- sião do estudo, porém 30% masculino / 37% fe-
estruturado, de múltipla escolha, auto-aplicado minino ainda não haviam tido iniciação sexual.
em sala de aula e de forma anônima, contendo A virgindade foi considerada importante por
23 questões representando as variáveis relacio- 66% masculino / 91% feminino. Já com relação à
nadas aos dados sócio-demográficos (idade, prática sexual, 39% masculino / 17% feminino já
sexo, escolaridade, religião, estado civil) para ca- consumaram o ato sexual e destes, 77% masculi-
racterização da população estudada e do com- no / 84% feminino utilizavam o preservativo nas
portamento sexual (conhecimento sobre sexua- relações. A primeira experiência sexual ocorreu
lidade, masturbação, namoro, orientação sexual, entre 14 anos ou menos para 91% masculino /
virgindade, relacionamento sexual, contracepção, 60% feminino, entre 15 e 16 anos para 7% mas-
aborto). culino / 33% feminino, entre 17 e 18 anos para
Os dados obtidos foram analisados e inter- 1% masculino / 7% feminino.
pretados em um contexto quantitativo, expres- Quanto à orientação sexual 76% masculino /
sos mediante símbolos numéricos. 63% feminino denominaram-se heterossexuais,
21% masculino / 35% feminino declaravam-se
bissexuais no relacionamento com o outro. Nin-
Resultados guém se declarou homossexual.
Com relação ao assunto homossexualidade,
Os resultados relacionados ao comportamento 41% masculino / 65% feminino entendiam ser
sexual dos adolescentes estudados foram anali- uma escolha sexual como outra qualquer, 12%
sados, organizados e apresentados a seguir: masculino / 8% feminino uma doença, 47% mas-
Descobriu-se que 67% dos adolescentes do culino / 26% feminino um comportamento erra-
sexo masculino e 71% feminino buscavam infor- do e absurdo.
mações sobre sexualidade. Quanto ao conheci- Para 70% masculino / 17% feminino a pri-
mento sobre sexo e sexualidade, 49% masculino meira relação sexual foi com amigas(os), 28%
/ 51% feminino consideraram suficiente seu grau masculino / 79% feminino tiveram a primeira ex-
de conhecimento sobre o assunto, enquanto que periência com namoradas (os), apenas 1% mas-
43% masculino / 41% feminino consideravam culino com prostituta ou garoto de programa.
insuficiente. Como fonte de informação sobre A posição da família em relação à experiência
sexualidade, 31% masculino / 36% feminino pro- sexual dos seus filhos foi representada por 30%
curavam os pais, 24% masculino / 31% feminino masculino / 46% feminino que relataram que os
os amigos, 1% feminino buscavam profissionais pais não desconfiavam; 24% masculino / 15%
da área da saúde, 2% feminino informações em feminino os pais sabiam, mas fingiam não saber
livros, 9% masculino / 7% feminino os professo- e 17% masculino / 16% feminino os pais sabiam
res e 22% masculino / 13% feminino não conver- e conversavam sobre o assunto.
savam com ninguém sobre o assunto. Quanto à pretensão ou utilização de um mé-
Quanto ao ato da masturbação, observou- todo contraceptivo, os dados revelaram que 78%
se que 53% masculino / 12% feminino o pratica- masculino / 75% feminino pretendiam utilizar
vam. Dos adolescentes que se masturbavam, 37% ou já utilizavam o preservativo, 3% masculino /
masculino / 43% feminino praticavam uma vez 16% feminino a pílula, 1% feminino o DIU. Os
por semana, 46% masculino / 27% feminino duas adolescentes que não utilizavam ou utilizariam
a três vezes por semana, 12% masculino / 3% um contraceptivo na relação sexual foi 18% mas-
feminino quatro a cinco vezes por semana, e 5% culino / 7% feminino.
masculino / 17% feminino mais que cinco vezes Com relação ao aborto, 10% masculino / 8%
por semana. feminino fariam ou ajudariam alguém a fazer
Com referência ao namoro, 59% masculino / um aborto, enquanto que 87% masculino / 88%
60% feminino referiram não existir idade para feminino condenaram a prática do mesmo.
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Discussão encontramos uma maior porcentagem de meni-


nas, o que nos leva a pensar num grupo que está
O interesse pelo assunto sexualidade é semelhante explorando o corpo e a sexualidade, rompendo
entre os sexos masculino e feminino, pois ambos as barreiras do silêncio, admitindo a prática da
os grupos buscavam informações sobre o as- masturbação.
sunto, ainda que as manifestações do compor- Para aliviar a tensão sexual na adolescência,
tamento sexual fossem diferentes entre eles. os jovens recorrem à masturbação, que é uma
Quanto ao conhecimento adquirido sobre se- prática que produz a sensação de alívio sexual à
xualidade, a metade dos dois grupos o considera tensão e tem uma função gratificante. Mas jo-
suficiente, enquanto a outra metade insuficiente. vens que chegam antes à plena maturação física e
Com relação às fontes de informação para com- psíquica não se contentam mais com a mastur-
por este conhecimento, encontramos nos dois bação e não conseguem mais sufocar o intenso
grupos os pais como primeiro recurso, posterior- desejo de se relacionar sexualmente, assim depa-
mente os amigos e professores, o que nos cha- ramo-nos com um problema delicado e comple-
mou a atenção, pois tal resultado contrasta com xo, momento em que a orientação sexual faz-se
o de outros estudos. Pesquisa realizada junto a necessária16.
adolescentes da região sul da cidade de São Paulo Em um estudo norte-americano sobre a se-
mostrou que 43% da população pesquisada cos- xualidade feminina, 82% respondeu que se mas-
tumavam conversar sobre assuntos relaciona- turbava. Neste sentido, Hite17 refere que a mastur-
dos à sexualidade com amigos(as)9. bação feminina fornece uma informação quase
Este achado é interessante, pois a orientação que biologicamente pura, uma vez que é quase
sexual é prioritariamente uma competência da sempre praticada no isolamento e na maioria dos
família, peça chave na identidade de gênero e no casos não é ensinado por ninguém, é uma das
desenvolvimento dos papeis sexuais dos filhos10. poucas formas de comportamento instintivo ao
A família e a escola têm papeis diferentes e qual temos acesso. Não é a sexualidade feminina
complementares na orientação dos adolescentes, que tem um problema, é a sociedade que é proble-
uma não substituiu a outra. A escola complemen- mática na sua definição de sexo e no papel subor-
ta o que é iniciado no lar, suprindo lacunas, com- dinado que esta definição confere às mulheres.
batendo preconceitos, desenvolvendo respeito pelo Uma pesquisa realizada com professores de
corpo e pelos sentimentos10. Neste sentido, perce- escolas públicas de São Paulo corrobora com esta
be-se a importância do professor na função na- visão conservadora da sociedade, em que mastur-
tural de educador sexual no ambiente escolar, e a bação foi citada por 9% deles, como um assunto
necessidade de renovação contínua dos seus pró- que não deveria ser abordado na escola para não
prios conhecimentos sobre sexualidade, para estimular a sua prática entre os alunos18.
cumprimento eficaz de seu papel11. Muitas vezes Em relação ao namoro, a maioria dos ado-
os pais consideram delicado abordar questões de lescentes referiu não existir uma idade para ini-
sexualidade com seus filhos adolescentes, justa- ciá-lo, indicando o período para se começar a
mente por não terem muito claro o que aconte- faixa etária entre 13 e 16 anos, coincidindo com
ceu com eles próprios, atribuindo essa responsa- outro estudo19 que estabeleceu a idade de inicia-
bilidade à escola, e esta, por sua vez, apresenta ção com 13 anos.
dificuldade em cumprir tal tarefa12. Ao contrário do “ficar”, o namoro é um rela-
Na temática da sexualidade, as garotas mos- cionamento mais sério, que supõe compromisso
traram-se mais informadas do que os rapa- e fidelidade, e onde a intimidade física ganha es-
zes13,14, porém este conhecimento vai aumentan- paço, no conhecimento de si e do outro, sendo
do para os dois grupos com avanço da idade e seguida pela iniciação sexual do casal20.
da escolaridade13,15, confirmando mais uma vez Em relação à orientação do desejo sexual, a
a importância desta como condição para que o maior parte das garotas entendia como uma es-
jovem tenha acesso aos meios e fontes de infor- colha como outra qualquer, enquanto que os
mação sobre o assunto. rapazes expressaram maior preconceito em rela-
Em relação à masturbação, houve maior ocor- ção ao namoro com pessoas do mesmo sexo,
rência entre os meninos, bem como na quanti- confirmando que vivemos em uma sociedade ain-
dade desta prática. Estes dados confirmam as- da discriminatória quanto à orientação afetiva e
pectos característicos da construção social da se- sexual dos indivíduos21.
xualidade masculina. Apenas na prática da mas- A escola poderia colaborar neste sentindo
turbação por mais de cinco vezes por semana com professores preparados para polemizar, li-
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dar com valores, tabus e preconceitos22. Mas, eles A assimetria de gênero se reflete na capacida-
continuam sem subsídios adequados para tra- de de negociação acerca da contracepção, especi-
balhar estas questões e acabam dando a elas en- almente no momento da iniciação sexual21. Sen-
foque totalmente biológico com a função de pre- do a camisinha de domínio masculino, compete
servar o educador frente aos alunos com relação ao homem a decisão de usá-la ou não, mas para
aos seus próprios questionamentos, receios e os mesmos ela é vista como um obstáculo ao pra-
ansiedades23. zer sexual26. Nesta relação de poder, as adolescen-
A virgindade é considerada importante para tes continuam sem capacidade para negociar o
quase a totalidade das meninas, resultado de uma sexo seguro com seus parceiros, expondo-se a ris-
educação norteada pela cultura patriarcal. Ob- cos dos quais elas têm pleno conhecimento.
servamos uma grande porcentagem de meninos É necessário trabalhar a questão de gênero
que consideram a virgindade um valor a ser pre- na adolescência como uma estratégia de dimi-
servado, mas supõe-se que estejam se referindo nuir o desequilíbrio de poder entre os sexos,
a virgindade das meninas com quem eles se rela- mudando normas de pares, criando habilidades
cionam e não a sua própria virgindade. de negociação e mudança de conduta15.
O dado obtido nos remete à dinâmica das Em seu relacionamento sexual a maior parte
relações de gênero, que impõe às moças o recato dos dois grupos se colocou como heterossexual,
em relação ao sexo, o que resulta no elevado va- mas, uma expressiva porcentagem destes decla-
lor atribuído à virgindade para elas24, tanto que rou-se bissexual no relacionamento com o ou-
as jovens conversam com os namorados sobre tro. Este dado deve se referir aos jogos sexuais
não serem mais virgens ao iniciar um namoro. característicos da adolescência e não propriamen-
Porém, em situação oposta está a construção te às relações sexuais O padrão que tem se cons-
social masculina, em que se espera que os meni- tituído é o de crianças se relacionando entre si,
nos tenham experiência sexual e apresentem ver- crianças se relacionando com os adolescentes,
gonha de dizer que são virgens15. numa cadeia sexual que chega até a adultilida-
Quanto ao intercurso sexual dos adolescen- de27, no direito universal de usufruir plenamente
tes, a consumação do ato sexual se deu em maior do próprio corpo e dos prazeres que este pode
concentração entre os meninos. Quanto à idade oferecer28.
para o início da atividade sexual, os dois grupos Quanto aos parceiros sexuais, a maior parte
apontaram em maior porcentagem os 14 anos dos rapazes teve sua primeira relação sexual com
ou menos. Estes dados confirmam uma situação amigas, enquanto que as garotas com os seus
muito comum no contexto histórico em que os namorados. Estas raramente iniciaram-se sexu-
adolescentes têm iniciado sua vida sexual cada vez almente antes do namoro propriamente dito26,
mais cedo20, o que colabora para a não utilização enquanto que nem todos os meninos o fizeram
de proteção na primeira relação sexual devido a em um relacionamento de namoro19.
sua imaturidade etária, emocional e afetiva. Para as garotas o amor mostra-se como a
Diante deste fato, alguns autores consideram maior motivação para a iniciação sexual, poden-
como fatores de proteção aos adolescentes a do ou não ser marcada por insistência dos na-
maior escolaridade15,24, melhores condições so- morados e/ou para a manutenção do interesse
ciais24 e conviver com ambos os pais, condições do parceiro na relação20. Mas, para os rapazes,
que podem postergar a idade de iniciação sexual envolvendo ou não sentimentos amorosos, o
e facilitar o uso de proteção na primeira relação primeiro ato sexual compreende uma forma de
sexual. satisfação do instinto e da necessidade de dar
De acordo com os resultados deste estudo, vazão a atração física, além de servir como modo
em suas relações sexuais, as meninas referem de expressão do processo de tornar-se homem e
maior utilização de camisinha do que os meni- de consolidação da sua masculinidade19. Os re-
nos, o que demonstra um contexto de responsa- sultados também mostram que uma pequena
bilidade, determinado pelo desenvolvimento e porcentagem de meninos iniciou sua vida sexual
amadurecimento mais rápido entre as meninas com prostitutas, o que corresponde ao fato de
em comparação aos meninos. Este fato deve-se que os meninos têm com frequência sua inicia-
ao fato da aceleração do ritmo de crescimento ção sexual com mulheres mais velhas, muitas
que começa, em média, dois anos mais cedo nas vezes, já experientes sexualmente19,29. Historica-
garotas, algumas a partir dos 8, 9 anos. Algumas mente, uma parcela dos homens no Brasil teve,
garotas, aos 13 anos, já terão corpo de adulto, como possíveis parceiras sexuais, prostitutas ou
enquanto outras nem iniciaram a puberdade25. empregadas domésticas29.
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A questão da família em relação à vida sexual tituem um direito. No que concerne à reprodu-
de seus filhos demonstrou um distanciamento ção, as mulheres continuam sendo culpabilizadas
entre ambos, pois a menor porcentagem dos dois por engravidar; os homens, absolvidos ou esque-
grupos conversava com os pais sobre o assunto cidos de sua participação no evento; e aos pode-
e tornava conhecida sua prática sexual. Dados res públicos é reclamado simplesmente o planeja-
conflitantes, quando comparados com os obti- mento familiar sem considerar a etapa necessária
dos sobre a fonte de informação para obtenção da educação sexual que é um instrumento que
de conhecimento sobre sexualidade, o que de- poderia, de fato, fazer com que a contracepção e a
monstra incoerência nas respostas. proteção nas relações sexuais se integrassem de
O tempo disponível dos pais para se relacio- maneira regular na vida dos jovens31.
narem com seus filhos está cada vez mais limita- Quanto ao aborto, a grande maioria dos ado-
do. Diante deste fato, com relação à orientação lescentes, de ambos os sexos, disseram que não o
sexual, transferem para a escola uma responsa- fariam nem ajudariam alguém a fazê-lo. Estas
bilidade que, ou não querem, ou encontram difi- afirmações têm como base a influência da religião
culdades em assumir21. Assim, a prática sexual adotada pelos adolescentes deste estudo, as quais
dos filhos não é discutida na família, o gerencia- foram apresentadas na caracterização da popu-
mento da contracepção, à revelia dos pais, tor- lação. Estes resultados se confrontam de certo
na-se mais difícil, e no entanto, o fato destes es- modo com os dados do aborto no Brasil, pois ele
tarem cientes e o recomendarem, não significa tem sido considerado um problema de saúde
que haverá um acato30. pública por ser, na grande maioria das vezes, pra-
Para a prevenção da gravidez a maior parte ticado clandestinamente em locais e por profissio-
dos rapazes e garotas já usou, ou pretende usar, nais despreparados para o procedimento.
o preservativo, confirmando outros estudos que Só vivenciando a situação é que o adolescente
apontam este método de prevenção de gravidez poderá decidir-se pela maternidade ou pelo abor-
como o mais conhecido entre os adolescentes15. to. Sendo que esta última decisão raramente
Porém, uma significativa porcentagem de rapa- é tomada de forma solitária pelos adolescentes,
zes e garotas, sendo maior no primeiro grupo, pois as famílias se posicionam oferecendo con-
afirmou não usar nenhum contraceptivo na re- dições materiais e apoio para sua realização32,
lação sexual, tornando-se um grupo de risco para se os valores sociais, morais e religiosos assim
a gravidez na adolescência. Neste sentido, as ra- permitirem.
zões para a não utilização dos contraceptivos entre Qualquer que seja a escolha do adolescente,
os adolescentes estão relacionadas ao não plane- dificilmente ele terá condições de viabilizá-la sem
jamento da relação sexual, falta de confiança nos a ajuda da família. E qualquer que seja a decisão,
métodos, onipotência adolescente e a rejeição do aborto ou reprodução, pode ser incorporada ao
parceiro por interferência em seu prazer sexual. processo de construção da identidade, quando
Assim, a gestão da contracepção continua a ser vividas como alternativas escolhidas por eles e
encargo feminino, ainda bastante submetido à não como impostas por terceiros30.
capacidade de autodeterminação e de negocia-
ção com o parceiro30.
É importante considerar que o uso do pre- Conclusão
servativo é o oposto da espontaneidade que se
costuma atribuir ao sexo e à juventude. Assim, o A sexualidade passou a ser reconhecida como
estímulo deve incluir a dimensão do erotismo e construção social, efeito dos padrões culturais,
da praticidade, não apenas o medo24. É preciso num período cuja face social não é um fenôme-
levar os adolescentes à reflexão e negociar com no homogêneo, o que nos leva a considerar que
eles a utilização do seu conhecimento para a pró- há diferentes adolescências moldadas por pro-
pria proteção18. cessos sociais distintos.
Como já foi observado, a adolescência é um O estudo mostrou que não há diferenças sig-
período da vida em que colegas e pares passam a nificativas, em porcentagens, entre o grupo de
ganhar mais importância, e isso faz parte do pro- rapazes e o de garotas, nas questões abordadas,
cesso de construção da autonomia dos jovens di- exceto no que toca a homofobia, em que o pre-
ante da família, na busca de suas singularidades. conceito masculino prevaleceu.
Não discutir contracepção é permanecer cego di- As relações afetivas e sexuais do grupo estu-
ante do fato de que as relações sexuais de jovens e dado foram estruturadas e atualizadas por um
adolescentes se modificaram, são legítimas e cons- sistema de significados, dado pela cultura, e, por-
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tanto, determinadas entre outros aspectos, por Para equilibrar as relações de poder, especial-
padrões de gênero. mente no exercício seguro da sexualidade ado-
Esses padrões se expressam claramente na lescente, faz-se necessária a construção do co-
vivência da sexualidade, onde, do ponto de vista nhecimento destes quanto às suas responsabili-
biológico, as relações de poder têm significados dades individuais e sociais. Para tanto, as políti-
diferentes para homens e mulheres, assim como cas públicas de saúde e de educação devem con-
na compreensão de si mesmos, do outro e de tribuir para discussões sobre a sexualidade, as-
suas relações. sumindo as relações de gênero, classe social e et-
A relação de poder neste estudo verifica-se nia, e também das outras concepções que o ado-
no fato da garota ser a responsável pela contra- lescente tem de si mesmo, e de sua sexualidade.
cepção, ainda que diante da negação masculina Neste sentido, é possível entender que a escola se
de usar preservativo, sem que ela tenha, na mai- mostra como bom espaço de socialização na
oria das vezes, condições para negociação, seja construção e na execução de medidas de preven-
na contracepção ou na prevenção das Doenças ção, voltadas à educação sexual de seus alunos,
Sexualmente Transmissíveis. entre eles, os adolescentes.

Colaboradores

JRS Brêtas contribui para a concepção e planeja-


mento do projeto, obtenção de dados, análise e
interpretação; participou na elaboração do con-
teúdo do manuscrito. CVS Ohara contribui para
a concepção e planejamento do projeto; partici-
pou na revisão do conteúdo. DP Jardim contri-
buiu com a elaboração do conteúdo do manus-
crito. W Aguiar Junior, JR de Oliveira participa-
ram da coleta de dados, tabulação, análise e in-
terpretação dos dados.
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Brêtas JRS et al.

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