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OUTRAS SOCIABILIDADES
A leitura favorece as transições entre corpo e psiquismo, dia e noite, passado e
presente, dentro e fora, perto e longe, presente a ausente, inconsciente e consciente,
razão e emoção.
Sair de uma crise, elaborá-la e superá-la, pressupõe, ao contrário, recuperar vínculos
capazes de garantir uma continuidade, um contexto, e reencontrar, como foi dito
anteriormente, um ou vários “outros significativos”.

A comunidade pré- existente


Com o fim da ditadura, Maria Inés Bogomolny, juntamente com um pequeno grupo de
escritores e professores, dedicou-se a reabrir bibliotecas e falar com as pessoas que
encontrava. “Eu faço parte de um movimento; nós íamos reabrir as bibliotecas, a
palavra que havia sido tão cruelmente silenciada despontava por todos os lados”. Os
livros e a palavra andavam juntos, espontaneamente.
Hoje, com o apoio das ONGs ou, às vezes, de órgãos públicos, ela percorre a Argentina
incansavelmente e, aonde vai, começa por procurar leitores, como, por exemplo, uma
mulher que de início só lia romances água com açúcar. “Os leitores surgem como flores
do campo, apesar de terem tido pouco contato com os livros.
Tornaram-se leitores por intermédio de um parente, de um professor. São essas
pessoas que precisam ser apoiadas”. Com eles, conduz círculos que reúnem crianças
pais, professores ou profissionais da saúde, e lhes fornece caixas de livros escolhidos a
dedo.

O desenvolvimento de clubes de leitura


Nos países de língua inglesa, esses clubes reúnem muito mais mulheres do que
homens; dois terços delas tem mais de quarenta anos e, na maioria das vezes, fizeram
curso superior.
Os clubes de leitores ou os cafés literários também se multiplicaram em outros países
europeus, particularmente na Holanda, na Grécia e na Espanha( curiosamente seu
desenvolvimento parece refletir-se menos na França).
Na Espanha por exemplo, onde essas experiências literárias compartilhadas foram
muito desenvolvidas desde os anos 1990, os círculos de leitura têm, geralmente,
quatro traços em comum: são compostos de mulheres de meia idade; possuem uma
“vertente gastronômica”; organizam-se a partir de bibliotecas públicas ou em relação
estreita com elas; relacionam-se com outros grupos do mesmo gênero em uma escala
mais ampla.

Ler junto, no Aragão Rural


Ballobar é uma vila de cerca de mil habitantes, situada no Leste de Aragão, uma das
regiões menos povoadas da Espanha: ela também, uma região “em crise”. E uma vila
tranquila, com poucas pessoas nas ruas, alguns pequenos comércios, entre os quais
uma padaria onde, entre os pães, um cartaz surpreende: “Nesta padaria, podem-se
trocar os livros do Leer Juntos”.
A realidade as pegou de surpresa: o interesse dos alunos pela leitura deixava a desejar.
Perguntavam-se sobre as causas desse desamor. Os alunos veriam seus mestres
mergulharem nos livros? A família deles lhes transmitia o desejo de ler? Segundo elas,
era preciso “ dar um contexto cultural à questão da leitura”, Daí a ideia de criar um
espaço onde docentes, familiares e bibliotecários pudessem trocar experiências,
modificar sua própria relação com os livros, desenvolver hábitos de leitura, mas
também se formar literariamente- educação literária que, todavia, não pretendia
excluir o “prazer “ ou a “alegria” de ler.

Uma formação da sensibilidade


Na Argentina, Juan Groisman também trabalha, às vezes, a partir de questões quando
anima oficinas de literatura em um centro de detenção para menores. Durante meses,
as participantes se perguntaram sobre” as grandes questões da humanidade” que
haviam elaborado: “O amor é eterno?”, “Como começou o Universo?”, “A vontade e o
desejo são suficientes?” etc. Elas chegaram a ler numerosos textos, mitos em
particular, tais como as diferentes versões que colocam em cena Teseu, Ariadne e o
Minotauro.

Um projeto político
Na verdade, em muitos desses clubes de leitura- não em todos-, é sem dúvida um
projeto político que está em jogo. Através de seu engajamento, esses professores,
bibliotecários, escritores, psicólogos ou simples cidadãos se aferram a um
compartilhamento mais amplo da escrita, mas também, em profundidade, à
construção de uma sociedade que seria ao mesmo tempo mais democrática e mais
solidária.
“Para além da possibilidade da leitura solitária, e sem modo algum menosprezá-la, a
leitura nos interessa aqui como atividade social de negociação de significações, como
prática polissêmica, coletiva, multívoca, polifônica, escreve S. Seoane. “Contar histórias
é uma forma de constituir de modo evidente uma comunidade e de conhecer e se
reconhecer em uma cultura”, escreve ainda Seoane, mas acrescenta: “Isso dito, não é
que o coletivo cancele o sujeito”.
Em certos países, é um movimento em plena expansão, muito vivo, frequentemente
animado por jovens que se engajam de modo profissional ou voluntário, sem poupar
seu bairro ou sua vila, o qual a leitura vem manter e às vezes, modificar.
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QUAIS LEITURAS?
Do lado dos leitores: não poupar esforços
Do lado dos leitores, um pouco por toda a parte, e qualquer que seja o meio social e
cultural, a regra é o ecletismo. O mais espantoso é mesmo a sua capacidade de não
poupar esforços, custe o que custar, para salvaguardar um espaço seu, construir
sentido, responder à busca de palavras, de relatos, de metáforas. A ponto de que
poderíamos perguntar, num primeiro momento, se qualquer material não está apto a
servir a esse propósito.
A escolha dos mediadores, entre paixão e observação
Um esclarecimento complementar é trazido pelos mediadores que trabalham em
contextos de classe. Suas opiniões, com efeito, não se devem apenas a seus caprichos e
gostos pessoais, mas são também o fruto de anos de experiências, de observações, de
levar em conta os desejos daqueles aos quais eles se dirigem, de confrontar-se com
outros profissionais.
Vimos, por exemplo, o caso de Leer Juntos, na Espanha: o grupo funciona de modo
bastante flexível, mas há um domínio no qual as coordenadoras exercem uma função
diretiva, a da escolha dos textos lidos e discutidos. Um princípio, que elas julgam
essencial, foi o de “recusar a facilidade e a frivolidade”, de nunca diminuir a qualidade
literária para tentar seduzir o leitor com textos “fáceis”.
Uma mesma exigência se encontra em Asolectura, na Colômbia, onde “só o melhor é
bom quando se trata de oferecer material de leitura para quem sente falta dela em
seus lares”. Silvia Castrillón precisa: Não somente esses jovens não querem ser
excluídos das ‘boas leituras’ de modo paternalista e demagógico, mas fazem uma
leitura rebelde e subversiva de obras canônicas, a partir das quais eles sentem que
podem construir[...] identidades formadas por múltiplos pertencimentos, entre as
quais a constituída pela herança cultural transmitida pelos clássicos”.
De fato, várias pessoas notam que propor belos livros ou textos reconhecidos como “ a
boa literatura”, e não concebidos sob medida para esses públicos, tem um efeito
narcisístico sobre estes: eles se orgulham de ter podido, pelo menos em parte, se
apropriar de tais textos, de expressar livremente a sua opinião sobre seu tema, assim
como de conhecer a vida e as escolhas de quem os escreveram.
Detentos ou cartoneros, cativados pela poesia
A poesia também aparece muito nas escolhas dos promotores da leitura. Nós a
havíamos encontrado tanto no Centro de Leitura para Todos, na periferia de Buenos
Aires, quanto no Aragão Rural ou no café literário com os jovens de rua na Colômbia.
Na América Latina como na França, bibliotecárias frequentemente notaram o gosto dos
detentos por poemas, e Xavier Pommereau observou esse mesmo gosto entre os
jovens suicidas de que se ocupa.
A poesia desempenhou ainda uma função essencial entre os cartoneros, os catadores
de papel que percorrem as ruas de Buenos Aires, na maioria das vezes em família,
recolhendo papelões a serem revendidos, e que Nancy Yulán e seus companheiros
acompanharam durante meses.
A força da metáfora
Examinando materiais sobre experiências levadas a cabo em contextos de crise, fiquei
impressionada pelo fato de que pessoas de formações muito diversas( literatos,
psiquiatra, antropólogos, bibliotecários etc.) redescobriram, em diferentes pontos dos
mundo, que a leitura de um conto, de uma lenda, de um poema, de um livro ilustrado
podia permitir falar as coisas de outra maneira, a uma certa distância- particularmente
no caso daqueles que viveram uma guerra, uma catástrofe, um trauma.
Um pouco por toda a parte, diferentes profissionais sublinham a importância da
mediação de um texto estético reconhecido, compartilhado, de modo a objetivar a
história pessoal, a circunscreve-la do exterior, e destacam a força da metáfora, do
desvio mediante o distanciamento temporal ou geográfico.
Uma metáfora permite dar sentido a uma tragédia e evita, ao mesmo tempo, que ela
seja evocada diretamente; permite também transformar experiências dolorosas,
elaborar a perda, assim como reestabelecer vínculos sociais.
Uma arte discreta e essencial
Em seu prefácio a Contos de Kolimá, Luba Jurgenson cita uma frase de Variam
Chalámov: “ As metáforas, a complexidade do discurso aparece em certo grau da
evolução e desaparecem quando esse grau foi transposto em sentido inverso”. As crises
atuais estariam também ligadas a colapsos simbólicos, a impasses na capacidade de
metaforizar? E o que temem alguns psicanalistas. “Quando somos sem parar expostos
a imagens que não deixam lugar algum à imaginação, a realidade se torna caótica e
indiferenciada”.

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