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Neste ensaio será discutida a permissividade da eutanásia segundo a visão ética.

A posição
defendida é que é eticamente permissível.

A eutanásia consiste na morte intencional, provocada ou não evitada, de um indivíduo em


que este será beneficiado ou, pelo menos, não surtirá tal acto em seu prejuízo. Quando se
pratica a eutanásia é na perspectiva de aliviar a dor de alguém que tem uma vida futura com
uma qualidade expectável muito negativa. O problema ético que este acto levanta consiste
em saber se será permissível que as pessoas, em especial aquelas que se encontram numa
fase terminal da vida e em sofrimento agudo, possam optar pelo fim das suas vidas. Se sim,
se é admissível que solicitem medidas activas que as matem ou é antes permissível que
apenas requeiram que as deixem morrer, pedindo aos médicos que se abstenham de as
tratar.

Para a discussão moral acerca deste acto é necessária a distinção entre a sua forma activa e
passiva e o seu tipo: voluntária, não-voluntária e involuntária. Assim: a eutanásia activa é
aquela em que a morte é provocada; a passiva é originada pelo consentimento de uma
morte quando seria possível evitá-la; a eutanásia voluntária consiste na sua realização por
vontade própria do indivíduo; a não-voluntária representa a morte de alguém que não tinha
capacidade de decisão e que foi decidido por si; a involuntária é praticada em alguém que
tinha a capacidade de decisão mas que não consentiu a sua morte seja por falta de
questionamento ou pela sua explícita negação.

Convém referir que as eutanásias activa e passiva surgem, por vezes, com definições
variáveis. No modo de distinção supracitado, um defensor da eutanásia passiva não
concordará com o desligar de um sistema de suporte, se assim o fizer terá de traçar outro
tipo de distinção como dizer que na eutanásia activa a causa primária da morte é a acção
humana (e.g. administração de uma injecção letal) enquanto na passiva será, por exemplo,
uma enfermidade a sua causa primária e o desligar ou não ligar um sistema de suporte que
permitiria a continuidade vital seria considerado eutanásia na forma passiva.

Segundo o filosofo alemão Immanuel Kant a resposta à questão-título do ensaio seria “não”.
Kant dá uma extrema importância à individualidade da pessoa de cada um dizendo “age
como se a máxima de tua acção devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da
natureza” (Fórmula da Lei Universal) e, mais importante ainda, “age de tal modo que
possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre
como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio” (Fórmula do Fim em Si). De
acordo com o Imperativo Categórico enunciado por tal filósofo alemão é inaceitável usar a
pessoa de alguém como meio, mas veja-se que, na eutanásia o meio é o fim pois usa-se tal
pessoa de um indivíduo como meio para o fim do sofrimento dessa mesma. Outro aspecto
importante é o problema da metafísica acerca de identidade pessoal, em que a teoria
maioritariamente aceite é a “perspectiva psicológica” em que um indivíduo X num
determinado momento só é o indivíduo X’ num momento posterior se existir continuidade
psicológica (veja-se McMahan, 2002). Assim, em certos casos, a eutanásia não se poderia
considerar “kantianamente” incorrecta pois não existiria pessoa para matar, pois esta já
havia sucumbido, no entanto Kant não prevê tais casos. Este factor opõe-se à teoria de Kant
pelo facto de esta não permitir excepções mesmo quando as consequências são negativas.

No caso de um indivíduo optar pela sua morte, eutanásia voluntária, Kant não pode
responder pois entram em discussão o dever de não matar e o dever de respeitar a
autonomia e preferência de um sujeito, e a teoria de Kant não prevê casos de conflitos de
deveres. Veja-se o seguinte caso: o João está a sofrer com uma doença incurável e é-lhe
dado um prazo de vida de 6 meses. Tendo este um sofrimento insuportável devido ao seu
estado pede uma morte indolor e antecipada ao médico, no entanto, atendendo a Kant, ou
este faz valer a intenção, que é no que consiste o valor moral para o filosofo alemão, e
concede o desejo do paciente com objectivo de aliviar a dor e respeitar a pessoa deste ou
então atende ao dever absoluto “não devemos matar” e, embora a sua intenção seja de não
violar a integridade do sujeito, está a violá-la ao desrespeitar o seu pedido.

Ao contrário de Kant, os autores James Rachels (1975) e Michael Tooley (1980) admitem
ambas as formas de eutanásia são permissíveis, pressupondo a forma passiva e abrangendo
também a eutanásia activa por tal permissividade pois procuram demonstrar que não há
diferença eticamente relevante entre matar e deixar morrer, ou seja, fazer um mal ou
permiti-lo é moralmente desprezável. No entanto admitem que matar parece ser pior que
deixar morrer pela motivação do agente ou o impacto social, que são factores eticamente
relevantes. Porém se considerarmos dois casos hipotéticos não denotaremos diferenças
entre ambas as acções. O par de casos propostos por Rachels é o seguinte: (1) Miguel quer
herdar a fortuna do seu jovem primo, pelo que o afoga enquanto ele toma banho, fazendo
tudo parecer um acidente; (2) Miguel quer herdar a fortuna do seu jovem primo e, quando
entra na casa de banho para o afogar, constata que ele está a afogar-se acidentalmente, pelo
que fica a vê-lo morrer, estando disposto a emergir a sua cabeça se isso for necessário para
garantir a sua morte. Nestes casos, note-se, a não existe diferenças morais entre matar e
deixar morrer, sendo esta uma crítica apontada a esta defesa da eutanásia, pois generaliza
uma situação para todas as outras e o facto de um factor não produzir assimetria moral
num determinado par contrastante não significa que nunca venha a produzi-la. Esta
estratégia utilizada por Rachels foi designada por Shelly Kagan (1988) como “estratégia do
contraste”. Deste modo não existe permissividade de inferir que a eutanásia passiva está na
mesma categoria moral que a activa, não deixando a distinção ética entre matar e deixar
morrer de causar polémica filosófica.

Outro aspecto a apontar à teoria de Rachels e Tooley é o facto de pressuporem a forma


passiva de eutanásia como permissível pois, os críticos de tal acto, embora possam admitir
a inexistência de distinção entre fazer e permitir, podem rejeitar tal pressuposto e
considerar a eutanásia de ambas as formas moralmente incorrectas. No entanto, alguns
destes críticos, como Greg Beabout (1989), entendem que nem sempre é errado induzir ou
permitir a morte de alguém para seu benefício, contudo referem que não se pode fazê-la ou
permiti-la intencionalmente. Tais críticos baseiam-se na “doutrina de duplo efeito” em que
só é permissível dar origem, activa ou passivamente, a um mau efeito de modo a obter um
bom efeito, só se podendo fazer tal coisa se: 1) o mau efeito não for pretendido nem como
fim nem como meio; 2) o mau efeito é inferior ou proporcional ao bom. O que distingue
uma acção consentida, segundo Beaubout e Rachels, para um mesmo caso, com uma
mesma solução e consequências, acaba por ser a máxima, tornando-se, para Kant, a acção
do crítico moralmente correcta e a do defensor moralmente incorrecta.

O ponto 2) da “doutrina do duplo efeito” acaba por ser um pouco utilitarista, ou seja, se o
saldo for positivo, faça-se. O utilitarista, nos tipos e formas de eutanásia aqui discutidos,
diria para se realizarem desde que as consequências, que são a moralidade segundo estes,
fossem boas, ou seja, proporcionassem “maior felicidade para o maior número”. No
entanto, no caso da eutanásia não-voluntária, este Imperativo Categórico de “maior
felicidade para o maior número” poderia ir contra a vontade da pessoa ou do seu
responsável legal, bastando que uma maioria beneficia-se com isso, estando esta a ser
usada como meio e a ser a sua dignidade desrespeitada. Embora diga que a “doutrina do
duplo efeito” se parece com a visão utilitarista no ponto 2) devido ao saldo, esta última
contesta-a pois pensa que duas acções com as mesmas consequências devem ter o mesmo
valor moral.

Peter Singer (1993), defensor da permissividade da eutanásia, adoptou uma estratégia


baseada na procura de boas razões para não matarmos pessoas inocentes, concluindo que a
sua morte: 1) viola o seu direito moral à vida; 2) desrespeita a sua autonomia; 3) frustra a
sua preferência em continuar a viver; 4) priva-a de um futuro valioso. Segundo o defensor,
este acto não consta nenhuma violação do direito moral à vida de um sujeito pois este
consente a sua morte. Se a autonomia e as preferências são eticamente importantes, refere
também Singer, que a eutanásia deve ser aprovada pois traduz um respeito pela autonomia
e satisfação da vontade um individuo. Por último, nenhum indivíduo vítima de tal
adiantamento do término vital é privado de um futuro valioso pois a sua qualidade de vida
expectável é muito negativo. Deste modo, conclui o filósofo que, as razões que nos levam a
considerar errada a morte de uma pessoa inocente induzem-nos e validar a eutanásia.
Como se verifica, Singer alega motivos para considerarmos a eutanásia em ambas as formas
e do tipo voluntária permissível.

David Oderberg (2000) refuta o veredicto de Singer dizendo que o direito moral à vida é
inalienável e que a autonomia, numa correcta compreensão, está sempre sujeita ao bem
humano, pensando não se poder exercer autonomia escolhendo a morte. Defende que um
enfermo, se compreendesse a bem a sua situação, não escolheria morrer. Por último, refere
que o facto da existência de um futuro valioso é uma boa razão para não matarmos pessoas
inocentes no entanto não serve de argumento em caso de inexistência para a prática de
eutanásia pois nesse caso a eutanásia involuntária seria permissível.

Embora critiquem a prática de eutanásia, alguns destes opositores admitem que em


determinada circunstâncias a esta é permissível, não admitindo é a sua legalização pois
imaginam um futuro “derrapante” até à eutanásia involuntária e a seu tempo a todos os
indivíduos socialmente indesejáveis. Estes críticos referem, como sustento da sua opinião, o
“programa de eutanásia” nazi e as atrocidades associadas, no entanto, os defensores deste
acto referem que não existiu nenhum “programa de eutanásia” no governo de Hitler, já que
não decidiram matar para benefício do sujeito (Singer, 1996). Além de tal, indicam a
experiência realizada na Holanda com a legalização da eutanásia que não indicia que esta
prática envolva um risco significativo e incontrolável nem nenhuma derrapagem para a
imoralidade, pensado que se não for legalizada serão espectáveis maiores abusos.

Acerca de legalização desta prática, J. David Velleman (2002), exprime outra preocupação
com as consequências deste acto. Se a um paciente, que tem preferência por viver, lhe é
questionado se deseja morrer e este fizer uma escolha que, aos olhos dos seus amigos e
familiares se torne injustificável e irracional, o que não será invulgar numa cultura hostil à
dependência e passividade, este fica sem a sua “razão de viver”: o relacionamento
significativo com os outros. Deste modo, vê Velleman que, a situação do paciente iria
prejudicar os seus interesses e que a legalização da prática referida seria como estabelecer o
direito ao duelo numa cultura obcecada.

Vendo diversas opiniões, saliento as críticas referidas à resposta ética de Kant para este
assunto: o seu ponto de vista não valoriza as consequências mesmo sendo estas negativas,
ao atender à intenção de respeitar a integridade da pessoa de alguém podemos estar a
desrespeitá-la ao mesmo tempo e Kant generaliza o Fórmula do Fim em Si para todas as
situações, no entanto penso que se for de vontade do doente este pode ser usado como meio
para o seu fim.

Acerca de Rachels, concordo com as críticas avançadas por Kagan, pois este tenta
generalizar uma situação para todas as outras. A outra crítica a Rachels e Tooley não me
convence, pois estes tomam a eutanásia passiva como permissível para depois demonstrar
que no seu ponto de vista a eutanásia deve ser permissível independentemente da forma, ou
seja, trata-se eutanásia logo não importa como é realizada, sendo uma opinião com a qual
demonstro concordância.

O ponto de vista de Beabout não é, na minha opinião, aceitável pois este preocupasse mais
com a consciência de quem mata ou deixa morrer do que com o sofrimento do paciente. Ou
seja, com a doutrina do duplo efeito o acto por exemplo de administrar morfina num doente
é para lhe retirar a dor, não para o matar, no entanto sabe-se ele irá morrer mas o
importante é que a intenção não seja essa. Penso que a eutanásia nunca foi admitida como
meio para a morte mas sim para o alívio da dor logo esta “doutrina do duplo efeito” é uma
forma de repetir por outras palavras o à priori sabido, tendo esta uma preocupação
exagerada com a intencionalidade e com o saldo, em vez de se preocupar com a vontade do
paciente. Como referi, o ponto 2) desta doutrina diz que o mau efeito deve ser inferior ou no
máximo equivalente ao mau efeito, o que acaba por ser um pouco utilitarista, sem poder
esta “conta” ser realizada aritmeticamente, apenas estimada. Acerca do utilitarismo, este
embora tenha a finalidade de conceder maior felicidade para todos, não faz referência à sua
vontade, ou seja, segundo o ponto de vista utilitarista até a eutanásia involuntária seria
permissível se isso trouxesse maior felicidade para o maior número, sendo menosprezada a
dignidade do sujeito que se tornaria um mártir.

Peter Singer apresenta uma teoria, com que concordo, na qual refere quatro factores para
não matarmos pessoas inocentes dando justificação esses mesmos para a prática de
eutanásia. Oderberg refuta o veredicto de Singer apresentado motivos que considero
inválidos. Refere que o direito à vida é algo que não podemos ceder, ou seja, não podemos
decidir morrer, assim, um indivíduo não tem liberdade de decisão acerca daquilo que lhe é
mais valioso. Pensa também que não podemos exercer a autonomia ao escolher a morte
pois esta está associada ao bem humano, levando-me a concluir que Oderberg considera a
prática da eutanásia contraproducente pois em vez de aliviar a dor de um sujeito em
sofrimento vai-lhe trazer mal, não entendendo eu como poderá a morte de um indivíduo em
sofrimento agudo como um futuro de qualidade muito negativa poderá trazer-lhe mais mal
que aquele que ele vive. Diz ainda que a existência de um futuro valioso é um motivo para
não matarmos pessoas inocentes mas que tal inexistência não serve de argumento para a
eutanásia pois assim até a involuntária seria permissível. Neste aspecto concordo contudo,
na minha visão, a teoria de Singer só faz sentido quando se cumprem os quatros factores
discutidos logo, a tentativa de refutar um deles solitariamente não constitui nenhuma
crítica à teoria em si nem evidencia qualquer falha, pois esta só faz sentido, como referi,
quando tratados o quatros pontos como conjunto.

Os críticos da eutanásia referem que, por vezes, a eutanásia pode ser permissível mas não
aceitam a sua legalização pois pode levar-nos a derrapar até a eutanásia involuntária e ao
abatimento dos indesejáveis socialmente. Ou seja, admitem que se pode fazer, por vezes,
mas não aceitam a legalização, logo apelam para que se infrinja a lei em determinados
casos. Depois falam em derrapar. Convenhamos, se a eutanásia não for legalizada
estaremos a infringir a lei ao praticá-la, no entanto, se for “bem” legalizada, como por
exemplo na Holanda, na existirá nenhum risco muito significativo nem incontrolável. Aliás,
como referiram alguns defensores da eutanásia, poderão existir mais abusos se não for
legalizada, ou seja, mais “derrapagens” e ilegalidades.

Velleman refere que a legalização da eutanásia poderá levar ao prejuízo de um indivíduo


que opte por viver, quando questionado acerca da eutanásia, numa sociedade hostil à
dependência e passividade. Velleman dá um exemplo avulso. Se ele defende-se a eutanásia
poderia dizer que se a eutanásia fosse legal a sociedade teria a oportunidade de mostrar o
afecto pelo enfermo ao convencê-lo que a morte não era solução. Não se pode abordar o
assunto desta forma, isso dependerá muito da personalidade do sujeito, também da sua
sociedade, da importância que este atribui aos factores exógenos, do seu sofrimento, entre
outras variáveis, logo a preocupação de Velleman torna-se uma tentativa de encontrar
justificação para os dois lados da fita de Möbius.

Com isto, respondo “sim” à questão-título do ensaio, em casos de eutanásia do tipo


voluntária e não-voluntária e de ambas as formas. No caso da eutanásia não-voluntária
concordo com a sua prática quando esta é ordenada pelo cidadão que possui os direitos
legais sobre o sujeito enfermo.

Baseio-me, para tal resposta, essencialmente na teoria avançada por Singer, concordando
com ele em todos os aspectos. Convenhamos: se um indivíduo opta por terminar a sua
existência devido ao seu constante sofrimento, que se prevê que continue e que o leve à
morte mais cedo do que este espera, não é descabido cessar o seu sofrimento com a sua
morte pois este não irá parar de outra forma e não irá fazer nada que não acabe por
acontecer. Outro indivíduo nas mesmas circunstâncias, mas que se encontra sem
capacidade decidir, penso que é uma demonstração de afecto do seu legal responsável
decidir cessar o seu sofrimento. Veja-se que, em ambos os casos, não está a seu
desrespeitado o direito moral à vida pois num é o próprio indivíduo e noutro será alguém
com capacidade de tomar a melhor decisão. A autonomia e a preferência não serão também
violadas pois, no tipo voluntário de eutanásia, só se desrespeitariam se não se concede o
pedido do paciente. O futuro valioso de uma pessoa que esteja nas condições aqui faladas é
algo que não existe, a menos que alguém considera a dor valiosa.

Um argumento contra esta minha opinião, para além daqueles referidos à teoria de Singer e
por mim refutados, poderia ser o facto de um indivíduo que esteja sem capacidade de
decidir estar a ser vítima de desrespeito de autonomia e de preferência de viver. O caso da
preferência de viver não se pode saber se teria ou não. Quanto à autonomia é de salientar
que os direitos legais sobre um sujeito pertencem ao parente mais próximo ou ao indivíduo
a quem tenham sido delegas tais competências. No segundo caso o indivíduo decidirá
sempre bem pois foi escolhido para isso, logo o enfermo confia em si e é como se fosse ele
mesmo a decidir. Na questão de ser o parente mais próximo, tomará sempre uma decisão
em consciência e com respeito procurando sempre decidir de modo a beneficiar o doente.
Também se poderia pensar que a pessoa encarregue dessa decisão se quisesse vingar ou
herdar os bens do enfermo mas nesse caso não estaríamos a falar de um ser humano, seria
apenas um animal que actuou segundo o seu instinto, agindo contra o artigo 1º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois não estaria a agir com fraternidade para
com o doente.

O artigo 1º da DUDH refere que “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade.”, logo se uma pessoa é dotada de razão e consciência, voltando a
uma das críticas feitas à teoria que apoio, será falso dizer que um individuo não pode
exercer a sua autonomia ao escolher morrer pois estaria a retirar a razão e a consciência dos
seus actos a tal sujeito.

Como referi, só sou contra a eutanásia involuntária pois isso seria, na minha lógica, algo
congénere a matar uma pessoa inocente, existindo violação do direito moral à vida,
autonomia, preferência por viver e seria desrespeitado o artigo 1º e 3º da DUDH.

Em suma, o problema da eutanásia consiste em saber se será permissível que as pessoas,


em especial aquelas que se encontram numa fase terminal da vida e em sofrimento agudo,
possam optar pelo fim das suas vidas. Se sim, se é admissível que solicitem medidas activas
que as matem ou é antes permissível que apenas requeiram que as deixem morrer, pedindo
aos médicos que se abstenham de as tratar.

Defendo que as pessoas nas condições supracitadas podem optar pelo fim da sua vida ou
até ser tomada essa opção por elas, quando estas não têm capacidade de decisão (eutanásia
não-voluntária), por quem detiver os direitos legais. Quando ao facto de ser permissível
escolher serem mortas ou deixadas morrer, penso que ambas as formas são permissíveis, o
mais importante na eutanásia é o finar do sofrimento e não os modos de fazê-lo. Os motivos
que me levam a apoiar a eutanásia são o facto de respeitar a autonomia e preferências dos
enfermos, o facto de estes terem um futuro expectável com uma qualidade muito negativa,
de não constar nenhuma violação do direito moral à vida pois são eles ou a pessoa
legalmente por eles responsável que escolhem e não existir nada, a meu ver, quer no art. 1º
(“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”) quer no
3º (“Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”) da DUDH que
impeça tal acto pois o direito à vida, como supracitado, não é violado nos tipos de eutanásia
que defendo.

Sobre este tema, existem duas principais teses concorrentes: uns defendem que a eutanásia
deve ser aceite e legalizada e outros defendem que a eutanásia não deve ser permitida por lei
e, consequentemente, não deve ser moralmente aceite.
Antes de apresentar a minha tese, deve-se classificar os vários tipos de eutanásia. A eutanásia
pode ser voluntária ou involuntária, sendo que estas podem ser activas ou passivas. A
eutanásia voluntária é decidida pelo próprio doente com total responsabilidade pelos seus
actos, enquanto que a eutanásia involuntária não depende da vontade do doente mas sim da
vontade de outros. A eutanásia voluntária activa distingue-se da passiva pelo facto de na activa
haver uma componente de acção directa por parte de um agente que provocará certamente a
morte do doente, enquanto que na passiva a morte é uma consequência directa de uma
omissão, como acontece quando o médico deixa de administrar os tratamentos necessários à
preservação da vida.
Na minha opinião, apenas a eutanásia voluntária (activa e passiva) deve ser moralmente
aceitável.

Um ser humano não deve ser obrigado a morrer apenas por intervenção de outros. Nós, os
seres humanos, temos a capacidade de pensar por nós próprios, logo não necessitamos que
decidam por nós. Mas a eutanásia voluntária deve ser aceite, pois aplicar a eutanásia numa
pessoa com um prognóstico fatal é o mesmo que acelerar esse processo irreversível que é a
morte, tendo o doente a possibilidade de minimizar o sofrimento físico e psicológico, além de
que se estarão a poupar recursos que poderão ajudar outros doentes que até poderão resolver
os seus problemas sem recorrer ao suicídio.
As pessoas se vivem é porque adquiriram o direito de o fazer, mas esse direito é agora delas e
podem fazer o que desejarem com ela, tendo por vezes de tomar decisões díficeis mas que
minimizem o seu sofrimento e o dos outros, mesmo que tenha de lhe pôr um ponto final.

Há, contudo, quem defenda que a eutanásia não deve ser moralmente aceite, pois acreditam
que tudo o que fazemos que ponha em risco a nossa vida são acções contra a Natureza, pois
acreditam que todas as acções que realizamos tem um único objectivo: a sobrevivência.

Mas se tal fosse o caso, não poderíamos fumar, nem praticar desportos arriscados, nem
conduzir um automóvel, pois tudo isso são acções que podem pôr em risco a nossa vida. Isso
é totalmente absurdo, logo este argumento não deverá ser contabilizado.

Outra objecção à eutanásia é o facto da decisão poder ser influenciada por um estado de
espírito momentâneo ou por ocasião de um período de sofrimento que poderá levar à sua
decisão.

No entanto, a decisão de provocar a eutanásia é uma decisão que não pode ser tomada sem
motivos plausíveis e deve ser acompanhada por pessoal qualificado, pois é uma decisão séria
e se realizada sem uma razão convincente não pode ser acedida.
Muitas vezes consideramos a eutanásia como uma prática realizada em situações em que se
supõe não haver qualquer esperança de se vir a modificar o estado da pessoa e isso não é
correcto porque não se pode prever a evolução de uma doença e a resposta adaptativa do
organismo.

Mas se seguirmos por esse caminho podemos acreditar que uma pessoa possa viver até aos
300 anos e o facto de que nunca tenha acontecido não possa invalidar essa possibilidade.
Será, contudo, que a esperança de um milagre que nos devolva a vida é suficiente para
permitir todo o sofrimento físico e psicológico durante um tempo de espera, sem nada que faça
prever a real ocorrência desse milagre? Parece-me que não.

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