Resumo: Este ensaio aborda ideias iniciais e justificativas acerca do estudo dos sentidos
do(s) direito(s) nas obras Luta por reconhecimento e O direito da liberdade, de Axel
Honneth. Desenvolvemos o tema a partir da conexão entre as categorias centrais do
reconhecimento e da liberdade social – em que as instituições socais possuem função de
sustentar e promover relações de mútuo reconhecimento com a ambição de efetivar
liberdades sociais –, expondo um dos sentidos do direito em Honneth que pode ser
interpretado como um recurso prático ou médium que funciona como um equilíbrio entre o
“eu e o(s) outro(s)”, concepção não convencional na filosofia do direito e que possui
potencial para ser ampliada, fornecendo novos elementos para uma teoria crítica do direito.
Palavras-chave: Axel Honneth, teoria crítica do direito, reconhecimento, liberdade social,
direito, direitos.
Abstract: This essay deals with some initial ideas and justifications about the study of the
sense of law and rights in Axel Honneth's works Struggle for recognition and Freedom’s
right. We develop the theme from the connection between the central categories of
recognition and social freedom – in which social institutions have the function of
sustaining and promoting relations of mutual recognition with the ambition to realize
social freedoms –, exposing one of the meanings of law in Honneth that can be interpreted
as a practical or medium resource that functions as a balance between the "self and the
other(s)", unconventional conception in the Law philosophy which has potential to be
expanded, providing new elements for a critical legal theory.
Key words: Axel Honneth, critical legal theory, recognition, social freedom, law, rights.
Este ensaio apresenta as reflexões teóricas iniciais que estão sendo desenvolvidas
ao longo da pesquisa de doutorado denominada “O direito em Axel Honneth: elementos de
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Doutorando (2018) e mestre (2015–2017) em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Samuel Rodrigues Barbosa.
uma teoria crítica do direito centrada na categoria do reconhecimento”, financiado pela
FAPESP (processo nº 2018/00924-1). A pesquisa em desenvolvimento visa contribuir para
o debate teórico acerca do significado e importância do direito na obra do filósofo e
sociólogo Axel Honneth, visando melhor compreender as escolhas que levaram ao autor a
abordar o tema do(s) direito(s) de forma tão central em sua teoria do reconhecimento e, ao
mesmo tempo, conceder tratamento tão diferenciado ao tema.
Em Luta por reconhecimento, Honneth elabora uma teoria social centrada na
categoria do reconhecimento, definindo três esferas do reconhecimento para a
autorrealização através da relações intersubjetivas, sendo uma delas a esfera dos direitos. O
significado dos direitos (no sentido de rights), neste momento, remete às lutas por
reconhecimento de direitos e das relações sociais que se referem sobre elas, que
constituiriam parte fundamental do processo de reconhecimento intersubjetivo, no sentido
de que a negação de direitos ou exclusão jurídica dificulta a capacidade do sujeito de um
entendimento prático de si mesmo como um sujeito de direitos livre e igual.
Neste sentido, a dimensão do reconhecimento dos direitos e das relações jurídicas
proposta por Honneth como condição para satisfação do autorrespeito, em que o sujeito é
reconhecido plenamente como autônomo e moralmente imputável, estaria intimamente
ligada com as experiências individuais de injustiça, desrespeito e violações ocorridas no
âmbito das relações jurídicas:
temos de procurar a segunda forma naquelas experiências de
rebaixamento que afetam seu autorrespeito moral: isso se refere aos
modos de desrespeito pessoal, infligidos a um sujeito pelo fato de ele
permanecer estruturalmente excluído da posse de determinados direitos
no interior de uma sociedade. De início, podemos conceber como
“direitos”, grosso modo, aquelas pretensões individuais com cuja
satisfação social uma pessoa pode contar de maneira legítima, já que ela,
como membro de igual valor em uma coletividade, participa em pé de
igualdade de sua ordem institucional; se agora lhe são denegados certos
direitos dessa espécie, então está implicitamente associada a isso a
afirmação de que não lhe é concedida imputabilidade moral na mesma
medida que aos outros membros da sociedade (Honneth 2009, p. 216).
Porém, o autor não dedica seus esforços neste momento para o caráter
institucional do direito, ou mesmo para um possível conceito de direito (no sentido de
law), ambos permanecem indeterminados em sua obra. O projeto de pesquisa visa
examinar, da forma mais isolada possível, o tratamento dedicado ao direito a partir da
teoria do reconhecimento de Axel Honneth, examinando a mudança teórica desenvolvida
em O direito da liberdade, em que o autor concebe a liberdade jurídica como sendo um
componente indispensável e necessário à efetivação da liberdade social, ao mesmo tempo
que expõe a sua preocupação com o excessivo “legalismo” e a “juridificação” das relações
sociais como sendo patologias intrínsecas do direito moderno.
II
III
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Além disso, conforme Christopher Zurn, a amplitude e variedade das lutas sociais que podem ser analisadas
pela teoria do reconhecimento de Honneth também deve ser considerada para o seu potencial explicativo das
lutas sociais contemporâneas: “Enquanto Honneth concorda com autores como Charles Taylor e Iris Young
que o multiculturalismo e as políticas de identidade são formas importantes de luta por reconhecimento, o
modelo mais amplo de Honneth dá visibilidade a um escopo muito maior, atingindo a anti-violência, direitos
civis, e lutas por redistribuição econômica” (Zurn 2015, p. 59).
uma patologia social3 jurídica da modernidade, endereçando, neste momento, o campo do
direito muito mais ao arcabouço institucional, através da patologia social da
“juridificação”.
Estes são alguns dos aspectos para que o tema do direito e dos direitos
permanecesse, em certo sentido, indeterminado e passível de críticas em sua obra, sendo
que, aliados a estes fatores, Honneth também sustenta em recente artigo (Honneth 2017),
que se recusou deliberadamente a tratar o direito como uma área “compartimentalizada”,
considerando que o tema não pode ser visto como uma esfera própria e fechada na teoria
social, esclarecendo que o direto para ele é “onipresente” nas sociedades modernas,
disponível como sendo um “recurso prático e um médium compartilhado” para, dentre
outras funções, rejeitar demandas não razoáveis, justificar reformas sociais ou conferir
força às instituições para mudanças sociais recentemente implantadas. Sendo assim, em
sua visão, as outras esferas sociais estão inevitavelmente sempre conectadas ou muito
próximas ao direito (como instituição objetiva e como sentido subjetivo), não podendo
considerá-las como esferas “extralegais” (Honneth 2017, p. 128).
IV
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS