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Ensinar a
“aprender
a aprender”
O autoconhecimento sobre como se aprende empodera o aluno.
É uma característica-chave da aprendizagem autorregulada,
perspectiva teórica reconhecida por educadores e pesquisadores
como muito promissora para o aprendizado de qualidade

Evely Boruchovitch

N
os dias de hoje, torna-se cada vez mais relevante e
necessário desenvolver nos estudantes, desde o início
da escolarização formal, a capacidade para aprender
a aprender. Mais do que serem capazes de memorizar
fatos, é fundamental que os alunos aprendam como eles apren-
dem, isto é, possuam conhecimento acerca dos processos psi-
cológicos inerentes à própria aprendizagem. Conhecer como se
aprende empodera o aluno. É uma característica-chave da apren-
dizagem autorregulada, perspectiva teórica que vem sendo reco-
nhecida por educadores e pesquisadores como muito promissora
na promoção da aprendizagem de qualidade. Inúmeros fatores
contribuem para a aprendizagem autorregulada. A efetiva utiliza-
ção pelos alunos de estratégias de aprendizagem é um deles.
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Estimular a capacidade de autorreflexão
nos alunos tem sido uma forma importante
de levá-los à mudança de comportamento

A psicologia cognitiva, baseada como pela escrita o material a ser ao alcance das metas: ajustar a ve-
na teoria do processamento da in- aprendido (falar em voz alta, escre- locidade da leitura, buscar outra es-
formação, de acordo com o psicó- ver várias vezes uma informação tratégia mais eficiente, reler, revisar.
logo Robert Sternberg, preocupa-se para memorizá-la). As estratégias Dembo, com base no psicólogo do
em elucidar como os seres humanos de elaboração requerem o estabele- desenvolvimento John Flavell, cria-
adquirem, armazenam e utilizam as cimento de conexões entre o mate- dor do conceito de metacognição,
informações. Para os pesquisadores rial novo a ser aprendido e o antigo destaca ainda que a metacognição
John Nisbett, Janet Schucksmith e familiar (reescrever, resumir, criar abarca o conhecimento do estudante
e Juan Ignacio Pozo, as estratégias analogias, tomar notas que vão além de si mesmo (preferências pessoais,
de aprendizagem são um conjun- da simples repetição). As estratégias pontos fortes e fracos, interesses e
to sequenciado de procedimentos de organização referem-se à impo- hábitos), o conhecimento da tarefa
que podem facilitar e apoiar cada sição de estrutura ao material a ser (dificuldades e exigências da tare-
uma das etapas do processamento aprendido, seja subdividindo-o em fa acadêmica) e o conhecimento de
da informação: sua aquisição, seu partes, seja identificando relações estratégias de aprendizagem (quais,
armazenamento e sua utilização. subordinadas ou superordinadas quando, por que e como utilizá-las).
Existem vários tipos de estratégias (dividir um texto em tópicos, criar Os pesquisadores Claire Ellen
de aprendizagem e diversas formas rede de conceitos, elaborar diagra- Weinstein e Taylor Acee ressaltam
de classificá-las. Entretanto, alguns mas com relações entre conceitos). que há evidências de que estratégias
estudiosos optaram por dividi-las Existem também três tipos prin- de aprendizagem podem ser ensi-
em dois grandes grupos: estratégias cipais de estratégias metacogni- nadas aos alunos durante os anos
cognitivas e metacognitivas. Segun- tivas, de acordo com Dembo: de escolares. Isso inaugura novas fren-
do Myron Dembo, da Universida- planejamento, monitoramento e tes para a potencialização da apren-
de Southern California, enquanto regulação. As estratégias de plane- dizagem, permitindo aos estudantes
as estratégias cognitivas se referem jamento dizem respeito ao estabele- ultrapassar dificuldades pessoais e
a comportamentos e pensamen- cimento de metas para o estudo. As ambientais de forma a obter êxito.
tos que influenciam o processo de estratégias de monitoramento en- Pensando nos sérios problemas edu-
aprendizagem de maneira que a volvem, entre outros aspectos, a ca- cacionais brasileiros e não desme-
informação possa ser armazenada pacidade de percepção e conscienti- recendo sua enorme complexidade,
mais eficientemente, as metacogni- zação sobre a própria compreensão, defendo que o ensino de estratégias
tivas são procedimentos que o indi- atenção e estados afetivos em dado de aprendizagem é muito promis-
víduo usa para planejar, monitorar momento, de forma que providên- sor para fortalecer a capacidade de
e regular o próprio pensamento. cias possam ser tomadas: autoques- aprender a aprender e melhorar o
tionamentos durante o estudo para rendimento escolar e acadêmico.
COGNIÇÃO E METACOGNIÇÃO verificar se entendeu; acompanhar o Gera mudanças internas e empo-
Em linhas mais gerais, pode-se progresso de metas estabelecidas. dera os estudantes, aumentando a
dizer que existem três principais ti- Já as estratégias de regulação sua crença na própria capacidade de
pos de estratégias cognitivas: de têm como finalidade ajudar os estu- aprender. Weinstein e Acee acredi-
ensaio, elaboração e organização. dantes a fazer ajustes em suas ações, tam que é possível ensinar a todos os
As estratégias de ensaio envolvem sempre que as empreendidas se reve- alunos a expandir notas de aulas, a
repetir ativamente tanto pela fala larem insuficientes ou inadequadas sublinhar pontos importantes de um
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texto, a monitorar a compreensão


na hora da leitura, a usar técnicas de
memorização, a fazer resumos, entre Estratégias de aprendizagem
outras estratégias. Podem ser divididas em dois grandes grupos: estratégias cognitivas
e metacognitivas. As cognitivas referem-se a comportamentos e
FORTALECENDO pensamentos que influenciam o processo de aprendizagem de maneira
A AUTORREGULAÇÃO que a informação possa ser armazenada mais eficientemente. As
metacognitivas são procedimentos para planejar, monitorar e regular o
Para John Hattie, diretor do Ins-
próprio pensamento.
tituto de Pesquisa Educacional da
Universidade de Melbourne, existem
várias possibilidades de intervir e
ensinar estratégias de aprendizagem.
Cognitivas
Pode-se trabalhar separada ou con-
juntamente as cognitivas (sublinhar,
anotar, fazer mapas conceituais) e
1 Ensaio
Repetição ativa por escrito ou pela fala
Ex.: falar em voz alta, escrever várias vezes uma
as metacognitivas (planejar, moni- informação para memorizá-la
torar e regular), cabendo nestas úl-
timas também a inclusão do ensino
de estratégias afetivas que ajudem o
estudante a modificar e a eliminar
2 Elaboração
Estabelecimento de conexão entre os novos
aprendizados e os já consolidados
estados internos não facilitadores Ex.: reescrever, resumir, criar analogias, tomar notas
da aprendizagem. Nesse sentido,
atividades orientadas ao progresso
cognitivo, ao desenvolvimento me-
tacognitivo, à promoção e à manu-
3 Organização
Estruturação do material a ser aprendido
Ex.: dividir um texto em tópicos, criar rede de conceitos,
tenção de um estado interno satis- elaborar diagramas com relações entre conceitos
fatório para a aprendizagem podem
ser utilizadas de forma combinada.
Um argumento forte a favor des-
sa combinação diz respeito ao fato Metacognitivas
de que não basta o aluno conhecer as
estratégias de aprendizagem, porque
o conhecimento sozinho não resul-
1 Planejamento
Estabelecimento de metas para o estudo

tará em sua utilização. Para usá-las,


os alunos precisam de um metaco-
nhecimento sobre quando e quais
2 Monitoramento
Percepção e conscientização sobre a própria compreensão,
atenção e estados afetivos, de forma a possibilitar que
devem ser usadas. Também só se providências sejam tomadas
motivarão a se engajar em compor- Ex.: questionar-se durante o estudo para verificar se entendeu;
tamentos estratégicos, ao se sen- perceber que está desatento; acompanhar o progresso de metas
tirem capazes de realizar as tarefas estabelecidas
com sucesso. É essencial um traba-
lho simultâneo nas variáveis afetivo-
motivacionais-chave de apoio à utili-
zação dessas estratégias.
3 Autorregulação
Ajudar os estudantes a rever e ajustar ações insuficientes
ou inadequadas ao alcance das metas
Ademais, é possível trabalhar Ex.: ajustar a velocidade da leitura, buscar outra estratégia
as diversas estratégias em discipli- mais eficiente, reler, revisar; afastar distratores; retomar
nas específicas (infusão curricular) a atenção e o foco
ou por meio de cursos isolados. O
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ideal seria que todas as escolas tives- aprender a aprender e são atividades professores precisam primeiro ser
sem como proposta o trabalhos com que podem ser introduzidas, grada- alunos estratégicos e conhecer as es-
as estratégias de aprendizagem nos tivamente, desde cedo durante a es- tratégias de aprendizagem para que
seus projetos político-pedagógicos. colarização. possam ensiná-las aos seus alunos.
Certamente, isso contribuiria para o Um dos problemas que enfren- Defendo que esse é um desafio que
enfoque preventivo de muitos pro- tamos no Brasil, entretanto, é que temos de abraçar. Há que investir
blemas de aprendizagem. o conteúdo programático referente esforços na formação de professores
Dembo, Weinstein, Acee e mui- às estratégias de aprendizagem se com essas qualidades. Eles precisam
tos outros pesquisadores mencio- encontra muito pouco presente nos de espaços sistemáticos para autor-
nam que podem até existir formas cursos de formação de professores. reflexão sobre como aprendem du-
mais ou menos eficientes de intervir, Dembo e Randi destacam que os rante a sua formação. w
dependendo da estratégia e/ou do
ano escolar, mas convergem quanto
aos resultados predominantemente
A AUTORA
positivos nas diferentes formas de
intervir. Evely Boruchovitch é doutora em educação pela Universidade Southern Califor-
Uma questão importante que nia. Professora titular do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade
vem sendo debatida na literatura da de educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro do Ge-
pesp-unicamp. Bolsista de Produtividade do CNPq.
área é a partir de quando crianças
podem se beneficiar das instruções
em estratégias em aprendizagem.
Segundo Juan Ignacio Pozo e outros Leituras sugeridas
pesquisadores, a partir do primeiro BORUCHOVITCH, E. A psicologia cognitiva e a metacognição: novas perspec-
ano do ensino fundamental. Para tivas para o fracasso escolar brasileiro. Tecnologia Educacional, 22 (110/111),
Sara Schmidt, da Universidade Pur- p. 22-28, 1993.
due, em Indiana, crianças pré-esco- BORUCHOVITCH, E. As estratégias de aprendizagem e o desempenho esco-
lares têm habilidades metacogniti- lar de crianças brasileiras: considerações para a prática educacional. Psicolo-
gia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 12, n. 2, p. 361-376, 1999.
vas já desenvolvidas, embora mais
DEMBO, M. H. Applying educational psychology. 5 ed.. New York: Longman,
frágeis quando comparadas às de 1994.    
crianças mais velhas. FLAVELL, J. H. (1979). Metacognition and cognitive monitoring: A new area
Fomentar nos alunos a capaci- of cognitive- developmental inquiry. American Psychologist, 34, 906-911
dade de autorreflexão tem sido uma HATTIE, J.; BIGGS, J.; PURDIER, N. Effects of learning skills interventions on
forma importante de levá-los à mu- students: a meta analysis. Review of Educational Research, Washington, v.
dança de comportamento e se cons- 66, n. 2, p. 99-136, 1996.
tituído no cerne de algumas propos- NISBET, J., SHUCKSMITH, J. Learning strategies. London: Routledge and Ke-
tas educativas. Para Judi Randi, da agan Paul, 1986.
Universidade de New Haven, pro- POZO, J. I. (1996). Estratégias de aprendizagem. In: COLL, C.; PALÁCIOS J.;
MARCHESI, A. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia
fessores e alunos se beneficiariam da educação. Porto Alegre: Artes Médicas. p. 176-197.
ao fazer parte de uma comunidade RANDI, J. (2004). Teachers as self-regulated learners. Teachers College Re-
reflexiva na qual os indivíduos exa- cord, 10, p. 1825-1853.
minassem a própria aprendizagem. SCHMITT, S. A.; McClelland, M. M.; TOMINEY, S. L.; ACROCK, A. C.. Streng-
Instrumentos que favoreçam o de- thening school readiness for head start children: evaluation of a self-regula-
senvolvimento metacognitivo e a tion intervention. Early Childhood Quaterly , n. 30, p.20-31, 2015.
tomada de consciência, como a au- STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
toanálise das estratégias, os dialógos WEINSTEIN, C. E.; ACEE, T. W. (2013). Helping college students become
coletivos, os portfólios, os ciclos de more strategic and self-regulated learning. In: BEMBENUTTY, H.; CLEARY,
T. J.; KITSANTAS, A. (Eds.). Applications of self-regulated learning across di-
reflexão, têm se mostrado frutíferos verse disciplines: a tribute to Barry J. Zimmerman. Charlotte, N.C.: Informa-
no fortalecimento dos processos de tion Age Publishing. p. 197-236.
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