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Sidney Rocha

ENTREVISTA
Da arte de escrever ao interesse pela
sociedade. O romancista, contista e editor
cearense, radicado no Recife, Sidney
Rocha começou sua vida nas letras ainda
aos 11 anos de idade. Com publicações
de destaque como: Sofia, Matriuska e O
destino das metáforas, no qual venceu
o maior prêmio da literatura nacional,
Prêmio Jabuti, na categoria contos e
crônicas em 2012. Nesta edição da Agenda
Cultural do Recife, o autor fala das suas
influências e experiências no universo
literário, além de reunir uma série de
autores que faz da conversa uma viagem
e dicas culturais através de grandes e
novos nomes da literatura.

Agenda Cultural: Quais foram seus primeiros contatos Por: Anax Botelho
Fotos: Augusto Pessoa/
e influências na literatura? Divulgação
Sidney Rocha: Venho de uma comunidade narrativa, da
história oral, e isso termina por influenciar ainda hoje
o ritmo do que escrevo. Meu primeiro trabalho publi-
cado foi um cordel, e eu tinha 11 de idade. Por aí você
tire como a literatura popular, os folhetos de cordel, os
almanaques, o novenário, as cantorias, as ladainhas, os
quadrinhos, a bíblia e um pouco de tudo acabou por me
seduzir especialmente pela narrativa. Pela poesia me-
nos, embora houvesse cometido versos em algumas fa-
ses da vida, especialmente na infância e adolescência e,
por último, por conta da militância política de esquerda,
de autores latino-americanos e franceses como Sartre e
Genet e Camus, que alimentavam certo romantismo e
existencialismo, excelentes para alguma poesia e outro
tanto de teatro.

ENTREVISTA 
Escritor jovem é como um radar: tudo entra no cam-
po, nada escapa, tudo influencia no resultado. Escritor
jovem vive apitando, beep, beep, beep, recebendo infor-
mação. Pelo menos foi assim comigo. Mas isso foi até
os 15, 16. Depois o escritor vira um sonar, de giros mais
lentos, onde o escritor emite a onda, vê onde ela atinge
o rochedo ou a caverna, e ele mesmo tem de interpretar
as respostas que voltam. O radar é mais informação. O
sonar é mais conhecimento (embora o sonar seja mais
deficiente) mas, com o tempo, as discussões e interpre-
tações na torre de comando é que passam a interessar
mais, quando o escritor avança e ele prefere menos es-
palhamento e mais filtragem, como um bom sonar.
A poesia terminou tendo um papel importante nisso: no
poder de sintetizar mais que de se esparramar, como é
tão comum. Copiar estilos dos poetas simbolistas, dos
românticos, dos modernistas entra no currículo, claro.
Ler poetas como Dante, Pessoa, Neruda, Baudelaire,
Ezra Pound, foi obrigatório também. Mas foi mesmo
Edgar Allan Poe, Sartre, Emile Brontë, Voltaire, Gogol,
Tchecov, Stendhal, e mesmo um poeta como Homero
(vou terminar sendo injusto com algum deles nisso da
vertigem das listas), que forjaram o que penso até hoje
sobre narrativa. Bem, depois de você encontrar tudo
isso até os 16, 17 anos e a família não o internar, agora
é só encontrar os amigos certos para falar sobre essa
Matrix. E, nesse caso, conhecer os amigos que tive foi
fundamental: Geraldo Santana, Cícero de Tarso, Manoel
de Barros, Coriolano de Matos, Anchieta Mendes, Lupeu
Lacerda, Fábio Queiroz... Ler livros e não poder trocar
ideias sobre é algo penoso porque o livro multiplicado
na cabeça do outro tem um verdadeiro poder de mu-
dança. É uma dinamite. Por isso os regimes totalitários
têm como praxe: 1º botar o exército na rua; e 2º fechar
bibliotecas, indexar e queimar livros.

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Vivi um pouco ainda, no Ceará, na calda desse tempo
hostil à leitura. Mas mesmo jovem, tive amigos (muitos
deles, dez, vinte anos mais velhos) e tive a sorte de en-
contrar quem estivesse disposto a ler o que eu escrevia,
e pude ler o texto alheio, coisas do sonho que não se
sonha só. Meus amigos: acho que ainda hoje continuo
escrevendo por eles e para eles.
O Recife vem depois desse tempo. Sim. O Recife é algo
especial. Não daria tempo de falar o tanto quanto isso é
importante sem ser outra vez injusto. E falar de amigos
tão caros como Marcelo Pérez e Mário Hélio, e de uma
literatura vital que a cidade me deu...
AC: O Ceará, seu estado de origem, o Recife, o Brasil
e a América Latina são fundamentais para a identidade
da sua obra?
SR: Sem dúvida. Não especialmente
por nenhum “engajamento”, mas de
alguma forma a América Latina re-
presenta uma utopia para a minha
geração. Nossa revolução perma-
nente, como dizíamos no seminário
trotskista. Sofremos ainda hoje certa
crise de identidade pelo tempo em
que o Brasil ficou de costas para a
latinamérica, sobretudo nos anos da
ditadura. Viramos um país autista
naquela época, ilhado pela própria
natureza de falante solitário da lín-
gua portuguesa. Um país esquizofrê-
nico que foi ensinado a não suportar
nem mesmo seus próprios sotaques
(e isso é ainda hoje), um país lobo-
tomizado que não reconhece seus
vizinhos e que foi organizado por re-
giões que têm entre si mais reservas

ENTREVISTA 
e medos que proximidades. Juntar
um país assim depois de tanto esfa-
celamento dá um trabalho danado.
Agora imagine o quanto não dá jun-
tar um continente inteiro, depois de
tanta força que imprimiram tentan-
do rachá-lo e esquartejá-lo.
Foi a literatura e foram seus escrito-
res, Neruda, Borges, Cortázar, Scor-
za, Fuentes e até mesmo o equivoca-
do Vargas Llosa que nos acordaram
para o continente, para essa identi-
dade. Junto com Euclides da Cunha
e Guimarães Rosa, esses sertões ter-
minaram por falar de nós para essa
América, também. Bem emblemático
que, entre outras cousas e causas,
tenha sido Canudos, uma ocupação,
a sugerir interesse e apontar nossas
singularidades, que nos fazem Amé-
rica Latina.
AC: Se for para definir a obra de Sidney Rocha, como você
a definiria? Quais semelhanças, estilos de linguagem,
construção de personagens estão presentes em sua obra?
SR: Eu não poderia definir isso. Alguns assuntos são
proibitivos para um escritor: certo tédio solipcista, cer-
ta atração pela autoexumação. Nunca pensei nisso. Uso
dois componentes para misturar as emoções dos meus
personagens: amor e morte. O resto derivado disso é
ação desse animal, a linguagem. E é sobre isso, o tem-
po inteiro: linguagem. O meu trabalho é só tentar ficar
montado o maior tempo possível nesse bicho.
AC: Na atual geração de escritores do Brasil, quais nomes
e estilos você destacaria?
SR: Não dá pra falar de um país inteiro, mas vou tentar
um plano mais em close. Vamos sem arrodeios, e não
vou nem levar em conta que você falou essa palavra ter-

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rível: geração. Há escritores que lembro agora: Cristhia-
no Aguiar, Wellington de Melo, Juliana Costa. E gente na
estrada há mais tempo: Cícero Belmar, Manoel Constan-
tino, Raimundo Moraes, Valmir Jordão, Samarone Lima,
Wilson Freire, Cida Pedrosa; com esses você pode cruzar
pelas ruas do Recife. Nivaldo Tenório e Bruno Liberal,
se você estiver a fim de viajar Pernambuco adentro. Es-
ses todos têm coisas a dizer ao leitor, ao seu modo, são
vozes autônomas, nessa polifonia que é a contempora-
neidade. Há muita gente neste país. Se são bons, ruins,
revelações, promessas, isso não importa. Importante é
que possam ser lidos – amados ou odiados – no seu tem-
po. Mas não esquecidos.
AC: Além da literatura, você tem alguma outra atividade
intelectual/cultural?
SR: Sim. Meu objetivo ultimamente é conhecer todas as
pessoas do meu prédio. Se der, da minha rua ou do bair-
ro. Atividade cultural é isso. Conhecer pessoas e como
elas lidam com os problemas e como sentem o mundo.
O mundo “intelectual” tem de andar junto com o mun-
do emocional. Colocar as pessoas na minha agenda de
interesse. Não digo a massa, essa coisa estranha que se
tornou o mundo coletivo; mas antes de tudo as pessoas,
individualmente. Tudo pelo social, sim; mas antes tudo
pelo humano, sobre as particularidades. Venho tentan-
do essa experiência cultural, conhecer singularidades...
Claro, não esquecendo os meus momentos mais refle-
xivos, admitindo meu ceticismo em relação a tantas
coisas, minhas idiossincrasias, mesmo lutando contra a
maré. Depois disso é que vêm os livros.
AC: Como anda sua produção e quais são seus trabalhos
futuros?
SR: A Iluminuras vai lançar outra edição do romance So-
fia, que ganhou o Osman Lins de Literatura, há 20 anos.
Esse é um presente especial que o amigo Samuel León,
da Iluminuras, me faz, eu acho. Sofia faz vinte anos de
publicada, e lançá-la agora, quase quarenta anos depois

ENTREVISTA 11
de ter publicado meu primeiro trabalho, é um presen-
tão, não é? Sofia foi traduzida para o espanhol há dez
anos, e continua agradando a críticos e leitores. Naque-
la segunda edição, eu já havia mexido no texto, um pou-
co embalado pela bela tradução de Marcelo, que termi-
nou por oferecer novos ritmos a muitas orações, e não
acrescentei nada, só poli e soprei a poeira. Quem leu as
duas edições me disse que continuava gostando. Nessa
edição da Iluminuras reduzi mais ainda alguns episódios
e acrescentei algo para retomar certa atmosfera – que
venho buscando hoje em minha literatura e que, de al-
guma forma, já estava lá, dizem alguns. Dá para esperar
um romance tão empolgante como o da primeira edi-
ção, com a participação especial de um escritor mais
maduro andando aqui e ali, sem se deixar ser notado,
quase clandestino, como um velho amigo que a tudo
observa.
AC: E os novos, novíssimos trabalhos, como andam?
SR: Trabalhando muito. Feliz com a repercussão do meu
trabalho na Universidade de Berkeley (EUA) onde Ami
Schiess vem traduzindo meus contos, estudos acadêmi-
cos também na Paraíba, em artigos acadêmicos que vi-
ram livro ainda este ano, publicação coordenada pela es-
critora Zuleide Duarte, adaptações para a tv pela Rec, do
Recife, com roteiro de Hilton Lacerda, traduções de Ta-
tiana do coletivo de tradução Áporo, na Argentina, além
de outras traduções. Tem muita coisa acontecendo. E
continuo trabalhando nos romances. Não sei quando
termino. Não ter pressa é regra básica nesse ramo.

12  AGO 2014

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