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SECRETÁRIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO AMAZONAS


INSTITUTO INTEGRADO DE ENSINO (IESP)
CAMPUS DE ENSINO III

APOSTILA DE DIREITO PENAL MILITAR E PROCESSO PENAL MILITAR

MANAUS
2018
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DIREITO PENAL MILITAR

1. NOÇÕES HISTÓRICAS

Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade, como
Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a existência de certos delitos militares e
seus agentes eram julgados pelos próprios militares, especialmente em tempo de guerra. Mas foi
em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida própria considerado como instituição jurídica.
As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, são,
principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar os povos antes
de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela Justiça das leis e sabedoria das
instituições.
Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da disciplina,
o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinquente e o condenava a bastonadas.
Esta pena, às vezes eram aplicada com tal rigor que acarretava a perda da vida do condenado. Tais
penas estavam ligadas a certos crimes e atos de covardia.
Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no art.
184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi abolido,
inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º e, na Marinha
(Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º.

2. CONCEITO

“É o complexo de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins das


instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria”.
A preservação dessa ordem jurídica militar, aonde preponderam a hierarquia e a disciplina,
exige obviamente do Estado, mirando a seus possíveis violadores, um elenco de sanções de
naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens tutelados: administrativas (disciplinares),
civis e penais. As penais surgem com o Direito Penal Militar.
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Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar.

As normas de Direito Penal Militar são conhecidas como de direito penal material ou
substantivo e as de Direito Processual Penal Militar como de direito penal formal ou adjetivo, ou,
simplesmente, de direito processual. As normas de Direito Penal Militar são as reunidas no Código
Penal Militar (CPM) e as de Direito Processual Penal Militar, no Código Processual Penal Militar
(CPPM).
O direito material regula as relações entre as pessoas e o direito processual entre as pessoas
e o Estado-Juiz. Assim, sempre que tivermos a violação de um direito material aquele que se sentir
prejudicado poderá buscar do Estado-Juiz a chamada prestação jurisdicional, ou seja, o processo
e o julgamento daquele que violou a norma de direito material e com a sua conduta causou-lhe
um dano ou prejuízo.

Caráter especial do Direito Penal Militar.

O Direito Penal Militar é um direito penal especial, porque a maioria de suas normas,
diversamente das de direito penal comum, destinadas a todos os cidadãos, se aplicam,
exclusivamente, aos militares, que têm especiais deveres para com o Estado, indispensáveis à sua
defesa armada e à existência de suas instituições militares. Esse caráter especial, ainda, advém de
a Constituição Federal atribuir com exclusividade aos órgãos da Justiça Castrense (art. 122,
CF/88) o processo e o julgamento dos crimes militares definidos em lei.
Há, como exceção a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
praticados por militar contra civil, os quais por força da Lei n.º 9.299/96 são da competência da
Justiça Comum. Assim, tais fatos continuam possuindo a classificação de crime militar, e,
portando, devem ser apurados por meio de IPM, contudo será a Justiça Comum e não a Auditoria
Militar, no âmbito do estado, a competente para o processo e o julgamento de tais crimes.
3. COMENTÁRIOS AO CPM
3.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
“Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal.”
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Conceito
O artigo em questão estabelece o chamado princípio da legalidade, com correspondência
integral no art. 1º do Código Penal Comum.
É o princípio das Reserva Legal, embasado na máxima de Feuerbach, Nullum Crimen,
Nulla Poena, Sine Praevia Lege, originário da remota Magna Carta de 1215, imposta pelos
barões ingleses ao rei João Sem Terra.
Para MIRABETE, entretanto, a causa próxima do princípio da legalidade está no
Iluminismo (Séc. XVIII), tendo sido incluído no art. 8º da Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, de 26.08.1789, nos seguintes termos: “Ninguém pode ser punido se não for em
virtude de uma lei previamente estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e
legalmente aplicada”. No Brasil, foi inscrito na Constituição de 1824 e repetido em todas as
Cartas Constitucionais subseqüentes.
O Princípio da Legalidade que estrutura o art. 1º do Código Penal Militar de 1969,
também incluso o texto do Código Penal comum de 1969, antepara e protege a liberdade
individual do Militar e do cidadão, contra a prepotência do estatólatra (Ramagem
BADARÓ).

As palavras crime, pena e lei, como lembra DELMANTO, têm sentido amplo neste artigo.
“Assim, a expressão crime compreende também as contravenções e, a palavra pena inclui as
mais diversas restrições de caráter penal (penas privativas de liberdade, restritivas de direito,
penas de multa que são conversíveis em detentivas etc.), como lei devem ser entendidas todas as
normas de natureza penal, elaboradas na forma que a Constituição prevê, abrangendo não só as
do CP como as das demais leis penais especiais”.
Cabe salientar que a pena de multa não está prevista atualmente para os crimes militares.
Já por ocasião dos estudos da Comissão elaboradora do CPM de 1944, a pena de multa foi julgada
inadequada aos crimes militares, contra o voto do eminente Desembargador Sílvio Martins
Teixeira, que a acolhia, por entender que a mesma já estava prevista em várias leis militares.
Previsão Constitucional
O princípio da legalidade ou da reserva legal está prevista na carta Magna, art. 5º, inc.
XXXIX.
Sílvio Martins TEIXEIRA lembrava que “na Doutrina do nacional – socialismo, ou
autoritária, o Estado não podia tolerar que o indivíduo empregasse impunemente suas forças e
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capacidades contra a conservação e o desenvolvimento da coletividade, abroquelando-se no


texto da lei, sem lhe respeitar as intenções”.
E prosseguia dizendo que, “de acordo com esse critério, no memorial prussiano, foi
declarado ser imprescindível conceder-se ao juiz a faculdade de preencher, em certos limites, as
lacunas da lei”.
Com esses argumentos, a Comissão incumbida da elaboração do projeto nazista formulou,
na segunda leitura, o seguinte dispositivo:

Incorre em pena quem pratica um fato que a lei declara punível, ou quem, segundo o
conceito de uma lei e a sã maneira de ver de um povo, merece punição.
Se ao fato não foi imediatamente aplicável nenhuma lei penal, será ele punido de acordo
com a lei cuja idéia fundamental melhor se adapte.

Conclui-se, portanto, na esteira de DELMANTO, que do enunciado do art. 1º do Código


Penal Militar resultam duas regras fundamentais:
A da Reserva Legal (ou da Legalidade), visto que somente a lei, elaborada na forma que
a Constituição permite, pode determinar o que é crime e indicar a pena cabível. Lei Federal,
elaborada de acordo com o processo legislativo discriminado a partir do art. 59, e seguintes, da
Constituição Federal.
A da anterioridade. Para que qualquer fato possa ser considerado crime, é indispensável
que a vigência da lei que o define como tal seja anterior ao próprio fato, assim como a cominação
da pena.
Corolário das regras acima, impõe-se ainda:
A irretroatividade, pois considerando-se serem as leis editadas para o futuro, as normas
penais não podem volver ao passado, salvo se para beneficiar o agente (CF/88, art. 5º, XL).

A taxatividade, visto que as leis que definem os critérios devem ser precisas, marcando
exatamente a conduta que objetivam punir, não se aceitando leis vagas ou imprecisas, nem o
emprego, pelo juiz, da analogia ou interpretação extensiva para incriminar algum fato ou tornar
mais severa sua punição.
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3.2. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAÇÃO


“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo
quando aos efeitos de natureza civil.

Retroatividade de lei mais benigna


§ 1º - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se
retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.

Apuração da maior benignidade


§ 2º - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior, devem ser
consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.”

Remissão
O Código Penal comum tem disposição idêntica no caput do art. 2º. Seu parágrafo único,
trazido a lume pela Lei 7.209/84, tornou incontestável que a retroatividade benéfica não sofre
limitação alguma, tem redação similar ao § 1º do CPM, mudando apenas a parte final do
dispositivo que, neste, trata da sentença condenatória irrecorrível e, naquele, trata da sentença
condenatória transitada em julgado, o que nos parece, data venia, ter o mesmo sentido.
O Código Penal Militar revogado (Dec.-lei 6.227, de 24.01.44), tinha disposição idêntica
no art. 2º, caput, e o seu parágrafo único, na mesma esteira do CP/1940 que mandava aplicar –
apenas ao fato não julgado definitivamente – a lei posterior que favorece o agente sem suprimir
crime ou atenuar a pena.

Noção
Em sentido amplo, o art. 2º do Código Penal Militar consagra o princípio Tempus Regit
Actum, o que está em perfeita harmonia com a garantia da reserva legal (CF, art. 5º, XL e XLI).
Ou seja, a lei rege os atos praticados durante sua vigência.
Especialmente, trata o referido art. 2º do CPM da Abolitio Criminis, que é a supressão da
figura criminosa, entendendo o legislador que a ação antes prevista como delituosa, não é mais
idônea a ferir o bem jurídico que pretende tutelar.
Ora, com a descriminação do fato, não tem mais sentido o prosseguimento da execução
da pena, nem a mantença das seqüelas penais da sentença. DELMANTO explica que caso seja
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aprovado e entre em vigor projeto de lei que extingue o crime de adultério, tal ato deixaria de
existir como crime.
O Código Penal Militar, da mesma maneira que o Código Penal, dispõe ser possível a
retroatividade e a ultratividade da lei.

Hipóteses de conflito de leis penais no tempo


Novatio Legis Incriminadora: A Lei nova torna típico fato anteriormente não
incriminado. Por força da garantia do art. 5º, XL – CF, tal Lei não pode ser aplicada aos fatos a
ela anteriores.
Abolitio Criminis: (CPM, art. 2º) – A abolitio criminis faz desaparecer o delito e seus
reflexos penais, permanecendo, entretanto, os civis.
A obrigação de reparação, que tem previsão no art. 159 do Código Civil, para aquele que,
por ação ou omissão ou culpa, causa dano a outrem, fundamenta-se no diploma penal castrense,
no art. 109, I, que “torna certa a obrigação de reparar dano resultante do crime”.
A Abolitio Criminis é uma das causas de extinção de punibilidade prevista no art. 123,
inc. III.
Novatio Legis in Pejus: A terceira hipótese refere-se à Lei nova mais grave que a
anterior (Lex Gravior). Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da Lei Penal mais severa.
Exemplo: Lei 9.839, de 27.12.99, que passou a impedir a aplicação da Lei 9.099/95 (que criou os
Juizados Especiais Criminais) na Justiça Militar e, de seqüência, afastou do âmbito da Justiça
castrense os institutos despenalizadores da suspensão condicional do processo e da exigência de
representação do ofendido nas lesões corporais de natureza leve e nas culposas.
Novatio Legis in Mellius: A última hipótese é de Lei nova mais favorável que a anterior.
Além da Abolitio Criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras, seja cominando
pena mais branda em qualidade (detenção, em vez de reclusão), ou quantidade (de um a quatro
anos, em vez de dois a oito), eliminando circunstâncias qualificadas ou agravantes previstas
anteriormente etc.
Sílvio Martins TEIXEIRA lecionava que:
de diversas formas pode uma nova Lei beneficiar o agente de um crime.
Assim por exemplo: o fato não é mais considerado crime, passando a ser
classificado como contravenção ou deixando de ser punido; circunstâncias
perdem o caráter de agravantes; são admitidas outras excusativas de
responsabilidade ou novas justificativas dos fatos considerados crimes, é
diminuído o prazo para a prescrição.
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Competência para aplicação da lei nova


DELMANTO enumera duas hipóteses a considerar para a aplicação da lei nova,
dependendo de já ter sido ou não julgado o caso em definitivo.
1ª Hipótese: Se a condenação já transitou em julgado, a aplicação da lei posterior compete
ao juiz da execução.
Em se tratando de crime militar, a execução da sentença e os incidentes de execução devem
ser resolvidos pelo Juiz-Auditor da Auditoria por onde correu o processo ou, nos casos de
competência originária do Superior Tribunal Militar, pelo seu Presidente, nos termos dos arts. 588
e590 do Código Penal Militar.
Ao preso provisório ou condenado da JUSTIÇA MILITAR, aplicar-se-ão igualmente a
disposições da Lei 7.210, de 11/07/74, Lei de Execução Penal, quando recolhido a
estabelecimento sujeito à jurisdição originária, nos termos do parágrafo único do seu art. 2º.

Jurisprudência

Súmula 611, STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo


das execuções a aplicação da lei mais benigna”. Precedentes no STF: RTJ 85/786,RT 87/447 E
1.067; 88/1.082 E 1.098, 90/451, 92/881, 90/881, 94/564, 95/758 (MIRABETE, Manual
1989:70).
Maurício KUEHNE apresenta as seguintes decisões:
Execução Penal: Réu condenado pela Justiça Militar por crime de roubo a
estabelecimento bancário. Competência do Juízo da Execução Penal – o suscitado – para
prosseguir na execução (STJ – CC 7.309-SP – J. em 27.03.89, DJU 16.03.90, p. 3.075)
Conflito de competência. Execução da pena. Juízo competente.
1. Os sentenciados recolhidos a estabelecimento penal sujeito à administração estadual, ainda
que condenados pela Justiça Eleitoral, Militar ou Federal, terão suas penas executadas pelo
Juízo de execução comum do Estado.
Penal Militar. Execução da pena.
O militar condenado, com sentença transitada em julgado, se cumpre a pena em
estabelecimento militar, sujeita-se ao regime ao regime de cumprimento da legislação especial e
não à de que trata a Lei de Execuções Penais (LEP, art. 2º, parágrafo único).
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2ª Hipótese: Se o processo ainda está em julgamento, dependendo da fase em que se


encontrar, caberá ao juiz, ou ao tribunal com que o processo estiver, a aplicação da nova lei.
Se for militar federal, ao Juízo de qualquer uma das doze Circunscrições Judiciárias
Militares enunciadas pelo art.2º da lei 8.457, de 04.09.92 – Lei da Organização Judiciária Militar
da União, ou Superior Tribunal Militar; se MILITAR ESTADUAL, pela Auditoria Militar do seu
Estado, ou Tribunal de Justiça.
É a conclusão a que se chega à vista dos arts. 124, parágrafo único e art. 125, §§ 3º e 4º da
Constituição Federal.

Apuração da maior benignidade


O Código Penal Militar manda que se considerem a lei posterior e a anterior,
separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato para definir a de maior
benignidade.
Segundo Álvaro Mayrinck da Costa: “cabe ao juiz, a análise do caso in concreto, à luz
de uma e de outra, visto que pode ocorrer que convenha a aplicação da primeira ainda que em
pena mais grave que a segunda que apresenta pena menos severa.”
Para DELMANTO, “há casos em que a opção entre a lei nova e a velha só pode ser
decidida por uma apreciação subjetiva e não objetiva.Em tais hipóteses, pode-se e deve-se
aceitar que o próprio réu, por intermédio do seu defensor, aponte qual das leis aplicáveis lhe
parece ser a mais favorável”.

Habeas corpus. Exigência de representação nos crimes de lesões corporais leves ou de lesões
culposas (Lei 9.099/95, art. 88). Incidência residual no âmbito da Justiça Militar, em face da
superveniência da Lei 9.839/99. Consumação da decadência. Extinção da punibilidade. Pedido
deferido.
São ainda aplicáveis à Justiça Militar, para efeito do que determina o art. 5º da Constituição, os
institutos de direito material previstos na Lei 9.099/95, especialmente as medidas
despenalizadoras pertinentes à exigência de representação nas hipóteses de lesões corporais leves
ou de lesões corporais culposas (art. 88) e à suspensão condicional do processo penal (art.89),
desde que os delitos militares tenham sido praticados antes da vigência da Lei 9.839/99. Se o
ofendido, no prazo legal, deixa de formular a representação a que se refere o art. 99 da Lei
9.099/95, opera-se, em conseqüência da sua inércia, a decadência do direito de postular a
instauração da persecutio criminis, circunstância esta que enseja o reconhecimento da extinção
da punibilidade do agente.
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A Lei 9.839/99 – que torna inplicável à Justiça Militar a Lei 9.099/95 – não alcança, no
que se refere aos institutos de direito material, os crimes militares praticados antes da sua vigência,
ainda que o Inquérito Policial Militar ou o processo penal sejam iniciados posteriormente.
O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais supervenientes
mais gravosas, como aquela que afastam a existência de causas extintivas da punibilidade, a fatos
delituosos cometidos em momento anterior ao da edição da lei mais severa.

3.3. MEDIDAS DE SEGURANÇA


“Art. 3º - As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença,
prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.”

O Código Penal Militar em vigor inclui, neste artigo, as medidas de segurança no Título I
– Da Aplicação da Lei Penal Militar.
Embora haja quem as considere como sanção penal, as medidas de segurança não são
penas, não têm o caráter retribuitivo do mal com o mal, não significam repressão pela infração de
leis penais vigentes na época em que o fato foi praticado. São medidas necessárias à garantia
social e do próprio indivíduo que se torna perigoso. Diferente do crime, que é punido de acordo
com a lei vigente na data em que foi cometida a infração, as medidas de segurança nada têm a ver
com a lei que existia à época em que o ato foi praticado, pois sendo o seu objetivo a segurança
atual, a lei aplicada é a que vigora na data em que é determinada a sentença. Se a lei se modifica
depois que foi decretada a medida, mas antes de ser posta em execução, ela será aplicada de acordo
com a modificação, ou seja, de acordo com a lei vigente na época em que se executa.
Pena é a que o Código relaciona como Principais (art. 55) ou Acessórias (art. 98), não se
fazendo menção, nos referidos artigos, às medidas citadas.
Por outro lado, quando o código afirma que tais medidas são reguladas pela lei em
vigêncka ao tempo da sentença, ou pela existente no momento da execução, se diferente da
anterior, está afirmando que a nova lei retroage, o que é inconcebível, visto que a Constituição
Federal, em seu art. 5º, XL, declara taxativamente em termos gerais que a lei penal não retroagirá,
salvo para beneficiar o réu. Logo, a lei vigente ao tempo da sentença só retroagirá se for mais
benéfica.
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3.4. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA


“Art. 4º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período da sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.”

Segundo DELMANTO, o princípio da retroatividade benigna não é aplicável em casos de


leis excepcionais ou temporárias. As leis excepcionais são as promulgadas para vigorar em
situações ou condições sociais anormais (ex. guerra, estado de sítio, epidemia etc.), tendo sua
vigência subordinada à duração da anormalidade que as motivou. Leis temporárias são as que têm
tempo de vigência determinado em seus próprios dispositivos.
Ambas têm Ultratividade, que é a capacidade de aplicarem-se ao fato cometido sob seu
império, ainda que revogado pelo decurso do tempo ou uma vez superado o estado excepcional
que as originou. O que possibilita a punição, segundo MIRABETE, é a circunstância de ter sido
a conduta praticada durante o prazo de tempo em que ela era exigida e a norma necessária à
salvaguarda dos bens expostos naquela ocasião especial. Esta ultratividade visa a frustar o
emprego de expedientes tendentes a impedir a imposição de suas sanções a fatos praticados nas
proximidades de seu termo final de vigência ou da cessação das circunstâncias excepcionais que
a justificaram.

3.5. TEMPO DO CRIME


“Art. 5º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que
outro seja o do resultado.”

O Código Penal Militar determina o tempo do crime de acordo com a Teoria da Atividade,
a qual, segundo MIRABETE, é aquela que o considera como sendo o momento da conduta (ação
ou omissão). Assim, teríamos, por exemplo, o momento em que o agente efetua os disparos contra
a vítima ou atropela o ofendido (no homicídio doloso ou culposo), ou ilude o ofendido, com
manobra a fraudulenta, para obter vantagem ilícita (no estelionato), ou deixa de prestar socorro
ao ferido (omissão de socorro), pouco importando a ocasião em que o sujeito passivo venha a
morrer, ou o agente obtenha a vantagem indevida etc. O fundamento desta teoria é a de evitar a
incongruência de o fato ser considerado crime em decorrência da lei vigente na época do resultado,
quando não o era no momento da ação ou omissão.
Análise separada merecem os crimes permanentes como a deserção (CPM, art. 187) e o
seqüestro ou cárcere privado (CPM, art. 225), em que, tanto a ação como a consumação,
prolongam-se no tempo enquanto o agente estiver ausente de sua Unidade ou privando a vítima
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de sua liberdade. Incidindo lei nova mais severa durante o tempo da privação da liberdade ou da
ausência do militar, a lex gravior (a lei mais grave) será aplicada, pois o agente ainda está
praticando a ação na vigência da lei posterior. Idêntico raciocínio deve ser feito ao crime
continuado (CPM, art. 80) quando um ou mais dos delitos componentes forem praticados na
vigência da lei posterior mais severa.
Como exceção à regra Celso DELMANTO cita a prescrição, que segue normas próprias
especiais (CPM, art. 125, §2º). A regra incidirá, entretanto, com relação à redução do prazo
prescricional para o agente menor (CPM, art. 129).

3.6. LUGAR DO CRIME


“Art. 6º - Considera-se praticado o fato no lugar onde se desenvolveu a atividade
criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de participação, bem como onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado
no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.”
Quando a conduta típica (ação ou omissão) e o resultado danoso ocorrem num mesmo
lugar, não existem dificuldades na fixação do lugar do crime. Entretanto, nos chamados crimes a
distância ou de longa mão, que são as infrações em que a conduta típica se dá em um país e o
resultado ocorre em outro, a questão merece análise mais apurada.
Por exemplo, A dispara, através da fronteira, contra B, que cai morto no país vizinho; ou
C induz D em erro num país, a fim de que este realize em outro, ato de disposição patrimonial
prejudicial a seus interesses; ou E se apodera de um avião que sobrevoa o território de um Estado,
obrigando seu piloto a variar o rumo e a aterrissá-lo em outro, solicitando, com êxito, o resgate de
uma terceira nação. Onde foi cometido o homicídio, o estelionato e o seqüestro aéreo,
respectivamente em cada um desses casos?
Existe três Teorias que podem explicar tais situações:
1. Teoria da Atividade, pela qual lugar do crime é aquele em que se iniciou a execução da
conduta
típica, que é a posição do nosso Código, em relação aos crimes omissivos, já que considera
praticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida;
2. Teoria do resultado, pela qual lugar do crime é aquele em que se produziu o evento;
3. Teoria da Ubiqüidade, pela qual é tido como lugar do crime tanto aquele em que se iniciou
sua
execução, como aquele em que ocorreu o resultado, que é a posição do nosso Código, em
relação
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aos crimes comissivos.


Nos casos dos crimes a distância, envolvendo países diferentes, resulta um conflito de
jurisdição, de caráter internacional que será resolvido pelo art. 8º do CPM, que estabelece que a
pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

3.7. TERRITIRIALIDADE – EXTRATERRITORIALIDADE


“Art. 7º - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território nacional ou fora dele,
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça
estrangeira.

Território nacional por extensão


§1º - Para os efeitos da Lei Penal Militar consideram-se como extensão do Território
Nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar
ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de
propriedade privada.

Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros


§2º - É também aplicável a Lei Penal Militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou
navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar e o crime atente contra as
instituições militares.

Conceito de navio
§3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio, toda embarcação sob
comando militar.”

A lei penal militar se aplica aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou navios apenas
quando estes, sendo estrangeiros, se encontrem em local sob administração militar e atentem
contra as instituições militares.
A questão da territorialidade e da extraterritorialidade se insere no chamado direito penal
internacional. Para Paulo GUSMÃO, geralmente o direito tem eficácia em todo o território do
Estado que o sancionou, pois a eficácia extraterritorial das leis depende da vontade do outro
Estado, admitida através de leis ou tratados internacionais. Para ele, território é a parte da
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superfície terrestre que o Estado exerce, soberanamente, a sua autoridade e na qual encontra-se a
sua população. É formado pelo solo, subsolo, espaço aéreo que o recobre, ilhas e mar territorial
que o banha, quando o mar lhe serve de fronteira, como é o caso do Brasil.

3.8. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO


“Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.”

Este artigo insere a regra non bis in idem, ou


seja, evitar a duplicidade de repressão
penal.

A atenuação, em caso de diversidade qualitativa


de pena imposta é obrigatória, ficando a
quantidade da redução ao critério prudente do magistrado. Já na hipótese de a pena cumprida no
estrangeiro ser da mesma qualidade, ela é simplesmente abatida da pena a ser executada no Brasil.
Segundo MIRABETE, a se a pena cumprida no estrangeiro for superior à imposta no
País, é evidente que esta não será cumprida.

3.9. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ


“Art. 9º. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei
penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado ou assemelhado
ou civil.
c) por militar em serviço, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda
que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob
a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) REVOGADO - por militar em situação de atividade ou assemelhado que,
embora não estando em serviço, usa armamento de propriedade militar ou
qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar,
para a prática de ato ilegal;
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III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, consideram-se como tais não só os cometidos no inciso I, como os do inciso
II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de
atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou
da Justiça Militar, no exercício de função inerente a seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância,
garantia e preservação da ordem pública, administrativa e judiciária,
quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
Parágrafo único – Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.”

Conceito.
“Crime militar é todo aquele que a lei assim o
reconhece como tal”.
O legislador penal brasileiro adotou o critério
legal para definir crime militar, isto
é, apenas enumerou taxativamente as diversas situações que definem esse delito. Ou seja, um fato
só poderá ser considerado crime militar se estiver previsto no Código Penal Militar (CPM).

Crime própria e impropriamente militar.


Os delitos propriamente militares nunca podem ser crimes comuns. Assim, o crime
propriamente militar é o que só por militares pode ser praticado, isto é, aquele que constitui uma
infração específica e funcional da profissão de “soldado”. São exemplos de crime propriamente
militares a covardia, o motim, a revolta, a violência contra superior, o desrespeito a superior etc.
Nunca haverá previsão de tais fatos no Código Penal comum ou em qualquer outra lei de caráter
penal, daí dizer que são crimes propriamente militares.
O crime impropriamente militar é, por sua vez, aquele que, pela condição militar do
culpado, ou pela espécie militar do fato, ou pela natureza militar do lugar, ou, finalmente, pela
anormalidade do tempo em que é praticado, acarreta dano à segurança ou à economia, ao serviço
ou à disciplina das instituições militares. O crime impropriamente militar é, em linhas gerais,
aquele crime comum cujas circunstâncias alheias ao elemento constitutivo do fato delituoso o
transformam em crime militar transportando-o para o CPM. Desta forma, podemos dizer que o
fato definido como crime impropriamente militar também está previsto no Código Penal comum.
16
17

Distinção entre Crime Militar e Transgressão Disciplinar.


As Forças Armadas e as Forças Auxiliares dispõem de normas complementares
contidas nos Regulamentos Disciplinares, que permitem às autoridades militares aplicarem
sanções disciplinares a seus subordinados por fatos de menor gravidade, mas que visam a
assegurar a hierarquia e a disciplina militares.
Transgressão Disciplinar é, assim, “toda ação ou omissão contrária ao dever militar,
devidamente prevista em regulamento próprio”. O Crime Militar é a ofensa mais grave a esse
mesmo dever. Desta forma, a conduta violadora do dever militar em sua essência é a mesma e
somente o caso concreto poderá determinar se houve mera transgressão disciplinar ou um crime
militar.
É bom lembrar que para uma conduta ser considerada crime militar deve estar
prevista no CPM. De igual forma, para que possa ser considerada transgressão disciplinar deve
estar inserida no Regulamento Disciplinar correspondente. Desse modo, existem certas condutas
que estão previstas tanto no CPM quanto no Regulamento Disciplinar; situação que poderá
determinar que o acusado seja submetido, ao mesmo tempo, a um processo administrativo (PAD)
para apuração da falta disciplinar e a um processo judicial para apuração da infração penal.
Contudo, poderá a autoridade militar, agindo por seu bom senso, entender que a gravidade da
conduta deva apenas limitar sua apuração à esfera administrativa, dando-lhe tratamento de
transgressão disciplinar. Se entender o contrário, ou seja, que tal fato teve tamanha repercussão e
gravidade poderá optar por uma postura que determine, ao mesmo tempo, uma apuração
disciplinar, por meio de “sindicância” ou Processo Administrativo (como prefere o novo Estatuto
PM), e uma postura penal, por intermédio da instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM).

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Crimes dolosos contra a vida. Inquérito. Julgada medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL,
contra a Lei 9.299/96 que, ao dar nova redação ao art. 82 do Código de Processo Penal Militar
determina que “nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar
encaminhará os autos do inquérito à Justiça comum.” Afastando a tese da autora de que a
apuração dos referidos crimes deveria ser feita em inquérito policial civil e não em inquérito
policial militar, o Tribunal, por maioria, indeferiu a liminar por ausência de relevância na argüição
de ofensa ao inciso IV, do §1º ao §4º do art. 144, da CF, que atribuem às polícias
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federal e civil o exercício das funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais,
exceto as militares. Considerou-se que o dispositivo impugnado não impede a instauração paralela
de inquérito pela polícia civil. Vencidos os Ministros Celso de Mello, Relator, Maurício Corrêa,
Ilmar Galvão e Sepúlveda Pertence. (STF – Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.494-DF –
Rel. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, DJU, 20.04.97).

4. DOS DELITOS EM ESPÉCIE

Motim (art. 149).


“Motim”
“Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados.

I – agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;

II – recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência;

III – assentindo em recusa conjunta de obediência ou em resistência ou violência, em comum,


contra superior;

IV – ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de


qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-os de
qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de violência, em
desobediência a ordem superior ou detrimento da ordem ou da disciplina militar.
Pena – reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças”.

“Revolta”
“Parágrafo único. Se os agentes estavam armados.
Pena – reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças”.

De acordo com o CPM não existem definições distintas para os crimes de revolta e
de motim. Apenas o armamento dos participantes é elemento constitutivo do primeiro. Assim, é
condição da configuração do crime de revolta, o agrupamento de militares armados. Pois, se
reunirem-se sem armas, o crime será de motim. A revolta é, portanto, o motim armado, sendo a
existência de armas o único e essencial ponto de distinção entre os dois crimes.
É comum achar que, para configuração dos delitos de motim ou de revolta, exige-se
a reunião de quatro ou mais militares, contudo a redação atual de tais delitos admite que dois
militares reunidos podem praticá-los, presentes os demais elementos constitutivos do tipo.
SUPERIOR é, nos termos do art. 24 do CPM, o militar que, em virtude da função exerce
autoridade sobre outro, de igual posto ou graduação ou que lhe seja inferior. Portanto, para que
um militar seja considerado superior, à luz do CPM, basta que exerça autoridade sobre outro em
razão da função que ocupa, não sendo necessário possuir grau hierárquico mais elevado.
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Violência contra superior (art. 157).


“Violência contra superior”
“Art. 157. Praticar violência contra superior. Pena
– detenção, de três meses a dois anos.

“Formas qualificadas”
§ 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente, ou oficial general.
Pena – reclusão, de três a nove anos.

§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço.

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra
a pessoa.

§ 4º Se da violência resulta morte. Pena


– reclusão, de doze a trinta anos.

§ 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço”.

Este crime só pode ser cometido por militar, não encontrando previsão no Código
Penal comum, razão pela qual tratar-se de crime militar próprio.
A violência exigida para caracterização deste delito é a violência física, consistente
em tapas, empurrões, rasgar roupas, puxão de orelhas, pontapés e socos que podem ou não
provocar lesões. Há necessidade apenas da existência de contato físico diretos ou através de
instrumentos, também físicos. A agressão verbal poderá caracterizar outros delitos, tais como
ultraje ao pudor (art. 238), desrespeito a superior (art. 160), incitamento (art. 155) etc.
A violência contra superior assume tal gravidade que as conseqüências penais
independem do resultado da ação (pode ou não causar lesão corporal). Nesse sentido, quanto mais
deve ser respeitado o ofendido (superior), maior é o crime e, portanto, mais grave a pena
cominada.
Os parágrafos do art. 157 denotam a escalada de gravidade do crime.

Ementa: Violência contra superior. Quando se torna obrigatório o laudo médico. Violência
contra Superior – somente na forma qualificada prevista no art. 157, §3º do CPM, isto é, quando
da violência resulta lesão corporal, é que torna indispensável o exame médico legal na pessoa da
vítima. (TJM/MG – Ap. 1.098, Rel. Juiz Dr. fausto Nunes Vieira. Acórdão de 04.11.75)

Ementa: Soldado que agride a socos e golpes de bastão, colega de igual graduação, porém
em serviço. Conduta tipificada no art. 157, §3º do CPM. Denúncia e condenação por lesão
corporal, art. 209, CPM. Autoria e materialidade induvidosas. Vedada a reformatio in pejus,
20

mantêm-se a decisão recorrida. Apelo improvido. Decisão unânime. (TJM/RS – Ap. 3.002/97 –
Rel. Juiz Cel João Vanderlan Rodrigues Vieira, j. 15.10.97. Jurisprudência Penal Militar,
jan/jun 1997, p.228)

Violência contra militar em serviço (art. 158).


“Violência contra militar em serviço”
“Art. 158. Praticar violência contra o oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela,
vigia ou plantão.
Pena – reclusão, de três a oito anos.

§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço.

§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se , além da pena da violência, a do crime contra
a pessoa.

§ 3º Se da violência resulta morte. Pena


– reclusão, de doze a trinta anos”.

O artigo é um desdobramento do artigo anterior, estendendo a proteção contra violência


física a todos os militares de serviço, e não apenas ao superior hierárquico.
Quanto aos meios empregados pelo agente do delito, o crime se apresenta com duas
feições: cometido com arma ou sem arma.
É crime que não exige a qualidade de militar do sujeito ativo (agente). Considerado um
crime contra as instituições militares, podendo ser cometido por qualquer indivíduo, militar ou
civil.

Insubordinação (art. 163 – 166).


“Recusa de obediência”
“Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou
relativamente a dever imposto em lei regulamento ou instrução.
Pena – detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave”.

Define-se insubordinação como sendo o fato de o militar negar-se a obedecer ordem


de superior hierárquico, relativo a serviço ou dever imposto em lei, regulamento ou instrução.
Vale ressaltar que a mesma conduta, aqui definida como insubordinação, pode
caracterizar o crime de motim previsto no art. 149, I, CPM. A insubordinação ficará restrita aos
21

casos em que um único militar recusar-se a obedecer tais ordens. Em sendo mais de um militares,
o crime será de motim.
ORDEM é a expressão da vontade do superior hierárquico dirigida a um ou mais
inferiores determinados para que cumpram com uma prestação ou abstenção no interesse do
serviço. Deve a ordem ser:
IMPERATIVA – deve importar numa exigência para o inferior, por isso não são
ordens os conselhos, exortações e advertências;
PESSOAL – significa que deve ser dirigida a um ou mais inferiores determinados;
as de caráter geral não são ordens desta natureza e seu não-cumprimento constitui mera
transgressão disciplinar;
CONCRETA – ou seja, pura e simples, pois seu cumprimento não deve estar sujeito
à apreciação do subordinado.
Finalmente a ordem tem que estar relacionada à lei, regulamento ou instrução (base
legal).
A obediência, no sistema militar, sustentada na hierarquia e na disciplina, é
fundamental, contudo é certo que atualmente não se admite a obediência cega. Permite-se que o
inferior examine o conteúdo da determinação. Certo é também que o sistema militar apresenta
características próprias. Assim, se a ordem é ilegal, é ilegal também o fato praticado pelo
subordinado (“ordens manifestamente ilegais não devem ser executadas”) . Mas, como não lhe
cabe discutir sobre sua legalidade, encontra-se no estrito cumprimento de dever legal (dever de
obedecer a ordem). O que vale dizer que apenas as ordens manifestamente ilegais não devem ser
cumpridas pelo subordinado, ou seja, aquelas que, à primeira vista, sem qualquer necessidade de
maior avaliação acerca da sua conformidade com a lei, já demonstram visível ilegalidade.
O cumprimento de ordens manifestamente ilegais responsabilizam o militar que
executou e o superior que a emitiu. As ordens não-manifestamente ilegais responsabilizam apenas
o superior que a emitiu.

Violência contra inferior (art. 175).


“Violência contra inferior”
“Art. 175. praticar violência contra inferior. Pena
– detenção, de três meses a um ano.

“Resultado mais grave”


22

Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte, é também aplicada a pena do
crime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159”.

“Art. 159. Quando a violência resulta morte ou lesão corporal e as circunstâncias evidenciam que
o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa
é reduzida de metade”.

O art. 159 trata do crime preterdoloso ou preterintencional, ou seja, modalidade de


crime qualificado pelo resultado. O PRETERDOLO apresenta dolo no antecedente e culpa no
conseqüente. Ex.: agente desfere um soco no oficial de serviço ou na sentinela por desejar ferir
qualquer um deles, sendo que a vítima vem a cair e morrer ao bater a cabeção contra o solo.
O art. 175 “caput” trata da violência pura e simples do superior contra o inferior. Se o superior
efetuar um empurrão contra o subordinado e em seguida desfere-lhe uma bofetada, ocorre a pratica
do fato tipificado em tal artigo do CPM. Uma segunda situação vem prevista no parágrafo único
do mesmo artigo, sob a rubrica “resultado mais grave”, e consiste na violência praticada pelo
superior contra o inferior, mas que resulte lesão corporal ou morte.

Deserção (art. 187 – 194).


DEFINIÇÃO DOUTRINÁRIA – “Ausência não autorizada do serviço militar, por parte de um
oficial ou de uma praça, com a intenção de não mais voltar”
“Deserção”
“Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena – detenção de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada”.

O art. 187 trata da chamada deserção propriamente dita e é por isso que se diz que tal
artigo traz a definição legal de deserção.
A lei não estipula o quantum do agravamento desta pena, aplica-se o disposto no art. 73
do CPM, agravando-a de um quinto a um terço.

“Casos assimilados”
“Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:

I – não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trânsito ou férias;

II – deixa de se apresentar à autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contados daquele
que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou de
guerra;

III – tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias;
23

IV – consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando


incapacidade”.

“Deserção especial”
“Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do navio ou aeronave, de que é
tripulante, ou da partida ou deslocamento da unidade ou força em que serve:
Pena – detenção até três meses, se após a partida ou deslocamento, se apresentar, dentro de vinte e
quatro horas, à autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade policial, para ser
comunicada a apresentação a comando militar da região, distrito ou zona”.

“Deserção por evasão ou fuga”


“Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto de detenção ou de prisão, ou fugir
em seguida à prática de crime para evitar prisão, permanecendo ausente por mais de oito dias.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”.

Momento consumativo.
É quando se completam os oito dias de ausência, consoante o art. 187 do CPM.

Ausência.
Antes da consumação do crime de deserção, o militar é considerado ausente por
oito dias. Caso retorne ao serviço nesse período de ausência, não há falar-se em crime, mas em
mera transgressão disciplinar, devendo nessa esfera o fato ser tratado.

Prazo de graça.
É o lapso de tempo de oito dias que a lei concede ao ausente, oportunizando-lhe o
desistência (“arrependimento”) e a conseqüente apresentação, não vindo, assim, a consumar o
crime de deserção. Afora a deserção tipificada no art. 190 do CPM, uma vez que esta trata da
chamada deserção instantânea.
A contagem dos dias de ausência, à luz do art. 451 do CPPM, “iniciar-se-á à zero
hora do dia seguinte àquele em que for verificada a falta injustificada do militar ...”. Ex.: Se a falta
injustificada ocorreu no dia 10, inicia-se a contagem do prazo à zero hora do dia 11 e consumar-
se-á a deserção a partir da zero hora do dia 19.

Parte de ausência.
Deverá ser elaborada pelo chefe imediato do ausente e serve para:
a) dar conhecimento do fato ao escalão superior;
b) registrar o início da contagem do prazo de graça;
c) provocar a elaboração do inventário dos bens deixados ou extraviados pelo ausente.

Despacho do Comandante.
24

Na parte de ausência, o comandante irá emitir um despacho, mandando inventariar


o material permanente da Fazenda Pública Estadual, deixado ou extraviado pelo ausente, com a
assistência de duas testemunhas idôneas e mandando publicar em BIO a parte de ausência e o
próprio despacho. É de praxe incluir-se no inventário os bens particulares deixados pelo ausente.

Inventário.
Destina-se a arrecadar os bens da Fazenda Pública Estadual deixados ou
extraviados, bem como os bens particulares deixados pelo ausente.

Parte de deserção.
Documento elaborado pelo comandante da subunidade do militar ausente, ou
autoridade correspondente, por meio do qual encaminhará o termo de inventário e participará ao
comandante, chefe ou diretor que tal ausência já conta de oito dias, configurando o crime de
deserção.

Despacho do comandante.
Recebida a parte de deserção, o comandante proferirá um despacho designando
alguém (pode ser praça ou oficial) para lavrar o termo de deserção.

Temo de deserção.
No termo de deserção, que será subscrito (assinado) pelo comandante e por duas
testemunhas idôneas, de preferência oficiais, será formalizada a instrução provisória do processo
de deserção devendo ser mencionadas todas as circunstâncias do fato, de forma a fornecer os
elementos necessários à propositura da ação penal (oferecimento da denúncia pelo Ministério
Público).
Uma vez publicado o termo de deserção, estará configurado o delito, que classifica-
se como sendo permanente, razão pela qual autoriza, a partir de então, a prisão em flagrante do
desertor onde quer que for capturado.

Despacho no termo de deserção.


Concluído o termo de deserção, o comandante despachará mandando que:
a) sejam publicados o termo de deserção e o próprio despacho em BIO;
b) sejam juntados os assentamentos do desertor;
c) seja oficiado ao Comandante Geral encaminhando o termo de deserção e solicitando a
demissão (se praça não-estável) ou a agregação (se oficial ou praça estável);
25

d) manda realizar diligências para localizar o desertor e determina a publicação do resultado


destas;
e) seja arquivada cópia autêntica dos autos;
f) seja remetido os autos ao Ministério Público.

CONTAGEM DO PRAZO PARA CONSUMAÇÃO DA DESERÇÃO (art. 451, §1º):

1 2 3 4 5 6 7 8

15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
DF 0:00 0:00 0:00 Expediente
1 2 3 4

DF. Dia da Falta ► PM escalado às 8 horas do dia 15;


1. 0:00 do dia 16 ► Início da contagem da ausência;
2. 0:00 do dia 17 ► Parte de Ausência;
3. 0:00 do dia 24 ► Consumação da deserção;
4. Expediente do dia 24 ► Parte acusatória e Termo de Deserção.

Embriaguez em serviço (art. 202).


“Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá- lo.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”.

O delito de embriaguez apresenta duas modalidades:


Na primeira o militar encontra-se em serviço e, nessa qualidade embriaga-se. Caso
ingira bebida alcoólica e não se embriague, inexiste o delito, mas certamente subsistirá a
transgressão disciplinar. Da mesma forma, se a embriaguez ocorre fora do serviço, resolve-se
também no âmbito disciplinar.
Na segunda modalidade, a de apresentar-se embriagado para prestar serviço, é
necessário que o sujeito ativo tenha ciência de que iria entrar em serviço.
Nem sempre é possível a execução do exame de dosagem alcoólica , valendo então,
em seu lugar, a prova testemunhal que evidencie de modo preciso o estado do acusado na
ocasião, com todas as circunstâncias demonstrativas da situação em que o mesmo se encontrava.
Assim, a embriaguez em serviço tem como conseqüência imediata, no mínimo, a
falta de atenção e prejuízo ao desempenho do serviço que o agente está realizando, já que não
podemos aceitar que a ingestão de álcool melhore o desempenho funcional de quem quer que seja.
26

Essa falta de atenção pode evoluir até mesmo para a incapacidade total para a
continuação e realização do serviço, quando o agente perde a coordenação motora, predomina a
confusão psíquica, apresentam-se perturbações sensoriais como a visão dupla, zumbido de ouvido,
ilusões (percepções erradas), palavra difícil e pastosa, inconveniência de atitudes, chegando
mesmo ao coma alcoólico nos casos mais graves.
A comprovação da embriaguez, portanto, poderá ser efetivada pelo exame de
dosagem alcoólica (exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo exame clínico (exame de
embriaguez, “exame visual”). Em qualquer dos casos o exame deve ser feito sempre por médico
perito oficial e, na ausência deste, por médico a ser designado pela autoridade militar.

Dormir em serviço (art. 203).


“Dormir em serviço”
“Art. 203. dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em situação
equivalente, ou não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme,
de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante.
Pena – detenção, de três meses a um ano”.

O militar tem o dever de utilizar todos os meios possíveis para evitar que adormeça
e quando esses meios se apresentem deficientes, cumpre participar ao superior hierárquico a fim
de que sejam adotadas providências cabíveis.
O delito de dormir em serviço é sempre doloso, o que vale dizer que a conduta culposa não
caracteriza o delito, podendo configurar mera transgressão disciplinar.

Maus tratos (art. 213).


“Maus tratos”
“Art. 213. Expor a perigo a vida ou a saúde, em lugar sujeito à administração militar ou no serviço
de função militar, de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de educação,
instrução, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis,
quer sujeitando-as a trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando de meios de correção ou
disciplina.
Pena – detenção, de dois meses a um ano.

“Formas qualificadas pelo resultado”


§ 1º Se do fato resulta lesão grave: Pena
– reclusão, até quatro anos.

§ 2º se resulta morte:
Pena – reclusão, de dois a dez anos”.

O delito de maus tratos está previsto no art. 136 do Código Penal comum, razão pela
qual é crime militar impróprio. No tipo penal, no entanto, exige-se que a exposição a perigo ocorra
em lugar sujeito à administração militar ou que o seu agente esteja no exercício de função
27

militar. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, ressalvando-se quanto a este
último que sua punibilidade está condicionada ao fato de o delito atentar contra as instituições
militares.
O art. 213 do CPM, prevê uma situação a mais para a vítima, ou seja, a de estar
submetida à autoridade do agente, importando o crime na violação desse dever de autoridade,
guarda ou vigilância, para o fim de educação, instrução, tratamento ou custódia.
Comete o delito o agente que priva de alimentação ou cuidados necessários (ex.:
doentes internados sob sua custódia), ou sujeitando-a a trabalhos excessivos ou inadequados (ex.:
trabalhos forçados em locais insalubres); ou ainda abusando de meios de correção ou disciplina
(ocorre com mais freqüência contra recrutas ou alunos em cursos de formação).
É crime múltiplo, não sendo necessário que o agente realize todas as condutas típicas
mas apenas uma delas.
O crime de maus tratos é essencialmente doloso, desconhecendo o CPM a forma
culposa.
Os parágrafos do art. 213 aludem às formas qualificadas pelo resultados lesão corporal grave e o de
morte.

Embriaguez ao volante (art. 279).


“Embriaguez ao volante”
“Art. 279. Dirigir veículo motorizado, sob administração militar, na via pública, encontrando-se em
estado de embriaguez, por bebida alcoólica, ou qualquer outro inebriante.
Pena – detenção, de três meses a um ano”.

Com o advento da nova lei de trânsito (Lei n.º 9.503, de 23 Set 97) restou tipificado
a conduta de “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância
de efeitos análogos ...” (art. 306 do Código de Trânsito brasileiro). Portanto, atualmente, o delito
de embriaguez ao volante é crime militar impróprio.
Para configuração do delito de embriaguez ao volante não é necessário a provocação de qualquer
dano à saúde ou ao patrimônio de outrem, posto tratar-se de delito de perigo abstrato. Basta a
simples condução de veículo estando o agente sob efeito de substância alcoólica ou de efeitos
análogos.

Prevaricação (art. 319).


“Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”.
28

A prevaricação é crime militar impróprio, posto que também encontra previsão no


Código Penal comum. O seu sujeito ativo deverá ser funcionário público, seja militar ou civil. O
sujeito passivo é o Estado, representado pela Administração Militar.
O delito se consuma de três maneiras. Na primeira, o agente retarda (protrai,
delonga); na segunda, ele deixa de praticar (omissão) e; na terceira, ele pratica (ação) o ato de
ofício contra disposição legal.
ATO DE OFÍCIO é aquele que se compreende nas atribuições do servidor; que está
na esfera de sua competência, administrativa ou judicial.
O crime de prevaricação é essencialmente doloso, mas requer um elemento subjetivo
do injusto (especial fim de agir), caracterizado pela expressão “para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal”, sem que o crime não se aperfeiçoa. Inexistindo o elemento subjetivo do
injusto o delito praticado poderá ser o de condescendência criminosa. Ou seja, se o superior não
pretender com a sua conduta a satisfação de um interesse ou sentimento pessoal deixa de praticar
o crime de prevaricação, mas pode praticar o crime de condescendência criminosa.
CRIME DOLOSO é aquele em que o agente manifesta a vontade livre e dirigida à prática de
qualquer das condutas mencionadas pela lei penal.

Condescendência criminosa (art. 322).


“Condescendência criminosa”
“Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração no exercício do cargo, ou,
quando lhe falta competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.
Pena – se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis meses; se por negligência,
detenção até seis meses”.

A condescendência criminosa está prevista no art.320 do Código Penal comum e,


por isso, será crime militar impróprio quando presentes as condições exigidas pelo CPM.
O presente artigo apresenta duas modalidades de crime; o indulgente doloso e o
culposo:
a) o culposo, pela referência à negligência;
b) o indulgente (doloso), que o crime praticado por indulgência.
INDULGÊNCIA é a qualidade do indulgente, ou seja, é a clemência, a misericórdia,
a tolerância demasiada, a benevolência.
NEGLIGÊNCIA é o desleixo, descuido, incúria, desatenção, menosprezo, preguiça.
É crime que só pode ser cometido pelo superior hierárquico em relação ao seu
subordinado infrator. O superior neste caso tem competência para punir o subordinado. Já quando
o superior não tem competência para punir o subordinado deve informar imediatamente
29

à autoridade competente para a punição, sob pena de cometer o crime de condescendência


criminosa.
O Regulamento Disciplinar da PMBA traz textualmente a exigência de uma pronta atuação do
superior que presenciar ato contrário à disciplina ou ao decoro da instituição, devendo, assim,
sujeitar o subordinado à prisão disciplinar ou à prisão em flagrante delito.

Desacato (art. 341).


“Desacato”
“Art. 341. Desacatar autoridade judiciária no exercício da função ou em razão dela. Pena
– reclusão, até quatro anos”.

É crime militar impróprio, posto que também


encontra definição no Código Penal
comum.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,


militar ou civil, mesmo o funcionário
público desde que agindo como particular.
Autoridade judiciária é tanto o juiz-Auditor como qualquer um dos Juízes-Militares
que compõem o Conselho de Justiça, Especial ou Permanente.
Autoridades judiciárias são igualmente, os Ministros do Superior Tribunal Militar e
o Juiz-Auditor Corregedor na esfera federal e, os juízes dos Tribunais Militares dos Estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, bem como o Juiz-Corregedor da Justiça Militar
estadual.
A ofensa constitutiva do desacato é qualquer palavra ou ato que redunde em vexame,
humilhação, desprestígio ou irreverência ao funcionário. É a grosseira falta de acatamento,
podendo consistir em palavras injuriosas, difamatórias ou caluniosas, vias de fato, agressão física,
ameaças, gestos obscenos, gritos agudos etc.
É condição sem a qual não se configura o crime de desacato a situação de estar a
autoridade judiciária no exercício da função ou em razão dela.
O crime só admite a forma dolosa, não havendo previsão de culpa.

– BIBLIOGRAFIA –

1. Apostila do Curso de Formação de Oficiais (APMBA), Dr. Luiz


Augusto Santana – Promotor de Justiça Militar/BA;
2. Comentários ao Código Penal Militar, Vol. 2, Dr. Jorge César de
Assis - Promotor da Justiça Militar da União.
30

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

1. CONCEITO

O processo é o leito de garantias do indivíduo que o Estado deverá cursar para a aplicação
da pena. Garantias indispensáveis e indisponíveis. Vale dizer, não pode o Estado prescindir delas
e nem mesmo o acusado poderá abrir mão de sua aplicação.
Tem, assim, o processo o caráter de instrumentalidade garantista, ou seja, caráter de
instrumento para a garantia do indivíduo iluminado por princípios.

2. SISTEMAS PROCESSUAIS

a) INQUISITIVO – Nele, as funções de julgar, acusar e defender concentram-se e se


confundem.
b) ACUSATÓRIO – Como o próprio nome sugere, há distinção de funções no
processo. Surge com o nascimento do Ministério Público (MP). Assim, pelo
surgimento de partes bem definidas é possível o estabelecimento do contraditório
pelo choque de teses. (Art. 129, I, CF – MP como entidade autônoma).
c) MISTO OU FRANCÊS – Conjugação dos sistemas anteriores.

Pelo sistema acusatório, o juiz não pode iniciar o processo de ofício.

INVESTIGAÇÃO NO SISTEMA ACUSATÓRIO:

▪ JUIZ – papel centrado na flexibilização das garantias fundamentais, contudo, não


interfere no caminho investigatório;
▪ MINISTÉRIO PÚBLICO – exercício do controle externo da atividade policial
(fiscalização e controle sem relação hierárquica). Interferência indireta nos rumos da
investigação (requisição de diligências policiais). O MP pode presidir investigação?
O poder de investigar do MP é decorrência do sistema acusatório, ou seja, aquele que acusa
pode, também, investigar. Há quem defenda que a CF não prevê, expressamente, este poder e que
a Polícia Federal é a polícia judiciária da União, com exclusividade. (Min Nelson Jobim, STF).
31

PRINCÍPIOS

▪ DEVIDO PROCESSO LEGAL (art. 5º, LIV, CF) – Garantia mais ampla, por
se confundir com a própria necessidade de processo. Aplicação da pena, apenas e tão
somente, por meio do processo. A transação penal só existe em relação aos crimes de
menor potencial ofensivo (art. 98, I, CF), para a aplicação de penas alternativas (não
privativas de liberdade) e suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.0099/95).
▪ JUIZ NATURAL (art. 5º, XXXVII, CF) – Estabelecimento de regras de
competência, prévias ao fato. Vedação do juízo ou tribunal de exceção. As regras de
competência possuem base constitucional (art. 5º, LIII, CF).
▪ PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (art. 5º, LVII, CF) – Ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Conseqüências:

d) REGRA PROBATÓRIA: O ônus da prova cabe a quem acusa. Daí, o fato de, na
dúvida, pender-se em favor do acusado (in dubio pro reo).
e) REGRA DE TRATAMENTO: O acusado deve ser tratado como inocente. A prisão
só poderá ocorrer após sentença condenatória, com transito em julgado, salvo prisão
cautelar.

▪ CONTRADITÓRIO (art. 5º, LV, CF) – Condução dialética do processo,


com a participação efetiva do MP e da defesa. O contraditório divide-se em :

a) NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO: Informação de todos os atos do processo.


b) POSSIBILIDADE DE REAÇÃO: Ação garantida no âmbito do processo.
c) CONSIDERAÇÃO DA REAÇÃO: Faculdade de ter as teses de defesa apresentadas
consideradas pelo juiz.
Por inexistir contraditório na fase de investigação, as peças colhidas no inquérito policial
não podem, isoladamente, exclusivamente, levar à condenação do acusado. Por outro lado, os
exames periciais e as escutas telefônicas, p. ex., podem autorizar um decreto condenatório face à
possibilidade de a defesa contestá-los na fase processual. É o que se chama de contraditório
diferido.
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▪ AMPLA DEFESA (art. 5º, LV, CF) – Divisão:

a) DEFESA TÉCNICA: Aquela realizada por um técnico (art. 564, III, alínea c, CPP e
art. 261, CPP);
b) AUTO DEFESA: Realizada pelo próprio acusado.

DEFESA TÉCNICA:
Possibilidade de nomeação, pelo presidente, de defensor ad hoc pela falta do defensor
constituído pelo acusado (art. 265, CPP).
A ampla defesa inicia-se a partir do início do processo, sendo obrigatória a presença de
defensor desde o interrogatório (Lei 10.792/03). Possui o advogado o direito à entrevista pessoal
com seu cliente antes do interrogatório (art. 185, CPP).
Também como corolário da ampla defesa, o juiz não pode julgar sem a peça das alegações
finais. Deve, então, determinar que defensor ad hoc ofereça as alegações finais. A defesa técnica
deve, portanto, ser plena e efetiva. PLENA, por ser necessária em todo o processo e, EFETIVA
(art. 261, § único, CPP), pela necessidade de seu exercício operar-se mediante manifestação
fundamentada, sob pena de nulidade (art. 497, V, CPP).

AUTO DEFESA:
a) CURADOR: Ocorria quando a maioridade civil era diversa da maioridade penal,
sendo necessário, nesses casos, a nomeação de curador para acompanhar o processo.
Agora, não há mais sentido a figura do curador, haja vista o advento do Novo Código
Civil (NCC), fazendo a maioridade civil coincidir com a maioridade penal. Alguns
autores, porém, entendem que o próprio NCC veda a projeção de efeitos para outras
esferas do Direito. De qualquer sorte, a figura de defensor supre a necessidade de
curador.

b) DIVISÃO DA AUTO DEFESA:


1. DIREITO DE AUDIÊNCIA: Direito de ser ouvido, o qual se manifesta durante o
interrogatório.
2. DIREITO DE PRESENÇA. Direito de estar presente a todos os atos do processo,
inclusive, no caso de réu preso. Flexibilizado no caso de precatória para outra
Comarca e na situação de a testemunha sentir-se ameaçada ou constrangida na sala
de audiências (art. 217, CPP).
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3. DIREITO DE POSTULAÇÃO PESSOAL. O acusado pode postular,


pessoalmente, em três situações: habbeas corpus, recursos e revisão criminal.
4. DIREITO À NÃO-AUTO INCRIMINAÇÃO. Nemo tenetur se detegere ou, para o
Direito norte-americano, “privilege agaist self-incrimination”. Ou seja, é o direito
de não descobrir-se, sendo facultado o direito de não produzir provas contra si.
Surge como decorrência do princípio da ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e da
Convenção Norte-Americana de Direitos Humanos (art. 8º, item 2, g, CADH – “...
ninguém será obrigado a declarar-se culpado”).

5. DIREITO AO SILÊNCIO (art. 5º, LXIII, CF). O silêncio não importará em


prejuízo da defesa nem em confissão (art. 186, CPP). O art. 198, CPP, não foi
adequado pela Lei 10.792/03, porém tal dispositivo não é recepcionado pela
constituição. O acusado tem o direito de mentir, inexistindo o dever de falar a
verdade. Prevalece, porém, o entendimento de o acusado não poder mentir sobre
sua identificação pessoal (interrogatório de qualificação), sob pena de cometer a
contravenção penal descrita no art. 68, da Lei de Contravenções Penais (recusa de
dados sobre própria identidade ou qualificação).

Condução coercitiva:
Aceita-se a condução coercitiva para a acareação e para o interrogatório, mas o acusado
tem direito ao silêncio.

Reprodução simulada dos fatos


A reprodução simulada dos fatos só é possível com a aquiescência do acusado, porém ele
pode ser conduzido coercitivamente ao local do exame.

Exame grafotécnico
O acusado também não está obrigado a fornecer os padrões grafotécnicos, apesar da
existência do art. 174, IV, CPP, e 344, d, CPPM, autorizando o juiz a ditar os caracteres
necessários à realização do exame, quando não houver escritos para a comparação ou forem
insuficientes os exibidos. A doutrina aponta como possível ao acusado ou investigado a negativa
em escrever o que lhe foi ditado, sem falar-se em crime de desobediência.

Exames que demandam intervenção corporal invasiva


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Os exames que demandam intervenção corporal invasiva não podem ser realizados sem a
autorização do acusado.

Bafômetro e os exames de embriaguez


O bafômetro e os exames de embriaguez não podem ser impostos ao acusado em face da
necessidade de participação ativa do sujeito.

INQUÉRITO POLICIAL

1. CONCEITO
É a primeira etapa da persecução penal que, de regra, é atribuída à Polícia judiciária,
visando a averiguar as circunstâncias de um fato aparentemente delitivo e a sua provável autoria.

FINALIDADES (9º, CPPM):


1. Apuração de fato aparentemente delitivo e sua provável autoria;
2. Fornecer ao MP elementos necessários à propositura da ação penal ou da manifestação
pelo arquivamento. Vale dizer, fornecer os elementos necessários à formação dos
elementos de convicção;
3. Servir de base às medidas endoprocessuais – cautelares reais, busca e apreensão; ou
cautelares pessoais, prisão preventiva etc..

CARACTERISTICAS:
1. OBRIGATORIEDADE (art. 10, “a” e “f”, CPPM) – A autoridade policial, independente
de provocação do juiz, do MP, da vítima ou de qualquer do povo, tem o dever jurídico de
instaurar o inquérito policial sempre que deparar-se com um fato aparentemente delitivo
persequível via ação penal pública incondicionada.
Providencias antes do inquérito (art. 10, § 2º, CPPM). O aguardamento de delegação não obsta
que o oficial responsável por comando, direção ou chefia, ou aquele que o substitua ou esteja de
dia, de serviço ou de quarto, tome ou determine que sejam tomadas imediatamente as providências
cabíveis, previstas no art. 12, uma vez que tenha conhecimento de infração penal que lhe incumba
reprimir ou evitar.
2. INDISPONIBILIDADE – A autoridade policial não pode abandonar as investigações ou
determinar o arquivamento de inquérito policial. Também não pode determinar o
arquivamento de Boletim d ocorrência, termo circunstanciado ou VPI (anômalas
sindicâncias policiais).
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3. DISCRICIONARIEDADE NA CONDUÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES – Além do rol de


diligências previstas nos arts. 12 e 13, do CPPM, a autoridade policial pode realizar
qualquer outra que entenda necessária, podendo indeferir solicitação do ofendido para
realização de qualquer diligência ou exame, exceto o de corpo de delito, visto ser ele
obrigatório. O indeferimento de solicitação para realização de exame de corpo de delito
cabe Mandado de segurança Criminal ou representação ao MP para que este, entendendo
necessário, requisite sua realização com fulcro no 129, CF.
4. PROCEDIEMNTO ESCRITO – Deve ser reduzido a escrito em um só processado, apesar
de não estar sujeito a formalidades indeclináveis.
5. SIGILAÇÃO (art. 5º, XXXIII) – Sem prejuízo do princípio da publicidade, que se refere
aos atos processuais e não aos atos de investigação, a sigilação é da própria essência do
inquérito, sendo admitida excepcionalmente pelo constituinte quando imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado. Não há sigilo, porém, em relação ao juiz, ao MP nem
aos advogados, ainda que sem procuração nos autos (art. 7º, XXXIII, XXXIV, Lei 8.90/94).
CONSEQUÊNCIAS
Frustrar o acesso dos advogados ao auto de prisão em flagrante delito (APFD) ou a
qualquer ato de investigação pode gerar:
a) Abuso de autoridade (art. 3º, j, Lei 4.898/65)
b) MS Criminal.
Segundo alguns doutrinadores, não é permitido o acesso do advogado a atos privativos
de investigação, sobretudo aqueles relacionados a diligências ainda não praticadas, salvo em
algumas situações especiais, com p. ex., reprodução simulada dos fatos. O STF e o STJ, porém,
tem entendido de forma diversa, ampliando a publicidade a todos os atos do inquérito policial.
SIGILAÇÃO DO INDICIADO PRESO OU INCOMUNICABILIDADE – Mesmo que decretada
pelo juiz e por apenas três dias constitui crime de abuso de autoridade (art. 4º, “a” e “b”, Lei
4.898/65), sendo o art. 17 do CPPM considerado inconstitucional por força do 5º, LXII e 136, §
3º, IV, da CF. Diz o STJ e o STF: “Se no estado de defesa é vedada a incomunicabilidade de preso,
quanto mais no estado de normalidade”.
6. FACULTATIVIDADE (art. 28, CPPM) – Entre nós o inquérito policial é facultativo ou
dispensável, o que é imprescindível são os elementos de convicção. Assim, os elementos
de convicção podem ser colhidos por meio de notícia trazida por qualquer do povo (notitia
criminis).

NATUREZA JURÍDICA. Tem o inquérito policial natureza jurídica de mera peça informativa, não
contraditória, conforme sugere o seu próprio nome.
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CONSEQUÊNCIAS DA NATUREZA JURÍDICA DO IP:


1. Não é possível falar-se em suspeição ou impedimento da autoridade policial, ainda que
esta seja pai ou irmão do ofendido (STF);
2. Não há falar-se em nulidade do inquérito policial ou da conseqüente ação penal em face de
suspeição ou impedimento. Também, a nulidade do inquérito policial não contamina a ação
penal, salvo se ao ato de investigação for dado valor de ato de prova e for ele utilizado
como fundamento da condenação.
Apesar de não ser possível argüir suspeição ou impedimento, se a autoridade policial,
espontaneamente, não se afastar das investigações, cabe recurso administrativo ao seu superior
hierárquico.
3. A autoridade policial não está obrigada a determinar a notificação de defensor para
acompanhar o interrogatório (oitiva do investigado), nem tampouco permitir a presença de
advogado nas oitivas policiais (STF).

VALOR PROBATÓRIO DOS ATOS E ELEMENTOS DE CONVICÇÀO COLHIDOS NO


CURSO DO INQUÉRITO POLCIAL.
DIFERENÇÃ ENTRE ATOS DE PROVA E ATOS DE INVESTIGAÇÃO.
Atos de Prova – são colhidos ante o juiz que, em regra, vai julgar o mérito da causa. Os atos de
prova integram a relação processual e são revestidos de publicidade contraditório e ampla defesa.
Atos de Investigação – são praticados ante à polícia judiciária ou outra autoridade administrativa.
Servem, não à sentença, mas sim à formação do juízo de convencimento do titular da ação penal
(MP). Não formam juízo de certeza, mas apenas de probabilidade e, como tal, não exigem
observância da ampla defesa, do contraditório e de publicidade.
Para o STF e o STJ, os atos praticados no curso de inquérito policial, uma vez colhidos por
autoridade policial com atribuição em razão da matéria, obedecidas todas as formalidades legais
e não contestados em juízo, têm a mesma força de ato de prova. As demais investigações solteiras,
têm eficácia limitada.

FORMAS DE INSTAURAÇÃO
1. Por portaria da própria autoridade policial (ação pública incondicionada);
2. Por meio de requisição do juiz (STF e STJ dizem ser possível requisição do juiz para
instauração de IP, mesmo a melhor doutrina tendo posicionamento contrário) ou do MP;
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3. Por requerimento do ofendido com mais de 18 anos, um dos seus sucessores, ou via
comunicação de qualquer do povo (notitia criminis);
4. Por meio de auto de prisão em flagrante delito, quando este não for suficiente à formação
da convicção do MP (art. 27, CPPM).
PODE A AUTORIDADE POLICIAL INDEFERIR A REQUISIÇÃO? E O REQUERIMENTO?
No caso de requerimento, a autoridade policial pode deferir ou indeferir
discricionariamente. Deferindo, deve constar o requerimento como peça inaugural ou inicial do
procedimento, registrando-o e autuando-º no caso de indeferir o pleito, deverá fundamentar sua
decisão e cientificar o subscritor do requerimento.
PROVIDÊNCIAS CONTRA O INDEFERIMENTO:
a) Interpor recurso administrativo inominado perante o órgão competente da estrutura da
respectiva polícia judiciária;
b) Levar ao conhecimento do MP, podendo este requisitar a instauração do IP, promover a
ação penal ou o arquivamento do requerimento;
c) Impetrar MS Criminal contra o ato da autoridade
policial. NOTÍCIA ANÔNIMA
Diante de notitia criminis inqualificada, apócrifa ou anônima, a autoridade policial está
desobrigada de instaurar o inquérito policial de ofício, visto o art. 5º, IV, da CF vedar o anonimato.
O STJ porém tem julgados em dois sentidos:
a) Já considerou inconstitucional o Inquérito originado de notícia anônima;
b) Já entendeu que a autoridade policial pode, com muita cautela, investigar as informações
e, uma vez verificando a procedência, instaurar o IP de ofício. Nesse sentido, também o
prof. Mirabete.

PRAZO PARA CONCLUSÃO (art. 20, CPPM)


a) 20 dias, se o réu estiver preso;
b) 40 dias, se estiver solto. Prorrogável por mais 20 dias.
O pedido de prorrogação deve ser feito antes de findo o prazo inicial, sendo possível
sua concessão apenas quando o fato for de difícil elucidação. A contagem do prazo segue a regra
do art. 10 do CP, por ser mais benéfico ao investigado (Súmula 310, STF), ou seja, o dia do
começo inclui-se no cômputo do prazo.
No caso de réu preso, tem-se admitido moderada dilação do prazo, desde que
plenamente justificada (força maior ou motivo justificado).
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Em tese, o MP deveria ser ouvido em toda dilação de prazo por ser ele o destinatário
da ação penal, sendo porém o juiz responsável pela decisão sobre o pleito. A oitiva do MP impõe-
se pela possibilidade de este apresentar, de logo, a denúncia, ou mesmo, requisitar diligências
complementares.

RELATÓRIO. Concluídas as investigações policiais, impõe-se que a autoridade policial elabore


minucioso relatório de tudo que foi colhido no transcorrer das apurações (art. 22, CPPM).
Conteúdo? Como deve ser elaborado?
1. Veda-se emitir juízo de valor sobre a responsabilidade do investigado, agravantes,
atenuantes, justificantes e dirimentes;
2. Deve descrever todas as diligências realizadas;
3. Deve indicar as testemunhas que não foram ouvidas no IP, indicando o local onde podem
ser encontradas;
4. Pode representar pelo incidente de insanidade a final das investigações ou no curso
destas;
5. Pode representar pela prisão preventiva tanto ao final das investigações como quando se
fizer necessária;
6. Não deve a autoridade policial realizar abordagens doutrinárias ou jurisprudenciais.
ROTULAÇÃO. A autoridade policial pode rotular o fato investigado desde a instauração,
inclusive, segundo os elementos colhidos na apuração, poderá, no relatório, modificar a anterior
rotulação. Porém, regra geral, prescinde-se de qualquer rotulação do fato investigado.
Excepcionalmente, impõe-se a justificada rotulação quando o fato investigado estiver previsto
na Lei 6.368/76, conforme determina o art. 30 da Lei 10.409/02.
De qualquer modo, o MP poderá denunciar com fundamento em rotulação diversa, baixar os
autos do IP em diligência, ou mesmo, promover o seu arquivamento.

CONCLUÍDO O INQUÉRITO deve ser encaminhado ao juízo competente, de onde será remetido
ao MP para formação do juízo de convencimento para oferecimento da denúncia, requisição de
novas diligências ou promoção do arquivamento. Para outros, porém, tanto as solicitações de
dilação de prazo quanto os autos de inquérito policial devem ser encaminhados ao MP ou, nas
comarcas onde já foram criadas, às chamadas Centrais de Inquérito.
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PRISÃO TEMPORÁRIA. PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO:


a) crime não hediondo – 5 dias, prorrogável por mais 5 dias (art. 2º, Lei 7.960/89), com vinte
dias para conclusão do IP;
b) crime hediondo 30 dias, prorrogável por mais 30 dias (Lei 8.072/90), com 20 dias para
conclusão do IP. Para alguns, nesses casos, o prazo para conclusão do IP será de 30 ou 60 dias
(Paulo Rangel, prevalece na doutrina). Para outros, haverá sempre a necessidade de igualar-
se a situação do preso temporariamente por crime hediondo ao preso em flagrante delito
também por crime hediondo, pois para a corrente anterior, no caso de prisão temporária, o
prazo de conclusão do IP é de 30 ou 60 dias, sem explicar o porquê de ser de 20 dias o prazo
para conclusão, no caso de ser a prisão originada de flagrante delito por crime hediondo.

REABERTURA DAS INVESTIGAÇÕES.


Uma vez arquivado o inquérito por ter o juiz acolhido as razões apresentadas pelo MP,
pode ele ser reaberto?
Conforme dispõe o art. 25, do CPPM, o surgimento de novas provas pode ensejar a
instauração de outro inquérito para apuração do fato já anteriormente investigado. Segundo o art.
18, do CPP, basta que a autoridade policial tome conhecimento de notícias de novas provas para
a promoção, de ofício, da reabertura das investigações.
A Súmula 524, do STF, por sua vez, determina que, após o arquivamento do inquérito
em juízo, a ação penal não será iniciada sem que novas provas tenham sido produzidas. Ora,
nitidamente tal súmula refere-se à atividade do MP, e não às investigações da autoridade policial.
Vale dizer, sem a existência de novas impõe-se ao MP nova representação pelo arquivamento,
inviabilizando o início da ação penal. Por outro lado, à autoridade policial bastam meras notícias
de novas provas para a promoção de novas diligências elucidativas, nos termos do 18, do CPP.
Assim, uma vez exitosas tais diligências, nada obsta de o MP promover a competente ação penal
por meio do oferecimento de denúncia.

PROVAS EM ESPÉCIE
EXAME PERICIAL. São exames realizados por especialistas na matéria que venham a contribuir
na convicção do juiz. A perícia não é apenas um meio de prova pelo grau de
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importância do perito. É este pessoa de extrema confiança do juiz, sendo-lhe conferido certas
prerrogativas. São espécies de peritos:
a) Peritos oficiais – integrantes do funcionalismo público;
b) Não oficiais ou compromissados – pessoa de nível superior na respectiva especialidade.
Súmula 361, do STF – exige a presença de pelo menos dois peritos para a realização de exames
periciais, sob pena de nulidade. A jurisprudência entende que o laudo subscrito por apenas um
perito, mas corroborado por provas testemunhais, pode ser reconhecido como exame de corpo de
delito indireto.

RESP 120310/ES do STJ - A JURISPRUDENCIA DO STF TEM PROCLAMADO O ENTENDIMENTO


DE QUE O LAUDO PERICIAL FIRMADO POR UM SO EXPERTO, QUANDO AFIRMATORIO DE
FATO TAMBEM DEMONSTRADO POR PROVA TESTEMUNHAL, CONSTITUI CORPO DE DELITO
INDIRETO, COM IDONEO VALOR PROBANTE (RTJ, 65/816).

No caso de perito não oficial, a nomeação será pela autoridade que requisita a
realização da perícia, sendo sempre obrigados a prestarem compromisso. Os peritos oficiais não
prestam compromisso.
Nas perícias não oficiais, as conclusões são transformadas em auto pelo escrivão, o
qual é subscrito por todos. Nas oficiais, o laudo já vem pronto, bastando apenas ser acostado ao
processo ou inquérito.
COMPOSIÇÃO DO LAUDO:
1. Preâmbulo – apresentação dos peritos e especificação do objeto da perícia;
2. Parte descritiva – narração de tudo que os peritos perceberam dos fatos
ocorridos;
3. Crítica – análise crítica do que apreciaram;
4. Conclusão – respostas aos quesitos elaborados pelas partes e pelo próprio juiz.
Os peritos têm o prazo de até 10 dias para realização da perícia requisitada, com
possibilidade de prorrogação desde que haja solicitação fundamentada. Os quesitos formulados
pelas partes e pelo juiz servem de base aos peritos para realização da perícia. Daí deverem ser
apresentados antes de ser iniciado o prazo para realização da perícia.
CORPO DE DELITO. São elementos sensíveis deixados pelo crime.
EXAME DE CORPO DE DELITO. É aquela perícia que tem por objeto os elementos sensíveis ou
perceptíveis sensorialmente deixados pelo crime. A realização do exame de corpo de delito é
obrigatória nos crimes que deixam vestígio (art. 328, CPPM), sob pena de nulidade (art. 500, III,
b, CPPM). O exame de corpo de delito pode ser:
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a) Direto – aquele que incide diretamente sobre os vestígios deixados pela prática delituosa;
b) Indireto – nele, por não mais existirem vestígios diretos, os peritos irão se utilizar de
quaisquer materiais ou elementos que contribua para a realização do laudo. Ex.: prontuário
médico, receita médica, radiografia realizada à época etc.
Inexistindo exame de corpo de delito, o legislador viabilizou a utilização das
testemunhas (PU, art. 328, CPPM). Por outro lado, no art. 328 o legislador diz que nem mesmo a
confissão do acusado serve à verificação da materialidade delitiva, quando não houver exame de
corpo de delito. Para a doutrina majoritária (Prof. Mirabete), as testemunhais só podem ser
utilizadas, nos casos de crimes que deixam vestígios, quando for impossível a realização de exame
de corpo de delito direto. Do contrário, deve operar-se a absolvição do acusado. Para a
jurisprudência, porém, as testemunhais podem suprir a falta de exame de corpo de delito que,
negligentemente, não se realizou.
Os exames de corpo de delito podem e devem ser realizados a qualquer hora do dia ou
da noite, sempre que houver um delito (art. 329, CPPM).
EXAME NECROSCÓPICO.
As necróspcias devem ser realizadas, pelo menos, depois de 6 horas do falecimento,
podendo os peritos realizarem antes quando julgarem possível, consignando tal decisão no auto
(art. 334, CPPM).
Se, a simples apreciação externa do cadáver, levar à conclusão da causa mortis, não é
necessário o exame interno do cadáver. Também não é necessário quando for evidente a ausência
de prática delituosa (art. 335, CPPM). Sempre que possível os cadáveres devem ser fotografados
na posição em que forem encontrados (art. 336, CPPM).
EXAME COMPLEMENTAR.
Os peritos, de posse do laudo anterior, vão apenas complementá-lo, suprindo-lhe as
omissões. No caso de lesões corporais graves, p. ex., face à não possibilidade de exercer ocupações
habituais por mais de trinta dias, ao final destes, deve ser realizado exame complementar. Não
sendo este efetivado, a jurisprudência manda supri-lo via prova testemunhal ou exame pericial
indireto, sob pena de desqualificação das lesões graves para leves, visto que o legislador, após os
30 dias, exige a comprovação da materialidade.

EXAME DOS INSTRUMENTOS DO CRIME.


Os instrumentos do crime também devem ser periciados para que se possa aferir sua
eficiência (art. 345, CPPM).
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EXAME DE INSANIDADE MENTAL. O exame de insanidade mental pode ser feito durante o
inquérito mediante representação da autoridade policial ao juiz. Vale dizer, a autoridade policial
não pode requisitar diretamente o exame de insanidade mental.
INIMPUTABILIDADE:
- Portadores de doença mental;
- Pessoa que tenha desenvolvimento mental incompleto;
- Pessoa que tenha desenvolvimento mental retardado (oligofrenia:
idiotas, imbecis, retardado);
- Toxicômanos, desde que não possam entender o caráter ilícito de
seu comportamento e de auto determinar-se segundo este
entendimento;
- Menores de 18 anos (não estão sijeitos a exame de insanidade
mental).
As partes (MP e acusado), os ascendentes, os descendentes e o cônjuge do réu podem
requerer a realização de exame de insanidade. Se interposto o requerimento perante a autoridade
policial, durante a fase investigatória, esta, entendendo necessário, representará ao juiz pela
realização do exame.
O magistrado, por sua vez, deferido a realização do exame, deverá baixar uma portaria
determinando a sua efetivação e nomeará curador ao investigado, que deverá acompanhar a
realização do exame. Este curador deve ser pessoa da confiança do juiz, independente de ser ele
médico ou advogado.
Durante a realização do exame, diferentemente do processo penal, não haverá
suspensão do andamento do inquérito policial. Assim, antes de iniciada a realização da perícia, o
MP e o juiz devem apresentar os quesitos a serem respondidos pelos peritos.
O prazo para realização da perícia é de 45 dias, podendo ser prorrogado mediante
requerimento fundamentado ao juiz. Elaborado o laudo, este acompanhará o relatório do inquérito
policial.
INTERROGATÓRIO. São as declarações prestadas pelo possível autor do delito, permitindo a este
esboçar a sua versão dos fatos. Durante o interrogatório, o advogado pode ser constituído pelo
acusado independente de procuração, bastando a inserção no próprio interrogatório, chamada de
procuração por termo nos autos. A doutrina e a jurisprudência admitem interrogatório por meio
de precatória. Havendo concurso de pessoas, co-réus, o interrogatório
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deverá ser feito separadamente. Diante de negativa do investigado em assinar o interrogatório,


não haverá assinatura a rogo, devendo o encarregado consignar no termo a negativa.
Procedimento:
a) Entrevista reservada com o advogado;
b) Qualificação do interrogado;
c) Cientificação do direito ao silêncio;
PS.: 1. Apenas os menores de 18 anos exigem a nomeação de curador, pois com o advento do
novo Código Civil a maioridade civil passou a coincidir com a maioridade penal.
2. Ao interrogatório policial aplicar-se-ão apenas as inovações trazidas pela Lei n.º
10.792/03 cabíveis. Vale dizer, não haverá na fase policial quebra do sigilo das investigações,
contraditório ou reperguntas.
4. durante o interrogatório o investigado não comete o crime de falso testemunho, mas pode
cometer o delito de auto acusação falsa(art. 345, CPM). Se ele não comparecer no dia
notificado, poderá ser conduzido coercitivamente ou sob vara.
PERGUNTAS AO OFENDIDO. Declarações prestadas pelo titular do direito violado. A vítima não
presta compromisso, não podendo cometer o crime de falso testemunho (art. 346, CPM). Havendo
recusa da vítima, poderá haver condução coercitiva.
Procedimento:
a) Qualificação da vítima;
b) Tomada das declarações, sendo tudo formalizado em um auto.
TESTEMUNHAS. Pessoas que depõem sobre fato percebido sensorialmente. Todos tem
capacidade para testemunhar (art. 351, CPPM). As testemunhas serão ouvidas separadamente, de
modo que uma não possa ouvir o que a outra disse (art. 353, CPPM). As testemunhas tem o dever
de não calar e falar a verdade, sob pena de falso testemunho (art. 346, CPM). Tem, ainda, o dever
de comparecimento no dia e hora marcados, sob pena de desobediência, multa, condução
coercitiva e, em caso de resistência, prisão de até 15 dias (§ 2º, art. 347, CPPM). Nos casos de
enfermidade ou senibilidade o encarregado deve deslocar-se ao local onde se encontra a
testemunha para colher o seu depoimento. Poderá haver oitiva de testemunha via precatória (art.
361, CPPM). Amigo íntimo ou inimigo capital podem testemunhar, porém, uma vez contraditado,
não prestará compromisso.
Incompatibilidades. Pessoas que são impedidas ou proibidas de depor ou, ainda, que podem
recusar-se:
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a) Recusa (art. 354, CPPM). – Podem recusar-se o ascendente, o descendente, o afim em linha
reta, o cônjuge, ainda que desquitado, exceto o divorciado, o irmão e o adotado. Podem
estas pessoas serem convocadas para depor quando não exista outro meio de prova. Serão
ouvidas, porém, como informantes, sem prestar compromisso.
b) Proibição (art. 355, CPPM). – Certas pessoas são proibidas de depor em razão da função,
ministério, ofício ou profissão, salvo se liberadas pelo interessado. Ainda que liberadas,
podem recusar-se a depor.
Função: Imposição legal ou contratual;
Ministério: Padres e assistentes sociais;
Ofício: Labuta manual;
Profissão: Trabalho relevantemente intelectual. Ex.: advogados, médicos etc.
Procedimento:
a) Compromisso da testemunha;
b) Qualificação;
c) Advertência das penas de falso testemunho e tomada das declarações, sendo tudo
formalizado em um auto.
RECONHECIMENTO DE PESSOAS OU COISAS. Significa exortar alguém a trazer a lume
algo que já é do conhecimento desta pessoa.
Procedimento:
a) Pessoa a reconhecer é levada a descrever a pessoa a ser reconhecida;
b) A pessoa a ser reconhecida é colocada ao lado de outras pessoas semelhantes, sempre que
possível;
c) Indicação da pessoa a ser reconhecida pela reconhecedora.
É possível colocar a pessoa a ser reconhecer em local que não seja vista pela pessoa a
ser reconhecida apenas na fase de investigação, na fase processual, por observância à ampla
defesa, isso não será possível.
O auto de reconhecimento deverá ser subscrito pela pessoa a reconhecer, por duas
testemunhas e pa, autoridade policial.
RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. Não serve, por si só, para infligir condenação.
RETRATO FALADAO. É apenas instrumento facilitador das investigações policiais. Não é
meio de prova e não pode, sequer, dar ensejo ao recebimento da denúncia.
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RECONHECIMENTO DE COISAS. Devem ser aplicadas as normas cabíveis do reconhecimento


de pessoas. É, também, considerado meio de prova. Pode ser utilizado para reconhecimento da
res furtiva, instrumento do crime etc..
ACAREAÇÃO. Vem do verbo acoroar (o mesmo que colocar frente a frente). Assim, acareação é
colocar frente a frente duas ou mais pessoas que divergem em seus depoimentos. Visa a eliminar
contradições entre as declarações. Poderá ser determinada ex offcio ou a requerimento das partes,
sempre que houver divergência de fatos relevantes à conclusão da causa (art. 365, CPPM). É
possível acareação por precatória.
Procedimento:
a) Colocação frente a frente dos acareantes;
b) Leitura dos pontos divergentes ao acareantes;
c) Pergunta aos acareantes se mantêm ou alteram o anterior depoimento.
BUSCA E APREENSÃO. Pode ser pessoal ou residencial. Ambas, em regra, exige mandado
judicial, porém admite exceções (art. 5º, XI, CF, art.s 181 e 182, CPPM).
Residencial: 1. Qualquer hora do dia ou da noite, desde que o ofendido tenha consentido (PU, art.
175, CPPM);
2. Flagrante delito (art. 175, CPPM);
3. Desastre (art. 175, CPPM);
4. Incêndio;
5. Presença do juiz à diligência.
Pessoal: Quando a autoridade suspeitar de a pessoa trazer consigo:
1. Instrumento ou produto do crime;
2. elementos de prova.
Em mãos de advogado, só é possível apreensão no caso de ser corpo de delito ou de
ser o advogado co-réu. Também poderá o advogado ser submetido a busca pessoal no caso de a
coisa encontrar-se em seu poder e ele não ser defensor constituído pelo réu.
Os meios de transporte estão incluídos na busca pessoal, exceto compartimento
habitado.
Havendo a entrega da coisa por terceiro, haverá mero termo de apresentação e
apreensão a ser lavrado pelo escrivão.
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RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS.

- Busca e apreensão (art. 170, CPPM) ou apreensão de objetos durante a investigação policial
(art. 12, b, CPPM).
A regra é o objeto permanecer no processo enquanto for necessário, sendo devolvidos
nos casos em que for permitido. Não a autoridade policial, mas também o juiz pode proceder à
restituição de coisas apreendidas.
- Restituição de coisas apreendidas pela autoridade policial:
1. Se o direito for incontroverso e não interessar ao inquérito policial (titularidade incontroversa);
2. Se o bem não tiver sido apreendido em posse de terceiro de boa fé. Nesse caso, e em todas as
demais situações, apenas o juiz poderá fazer a restituição.

PRISÃO
CONCEITO. Privação da liberdade de alguém mediante clausura. É considerada a mais violenta
medida processual penal que pode ser imposta a uma pessoa sujeita à persecutio criminis, podendo
ser extra juditio ou in juditio.
MODALIDADES DE PRISÃO:
a) Prisão pena, prisão penal ou prisão propriamente dita. Aquela que possui caráter
retribuitivo e finalidade repressiva. É aquela que deflui de condenação imutável. Também
chamada de prisão definitiva. É erro grosseiro denominar-se de prisão definitiva a prisão
penal, porque entre nós não há cogitar-se de prisão por tempo indeterminado (prisão
perpétua);
b) Prisão sem pena. É toda prisão que não decorre de sentença condenatória transita em
julgado, constituindo-se em um instrumento para realização do processo ou pra garantir os
feitos do processo. Divide-se nas seguintes modalidades:
1. Prisão preventiva.
2. Prisão em flagrante.
3. Prisão temporária.
4. Prisão decorrente de pronúncia.
5. Prisão decorrente de sentença condenatória recorrível.
Em face da situação jurídica de inocente, do princípio da afirmação da inocência (art.
5º, LVII, CF), toda e qualquer prisão, antes do trânsito em julgado de uma sentença condenatória,
deve ser considerada provisória e cautelar. Provisória, porque não se trata de prisão pena, aquela
que tem origem em sentença condenatória transita em julgado. E, cautelar, no que se refere a sua
função de instrumentalidade ou de acautelamento de interesses de ordem pública.
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Prisão Disciplinar. Ao largo da prisão pena e prisão sem pena, a Constituição Federal,
em face do disposto no seu art. 5º, LXI e LVII, sem possibilidade de qualquer ampliação, somente
admite a chamada prisão disciplinar e a prisão civil do alimentante inadimplente, maior de 18
anos, voluntário e inescusável, e do depositário infiel.
A prisão civil, regulada no art. 18, do CPPM, expressamente admitida no art. 5º, LXI,
da CF, é aquela que pode ser decretada pela autoridade militar ou pelo juiz castrense, nas hipóteses
de transgressão disciplinar e nas hipóteses de crimes propriamente militares. Consoante o art. 142,
§ 2º, da CF, não caberá habeas corpus em relação às punições disciplinares militares. Em que pese
o disposto nesse artigo, se abusiva a punição disciplinar, nada impede que se impetre habeas
corpus perante o juiz castrense, se a ilegalidade guerreada for de autoridade militar, ou perante o
tribunal, se a ilegalidade combatida for do próprio juiz militar. Destarte, tal remédio será sempre
possível para o exame dos pressupostos legais da medida (hierarquia, poder disciplinar, ato ligado
à função militar e suscetibilidade de aplicação da medida ao ato).
A odiosa prisão para averiguações também, não pode ser admitida, porque, além de
atípica, ao largo das hipóteses do art. 5º, LXI, da CF, caracteriza inegável constrangimento ilegal
e abuso de autoridade (art. º, a, da Lei n.º 4898/65).
PRISÃO PREVENTIVA. A prisão preventiva, como medida coercitiva que é, enquadra-se no poder
de coerção do juiz penal sobre as coisas e as pessoas sujeitas à persecutio criminis. A prisão
preventiva é constituída da privação da liberdade do investigado ou do acusado, decretada
fundamentadamente inaudita altera parte (sem necessidade de ouvir o acusado) e rebu sic
stantibus (estando assim as coisas). Pode ser decretada durante o inquérito policial, processo
criminal, ou na fase recursal.
A prisão preventiva será decretada de acordo com o prudente arbítrio do juiz, portanto,
não há que se falar em obrigatoriedade da preventiva.
Condições de Admissibilidade da Preventiva:
- Crimes dolosos punidos com reclusão;
- Crimes dolosos punidos com detenção, quando se apurar que
indiciado é vadio ou, havendo dúvida sobre sua identificação ele não
fornecer dados suficientes ao esclarecimento;
- Crimes dolosos punidos com detenção, se o réu já tiver sido
condenado por outro crime doloso, salvo se já tiver ocorrido a
prescrição da reincidência.
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* Tratada apenas pelo CPP, portanto, no âmbito do processo penal militar, não haverá
necessidade de atendimento de tais condições de admissibilidade.
Requisitos ou Pressupostos da Preventiva (coexistentes) – art. 254, CPPM:
1. Prova do fato delituoso;
2. Indícios suficientes da autoria.
Diz a doutrina que tais pressupostos devem coexistir para que a prisão preventiva esteja
autorizada. Ou seja, exige-se que, além da prova da existência do crime, também se verifique,
concomitantemente, fortes indícios da autoria, e não apenas mera possibilidade em relação à
autoria.
Requisitos ou Circunstâncias Autorizadoras (alternativos) – art. 255, CPPM:
1. Garantia da ordem pública;
2. Conveniência da instrução criminal;
3. Periculosidade do indiciado ou acusado;
4. Segurança da aplicação da lei penal militar;
5. Exigência da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e disciplina militares,
quando ficarem ameaçados ou atingidos com a liberdade do indiciado ou acusado.
Segundo o STF e STJ, independente da instauração de inquérito policial, admite-se a
decretação da preventiva com base em peças de informação da existência do crime e de indícios
suficientes de autoria, vez que o inquérito policial é facultativo entre nós (art. 28, CPPM).

PRISÃO EM FLAGRANTE. Certeza visual do crime, retrato de corpo inteiro da autoria e da


materialidade. Delito patente, visível, irrecusável do ponto de vista de sua ocorrência. (flagrante
propriamente dito).
Porque não deflui de condenação imutável, chamada por prisão sem pena, provisória
ou cautelar, expressamente admitida no art. 5º, LXI, da CF, que permite a captura do conduzido,
desde que se encontre em uma das situações taxativamente previstas no art. 244, do CPPM,
independente de prévia ordem escrita e fundamentada do magistrado.
Sujeito Ativo: Embora nem sempre seja o condutor, será aquele que efetua a captura e a prisão.
Com fundamento na 1ª parte do art. 243, do CPPM, onde diz “poderá” e “deverão”, a doutrina
fala em flagrante obrigatório e flagrante facultativo. Obrigatório, se o autor da prisão age no estrito
cumprimento do dever legal, sob pena de sanções administrativas, prevaricação e até de responder
pelo ilícito praticado, quando poderia evitar a sua consumação (§ 2º, art. 29, CPM). Facultativo,
quando se tratar de qualquer do povo ou do próprio ofendido.
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MODALIDADE DO FLAGRANTE:
1. Flagrante Real, Próprio ou Verdadeiro (art. 244, “a” e “b”, CPPM). Está cometendo ou acaba
de cometer.
2. Quase Flagrante, Impróprio ou Irreal (art. 244, “c”, CPPM). É perseguido, logo após o fato
delituoso, em situação que faça acreditar ser ele o seu autor;
3. Flagrante Ficto, Presumido ou Assimilado (art. 244, “d”, CPPM). É encontrado, logo depois,
com instrumento, objetos, material ou papéis que façam presumir a sua participação no fato
delituoso.
As demais situações (2 e 3) são consideradas análogas ao flagrante real por opção do
legislador que fez criar a presunção de que as pessoas assim encontradas estão em flagrante delito.
Vale dizer, trata-se de ficção jurídica a autorizar a prisão em flagrante.
Nas infrações permanentes, considera-se o agente em flagrante delito enquanto não
cessar a permanência.
Para a doutrina majoritária, a expressão “logo depois” admite lapso temporal maior do
que a expressão logo após, sem que ambas se prestem a indicar absoluta imediatidade.
A atribuição para presidir a lavratura do auto de prisão em flagrante delito (APFD) é
da autoridade do local do cometimento do fato. Algumas vezes, pode ocorrer que o fato tenha sido
cometido em algum lugar e a prisão tenha se efetivado em local diverso (art. 244, “c” e “d”,
CPPM). Nesses casos, a atribuição para efetivar a lavratura será da autoridade com atribuição no
local da prisão do perseguido(art. 244, “c”, CPPM) ou do encontrado (art. 244, “d”, CPPM).
Quando a prisão em flagrante for efetuada em lugar não sujeito à administração militar, o auto
poderá ser lavrado por autoridade civil, ou pela autoridade militar mais próxima do local em que
ocorreu a infração. (art. 250, CPPM).
Se o fato for praticado em presença da autoridade militar ou sendo ela o ofendido,
estando no exercício de suas funções, a própria autoridade militar deverá prender e autuar em
flagrante o infrator (art. 249, CPPM).
Para o STJ e STF, porque a autoridade não exerce jurisdição, a inobservância de regras
de atribuição não são capazes de viciar o APDF, não importando em ordem de habeas corpus.
Com fundamento no art. 5º, LVII, da CF, encerrada a lavratura do APFD pelo escrivão,
impõe-se que a prisão seja comunicada, imediatamente, nas 24 horas seguintes à prisão, ao juiz
competente. No caso de demora de tal comunicação, dizem o STF e o STJ que, apesar de

responsabilizar administrativa e penalmente a autoridade policial, não haverá relaxamento da


prisão ou nulidade do APFD.
A falta desta comunicação, por si só, salvo se provada alguma coação contra o preso,
como não se trata de nenhum requisito de validade da prisão, em que pese constituir abuso de
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autoridade, tanto não compromete a legalidade da prisão quanto não enseja o seu relaxamento
(STF e Mirabete).
A omissão da entrega de Nota de Culpa, em que pese tal omissão, segundo o STF, não
tornar o auto imprestável para propositura da ação penal, sendo considerada um ato essencial do
APFD e uma garantia constitucional do preso, com fundamento no art. 5º, LXIV, da CF,
possibilitando o conhecimento dos responsáveis por sua prisão, além de caracterizar abuso de
autoridade (art. 4º, a, Lei n.º 4.898/65), deve redundar no relaxamento da prisão do conduzido.

BIBLIOGRAFIA

SARAIVA, Alexandre José. Crimes contra a administração militar. São Paulo: Del Rey, 2000.

SOARES, Ailton, SOUZA, Otávio Henrique Oliveira, MORETTI, Roberto de Jesus. Legislação da polícia
militar anotada. Rio de Janeiro: Atlas, 2000.

TORRES, Luiz Cláudio Alves. Direito previdenciário militar. São Paulo: Nova Alvorada.

_____. Manual de legislação penal militar. São Paulo: Destaque. (Brochura)

VIEIRA, Jair Lot. Estatuto dos militares. Rio de Janeiro: Edipro Edições.

_____ Lei de organização judiciária militar – nº 8.475. Rio de Janeiro: Edipro Edição.

ASSIS, Jorge César de. Comentários ao código penal militar. São Paulo: Juruá Editora, 2000. 2v..

CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Legislação penal militar. São Paulo: Forense, 1999.

CORRÊA, José Júlio César. Direito administrativo disciplinar da Polícia Militar: o regulamento disciplinar
comentado e a disciplina policial militar. Manaus, 2000.
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