Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL......................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DA MEDICINA PERICIAL......................................................................................... 13
CAPÍTULO 2
CONCEITO DE PERÍCIA MÉDICA COM ÊNFASE NA PERÍCIA MÉDICA CÍVEL............................... 17
CAPÍTULO 3
CONCEITO E CAMPO DE AÇÃO............................................................................................. 34
CAPÍTULO 4
O PAPEL DO MÉDICO PERITO NOS PROCESSOS JUDICIAIS....................................................... 50
CAPÍTULO 5
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS E PERICIAIS, RELATÓRIOS, PARECERES, ATESTADOS E LAUDOS.. 64
CAPÍTULO 6
COMO ELABORAR QUESITOS................................................................................................... 69
CAPÍTULO 7
PERÍCIA NO DIREITO DE FAMÍLIA E DE SUCESSÕES ................................................................... 73
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 82
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
Por vários anos o Juiz era incumbido de escolher o perito que mais lhe gerava confiança.
Assim o profissional escolhido iria auxiliar o juiz, traduzindo a questão técnica referente
à suposta falha médica, a fim de que este pudesse decidir.
Tal especialização não ocorreu somente no campo da medicina, mas também na área
jurídica. Os advogados, atualmente, buscam cada vez mais se especializarem eu um
determinado ramo dentro do direito.
Porém, quando da realização de uma perícia médica cível, não somente existirá a presença
do médico perito, mas frequentemente este é acompanhado pela figura do assistente
técnico indicado pelas partes que ajuizaram a ação. O advogado poderá acompanhar a
perícia, mas como leigo no assunto, deverá permanecer em silêncio. Apenas se tiver um
erro do perito médico, quanto ao procedimento previsto na legislação é que poderá ser
levantado por ele. A parte técnica está nas mãos do perito médico.
7
e dando todas as condições necessárias para que o juiz possa prolatar uma sentença
justa.
Para que o juiz consiga dispor de um especialista que julgar necessário pode remeter
aos ofícios aos Conselhos Regionais de Medicina, às Sociedades de Especialidades
ou às Associações de Peritos, essas sociedades já fazem uma seleção e só aceitam os
especialistas capacitados para determinada área de atuação.
Áreas do Direito Médico tem cada vez mais uma visão de vários especialistas, com várias
formações, convivendo advogados e médicos. Até os peritos mais antigos buscam uma
especialização hoje em dia.
Importante ter o conceito de processo judicial, para que consiga auxiliar o juiz a
encontrar a resolução do conflito de interesses posto em discussão na ação. Portanto,
durante um processo judicial, que envolve responsabilidade civil médica, várias provas
podem ser produzidas.
No caso de perícia médica civil, quando a prova mais importante será a pericial, o perito
deverá possuir conhecimentos especiais e científicos, para atuar no processo.
Nesta perícia deve conter o exame pericial sendo realizado no auto da ação, com a
premissa de constatar se o dano alegado foi realmente realizado, e ainda se existe nexo
de causalidade com uma ação ou omissão do réu.
As partes devem requerer a prova pericial, autor e/ou réu, nos momentos oportunos,
porém o Juiz pode requerer a produção de quaisquer diligências que entenda necessária
para auxiliar no seu esclarecimento sobre o objetivo da causa.
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Existe um prazo para que as partes manifestem o interesse e nomeiem seus assistentes
técnicos e também formularem os quesitos iniciais a serem respondidos pelo perito do
Juízo, protestando desde o início para a apresentação de quesitos suplementares.
Portanto os assistentes técnicos não são sujeitos a impedimento ou suspeição, pois são
de confiança das partes. Tendo o papel de ligação entre o juiz e o representante da parte.
Ainda soma se ao seu papel a identificação e fiscalização dos dados observados pelo
perito no momento do exame médico, com o intuito de, após fazerem seus pareceres,
possíveis de omissões ou até mesmo falhas do laudo pericial que possam interferir de
alguma forma na conclusão.
O profissional médico ao ser notificado para ser perito em uma Lide, deve se apresentar
à Vara Cível e responder por petição, em até cinco dias, se aceita o cardo ou não. Se
recusar, deve ser muito bem explicada, pois por esse motivo pode ser denunciado ao
conselho de classe, com a justificativa de não colaborar com a Justiça, com a Sociedade.
Contudo os juízes normalmente aceitam a recusa e nomeiam outro profissional para
agir.
Importante lembrar que o perito deve ser uma pessoa física mesmo que pertença a uma
pessoa jurídica, a sua assinatura no laudo é como pessoa física.
Uma das partes pode não estar de acordo com a escolha e pode contestar e tentar
impugnar a nomeação do perito, alegando desacordo com a sua especialidade ou ate
mesmo revelando a relação do perito com a outra parte, e ainda mesmo por temer
a austeridade do laudo do profissional. Mas são necessárias provas incontestáveis, e
mesmo assim o perito tem direito de defesa das acusações que lhe foram feitas.
É vedado ao médico:
Art. 118. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para
servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das
suas atribuições e competência.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Art. 332 do Código de Processo Civil: Todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são
hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a
defesa.
Classifica-se o meio de prova em diretos (ex.: inspeção judicial, fatos notórios) ou indiretos
(ex.: documentos, perícias, testemunhas). Agora as provas podem ser classificadas
em: impertinentes (descabidas, fogem do assunto em pauta, despropositadas), ou
ainda desnecessárias (inúteis, dispensáveis) e protelatórias (protelam, prorrogam) que
somente atrasarão o andamento regular do processo.
A perícia é reconhecida como provas de espécie, assim como também são os documentos;
a inspeção judicial, a confissão, as testemunhas.
Assim a perícia deve ser pautada em um raciocínio lógico, pois, será uma das provas em
que o juiz se baseará para construir o seu raciocínio lógico para julgar.
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Objetivos
»» Promover o conhecimento global de medicina pericial cível, para que
o aluno saiba as obrigações e deveres que envolvem o perito desta
especialidade.
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12
PERÍCIA MÉDICA UNIDADE ÚNICA
CÍVEL
CAPÍTULO 1
Histórico da medicina pericial
Brasil
13
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
E, como dizia Souza Lima, é uma ciência de aplicação, cuja importância, porém, se
impõe pela especialidade do fim a que se destina, como pela complexidade dos meios,
pela extensão dos conhecimentos que exigem, e que constituem esses meios de alcançar
aquele fim.
E Afrânio Peixoto aduzia: “A especialização do perito não é por isso menos necessária,
porque sua função exige justamente que adquira determinados conhecimentos e os saiba
empregar na prática forense”. Seu exercício é comparável ao do clínico, só possível após
a aquisição global das ciências médicas. Apenas o círculo é mais dilatado, porque já o
termo medicina é estreito para as preocupações da medicina legal. As ciências físicas e
naturais, as ciências sociais já lhe emprestam suas noções e seus métodos.
Tal afirmação, por si só, à frente para a época de lançamento de seu clássico Medicina
Legal – no final dos anos 1930 – propunha um novo futuro para a então jovem disciplina
no Brasil.
Tanto na medicina legal como no direito a “escola italiana” (com a vigência do primeiro
Código Penal Republicano de 1890 – fortemente marcado pelo Direito Romano),
deixaram suas marcas no Brasil. Por muito tempo, o modelo italiano (em maior domínio
que o francês) de medicina legal ditou as regras aos médicos legistas pátrios.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
dos juízes ao invés de auxiliares da parte que os indicava. Havia necessidade de eles
prestarem termo de compromisso. Tornando assim esses assistentes mais imparciais.
Porém, em 1992 com a edição da Lei no 8.455, retiraram esse requisito.
Ainda temos o Código Civil de 2002 – Lei no 10.406, de 10 de janeiro, que entrou
em vigor em 2003:
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
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CAPÍTULO 2
Conceito de perícia médica com
ênfase na perícia médica cível
Perícia médica
O conceito de perícia consiste no meio probatório pelo qual um terceiro, que tenha
um conhecimento especializado, verifica fatos que interessam ao deslinde da causa.
Em outras palavras, o terceiro, denominado perito, busca a verificação e interpretação
técnica de fatos sobre os quais o julgador formará seu convencimento, com a finalidade
de decidir uma determinada ação.
No esquema a seguir, podemos observar os tipos de perícia que são divididos em cinco:
judicial, administrativo, médico-legal, seguros e planos de saúde.
Figura 1.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Devemos saber que como especialidade médica, no âmbito acadêmico e científico, toma
como referência a instalação da Cadeira de Medicina Legal em 1918. Ainda com a outra
visão que a medicina pericial tem: análise para a consolidação do campo científico em
sua expressão institucional, ou seja, pela criação de associações e sociedades, edição de
publicações específicas e realização de eventos na área.
»» Facultativa: não há previsão legal e/ou a prova pode se dar por outros
meios.
Por vários anos o Juiz era incumbido de escolher o perito que mais lhe gerava confiança.
Assim o profissional escolhido iria ajudar a julgar suposta falha médica.
Vejamos nessa esquematização como são amplas as áreas da perícia médica, exigindo
um aprofundamento maior em uma delas, diferente de antigamente quando o médico
era simplesmente perito.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Figura 2.
Perito significa em termos jurídicos pessoa nomeada por autoridade judiciária para
avaliar questão civil, trabalhista ou criminal emitindo o parecer que é o laudo. As perícias
médicas judiciais ocorrem em jurisdições na esfera cível estadual e federal, na esfera
criminal, nas Varas de Família, nas Varas da Fazenda Pública Municipal, Estadual ou
Federal e na Justiça do Trabalho.
Mesmo que a decisão do juiz seja livre, toda perícia envolve pelo menos um perito, este
considerado oficial. Além da possibilidade das partes indicarem cada uma delas um
assistente técnico. Importante esclarecer que essa indicação pela parte é uma faculdade
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Em alguns estatutos de serviços públicos prevê a existência de uma junta pericial, sendo
que a sua composição é muito variável. São previstas essas juntas pelo CFM no 15/1995:
“[...] dois ou mais médicos... que.... quando com finalidade específica, administrativa,
tem a missão de avaliar condições laborativas ou não, e assim fundamentar decisões
de admissão, retorno ao trabalho, afastamento para tratamento ou aposentadoria.
Nesses casos sua composição será definida em lei, decreto, regulamento, resolução ou
orientação normativa.”
O perito médico tem o papel de montar a história com as armas médicas que ele possui.
Por isso não basta apenas ter um conhecimento técnico para ser um bom perito, mas, além
disso, é preciso ser um bom observador. Esse médico deve ter conhecimento específico
em técnicas de exames desenvolvidas com a capacidade de obter as informações que
necessita de um objeto de perícia.
Assim a arte de periciar vai além de técnicas ensinadas desde a faculdade de medicina. As
observações devem ser importantes, como avaliar a veracidade dos fatos apresentados.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
outros dados pessoais, para enquadrar os casos nas premissas médico-legais que
requer o exame em pauta; emite o parecer médico pericial conclusivo, registrando
em documento apropriado (laudo médico) os informes pessoais e ocupacionais,
para atender às situações previstas em lei. Pode dar parecer em Juntas Médicas de
Recursos e participar de Juntas Médicas de Processos.”
As três situações que os peritos médicos podem atuar são: auxiliar do juiz de primeira
instância, no INSS e nas instituições públicas regidas por estatuto de serviço público e
em seguradoras e planos de saúde.
Em segunda instância não haverá perícia. Segunda instância significa quando a parte
que discorda de alguma decisão do juiz de primeira instância recorre, na maioria das
vezes, para o Tribunal de Justiça, que se trata da segunda instância da justiça cível e
criminal. No caso da justiça do Trabalho, o recurso é interposto para o Tribunal Regional
do Trabalho e na Federal para o Tribunal Regional Federal.
É vedado ao médico:
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Para que não haja confusão, importante delimitar o tema estudado. Melhor, portanto,
situar o aluno no ramo do direito em que discutiremos sobre a perícia médica. O
presente estudo se resume à perícia médica cível, o que desde logo podemos verificar
que não se trata de perícia médica da parte criminal ou sobre questões envolvendo o
Poder Público. Iremos, assim, conceituar o ramo do direito em questão.
Quando perguntamos o que devem os membros da sociedade uns aos outros; ou o que é
meu e o que é teu; quando tratamos das relações entre os indivíduos e as relações entre
esses indivíduos e as associações, as relações de família, estamos dentro do ramo do
direito privado que se denomina Direito Civil.
No século passado, o ius civile, era estudado de uma forma bem mais abrangente, pois
nele eram compreendidos tanto o direito público como o direito privado, uma vez que
as instituições romanas não diferençavam um e outro.
Muito embora a interferência do Estado na relação entre particulares está cada vez mais
intensa, vale a pena definir o que seria direito público, para que o aluno compreenda o
tema estudado.
22
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Direito Público tem por finalidade regular as relações do Estado, dos Estados entre si,
do Estado com relação a seus súditos, quando procede com seu poder de soberania, isto
é, poder de império.
Figura 3.
Como mencionado, o Sistema Jurídico adotado pelo Brasil é o Sistema Civil (Civil Law)
em contraposição ao sistema adotado nos Estados Unidos que é o Comon Law. Diante
disso, o principal corpo de normas que regulam as relações privadas é o Código Civil.
O Código Civil (Lei no 10.406 de 2.002), denominado por muitos como a Constituição
do Homem, regula toda a questão entre particulares. Ele é dividido em duas partes, a
Geral e a Especial.
Miguel Reale (1996) foi o relator do Projeto do Código Civil e, para realizar o trabalho
em que foi incumbido, alicerçou o novo Código Civil em três princípios fundamentais:
eticidade, socialidade e operabilidade.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Figura 4.
Fonte: adaptado do livro O Projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais de Miguel Reale, 1986.
Como visto, a matéria a ser analisada pelo perito judicial para a realização da perícia
cível estão contidas nas regras previstas no Código Civil, como por exemplo: uma pessoal
tem seu direito de não ser lesada, tem o direito de saber quem é o seu pai etc. a partir
do momento em que tem seu direito violado, nasce a sua pretensão de se socorrer ao
Estado para que cesse essa lesão. O meio pelo qual essa pessoa tira a inércia do Estado
é pelo ajuizamento de uma ação.
Quando do ajuizamento da ação, toda a regra de conduta está disposta em outro código,
o Código de Processo Civil. Portanto, quando determinada ação pede a realização de
uma perícia, como, por exemplo, para se verificar se uma pessoa sofreu os danos que está
alegando, o perito judicial é chamado para realizar a perícia. Todos os procedimentos
seguidos por esse perito para a elaboração do laudo, como por exemplo: o prazo
para apresentação, as suas condutas, a cobrança dos honorários periciais são regras
processuais que estão dispostas no Código de Processo Civil.
Para diferenciar direito material, que no presente caso seria o direito material civil, do
direito processual, nos socorremos da lição de Eduardo Arruda Alvim2:
1 REALE, Miguel. O projeto de código civil: situação atual e seus problemas fundamentais. Saraiva: São Paulo, 1986. p. 11.
2 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito Processual Civil. 2. ed. Revistas dos Tribunais: São Paulo, 2008. p. 27.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
estatal, que é a jurisdicional; por outras palavras, o direito processual regula o exercício
da função jurisdicional (do Estado).
Cabe esclarecer, mesmo que de forma sucinta que o direito processual ganhou
importância em razão do reconhecimento da necessidade de intervenção estatal para a
solução de conflitos de interesses, na medida em que o direito atual tolera pouquíssimas
hipóteses de autotutela, ou seja, fazer justiça com as próprias mãos.
Figura 5.
Fonte: adaptado do livro Direito Processual Civil de Eduardo Arruda Alvim, 2008.
Assim, verifica-se que o direito processual é o ramo do direito público que preordena
a forma pela qual uma pessoa pode conseguir do Estado, de seu Poder Judiciário, uma
prestação jurisdicional, com a finalidade de por fim a determinado conflito.
Cabe um esclarecimento para o aluno de que o juiz não está adstrito à fundamentação
jurídica posta na petição inicial, uma vez que segundo o brocado latim: Da me hi factum
dabo ti be ius que significa “dá-me o fato e te darei o direito”. Desta forma, uma vez
dados os fatos ao juiz, este lhe dará o direito.
Todo problema se inicia quando o direito de determinada é violado. Com isso, visando
que tal dano seja cessado, inicia-se um processo judicial, com a finalidade de tirar a
inércia do Estado, para que este interfira nesse conflito de interesse, devolvendo aquele
o lhe pertencia e, consequentemente, dando harmonia novamente à sociedade.
25
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
A petição inicial para o autor é a petição mais importante, pois ele narrará os fatos,
esclarecendo ao juiz, de maneira minuciosa, tudo o que ocorreu e, ao final, fará seu
pedido. Com isso, o autor delimitou o objeto da ação e juiz está adstrito a esse objeto.
Não poderá decidir nem aquém nem além ou nem mesmo de forma diversa. Em
qualquer uma dessas hipóteses essa parte da sentença que não ficar limitada ao pedido
do autor deverá ser desconsiderada, mesmo que o autor tenha razão e mereça aquilo
que o juiz lhe deu.
Citemos como exemplo, para elucidar a questão, um acidente de trânsito, na qual Tício
perdeu uma de suas pernas. Este ajuíza uma ação pleiteando somente os prejuízos
causados em seu automóvel, nada fala com relação à perda de sua perna. O juiz ouve
os argumentos de Caio, causador do acidente, e ao final prolata uma sentença, dando
ganho de causa a Tício e condena Caio ao pagamento de todos os prejuízos causados
no carro de Tício e, ainda, condena-o ao pagamento de uma indenização pelos danos
físicos, pela perda da perna.
Muito embora Tício tenha direito à indenização pela perda de sua perna, essa parte da
sentença não pode ser considerada, uma vez que não constou no pedido.
Esclarece que Tício poderá mover outra ação pedindo essa indenização, mas nessa ação
não poderá ganhar o que não pediu.
Figura 6.
Isso nada mais é de que uma divisão prevista no Código de Processo Civil. Os processos
que seguem pelo rito sumário, como o próprio nome já diz, são mais céleres. Trata-se
de um processo que tende a ser mais rápido.
»» postulação;
»» conciliação;
»» saneamento;
»» instrução;
»» decisão;
»» recursos.
Quando a peça inicial é analisada pelo juiz, que verifica os fatos e a fundamentação
jurídica para o pedido, estuda as provas e a indenização pleiteada. Se houver pertinência
o juiz ordena a citação do réu.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Nesses dois artigos referem-se sobre a análise preliminar do juiz no momento em que
recebe a petição inicial. Se entender que cabe julgamento antecipado, assim julgará não
permitindo que se forme a triangulação autor – Estado (Juiz) – réu.
Não sendo o caso de se extinguir de plano a petição inicial, o juiz determinará a citação
do réu para que apresente contestação. Da mesma maneira que a petição inicial é a peça
processual mais importante ao autor, a contestação é a mais importante ao réu. É nessa
hora que ele apresenta todos seus argumentos, com a finalidade de defender o seu lado
dos fatos e rebater todos os pontos alegados na petição inicial, bem como requerer as
provas que pretende produzir durante a instrução probatória.
Nenhuma matéria ou argumento poderá ser levantado posteriormente pelo réu, com
exceção de algumas matérias que poderão ser conhecidas diretamente pelo juiz, as
chamadas matérias de ordem pública. Porém, é importante para o perito médico, ter
esse conhecimento, pois quando ler as peças processuais saberá que os argumentos
estarão na petição inicial e na contestação.
A matéria poderá estar um pouco mais detalhada em outras petições, mas não terá
outros argumentos que não constem nessas duas principais peças processuais.
Se o juiz estiver convencido de quem tem razão e estiver satisfeito com os argumentos
e os documentos até agora colacionados nos autos, poderá prolatar sentença
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
§ 2 Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará
os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes
e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de
instrução e julgamento, se necessário.
Assim se requerida a prova pericial por qualquer uma das partes ou pelo juiz de ofício,
este nomeará um perito judicial. Neste momento inicia o prazo para as partes em cinco
dias indicarem assistentes técnicos, se assim desejarem, e formularem quesitos. Como
se verá, os quesitos não de suma importância, pois guiará a perícia e o perito médico
deve responder a todos e de forma fácil e objetiva.
O Artigo 130 do Código de Processo Civil dispõe que: “Caberá ao Juiz de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligencias inúteis ou meramente protelatórias.”
O perito judicial nomeado deve ser informado de sua nomeação por carta com AR, por
intimação formal, ou por contato telefônico, neste momento o escrivão ou o funcionário
do cartório da vara em que o perito foi nomeado informa que os autos estão disponíveis,
devendo ser retirados mediante carga, para análise e resposta.
O processo pode ser, unicamente, retirado pelo perito judicial, nunca pelo assistente
técnico. A parte que indicou o assistente técnico deve passar todas as informações e
cópias necessárias para que este estude o caso. Porém, quando da realização da perícia,
geralmente os autos do processo estão na posse do perito, momento em que o assistente
técnico, se quiser, poderá ter acesso ao processo inteiro.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Uma vez nomeado para o cargo, o perito fará carga dos autos e após analisado, decidirá
se aceita ou não esse papel tão importante. Frisa-se o perito não é obrigado a aceitar o
encargo.
Se aceitar, o perito deverá analisar todos os dados do processo, tais como: valor da
causa, as possíveis diligências a hospitais, clínicas e postos de saúde, além de gastos com
impressão e materiais ilustrativos, e apresentará uma proposta de honorários periciais.
Geralmente o perito judicial divide seus honorários em duas partes, a primeira seriam
os honorários iniciais, que é uma estimativa de todos os gastos e horas empenhadas para
a realização do trabalho, e a segunda parte reservada para honorário complementares
ou finais.
Isso ocorre porque o perito, no início pode estimar horas e gastos a menor. Para que
não haja nenhuma injustiça com o perito, este pode apresentar um valor final.
As partes poderão concordar ou não com o valor dos honorários periciais. Caso não
concorde, o juiz intimará o perito para esclarecer o porquê do valor apresentado. Depois
disso o juiz decidirá e arbitrará os honorários do perito judicial.
Havendo requerimento da prova pericial pelo autor ou por ambos e se o autor estiver
amparado pelos auspícios da justiça gratuita, o pagamento dos honorários periciais
será efetivado ao final por aquele que sucumbir ou pelo Estado se o sucumbente for o
autor.
Após a efetivação do depósito dos honorários ou do aceite para receber ao final pela
parte que sucumbir, o perito recebe a intimação para retirar o processo e dar início às
diligências periciais, sendo estipulado pelo juiz um prazo para a entrega do laudo.
Na prática esse prazo está sendo contado a partir da data de publicação referente à
juntada do laudo.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
A marcação do dia, hora e local do início dos trabalhos pode ser feita por meio de uma
petição, requerendo a intimação das partes pela secretaria da vara. Essa regra está no
artigo 431-A, do Código de Processo Civil.
Importante ressaltar que todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados no Código de Processo Civil, são hábeis para provar a
verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. Esta norma está disposta no
artigo 332 do Código.
A prova pode ser constituída de: confissão, depoimento pessoal, inspeção judicial, prova
emprestada, prova documental e prova pericial, também conhecida como das provas a
mais importante.
Assim a definição da prova pericial se faz por exame de situações ou fatos relacionados
a coisas ou pessoas, que neste caso é realizada pelo perito, ou seja, um profissional que
detenha conhecimentos técnicos ou científicos, que o Juiz não detém cuja finalidade
é esclarecer as dúvidas e contribuir com o esclarecimento do caso. Quando a perícia é
perícia médica então o profissional selecionado para esta função é um médico.
31
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Como visto, a prova pericial pode ser uma iniciativa do juiz ou mesmo de uma das
partes envolvidas.
»» relação cordial;
Quando o perito é nomeado, as partes podem recorrer dessa decisão em até cinco dias,
com vários motivos, por impugnação, suspeição ou por carência de qualificação técnica.
Além disso, neste mesmo período de tempo as partes devem apresentar os assistentes
técnicos.
Não é necessário que o assistente técnico por ser contratado por uma das partes
discordar do perito oficial quando o perito chegar a uma conclusão correta, mesmo que
em desacordo com o seu interesse. Porém o seu dever é analisar com muita cautela o
laudo pericial, com análise desse.
Como foi dito o assistente técnico tem o direito de acompanhar todas as diferentes
diligências realizadas pelo perito com participação ativa, com a ressalva que o perito
que dita a direção da análise.
32
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
II – ao serventuário de justiça;
III – ao perito;
IV – ao intérprete.
33
CAPÍTULO 3
Conceito e campo de ação
Para que se possa ter uma visão ampliada sobre as leis que regem as perícias segue o
fluxograma:
3 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p 1027
34
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
É de suma importância que o perito médico judicial compreenda o seu papel, saiba de
seus deveres e direitos, para que realize, de forma impecável, o seu trabalho.
Assim, muito embora a perícia médica possa ser feita em vários campos de atuação, tais
como: penal, cível, administrativo, securitário, previdenciário e trabalhista, o presente
estudo se concentrará na perícia médica cível.
Toda a perícia médica cível é feita em ação judicial que corre perante o Poder Judiciário.
A perícia da atividade médica é quase sempre imprescindível para estudar e esclarecer
a atuação do profissional e a sua responsabilidade em acusações de dano médico. Suas
responsabilidades assim se apresentam:
»» civil (pecuniária);
»» criminal (prisão);
»» o corpo da vítima;
35
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
No caso da prova solicitada pelo magistrado, este geralmente estipula o prazo para
a conclusão da perícia, isso porque o processo não pode se arrastar por muitos anos
somente para que seja concluída a perícia.
O campo cível é o mais amplo de todos os campos, pois envolverá todas as questões que
não sejam trabalhista ou penal. Assim, na hipótese de discordância de resultados de
perícias realizadas nas áreas securitárias, previdenciárias, acidentárias ligadas a danos
à pessoa decorrentes à responsabilidade civil, tais como: danos decorrentes de acidente
de veículos, investigação de eventuais doenças psiquiátricas para casos de interdição etc.
Figura 7.
Ajuizamento do processo
Juiz responsável
Realização da perícia
Apresentação de laudo
Sentença
36
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Lembrando sempre que no processo, não somente o perito é médico, mas também caso
as partes entendam necessário a indicação de médico de sua confiança para acompanhar
a perícia, têm o direito de indicar médicos para figurarem como assistentes técnicos, que
apresentarão laudos concordando, complementando ou discordando do laudo oficial.
Entretanto, a perícia médica pode ser realizada para ajudar juízes a julgar, advogados
e juristas para defender os argumentos e direitos de seus clientes, a determinadas
empresas, como seguradoras com a finalidade de pagamento ou não de indenizações
etc.
As finalidades fundamentais dessa perícia podem ser resumidas pelo seguinte ponto:
»» identificar o dano;
»» dano (prejuízo);
Os atos que geram responsabilidade civil são praticados com dolo ou culpa.
Na culpa, o agente não visa causar prejuízo à vitima, porém sua atitude imprudente,
negligente ou imperita resulta em dano.
37
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Os destaques são:
»» honestidade;
»» idoneidade;
»» conhecimento técnico;
»» responsabilidade;
»» bom senso;
Muitas vezes o perito não tem a colaboração do examinando, por isso a sua formação
de conhecimentos sólida é essencial. Deve ter um amplo conhecimento legislativo, ter
bom senso e ser firme em suas afirmações, para que qualquer outra força não afete seu
trabalho.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
39
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Recebimento do alvará
Como mencionado, pode ser que o perito apresente honorários periciais iniciais e finais.
Havendo necessidade de o perito levantar os honorários periciais iniciais, poderá fazer
um requerimento ao juiz esclarecendo essa necessidade. Geralmente, se fundamentado,
o juiz permite que o perito levante esse valor inicial para realizar a perícia.
Toda e qualquer ação deve ser ouvido os argumentos das duas partes, Autor e Réu.
Existem três princípios, previstos na Constituição Federal, artigo 5o, LV, que são: o do
Devido Processo Legal, da Ampla Defesa e do Contraditório.
Todos os meios de prova poderão ser utilizados pelo perito para fazer o laudo.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Nenhum perito médico quer ter o seu laudo anulado. Assim, importante se atentar para
alguns erros comuns:
»» ausência de imparcialidade;
»» data vênia
»» in verbis
»» ex-officio
Como o laudo é realizado para traduzir a questão técnica para uma pessoa leiga, por
isso a linguagem deve se aproximar da cotidiana. É sempre bom evitar a utilização de
jargões médicos como: patognomico, anamnese e psicose.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Não raras são as vezes em que o perito judicial é intimado para prestar os esclarecimentos
sobre o laudo médico. Isso se faz necessário, pois dificilmente as duas partes estão
satisfeitas com o laudo.
Após apresentado o laudo pericial, as partes serão intimadas para se manifestar sobre
eles. Geralmente uma das partes concorda com o laudo e a outra não.
Se a ação em que for realizado o laudo pericial tem um pedido de indenização por
incapacidade do autor e no laudo ficar constatado que existe essa incapacidade, é certo
que o réu, que irá ser condenado a pagar a indenização, tentará de todas as maneiras
descaracterizar o laudo.
Dano
»» o agente;
»» o ato;
»» a culpa;
»» o dano;
»» o nexo causal.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
O dano, para ser reparável, deve ser certo, decorrente de fato preciso e suscetível de
avaliação razoável, para que possa ser reparado ou compensado. Portanto, o dano deve
ser concreto, ou seja, deve existir. Não havendo a possibilidade de ser hipotético ou
especulativo.
Não entraremos no tema sobre o dever de indenizar em razão da perda de uma chance.
Porém, alertamos que, se uma sentença for proferida com base em laudo que teve falha
do perito, a parte vencida, verificando esse erro após o término do processo judicial,
poderia ajuizar ação de indenização contra o perito, demonstrando que sua conduta foi
negligente, imprudente ou imperita, o que ocasionou a perda processual, pleiteando,
assim, o que poderia ter sido auferido, caso o laudo não contivesse o erro.
Como o dano é requisito essencial do dever de ressarcir, sem a sua prova ninguém
poderá ser responsabilizado civilmente. A inexistência do dano é óbice à pretensão de
uma reparação, por não haver objeto.
Quando um determinado ato é praticado de forma a atender os limites da lei (ato lícito)
e é praticado com o cumprimento dos deveres do médico (informação, vigilância,
atualização e abstenção de abuso), um resultado danoso pode ser considerado um
acidente.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
A diminuição da estética não pode ser medida, de forma objetiva, por regras matemáticas,
porém o mesmo é passível de gradação, podendo se restringir a perda de uma falange,
passando por alterações em pele como sua cor e aspectos, e chegando a extremos como
de grandes deformações, lesão ulcerada crônica, constituindo até mesmo um aspecto
repugnante.
No dano estético deve-se considerar o local do corpo onde ocorreu a lesão (se exposto ou
não exposto), se em face ou em extremidades. Ainda dentro do conceito de dano estético
temos o dano estético cinético. O conceito de dano estético cinético é que quando o
indivíduo está parado não temos dano aparente, porém quando se movimenta percebe
se o dano, revelado por claudicação ou marcha alterada.
Assim o dano estético pode ser classificado de 1 a 5, essas categorias são as seguintes:
2. grau leve;
3. grau moderado;
4. grau acentuado;
Dano moral
O conceito de dano moral é aquele que se refere ao sofrimento causado pela dor e por
situações de constrangimento e penosidades vividas por um indivíduo em decorrência
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Para que haja essa constatação é necessária a avaliação da capacidade laborativa dos
segurados que é feita pela perícia médica e tem como objetivo responder aos quesitos
estabelecidos, atendidos os conceitos e os critérios legais e regulamentares.
Outro ponto importante dessa lei refere-se à questão do acidente do trabalho, previsto
em seu artigo. 19, na qual define acidente do trabalho como sendo o que ocorre pelo
exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 da Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho.
Art. 186 do Código do Processo Civil: aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 do Código do Processo Civil: aquele que, por ato ilícito (Art.186
e 187), causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.
Nexo de causalidade
O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis
naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da
relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento
indispensável.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto,
estabelecer a relação de causa e efeito. 4(VENOSA, 2007, p. 45)
No entanto, o nexo causal está presente, ainda que o resultado danoso seja causado
mediatamente pelo agente. Necessário é que, se demonstre que o dano não ocorreria
se o fato não tivesse acontecido, de forma que ainda que a conduta do agente não seja
a causa primeva do dano, sendo apenas a condição, o agente será o responsável. O
nexo causal é relação entre o ato e o dano. Para se estabelecer o nexo de causalidade, é
necessário que:
Desta feita, quanto aos pressupostos para se impor ao perito a responsabilidade civil,
é preciso a ação ou omissão culposa, o dano e o nexo de causalidade. Este último
caracterizado como o liame subjetivo entre a conduta do agente e o dano causado à
vítima.
O laudo pericial, em qualquer uma de suas formas, apresenta-se como uma invasão,
legalmente permitida, na esfera jurídica de outrem, devendo limitar-se, portanto, ao
permitido, para que o perito não tenha que responder pelos danos advindos de sua
conduta.
4 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. Vol. 4. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 45.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Figura 8.
Abuso de direito
O Código Civil de 2002, em seu artigo 187, amplia o conceito de ato ilícito ao trazer
que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Nesse caso na hipótese de o perito exceder os limites de sua função, por exemplo,
descumprindo o mandamento do artigo 98 do Código de Ética Médica, que veda ao
perito agir sem isenção ou ultrapassar os limites da sua competência/atribuição, o
perito estará cometendo um ato ilícito, na modalidade abuso de direito. Isso porque, o
perito tem o direito e o dever de agir para realizar o exame pericial, mas foi além de sua
atribuição, manifestando, por exemplo, em relação às questões jurídicas, que devem ser
resolvidas pelo juiz e não pelo perito.
Provas
No processo judicial é ônus do autor provar o fato constitutivo do seu direito. Cabendo
ao réu provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor, conforme determina o artigo 333 do Código de Processo Civil.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Como será visto a seguir, em capítulo específico, como o consumidor, no caso o paciente,
é considerada parte mais fraca na relação de consumo (consumidor x fornecedor/
prestador), a lei traz alguns ajustes, com a finalidade de diminuir essa desigualdade.
Dentre esses ajustes, um deles é passar ao fornecedor/prestador o dever de provar que,
o que o paciente está dizendo não está correto.
De todo modo, se ficar comprovado que houve o dano, a culpa e o nexo de causalidade,
surgirá o dever de indenizar.
49
CAPÍTULO 4
O papel do médico perito nos
processos judiciais
»» confrontar opiniões;
Sabemos também que como médicos e humanos somos passíveis de erros, porém o
que não se admite é a ação culposa, ou seja, que atuem com negligência, imprudência e
imperícia, ou mesmo com dolo, intenção de prejudicar alguém.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Como qualquer médico que pode ser analisado, o perito médico responderá por erro,
com dolo (ou seja, intencional) ou por culpa (não intencional).
No caso de perícia médica de erro médico, o perito médico deve detalhar os fatos, sem
adentrar a manifestação da imputação deste fato.
Falsa Perícia Art. 342 do Código Penal: fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena – reclusão, de um a três
anos, e multa. § 1o Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa. §
2o As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
§ 3o O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata ou
declara a verdade.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
No caso do perito médico deve fazer para exaltar a verdade. Desse modo, o laudo deve
ter a visão de riscos e benefícios, ajustando-se à idoneidade terapêutica, aos deveres de
cuidados, ou de uma técnica médica cautelosa.
Por isso a prova de prevenção de riscos é fundamental para o médico. Observamos que
o perito médico é considerado o médico de maior capacidade para avaliar erros. Em
razão disso haverá maior consequência e rigor no que o envolve.
Risco permitido
Temos também que relembrar o conceito de Perda de uma Chance, ou seja, que culpa
do médico comprometeu as chances de vida e a integridade do paciente, segundo
Miguel Neto (2003), e se aplica segundo a Corte de Cassação Francesa (1965), onde se
supõe que o prejuízo consiste na perda de uma possibilidade de cura ou de recompor
a verdade e, em consequência, condena à obrigação de indenização por essa perda.
Assim, a tarefa do médico perito é evidenciar tal situação, contudo isso não se aplica
à sua atuação propriamente dita. Lembrando que o seu laudo deve apenas informar
sobre as possibilidades existentes, mas nunca imputando fatos às partes.
»» falta de competência;
»» falta de experiência;
»» falta de habilidade;
»» falta de atenção;
»» descuido.
Todo ato médico pericial envolve complexidade, visto que é retrospectivo e prospectivo.
Pode ser prova técnica no Judiciário, quando o exame do fato controvertido exigir.
O perito pode ainda ser convocado pelo juiz para comparecer em audiência, para
prestar esclarecimentos e informações sobre a perícia realizada, com a finalidade de
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
dirimir dúvidas ou alguns pontos obscuros. Nessa hora os esclarecimentos serão feitos
oralmente para o juiz.
O art. 35, caput, e seu parágrafo único, da Lei Federal no 9.099, de 26/9/1995, em
consonância com o princípio geral da oralidade do art. 2o do mesmo estatuto, conduzem
à conclusão de que no sistema dos juizados especiais, a prova técnica poderá ser
produzida, desde que seja apenas oralmente (TJSC-CC 97.000813-9 – 2a CC- rel. Des.
Nelson Schaefer Martins - julg. 10/4/1997).
Para que a prova pericial seja confiável o perito deve trazer laudos fundamentados com
pesquisa e apresentar o método que o levou a conclusão.
»» clareza;
»» objetividade;
»» segurança;
»» fundamentado;
»» conclusivo.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
O juiz pode indeferir ou pedir para realizar a prova pericial, isso pode acontecer
quando as partes na inicial ou contestação apresentem suficientes pareceres técnicos
ou documentos.
Quando a prova for deferida ou requerida por ele, o mesmo ainda poderá indeferir
quesitos que neste caso são impertinentes e incluir quesitos que são pertinentes a seu
ver.
Caso o juiz não se sinta esclarecido, este, poderá designar nova perícia.
Art. 436 do CPC: o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo
formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos
autos.
Art. 438 do CPC: a segunda perícia tem por objetivo os mesmos fatos
sobre que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou
inexatidão dos resultados a que esta conduziu.
Para ser perito médico, além de requisitos como conhecimentos teóricos, experiência
clínica, exige-se idoneidade, tempo para examinar adequadamente, responsabilidade
e conhecimento de critérios jurídicos ou administrativos que utilizará na sua área de
atuação.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
»» diagnosticar;
»» tratar;
Assim Motta entende que todo médico que tem habilitação legal para exercer sua
atividade em qualquer ramo da medicina torna-se especializado, pois pode vir de seu
conhecimento teórico cada vez mais aprimorado e também de anos de experiência.
Assim, poderá ser especializado de forma suficiente para ser chamado inclusive de
Perito Médico.
O fato de não possuir titulação oficial não exclui o direito legal de o médico atuar em
qualquer área, pois provará sua competência e capacidade, ou seja, demonstrará que é
especializado, e tem conhecimento para ser chamado para dirimir dúvidas.
O médico com menos tempo de atividade clínica deve evitar ser perito para sua própria
segurança. Assim neste tempo se tem o desejo de ser médico perito deve se aperfeiçoar.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Na área cível:
»» capacidade civil;
»» investigação de paternidade;
»» acidente de trabalho.
Hipótese diagnóstica
Vale lembrar que o grande responsável pelo diagnóstico é o médico, e assim também
se comporta o perito médico. Em outras palavras o diagnóstico não é dado por exames
complementares ou atestados, esses são chamados de “provas dos autos”.
Ainda outra limitação: o médico não pode ser perito de paciente para quem
preste atendimento como assistente, mesmo que o faça em entidade pública.
Resolução CFM no 18/2006.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Assim, o periciando deve fazer um exame, que em geral, ele não escolhe fazer, por
interesse de um terceiro ou para cumprimento das normas legais ou para esclarecimento
de autoridades. Também será examinado por um médico que ele não tem relação e
trazendo consigo conceitos já pré formados. O periciando pode enxergar no médico
perito um entrava para suas expectativas, e isso pode ser uma dificuldade a ser superada
pelo perito para a realização de sua avaliação.
Os resultados desses exames serão públicos, porém com vários níveis de publicidade,
dependendo do tipo de perícia realizada. Também é importante salientar que o perito
não pode ter nenhum envolvimento com qualquer parte da perícia, nem mesmo com o
médico assistencialista do periciado.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Segundo Nerio Rojas: “a função pericial requer duas condições ao médico: preparação
técnica e moralidade. Não se pode ser um bom perito se faltar uma destas condições.
O dever da perícia é dizer a verdade; para isso é necessário primeiro encontrá-la e,
depois, querer dizê-la. O primeiro é um problema científico enquanto o segundo é um
problema moral.”
Para melhor interpretar essa frase vamos falar sobre a preparação técnica que se dá
justamente pela formação básica de médico somada a uma capacitação especializada.
Sobre a segunda parte da frase, deve se entender um pouco sobre ética médica, que pode
ser dividida em direitos e deveres. O direito também se denomina diceologia, que quando
engloba peritos são: condições de trabalho boas, remuneração adequada, autonomia
profissional, prática da perícia sem discriminação, pontuar falhas institucionais, recusar
ou suspender a prática da perícia quando as condições de trabalho não forem adequadas
e dedicar se a perícia o tempo necessário. Por outro lado também os deveres são bem
esclarecidos, são denominados deontologia: não discriminar, não prejudicar e respeitar
o examinado; atuar com diligência; atualizar-se; manter a autonomia; não delegar atos
exclusivos do perito; manter o segredo médico; manter o respeito por colegas.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
»» Princípio da autonomia.
»» Princípio da confidencialidade.
»» Princípio da objetividade.
»» Princípio da honestidade.
»» Princípio da verdade.
»» Princípio da justiça.
Dever de informação
Dever da atualização
»» a complexidade do caso;
»» a qualificação do médico;
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Dever de atenção
Esse dever expressa principalmente zelo pela prática da perícia. Assim é muito
importante que a prática profissional e a vaidade não influenciem os laudos. Todos
devem ser tão zelados e caprichados como o primeiro.
Nesse caso deve esclarecer se o profissional, no caso médico, agiu com cautela devida,
assim descaracteriza a precipitação, inoportunismo e insensatez. Se o dano ocorreu
por uso de terapêutica arriscada, sendo uma forma de abuso de poder, não se nega a
responsabilidade profissional.
O Código de Ética Médica é um conjunto de regras que devem ser seguidas por quem
exerce a profissão. Na verdade tem um conteúdo de princípios universais que regem a
conduta na profissão.
Segundo Monge (2013), existem cinco valores que sumarizam a atenção ao doente. São
eles:
3. O princípio terapêutico.
Assim pode se dizer que o código de ética médica é um código deontológico, ou seja,
que considera as obrigações morais. Todas as profissões tem um código deontológico a
ser seguido. São algumas as diferenças entre os códigos deontológicos das profissões,
porém a estrutura desses códigos se baseia em 4 pilares:
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
»» autonomia profissional;
»» rejeição ao mercantilismo;
»» educação continuada;
»» sigilo profissional;
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Para uma definição legal perito significa médico que presta conhecimentos científicos e
conclui a questão exposta, podendo ser absoluta, provável ou possível.
Segundo Estevill (1995) e Junior (2009) : “O perito médico é para o juiz o que a
lupa é para o profissional da crítica de obras de arte: pode e deve ajudá-lo a ver
melhor os detalhes da obra, mas em nenhum caso lhe dirá se está boa ou má.”
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Para uma boa prática da perícia médica deve-se fazer relação entre causa e morte/lesão.
Além disso, com o mesmo raciocínio de boa prática na perícia médica, é necessário que
o perito desenvolva objetividade, assim com as provas materiais e sua interpretação
sobre os fatos consiga passar a mensagem da forma mais clara possível.
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CAPÍTULO 5
Documentos médico-legais e periciais,
relatórios, pareceres, atestados e
laudos
Hoje sabemos que o prontuário eletrônico é permitido, porém na perícia o que será
avaliado é a cópia impressa. A seguir, alguns tipos de documentos médicos:
»» receitas;
»» laudos de exames.
Documentos médico-legais:
1. atestados;
2. notificação/ pareceres;
3. relatórios.
1. Ofícios.
1. receita simples;
Vale lembrar que não existe uma obrigatoriedade do carimbo, porém em instituições
poderá ter uma norma interna que oficialize esse uso. Na receita carbonada além de
dados do médico deve ter um campo para o farmacêutico assinar e se identificar. A
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
receita azul para ser impressa a gráfica deve ter uma permissão da Secretaria de Saúde.
Muito semelhante à receita azul é o controle de retinoicos. Já a receita amarela tem um
modelo que é fornecido pela própria Secretaria da Saúde.
»» clínicos;
»» de óbitos;
»» graciosos;
»» falsos.
»» finalidade;
»» a pedido de quem;
»» data;
»» assinatura;
»» carimbo.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
»» auto;
»» laudo;
»» parecer.
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
»» Finalização do laudo: deixar claro que a resposta ali contida se faz apenas
para o caso mencionado, não podendo estender se para casos semelhantes.
O cuidado que o perito deve ter ao elaborar um laudo deve ser de acordo com o tipo de
pessoa a quem se destina, por exemplo, não temos a preocupação de descrever maiores
detalhes sobre cianose de extremidades, a não ser quando a pessoa leiga que analisará
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
o laudo talvez precise de mais detalhes para ter a correta interpretação desse sinal.
Também as palavras utilizadas devem ser claras para que a pessoa a quem se destina o
laudo consiga fazer a correta interpretação.
Importante evitar o uso de frases negativas, para que o leitor não se confunda. Se
provavelmente o leitor tiver dificuldades com alguns termos médicos então pode se
colocar a interpretação; ou em palavras coloquiais; entre parênteses.
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CAPÍTULO 6
Como elaborar quesitos
Conceitos em quesitos
Trata-se o quesito de uma indagação feita pela autoridade, pela lei ou pela parte que
deve ser respondida obrigatoriamente pelo perito. O termo quesito difere de pergunta
porque o quesito sempre está inserido em um processo ou inquérito e deve obedecer a
normas jurídicas.
Os quesitos podem ser elaborados pelo advogado ou por assistente técnico (AT), Se
for realizado pelo assistente técnico, esse quesito deve ser com o conhecimento do
advogado da parte. O perito não elaborará quesitos, esse papel é do advogado e do juiz,
que poderão ser assessorados por outros médicos para a sua elaboração. O membro do
Ministério Público pode, também, apresentar quesitos, quando o processo exigir a sua
manifestação.
Ressaltamos que o âmbito mais concreto da perícia é fixado pelos quesitos formulados
pelas partes (art. 421 do Código de Processo Civil, § 1o, II, do Código de Processo
Civil) e/ou pelo juiz (art. 426, II, do Código de Processo Civil), sempre obedecidos os
parâmetros da lide e dos pontos controvertidos, dentro deles os fatos que efetivamente
dependam de conhecimento especial. Os quesitos impertinentes hão de ser indeferidos
pelo juiz. Tanto a perícia, como os quesitos devem ser adequados à finalidade de provar
o fato controvertido.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Respondendo quesitos
Nesta área, os quesitos não são previamente formulados, ou seja, não há quesitos oficiais.
Assim, na sua grande parte são perguntas feitas aos peritos e assistentes técnicos sobre
dúvidas na parte médica no processo. Como no criminal o Juiz também pode fazer
quesitos.
Vamos ao Art. 421 do Código do Processo Civil (CPC): “O juiz nomeará o perito, fixando
de imediato o prazo para a entrega do laudo”.
II - Apresentar os quesitos.
Contudo existe uma condição especial abordada no Art. 276 do CPC: “Na petição inicial,
o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará quesitos,
podendo indicar assistente técnico”.
»» iniciais;
»» suplementares ou complementares;
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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
»» de esclarecimento.
Os quesitos iniciais são aqueles que formulados logo após a determinação do juiz, junto
com a nomeação do perito oficial.
Porém não é o que ocorre na prática, normalmente são apensados antes do ato pericial
e com prazo concedido pelo juiz para o reconhecimento da outra parte.
O quesito na área cível pode ser formulado pelo juiz, pelo Ministério Público e pelas
partes.
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
»» Não utilizar subnúmeros. Com esse tipo de prática o perito pode pular
um quesito.
»» Não questionar o mérito da lide. Não confunda o perito oficial com o juiz.
A clássica pergunta que não deve ser respondida pelo perito é: Houve
dano moral?
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CAPÍTULO 7
Perícia no direito de família e de
sucessões
Tópicos incluídos:
»» Filiação.
»» Investigatória de paternidade.
»» A prova pericial.
»» Conclusão.
Filiação
Com a Carta Política de 1988 dá ênfase à exclusão de discriminação no campo da
filiação, como antes era o Código Civil de 1916, privilegiando os filhos a partir do
matrimônio dos pais. Na Carta Política de 1988 existia uma classificação: existiam os
filhos legítimos, legitimados, ilegítimos, esses últimos subclassificados como naturais
e espúrios (adulterinos e incestuosos). O cúmulo chega a proibir a pesquisa processual
do vínculo biológico de filhos extramatrimoniais apoiados pela Constituição Federal.
Porém, boas mudanças vieram com o sexto parágrafo, do artigo 227 da Constituição
Federal de 1988, proibindo a adoção de qualquer designação discriminatória, sendo
regra geral a igualdade dos vínculos, embora e assim observa Guilherme Gama, ainda
prevaleça a subdivisão entre filhos do matrimônio e dos não matrimonializados,
apenas para fins de reconhecimento formal da paternidade, considerando que deita
sobre o casamento uma natural a automática presunção de vínculo paternal. Ainda
Gama continua: ”deve ser considerada a classificação que leva em conta o critério da
existência (ou não) do casamento entre os seus pais, para fins de designá-los de: a)
filhos matrimoniais; b) filhos extramatrimoniais.»
Toda recusa para realização de provas tem a sua consequência. No processo havendo
recusa de uma das partes de fazer determinada prova, presume-se que determinado
fato ocorreu.
73
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
Como consequência dessa presunção cai na Súmula no 277 do mesmo Tribunal que
dispõe que “Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos
a partir da citação”.
Nota-se a implicação que o homem que se recusa a fazer o exame de DNA poderá sofrer.
74
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
Prova pericial
A prova pericial é essencial para auxiliar o juiz a decidir, muito embora ele não esteja a
ela adstrito.
Separamos o julgado a seguir, na qual uma das partes tentou a anulação do processo,
sob a alegação da necessidade de realização de outra perícia. Aquela Corte repudiou
essa alegação e afirmou ser desnecessária nova perícia médica.
A perícia de investigação de paternidade pode ser direta, se o suposto pai está vivo, ou
por via indireta, quando o suposto pai é falecido. Se falecido, avalia-se a paternidade
por meio da coleta de material de seus consanguíneos diretos (ou filhos de registro ou
irmãos ou pais do falecido).
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL
magnética, na qual estão inscritas todas as informações que cada ser humano recebe de
seus antecessores, por meio dos genes.
As provas científicas não sanguíneas (pavilhão auricular, cor dos olhos, cor da pele,
cabelo, anomalia dos dedos, hemofilia, daltonismo) não estão indicadas, porque existem
os sósias que são pessoas parecidas e não aparentadas. Exemplo de questões periciais,
em que o médico deve comprovar sua habilidade pericial com exame de paternidade.
D. N. A. - PROVA HEMATOLÓGICA
76
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA
77
Para (não) Finalizar
Como se pode verificar, a perícia médica civil é de suma importância para dirimir casos
complexos e para auxiliar o juiz a decidir. Um leigo não tem o conhecimento técnico
que tem o perito médico em seu campo de atuação.
Para o final, separamos alguns julgados extraídos do Superior Tribunal de Justiça sobre
alguns pontos aqui estudos.
A questão que permaneceu foi a de quem seria a responsabilidade de arcar com esse
custo – honorários periciais.
O Superior Tribunal de Justiça, atento ao artigo 33, do Código de Processo Civil, decidiu
que o ônus financeiro da prova pericial, quando requerida pelo juiz era do Autor.
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Precedentes do STJ.
Para o perito médico judicial é muito importante ser bem remunerado pelo trabalho
prestado tanto para a ação propriamente dita, mas também para a sociedade.
Outra discussão que causou bastante polêmica à época foi referente à possibilidade
de após ter uma decisão pelo Poder Judiciário, a mais de 30 anos, em uma ação de
paternidade, cuja perícia foi feita por exame de sangue, se poderia ou não ser reaberta
após a existência do exame de DNA.
No laudo, afirmou-se categoricamente que o autor Pedro não poderia ser filho do Réu.
Confira-se trecho do referido laudo pericial transcrito na sentença: “O autor Pedro,
como se viu, apresenta o fator N e sua mãe o fator MN e o réu o fator M. O que vem de
excluir, de forma terminante, a paternidade.”
Com relação ao autor Paulo, o perito sustentou que não existia prova para se excluir a
paternidade. Entretanto, afirma o juiz que os autores são gêmeos univitelinos e “se o
réu não é pai de Pedro – não poderia sê-lo de Paulo”
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Seria uma solução por demais simplista, diante da complexidade da matéria, que não
envolve só direitos constitucionais e processuais, mas, direitos humanos naturais de
cada homem conhecer a própria origem, acolher a preliminar de coisa julgada material,
suscitada pelo réu, ora agravante, e julgar extinto o processo, sem julgamento do mérito,
nos termos do art. 6o, da LICC, dos arts. 267, V e VI, e 476 e seguintes, do CPC, e art. 5o,
XXXVI, da CF.”
Do provimento ao recurso especial para julgar extinta, sem exame de mérito, a ação de
investigação de paternidade (Art. 267, V, CPC)
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Referências
HERCULES, H.C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2008.
Sites
<http://www.previdenciasocial.gov.br>
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