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Perícia Médica Cível

Brasília-DF.
Elaboração

Lívia Marcela dos Santos

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL......................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DA MEDICINA PERICIAL......................................................................................... 13

CAPÍTULO 2
CONCEITO DE PERÍCIA MÉDICA COM ÊNFASE NA PERÍCIA MÉDICA CÍVEL............................... 17

CAPÍTULO 3
CONCEITO E CAMPO DE AÇÃO............................................................................................. 34

CAPÍTULO 4
O PAPEL DO MÉDICO PERITO NOS PROCESSOS JUDICIAIS....................................................... 50

CAPÍTULO 5
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS E PERICIAIS, RELATÓRIOS, PARECERES, ATESTADOS E LAUDOS.. 64

CAPÍTULO 6
COMO ELABORAR QUESITOS................................................................................................... 69

CAPÍTULO 7
PERÍCIA NO DIREITO DE FAMÍLIA E DE SUCESSÕES ................................................................... 73

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 78

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 82
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Por vários anos o Juiz era incumbido de escolher o perito que mais lhe gerava confiança.
Assim o profissional escolhido iria auxiliar o juiz, traduzindo a questão técnica referente
à suposta falha médica, a fim de que este pudesse decidir.

Com a evolução da arte médica, foram surgindo especialidade e subespecialidades. O


que, de certa maneira, torna-se, improvável, que um perito com formação generalista
consiga atuar em várias áreas. Cada médico perito deve atuar em sua área de
especialização.

Tal especialização não ocorreu somente no campo da medicina, mas também na área
jurídica. Os advogados, atualmente, buscam cada vez mais se especializarem eu um
determinado ramo dentro do direito.

O perito médico, especialista em determinada matéria, estará atento que a perícia


médica tem um conceito duplo: o primeiro relacionado ao ato médico propriamente
dito e o segundo relacionado ao procedimento utilizado por ele para a realização do
laudo. Como será visto, essa conduta está disposta em legislação específica.

Porém, quando da realização de uma perícia médica cível, não somente existirá a presença
do médico perito, mas frequentemente este é acompanhado pela figura do assistente
técnico indicado pelas partes que ajuizaram a ação. O advogado poderá acompanhar a
perícia, mas como leigo no assunto, deverá permanecer em silêncio. Apenas se tiver um
erro do perito médico, quanto ao procedimento previsto na legislação é que poderá ser
levantado por ele. A parte técnica está nas mãos do perito médico.

Visando se adequarem à realidade, os juízes não mais se limitam a um único perito de


sua confiança, optam por equipes de peritos que são compostas de várias especialidades.
Essa equipe supre as necessidades dos juízes para qualquer tipo de perícia médica.
Entretanto, na hipótese de o juiz ter nas mãos um processo para julgar, cuja especialidade
não se encontra dentre os peritos desse grupo, poderá o juiz solicitar para determinadas
universidades de renome que indique um médico para auxiliá-lo.

Dependendo da complexidade e da necessidade da causa, o juiz poderá nomear mais de


um perito para a realização da perícia, se esta abranger mais de uma especialidade. O
mesmo ocorre com a indicação de assistente técnico.

Em razão disso existem associações de peritos que, quando solicitadas, informam ao


Estado alguns especialistas aptos e capazes de analisar o processo em pauta, traduzindo

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e dando todas as condições necessárias para que o juiz possa prolatar uma sentença
justa.

Para que o juiz consiga dispor de um especialista que julgar necessário pode remeter
aos ofícios aos Conselhos Regionais de Medicina, às Sociedades de Especialidades
ou às Associações de Peritos, essas sociedades já fazem uma seleção e só aceitam os
especialistas capacitados para determinada área de atuação.

Áreas do Direito Médico tem cada vez mais uma visão de vários especialistas, com várias
formações, convivendo advogados e médicos. Até os peritos mais antigos buscam uma
especialização hoje em dia.

Importante ter o conceito de processo judicial, para que consiga auxiliar o juiz a
encontrar a resolução do conflito de interesses posto em discussão na ação. Portanto,
durante um processo judicial, que envolve responsabilidade civil médica, várias provas
podem ser produzidas.

Para que haja uma solução justa, há necessidade de se levar em consideração


o consubstanciado no princípio da ampla defesa, do devido processo legal e do
contraditório. Todos esses princípios estão previstos na Constituição Federal. Assim, as
provas documentais, testemunhais e depoimentos das partes podem ser levantados por
ambas as partes. A prova mais importante dessas é a perícia médica, que é composta
por com conjunto de procedimentos médicos e técnicos com a finalidade de auxiliar o
esclarecimento de um fato de interesse da justiça.

No caso de perícia médica civil, quando a prova mais importante será a pericial, o perito
deverá possuir conhecimentos especiais e científicos, para atuar no processo.

Nesta perícia deve conter o exame pericial sendo realizado no auto da ação, com a
premissa de constatar se o dano alegado foi realmente realizado, e ainda se existe nexo
de causalidade com uma ação ou omissão do réu.

As partes devem requerer a prova pericial, autor e/ou réu, nos momentos oportunos,
porém o Juiz pode requerer a produção de quaisquer diligências que entenda necessária
para auxiliar no seu esclarecimento sobre o objetivo da causa.

O exame pericial é deferido no momento denominado “Saneamento do Processo”.


Ocorrendo normalmente no dia da audiência de conciliação, se não houve acordo. O
perito é requerido justamente no final desta audiência de conciliação, ocorrendo a sua
nomeação.

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Existe um prazo para que as partes manifestem o interesse e nomeiem seus assistentes
técnicos e também formularem os quesitos iniciais a serem respondidos pelo perito do
Juízo, protestando desde o início para a apresentação de quesitos suplementares.

Portanto os assistentes técnicos não são sujeitos a impedimento ou suspeição, pois são
de confiança das partes. Tendo o papel de ligação entre o juiz e o representante da parte.
Ainda soma se ao seu papel a identificação e fiscalização dos dados observados pelo
perito no momento do exame médico, com o intuito de, após fazerem seus pareceres,
possíveis de omissões ou até mesmo falhas do laudo pericial que possam interferir de
alguma forma na conclusão.

O profissional médico ao ser notificado para ser perito em uma Lide, deve se apresentar
à Vara Cível e responder por petição, em até cinco dias, se aceita o cardo ou não. Se
recusar, deve ser muito bem explicada, pois por esse motivo pode ser denunciado ao
conselho de classe, com a justificativa de não colaborar com a Justiça, com a Sociedade.
Contudo os juízes normalmente aceitam a recusa e nomeiam outro profissional para
agir.

Importante lembrar que o perito deve ser uma pessoa física mesmo que pertença a uma
pessoa jurídica, a sua assinatura no laudo é como pessoa física.

Uma das partes pode não estar de acordo com a escolha e pode contestar e tentar
impugnar a nomeação do perito, alegando desacordo com a sua especialidade ou ate
mesmo revelando a relação do perito com a outra parte, e ainda mesmo por temer
a austeridade do laudo do profissional. Mas são necessárias provas incontestáveis, e
mesmo assim o perito tem direito de defesa das acusações que lhe foram feitas.

Importante relembrar alguns aspectos do Código de ética médica:

É vedado ao médico:

Art. 118. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para
servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das
suas atribuições e competência.

Art. 119. Assinar laudos periciais ou de verificação médico-legal, quando


não o tenha realizado, ou participado pessoalmente do exame.

Art. 120. Ser perito de paciente seu, de pessoa de sua família ou de


qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em seu
trabalho.

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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Art. 121. Intervir, quando em função de auditor ou perito, nos atos


profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em presença
do examinado, reservando suas observações para o relatório.

Em havendo concordância do perito judicial para a realização da perícia médica, o perito


deverá fazer carga do processo por até 15 dias, para ter acesso a todos os dados e saber
exatamente a perícia que deverá ser feita, quando devolverá o processo e quantificará
seus honorários iniciais.

Entretanto, os juízes brasileiros não se baseiam somente na perícia médica para


prolatarem uma decisão, podem utilizar outros meios de prova, conforme entendimento
consubstanciado no artigo descrito a seguir:

Art. 332 do Código de Processo Civil: Todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são
hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a
defesa.

Classifica-se o meio de prova em diretos (ex.: inspeção judicial, fatos notórios) ou indiretos
(ex.: documentos, perícias, testemunhas). Agora as provas podem ser classificadas
em: impertinentes (descabidas, fogem do assunto em pauta, despropositadas), ou
ainda desnecessárias (inúteis, dispensáveis) e protelatórias (protelam, prorrogam) que
somente atrasarão o andamento regular do processo.

Art. 131 do Código de Processo Civil: O juiz apreciará livremente a prova,


atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que
não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos
que lhe formaram o convencimento.

A perícia é reconhecida como provas de espécie, assim como também são os documentos;
a inspeção judicial, a confissão, as testemunhas.

O perito judicial é considerado auxiliar da justiça, juntamente com o escrivão ou diretor


de secretária da vara e o oficial de justiça. O auxiliar da justiça goza da fé pública.

Assim a perícia deve ser pautada em um raciocínio lógico, pois, será uma das provas em
que o juiz se baseará para construir o seu raciocínio lógico para julgar.

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Objetivos
»» Promover o conhecimento global de medicina pericial cível, para que
o aluno saiba as obrigações e deveres que envolvem o perito desta
especialidade.

»» Elaborar e analisar laudos e documentos periciais cíveis.

»» Compreender o verdadeiro papel do médico perito cível, ou seja, uma


ferramenta importante na ajuda das decisões judiciais em processos
dessa natureza.

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PERÍCIA MÉDICA UNIDADE ÚNICA
CÍVEL

CAPÍTULO 1
Histórico da medicina pericial

No ordenamento jurídico brasileiro pauta sobre o assunto que indicam


expressamente que o fato jurídico pode ser provado mediante confissão,
documento, testemunha, presunção e perícia (CF. artigo 212, do Código Civil).
Porém, deve-se observar que o rol apresentado é simplesmente exemplificativo
e não taxativo, como se conclui pela harmonização com a norma do artigo 332
do Código de Processo Civil a apregoar que todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados no aludido Código, são
hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

Semelhante ao mencionado anteriormente, algumas associações de peritos


judiciais têm aprovado Códigos de Ética Profissional para a classe. Não obstante
as eventuais sanções prescritas nos aludidos Códigos se aplicam apenas aos
seus respectivos associados, é interessante que o perito se intere do teor de
tais disposições, eis que tais normas de conduta e de organização, regra geral,
objetivam a aplicação de princípios éticos ao mister pericial.

Historia da perícia médica

Brasil

O passado existe para ser lembrado, para ajudar a compreender o presente e


para pensar o futuro.

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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Para melhor entendermos a evolução da medicina legal brasileira, área do direito


em que está inserida a perícia médica, é importante que, antes de tudo, façamos um
passeio no passado, para compreender as bases do processo que fez com que esta
disciplina crescesse no país e se tornasse uma especialidade autônoma, com suas
regras e metodologia próprias – a fim de melhor servir às necessidades da Justiça.
Ou, como afirmava Souza Lima, “esta confraternização entre a Medicina e o Direito”

No Brasil, a perícia é inicialmente tratada no Regulamento no 737 (base do direito


português - arbitramento) em 1850.

E, como dizia Souza Lima, é uma ciência de aplicação, cuja importância, porém, se
impõe pela especialidade do fim a que se destina, como pela complexidade dos meios,
pela extensão dos conhecimentos que exigem, e que constituem esses meios de alcançar
aquele fim.

E Afrânio Peixoto aduzia: “A especialização do perito não é por isso menos necessária,
porque sua função exige justamente que adquira determinados conhecimentos e os saiba
empregar na prática forense”. Seu exercício é comparável ao do clínico, só possível após
a aquisição global das ciências médicas. Apenas o círculo é mais dilatado, porque já o
termo medicina é estreito para as preocupações da medicina legal. As ciências físicas e
naturais, as ciências sociais já lhe emprestam suas noções e seus métodos.

Tal afirmação, por si só, à frente para a época de lançamento de seu clássico Medicina
Legal – no final dos anos 1930 – propunha um novo futuro para a então jovem disciplina
no Brasil.

Tanto na medicina legal como no direito a “escola italiana” (com a vigência do primeiro
Código Penal Republicano de 1890 – fortemente marcado pelo Direito Romano),
deixaram suas marcas no Brasil. Por muito tempo, o modelo italiano (em maior domínio
que o francês) de medicina legal ditou as regras aos médicos legistas pátrios.

No Código de Processo Civil de 1939, modificado em 1942, pelo Decreto-Lei no 4.565,


quando se determinava que o juiz nomeasse o perito somente na hipótese de as partes
não chegarem a um consenso sobre a escolha de um nome comum. Como esse consenso
era na maioria das vezes impossível, em 1946, surgiu o perito desembargador, para que
a situação fosse resolvida, ou seja, quando as partes não chegavam a um perito comum,
ou quando as conclusões apresentadas por ambos peritos não fossem satisfatórias do
ponto de vista do juiz.

Diferentemente do Código Processo Civil de 1939, o promulgado em 1973 deu


oportunidade para as partes indicarem assistentes técnicos; que tornaram se auxiliares

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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

dos juízes ao invés de auxiliares da parte que os indicava. Havia necessidade de eles
prestarem termo de compromisso. Tornando assim esses assistentes mais imparciais.
Porém, em 1992 com a edição da Lei no 8.455, retiraram esse requisito.

Em 2001 tiveram mais algumas mudanças:

»» nomeação do perito e indicação dos assistentes técnicos com a


possibilidade de o juiz nomear mais de um perito e as partes indicarem
mais de um assistente técnico, na mesma categoria profissional;

»» a previsão legal obriga a comunicação aos advogados sobre as datas das


perícias, pois são eles que representam as partes, e não os assistentes
técnicos;

»» referência ao prazo de entrega do parecer pelo assistente técnico. Na


prática, adota-se uma data anterior ou a mesma do protocolo do laudo
oficial.

Importante saber que há diferença entre a justiça trabalhista e a cível.

Ainda temos o Código Civil de 2002 – Lei no 10.406, de 10 de janeiro, que entrou
em vigor em 2003:

»» Perícia Civil para Verificação da Validade de Negócio Jurídico: o


diagnóstico de um transtorno mental não é, em si, suficiente para
indicar incapacidade. Por outro lado, o que o transtorno mental pode
levar é um prejuízo no julgamento relativo às questões específicas
envolvidas. Outra questão que pode tornar o contrato inválido é se,
quando assinados, uma das partes ser incapaz de compreender a
natureza de seu ato.

»» Perícia Civil para Verificação de Capacidade Testamentária: ou seja,


peritos médicos para averiguar a capacidade de o paciente fazer o
testamento.

Para averiguar a competência da Verificação da Capacidade Testamentária são


necessárias três capacidades psicológicas:

»» a natureza e extensão dos seus bens (posses);

»» que estão fazendo um testamento;

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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

»» quem são os seus beneficiários naturais, exemplo: cônjuge, filhos ou


outros parentes.

Sugerimos a leitura livro Perícia Médica Judicial do Prof. Hermes de Alcântara, da


Universidade de Brasília, no qual cita: “Os objetivos da Medicina Legal são [...]
realizar, com arte e base científica, qualquer exame pericial.”

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CAPÍTULO 2
Conceito de perícia médica com
ênfase na perícia médica cível

Perícia médica
O conceito de perícia consiste no meio probatório pelo qual um terceiro, que tenha
um conhecimento especializado, verifica fatos que interessam ao deslinde da causa.
Em outras palavras, o terceiro, denominado perito, busca a verificação e interpretação
técnica de fatos sobre os quais o julgador formará seu convencimento, com a finalidade
de decidir uma determinada ação.

No esquema a seguir, podemos observar os tipos de perícia que são divididos em cinco:
judicial, administrativo, médico-legal, seguros e planos de saúde.

Figura 1.

Fonte: Próprio autor.

Perita etimologicamente é o conhecimento adquirido pelo uso. Define-se perícia como


exame de situação ou fato. Considerando o ato médico, podemos definir perícia como
ato médico que será realizado como consequência de requisição formal de autoridade
policial ou judiciária, quando essa autoridade dela necessitar para formação de

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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

convicção na execução de suas funções, ou em cumprimento às normas legais em


serviços públicos, ou para usufruir dos benefícios de previdência pública (INSS), ou de
benefícios contratados com seguradora e ainda na aplicação de cláusulas de contratos
com seguradoras ou plano de saúde.

Devemos saber que como especialidade médica, no âmbito acadêmico e científico, toma
como referência a instalação da Cadeira de Medicina Legal em 1918. Ainda com a outra
visão que a medicina pericial tem: análise para a consolidação do campo científico em
sua expressão institucional, ou seja, pela criação de associações e sociedades, edição de
publicações específicas e realização de eventos na área.

Temos os seguintes tipos de perícias:

»» Oficial: quando determinada pelo juiz de ofício ou requerida, se foi


solicitada por partes envolvidas.

»» Necessária (obrigatória): imposta por uma forma legal.

»» Facultativa: não há previsão legal e/ou a prova pode se dar por outros
meios.

»» Direta: está presente o objetivo da perícia.

»» Indireta: quando se baseia em informações trazidas pelo perito.

Por vários anos o Juiz era incumbido de escolher o perito que mais lhe gerava confiança.
Assim o profissional escolhido iria ajudar a julgar suposta falha médica.

Porém com a evolução da arte médica, foram surgindo especialidade e subespecialidades,


tornando improvável que um perito com formação generalista consiga atuar em várias
áreas. Assim, é quase um consenso que o médico perito se especialize.

Assim também ocorreu com os advogados que se especializaram tornando o


entendimento da causa cada vez melhor. Assim importante relembrar que a perícia
médica tem um conceito duplo: sendo formada por um ato médico e também um ato
processual. Porém é importante que na fase processual o indivíduo submetido ao exame
seja acompanhado pelo assistente técnico. Neste momento o papel do advogado é
apenas acompanhar em silêncio o ato, pois nesta ocasião o atuante como representante
do Juiz é o perito técnico.

Vejamos nessa esquematização como são amplas as áreas da perícia médica, exigindo
um aprofundamento maior em uma delas, diferente de antigamente quando o médico
era simplesmente perito.

18
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Figura 2.

Fonte: Próprio autor.

Perito significa em termos jurídicos pessoa nomeada por autoridade judiciária para
avaliar questão civil, trabalhista ou criminal emitindo o parecer que é o laudo. As perícias
médicas judiciais ocorrem em jurisdições na esfera cível estadual e federal, na esfera
criminal, nas Varas de Família, nas Varas da Fazenda Pública Municipal, Estadual ou
Federal e na Justiça do Trabalho.

Art. 420 do CPC: A prova pericial consiste em exames, vistoria ou


avaliação.

Vejamos o que diz o Art. 145 do Código de Processo Civil:

Art. 145 – Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico


ou cientifico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no Art.
421.

§ 1o – Os peritos são escolhidos entre os profissionais de nível


universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente,
respeitado o disposto no Capitulo VI, seção VII, deste Código.

§ 2o – Os peritos comprovaram sua especialidade na matéria sobre o


que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que
estiverem inscritos.

§ 3o – Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que


preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação do
perito será de livre escolha do juiz.

Mesmo que a decisão do juiz seja livre, toda perícia envolve pelo menos um perito, este
considerado oficial. Além da possibilidade das partes indicarem cada uma delas um
assistente técnico. Importante esclarecer que essa indicação pela parte é uma faculdade
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UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

e não uma obrigação. Portanto, as partes, que entenderem necessário a indicação de


assistente técnico, poderão indicar, com a finalidade de acompanhar a perícia, tirar sua
própria conclusão, que poderá ser concordando, discordando ou complementando a do
perito. Essa previsão na verdade é da perícia legislativa e assim acabou se entendendo
para previdenciária, administrativa e securitária.

Em alguns estatutos de serviços públicos prevê a existência de uma junta pericial, sendo
que a sua composição é muito variável. São previstas essas juntas pelo CFM no 15/1995:
“[...] dois ou mais médicos... que.... quando com finalidade específica, administrativa,
tem a missão de avaliar condições laborativas ou não, e assim fundamentar decisões
de admissão, retorno ao trabalho, afastamento para tratamento ou aposentadoria.
Nesses casos sua composição será definida em lei, decreto, regulamento, resolução ou
orientação normativa.”

O perito médico tem o papel de montar a história com as armas médicas que ele possui.
Por isso não basta apenas ter um conhecimento técnico para ser um bom perito, mas, além
disso, é preciso ser um bom observador. Esse médico deve ter conhecimento específico
em técnicas de exames desenvolvidas com a capacidade de obter as informações que
necessita de um objeto de perícia.

Assim a arte de periciar vai além de técnicas ensinadas desde a faculdade de medicina. As
observações devem ser importantes, como avaliar a veracidade dos fatos apresentados.

Ministério do Trabalho e Emprego

N.O da CBO: 0-61.13 Título: Médico de perícias Médicas

Descrição resumida: “Executa a perícia médica em servidores públicos, segurados


e seus dependentes, examinando-os, constatando as condições de saúde,
comparando os resultados dos exames com as exigências profissiográficas
da atividade envolvida e estabelecendo nexo de causa e efeito, para emitir
pareceres no sentido de enquadrar os examinados de acordo com as situações
previstas em lei. ”

Descrição detalhada: “realiza exame físico e mental nos interessados, verificando as


condições anatômicas, fisiológicas e psíquicas, empregando instrumental de clínica
geral, para formular o diagnostico; analisa os resultados dos exames efetuados,
correlacionando-os às exigências ocupacionais, como referentes à aptidão,
condições ambientais e matéria-prima, para estabelecer o nexo da causa e o efeito
entre o trabalhador e a ocupação; avalia a capacidade laborativa do trabalhador,
examinando os informes objetivos referentes à ocupação estudada, à idade e a

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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

outros dados pessoais, para enquadrar os casos nas premissas médico-legais que
requer o exame em pauta; emite o parecer médico pericial conclusivo, registrando
em documento apropriado (laudo médico) os informes pessoais e ocupacionais,
para atender às situações previstas em lei. Pode dar parecer em Juntas Médicas de
Recursos e participar de Juntas Médicas de Processos.”

As três situações que os peritos médicos podem atuar são: auxiliar do juiz de primeira
instância, no INSS e nas instituições públicas regidas por estatuto de serviço público e
em seguradoras e planos de saúde.

A primeira em auxiliar do juiz de primeira instância, é a perícia judicial, neste tipo de


perícia o perito deverá cumprir o que é determinado pelo Código de Processo Civil e de
Processo Penal, em que estão fundamentados todos os seus procedimentos periciais.

O perito deverá trabalhar em auxílio técnico ao juiz, em ações cíveis, trabalhistas ou


penais, e também nas Justiças Eleitoral e Federal. Importante que o aluno saiba que
existem várias áreas de atuação do perito judicial, entretanto, o presente estudo se
limita às perícias médicas cíveis.

Em segunda instância não haverá perícia. Segunda instância significa quando a parte
que discorda de alguma decisão do juiz de primeira instância recorre, na maioria das
vezes, para o Tribunal de Justiça, que se trata da segunda instância da justiça cível e
criminal. No caso da justiça do Trabalho, o recurso é interposto para o Tribunal Regional
do Trabalho e na Federal para o Tribunal Regional Federal.

Entretanto, na hipótese de o desembargador entender, por exemplo, pela necessidade


de realização de perícia médica, em contrário da decisão do juiz de primeira instância,
ele devolve os autos para aquele juiz e determina que este realize a perícia.

Importante relembrar alguns aspectos do Código de ética médica:

É vedado ao médico:

Art. 118. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado


para servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os
limites das suas atribuições e competência.

Art. 119. Assinar laudos periciais ou de verificação médico-legal,


quando não o tenha realizado, ou participado pessoalmente do
exame.

Art. 120. Ser perito de paciente seu, de pessoa de sua família ou de


qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em
seu trabalho.

21
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Art. 121. Intervir, quando em função de auditor ou perito, nos


atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação
em presença do examinado, reservando suas observações para o
relatório.

Conceito de direito civil e direito processual civil

Para que não haja confusão, importante delimitar o tema estudado. Melhor, portanto,
situar o aluno no ramo do direito em que discutiremos sobre a perícia médica. O
presente estudo se resume à perícia médica cível, o que desde logo podemos verificar
que não se trata de perícia médica da parte criminal ou sobre questões envolvendo o
Poder Público. Iremos, assim, conceituar o ramo do direito em questão.

O Direito Civil é o ramo do direito privado por excelência. O Direito Privado é


compartimento ou setor jurídico que, tradicionalmente, regula o ordenamento dos
interesses de particulares.

Quando perguntamos o que devem os membros da sociedade uns aos outros; ou o que é
meu e o que é teu; quando tratamos das relações entre os indivíduos e as relações entre
esses indivíduos e as associações, as relações de família, estamos dentro do ramo do
direito privado que se denomina Direito Civil.

No século passado, o ius civile, era estudado de uma forma bem mais abrangente, pois
nele eram compreendidos tanto o direito público como o direito privado, uma vez que
as instituições romanas não diferençavam um e outro.

No Direito Civil preponderam as normas jurídicas reguladoras das atividades dos


particulares. Trata dos interesses individuais. Estuda-se a personalidade; a posição do
indivíduo dentro da sociedade; os atos que pratica; como o indivíduo trata com outros
indivíduos; como adquire e perde a propriedade; como deve o indivíduo cumprir as
obrigações que contraiu com outro; qual a posição do indivíduo dentro da família; qual
a destinação de seus bens após a morte.

Os interesses protegidos no Direito Civil são privados. Entretanto, convém diferenciá-lo do


“direito público”, que a cada momento, em nossa vida particular, se interfere no relacionamento
não só do indivíduo para com o Estado, mas também no próprio relacionamento de indivíduo
para indivíduo.

Muito embora a interferência do Estado na relação entre particulares está cada vez mais
intensa, vale a pena definir o que seria direito público, para que o aluno compreenda o
tema estudado.

22
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Direito Público tem por finalidade regular as relações do Estado, dos Estados entre si,
do Estado com relação a seus súditos, quando procede com seu poder de soberania, isto
é, poder de império.

Figura 3.

Fonte: Próprio autor.

Como mencionado, o Sistema Jurídico adotado pelo Brasil é o Sistema Civil (Civil Law)
em contraposição ao sistema adotado nos Estados Unidos que é o Comon Law. Diante
disso, o principal corpo de normas que regulam as relações privadas é o Código Civil.

O Código Civil (Lei no 10.406 de 2.002), denominado por muitos como a Constituição
do Homem, regula toda a questão entre particulares. Ele é dividido em duas partes, a
Geral e a Especial.

Miguel Reale (1996) foi o relator do Projeto do Código Civil e, para realizar o trabalho
em que foi incumbido, alicerçou o novo Código Civil em três princípios fundamentais:
eticidade, socialidade e operabilidade.

»» Princípio da Eticidade: por entender que haveria necessidade de aumentar


a participação dos valores éticos no ordenamento jurídico, fez com que
esses valores fossem destacados nas normas do Código.

»» Princípio da Socialidade: diferentemente do Código Civil de 1916, o novo


Código afastou o caráter individualista, e deu ênfase ao predomínio
social sobre o individual.

»» Princípio da Operabilidade: esse novo Código objetivou a estabelecer


soluções normativas a fim de facilitar a interpretação e aplicação do
operador do direito, criando normas fáceis de serem aplicadas.

Este último princípio está diretamente relacionado à aplicação da norma jurídica ao


caso concreto, e, na hipótese de o operador do direito sentir dificuldade nessa aplicação,
deve optar pela interpretação que resulte na solução que melhor e mais efetivamente
aplique o direito para aquele caso. Conforme explica Miguel Reale (1996):

Toda vez que tivemos de examinar uma norma jurídica, e havia


divergência de caráter teórico sobre a natureza dessa norma ou sobre

23
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

a convivência de ser enunciada de uma norma ou de outra, pensamos


no ensinamento de Jhereng, que diz que é da essência do Direito a sua
realizabilidade: o Direito é feito para ser executado; Direito que não se
executa – já dizia Jhereng na sua imaginação criadora – é como que não
aquece, luz que não ilumina. O Direito é feito para ser realizado; é para
ser operado.1 (REALE, 1986, p. 11)

Figura 4.

Fonte: adaptado do livro O Projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais de Miguel Reale, 1986.

Como visto, a matéria a ser analisada pelo perito judicial para a realização da perícia
cível estão contidas nas regras previstas no Código Civil, como por exemplo: uma pessoal
tem seu direito de não ser lesada, tem o direito de saber quem é o seu pai etc. a partir
do momento em que tem seu direito violado, nasce a sua pretensão de se socorrer ao
Estado para que cesse essa lesão. O meio pelo qual essa pessoa tira a inércia do Estado
é pelo ajuizamento de uma ação.

Quando do ajuizamento da ação, toda a regra de conduta está disposta em outro código,
o Código de Processo Civil. Portanto, quando determinada ação pede a realização de
uma perícia, como, por exemplo, para se verificar se uma pessoa sofreu os danos que está
alegando, o perito judicial é chamado para realizar a perícia. Todos os procedimentos
seguidos por esse perito para a elaboração do laudo, como por exemplo: o prazo
para apresentação, as suas condutas, a cobrança dos honorários periciais são regras
processuais que estão dispostas no Código de Processo Civil.

Para diferenciar direito material, que no presente caso seria o direito material civil, do
direito processual, nos socorremos da lição de Eduardo Arruda Alvim2:

O direito material é composto de normas que regulam as relações jurídicas entre as


pessoas, enquanto o direito processual estabelece as regras que regulam uma função

1 REALE, Miguel. O projeto de código civil: situação atual e seus problemas fundamentais. Saraiva: São Paulo, 1986. p. 11.
2 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito Processual Civil. 2. ed. Revistas dos Tribunais: São Paulo, 2008. p. 27.

24
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

estatal, que é a jurisdicional; por outras palavras, o direito processual regula o exercício
da função jurisdicional (do Estado).

Cabe esclarecer, mesmo que de forma sucinta que o direito processual ganhou
importância em razão do reconhecimento da necessidade de intervenção estatal para a
solução de conflitos de interesses, na medida em que o direito atual tolera pouquíssimas
hipóteses de autotutela, ou seja, fazer justiça com as próprias mãos.

Figura 5.

Fonte: adaptado do livro Direito Processual Civil de Eduardo Arruda Alvim, 2008.

Assim, verifica-se que o direito processual é o ramo do direito público que preordena
a forma pela qual uma pessoa pode conseguir do Estado, de seu Poder Judiciário, uma
prestação jurisdicional, com a finalidade de por fim a determinado conflito.

Condutas processuais para a realização da


perícia médica
Uma vez ajuizada a ação, esta terá o seu curso normal seguindo todo o rito disposto no
Código de Processo Civil. A partir do momento em que o juiz recebe uma determinada
ação, ele a analisa, verificando os fatos e fundamentação jurídica para o pedido, bem
como analisa as provas requeridas pela parte e, por fim, o pedido postulado.

Cabe um esclarecimento para o aluno de que o juiz não está adstrito à fundamentação
jurídica posta na petição inicial, uma vez que segundo o brocado latim: Da me hi factum
dabo ti be ius que significa “dá-me o fato e te darei o direito”. Desta forma, uma vez
dados os fatos ao juiz, este lhe dará o direito.

Todo problema se inicia quando o direito de determinada é violado. Com isso, visando
que tal dano seja cessado, inicia-se um processo judicial, com a finalidade de tirar a
inércia do Estado, para que este interfira nesse conflito de interesse, devolvendo aquele
o lhe pertencia e, consequentemente, dando harmonia novamente à sociedade.

25
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

A petição inicial para o autor é a petição mais importante, pois ele narrará os fatos,
esclarecendo ao juiz, de maneira minuciosa, tudo o que ocorreu e, ao final, fará seu
pedido. Com isso, o autor delimitou o objeto da ação e juiz está adstrito a esse objeto.
Não poderá decidir nem aquém nem além ou nem mesmo de forma diversa. Em
qualquer uma dessas hipóteses essa parte da sentença que não ficar limitada ao pedido
do autor deverá ser desconsiderada, mesmo que o autor tenha razão e mereça aquilo
que o juiz lhe deu.

Citemos como exemplo, para elucidar a questão, um acidente de trânsito, na qual Tício
perdeu uma de suas pernas. Este ajuíza uma ação pleiteando somente os prejuízos
causados em seu automóvel, nada fala com relação à perda de sua perna. O juiz ouve
os argumentos de Caio, causador do acidente, e ao final prolata uma sentença, dando
ganho de causa a Tício e condena Caio ao pagamento de todos os prejuízos causados
no carro de Tício e, ainda, condena-o ao pagamento de uma indenização pelos danos
físicos, pela perda da perna.

Muito embora Tício tenha direito à indenização pela perda de sua perna, essa parte da
sentença não pode ser considerada, uma vez que não constou no pedido.

Esclarece que Tício poderá mover outra ação pedindo essa indenização, mas nessa ação
não poderá ganhar o que não pediu.

Figura 6.

Fonte: Próprio autor.

Feitos esses esclarecimentos iniciais, apontaremos alguns artigos do Código de


Processo Civil que são de extrema importância para a realização da perícia médica
26
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

cível. Iniciaremos esclarecendo que existem dois tipos de procedimentos, chamados


tecnicamente de ritos processuais: o sumário e o ordinário.

Isso nada mais é de que uma divisão prevista no Código de Processo Civil. Os processos
que seguem pelo rito sumário, como o próprio nome já diz, são mais céleres. Trata-se
de um processo que tende a ser mais rápido.

Se a matéria envolvida ou o valor da causa não estiverem enquadrados nas hipóteses


desse procedimento, o processo seguirá o rito ordinário.

Art. 271 do CPC: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,


salvo disposição em contrario deste Código ou de lei especial.

Art. 272 do CPC: O procedimento comum é ordinário ou sumário.

Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário


regem-se pelas disposições que lhe são próprias, aplicando-se-lhes,
subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário.

O procedimento ordinário segue as seguintes fases:

»» postulação;

»» conciliação;

»» saneamento;

»» instrução;

»» decisão;

»» recursos.

Quando a peça inicial é analisada pelo juiz, que verifica os fatos e a fundamentação
jurídica para o pedido, estuda as provas e a indenização pleiteada. Se houver pertinência
o juiz ordena a citação do réu.

São elementos essenciais da petição inicial: identificação do autor e do réu (pessoa


física ou jurídica), tipo de ação proposta (cobrança ou indenização), pretensão do autor
como suas especificações (pedidos), os fatos que justificam o pedido e os fundamentos,
o valor da causa, as provas que o autor pretende demonstrar, as verdades dos fatos
alegados e por fim, o requerimento para a citação do réu.

Vejamos os artigos do Código de Processo Civil que abrange esses conceitos.

27
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Art. 285 do CPC: Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará,


ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que,
não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como
verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.

Art. 285-A. do CPC: Quando a matéria controvertida for unicamente de


direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência
em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida
sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada.

Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:

I – quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo


de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em
audiência.

II – quando ocorrer a revelia (art. 319).

Nesses dois artigos referem-se sobre a análise preliminar do juiz no momento em que
recebe a petição inicial. Se entender que cabe julgamento antecipado, assim julgará não
permitindo que se forme a triangulação autor – Estado (Juiz) – réu.

Não sendo o caso de se extinguir de plano a petição inicial, o juiz determinará a citação
do réu para que apresente contestação. Da mesma maneira que a petição inicial é a peça
processual mais importante ao autor, a contestação é a mais importante ao réu. É nessa
hora que ele apresenta todos seus argumentos, com a finalidade de defender o seu lado
dos fatos e rebater todos os pontos alegados na petição inicial, bem como requerer as
provas que pretende produzir durante a instrução probatória.

Nenhuma matéria ou argumento poderá ser levantado posteriormente pelo réu, com
exceção de algumas matérias que poderão ser conhecidas diretamente pelo juiz, as
chamadas matérias de ordem pública. Porém, é importante para o perito médico, ter
esse conhecimento, pois quando ler as peças processuais saberá que os argumentos
estarão na petição inicial e na contestação.

A matéria poderá estar um pouco mais detalhada em outras petições, mas não terá
outros argumentos que não constem nessas duas principais peças processuais.

Depois de formada a triangulação processual e apresentada a contestação, o autor será


intimado a se manifestar sobre os argumentos do réu. Essa petição chama-se: réplica.

Se o juiz estiver convencido de quem tem razão e estiver satisfeito com os argumentos
e os documentos até agora colacionados nos autos, poderá prolatar sentença

28
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

antecipadamente. Caso haja necessidade de ser iniciada a fase probatória, caberá ao


juiz designar uma audiência preliminar, intimando as partes, para sentarem e tentarem
chegar a um acordo. Nesta audiência objetiva-se uma tentativa de conciliação, se
alcançada dá-se a prolação da sentença. Não havendo acordo, o juiz saneará o feito.
Isso nada mais é do que o juiz decidir questões preliminares, e decidir sobre quais fatos
ainda precisam ser provados e quais as provas necessárias para que isso ocorra.

O art. 331 do CPC dispõe sobre essa audiência e a posição do juiz:

§ 2 Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará
os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes
e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de
instrução e julgamento, se necessário.

Assim se requerida a prova pericial por qualquer uma das partes ou pelo juiz de ofício,
este nomeará um perito judicial. Neste momento inicia o prazo para as partes em cinco
dias indicarem assistentes técnicos, se assim desejarem, e formularem quesitos. Como
se verá, os quesitos não de suma importância, pois guiará a perícia e o perito médico
deve responder a todos e de forma fácil e objetiva.

O Artigo 130 do Código de Processo Civil dispõe que: “Caberá ao Juiz de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligencias inúteis ou meramente protelatórias.”

Nesse contexto, na hipótese de a parte requerer a realização de determinada prova


pericial e o juiz entender que não há necessidade, poderá indeferir essa prova.

O perito judicial nomeado deve ser informado de sua nomeação por carta com AR, por
intimação formal, ou por contato telefônico, neste momento o escrivão ou o funcionário
do cartório da vara em que o perito foi nomeado informa que os autos estão disponíveis,
devendo ser retirados mediante carga, para análise e resposta.

O processo pode ser, unicamente, retirado pelo perito judicial, nunca pelo assistente
técnico. A parte que indicou o assistente técnico deve passar todas as informações e
cópias necessárias para que este estude o caso. Porém, quando da realização da perícia,
geralmente os autos do processo estão na posse do perito, momento em que o assistente
técnico, se quiser, poderá ter acesso ao processo inteiro.

Quando o perito retira os autos do cartório esse passa a assumir a responsabilidade


civil e criminal do processo. Caso aconteça alguma coisa com o processo, este será
responsabilizado.

29
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Uma vez nomeado para o cargo, o perito fará carga dos autos e após analisado, decidirá
se aceita ou não esse papel tão importante. Frisa-se o perito não é obrigado a aceitar o
encargo.

Se aceitar, o perito deverá analisar todos os dados do processo, tais como: valor da
causa, as possíveis diligências a hospitais, clínicas e postos de saúde, além de gastos com
impressão e materiais ilustrativos, e apresentará uma proposta de honorários periciais.
Geralmente o perito judicial divide seus honorários em duas partes, a primeira seriam
os honorários iniciais, que é uma estimativa de todos os gastos e horas empenhadas para
a realização do trabalho, e a segunda parte reservada para honorário complementares
ou finais.

Isso ocorre porque o perito, no início pode estimar horas e gastos a menor. Para que
não haja nenhuma injustiça com o perito, este pode apresentar um valor final.

As partes poderão concordar ou não com o valor dos honorários periciais. Caso não
concorde, o juiz intimará o perito para esclarecer o porquê do valor apresentado. Depois
disso o juiz decidirá e arbitrará os honorários do perito judicial.

Havendo requerimento da prova pericial pelo autor ou por ambos e se o autor estiver
amparado pelos auspícios da justiça gratuita, o pagamento dos honorários periciais
será efetivado ao final por aquele que sucumbir ou pelo Estado se o sucumbente for o
autor.

Após a efetivação do depósito dos honorários ou do aceite para receber ao final pela
parte que sucumbir, o perito recebe a intimação para retirar o processo e dar início às
diligências periciais, sendo estipulado pelo juiz um prazo para a entrega do laudo.

Os assistentes técnicos devem apresentar seus pareceres em 10 dias depois da


apresentação do laudo do perito oficial.

Na prática esse prazo está sendo contado a partir da data de publicação referente à
juntada do laudo.

As regras para contagem do prazo processual são:

»» exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento;

»» começam a correr a partir do primeiro dia útil subsequente à intimação;

»» na hipótese de a intimação ocorrer em véspera de feriado, o primeiro dia


do prazo será o primeiro dia útil subsequente a este;

30
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

»» ocorrendo a intimação na sexta-feira o primeiro dia do prazo será na


segunda-feira, observando-se, no caso de ser feriado a regra anterior;

»» na hipótese de o vencimento do prazo cair em feriado, em dia que o


fórum não funcionar ou em dia que o expediente forense for encerrado
antes da hora normal, o prazo será prorrogado para o primeiro dia útil
subsequente.

Quando iniciada a diligência pericial, o perito deverá analisar meticulosamente


e cuidadosamente os documentos pertinentes. Dar ênfase às dúvidas técnicas
necessárias para que o juiz possa decidir a causa, além da análise minuciosa dos pontos
controvertidos. Deve estabelecer um roteiro da diligência e providenciar o contato com
as partes para que estes estejam cientes do dia e hora e local do início do trabalho.

A marcação do dia, hora e local do início dos trabalhos pode ser feita por meio de uma
petição, requerendo a intimação das partes pela secretaria da vara. Essa regra está no
artigo 431-A, do Código de Processo Civil.

Depois de proceder ao levantamento das documentações juntadas aos autos, o perito


deverá analisar se essas são suficientes para o trabalho pericial; se não for o perito deve
solicitar o depósito deles ou ainda o seu fornecimento pelos seus guardiões. Ainda,
o perito, poderá diligenciar pessoalmente prontuário médico e documentos afins nos
hospitais, clínicas e postos de saúde, registrando os achados que interessam para a
elaboração do laudo.

Importante ressaltar que todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados no Código de Processo Civil, são hábeis para provar a
verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. Esta norma está disposta no
artigo 332 do Código.

A prova pode ser constituída de: confissão, depoimento pessoal, inspeção judicial, prova
emprestada, prova documental e prova pericial, também conhecida como das provas a
mais importante.

Quando a prova do fato depender do conhecimento técnico ou científico, o juiz será


assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.

Assim a definição da prova pericial se faz por exame de situações ou fatos relacionados
a coisas ou pessoas, que neste caso é realizada pelo perito, ou seja, um profissional que
detenha conhecimentos técnicos ou científicos, que o Juiz não detém cuja finalidade
é esclarecer as dúvidas e contribuir com o esclarecimento do caso. Quando a perícia é
perícia médica então o profissional selecionado para esta função é um médico.

31
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Como visto, a prova pericial pode ser uma iniciativa do juiz ou mesmo de uma das
partes envolvidas.

Relação entre as partes

Existe uma convenção para a relação entre o perito e o assistente técnico:

»» relação cordial;

»» não existem lados da verdade;

»» o perito oficial não deve negar informações do processo nem a visita a


exames do assistente técnico.

Quando o perito é nomeado, as partes podem recorrer dessa decisão em até cinco dias,
com vários motivos, por impugnação, suspeição ou por carência de qualificação técnica.
Além disso, neste mesmo período de tempo as partes devem apresentar os assistentes
técnicos.

Não é necessário que o assistente técnico por ser contratado por uma das partes
discordar do perito oficial quando o perito chegar a uma conclusão correta, mesmo que
em desacordo com o seu interesse. Porém o seu dever é analisar com muita cautela o
laudo pericial, com análise desse.

Como foi dito o assistente técnico tem o direito de acompanhar todas as diferentes
diligências realizadas pelo perito com participação ativa, com a ressalva que o perito
que dita a direção da análise.

Se o juiz considerar pertinente as razões de alguma impugnação ou suspeição este pode


nomear outro perito, porém o perito tem o direito à defesa dessa acusação.

No CPC temos as seguintes situações previstas de suspeição ou impugnação do juiz


(art. 135 e 137), extensivas do perito (Art. 138): Se o perito se se enquadrar numa das
situações previstas no art. 135 do CPC, sua destituição será feita pelo juiz. Esse texto
não se aplica a assistentes técnicos.

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz,


quando:

I – amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;

II – alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu


cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o
terceiro grau;

32
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

III – herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das


partes;

IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo;


aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou
subministrar meios para atender às despesas do litígio;

V – interessado no julgamento da causa em favor de uma das


partes.

Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por


motivo íntimo.

Art. 137. Aplicam-se os motivos de impedimento e suspeição aos


juízes de todos os tribunais. O juiz que violar o dever de abstenção,
ou não se declarar suspeito, poderá ser recusado por qualquer das
partes (art. 304).

Art. 138. Aplicam-se também os motivos de impedimento e de


suspeição:

I – ao órgão do Ministério Público, quando não for parte, e, sendo


parte, nos casos previstos nos ns. I a IV do art. 135;

II – ao serventuário de justiça;

III – ao perito;

IV – ao intérprete.

§ 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a


suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na
primeira oportunidade em que Ihe couber falar nos autos; o juiz
mandará processar o incidente em separado e sem suspensão da
causa, ouvindo o arguido no prazo de 5 (cinco) dias, facultando a
prova quando necessária e julgando o pedido.

§ 2o Nos tribunais caberá ao relator processar e julgar o incidente.

33
CAPÍTULO 3
Conceito e campo de ação

Da perícia médica cível


Nós recorremos às palavras de Arruda Alvim (2007)3 para conceituar perícia:

A perícia constitui-se numa forma de provar, por meio da qual pessoas


especialmente capacitadas, em decorrência de conhecimentos especiais
(técnicos ou científicos) que possuem, por ordem judicial e, de acordo
com a sistemática da Lei no 8.455/1992, que alterou a redação do art.
422, independentemente de compromisso, informam o juízo a respeito
da ocorrência de determinados fatos, bem como o significado dos
mesmos (parte narrativa da perícia e parte conclusiva ou opinativa,
pela aplicação dos conhecimentos técnicos, ou científicos, sobre ditos
fatos). (ALVIM, 2007, p. 1.027)

De forma simplificada, podemos separar o conceito anterior em alguns pontos:

»» provar ocorrência de determinados fatos;

»» por meio de pessoas especialmente capacitadas = perito;

»» Emissão de parecer/laudo: iniciada a ação e havendo necessidade de se


comprovar determinada alegação feita pela pessoa, cuja matéria exige a
presença de um expert na área médica, para auxiliar o juiz a entender o
problema e dar a melhor solução para o caso concreto, o perito médico é
chamado, para realizar a perícia médica.

Para que se possa ter uma visão ampliada sobre as leis que regem as perícias segue o
fluxograma:

»» Leis para o exercício da medicina: Conselho Federal de Medicina (CFM),


Conselho Regional de Medicina (CRM) e Código de Ética Médica.

»» Legislação geral: Constituição Federal, Consolidação das Leis do Trabalho


(CLT), Medidas Provisórias (MP), estatutos e decretos.

»» Legislação da instituição: portarias, normas técnicas.

3 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p 1027

34
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

A perícia objetiva averiguar de forma técnica se determinados fatos, realmente,


ocorreram, demonstrando de forma simples ao leigo e, especialmente, ao juiz que
decidirá a causa. No presente estudo, uma vez que estamos tratando de perícia médica,
somente o profissional médico qualificado para tanto, tem a capacidade de analisar tais
fatos e traduzi-los para uma pessoa leiga.

É de suma importância que o perito médico judicial compreenda o seu papel, saiba de
seus deveres e direitos, para que realize, de forma impecável, o seu trabalho.

Assim, muito embora a perícia médica possa ser feita em vários campos de atuação, tais
como: penal, cível, administrativo, securitário, previdenciário e trabalhista, o presente
estudo se concentrará na perícia médica cível.

Perícia médica: atuação campo cível

Toda a perícia médica cível é feita em ação judicial que corre perante o Poder Judiciário.
A perícia da atividade médica é quase sempre imprescindível para estudar e esclarecer
a atuação do profissional e a sua responsabilidade em acusações de dano médico. Suas
responsabilidades assim se apresentam:

»» civil (pecuniária);

»» criminal (prisão);

»» administrativa (punição disciplinar).

Nas ações que se desenvolvem na esfera penal, a perícia busca evidenciar:

»» o corpo da vítima;

»» o meio ou a ação que produziu o dano;

»» o conjunto dos elementos sensíveis do dano causado.

Quando um determinado processo é ajuizado, um juiz é sorteado para decidir a causa.


Essa distribuição é, necessariamente, livre, para que não haja qualquer direcionamento
de processo a juiz amigo da parte (isso não pode ocorrer, em caso de o juiz ser amigo
íntimo da parte, cabe a ele recusar a causa, que será redistribuída).

Recebendo a ação, o juiz, analisará o caso e, entendendo haver necessidade de ser


realizada uma prova pericial médica, precisará do auxílio de um perito médico,
especialista sobre determinado assunto para realizar a perícia.

35
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Ressalta-se que se o juiz entender pela desnecessidade da perícia ou se já estiver


convencido para decidir o processo, poderá indeferir que a prova pericial requerida
pelas partes. A figura do juiz é para conter determinado conflito que surja entre as partes,
conflito esse que foi a razão para o ajuizamento da ação. Estando, este convencido,
não há necessidade de se onerar as partes com os honorários periciais, muito menos
aguardarem um período longo até que seja realizada a prova pericial para que o conflito
cesse. Com isso o juiz respeita as partes, especialmente aquela que teve o seu direito por
violado, bem como segue o entendimento consubstanciado no princípio constitucional
da razoável duração do processo, previsto no artigo 5o, inciso LXXVIII, da Constituição
Federal, na qual, a tutela jurisdicional somente é efetiva e eficaz se for célere o suficiente
para proteger o direito violado.

No caso da prova solicitada pelo magistrado, este geralmente estipula o prazo para
a conclusão da perícia, isso porque o processo não pode se arrastar por muitos anos
somente para que seja concluída a perícia.

O campo cível é o mais amplo de todos os campos, pois envolverá todas as questões que
não sejam trabalhista ou penal. Assim, na hipótese de discordância de resultados de
perícias realizadas nas áreas securitárias, previdenciárias, acidentárias ligadas a danos
à pessoa decorrentes à responsabilidade civil, tais como: danos decorrentes de acidente
de veículos, investigação de eventuais doenças psiquiátricas para casos de interdição etc.

Para facilitar a compreensão, a seguir um esquema ilustrativo sobre as etapas seguidas


no Poder Judiciário para dirimir uma questão cível.

Figura 7.

Ajuizamento do processo

Juiz responsável

Nomeação de um perito médico

Realização da perícia

Apresentação de laudo

Sentença

Fonte: Próprio autor.

36
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Lembrando sempre que no processo, não somente o perito é médico, mas também caso
as partes entendam necessário a indicação de médico de sua confiança para acompanhar
a perícia, têm o direito de indicar médicos para figurarem como assistentes técnicos, que
apresentarão laudos concordando, complementando ou discordando do laudo oficial.

Entretanto, a perícia médica pode ser realizada para ajudar juízes a julgar, advogados
e juristas para defender os argumentos e direitos de seus clientes, a determinadas
empresas, como seguradoras com a finalidade de pagamento ou não de indenizações
etc.

As finalidades fundamentais dessa perícia podem ser resumidas pelo seguinte ponto:

»» identificar o dano;

»» determinar o nexo causal ou concausal;

»» analisar o cumprimento dos deveres do médico;

»» avaliar as circunstâncias que se verificou o ato médico.

Nas questões de natureza cível têm-se os seguintes pressupostos:

»» agente/vítima (quem praticou/sofreu o ato);

»» dano (prejuízo);

»» nexo causal (relação de causa e efeito).

Os atos que geram responsabilidade civil são praticados com dolo ou culpa.

Dolo é a vontade de causar prejuízo a alguém, em benefício próprio, de terceiros ou com


a simples intenção de prejudicar. É a violação deliberada, consciente e intencional de
um dever jurídico.

Na culpa, o agente não visa causar prejuízo à vitima, porém sua atitude imprudente,
negligente ou imperita resulta em dano.

Os peritos podem apresentar-se, de acordo com a ocasião, sob três condições:

»» Oficiais: profissionais que realizam as perícias “em função de ofício”,


devido à sua posição de funcionário de repartição oficial que se ocupa
exatamente da prática pericial, como por exemplo os médicos do IML,
manicômio judiciário, entre outros.

37
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

»» Nomeados ou louvados: são peritos não oficiais, requisitados pela


autoridade judiciária, quando se necessita de um determinado exame o
qual não está disponível via Poder Público, ou então este não disponha de
repartição adequada.

»» Assistentes técnicos: designados para questões de cunho cível, sendo


profissionais de confiança das partes, que acompanham os exames
realizados pelo perito principal.

Art. 142. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi


cometido, independente de termo de compromisso. Os assistentes
técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou
suspeição.

Os destaques são:

»» honestidade;

»» idoneidade;

»» conhecimento técnico;

»» responsabilidade;

»» bom senso;

»» compromisso com a verdade.

Muitas vezes o perito não tem a colaboração do examinando, por isso a sua formação
de conhecimentos sólida é essencial. Deve ter um amplo conhecimento legislativo, ter
bom senso e ser firme em suas afirmações, para que qualquer outra força não afete seu
trabalho.

Já a perícia, produto final do trabalho do profissional perito, possui três subespécies:

»» Perícia direta: realizada pelo perito em contato direto com o indivíduo ou


material submetido a exame.

»» Perícia indireta: realizada por perito, levando-se em consideração dados


fornecidos de antemão sobre aquele caso em específico.

»» Contraditória: perícia que diverge do conteúdo de outra com a mesma


matéria em exame. Em matéria civil, o juiz pode designar nova perícia
ou prolatar a decisão. Já em matéria penal, o juiz solicita que ambos

38
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

apresentem suas conclusões (ao mesmo tempo ou em separado) e


submetam suas conclusões à análise de um terceiro perito, que, em caso
que gere nova divergência, acarretará no início do mesmo ciclo processual
de análise pericial do zero.

Para a confecção do laudo, este é formado pelas seguintes partes:

»» Preâmbulo: indica a data de início dos trabalhos, informado se há


presença de assistentes técnicos.

»» Identificação: deverá ser a mais completa possível. Comprovando a


identidade do periciado.

»» Exame médico/Histórico Médico: poderá ser dividido em histórico


profissional e histórico clínico, ainda pode existir os seguintes itens:
história familiar e história pregressa. Sempre esses itens deverão ser
direcionados ao item do estudo.

»» Exame físico direcionado: ou seja, dando ênfase ao sistema estudado,


devendo ser minucioso.

»» Documentos de interesse médico periciais: devendo apresentar


documentos ou laudos que comprovem ou contradizem o estudado.

»» Diagnóstico médico pericial: não é obrigatório. Algumas vezes o laudo


médico se restringe a confirmar ou excluir determinada patologia.

»» Fundamentação técnica: se dá pela adequação técnico-científica do laudo


pericial.

»» Discussões: análise do ponto de vista do médico pericial e também relata


as implicações funcionais e determina os danos estéticos e físicos. Já o
dano moral a discussão no foro exclusivo do direito.

»» Conclusão: sintetizar as respostas, de uma forma clara e objetiva.

»» Resposta aos quesitos: responder os quesitos que o Meritíssimo Juiz


tenha formulado.

Das partes relacionadas anteriormente, convém esclarecer que as mais importantes


são (i) a fundamentação técnica, que busca o enquadramento técnico-científico das
observações colhidas; (ii) a discussão – análise do ponto de vista médico pericial
das implicações funcionais para o fim de determinar os danos físicos e/ou estéticos,

39
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

enquadrando-os em tabelas próprias, definindo, em percentual, as perdas ou


reduções funcionais verificadas; (iii) conclusão – é a síntese das respostas aos pontos
controvertidos da lide, devendo ser clara, objetiva e conclusiva, e; (iv) resposta aos
quesitos – inicia-se pelos quesitos do juiz, depois os formulados pelo autor e por último
do réu.

Encerra o laudo colocando-se à disposição do magistrado e das partes para quaisquer


esclarecimentos.

Recebimento do alvará

Após a entrega do laudo, o juiz determinará a confecção do alvará para levantamento


dos honorários periciais depositados à sua disposição, liberando-o em seguida. Neste
mesmo momento determinará o prazo para que as partes se manifestem, cumprindo o
princípio do contraditório.

Como mencionado, pode ser que o perito apresente honorários periciais iniciais e finais.
Havendo necessidade de o perito levantar os honorários periciais iniciais, poderá fazer
um requerimento ao juiz esclarecendo essa necessidade. Geralmente, se fundamentado,
o juiz permite que o perito levante esse valor inicial para realizar a perícia.

Princípios ligados às provas processuais

Toda e qualquer ação deve ser ouvido os argumentos das duas partes, Autor e Réu.
Existem três princípios, previstos na Constituição Federal, artigo 5o, LV, que são: o do
Devido Processo Legal, da Ampla Defesa e do Contraditório.

A definição de princípio contraditório é o direito que as partes têm de se manifestarem


sobre as provas. Os tipos de manifestações são contraditar, discutir e questionar
argumentos e embasamentos técnicos que os peritos e os assistentes técnicos utilizaram
para chegarem a suas conclusões.

Se esse princípio não for respeitado a sentença pode ser anulada.

Todos os meios de prova poderão ser utilizados pelo perito para fazer o laudo.

Art. 429 do CPC: Para o desempenho de sua função, podem o perito


e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios necessários,
ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos
que estejam em poder da parte ou em repartições públicas, bem como

40
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer


peças.

Erros comuns cometidos por peritos inexperientes

Nenhum perito médico quer ter o seu laudo anulado. Assim, importante se atentar para
alguns erros comuns:

»» ignorar o princípio do contraditório;

»» diligência do exame médico pericial sem a presença dos assistentes


técnicos;

»» falta de justificativa para os laudos;

»» ausência de imparcialidade;

Recomenda-se evitar uso das seguintes expressões:

»» data vênia

»» in verbis

»» ex-officio

Como o laudo é realizado para traduzir a questão técnica para uma pessoa leiga, por
isso a linguagem deve se aproximar da cotidiana. É sempre bom evitar a utilização de
jargões médicos como: patognomico, anamnese e psicose.

Evitar que o laudo contenha:

»» frases duvidosas no laudo, as frases devem ser claras;

»» suposições sem provas processuais;

»» entrar no mérito de dano moral.

Quando o perito se dirigir ao juiz ou ao presidente do tribunal o mesmo deve fazê-lo


com toda a formalidade que o cargo exige, evitando os seguintes termos: “Caríssimo
Juiz”, “Sr. Juiz”, “Prezado Juiz” e também não é de bom tom encerrar o laudo com “sem
mais para o momento”, “Atenciosamente”, “Cordialmente” ou “Respeitosamente”.

Os termos corretos a serem utilizados são: Excelentíssimo Senhor, Vossa Excelência e


Meritíssimo.

41
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Não raras são as vezes em que o perito judicial é intimado para prestar os esclarecimentos
sobre o laudo médico. Isso se faz necessário, pois dificilmente as duas partes estão
satisfeitas com o laudo.

Após apresentado o laudo pericial, as partes serão intimadas para se manifestar sobre
eles. Geralmente uma das partes concorda com o laudo e a outra não.

Se a ação em que for realizado o laudo pericial tem um pedido de indenização por
incapacidade do autor e no laudo ficar constatado que existe essa incapacidade, é certo
que o réu, que irá ser condenado a pagar a indenização, tentará de todas as maneiras
descaracterizar o laudo.

Se houver pedido de esclarecimento por qualquer uma das partes litigantes,


primeiramente cabe ao Juiz avaliar qual a pertinência do pedido e se pertinente o perito
deverá responder em cinco dias as dúvidas, relacionados aos termos do laudo, ou ainda
requisitará o seu comparecimento em audiência a ser designada para prestar devidos
esclarecimentos.

Dano

O dano é um dos requisitos da responsabilidade civil, e havendo qualquer ação dessa


natureza, o perito judicial deverá verificar se houve ou não o dano. Para a responsabilidade
civil de determinada pessoa, deve-se existir os seguintes elementos:

»» o agente;

»» o ato;

»» a culpa;

»» o dano;

»» o nexo causal.

O dano pode ser traduzido como: o prejuízo causado a outrem em decorrência de


uma diminuição ou destruição do bem jurídico alheio. Prejuízo este que pode ser de
ordem patrimonial ou moral, como nos casos de violação ou ameaça aos direitos de
personalidade.

O dano é o elemento essencial da responsabilidade. Sem a existência de um dano


real, efetivo e concreto, não existe responsabilidade. É condição imprescindível e
indispensável em relação à responsabilidade e determina, em última análise, a pena ou
a indenização.

42
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

O dano, para ser reparável, deve ser certo, decorrente de fato preciso e suscetível de
avaliação razoável, para que possa ser reparado ou compensado. Portanto, o dano deve
ser concreto, ou seja, deve existir. Não havendo a possibilidade de ser hipotético ou
especulativo.

A classificação do dano é dividida em dois grandes grupos que se denominam de


patrimoniais e extrapatrimoniais.

»» Dano patrimonial: lesão a interesse juridicamente protegido componente


do patrimônio da vítima (suscetível de avaliação pecuniária).

»» Dano extrapatrimonial: lesão a interesse juridicamente protegido que


não integrante do patrimônio, como direito à imagem, a honra, ao nome.

Não entraremos no tema sobre o dever de indenizar em razão da perda de uma chance.
Porém, alertamos que, se uma sentença for proferida com base em laudo que teve falha
do perito, a parte vencida, verificando esse erro após o término do processo judicial,
poderia ajuizar ação de indenização contra o perito, demonstrando que sua conduta foi
negligente, imprudente ou imperita, o que ocasionou a perda processual, pleiteando,
assim, o que poderia ter sido auferido, caso o laudo não contivesse o erro.

Como o dano é requisito essencial do dever de ressarcir, sem a sua prova ninguém
poderá ser responsabilizado civilmente. A inexistência do dano é óbice à pretensão de
uma reparação, por não haver objeto.

Quando um determinado ato é praticado de forma a atender os limites da lei (ato lícito)
e é praticado com o cumprimento dos deveres do médico (informação, vigilância,
atualização e abstenção de abuso), um resultado danoso pode ser considerado um
acidente.

Exclusividade do médico pericial é a avaliação do dano. As matérias de estudo são:


avaliação do dano, relação entre a lesão ou alteração funcional e as causas alegadas
(nexo causal).

Assim, o estudo busca determinar o diagnóstico, a avaliação da perda funcional, o


estabelecimento do nexo causal, além de seu enquadramento legal.

Assim faremos uma pequena introdução em cada item:

»» Diagnóstico: identificar a lesão e/ou alteração funcional, perda de órgão


ou segmento corporal, ou alterações psíquicas decorrentes do trauma.

43
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

»» Avaliação da perda funcional: busca determinar a repercussão do dano


na capacidade de desenvolver atividades laborais e da vida social ou
equilíbrio psíquico.

»» Nexo causal: estabelece ou não a relação entre o dano e as causas alegadas.

»» Enquadramento legal: estuda as normais legais, oficiais ou técnicas que


regulam a matéria, para situar as lesões e/ou alterações ou reduções no
texto legal.

Avaliação do dano estético

A definição de dano estético é aquela que traz constrangimento ao portador, devido ao


escárnio, discriminação ou segregação.

A diminuição da estética não pode ser medida, de forma objetiva, por regras matemáticas,
porém o mesmo é passível de gradação, podendo se restringir a perda de uma falange,
passando por alterações em pele como sua cor e aspectos, e chegando a extremos como
de grandes deformações, lesão ulcerada crônica, constituindo até mesmo um aspecto
repugnante.

No dano estético deve-se considerar o local do corpo onde ocorreu a lesão (se exposto ou
não exposto), se em face ou em extremidades. Ainda dentro do conceito de dano estético
temos o dano estético cinético. O conceito de dano estético cinético é que quando o
indivíduo está parado não temos dano aparente, porém quando se movimenta percebe
se o dano, revelado por claudicação ou marcha alterada.

Assim o dano estético pode ser classificado de 1 a 5, essas categorias são as seguintes:

1. grau muito leve;

2. grau leve;

3. grau moderado;

4. grau acentuado;

5. grau muito acentuado.

Dano moral

O conceito de dano moral é aquele que se refere ao sofrimento causado pela dor e por
situações de constrangimento e penosidades vividas por um indivíduo em decorrência

44
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

de um determinado dano. Sendo a sua classificação subjetiva. É matéria de pertinência


exclusiva do Juiz.

Parâmetros para avaliação de incapacidade


produzidos pelos danos

A incapacidade deve ser analisada quanto ao grau, à duração e à profissão desempenhada.

Quanto ao grau a incapacidade laborativa pode ser parcial ou total:

»» parcial quando permita o desempenho de atividade, sem risco de vida


ou agravamento maior e que seja compatível com a percepção de salário
aproximado daquele que o interessado auferia antes da doença ou
acidente.

»» total quando gera a impossibilidade de trabalhar e atingir a média de


rendimento alcançada, em condições normais, pelos trabalhadores da
categoria do examinado.

Quanto à duração a incapacidade laborativa:

»» temporária: quando há prazo previsível de recuperação da incapacidade;


ainda temos que pensar que se houver recuperação integral temos a cura,
se estabilização com redução funcional temos a consolidação.

»» indefinida: insuscetível de alteração em prazo previsível com os recursos


da terapêutica e reabilitação disponíveis à época.

Quanto à profissão a incapacidade laborativa:

»» Uniprofissional: incapacidade que alcança somente uma atividade


específica.

»» Multiprofissional: incapacidade que abrange diversas atividades


profissionais.

»» Omniprofissional: incapacidade que implica a impossibilidade do


desempenho de toda e qualquer atividade laborativa, sendo conceito
essencialmente teórico, salvo quando em caráter transitório.

Portanto, podemos definir como invalidez a incapacidade laborativa total, indefinida


e multiprofissional, insuscetível de recuperação ou reabilitação profissional, que
corresponde à incapacidade geral de ganho, em consequência de doença ou acidente.

45
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Para que haja essa constatação é necessária a avaliação da capacidade laborativa dos
segurados que é feita pela perícia médica e tem como objetivo responder aos quesitos
estabelecidos, atendidos os conceitos e os critérios legais e regulamentares.

Outro ponto importante dessa lei refere-se à questão do acidente do trabalho, previsto
em seu artigo. 19, na qual define acidente do trabalho como sendo o que ocorre pelo
exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 da Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho.

Vejamos o que diz o Código Civil:

Art. 186 do Código do Processo Civil: aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927 do Código do Processo Civil: aquele que, por ato ilícito (Art.186
e 187), causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.

Art. 934 do Código do Processo Civil: aquele que ressarcir o dano


causado por outrem pode reaver o que houve pago daquele por quem
pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.

Nexo de causalidade

O último requisito da responsabilidade civil é o nexo de causalidade.

Essa relação de causalidade consiste na ligação entre a ação ou omissão do agente e o


resultado danoso. Trata-se do liame subjetivo necessário entre o evento danoso e a ação
que o produziu, de forma que se o dano não foi causado pela ação/omissão de quem se
pretende responsabilizar, não há que se falar em responsabilidade do mesmo.

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis
naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da
relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento
indispensável.

A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a


vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso

46
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto,
estabelecer a relação de causa e efeito. 4(VENOSA, 2007, p. 45)

No entanto, o nexo causal está presente, ainda que o resultado danoso seja causado
mediatamente pelo agente. Necessário é que, se demonstre que o dano não ocorreria
se o fato não tivesse acontecido, de forma que ainda que a conduta do agente não seja
a causa primeva do dano, sendo apenas a condição, o agente será o responsável. O
nexo causal é relação entre o ato e o dano. Para se estabelecer o nexo de causalidade, é
necessário que:

»» o dano tenha sido produzido por um determinado meio agressor;

»» o local da ofensa tenha relação com a sede da lesão;

»» haja relação de temporalidade;

»» haja uma lógica anatomoclínica;

»» não exista causa estranha motivadora do dano.

Desta feita, quanto aos pressupostos para se impor ao perito a responsabilidade civil,
é preciso a ação ou omissão culposa, o dano e o nexo de causalidade. Este último
caracterizado como o liame subjetivo entre a conduta do agente e o dano causado à
vítima.

O laudo pericial, em qualquer uma de suas formas, apresenta-se como uma invasão,
legalmente permitida, na esfera jurídica de outrem, devendo limitar-se, portanto, ao
permitido, para que o perito não tenha que responder pelos danos advindos de sua
conduta.

A responsabilidade civil do perito judicial não necessita de novos instrumentos


jurídicos, ou legislação específica, uma vez que fundamentos jurídicos da teoria geral
da responsabilidade civil orientam e resolvem a reparação ou compensação dos danos
nesta esfera.

Daí a necessidade de analisar os elementos e pressupostos da responsabilidade civil,


como foi feito, sempre é claro, conjugando com os princípios que regulam a atuação
médica e suas implicações.

Ilustração dos requisitos para o surgimento do dever de indenização.

4 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. Vol. 4. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 45.

47
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Figura 8.

Fonte: (VENOSA, 2007)

Abuso de direito

O Código Civil de 2002, em seu artigo 187, amplia o conceito de ato ilícito ao trazer
que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

Nesse caso na hipótese de o perito exceder os limites de sua função, por exemplo,
descumprindo o mandamento do artigo 98 do Código de Ética Médica, que veda ao
perito agir sem isenção ou ultrapassar os limites da sua competência/atribuição, o
perito estará cometendo um ato ilícito, na modalidade abuso de direito. Isso porque, o
perito tem o direito e o dever de agir para realizar o exame pericial, mas foi além de sua
atribuição, manifestando, por exemplo, em relação às questões jurídicas, que devem ser
resolvidas pelo juiz e não pelo perito.

Provas

No processo judicial é ônus do autor provar o fato constitutivo do seu direito. Cabendo
ao réu provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor, conforme determina o artigo 333 do Código de Processo Civil.

De maneira mais clara: no ordenamento jurídico brasileiro, o ônus da prova é, em regra,


de quem alega.

Excetuando as perícias realizadas na esfera criminal, por perito oficial, as demais


perícias poderão ser enquadradas no Código de Defesa do Consumidor (CDC), por
ser relação de consumo. Isso faz com que haja a inversão do ônus da prova, diante do
entendimento disposto no artigo 6o, VIII, do CDC.

48
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Como será visto a seguir, em capítulo específico, como o consumidor, no caso o paciente,
é considerada parte mais fraca na relação de consumo (consumidor x fornecedor/
prestador), a lei traz alguns ajustes, com a finalidade de diminuir essa desigualdade.
Dentre esses ajustes, um deles é passar ao fornecedor/prestador o dever de provar que,
o que o paciente está dizendo não está correto.

Essa transferência de responsabilidade de provar é o que chamamos de inversão do


ônus da prova.

De todo modo, se ficar comprovado que houve o dano, a culpa e o nexo de causalidade,
surgirá o dever de indenizar.

49
CAPÍTULO 4
O papel do médico perito nos
processos judiciais

Obrigações dos médicos


São deveres de qualquer médico e assim até do perito médico:

»» avaliar sua própria capacidade;

»» atualizar os seus conhecimentos;

»» utilizar todos os meios científicos e técnicos e também outros profissionais


em auxílio próprio;

»» informar o paciente e sua família;

»» confrontar opiniões;

»» se necessário transferir o paciente para outras especialidades ou outros


profissionais;

»» cuidar e zelar o prontuário médico.

O prontuário é um documento valioso, isso inclui o Prontuário Médico Funcional


do Trabalho, Prontuário Médico do Consultório, Prontuário Médico Hospitalar
todos esses zelados e mantidos pelo médico. Esse documento é elaborado de
forma imparcial (pois não representa o interesse de quem o fez), incontestável.
O perito deve se ater aos seguintes quesitos: adequação, moderação, precisão,
tempestividade e acurácia. Esses quesitos são tão importantes que também
devem ser observados em seu próprio laudo.

Sobre o prontuário, Oswaldo Froes cita: “Seu preenchimento adequado possibilitará a


demonstração do retrato do fato, através de lentes cujas cores e acuidade são fornecidas
pelo Perito Médico”.

Sabemos também que como médicos e humanos somos passíveis de erros, porém o
que não se admite é a ação culposa, ou seja, que atuem com negligência, imprudência e
imperícia, ou mesmo com dolo, intenção de prejudicar alguém.

50
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Entende-se perfeitamente a dificuldade do médico réu desde logo estabelecer


o diagnóstico de doença rara. O que não se perdoa é a sua inércia, deixando de
valer de todos os cuidados e da atenção exigíveis naquelas circunstâncias.

Logicamente também esse conceito é aplicado na perícia médica, ou seja, sempre


observar técnicas periciais diretas e indiretas clássicas, para que a conclusão seja
fundamentada e feita é preciso uma meticulosa revisão; além de máxima atenção na,
ou seja, com a máxima precaução.

Como qualquer médico que pode ser analisado, o perito médico responderá por erro,
com dolo (ou seja, intencional) ou por culpa (não intencional).

No caso de perícia médica de erro médico, o perito médico deve detalhar os fatos, sem
adentrar a manifestação da imputação deste fato.

Falsa Perícia Art. 342 do Código Penal: fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena – reclusão, de um a três
anos, e multa. § 1o Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa. §
2o As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
§ 3o O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata ou
declara a verdade.

Então abrange a competência do perito médico, quando atua em erro médico,


por meio do seu laudo auxiliar o juízo na ponderação dos elementos de culpa
e dolo, é importante saber que nisso se baseará a avaliação da sua prática
profissional.

O perito deve avaliar e também será avaliado em questão de “Comportamento realizado


x Comportamento devido”, e lembrando sempre que a visão do perito é muito relevante
neste momento. Justamente por poder conter erros não é elemento decisório único do
juiz. Além disso, quando da realização da perícia médica, o perito poderá estar assistido
por assistentes técnicos indicados pelas partes. Isso faz com que o perito seja ainda
mais atencioso para seguir todos os procedimentos devidos.

Nestes casos, avaliará a conduta de cuidados conforme o parâmetro de cada caso.


Lembramos sempre que a obrigação de qualquer médico é ser imparcial e isso abrange
o perito médico. Por isso os meios utilizados devem estar sempre adequados aos
resultados pretendidos, ou seja, no caso de médicos visando o benefício dos pacientes.

51
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

No caso do perito médico deve fazer para exaltar a verdade. Desse modo, o laudo deve
ter a visão de riscos e benefícios, ajustando-se à idoneidade terapêutica, aos deveres de
cuidados, ou de uma técnica médica cautelosa.

Por isso a prova de prevenção de riscos é fundamental para o médico. Observamos que
o perito médico é considerado o médico de maior capacidade para avaliar erros. Em
razão disso haverá maior consequência e rigor no que o envolve.

Risco permitido

Risco permitido é basicamente a avaliação se a conduta adotada pelo médico teve um


risco além do aprovado pela arte médica. Isso é dado pelo progresso tecnológico. Essa
definição não elimina o perigo, mas tolera alguns atos.

Temos também que relembrar o conceito de Perda de uma Chance, ou seja, que culpa
do médico comprometeu as chances de vida e a integridade do paciente, segundo
Miguel Neto (2003), e se aplica segundo a Corte de Cassação Francesa (1965), onde se
supõe que o prejuízo consiste na perda de uma possibilidade de cura ou de recompor
a verdade e, em consequência, condena à obrigação de indenização por essa perda.
Assim, a tarefa do médico perito é evidenciar tal situação, contudo isso não se aplica
à sua atuação propriamente dita. Lembrando que o seu laudo deve apenas informar
sobre as possibilidades existentes, mas nunca imputando fatos às partes.

Boa e má prática profissional

Devemos observar principalmente:

»» falta de competência;

»» falta de experiência;

»» falta de habilidade;

»» falta de atenção;

»» descuido.

Todo ato médico pericial envolve complexidade, visto que é retrospectivo e prospectivo.
Pode ser prova técnica no Judiciário, quando o exame do fato controvertido exigir.
O perito pode ainda ser convocado pelo juiz para comparecer em audiência, para
prestar esclarecimentos e informações sobre a perícia realizada, com a finalidade de

52
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

dirimir dúvidas ou alguns pontos obscuros. Nessa hora os esclarecimentos serão feitos
oralmente para o juiz.

Admite-se prova técnica nos juizados especiais, por meio de simples


esclarecimento do experto em audiência (JEC, Apelação no100/1996, 1a Turma
Recursal, Belo Horizonte, rel. Marine da Costa-in Informa Jurídico 25)

O art. 35, caput, e seu parágrafo único, da Lei Federal no 9.099, de 26/9/1995, em
consonância com o princípio geral da oralidade do art. 2o do mesmo estatuto, conduzem
à conclusão de que no sistema dos juizados especiais, a prova técnica poderá ser
produzida, desde que seja apenas oralmente (TJSC-CC 97.000813-9 – 2a CC- rel. Des.
Nelson Schaefer Martins - julg. 10/4/1997).

O Fórum Nacional de Juizados Especiais (Fonaje), ao tratar da matéria, publicou o


Enunciado 12, segundo o qual: “A perícia informal é admissível na hipótese do artigo 35
da Lei 9.099/1995.” Dessa forma, conclui-se que, para o Fonaje, as perícias “formais”
caracterizam as causas complexas e afastam a competência dos Juizados Cíveis.

Principais características e erros das provas


periciais
A principal função da prova pericial é – por meio do profissional (perito) – o juiz ter
um entendimento melhor do caso para que seja conseguida uma conclusão. Por isso, tal
prova deve ser clara e objetiva, para que a informação possa ser utilizada e interpretada.

Para que a prova pericial seja confiável o perito deve trazer laudos fundamentados com
pesquisa e apresentar o método que o levou a conclusão.

As principais características dos laudos periciais são:

»» clareza;

»» objetividade;

»» segurança;

»» fundamentado;

»» conclusivo.

53
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

O juiz pode indeferir ou pedir para realizar a prova pericial, isso pode acontecer
quando as partes na inicial ou contestação apresentem suficientes pareceres técnicos
ou documentos.

Quando a prova for deferida ou requerida por ele, o mesmo ainda poderá indeferir
quesitos que neste caso são impertinentes e incluir quesitos que são pertinentes a seu
ver.

Caso o juiz não se sinta esclarecido, este, poderá designar nova perícia.

Art. 436 do CPC: o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo
formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos
autos.

Art. 437 do CPC: o juiz poderá determinar; de ofício ou a requerimento


da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer
suficiente esclarecida.

Art. 438 do CPC: a segunda perícia tem por objetivo os mesmos fatos
sobre que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou
inexatidão dos resultados a que esta conduziu.

Art. 439 do CPC: a segunda perícia rege-se pelas disposições


estabelecidas para a primeira.

Parágrafo único. A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao


juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.

Formação técnica exigida para atuação o perito


médico

Para ser perito médico, além de requisitos como conhecimentos teóricos, experiência
clínica, exige-se idoneidade, tempo para examinar adequadamente, responsabilidade
e conhecimento de critérios jurídicos ou administrativos que utilizará na sua área de
atuação.

A experiência médica segundo os dados do Conselho Federal de Medicina (CFM)


apresentados no 13o Congresso da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, em
Vitória, ES, assim deve ser observada:

»» Médico com residência médica ou titulação oficial com exercício


profissional de até 10 anos = Inexperiente.

54
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

»» Médico com residência médica ou titulação oficial com exercício


profissional entre 10 a 15 anos = Experiente.

»» Médico com residência médica ou titulação oficial com exercício


profissional com mais de 15 anos e com 5 anos de experiência na área de
Perícia Médica = Experiente com Boa Expertise.

Segundo Motta no seu livro Manual de Iniciação em Perícias Médicas: o limite


da atuação dos médicos brasileiros se dá na associação da Lei Federal no 3.268, de
30/9/1957, com a Resolução do CFM no 1.246, de 8/1/1986 conferem para o médico o
direito de:

»» diagnosticar;

»» tratar;

»» acompanhar e emitir laudos, independente da especialidade.

Assim Motta entende que todo médico que tem habilitação legal para exercer sua
atividade em qualquer ramo da medicina torna-se especializado, pois pode vir de seu
conhecimento teórico cada vez mais aprimorado e também de anos de experiência.
Assim, poderá ser especializado de forma suficiente para ser chamado inclusive de
Perito Médico.

Porém segundo a Resolução CFM no 1.785/2006 (Publicada no DOU de 22 de jun.


2006, Seção I, p. 127) no Anexo II- item 1, letra o -, o que remete ao entendimento de
que o médico só poderá fazer divulgação e anúncio se de fato possuir e for registrado no
conselho da classe Conselho Regional de Medicina (CRM), de até das especialidades e
duas áreas de atuação.

O fato de não possuir titulação oficial não exclui o direito legal de o médico atuar em
qualquer área, pois provará sua competência e capacidade, ou seja, demonstrará que é
especializado, e tem conhecimento para ser chamado para dirimir dúvidas.

Porém, mesmo tendo a habilidade é, contudo, aconselhável obter a titulação específica,


com a Associação Médica Brasileira, em Perito Médico, pela Associação Brasileira de
Medicina Legal e Perícias Médicas, assim será ratificado o aperfeiçoamento técnico.

O médico com menos tempo de atividade clínica deve evitar ser perito para sua própria
segurança. Assim neste tempo se tem o desejo de ser médico perito deve se aperfeiçoar.

55
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

O tempo de amadurecimento é essencial em todas as áreas profissionais, assim para o


médico também é importante ser exigido esse tempo, pois assim a maturidade clínica é
maior e o laudo melhor elaborado.

A perícia médico legal se faz no morto. No vivo, no ofendido, no indicado no jurado e


tem como objetivos:

Na área cível:

»» caracterização dos danos físicos e mentais;

»» capacidade civil;

»» erro essencial de pessoa;

»» investigação de paternidade;

»» acidente de trabalho.

Hipótese diagnóstica

Vale lembrar que o grande responsável pelo diagnóstico é o médico, e assim também
se comporta o perito médico. Em outras palavras o diagnóstico não é dado por exames
complementares ou atestados, esses são chamados de “provas dos autos”.

A hipótese diagnóstica é baseada em uma anamnese bem estruturada e exame


físico, também em exames subsidiários, mas nunca exclusivamente em exames
complementares. Faz parte de uma boa anamnese para o médico perito a história
ocupacional do paciente analisado, pois ai pode estar a chave para o diagnóstico correto.

O perito médico pode também se utilizar da Medicina Baseada em Evidência (MBE).


Vale lembrar aqui que mesmo que aceita pela maioria dos médicos, a MBE não é
unânime, por isso bom senso em primeiro lugar.

A função de médico do trabalho é eticamente incompatível com a função de


médico perito na própria empresa. Resolução CFM no 43/1995. Porém existem
algumas decisões judiciais invalidando essa resolução.

Ainda outra limitação: o médico não pode ser perito de paciente para quem
preste atendimento como assistente, mesmo que o faça em entidade pública.
Resolução CFM no 18/2006.

56
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Exame do perito médico

Diferente de como normalmente ocorre o exame e consulta médica, no qual o paciente


escolhe livremente o seu médico, onde a relação de médico paciente já parte de uma
boa premissa, o exame pericial não deixa escolhas por parte do periciando. Isso desfaz
a possibilidade de uma boa relação médico paciente.

Assim, o periciando deve fazer um exame, que em geral, ele não escolhe fazer, por
interesse de um terceiro ou para cumprimento das normas legais ou para esclarecimento
de autoridades. Também será examinado por um médico que ele não tem relação e
trazendo consigo conceitos já pré formados. O periciando pode enxergar no médico
perito um entrava para suas expectativas, e isso pode ser uma dificuldade a ser superada
pelo perito para a realização de sua avaliação.

Os resultados desses exames serão públicos, porém com vários níveis de publicidade,
dependendo do tipo de perícia realizada. Também é importante salientar que o perito
não pode ter nenhum envolvimento com qualquer parte da perícia, nem mesmo com o
médico assistencialista do periciado.

As características das pessoas examinadas são diferentes, a primeira diferença já se


dá pelo nome, em outras especialidades médicas é o paciente, na perícia médica é
periciando ou periciado. Nos exames médicos normalmente o paciente está inclinado a
ajudar o médico no exame físico, pois isso dependerá muitas vezes a sua saúde. Na perícia
médica o periciando pode ter uma interferência ativa, pois, vê ali uma possibilidade de
perda de seus ideais. A história médica muitas vezes é distorcida pelo periciando na
possibilidade de ganho secundário.

Conceitos éticos dos peritos em geral

Podemos citar 10 conceitos éticos dos peritos em geral:

1. Recusar o assédio sob qualquer forma.

2. Silenciar sobre informações contidas nos autos do processo.

3. Não revelar segredos os quais teve acesso em razão do seu ofício.

4. Não divulgar o resultado da perícia antes do protocolo do laudo.

5. Manter a máxima imparcialidade durante os trabalhos periciais.

6. Abster-se de informações impertinentes e irrelevantes à perícia.

57
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

7. Não encerrar os trabalhos periciais enquanto persistirem dúvidas acerca


do objeto.

8. Observar com zelo os prazos da justiça, honrando a sua nomeação.

9. Evitar envolvimentos ou contendas, seja com as partes, advogados,


funcionários da justiça, com assistentes técnicos, dispensando tratamento
cerimonioso e profissional para todos.

10. Não se prevalecer da função exorbitando do poder.

É importante para o perito médico a comprovação da sua experiência profissional,


independente da área que queira atuar: jurídico administrativa, trabalhista, cível,
ético-profissional, previdenciária, securitária, administrativa.

Deveres de conduta do médico

Segundo Nerio Rojas: “a função pericial requer duas condições ao médico: preparação
técnica e moralidade. Não se pode ser um bom perito se faltar uma destas condições.
O dever da perícia é dizer a verdade; para isso é necessário primeiro encontrá-la e,
depois, querer dizê-la. O primeiro é um problema científico enquanto o segundo é um
problema moral.”

Para melhor interpretar essa frase vamos falar sobre a preparação técnica que se dá
justamente pela formação básica de médico somada a uma capacitação especializada.
Sobre a segunda parte da frase, deve se entender um pouco sobre ética médica, que pode
ser dividida em direitos e deveres. O direito também se denomina diceologia, que quando
engloba peritos são: condições de trabalho boas, remuneração adequada, autonomia
profissional, prática da perícia sem discriminação, pontuar falhas institucionais, recusar
ou suspender a prática da perícia quando as condições de trabalho não forem adequadas
e dedicar se a perícia o tempo necessário. Por outro lado também os deveres são bem
esclarecidos, são denominados deontologia: não discriminar, não prejudicar e respeitar
o examinado; atuar com diligência; atualizar-se; manter a autonomia; não delegar atos
exclusivos do perito; manter o segredo médico; manter o respeito por colegas.

Assim os deveres devem ser divididos em deveres médicos (confidencialidade) e deveres


dos peritos (objetividade).

58
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

O perito então deve manter-se sobre os princípios deontológicos:

»» Princípio da não maleficência.

»» Princípio da autonomia.

»» Princípio da confidencialidade.

»» Princípio da objetividade.

»» Princípio da honestidade.

»» Princípio da verdade.

»» Princípio da justiça.

A responsabilidade ética do perito se dá por obrigações, como a palavra responsabilidade


adquire um sentido jurídico, nela está inserido, portanto valores morais e legais. Então
é importante conhecer os quatro deveres de conduta do perito.

Dever de informação

Disponibilizar de todas as informações necessárias ao periciando, o mesmo deve


conhecer as práticas, condutas ou qualquer intervenção a ser realizada.

Também neste mesmo dever deve se respeitar a autonomia do periciando, ou seja, a


capacidade da sua própria escolha.

Dever da atualização

Obter sempre conhecimentos recentes e/ou atualizar os conhecimentos que já possui.


Não só a prática em perícia fornece instrumento para a perícia, deve se também ter uma
busca incessante pelo conhecimento. Na especialidade médica de perito a atualização
é mais cobrada, pois, esse profissional é entendido como sendo o médico de notórios
conhecimentos ou especialista, como já foi visto. Não podendo desconsiderar:

»» a complexidade do caso;

»» o recurso material disponível;

»» a qualificação do médico;

»» o local e as condições de trabalho.

59
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Dever de atenção

Esse dever expressa principalmente zelo pela prática da perícia. Assim é muito
importante que a prática profissional e a vaidade não influenciem os laudos. Todos
devem ser tão zelados e caprichados como o primeiro.

Dever de abstenção de abuso

Nesse caso deve esclarecer se o profissional, no caso médico, agiu com cautela devida,
assim descaracteriza a precipitação, inoportunismo e insensatez. Se o dano ocorreu
por uso de terapêutica arriscada, sendo uma forma de abuso de poder, não se nega a
responsabilidade profissional.

Código de ética médica

O Código de Ética Médica é um conjunto de regras que devem ser seguidas por quem
exerce a profissão. Na verdade tem um conteúdo de princípios universais que regem a
conduta na profissão.

Segundo Monge (2013), existem cinco valores que sumarizam a atenção ao doente. São
eles:

1. A dignidade da pessoa e da sua vida.

2. O bem pessoal da saúde.

3. O princípio terapêutico.

4. A liberdade e responsabilidade do enfermo e do médico.

5. O valor da solidariedade social.

Assim pode se dizer que o código de ética médica é um código deontológico, ou seja,
que considera as obrigações morais. Todas as profissões tem um código deontológico a
ser seguido. São algumas as diferenças entre os códigos deontológicos das profissões,
porém a estrutura desses códigos se baseia em 4 pilares:

1. Deveres gerais dos médicos, onde se discute publicidade médica,


consultório médico, clientela.

2. Deveres para com os enfermos, onde se discute a preservação da vida,


dedicação á medicina, autonomia do paciente e confidencias do paciente.

60
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

3. Deveres dos médicos entre si, participação em equipes, relação com


colaboradores entre outros.

4. Deveres com a coletividade, exercício da medicina social, medicina


preventiva e medicina legal.

No Brasil o código de ética médica é baseado no Corpus Hippocraticum e no Código


Internacional de ética Médica, além da observância dos princípios proclamados nas
declarações de Nüremberg, Genebra, Helsinque, Tóquio, Sidney, além, da Declaração
Internacional de Direitos Humanos.

Os princípios mais importantes são:

»» autonomia profissional;

»» rejeição ao mercantilismo;

»» educação continuada;

»» defesa dos direitos sociais;

»» responsabilidade na melhoria da saúde da população;

»» sigilo profissional;

»» benefício incondicional ao doente.

O código de ética médica do Brasil é dividido em 14 capítulos e 145 artigos. Vejamos os


capítulos que compõem o código.

Capítulo I: Princípios Fundamentais – 19 artigos

Capitulo II: Direito do Médico – 9 artigos

Capítulo III: Responsabilidade Profissional – 17 artigos

Capítulo IV: Direitos Humanos – 10 artigos

Capítulo V: Relação com pacientes e seus Familiares – 16 artigos

Capítulo VI: Doação de Transplante de Órgãos e Tecidos – 4 artigos

Capítulo VII: Relação entre Médicos – 10 artigos

Capítulo VIII: Remuneração Profissional – 16 artigos

Capítulo IX: Segredo Médico – 8 artigos

61
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Capítulo X: Atestado e Boletim Médico – 8 artigos

Capítulo XI: Perícia Médica – 4 artigos

Capítulo XII: Pesquisa Médica – 9 artigos

Capítulo XIII: Publicidade e Trabalhos Científicos – 10 artigos

Capítulo XIV: Disposições Gerais – 5 artigos

Perito deriva do latim e significa experimentado ou também experto. Segundo Bernard


(1997), perito possui conhecimento ou simplesmente prática suficiente para decidir
sobre fatos que outros não são capazes. Calabuig na mesma linha de pensamento que
Bernard define perito como possuidor de conhecimentos especiais, além de assessor de
juízes.

Pode se concluir então que perito é possuidor de um conhecimento especial dentro de


certa matéria, porém isso não basta para caracterizar um perito, esse também deve ter
experiência.

Para uma definição legal perito significa médico que presta conhecimentos científicos e
conclui a questão exposta, podendo ser absoluta, provável ou possível.

Ainda segundo Gómez de Liaño: “a demonstração da verdade de uma afirmação, da


existência de uma coisa ou da realidade de um fato.”

Segundo Estevill (1995) e Junior (2009) : “O perito médico é para o juiz o que a
lupa é para o profissional da crítica de obras de arte: pode e deve ajudá-lo a ver
melhor os detalhes da obra, mas em nenhum caso lhe dirá se está boa ou má.”

Algumas características são importantes para a formação de um bom profissional


médico perito:

»» ter conhecimento técnico-cientifico de sua profissão.

»» atualizar esse conhecimento sempre.

»» ter conhecimento jurídico.

»» examinar com cautela.

»» interpretar e analisar com clareza.

»» apresentar hierarquia dos feitos.

»» conclusão com prudência.

62
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

»» e acima de tudo, imparcialidade e veracidade.

O perito pode ser requisitado em várias situações:

»» Direto Penal (mortes violentas, lesões corporais).

»» Direito Civil (filiação e paternidade).

»» Direito do Trabalho (acidente de trabalho, doenças relacionadas ao


trabalho).

»» Direito Administrativo (incapacidade e descapacidade).

Para uma boa prática da perícia médica deve-se fazer relação entre causa e morte/lesão.
Além disso, com o mesmo raciocínio de boa prática na perícia médica, é necessário que
o perito desenvolva objetividade, assim com as provas materiais e sua interpretação
sobre os fatos consiga passar a mensagem da forma mais clara possível.

Rojas (1984) fez um decálogo de para a prática da perícia médica:

1. O perito deve atuar com a ciência do médico, a veracidade da testemunha


e a equanimidade do juiz.

2. Deve ser um arguto observador e infenso a pressões de qualquer natureza.

3. A exceção pode ter tanto valor quanto a regra numa perícia.

4. Desconfiar dos sinais patognomônicos que não existem em perícia


médica.

5. Seguir o método cartesiano.

6. Não confiar na memória.

7. Uma perícia pode não ser refeita.

8. Pensar com clareza para redigir com precisão.

9. As conclusões devem ser objetivas e prudentes.

10. A perícia não detém uma inteligência exclusiva e restritamente


especializada, mas depende de demais áreas da medicina para suas
conclusões.

63
CAPÍTULO 5
Documentos médico-legais e periciais,
relatórios, pareceres, atestados e
laudos

Hoje sabemos que o prontuário eletrônico é permitido, porém na perícia o que será
avaliado é a cópia impressa. A seguir, alguns tipos de documentos médicos:

Documentos médicos simples:

»» receitas;

»» evolução e prescrição em papeletas;

»» laudos de exames.

Documentos médico-legais:

1. atestados;

2. notificação/ pareceres;

3. relatórios.

Documentos médicos para a justiça

1. Ofícios.

As receitas médicas podem ser classificadas como:

1. receita simples;

2. receita especial carbonada;

3. controle de retinoicos e talidomida;

4. receita tipo b- receituário azul;

5. receita tipo a- receituário amarelo.

Vale lembrar que não existe uma obrigatoriedade do carimbo, porém em instituições
poderá ter uma norma interna que oficialize esse uso. Na receita carbonada além de
dados do médico deve ter um campo para o farmacêutico assinar e se identificar. A

64
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

receita azul para ser impressa a gráfica deve ter uma permissão da Secretaria de Saúde.
Muito semelhante à receita azul é o controle de retinoicos. Já a receita amarela tem um
modelo que é fornecido pela própria Secretaria da Saúde.

As papeletas nos hospitais são divididas didaticamente em admissão, evolução e


prescrição, anotações da enfermagem e anotações de exames complementares. Lembre
se que neste local esta a maior defesa do médico contra acusações de erro médico. Não
esquecendo que é obrigatório uma letra legível. Quando eu escrevo no prontuário o
laudo de um exame de imagem, o mesmo faz parte de um raciocínio que o médico está
tendo no momento, não é simplesmente transcrever um exame.

Sobre os documentos médicos legais, existe uma discussão se o depoimento médico


pode ser um documento também, ele se torna quando for transcrito e assinado pelo
médico.

A definição de atestado é de afirmar uma verdade e suas consequências jurídicas; não


há diferença substancial entre atestado e declaração. No atestado deve conter não só a
identificação dos beneficiários, mas também a finalidade que esse atestado possui. Os
atestados são classificados como:

»» clínicos;

»» de óbitos;

»» graciosos;

»» falsos.

Itens que devem conter no atestado:

»» finalidade;

»» a pedido de quem;

»» fato que se atesta ou declara;

»» enfermidade especifica ou cid-10;

»» data;

»» assinatura;

»» carimbo.

65
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Para definir a finalidade do atestado ao invés de utilizar a expressão para devidos


fins, devemos especificar o fim, como por exemplo: para fins escolares ou para fins
trabalhistas. Na parte de a pedido de quem, costuma se escrever a pedido do próprio
paciente.

Já o atestado de óbito tem normas específicas, lembrando que a declaração de óbito é o


documento na sua integra. No preenchimento desse tipo de atestado, não preenchemos
o dado de causa da morte, mesmo nos casos em que fomos o médico legista. Não existe
honorário para esse tipo de atestado.

Os atestados graciosos são pedidos de terceiros a médicos, normalmente recusa se esse


tipo de atestado com delicadeza. Vamos atentar para a falsidade de atestado médico do
Código Penal Brasileiro.

Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado


falso:

Pena - detenção de 1 (um) mês a 1 (um) ano.

Esse artigo é aplicado apenas para aplicado para médico


consciente da falsidade do atestado. Isso está se destacando na
imprensa, pois vem crescendo o pagamento por atestados.

Já a notificação é a obrigatoriedade legal. Vejamos:

Art. 269, do Código Penal – Deixa o médico de denunciar à


autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Os tipos de relatórios são:

»» auto;

»» laudo;

»» parecer.

São os pareceres respostas às perguntas.

O laudo pericial é livre de redigir, porém espera se que siga um roteiro:

»» Cabeçalho das folhas deve ser timbrado para dar autenticidade.

»» Qualificação do médico que realiza a perícia para que com essas


informações possa se avaliar o peso das informações.

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PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

»» Ementa do processo: os três primeiros dígitos mostram a localidade ou


o foro onde está transitando nos processos estaduais. Os dois próximos
números informam o ano em que foi protocolado. Os cinco ou seis
números subsequentes informam o número específico desse processo;
além de um número após o travessão que é da informática.

»» Qualificação do examinado: nome, dados de filiação, número de


documentos, naturalidade etc.

»» Análise cronológica dos documentos médicos: colocar em ordem de


acontecimento, isso é melhor para o leitor e para o próprio perito que
está lendo. Isso tem a inclusão de depoimentos, resultados de exames,
medicamentos em uso, análise de papeleta.

»» Transcrição de trechos de bibliografia: no mínimo 3 autores devem ser


citados como referência bibliográfica.

»» Exame objetivo: em pessoa viva, diferente do que acontece no consultório,


cada sintoma deve ter um sinal ou exame complementar que comprove
isso, se isso não for possível, deverá ser descrito os sintomas sem sinais
comprobatórios. Lembre se que devemos ter o máximo de minúcia tanto
na anamnese e no exame físico. No caso de pessoas já falecidas devemos
ter a possibilidade de necropsia e exumação.

»» Relato da visita ao local: se foi realizado no consultório ou hospital,


considere a possibilidade de visita ao local dos eventos.

»» Discussão e/ou comentários: se houver diferentes opiniões na literatura,


então ambas deverão ser citadas.

»» Resposta aos quesitos contidos no processo: ter clareza e objetividade.


Deve anterior a resposta colocar o quesito na íntegra.

»» Conclusão: na verdade é um resumo dos itens encontrados, sem invadir


a competência do juiz. A existência ou não de diploma ou CRM deve ser
mencionada.

»» Finalização do laudo: deixar claro que a resposta ali contida se faz apenas
para o caso mencionado, não podendo estender se para casos semelhantes.

O cuidado que o perito deve ter ao elaborar um laudo deve ser de acordo com o tipo de
pessoa a quem se destina, por exemplo, não temos a preocupação de descrever maiores
detalhes sobre cianose de extremidades, a não ser quando a pessoa leiga que analisará
67
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

o laudo talvez precise de mais detalhes para ter a correta interpretação desse sinal.
Também as palavras utilizadas devem ser claras para que a pessoa a quem se destina o
laudo consiga fazer a correta interpretação.

Importante evitar o uso de frases negativas, para que o leitor não se confunda. Se
provavelmente o leitor tiver dificuldades com alguns termos médicos então pode se
colocar a interpretação; ou em palavras coloquiais; entre parênteses.

Também se têm os:

»» Exames complementares: exame complementar de lesão corporal se dá


quando a lesão é de natureza grave.

»» Exame de conjunção carnal: tem por objetivo resguardar os direitos da


vítima e enquadrar o periciado nos artigos 213 e 217 do código penal.

»» Exame de atentado ao pudor: esclarecer atos libidinosos.

»» Exame de aborto: esclarecer a responsabilidade, se da própria ou do


praticante do ato.

»» Exame de idade: esclarecer a correta idade no momento do delito para


que a correta lei se aplique.

»» Exame de validez: verificar se o periciado tem a saúde e aptidão para suas


atividades laborais.

»» Exame de embriaguez: se o periciando estava em uso de álcool.

»» Exame cadavérico: verificar a causa jurídica da morte sempre que possível.

»» Autoexame cadavérico de aborto: se a morte foi precedida de intenção de


aborto.

»» Autoexame cadavérico de infanticídio: se a morte foi ocasionada durante


o parto ou logo após o mesmo.

68
CAPÍTULO 6
Como elaborar quesitos

Conceitos em quesitos
Trata-se o quesito de uma indagação feita pela autoridade, pela lei ou pela parte que
deve ser respondida obrigatoriamente pelo perito. O termo quesito difere de pergunta
porque o quesito sempre está inserido em um processo ou inquérito e deve obedecer a
normas jurídicas.

Os quesitos podem ser elaborados pelo advogado ou por assistente técnico (AT), Se
for realizado pelo assistente técnico, esse quesito deve ser com o conhecimento do
advogado da parte. O perito não elaborará quesitos, esse papel é do advogado e do juiz,
que poderão ser assessorados por outros médicos para a sua elaboração. O membro do
Ministério Público pode, também, apresentar quesitos, quando o processo exigir a sua
manifestação.

Os quesitos formulados consistem principalmente dos principais pontos que a


parte busca esclarecer ao juiz. Qualquer dúvida que a parte tenha, tecnicamente,
o esclarecimento se deve dar ao advogado ou assistente técnico (AT), nunca dentro
do processo. No quesito deve constar apenas esclarecimentos que tragam justiça ao
preclaro do juiz.

Ressaltamos que o âmbito mais concreto da perícia é fixado pelos quesitos formulados
pelas partes (art. 421 do Código de Processo Civil, § 1o, II, do Código de Processo
Civil) e/ou pelo juiz (art. 426, II, do Código de Processo Civil), sempre obedecidos os
parâmetros da lide e dos pontos controvertidos, dentro deles os fatos que efetivamente
dependam de conhecimento especial. Os quesitos impertinentes hão de ser indeferidos
pelo juiz. Tanto a perícia, como os quesitos devem ser adequados à finalidade de provar
o fato controvertido.

A impertinência dos quesitos poderá ser de duas ordens:

»» de ordem fática, no sentido de se querer provar um fato irrelevante e, nessa


medida, conquanto a perícia em si não fosse inútil, seria parcialmente,
através da resposta a um quesito que em nada elucidaria o litígio;

»» de ordem jurídica, no sentido de a parte querer formular um quesito


vedado pelo direito.

69
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

Ainda é possível a apresentação de quesitos suplementares, que poderão ser formulados,


ainda que já iniciada a perícia, porém sempre dentro do âmbito dos quesitos básicos.
Esses quesitos suplementares têm por finalidade elucidar os pontos que, por omissão
ou por falta de oportunidade, deixaram de ser objeto dos quesitos tempestivamente
oferecidos.

Respondendo quesitos

Podemos concluir que no laudo a resposta aos quesitos formulados é obrigatória,


assim, se respostas estiverem faltando indica inexperiência ou má pratica do perito.
Pode se perceber também que além de resposta o artigo mencionado anteriormente
exige descrição minuciosa do que foi examinado. Além da identificação do objeto ou
pessoa a ser examinado tem se as partes do laudo pericial.

Os quesitos dependendo da área que se destinam tem se práxis diferentes.

Quesito na área cível

Nesta área, os quesitos não são previamente formulados, ou seja, não há quesitos oficiais.
Assim, na sua grande parte são perguntas feitas aos peritos e assistentes técnicos sobre
dúvidas na parte médica no processo. Como no criminal o Juiz também pode fazer
quesitos.

Vamos ao Art. 421 do Código do Processo Civil (CPC): “O juiz nomeará o perito, fixando
de imediato o prazo para a entrega do laudo”.

§1o Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação


do despacho de nomeação do perito.

I - Indicar o assistente técnico;

II - Apresentar os quesitos.

Contudo existe uma condição especial abordada no Art. 276 do CPC: “Na petição inicial,
o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará quesitos,
podendo indicar assistente técnico”.

Os tipos de quesito na área cível são:

»» iniciais;

»» suplementares ou complementares;

70
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

»» de esclarecimento.

Os quesitos iniciais são aqueles que formulados logo após a determinação do juiz, junto
com a nomeação do perito oficial.

Vamos ver o que o Art. 425 do Código de Processo Civil diz:

Art. 425 do Código de Processo Civil- Poderão as partes apresentada,


durante a diligência, quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos
aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária.

Porém não é o que ocorre na prática, normalmente são apensados antes do ato pericial
e com prazo concedido pelo juiz para o reconhecimento da outra parte.

Sobre os quesitos de esclarecimento, esses são realizados após o laudo pericial, na


primeira oportunidade que cada parte tiver para falar nos autos. Mas veja o que diz o
artigo:

Art. 435 do Código de Processo Civil - A parte que desejar esclarecimento


do perito e do assistente técnico requererá ao juiz que mande intimá-lo a
comparecer a audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma
de quesitos.

Não é necessária a presença do perito no quesito de esclarecimento, pede se uma


resposta por escrito formal.

O quesito na área cível pode ser formulado pelo juiz, pelo Ministério Público e pelas
partes.

Dicas de como formular quesitos na área cível

»» Quesito de abertura: ou seja, deve conter a informação que o assistente


técnico foi avisado do dia e hora da perícia, de acordo com o Art. 431
do CPC. E ainda, se o perito oficial já foi médico do autor ou de familiar
de primeiro grau do examinado. Esses dois itens são essenciais, pois são
condões de suspeição.

»» Perguntar o que se sabe como resposta: lembrando sempre que antes de


se fazer os quesitos deve se estudar o caso, para que o perito não seja uma
fonte de consulta.

71
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

»» Elaborar a pergunta precedida da afirmativa. Ou seja, a resposta já esta


contida na pergunta, por exemplo: “Sabendo que a maior causa de morte
em homens entre 55 e 60 anos é o infarto agudo do miocárdio.”

»» Estudar possíveis respostas aos quesitos formulados. Por exemplo:


hipoglicemia pode ter sido a causa da morte desse paciente. Sim, pois no
caso o paciente era diabético e usava insulina.

»» Uma pergunta por quesito. Se houverem muitas perguntas por quesito


pode ser que seja respondida apenas a primeira, sendo as demais
ignoradas.

»» Não utilizar subnúmeros. Com esse tipo de prática o perito pode pular
um quesito.

»» Não questionar o mérito da lide. Não confunda o perito oficial com o juiz.
A clássica pergunta que não deve ser respondida pelo perito é: Houve
dano moral?

»» Nunca ironizar em quesitos. Isso não ajudará o advogado a conseguir


nenhum ganho ou beneficio. Se o laudo está negligenciado, melhor seria
perguntar quais as bases literárias que ajudaram na composição do laudo.

»» Evitar o uso das palavras: “pode”, “é possível” e “é certo”, pois essas


palavras tem um fundo afirmativo, observe a frase: É possível ter um
infarto do miocárdio com 23 anos? Tudo é possível.

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CAPÍTULO 7
Perícia no direito de família e de
sucessões

Tópicos incluídos:

»» Filiação.

»» Investigatória de paternidade.

»» A prova pericial.

»» Conclusão.

Filiação
Com a Carta Política de 1988 dá ênfase à exclusão de discriminação no campo da
filiação, como antes era o Código Civil de 1916, privilegiando os filhos a partir do
matrimônio dos pais. Na Carta Política de 1988 existia uma classificação: existiam os
filhos legítimos, legitimados, ilegítimos, esses últimos subclassificados como naturais
e espúrios (adulterinos e incestuosos). O cúmulo chega a proibir a pesquisa processual
do vínculo biológico de filhos extramatrimoniais apoiados pela Constituição Federal.

Porém, boas mudanças vieram com o sexto parágrafo, do artigo 227 da Constituição
Federal de 1988, proibindo a adoção de qualquer designação discriminatória, sendo
regra geral a igualdade dos vínculos, embora e assim observa Guilherme Gama, ainda
prevaleça a subdivisão entre filhos do matrimônio e dos não matrimonializados,
apenas para fins de reconhecimento formal da paternidade, considerando que deita
sobre o casamento uma natural a automática presunção de vínculo paternal. Ainda
Gama continua: ”deve ser considerada a classificação que leva em conta o critério da
existência (ou não) do casamento entre os seus pais, para fins de designá-los de: a)
filhos matrimoniais; b) filhos extramatrimoniais.»

Ação investigatória: presunção pela recusa

Toda recusa para realização de provas tem a sua consequência. No processo havendo
recusa de uma das partes de fazer determinada prova, presume-se que determinado
fato ocorreu.

73
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

No direito de família não é diferente. A Súmula no 301 do Superior Tribunal de Justiça


dispõe que “em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA, induz presunção juris tantum de paternidade”

Como consequência dessa presunção cai na Súmula no 277 do mesmo Tribunal que
dispõe que “Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos
a partir da citação”.

Nota-se a implicação que o homem que se recusa a fazer o exame de DNA poderá sofrer.

No caso a seguir, muito interessante, o homem, réu em uma ação de investigação de


paternidade, acabou por não ter a paternidade reconhecida, uma vez que houve a
realização de teste de infertilidade.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA.
RESULTADO INCONCLUSIVO.

PATERNIDADE AFASTADA COM BASE NA PROVA TÉCNICA DA


INFERTILIDADE DO INVESTIGADO. REVISÃO. SÚMULA no 7/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. Realizado o exame de DNA com os filhos do autor da ação de


investigação de paternidade e um sobrinho do investigado, atestou-se a
probabilidade de este ser pai do investigante no percentual de 57, 45%.

2. A Corte de origem, mediante o exame dos demais elementos de


provas contidos nos autos, no entanto, afastou a paternidade com base
em um exame que demonstra a infertilidade do investigado e no fato de
este ter buscado, sem sucesso, reverter tal situação.

3. Desse modo, infirmar as conclusões do julgado, para reconhecer a


paternidade ora perseguida, demandaria o revolvimento do suporte
fático-probatório dos autos, o que encontra óbice no enunciado da
Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 263.578/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA


TURMA, julgado em 16/4/2015, DJe 14/5/2015)

74
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

Prova pericial

A prova pericial é essencial para auxiliar o juiz a decidir, muito embora ele não esteja a
ela adstrito.

Entretanto, em determinados casos, a prova pericial é de tamanha importância que em


caso de não a fazer, causa a nulidade de todo o processo. Pode acontecer de o processo
durar 10 anos e ao chegar ao Superior Tribunal de Justiça, o processo é anulado para
começar tudo de novo.

Separamos o julgado a seguir, na qual uma das partes tentou a anulação do processo,
sob a alegação da necessidade de realização de outra perícia. Aquela Corte repudiou
essa alegação e afirmou ser desnecessária nova perícia médica.

CIVIL E PROCESSUAL. INTERDIÇÃO. LAUDO ART. 1183 DO CPC.


NÃO REALIZAÇÃO. NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.

1. Constatado pelas instâncias ordinárias que o interditando, por


absoluta incapacidade, não tem condições de gerir sua vida civil, com
amparo em laudo pericial (extrajudicial) e demais elementos de prova,
inclusive o interrogatório de que trata o art. 1181 do Código de Processo
Civil, a falta de nova perícia em juízo não causa nulidade, porquanto,
nesse caso, é formalidade dispensável (art. 244 do CPC).

2. Recurso especial não conhecido.

(REsp 253.733/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA


TURMA, julgado em 16/3/2004, DJ 5/4/2004, p. 266)

A perícia de investigação de paternidade pode ser direta, se o suposto pai está vivo, ou
por via indireta, quando o suposto pai é falecido. Se falecido, avalia-se a paternidade
por meio da coleta de material de seus consanguíneos diretos (ou filhos de registro ou
irmãos ou pais do falecido).

Estas investigações eram realizadas a partir da coleta de material (sangue) dos


envolvidos, pelos sistemas de marcadores genéticos de glóbulos vermelhos (ABO, Rh,
MNSS e Duffy) e pelo sistema HLA.

Desde 18 de janeiro de 2000, os exames mencionados foram substituídos pela


identificação dos polimorfismos de DNA (ácido desoxirribonucleico, que permite
identificar o código genético de uma pessoa) pela técnica do PCR. O sangue é processado
para isolar o DNA e, em seguida, analisa-se a sequência de cromossomos de cada um
dos envolvidos, averiguando as coincidências. Os cromossomos são como uma fita

75
UNIDADE ÚNICA │PERÍCIA MÉDICA CÍVEL

magnética, na qual estão inscritas todas as informações que cada ser humano recebe de
seus antecessores, por meio dos genes.

A não exclusão de uma alegada paternidade é verificada quando há compatibilidade


entre suposto pai e pretenso filho, em todos os sistemas examinados, sendo expressa
em probabilidade de paternidade. Os sistemas anteriormente utilizados apresentavam,
em conjunto, uma probabilidade acumulada de exclusão de paternidade de 98%. Com
a mudança para os polimorfismos de DNA, este percentual eleva-se para 99,99%,
aumentando assim, a possibilidade de se excluir uma paternidade falsamente alegada.

Um resultado de exclusão equivale à incompatibilidade entre suposto pai e pretenso


filho, sendo este resultado absoluto, ou seja, 100%.

As provas científicas não sanguíneas (pavilhão auricular, cor dos olhos, cor da pele,
cabelo, anomalia dos dedos, hemofilia, daltonismo) não estão indicadas, porque existem
os sósias que são pessoas parecidas e não aparentadas. Exemplo de questões periciais,
em que o médico deve comprovar sua habilidade pericial com exame de paternidade.

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES


DA CAPITAL.

QUESITOS DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FAMÍLIA

D. N. A. - PROVA HEMATOLÓGICA

1- Existe experiência do laboratório e/ou do perito com as técnicas


utilizadas para o DNA?

2- As técnicas utilizadas pelo perito são as mesmas usadas por Jeffreys,


da Universidade de Leicester? Se sim, comprovar documentalmente,
inclusive juntando literatura traduzida. Se não, justificar o interesse
científico na aplicação da técnica utilizada;

3- Especificar os aparelhos utilizados e sua origem, comprovando-os, se


possível. Caso não possa comprová-lo, justificar;

4- Oferecer referência bibliográfica da técnica utilizada, juntando


cópia desse material bibliográfico (se estrangeiro, traduzido para o
português).

5- Na área de investigação genética através do DNA, o perito realizou


algum aperfeiçoamento? Se positivo, comprovar documentalmente,
demonstrando a natureza, carga horária e aprovação. Se o documento
for estrangeiro, juntar tradução por tradutor oficial.

76
PERÍCIA MÉDICA CÍVEL│UNIDADE ÚNICA

6- Em termos de DNA, quantas pessoas foram estudas pelo perito?


Desde de quando? Há como comprovar esse trabalho? Em caso positivo,
fazê-lo.

7- Qual o número de polimorfismos que o método usado na perícia


identifica?

8- Realizado o exame pelo sistema DNA, há necessidade de realização


da prova hematológica pelos sistemas ABO, MN, Rh e H.L.A.? Justifique
a resposta.

9- No caso, quais as enzimas que foram utilizadas para a quebra do


DNA?

10- Tendo em vista o resultado da perícia, e considerando o incipiente


conhecimento científico da prova de paternidade pelo sistema DNA,
no Brasil, ao menos em nível de literatura, não seria prudente e
aconselhável a realização das provas hematológicas (glóbulos brancos e
vermelhos), sem embargo do exame pelo sistema DNA já realizado? Em
caso negativo, discorrer circunstanciadamente.

77
Para (não) Finalizar

Como se pode verificar, a perícia médica civil é de suma importância para dirimir casos
complexos e para auxiliar o juiz a decidir. Um leigo não tem o conhecimento técnico
que tem o perito médico em seu campo de atuação.

Para o final, separamos alguns julgados extraídos do Superior Tribunal de Justiça sobre
alguns pontos aqui estudos.

O primeiro deles refere-se sobre a responsabilidade de quem deve pagar os honorários


periciais. O presente caso é muito curioso, pois, muito embora a ação seja de indenização
decorrente de impedimento do exercício de guarda civil municipal, sob a alegação do
superior hierárquico de doença psiquiátrica.

Tanto autor como réu, inicialmente requereram a realização de prova pericial e,


posteriormente, declinaram desse requerimento, o juiz entendeu que a prova seria
necessária e assim a determinou.

A questão que permaneceu foi a de quem seria a responsabilidade de arcar com esse
custo – honorários periciais.

O Superior Tribunal de Justiça, atento ao artigo 33, do Código de Processo Civil, decidiu
que o ônus financeiro da prova pericial, quando requerida pelo juiz era do Autor.

PROCESSUAL CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE HONORÁRIOS PERICIAIS.


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. PROVA DO JUÍZO. ÔNUS FINANCEIRO.

1. Trata-se, na origem, de Ação de Indenização por danos decorrentes


do questionamento, por superiores e médicos, de doença psiquiátrica
que impediria o agravado de exercer atividade de guarda civil municipal
(fatos que o teriam levado a uma tentativa de suicídio).

Foi-lhe deferida a assistência judiciária.

2. Embora tenham protestado pela realização de perícia em fase


postulatória, intimadas as partes para esclarecer se tinham interesse
na produção de provas, ambas declinaram da perícia. A produção dessa
prova é atribuída ao Juízo.

78
PARA (NÃO) FINALIZAR

3. No cotejo da regra do 33 do CPC e da garantia de acesso ao Judiciário,


é mister questionar o perito sobre o recebimento dos honorários ao final
do processo. Caso ele não concorde, que se promova sua substituição,
com designação de técnico de estabelecimento oficial especializado ou
repartição administrativa do ente público responsável pelo custeio da
prova pericial, devendo a perícia se realizar com a colaboração do Poder
Judiciário.

Precedentes do STJ.

4. Agravo Regimental parcialmente provido para reformar o acórdão


recorrido e determinar que os autos retornem ao Juízo a quo para a
efetivação da prova. Não aquiescendo o perito nomeado em aguardar
o final do processo para o recebimento dos honorários, deve o Juízo de
origem nomear outro, a ser designado entre técnicos de estabelecimento
oficial especializado ou repartição administrativa do ente público
responsável pelo custeio da prova pericial, devendo a perícia se realizar
com a colaboração do Poder Judiciário.

(AgRg no AREsp 30.911/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,


SEGUNDA TURMA, julgado em 6/3/2012, DJe 12/4/2012)

Para o perito médico judicial é muito importante ser bem remunerado pelo trabalho
prestado tanto para a ação propriamente dita, mas também para a sociedade.

Outra discussão que causou bastante polêmica à época foi referente à possibilidade
de após ter uma decisão pelo Poder Judiciário, a mais de 30 anos, em uma ação de
paternidade, cuja perícia foi feita por exame de sangue, se poderia ou não ser reaberta
após a existência do exame de DNA.

Na decisão do STJ narra que a primeira ação de investigação de paternidade, ajuizada em


1969, foi julgada improcedente com base em prova testemunhal e científica produzida
por perito especializado, com a realização de exames de sangue, sistemas Kell, ABO,
MN e Rh.

No laudo, afirmou-se categoricamente que o autor Pedro não poderia ser filho do Réu.
Confira-se trecho do referido laudo pericial transcrito na sentença: “O autor Pedro,
como se viu, apresenta o fator N e sua mãe o fator MN e o réu o fator M. O que vem de
excluir, de forma terminante, a paternidade.”

Com relação ao autor Paulo, o perito sustentou que não existia prova para se excluir a
paternidade. Entretanto, afirma o juiz que os autores são gêmeos univitelinos e “se o
réu não é pai de Pedro – não poderia sê-lo de Paulo”
79
PARA (NÃO) FINALIZAR

O acórdão recorrido afastou a alegação de coisa julgada material com os seguintes


fundamentos:

Da primeira ação de investigação de paternidade, proposta no longínquo


ano de 1.969, aos dias de hoje, a ciência e a tecnologia, como de todos
é sabido, deram um salto monumental, e os cientistas desvendaram a
cadeia do DNA humano, permitindo exame, para a determinação ou
exclusão da paternidade biológica, com certeza absoluta.

Seria uma solução por demais simplista, diante da complexidade da matéria, que não
envolve só direitos constitucionais e processuais, mas, direitos humanos naturais de
cada homem conhecer a própria origem, acolher a preliminar de coisa julgada material,
suscitada pelo réu, ora agravante, e julgar extinto o processo, sem julgamento do mérito,
nos termos do art. 6o, da LICC, dos arts. 267, V e VI, e 476 e seguintes, do CPC, e art. 5o,
XXXVI, da CF.”

A possibilidade de reiterar-se o pedido de investigação tem como limite a coisa julgada.


De fato, quando, em ação anterior, a paternidade do investigado não foi declarada à
míngua de provas, é possível reabrir a discussão em novo processo. A possibilidade
dessa nova ação manifesta-se quando, à época do ajuizamento da ação primitiva, o
exame de DNA ainda não era disponível e a sentença passada em julgado não afastara
peremptoriamente a paternidade.

No caso, entretanto, a declaração de improcedência não se assentou em falta de provas.


Pelo contrário, o Tribunal, examinando as provas, declarou a impossibilidade de o réu
ser o pai dos autores. Em rigor, no antigo processo, o réu provou a impossibilidade
de ser pai dos réus. Isso é diferente da improcedência da ação em razão da ausência
de prova. No entendimento dos julgadores, prova produzida na ação de 1969 afastou
categoricamente a paternidade do réu-recorrente. Isso porque a prova do sistema MN
embora não sirva para afirmar paternidade, permite exclui-la com absoluta segurança.
Foi o que ocorreu na ação anterior. O perito, em seu laudo, afirmou que o autor não
era filho do réu, não deixando margem à dúvida. A sentença de improcedência efetuou
declaração negativa de paternidade, considerando provada que o réu não é pai do autor.
Tal declaração somente poderia ser enfrentada em ação rescisória.

Do provimento ao recurso especial para julgar extinta, sem exame de mérito, a ação de
investigação de paternidade (Art. 267, V, CPC)

80
PARA (NÃO) FINALIZAR

Essa é a ementa do Julgado:

PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE:

Coisa julgada decorrente de ação anterior, ajuizada mais de trinta anos


antes da nova ação, esta reclamando a utilização de meios modernos de
prova (exame de DNA) para apurar a paternidade alegada; preservação
da coisa julgada. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 706.987/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,


Rel. p/ Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 14/5/2008, DJe 10/10/2008)

81
Referências

BERNARD, Sonia Bonnet. La normalisation comptable dans dix pays em


Revue Française de Comptabilité. Número especial do 15o Congresso Mundial, no
293, Paris, Outubro de 1997.

ESTEVILL, Luis Pascual. Derecho de daños. Barcelona: Bosch, 1995.

HERCULES, H.C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2008.

JUNIOR, Edson Camara de Drummond Alves. A responsabilidade civil no código


civil de 2002 e a previsão da indenização pelo dano. Universo Jurídico, Juiz de
Fora, ano XI, 10 de mar. de 2009.

MANUAL DE PERÍCIA OFICIAL EM SAÚDE DO SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL –


SIASS. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – Brasília 2010.

MONGE, C. Responsabilidade na prestação em cuidados a saúde. 2013.


Disponível em: <http://www.icjp.pt/sites/default/files/publicacoes/files/ebook_
jornadas_saude.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2015.

PEIXOTO, A. Medicina legal. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves; 1938.

_________ Novos rumos da medicina legal. Rio de Janeiro: Companhia Editora


Nacional; 1938.

Sites
<http://www.previdenciasocial.gov.br>

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