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A FILOSOFIA DA PAISAGEM Georg Simmel Iniimeras vezes nos acontece atravessar a natureza e perceber, nos _graus de atengdo os mais diversos, arvores , cursos dagua, colinas e casas @ as mil transformagSes em todos os generos da luz e das nuvens - mas rotar que um detalhe ou mesmo contemplar aqui e acolé, nio bastam ain- da para nos dar a consciéncia de ver uma “paisagem”. Para chegar a esse pponto, tudo 0 que precisamos & que um certo contetido do campo de vi= so cative 0 nosso espirito. A consciéncia deve ter, além dos elementos, lum novo conjunto, uma nova unidade, nao ligados as significagdes parti- ‘culares dos primeifos nem compostos mecanicamente da sua soma, para que ocorra a paisagem, Se ndo estou enganado, raramente nos damos conta de que ainda no ha paisagem quando todo tipo de coisas se en contram justapostas sobre um pedago de solo, e sfo ingenuamente olha~ das, Quanto ao cutioso processo de cariter espiritual com que se engen- dra a paisagem passo a tentar interpreti-lo a partir de um certo nimero das suas condigdes pré-existentes e das suas formas. Para comegar: que elementos visiveis num canto da terra perten- ‘gam & “natureza"- eventualmente com obras humanas que se integrem a ‘ela - e ndo sejam tragados de ruas com grandes lojas © automoveis, isso tinda ndo faz de um lugar uma paisagem. Pelo termo natureza, entende- ‘mos a cadeia sem fim das coisas, o nascimento ¢ o aniquilamento ininter- ruptos das formas, a unidade fluida do vir-a-ser, exprimindo-se através da continuidade da existéncia espacial e temporal. Quando chamamos qual- {quer realidade de natureza, ou estamos designando a sua qualidade interi- fr, a sua diferenga com relagio a arte © ao artificio como com relagio a0 ‘deal ¢ ao historico, ou ainda o fato de que essa realidade deva passar pelo representante simbélico do ser global acima evocado e que nela ouvimos 6 mugido da sua onda, “Um pedago de natureza”, € na verdade uma con- tradigio em si; a natureza nfo tem pedagos; ela é a unidade de um todo, se se The destaca um fragmento, este ndo sera mais inteiramente navureza, Politica & Trabatho 12 6 porque nio pode valer como tal no seio dessa unidade sem fronteira, ‘como uma onda desse fluxo global a que chamamos natureza Quanto @ paisagem, ¢ justamente sua delimitagao, seu aleance num raio visual momentineo ou durdvel que seja, que a definem essencial- ‘mente; sua base material ou seus pedagos isolados podem sempre passar por natureza - representada a titulo de paisagem, ela reivindica um ser- para-si eventualmente 6tico, eventualmente estético, eventualmente at- ‘mosférico, em suma, uma singularidade, um cardter que 0 arrancaa essa lunidade indivisivel da natureza, onde cada pedago s6 pode ser um lugar de passagem para as forgas universal do estar-ai, Olhar como uma paisa- ‘gem um pedago de chio com o que ele comporta , € considerar um ex- {rato de natureza, por sua vez, como uma unidade - 0 que se distancia completamente a nogio de natureza Este me pareve set 0 ato do espirito pelo qual 0 homem vai mo- delar um grupo de fendmenos para integré-lo a categoria de paisagem sera uma visto fechada e entdo percebida como unidade se bastando a ela ‘mesma, se bem que ligada a uma extens2o e a um movimento infinita- ‘mente mais vastos, se bem que aptisionada em limites nfo existentes para © sentimento, alojada a um nivel subjacente do Um na sua divindade, do Todo na natureza. Constantemente, 0s limites auto-tragados de cada pai- sagem respectiva so vencidos e dissolvidos por este sentimento e a pai- sagem, destacada violentamente, autonomizada 6 entdo atormentada pela obscura pré-ciéncia deste contexto infinito - assim como uma obra huma- fa se apresenta com uma produgio objetiva, responsivel por si e nao obstante permanece ligada de maneira dificil de exprimir, sustentada por esses limites e sempre manifestamente atravessada por sua onda, A natu- reza que no seu ser € no seu sentido profundos tudo ignora da individuali- dade, se encontra remanejada pelo olhar humano - que a divide e decom- pe em seguida em unidades particulares - nessas individualidades que ‘chamamos de paisagens. Observamos frquentemente que 0 “sentimento da nature- 22" propriamente dito s6 se desenvolveu na época moderna, e niio deixa- ‘mos de atribui-lo ao lirismo a0 romantismo, ete., o que €, creio eu, um tanto superficial, As religides das épocas mais primitivas revelam’ aos ‘meus olhos um sentimento muito profundo da “natureza”. Por outro lado, © gosto pela paisagem, esse produto to especial, € um tanto tardio, por- {que sua criagdo justamente exigiu das formas de vida interiores e exterio- res, a dissolugio das ligagiies « das relagdes originais em beneficio de rea lidades auténomas de carater diferenciado - essa formula maior do univer so pos-medieval também permitiu recortar a paisagem na natureza. Nao é Palitica & Trabatho 12 ” de espantar que a Antiguidade ou a Idade Média ignorassem o sentiment da paisagem, o proprio objeto no conhecia ainda esta determinagao psi- quica nem essa transformagao auténoma cujo ganho final fosse contfirma- do com o surgimento da paisagem na pintura, e de certo modo capitaliza- do por ela. Que a parte de um todo se tome por sua vez um conjunto inde pendente, que se destaque do precedente e reivindique seu direto em face dele - eisai talvez a tragédia mais fundamental do espirito: ela aleanga seu pleno efeito na époce moderna, onde se apoderou da diregao do processo cultural, Nas_miltiplas relagdes nas quais se imbricam homens, grupos € produtos, se destaca diante de nds, rigido, este dualismo em virtude do dual o detalhe aspira a se tornar um todo, enquanto que o seu perten ‘mento a.um conjunto mais amplo Ihe concede apenas 0 papel de membro. 'Nés sabemos que © nosso centro. esta ao mesmo tempo fora e dentro de nds: por um lado, nossa pessoa € nossa obra so apenas elementos de to- talidades que exigem a nossa adaptagio unilateral &divislo do trabalho - € por outro lado desejamos ser e fazer conjuntos acabados que se apoiem sobre si mesmos. Enquanto dai esultam contflitos e rupturas sem nimero de ordem social e técnica, espiritual e moral, este mesmo modelo, diante da nature- 2a, produ a riqueza conciliante da paisagem, entidade individual, homo- genea, apaziguada em si, que nio obstante permanece tributiria, sem Contradigao, do todo da natureza ¢ da sua unidade, Mas para que nasca @ paisagem, é preciso inegavelmente que a pulsagio da vida, na percepgao ¢ no sentimento, sea arrancada & homogeneidade da natureza e que o pr duto especial assim criado, depois de transferido para uma camada inte ramente nova, se abra ainda, por assim dizer, a vida universal e acolha 0 ilimitado nos seus limites sem falhas. ‘Mas, deveremos nds perguntar também,qual é entfo a lei que de- termina essa selesfo e essa associagao? Pois 0 que nos dominamos por cexemplo com um olhar ou no seio do nosso horizonte do momento no é 4 paisagem, mas ao méximo 2 sua matéria - assim como um monte de li ‘ros nio constitu uma “biblioteca” mas se tora uma, sem que se retire nem se acrescente um volume, a partir do instante em que um certo con- ceito unificador a envolve e Ihe confere uma forma. S6- que a formula que inconscientemente engendra a paisagem como tal, no se deixa esta- belecer tao simplesmente, quer dizer, ndo se deixa estabelecer de modo slgum em principio O material da paisagem que nos entregn a natureza bruta € t3o infinitamente diverso, tio mutavel de caso em caso, que os

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