Prezado capacitando,
Bem-vindo ao Módulo 1 do curso de capacitação para elaboração de Planos Municipais de
Saneamento Básico na modalidade a distância. Neste módulo, inicia nossa jornada de
compreensão acerca da importância do ato de planejar, direcionado à área do saneamento
básico e do papel de cada ator social nesse contexto.
Convidamos você a embarcar conosco em uma viagem histórica tanto pelo Brasil quanto
pelo mundo, buscando compreender em quais condições o saneamento básico surgiu,
como as ações de saneamento básico se estruturaram ao longo do tempo e como surgiu a
necessidade de serem reguladas por políticas públicas.
Também convidamos você a imergir na temática do saneamento básico da atualidade,
estudando qual é a situação do Brasil hoje e, portanto, quais são seus principais desafios.
Paralelamente, introduzimos aspectos relevantes para a compreensão da natureza pública
dos serviços de saneamento, através da análise do principal instrumento de efetivação
desses serviços: a Lei Federal nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007.
Para atingirmos esses objetivos é indispensável ler atentamente este material, acessar os
sites e materiais sugeridos, realizar as leituras complementares, bem como as atividades
propostas.
Ao final deste módulo esperamos que você compreenda o surgimento e a evolução das
ações de saneamento no Brasil e no mundo, o contexto no qual surgiu a Lei Federal
nº 11.445/07, seu principal objetivo e diretrizes.
Bons estudos!
Capacitando,
Para complementar seus estudos, assista também aos vídeos disponíveis na apresentação
do curso e ao Vídeo do Módulo 1.
2
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4
1.1. Aspectos históricos sobre saneamento básico......................................................................... 4
2. A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL ...................................... 13
2.1 Contexto atual de desafios ..................................................................................................... 13
2.2 Legislação aplicada ................................................................................................................. 21
3. PLANO DE SANEAMENTO BÁSICO: PRESSUPOSTOS ............................................................... 24
3.1 A natureza pública das ações de saneamento básico ............................................................ 24
3.2 Os princípios da Política de Saneamento Básico .................................................................... 25
3.3 A gestão associada e o papel dos diferentes entes da federação.......................................... 29
3.4 Aspectos metodológicos ........................................................................................................ 31
4. PLANO DE SANEAMENTO BÁSICO: INTER-RELAÇÕES COM OUTROS PLANOS .......................... 32
4.1 Plano de Bacia Hidrográfica e Plano de Saneamento Básico ................................................. 34
4.2 Plano Diretor e Plano de Saneamento Básico ........................................................................ 34
4.3 Saúde e Plano de Saneamento Básico.................................................................................... 35
4.4 Planos Setoriais e Plano de Saneamento Básico .................................................................... 35
5. POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO ................................................................... 36
5.1 A Política Municipal de Saneamento como instrumento para buscar a efetividade do plano
no âmbito do município ................................................................................................................ 36
6. PRESTAÇÃO, REGULAÇÃO, FISCALIZAÇÃO E FINANCIAMENTO DOS SERVIÇOS ........................ 42
6.1 Competências municipais sobre a gestão dos serviços de saneamento básico ..................... 43
6.2 Planejamento ......................................................................................................................... 45
6.3 A prestação dos serviços de saneamento básico ................................................................... 45
6.4 Regulação dos serviços de saneamento básico...................................................................... 49
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 55
3
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
1. INTRODUÇÃO
1.1. Aspectos históricos sobre saneamento básico
Quando refletimos acerca dos aspectos históricos do saneamento básico no mundo, algumas
perguntas fundamentais vêm à tona, tais como:
Qual teria sido a primeira ação de saneamento básico no mundo?
Em que civilização ela teria ocorrido?
Há quantos anos ocorreu?
As ações passadas possuíam a mesma natureza que as atuais?
Até que ponto os problemas do passado continuam presentes em nossos dias?
Para iniciar a discussão sobre esse tema, apresentamos uma citação de Rosen (2006), retirada de
seu livro “Uma História da Saúde Pública”, sobre a história e a evolução das ações de saneamento
básico ao longo do tempo:
“O saneamento, sendo no seu aspecto físico uma luta do homem em relação ao ambiente, existe
desde o início da humanidade, ora desenvolvendo-se de acordo com a evolução das diversas
civilizações, ora retrocedendo com a queda das mesmas e renascendo com o aparecimento de
outras.” (ROSEN, 2006)
Rosen (2006) destaca que, com maior ou menor ênfase, as ações de saneamento sempre fizeram
parte do processo civilizatório. Significa dizer que diferentes civilizações, estabelecidas em
diferentes locais e em diferentes épocas, chegaram à mesma conclusão: as ações de saneamento
básico são benéficas à sociedade de uma forma geral.
As civilizações antigas, assim como nós, concluíram que a promoção do saneamento básico é um
fator indissociável à promoção e manutenção da saúde da população, por isso a unanimidade
quanto a sua relevância. Tenhamos presente que o próprio termo “saneamento” provém do verbo
“sanear”, que significa “tornar higiênico, salubrificar, remediar, tornar habitável, tornar apto à
cultura”.
Embora a preocupação com a saúde e com o saneamento tenha sempre estado presente nos
aglomerados humanos, a percepção da importância de ações sanitárias somente aflorou de forma
significativa quando a agricultura e a criação animal passaram a fazer parte do rol de atividades
humanas. À medida que o domínio humano sobre a agricultura e a pecuária foi sendo consolidado,
a população existente deixou de praticar o nomadismo e tornou-se sedentária, fixando moradia
em local específico, e consequentemente, modificando profundamente a percepção e a relação
entre pessoas e dejetos. No âmbito da cultura nômade, a migração em busca de alimentos fazia
com que as pessoas permanecessem pouco tempo em um mesmo local. Ainda, como os grupos
eram pequenos e o contingente populacional da Terra era igualmente diminuto, quando outro
grupo chegava a um local utilizado anteriormente para descarte de rejeitos, a natureza já havia
feito sua parte.
Dentro deste contexto, a fixação desses grupos em locais específicos, o desenvolvimento de
4
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
técnicas de agricultura e criação animal afloraram a percepção humana acerca dos cuidados que
devem ser tomados com rejeitos para evitar problemas de saúde.
Desde então, as ações de saneamento estiveram sempre presentes, de uma forma ou de outra,
nas práticas das civilizações. Podemos citar, entre elas, os chineses, os indianos, os egípcios, os
hebreus, os gregos, os romanos, os astecas, os maias, os quíchuas (povo indígena que habitava a
América do Sul), dentre tantas outras civilizações, como exemplos de povos que em algum
momento de sua história apresentaram contribuições relevantes ao saneamento.
Caro capacitando, agora que sabemos como as ações de saneamento básico iniciaram, vamos
entender como elas evoluíram?
Para isso, convidamos você para uma viagem ao longo da história do saneamento, com o objetivo
de conhecer o processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento das ações sanitárias. As
informações apresentadas a seguir são adaptações de Brasil (2006). Boa viagem e até 2013!
Antiguidade – A civilização greco-romana é mundialmente
conhecida pela estruturação racional do pensamento, e daí
provém o estabelecimento de importantes critérios sanitários
que empreenderam, com vistas à promoção da saúde pública.
Sem perder de vista que outras civilizações já haviam instituído
critérios de saneamento básico, coube aos romanos o
desenvolvimento de grandes obras de engenharia sanitária,
sendo os pioneiros na organização político-institucional das
Antigos aquedutos romanos ações de saneamento.
Fonte: Vema (2008)
Idade Média – A ruptura radical do homem com o conhecimento provocou um grande retrocesso
sanitário. A Igreja, principal detentora da “conservação e transmissão” dos conhecimentos
antigos, ao mesmo tempo em que contribuiu para manter a unidade cultural da Europa, ao
patrimonializar a cultura, a arte, a ciência e as letras, nos legou um grande atraso evolutivo, para
garantir seu domínio e alcançar seus interesses.
Idade Moderna – É o período a partir do qual se dá a derrubada do antigo sistema e a formação
dos estados nacionais. O conhecimento sobre a relação entre a saúde e saneamento é fortalecido,
levando ao desenvolvimento científico da saúde pública. Na administração da saúde pública nas
cidades renascentistas, os habitantes eram os responsáveis pela limpeza das ruas, e os causadores
da poluição em cursos de água de abastecimento ou nas ruas eram punidos.
Revolução Industrial – O trabalho assalariado passa a ser o
elemento essencial para a geração da riqueza nacional, e a
procura por mecanismos que minimizassem os problemas
de saúde dos trabalhadores é estimulada pelo mercado. A
evolução tecnológica e a industrialização nos países
capitalistas possibilitam a execução, em larga escala, de
sistemas de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário. O moinho de ferro, de Adolph Menzel
Fonte: Pennsylvania Center for the Book
Idade Contemporânea – A Revolução Francesa inicia um
5
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
processo de revisão dos direitos humanos e do próprio conceito de cidadania. Nos países
capitalistas, os problemas de saúde são tomados como prioritários. Entretanto, o aumento
populacional e a estratificação social provocam demandas que superam os esforços de
modernização do saneamento.
Século XIX – As principais cidades brasileiras operam o saneamento através de empresas inglesas.
Destaca-se o planejamento e a execução de intervenções feitas pelo engenheiro sanitarista
Saturnino de Brito em diversas cidades brasileiras no início do século passado, cujos resultados
chegam até nossos dias.
Século XX (Brasil)
Década de 1900 – Ocorre a constituição da medicina social como
campo de intervenção: polícia médica, quarentena e controle de
portos, hospitais e cemitérios. É a fase higienista, protagonizada por
Oswaldo Cruz e Pereira Passos, que colocaram em cena novos
saberes sobre saúde, que passaram a orientar as modalidades de
intervenção no espaço urbano. Ocorre a Revolta da Vacina. Em
1909, ocorre a criação da Inspetoria de Obras Contra as Secas, sendo
reformulada em 1919, denominada Inspetoria Federal de Obras
Contra as Secas; em 1945, é transformada no Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas, visando à integração do
Osvaldo Cruz desenvolvimento regional.
Fonte: Wikimedia Commons (2006)
6
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
7
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
9
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Vamos refletir?
Considerando seu conhecimento prévio sobre a importância das práticas de saneamento,
você conseguiu ampliá-lo por meio dessa viagem que empreendemos ao longo da história
do saneamento? Quais informações você conhecia anteriormente a leitura deste material?
Quais informações são novas para você?
1
Salubridade ambiental é o estado de higidez em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere a sua
capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente,
como no tocante ao seu potencial de promover o aperfeiçoamento de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo
de saúde e bem-estar (GUIMARÃES et al, 2007).
10
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
² Lei 11.445/07: Art. 3º - Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - saneamento básico: conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades,
infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações
prediais e respectivos instrumentos de medição; b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas
e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários,
desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; c) limpeza urbana e manejo de resíduos
sólidos: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
d) drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas: conjunto de
atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção
ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas
áreas urbanas;
11
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Atividades, infraestruturase e
Atividades, infraestruturas
instalações
instalações operacionais
operacionais de de
coleta,
coleta, transporte,
transporte,
transbordo,
transbordo, tratamento
tratamento ee
destino
destino final
final do
do lixo
lixo
doméstico e do lixo originário
doméstico e do lixo originário
Atividades, infraestruturase e
Atividades, infraestruturas da
da varrição
varrição ee limpeza
limpeza de de
instalações
instalações operacionais
operacionais de de logradouros
logradouros ee vias vias públicas.
públicas.
coleta,
coleta, transporte,
transporte, tratamento
tratamento Em
Em algumas
algumas situações,
situações,
ee disposição
disposição final
final adequados
adequados quando
quando não não éé possível
possível aa
dos
dos esgotos
esgotos sanitários,
sanitários, desde
desde oferta
oferta do
do serviço
serviço público,
público, são
são
as
as ligações
ligações prediais
prediais até
até oo seu
seu adotadas
adotadas soluções
soluções individuais
individuais
lançamento
lançamento final final nono meio
meio ou
oucoletivas.
coletivas.
ambiente.
ambiente. Em
Em algumas
algumas
situações,
situações, quando
quando não não éé
possível
possível aa oferta
oferta dodo serviço
serviço
público,
público, são
são adotadas
adotadas soluções
soluções
individuais
individuaisououcoletivas.
coletivas.
Atividades,
Atividades, infraestruturas instalações operacionais
infraestruturas e instalações operacionais
de
de drenagem
drenagem urbana
urbana dede águas
águas pluviais,
pluviais, de
de transporte,
transporte,
detenção
detenção ouou retenção
retenção para
para oo amortecimento
amortecimento de de
vazões
vazões de
de cheias,
cheias, tratamento
tratamento ee disposição
disposição final
final das
das
águas
águaspluviais.
pluviais.
Vamos refletir?
Mas afinal, o que é saneamento? Será que agora podemos formular uma resposta para essa
pergunta? O que você diria?
Sugerimos que, levando em conta seus conhecimentos prévios e o que temos estudado sobre
aspectos fundamentais do saneamento básico, você ensaie uma resposta para a pergunta inicial.
3
Montante: Local situado antes de um determinado fato ou situação. Lado de cima ou da nascente de um curso de água.
4
Jusante: Local situado depois de um determinado fato ou situação. Lado de baixo ou da foz de um curso de água.
12
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Constata-se, com base em índices e indicadores, que o quadro sanitário da maior parte da
população da América Latina e Caribe ainda é muito precário. Quem de nós nunca viu ou vivenciou
situações como as apresentadas abaixo?
Créditos: Thiago Gaspar dos Santos Créditos: Vladimir Platonow / Agência Brasil
A realidade precária das condições sanitárias é decorrente tanto da carência crônica de recursos
para investimento, quanto da deficiência ou da ausência de políticas públicas de saneamento
básico, o que historicamente contribuiu com a proliferação de uma série de enfermidades
evitáveis quando há saneamento. Entre essas enfermidades, a OMS cita: cólera, dengue, diarreia,
hepatite, leptospirose e malária. De uma forma geral, as intervenções sempre foram fragmentadas
e/ou descontínuas, com desperdício de recursos e baixa efetividade das ações implantadas. A
partir de 2003, houve uma retomada de investimentos no setor. A partir 2007, com a implantação
do PAC, os investimentos foram ampliados e passaram a ser contínuos.
Embora atualmente o Brasil esteja entre as 10 maiores economias do mundo, tendo assumido a 6ª
posição em 2011, a situação do saneamento no país, segundo estimativas do Centro de Pesquisas
Econômicas e de Negócios – CEBR (CEBR, 2011) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), não é
diferente daquela verificada nos demais países da América Latina e Caribe. Apesar de ser inegável
o avanço que o Brasil vem alcançando nas questões de saneamento básico (IBGE, 2010), ainda há
muito trabalho pela frente. Observe na Figura 2 a posição do Brasil no PIB internacional.
Antes de continuarmos nossa discussão, vamos conhecer a situação do saneamento básico no
Brasil hoje? Abordamos alguns tópicos sobre isto na Leitura Complementar, apresentada na
sequência da Figura 2.
13
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
14
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Existem várias metodologias que buscam avaliar a situação do saneamento básico no Brasil.
Um dos mais recentes estudos é o que embasou a proposta do Plano Nacional de Saneamento
Básico - PLANSAB, cuja metodologia de avaliação foi elaborada com base no conceito de
déficit, considerando não somente a infraestrutura implantada, mas também aspectos
socioeconômicos e culturais, bem como a qualidade dos serviços ofertados ou das soluções
empregadas, conforme figura a seguir.
15
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
DÉFICIT
COMPO- ATENDIMENTO
(1) Atendimento
NENTE ADEQUADO Sem atendimento
precário
– Dentre o conjunto com
fornecimento de água por rede e
poço ou nascente, a parcela de
– Fornecimento de água domicílios que:
potável por rede de – não possui canalização interna;
distribuição ou por poço, – recebe água fora dos padrões de
nascente ou cisterna, com potabilidade;
ABASTECIMENTO
canalização interna, em – tem intermitência prolongada ou
DE ÁGUA
qualquer caso sem racionamentos.
intermitências – Uso de cisterna para água de chuva, – Todas as
(paralisações ou que forneça água sem segurança situações não
interrupções). sanitária e, ou, em quantidade enquadradas nas
insuficiente para a proteção à saúde. definições de
– Uso de reservatório abastecido por atendimento e
carro pipa. que se
– Coleta de esgotos, seguida – Coleta de esgotos, não seguida de constituem em
ESGOTAMENTO
de tratamento; tratamento; práticas
SANITÁRIO (2)
– uso de fossa séptica . – uso de fossa rudimentar. consideradas
(3)
– Coleta direta, na área – Dentre o conjunto com coleta, a inadequadas
urbana, com frequência parcela de domicílios que se
diária ou em dias encontram em pelo menos uma das
alternados e destinação seguintes situações:
MANEJO DE
final ambientalmente – na área urbana, com coleta
RESÍDUOS
adequada dos resíduos; indireta ou com coleta direta, cuja
SÓLIDOS
– Coleta direta ou indireta, frequência não seja pelo menos
na área rural, e destinação em dias alternados;
final ambientalmente – destinação final ambientalmente
adequada dos resíduos. inadequada.
Fonte: PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico
(1)
Em função de suas particularidades, o componente drenagem e manejo de águas pluviais urbanas teve abordagem distinta.
(2)
Por “fossa séptica” pressupõe-se a “fossa séptica sucedida por pós-tratamento ou unidade de disposição final, adequadamente
projetados e construídos”.
(3)
A exemplo de ausência de banheiro ou sanitário; coleta de água em cursos de água ou poços a longa distância; fossas
rudimentares; lançamento direto de esgoto em valas, rio, lago, mar ou outra forma pela unidade domiciliar; coleta indireta de
resíduos sólidos em área urbana; ausência de coleta, com resíduos queimados ou enterrados, jogados em terreno baldio,
logradouro, rio, lago ou mar ou outro destino pela unidade domiciliar.
16
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
DÉFICIT
ATENDIMENTO ADEQUADO
COMPONENTE ATENDIMENTO PRECÁRIO SEM ATENDIMENTO
(x 1.000 hab.) % (x 1.000 hab.) % (x 1.000 hab.) %
Abastecimento de água 112.497 (1) 59,4 64.160 33,9 12.810 6,8
Esgotamento sanitário 75.369 (2) (3) 39,7 96.241 50,7 18.180 9,6
Manejo de resíduos
111.220 (4) 58,6 51.690 (5) 27,2 26.880 14,2
sólidos
Fontes: Censo Demográfico (IBGE, 2011), SNIS (SNSA/MCidades, 2010), PNSB (IBGE, 2008).
(1) Corresponde à população atendida pelas soluções expostas na Tab. 4.1, subtraída da proporção de moradias atingidas por
paralisação ou interrupção em 2010. Uma vez que os dados sobre desconformidade da qualidade da água consumida não permitem
estimar a população atingida, adicionalmente àquela que enfrenta intermitência, foi assumido que a dedução para paralisações e
interrupções já abrangeria o contingente com qualidade da água insatisfatória, para todas as formas de abastecimento.
(2) As bases de informações do IBGE adotam a categoria “rede geral de esgoto ou pluvial” e, portanto, os valores apresentados
incluem o lançamento em redes de águas pluviais.
(3) Embora, para efeito de conceituação do atendimento, as fossas sépticas tenham sido consideradas como solução adequada,
para a estimativa de investimentos o número de fossas sépticas existentes não pode ser considerado integralmente aproveitável
para a população a ser futuramente atendida. Por um lado, apesar de significativa mudança no número de fossas sépticas
enumeradas pelo Censo Demográfico de 2010, observando-se uma redução relativa desta categoria em relação ao Censo
Demográfico de 2000, infere-se que ainda há problemas de classificação indevida, denominando-se de fossas sépticas diferentes
tipos de fossas precárias, devido a dificuldades inerentes aos levantamentos de campo, que necessitam ser aprimorados. Por outro,
domicílios atendidos por fossas sépticas adequadas podem passar a contar com rede coletora de esgotos no futuro, podendo
conduzir a que essas fossas sejam desativadas ou tenham seu efluente lançado nesta rede.
(4) Não se deduziu, do atendimento adequado, a população atendida com frequência de coleta inferior a dias alternados, em função
da inexistência de tais informações no Censo 2010 e da limitação das informações da PNSB. Como destinação final ambientalmente
adequada foram considerados os volumes de resíduos sólidos destinados às seguintes unidades: aterro sanitário, aterro controlado
em municípios com até 20.000 habitantes, estação de compostagem, estação de triagem e incineração.
(5) Considerou-se destinação final ambientalmente inadequada a destinação em vazadouro a céu aberto e em aterros controlados,
nesse caso em municípios com população superior a 20.000 habitantes.
Por fim, antes de propor qualquer ação na área de saneamento, é importante que o gestor
municipal conheça a situação do saneamento básico em seu município. Os indicadores
descritos podem auxiliar na compreensão da questão em escala macro e meso, mas não em
nível local. Caso você precisasse compor um indicador semelhante aos apresentados aqui, você
saberia onde buscar essas informações?
17
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Existem diversas fontes de informação sobre saneamento, as quais podem ser muito úteis para a
elaboração de um Plano Municipal de Saneamento Básico. No Módulo 4 você poderá verificar as
fontes nas quais são obtidas informações relevantes sobre o tema.
Ainda no sentido de ampliar os conhecimentos sobre o saneamento, pode-se afirmar que a
melhoria das condições de saneamento básico e ambiental no Brasil é função do despertar
coletivo pelo qual a sociedade brasileira vem passando, impulsionada por discussões em âmbito
global acerca da temática ambiental. Isso tem frutificado na elaboração e aplicação de novas
medidas legais na área ambiental, resultando no adensamento das proposições que visam à
preservação e manutenção do meio ambiente como um todo.
O ponto de partida para a compreensão de qualquer política ambiental é a dualidade
direito/dever vinculada à salubridade ambiental. Embora todos nós tenhamos o direito de usufruir
de um ambiente ecologicamente equilibrado, também temos o dever de protegê-lo, evitando que
o direito dos demais (e até mesmo o nosso) seja afetado. A manutenção da salubridade ambiental
influencia diretamente a garantia de alguns dos direitos sociais estabelecidos pela Constituição
Federal de 19885, tais como o direito à saúde e a uma vida digna.
Os serviços de saneamento são indissociáveis à promoção da qualidade de vida da população, à
promoção e manutenção da salubridade ambiental e à proteção dos ambientes naturais. Portanto,
sua necessidade de regulação por meio de princípios legais é evidente. A aprovação da Lei Federal
nº 11.445/07, bem como o Decreto Federal nº 7.217/10, inauguraram uma nova e desafiadora
fase na história do saneamento no Brasil. Dentre diversos pontos relevantes, a Lei do Saneamento
confirma o município como o grande protagonista dos serviços vinculados ao saneamento básico
no país, reafirmando a competência municipal para legislar sobre assuntos considerados de
interesse local, destacado sob o amparo da Constituição Federal.
Para nortear as ações dos entes federados no sentido da promoção do saneamento básico, a Lei
do Saneamento define quatro funções básicas para a gestão: o planejamento, a prestação dos
serviços, a regulação e a fiscalização. Ainda, prevê que essas funções devam atender ao princípio
fundamental do controle social, garantindo à sociedade informações, representações técnicas e
participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação,
relacionados aos serviços públicos de saneamento básico.
Embora todas as ações anteriormente citadas sejam de responsabilidade do titular do serviço de
saneamento, somente a função de planejamento é indelegável. Isso significa dizer que tanto a
prestação dos serviços, quanto a regulação e fiscalização, podem ser repassadas a outros atores,
reafirmando a responsabilidade do município frente à organização e prestação dos serviços
públicos de interesse local, seja de modo direto, sob regime de concessão ou permissão, ou via
acordo de cooperação e contrato de programa. Esta responsabilidade é destacada na Constituição
Federal e na Lei Federal nº 11.445/07.
Com relação à função de planejamento, a Lei do Saneamento destaca claramente a
responsabilidade dos municípios na formulação da Política Municipal de Saneamento Básico. A lei
ainda prevê a elaboração dos Planos de Saneamento Básico para cada município, os quais devem
5
Constituição Federal: é um conjunto de regras de governo que rege o ordenamento jurídico de um País. Deve regular e
pacificar os conflitos e interesses de grupos que integram uma sociedade através do estabelecimento de regras que
tratam desde os direitos fundamentais dos cidadãos até a organização dos Poderes (BRASIL, 2011b).
18
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
ser compreendidos como uma ferramenta estratégica de planejamento para regulamentação dos
serviços de saneamento básico, para o embasamento da tomada de decisões técnicas dos gestores
quanto a este assunto.
Até o presente momento, dos 5.570 municípios brasileiros (IBGE, 2013), poucos dispõem de
Planos de Saneamento Básico, e tampouco de políticas que regulamentem o assunto. Quando se
pensa em Planos Municipais de Saneamento Básico que cumpram seu papel como efetiva
ferramenta de planejamento e gestão, esse número é ainda menor.
Nesse momento, convém destacar duas definições incorporadas no PLANSAB e que devem
integras os Planos de Saneamento Básico. Trata-se dos conceitos de medidas estruturais e
medidas estruturantes.
19
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
20
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Constituição Federal da Institui a norma matriz brasileira, sob a qual todas as demais
República Federativa do legislações devem estar baseadas.
Brasil de 1988 Recomendamos a você uma leitura mais aprofundada do
Capítulo VI – Do Meio Ambiente.
21
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
22
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
23
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Planejar, conforme será abordado com maior propriedade no Módulo 2, consiste em um meio
sistemático de se determinar a situação atual de um processo, onde se deseja chegar e qual
trajeto deverá ser percorrido. Contudo, é fundamental ter um bom grau de domínio sobre o
objeto que está sob planejamento, nesse caso o saneamento básico. A ação de planejamento não
deve envolver procedimentos meramente técnicos, a partir dos quais são elaborados diagnósticos
e prognósticos, mas, sobretudo, implica em um debate a partir das diversas formas de
reconhecimento e interpretação da realidade. Portanto, planejar pressupõe reconhecer e debater
conceitos e visões de mundo sob as quais o objeto é percebido e interpretado.
Assim, justifica-se a necessidade de se discutir o saneamento básico, buscando compreender seus
conceitos, a forma como foi entendido ao longo do tempo e como foi apropriado pelos diversos
segmentos da sociedade. Sem a participação social, o Plano Municipal de Saneamento Básico será
mais uma peça para gavetas e estantes, incapaz de cumprir seu relevante papel na transformação
social.
Convidamos você a acompanhar a linha do tempo apresentada na Figura 4, voltada à natureza
pública das ações em saneamento básico, mostrando a evolução brasileira acerca da temática do
saneamento, até chegar aos princípios da Lei Federal nº 11.445/07. Para tanto, faz-se um recorte
temporal desde os anos 1940 até o momento, instituindo quatro diferentes macro visões: período
24
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
de 1940 a 1960; década de 1960 – 1970; década de 1980 – 1990; e primeira década do século XXI.
A partir da Figura 4, podemos concluir que a formulação de políticas e planos é fortemente
influenciada por fatores políticos, sociais, econômicos, culturais, dentre outros. A última década,
especialmente, fez emergir tanto visões de mundo, quanto saberes que compõem os pressupostos
sob os quais, hoje, o planejamento das ações pode se sustentar. Tais pressupostos dão origem a
princípios, os quais vinculam-se à noção de saneamento como um direito social, como um serviço
de interesse local, como uma medida de promoção à saúde e de proteção ambiental, como uma
ação de infraestrutura que promove o desenvolvimento urbano e a habitação salubre e, ainda,
como meta social de responsabilidade do Estado, que pressupõe a universalidade6, a equidade7, a
integralidade, a intersetorialidade, a qualidade e regularidade da prestação de serviços, a
transparência das ações, a participação e o controle social.
25
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
A Lei Federal nº 11.445/07 elenca uma série de princípios básicos, os quais norteiam as
proposições acerca do saneamento. É essencial conhecê-los, pois, além de fazerem parte da
política federal, deverão ser considerados na elaboração de uma política pública de saneamento.
Os quadros abaixo permitem que você visualize, de forma esquemática, os princípios da Lei nº
11.445/07.
Gestão de transparência
• Baseada em sistema de informação e segurança, qualidade e regularidade (inciso XI).
Para conhecer o significado de cada princípio da Lei do Saneamento Básico, vamos visualizar a
sequência de quadros a seguir.
26
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
27
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
8
Multidisciplinaridade: pode ser compreendida como um sistema onde há a justaposição de elementos em um único nível
hierárquico, estando ausente uma cooperação sistemática entre os diversos campos disciplinares. A Interdisciplinaridade pode ser
compreendida como um sistema onde há a justaposição de elementos em diferentes níveis hierárquicos, sendo que o elemento que
se encontra no nível hierárquico superior atua não somente como integrador e mediador, mas principalmente como coordenador.
Enquanto que a transdisciplinaridade pode ser compreendida como a completa integração de elementos, o que resulta na geração
de um novo elemento capaz de desenvolver uma autonomia teórica e metodológica perante os elementos que lhe originaram.
9
Intersetorial: pode ser compreendida como uma estratégia para tornar a ação pública mais efetiva e eficaz, através do
rompimento da sua visão fragmentada. Seria muito mais do que somente agrupar setores; seria criar uma nova dinâmica para a
execução das ações públicas, que considerem a integração dos objetivos, metas e procedimentos de diversos órgãos
governamentais. Implica a necessidade de se promover mudanças de estratégias de ação, formas de destinação de recursos
públicos, estrutura organizacional e burocrática.
28
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
institui a Política Nacional de Educação Ambiental; a Lei Federal nº 12.305/10, que institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Em todas essas, é comum encontrarmos termos que remetem à intersetorialidade, tais como
“integração das ações”, “articulação de políticas e programas”, “acompanhamento, avaliação e
divulgação”, “participação”, “colaboração”, “articulação do planejamento”, “articulação da
gestão”, “integração da gestão”, “articulação dos estados”, “integração das políticas locais”,
“integração e complementaridade”, dentre outras.
Sempre que você encontrar termos similares a estes, quando estiver analisando uma legislação,
lembre-se: TRATA-SE DE DISPOSIÇÕES DE CARÁTER INTERSETORIAL.
Lembrar-se disso quando você participar de discussões para a formulação de políticas públicas
municipais, como a Política Municipal de Saneamento Básico, é igualmente importante!
Vamos refletir?
Quando da elaboração do Plano Municipal de Saneamento, considerando o caráter
intersetorial deste, é importante mobilizar as diversas secretarias e profissionais que
permeiam os temas abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos
sólidos e manejo de águas pluviais. Considerando esse assunto, quais secretarias/setores
do seu município seriam importantes mobilizar para elaboração do Plano?
29
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Convidamos você para conhecer um pouco mais sobre essas competências, quando aplicadas à
temática do saneamento básico. Primeiramente, para compreender melhor a hierarquia do
princípio da predominância de interesses, vamos observar a Figura 5.
No campo da política urbana, é dever da União instituir diretrizes legais para o desenvolvimento
urbano, incluindo-se aqui medidas voltadas à habitação, ao saneamento básico e ao transporte
urbano. É de competência comum entre União, estados e distrito federal a proposição de medidas
legais que visem a proteção do meio ambiente, o controle da poluição e a proteção e defesa da
saúde. Nesses casos, quando a competência é concorrente, ou seja, comum aos entes federados,
cabe à União estabelecer normativas gerais, enquanto que os demais entes federados devem
trabalhar para complementá-la.
Já aos municípios, cabe legislar sobre assuntos de interesse local; suplementar a legislação federal
e estadual no que couber; organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local; promover, no que couber, o adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano.
Dentro da temática do saneamento básico, é responsabilidade do município, formular a política
pública de saneamento básico, devendo, para isso, elaborar o Plano de Saneamento Básico. Essa
ação é indelegável, sendo-lhe facultado delegar a organização, a regulação, a fiscalização e a
prestação desses serviços.
Os entes federados podem ainda, baseados na Constituição Federal, associarem-se
cooperativamente por meio de convênios de cooperação e consórcios públicos, promovendo a
gestão associada dos serviços; a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e
bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
Tomando como exemplo o abastecimento de água, existem diversos sistemas implantados no
Brasil que usam mananciais de suprimento de água fora dos limites administrativos dos municípios
30
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
atendidos por esses sistemas. No caso, por exemplo, de projeto de esgotamento sanitário que vise
despoluir um recurso hídrico, às vezes, pode ser necessário executar ações em município situado a
montante. Pode-se citar, ainda, o manejo de resíduos sólidos municipal, cujas exigências para a
localização do destino final podem indicar a seleção de área fora do município.
O planejamento requer considerar o território municipal e a sua relação com outros territórios,
municípios e regiões. Assim é que, em determinadas situações, o consórcio público entre
municípios e/ou plano regional mostra-se importante para construir soluções tecnológicas que
atendam a mais de um município.
Planejar faz parte do nosso cotidiano; é uma ação praticamente involuntária que todos nós
realizamos, mesmo que mentalmente, todos os dias. Uma iniciativa de planejamento adquire os
sentidos de empreendimento, projeto, sonho e intenção quando estiverem associadas a ela
informações complementares sobre como viabilizar seus propósitos no espaço e no tempo. Isso
revela a vontade de intervir sobre uma dada realidade em uma determinada direção, a fim de se
concretizar alguma intenção.
31
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
32
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Figura 7 - Relação entre os Planos Municipais de Saneamento Básico e os demais planos municipais
Conforme o artigo 9º da Lei Federal nº 11.445/2007, o titular dos serviços formulará a respectiva
política pública de saneamento básico, onde será definido o modelo jurídico-institucional e as
funções de gestão, bem como fixará os direitos e deveres dos usuários. O
artigo 19 determina os critérios para a prestação de serviços públicos de saneamento básico,
delimitando as condições para a prestação dos serviços, objetivos e metas, programas, projetos e
ações.
33
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
34
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
35
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
A Política Municipal de Saneamento Básico tem por finalidade nortear a promoção do saneamento
básico em âmbito municipal. Deverá estar em consonância com as demais políticas cuja temática
possua interface com o tema tratado: saúde, meio ambiente, recursos hídricos, desenvolvimento
urbano e rural, dentre outras. Assim, uma política de saneamento deve contemplar as populações
urbanas e rurais, promovendo ações de abastecimento de água em quantidade e dentro dos
padrões de potabilidade vigentes; o esgotamento sanitário e o manejo sustentável de resíduos
sólidos e de águas pluviais.
Considerando a existência de uma Política em âmbito nacional para organização dessas questões,
compreende-se que o município deverá embasar suas proposições nos princípios e diretrizes da
política federal, considerando, é claro, suas peculiaridades. Estas últimas é que diferenciarão uma
política municipal da outra. Assim, os princípios de uma Política Municipal devem estar em
consonância com aqueles propostos para a Política de âmbito federal.
36
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
No tocante aos objetivos da Política Municipal deve-se primar pela universalização do acesso aos
serviços e pela promoção da efetividade das ações de saneamento básico, através da execução de
obras e serviços, bem como pela realização de uma gestão eficiente e eficaz para a garantia da
função social.
37
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Para a execução racional e organizada das ações de saneamento básico municipal, uma estratégia
é a organização de um Sistema Municipal de Saneamento Básico, composto por instâncias,
instrumentos básicos de gestão e um conjunto de agentes institucionais que, no âmbito das
respectivas competências, atribuições, prerrogativas e funções, integram-se de modo articulado e
cooperativo para a formulação das políticas, definição de estratégias, execução e avaliação das
ações de saneamento.
38
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
O Plano Municipal de Saneamento Básico deve ser aprovado pelo Conselho Municipal de
Saneamento Básico (ou equivalente), devendo conter os elementos básicos para a
operacionalização da política e o planejamento das ações de saneamento do município,
contemplando os quatro componentes, as estimativas de investimentos, as fontes de recursos, os
objetivos e metas, a definição de prioridades, dentre outros.
Recomenda-se revisão do Plano de quatro em quatro anos, de forma articulada com as demais
políticas cujo escopo possua interface com a temática do saneamento. Deverá informar como,
quando, com quem e com que recursos serão implementadas as ações de saneamento no
município, além dos mecanismos de controle e avaliação que serão utilizados. Ainda, deverá
refletir as necessidades e os anseios da população local, devendo, para tanto, resultar de um
planejamento democrático e participativo, para que atinja sua função social.
Para subsidiar a elaboração do Plano, é importante que haja um Sistema de Informações sobre as
condições de salubridade ambiental e dos serviços de saneamento. Torna-se necessário que se
garanta o acesso às informações desse Sistema a todos os órgãos, entidades da sociedade civil e à
população em geral, de forma que ele se constitua num instrumento de cidadania.
O Conselho Municipal de Saneamento Básico (ou equivalente) deve ser uma instância colegiada,
de caráter deliberativo e consultivo, composto por representantes do Poder Público municipal,
dos prestadores de serviço, dos usuários e de outros segmentos sociais, devendo ser criado por lei
municipal. O Conselho tem a competência de formular as políticas públicas de saneamento, definir
estratégias e prioridades, além de acompanhar e avaliar sua implementação.
Seu regulamento e suas competências devem ser compatíveis com os princípios, as diretrizes e os
objetivos da Política Municipal de Saneamento Básico. Cabe a esse Conselho e às demais
instâncias municipais competentes regular, avaliar e realizar o controle da prestação dos serviços
de saneamento, mediante apoio técnico de instituição capacitada. Essa instituição pode ser
municipal, resultar de associação entre municípios ou pertencer ao governo estadual.
O Fundo Municipal de Saneamento tem a missão de financiar as ações públicas de saneamento,
em conformidade à Política e ao Plano Municipal de Saneamento Básico. Suas fontes de recursos
podem advir do próprio sistema tarifário dos serviços de saneamento, podem ser constituídas de
dotações orçamentárias do município e de outros níveis de governo, bem como de outros fundos,
doações e subvenções nacionais e internacionais, além de recursos financeiros de agências de
financiamentos nacionais.
O Fundo tem o objetivo principal de promover a universalização dos serviços no município e,
secundariamente, de constituir uma fonte complementar e permanente do financiamento das
ações a custos subsidiados, visando garantir a permanência da universalização e a qualidade dos
serviços.
A Conferência Municipal de Saneamento Básico deve ser realizada a cada dois anos, servindo
para subsidiar a formulação da política e a elaboração/revisão do Plano. A Conferência é uma
forma eficaz de mobilização, por permitir a democratização das decisões e o controle social da
ação pública. Possibilita a construção de pactos sociais na busca de políticas democráticas e
39
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
40
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
41
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
As ações de saneamento básico são desenvolvidas pelos órgãos citados no quadro anterior
e ainda conforme a seguinte divisão:
Você já deve estar se inteirando dos aspectos fundamentais referentes à Política e aos Planos de
Saneamento. Para reforçar esta caminhada, vamos fazer aqui um resumo sobre o modo de
operação institucional dos serviços de saneamento, abordando a regulação do setor, as
configurações possíveis para a prestação dos serviços, a fiscalização e as formas de remuneração
existentes.
Pretendemos, com isso, fornecer a você um suporte, sobretudo de caráter legal e técnico, que lhe
permita considerar e avaliar a situação de vários elementos abrangidos pelos serviços de
saneamento prestados em seu município. A intenção maior é que você desenvolva ou aprimore a
aptidão requerida para a execução de uma avaliação de possibilidades e/ou necessidades de
mudanças concernentes ao saneamento municipal.
Vamos agora tentar entender um pouco melhor o papel do município na gestão dos serviços
relacionados ao saneamento municipal.
42
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Uma vez que os serviços de saneamento são de interesse local e o poder público local tem a
competência para organizá-los e prestá-los, o município é o titular do serviço. Assim, uma política
de saneamento deve partir do pressuposto de que o município tem autonomia e competência
constitucional sobre a gestão dos serviços de saneamento, no âmbito de seu território,
respeitando as condições gerais estabelecidas na legislação nacional sobre o assunto.
As competências do município quanto aos serviços de saneamento básico, de acordo com as
premissas do artigo 9º da Lei Federal nº 11.445/07, são destacadas a seguir:
43
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
ATENÇÃO
A Lei 11.445/07 e o seu Decreto regulamentador 7.217/10 não trouxeram definição expli cita da
figura do TITULAR. Porém, em razão do inciso V, do art. 30 da CF, a titularidade dos serviços de
saneamento básico será municipal. Esse conceito deverá ser flexibilizado, quando se tratar da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro e Microrregião dos Lagos, o Acórdão do STF da Ação Direta
de Inconstitucionalidade 1.842 RIO DE JANEIRO (ADI 1842 /RJ) declara textualmente que: “O
interesse comum e a compulsoriedade da integração metropolitana não são incompatíveis com a
autonomia municipal. O mencionado interesse comum não é comum apenas aos municípios
envolvidos, mas ao Estado e aos municípios do agrupamento urbano...”, e reconheceu que neste
tipo de aglomerado urbano, o poder concedente e a titularidade do serviço pertence ao colegiado
formado pelos municípios e pelo estado federado (disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630026).
Mas como funciona a gestão desses serviços e em quais fundamentos ela está
embasada?
Conforme abordado anteriormente, consta na Lei do Saneamento que a gestão desses serviços
envolve o planejamento, a regulação, a fiscalização e a prestação dos serviços. Todas essas
funções têm na participação ativa da sociedade um elemento de conexão.
De acordo com as definições da Lei nº 11.445/07, podemos interpretar a gestão do saneamento
como o conjunto integrado das ações de: “planejar”, “prestar”, “regular” e “fiscalizar”. Os
conceitos são apresentados a seguir.
• REGULAÇÃO - Todo e qualquer ato que discipline ou organize determinado serviço público,
incluindo suas características, padrões de qualidade, impacto socioambiental, direitos e
obrigações dos usuários e dos responsáveis por sua oferta ou prestação e fixação e revisão do
valor de tarifas e outros preços públicos.
Para que todas essas etapas sejam eficientes e eficazes, é imprescindível que tenhamos uma boa
etapa de “planejar”, e que todas elas aconteçam com efetiva participação social. Sob esse modelo,
entende-se que a gestão do saneamento se dará com sucesso.
44
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Figura 8 são apresentadas as formas de gestão dos serviços de saneamento básico, de acordo com
a Lei 11.445/07.
Figura 8 - Formas de gestão dos serviços de saneamento básico de acordo com a Lei 11.445/07
Planejar
Gestão do
Prestar
Fiscalizar Saneamento
serviços
Básico
Regular
6.2 Planejamento
O planejamento é uma função de gestão indelegável a outro ente (art. 8° da Lei Federal nº
11.445/07), envolvendo as atividades de identificação, qualificação, quantificação, organização e
orientação de todas as ações, públicas e privadas, por meio das quais um serviço público deve ser
prestado ou colocado à disposição de forma adequada (Decreto Federal nº 6.017/07).
A Lei Federal nº 11.445/07 define que o planejamento para a prestação dos serviços de
saneamento básico será realizado por meio da elaboração de um Plano de Saneamento Básico, de
competência do titular do serviço.
10
Delegar: transferir poder, função, competência, etc. a outrem, que passa a poder representar e agir em nome de quem transferiu
esse poder, função, competência, etc.]. No âmbito do direito administrativo, o Estado a permissão, a concessão e a licitação são
dispositivos que o Estado pode utilizar para delegar serviços públicos.
45
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
No caso de o município decidir delegar a prestação dos serviços a outro ente que não integre a sua
administração, deverá promover a celebração de contrato de programa11, se o delegatário for
ente público ou estatal, ou contrato de concessão12, precedida de licitação, no caso de empresa
privada. Deverá haver audiência ou consulta pública sobre o edital, no caso de licitação, e também
sobre a minuta do contrato entre titular e prestador de serviço (inciso IV, do art. 11 da Lei
11.445/07).
Existem três formas de prestação dos serviços de saneamento básico: a prestação direta, a
prestação indireta (mediante delegação por meio de concessão, permissão ou autorização) e a
gestão associada, conforme mostra a Figura 9.
Figura 9 - Formas de prestação de serviço público admitidas pela Constituição
Federal
Como você pode observar, o município pode prestar diretamente os serviços de saneamento
básico, via administração central ou descentralizada, sendo esta por meio de autarquia, sociedade
de economia (fundação) ou empresa pública.
Pode, ainda, delegar a prestação a terceiros por meio de licitação pública e contrato de concessão
(empresa estatal ou privada), o que caracteriza a prestação indireta. Os contratos de concessão
11
Contrato de programa: instrumento pelo qual devem ser constituídas e reguladas as obrigações que um ente da Federação,
inclusive sua administração indireta, tenha para com outro ente da Federação, ou para com consórcio público, no âmbito da
prestação de serviços públicos por meio de cooperação federativa (Decreto n° 6.017/07)
12
Contrato de concessão: o contrato de concessão de serviço público tem como objeto a transferência da gestão e execução de um
serviço do poder público ao particular, por sua conta e risco. Refere-se à construção, total ou parcial, conservação, reforma,
ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua
conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou
da obra por prazo determinado (Lei 8.987/1995)
46
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
com empresa estatal ou privada devem atender, além da legislação e regulação do titular, às
normas gerais da Lei Federal nº 8.987/1995, que dispõem sobre o regime de concessão e
permissão da prestação de serviços públicos, sempre precedida de licitação pública, que se
processa conforme a Lei Federal nº 8.666/1993.
Outra opção é realizar a gestão associada dos serviços com outros municípios – com ou sem
participação do governo estadual – via convênio de cooperação ou consórcio público, conforme a
Lei Federal nº 11.107/05 e o Decreto Federal nº 6.017/2007, que a regulamenta. A gestão
associada, conforme estabelece a Lei Federal nº 11.107/2005, é uma associação voluntária de
entes da federação, e sua formalização ocorre por meio de convênio de cooperação ou de
consórcio público.
CONSÓRCIO PÚBLICO - Pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da Federação, para
estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a realização de objetivos de interesse
comum, constituída como associação pública, com personalidade jurídica de direito público e
natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem fins econômicos (Decreto
Federal nº 6.017/07, art. 2, § 8º).
A referida lei confere aos consórcios públicos “personalidade jurídica de direito público integrante
da administração indireta de cada um dos entes consorciados”, podendo, assim, ser sujeito de
direitos e obrigações (art. 6º, § 1º). No caso de se revestir de personalidade jurídica de direito
privado, constituído conforme a legislação civil, o consórcio público observará as normas de
direito público no que concerne à realização de licitação, celebração de contratos de concessão,
prestação de contas e admissão de pessoal (art. 6º, § 2º).
Uma vez que a gestão associada é realizada entre entes da federação, a delegação da prestação
dos serviços pode ser feita com dispensa de licitação. Essa prerrogativa é assegurada no inciso
XXVI do art. 24 da Lei de Licitação (Lei Federal nº 8.666/93) e amparada no art. 241 da
Constituição Federal, nos termos da Emenda Constitucional nº 19/98, que trata dessa matéria. Tal
delegação é formalizada por meio de um contrato de programa, após a constituição do consórcio
público ou convênio de cooperação.
Na prestação regionalizada dos serviços, quando houver um único prestador do serviço para vários
municípios, contíguos ou não, deverá haver compatibilidade de planejamento entre os municípios.
Neste caso, conforme o Decreto 7.217/10, o serviço regionalizado de saneamento básico poderá
obedecer ao plano de saneamento básico elaborado pelo conjunto de Municípios atendidos.
Especificamente na gestão dos serviços de resíduos sólidos têm sido realizados estudos de
regionalização, os quais consistem na identificação de arranjos territoriais (microrregiões) entre
municípios com o objetivo de compartilhar serviços, ou atividades de interesse comum,
permitindo, dessa forma, maximizar os recursos humanos, de infraestrutura e financeiros
47
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Modelo A Modelo AA
A contratação individual de companhia A contratação de órgão municipal por outro
Estadual de Água e Esgoto por cada município para serviço de água e esgoto.
município para os serviços de água e esgoto.
Convênio de cooperação
Convênio de cooperação
Município Município
Estado Município
Companhia Contrato de Companhia Contrato de
Municipal Programa
Estadual Programa
Modelo B Modelo BB
A contratação coletiva de Companhia
A contratação coletiva de Companhia
Municipal por consórcio público.
Estadual de Água e Esgoto (CEAE) por
consórcio público.
Contrato de
Contrato de Consórcio Público
Consórcio Público Programa
Programa
Companhia
Município A Município C municipal
Município A Município C
CEAE Município B Companhia ou Autarquia
Município B Intermunicipal
Modelo C Modelo D
A contratação coletiva de consórcio público A contratação de prestador privado por
(prestador). meio de licitação por consórcio
intermunicipal.
Consórcio Público Contrato de Programa Consórcio Público Contrato de Programa
Contrato de Contrato de Contrato de Prestador
Programa A Programa B Programa C Município A Município C contratado
Município A Município B Município C Município B mediante licitação
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2007)
48
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
ATENÇÃO
Os consórcios públicos recebem, no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
– Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010c), prioridade no acesso aos recursos da União ou por ela
controlados. Essa prioridade também é concedida aos estados que instituírem
microrregiões para a gestão, e ao distrito federal e municípios que optarem por soluções
consorciadas intermunicipais para gestão associada. A formação de consórcios públicos
vem sendo estimulada pelo governo federal e por muitos dos estados, para que aconteça o
necessário salto de qualidade na gestão dos serviços públicos.
E o que significa de fato “regular”? Vamos agora abordar um pouco mais esse assunto, analisando
essencialmente os principais pontos que os dispositivos legais apresentam como pressupostos
para a regulação dos serviços de saneamento.
Conforme estabelecido no Decreto nº 6.017/2007, a regulação envolve todo e qualquer ato,
normativo ou não, que discipline ou organize determinado serviço público, incluindo suas
características, padrões de qualidade, impactos socioambientais, direitos e obrigações dos
usuários e dos responsáveis por sua oferta ou prestação e fixação, além da revisão do valor de
tarifas e outros preços públicos.
A regulação cabe ao titular dos serviços, ou seja, o município, que pode realizá-la diretamente ou
delegá-la à entidade de outro ente federativo. Nesse caso, a delegação só pode ser feita a uma
entidade reguladora constituída especificamente para esse fim, dentro dos limites do respectivo
estado, devendo ser explicitada a forma de atuação e a abrangência das atividades a serem
desempenhadas pelas partes envolvidas (art. 8º e art. 23, § 1º, da Lei nº 11.445/07).
A entidade reguladora e fiscalizadora dos serviços é a responsável pela verificação do
cumprimento dos planos de saneamento por parte dos prestadores de serviços, na forma das
49
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
disposições legais, regulamentares e contratuais (art. 20). Nas atividades de regulação dos serviços
de saneamento básico, estão incluídas a interpretação e a fixação de critérios para a fiel execução
dos contratos, dos serviços e para a correta administração de subsídios (art. 25, § 2º).
O desenho regulatório é considerado o instrumento basilar para se garantir eficiência e eficácia à
atividade reguladora e serve como modelo para análise do atendimento das entidades
reguladoras aos princípios da regulação. Destacam-se a independência da entidade reguladora, a
garantia dos mandatos de seus dirigentes, a capacidade técnica, as decisões tomadas por órgãos
colegiados e a participação social. São instrumentos do exercício da participação social na
regulação a realização de audiências e consultas públicas, a constituição de ouvidorias e o
funcionamento efetivo dos conselhos.
A regulação da prestação de serviços públicos deve atender principalmente os seguintes objetivos,
apresentados na Figura 11.
Nas atividades de regulação dos serviços de saneamento básico, estão incluídas a interpretação e
a fixação de critérios para a fiel execução dos contratos, dos serviços e para a correta
administração de subsídios.
Os modelos de regulação que podem ser utilizados são: a regulação por entes estaduais, por
entes municipais e por consórcios de regulação. Quadro 1 são apresentadas as vantagens e
desvantagens de cada modelo.
50
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
51
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
RESUMINDO...
52
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
É Importante que fique claro que em qualquer processo de gestão, o ato de fiscalizar está
vinculado ao controle do processo, permitindo que, ao longo da operação do sistema, seja
possível ajustar eventuais falhas e corrigir rumos tanto da prestação, quanto da regulação dos
serviços.
A fiscalização, segundo o Decreto nº 6.017/07, refere-se às atividades de acompanhamento,
monitoramento, controle e avaliação, no sentido de garantir a utilização, efetiva ou potencial, do
serviço público.
Assim como a regulação, a fiscalização cabe ao titular dos serviços que pode realizá-la diretamente
ou delegá-la à entidade de outro ente federado (art. 8 da Lei nº 11.445/07).
A mesma lei ainda define que o “serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas”, e que “a atualidade compreende a modernidade das técnicas, do
equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço”
(art. 6).
53
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
Especialmente para os serviços referentes a resíduos sólidos, a Lei do Saneamento definiu que as
respectivas taxas ou tarifas devem ter em conta a adequada destinação dos resíduos coletados,
podendo considerar, para a determinação dos seus valores:
a) o nível de renda da população da área atendida;
b) as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles edificadas;
c) o peso ou o volume médio coletado por habitante ou por domicílio.
Os usuários e localidades que não tenham capacidade de pagamento ou escala econômica
suficiente para cobrir o custo integral dos serviços poderão ser contemplados com benefícios de
subsídios tarifários e não tarifários (art. 29, § 2º), os quais poderão ser, dependendo das
características dos beneficiários e da origem dos recursos: diretos ou indiretos, tarifários ou fiscais,
internos ou de prestação regional.
O plano de saneamento é um instrumento importante não só para o planejamento e avaliação da
prestação dos serviços, mas também para obtenção de recursos financeiros. De acordo com a lei, os
Planos passam a ser um referencial para obtenção de recursos. A liberação desses recursos está
condicionada:
54
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
Caro capacitando!
Neste módulo, você conheceu um pouco mais sobre a história do saneamento no Brasil e
no mundo, conheceu os principais aspectos legais, com destaque para o marco regulatório
surgido no setor em 2007, instituindo a Política Federal de Saneamento, por meio da Lei nº
11.445/07. Durante nosso estudo, vimos também algumas considerações sobre as ações
do planejamento e da elaboração do plano, além de aspectos relativos à prestação dos
serviços de saneamento, sua regulação, fiscalização e financiamento. A partir de agora,
você sabe que o município é o titular dos serviços, sendo que ele pode delegar essa função
a outros órgãos. Sabe também que a prestação dos serviços pode ser realizada de forma
regionalizada, pela implementação de consórcios públicos.
Este foi apenas o início de um curso que lhe tornará apto a elaborar, implementar, regular
e fiscalizar o plano de saneamento em seu município. No próximo módulo, você irá
explorar um pouco mais o processo de planejamento formal, abordando algumas teorias
que irão nos ajudar a compreender as metodologias possíveis de serem empregadas na
elaboração dos planos. Veremos também de que forma a Lei aborda esses elementos,
estabelecendo diretrizes para elaboração dos planos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério das Cidades. Procedimentos metodológicos para elaboração de planos municipais de
saneamento básico. In: Peças técnicas relativas a planos municipais de saneamento básico. Brasília:
Ministério das Cidades, 2011a. 244 p. Disponível em:
<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/Pe%C3%A7as_Tecnicas_WEB.pd
f>. Acesso em: 25 out. 2012.
BRASIL. A Constituição Federal. 2011b. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/presidencia/a-
constituicao-federal >. Acesso em: 6 jan. 2013.
. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Congresso Nacional, 1988.
. Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990. Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações
Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras
providências. DOU, Brasília, 1990a. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=328>. Acesso em: 15 out. 2012.
. Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de 2007. Regulamenta a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005,
55
CURSO A DISTÂNCIA – PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO
que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos. DOU, Brasília, 2007a. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6017.htm>. Acesso em: 15 out.
2012.
. Decreto nº 7.217, de 21 de junho de 2010. Regulamenta a Lei no 11.445, de 5 de janeiro de 2007,
que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e dá outras providências. DOU, Brasília,
2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7217.htm>.
Acesso em: 24 out. 2012.
. Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de
2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional
de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá
outras providências. DOU, Brasília, 2010b. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm>. Acesso em: 15 out.
2012.
. Guia para a elaboração de planos municipais de saneamento. BERNARDES, R. S; SCÁRDUA, M. P;
CAMPANA, N. A. (organizadores). Brasília: Ministério das Cidades, 2006. 150 p.: il. Disponível em:
<http://www.capacidades.gov.br/biblioteca/detalhar/id/178/titulo/GUIA+PARA+ELABORACAO+DE+PLANO
S+MUNICIPAIS+DE+SANEAMENTO+BASICO#!prettyPhoto>. Acesso em: 5 fev. 2013.
. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. DOU, Brasília, 1981. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 4 out. de 2012.
. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências. DOU, Brasília, 1990b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>.
Acesso em: 13 out. 2012.
. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. DOU, Brasília,
1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso em: 4 out. de
2012.
. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
prestação de serviços públicos, previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências. DOU,
Brasília, 1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8987cons.htm>. Acesso em: 15
out. 2012.
. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº
7.990, de 28 de dezembro de 1989. DOU, Brasília, 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9433.htm>. Acesso em: 4 out. 2012.
. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional
de Educação Ambiental e dá outras providências. DOU, Brasília, 1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 16 out. 2012.
. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. DOU, Brasília, 2001. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 4 out. 2012.
. Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios
56
MÓDULO 1 - O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
58