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Espaço Local no Livro XI das Confissões de Agostinho

Bruno Fernandes Bernardo

O Livro XI das Confissões de Agostinho é célebre pela exegese do tempo (mais


propriamente sua relação com a eternidade). O estudo do tempo leva ao conhecimento do
eterno. Da mesma forma, o estudo da linguagem local para se referir ao temporal leva ao
conhecimento do tempo. É negando que eternidade tenha conceitos temporais e que o
tempo tem conceitos locais que se chega à própria eternidade, que é o horizonte dos estudos
de Agostinho neste Livro XI. Em outras palavras, há um duplo movimento no livro: o
primeiro é a tentativa de conhecer a eternidade, que acaba sendo definida como negação do
tempo. Este, por sua vez é entendido primeiramente em termos espaciais, para depois ser
evidenciado que o tempo é de outra ordem que o espaço. O segundo movimento é o de
retorno na hierarquia espaço-tempo-eternidade, agora voltando à eternidade, ou seja, à
Deus.
Neste trabalho iremos nos focar na diferença entre o espaço local e o espaço
temporal na filosofia agostiniana, denunciando as falhas na linguagem do senso comum que
implica em conceitos temporais maculados pela localidade.
Até a § 16, Agostinho chega à conclusão que a eternidade não é uma mera sucessão
de tempos ao infinito. A eternidade é algo totalmente distinta da temporalidade. O tempo é
uma criatura, foi criado no “Princípio” do Gn 1,1. Este princípio é o princípio dos tempos.
Portanto, Deus, o eterno, está fora de qualquer concepção temporal, desqualificando a
pergunta dos maniqueus: “O que fazia Deus antes de fazer o céu e a terra?” (Confissões, 12,
14, p. 7.)
Mas tal definição de eternidade é puramente negativa. O estudo da eternidade levou
simplesmente ao conhecimento de que ela não é o tempo. Agostinho precisa então estudar
agora “o que é afinal o tempo” (Confissões, 14, 17, p. 8.).
Ora, logo após esta pergunta se colocar, Agostinho afirma:
“Mas, ao falar, o que mencionamos que seja mais familiar e conhecido do que o
tempo? E de algum modo entendemos quando falamos do tempo, e também entendemos
quando ouvimos outra pessoa falar dele. O que é portanto o tempo? Se ninguém me
pergunta, sei; se quiser explicar a quem pergunta, não sei.” (Confissões, 14, 17, p. 9.)
Como pode saber e não saber? Este conhecimento do tempo é falso, uma armadilha.
É do senso comum que se tem do tempo que Agostinho se refere. Todos entendemos o que
é o tempo quando usamos uma linguagem local sobre a temporalidade. Agostinho denuncia
neste vocabulário local, não as palavras em si, mas as idéias que elas suscitam. As palavras
em si são apenas sons, mas o significado apreendido é preocupante, pois admoesta-nos para
fora da Verdade. Usando a linguagem local para se referir ao tempo, impingimos a este
todas as características locais.
E como se pode observar que o espaço temporal é mensurável, assim como o espaço
local, Agostinho tenta usar os conceitos locais para explicar a medição dos tempos. Com
expressões como: “Portanto, onde está o tempo que dizemos distante?” (Confissões, 15, 20,
p. 10. Grifo meu), ele já sabe que este projeto falhará, mas é exatamente na explicitação das
aporias que acontecem quando se faz tal confusão entre tempo e local que esta concepção
temporal se mostra inconsistente.
O problema começa com a constatação da não-existência do tempo. O passado é
algo que não existe mais, o futuro ainda não existe. O único tempo que existe é o presente,
que, para ser chamado tempo e não eternidade tem que deixar de existir tão logo começou a
existir, ou seja, ele é inextensível. Não se pode medir o que não existe, portanto não se pode
medir nem o passado nem o futuro. E o presente, por ser inextensível é também
imensurável. Mas Agostinho nos lembra que podemos medir o tempo:
“E mesmo assim, Senhor, sentimos os intervalos dos tempos e os comparamos entre
si e dizemos que uns são mais longos e outros mais breves.” (Confissões, 16, 21, p. 11.)
Na tentativa de solucionar o problema da existência do tempo, Agostinho recorre à
alma. Ou seja, os tempos não existem em si, o passado e o futuro não estariam
propriamente em algum lugar de ordem local:
“Mas talvez pudéssemos dizer apropriadamente ‘existem três tempos: o presente das
coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras’. Pois estas
três estão de alguma maneira na alma e eu não as vejo em outro lugar: o presente das coisas
passadas é a memória, o presente das coisas presentes é o olhar, o presente das coisas
futuras é a expectativa.” (Confissões, 20, 26, p. 13.)
Portanto, o passado mesmo não existe, mas existe na memória que presentifica este
passado, o presente existe na visão e o futuro na expectativa do que virá. Desta forma a
existência dos três tempos se dá na alma, quando esta presentifica o passado e o futuro,
dando existência ao que não poderia existir. Esta solução de fato salva o problema da
existência do tempo, mas ainda não se pode ver como se dá sua medição.
Para resolver o problema da medição, Agostinho diz que medimos os tempos
enquanto estes passam. Mas há um problema com esta concepção, pois só posso medir
quando conheço os extremos do que está sendo medido. No espaço local isto é muito claro:
meço a altura de uma mesa, por exemplo, apenas com a presença da mesa inteira, mais
especificamente, neste caso, da ponta do pé, apoiada no chão e da tampa desta mesa. Ora,
se só se pode medir algo com o conhecimento dos extremos, só se mede os espaços
temporais conhecendo quando começou e acabou o espaço a ser medido. Portanto só se
mede o tempo que já passou, pois só assim se conhece suas “extremidades”, e desta forma,
não se pode medir os tempos enquanto passam.
A heterogeneidade entre tempo e local fica patente pela impossibilidade de medição
do espaço temporal assim como é feito no espaço local. Após isso ficar cada vez mais
patente, Agostinho finalmente rejeita a concepção local do tempo com a comparação do
tempo ao verso:
“Assim medimos os espaços dos poemas com os espaços dos pés, e os espaços dos
pés com os espaços das sílabas, e os espaços das longas com os espaços das breves, não em
folhas – pois desse modo medimos lugares, e não tempos – mas sim quando as notas
transitam ao serem pronunciadas (...). Mas tampouco é assim que se compreende a medição
certa do tempo, uma vez que pode acontecer de o verso mais breve ressoar por um espaço
de tempo mais amplo, se pronunciado mais lentamente, do que o verso mais longo, se
pronunciado mais rapidamente.” (Confissões, 16, 33, p. 17.)
Ainda que não tenha ficado definido o ser do tempo nem como se dá sua medição,
há um grande avanço. A negação da idéia de tempo com características locais liberta
Agostinho de tentar investigar o tempo com esta concepção errônea, e ele pode agora se
dedicar a investigação do que realmente é o tempo. Neste momento ele só tem em mãos
uma série de negações: o tempo não é de mesma natureza que o espaço, não se mede o
passado, o futuro, o presente, nem os tempos enquanto passam.
Com o argumento do silêncio, Agostinho justifica a medição e existência dos
tempos na alma. Ora, as afecções causadas pelo som, por mais incorpóreo que este seja,
ainda é algo exterior à alma. Recorrendo ao silêncio, a interiorização do tempo se mostra
como algo muito mais “longe” do espaço local e qualquer tipo de exteriorização, pois o
silêncio independe de qualquer afecção, qualquer estímulo externo.
Entendendo a interioridade desta forma desvinculada totalmente da noção local
implica, além da heterogeneidade entre tempo e local, em uma superioridade do primeiro
em relação ao segundo.
Ora, os locais não podem ser medidos sem a presença do que é exterior à alma. Para
tal medição, é preciso a co-presença dos corpos a serem medidos. Para saber que um corpo
é o dobro de outro, em comprimento, por exemplo, precisamos ter os dois corpos presentes,
fora da alma, e compará-los. Com o tempo, necessita-se ter os dois espaços temporais
ausentes. Os dois espaços precisam ter acabado (estarem na memória) para se conhecer
seus limites e só desta forma compará-los. Mas apesar da ausência fora da alma, necessita-
se de uma presença na alma para medi-los. A tentativa de explicar o tempo fora da alma,
com a idéia de tempo como movimento, foi também uma tentativa de se explicar os tempos
com as características locais, pois os locais são medidos fora da alma. A aporia do tempo
como movimento é que se mede o movimento, mas não o próprio tempo. Se o astro
corpóreo que se move, o sol por exemplo, se mover mais rapidamente que 24 horas, não
poderemos dizer que o tempo na terra se passou mais rapidamente também:
“Pois, se o corpo às vezes se move variadamente e às vezes fica estacionado, não
medimos pelo tempo apenas o movimento dele, mas também a estação.(...) Portanto, o
tempo não é o movimento de um corpo.” (Confissões, 24, 31, p. 16.)
Com a idéia (já anunciada timidamente) de distensão e a comparação do tempo à
uma canção já conhecida, Agostinho, livre da noção local de tempo, resolve como se dá a
medição dos tempos na alma:
“Vou entoar uma canção que conheço. Antes de iniciar, minha expectativa se
estende totalmente, mas quando começar, tanto quanto eu tiver tirado da expectativa,
também minha memória se estende, e a vida desta minha ação se distende na memória (em
razão do que cantei) e na expectativa (em razão do que cantarei). Minha atenção também
está ali, presente, pela qual o que era futuro é arrastado para tornar-se passado.”
(Confissões, 28, 38, p. 20.)
Deve-se entender distensão como uma dupla tensão, para o passado e para o futuro,
ou melhor, para a memória e para a expectativa. Ocorre uma ampliação na comparação dos
tempos, comparando versos da canção entre si, pode-se comparar a duração da canção com
a duração de uma vida, e esta com a duração da vida dos homens, e assim por diante:
“E o que ocorre na canção toda, também ocorre na ação mais longa, da qual talvez
aquela canção seja uma partícula, e o mesmo em toda a vida do homem, das quais são
partes todas as ações do homem, e o mesmo em todo o século dos filhos dos homens, das
quais são partes todas as vidas dos homens.” (Confissões, 28, 38, p. 20.)
Mas Agostinho não se satisfaz com o conceito de distensão da alma. Deus não
conhece os tempos por distensão, do modo como se dá na canção. A distensão é o modo
humano de se interpretar o tempo. Agostinho apresenta, então, a intenção e extensão, que
seriam a reaproximação com a eternidade.
Não vamos explorar neste trabalho tais concepções, pois a questão da dicotomia
entre local e temporal já foi, creio, demonstrada. Podemos, portanto, concluir que a exegese
da criação levou ao conhecimento já esperado que a eternidade é superior ao tempo e ao
espaço local. Ora, era esperado pois está claro que as criaturas são inferiores ao criador.
Mas, além disso, se constata que a criatura tempo é superior à criatura local. Por não estar
imerso na exterioridade, o tempo está em um nível de ser mais próximo ao criador que o
espaço local, apesar da distensão ser também um estado da miséria humana.
Bibliografia:
- AGOSTINHO DE HIPONA – Confissões, (Livro XI), trad. Cristiane Abbud Ayoub e
Moacyr Novaes. (as citações do trabalho se referem a esta tradução.)
- NOVAES, Moacyr Ayres Filho. A razão em exercício - estudos sobre a filosofia de
Agostinho. São Paulo : Discurso Editorial, 2007.
- GILSON, Etiènne. Introdução ao estudo de santo Agostinho. São Paulo: Paulus,
2006.
- GILSON, É. – A Filosofia na Idade Média, trad. E. Brandão. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.

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