br/brasil/economia/2014-04-28/dilma-nao-
percebeu-a-armadilha-do-consumo-diz-luiz-carlos-mendonca-de-barros.html
28/04/2014 | 09:29 - Atualizado em: 28/04/2014 | 10:03
Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.breMarcelo
Loureiromarcelo.loureiro@brasileconomico.com.br
Isso. Aí vem a crítica de que essa nova classe média tem pés de barro e renda
baixa. Eu prefiro dividir a sociedade brasileira de outra forma. Vejo dois grandes
grupos: o que vive na formalidade econômica e o que está fora dela. Classes A, B
e C no primeiro grupo, D e E na informalidade. A diferença é a segurança em
termos de renda e cobertura social. O sujeito que vive na formalidade tem um
controle muito maior sobre o futuro. Ele pode se endividar, comprar a prazo,
porque consegue projetar a renda futura. Foi trazendo para a formalidade que o
Brasil conseguiu expandir a renda em 4,7%.
Não, não. Para mim, elas estão dizendo que “não é a Dilma do primeiro
mandato o que a gente quer”. Dilma pode responder a isso. Além dessa
possibilidade, as pessoas vão ouvir o que a oposição tem a oferecer. Mas a
oposição deve tomar cuidado. Outro dia, ouvi o Armínio Fraga dizer que uma
das coisas a se fazer é reduzir a meta de inflação para 2,5%. Não me parece o
discurso adequado a ganhar corações e mentes dos eleitores. Me parece uma
meta absurda para um país que não consegue fazer 4,5%.
A grande questão para a Dilma não é o que ela fará, mas com quem ela irá
governar. A turma dela, da Unicamp, está queimada com a matriz do consumo.
Esse pessoal vai ser enterrado junto com o desgaste do modelo.
Há outros sinais?
Isso está em linha com a ideia de uma carta aberta com possíveis
nomes para um segundo mandato?
Olha, a história nunca se repete a não ser como farsa. A carta aberta foi um
instrumento inteligente usado pelo Lula para vencer o pânico, que naquela
época era com o PT. O partido hoje é uma fera domada perto daquele lá. Mas
Dilma poderia reconhecer que fez uma análise errada da economia, tentou
superar os problemas e hoje tem uma visão diferente para tentar avançar.
Acho que o Tombini vai muito bem onde está. Digo isso porque o grande desafio
dos próximos quatro anos é de natureza microeconômica, e não macro. O
investimento precisa de condições básicas. Primeiro, é a confiança no futuro.
Segundo, uma política econômica consistente e conhecida de todos, estável. Em
terceiro vem a demanda. Essa já existe, tanto que estamos com um problema de
oferta. O quarto ponto é a perspectiva de ganho, rentabilidade na operação. Aí,
temos um problema sério na indústria, de competitividade. Como a estrutura de
custos no Brasil é muito mais elevada do que no exterior, os setores que não têm
proteção estão minguando. É necessário dar fôlego a esse pessoal. Só conheço
um jeito: reduzir a carga tributária.
A alta dos juros é suficiente para evitar que a inflação passe do teto
este ano?
Não vai acontecer, por causa da eleição. O presidente competente faz isso no
primeiro dia após a eleição, não antes.
O sr. acha que a inflação está sob controle, como diz o governo?
Por mim, teria parado, porque o sinal que precisava ter era a redução no ímpeto
do consumo. Isso já aconteceu. Só um demente acharia que o juro, sozinho,
levará a inflação ao centro da meta. O pior é que tem alguns dizendo isso. Gostei
do que disse a Fitch (agência de rating), que não espera aperto por parte do
governo em ano de eleição. É da natureza da política. Não estamos à beira de
um colapso, e sim no meio de uma armadilha clássica de demanda crescendo
acima da oferta. Mas, agora, a política monetária está no caminho certo. É
possível estabilizar a inflação entre 6,5% e 7%, o que não faz muita diferença. O
próximo governo, sim, terá de investir muito tempo para mudar esse cenário.
E a oposição?
No PSDB, tem gente que não reconhece a melhoria dos últimos anos. Chega a
ser engraçado. Está difícil pensar assim sem ser considerado petista.
Já fui e estou pouco me lixando. Sempre digo que esse período de crescimento
deve ser entendido como uma combinação entre os governos FHC e Lula. Todo
mundo me pergunta quem foi mais importante. Minha resposta: inverta a
ordem dos governos e pense no que aconteceria. Ponha o Lula primeiro e acho
que não chegaríamos aqui. Para essa nova classe média, o Lula é mais
importante pelo crescimento recente da renda. Agora, isso tudo pode ser jogado
no lixo se não vier um governo em 2015 que trate das questões substantivas. O
medo que tenho é que o PSDB entenda esse desejo de mudança como radical e
passe a propor coisas que as pessoas não estão demandando.
Do ponto de vista amplo sobre um partido, o PSDB é mais completo. Tenho uma
discórdia com o PT que é a dominação da sociedade. Essa linha do PT clássico
morreu quando o José Dirceu foi para a cadeia. O PT de hoje é muito articulado
em torno do Lula e do poder. O Leôncio Martins Rodrigues, que conhece o
partido, disse bem: quando o Lula deixar de ser o fator agregador, o PT vai se
dividir em dois ou três. O que será bom para a democracia.
O mercado hoje tem uma consistência muito diferente daquela de dez anos
atrás. Olhávamos muito para a análise dos fundamentos. A molecada hoje,
talvez por efeito da internet, está mais interessada nas notícias pontuais da
imprensa. Dou um exemplo. O mercado embarcou na tese de que o
enxugamento da liquidez nos EUA provocaria uma fuga de capitais dos
emergentes. Foi um erro de diagnóstico medíocre. Apostaram que o dólar iria a
R$ 3: nunca vi um erro de diagnóstico tão homogêneo. Só o pessoal de mais
idade não comprou isso. A geração com 30, 35 anos, que junta ignorância com
agressividade, reagiu errado. Aí veio o investidor estrangeiro, que nas últimas
semanas se aproveitou para corrigir o preço dos ativos. É evidente que eleição é
um evento importante na precificação do mercado, mas não da maneira que
estamos vendo.
O que essa movimentação diz é: a Petrobras, com uma gestão correta, eficiente,
em três anos recupera o valor que já teve. Não me parece crível que a Petrobras
vá replicar no próximo governo os mesmos erros desses últimos anos. Vai ter de
tirar o monopólio da operação do pré-sal, rever a regra de conteúdo nacional na
política de compra que só fez quebrar empresas. São coisas simples. Por isso,
não acredito em catástrofe.