Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema padrão é ajustada
de acordo com a idade e o peso. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos
medicamentos do esquema padrão, são indicados esquemas substitutivos.
A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizadas pelo
esquema terapêutico, dentro do prazo recomendado. O tratamento da hanseníase é
ambulatorial, ou seja, não necessita de internação.
Duração: 06 doses.
Seguimento dos casos: comparecimento mensal para dose supervisionada.
Critério de alta: o tratamento estará concluído com seis (06) doses
supervisionadas em até 09 meses. Na 6ª dose, os pacientes deverão ser submetidos
ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de
incapacidade física e receber alta por cura.
Esquemas terapêuticos utilizados para Multibacilar: 12 cartelas
Adulto Rifampicina (RFM): dose mensal de 600mg (02 cápsulas de 300mg)
com administração supervisionada.
Duração: 12 doses.
Seguimento dos casos: comparecimento mensal para dose supervisionada.
Critério de alta: o tratamento estará concluído com doze (12) doses
supervisionadas em até 18 meses. Na 12ª dose, os pacientes deverão ser
submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do
grau de incapacidade física e receber alta por cura.
Os pacientes MB que excepcionalmente não apresentarem melhora clínica, com
presença de lesões ativas da doença, no final do tratamento preconizado de 12
doses (cartelas) deverão ser encaminhados para avaliação em serviço de referência
(municipal, regional, estadual ou nacional) para verificar a conduta mais adequada
para o caso.
Complicações diretas
Estas são aquelas decorrentes da presença do bacilo na pele e outros tecidos,
principalmente em quantidades maciças, como é o caso dos pacientes multibacilares
com alta carga bacilar.
Os troncos nervosos mais acometidos, no membro superior, são o nervo ulnar, nervo
mediano e nervo radial. A lesão do nervo ulnar acarreta uma paralisia dos músculos
interósseos e os lumbricais do quarto e quinto dedos da mão. Estabelece-se assim um
desequilíbrio de forças no delicado aparelho flexo-extensor dos dedos. A falange
proximal é hiper-extendida e os flexores profundos flexionam exageradamente as
falanges distais – o resultado é a mão em garra. O nervo mediano, acometido na
região do punho, leva à paralisia dos músculos tênares, com perda da oposição do
polegar. A lesão do nervo radial, menos acometido entre eles, conduz à perda da
extensão de dedos e punho, causando deformidade em “mão caída”.
No membro inferior, a lesão do tronco do tibial posterior leva a garra dos artelhos e
importante perda de sensibilidade da região plantar com graves consequências
secundárias (úlceras plantares). A lesão do nervo fibular comum pode provocar a
paralisia da musculatura dorsiflexora e eversora do pé. O resultado disto é a
impossibilidade de elevar o pé, com marcada alteração da dinâmica normal da marcha
(pé caído).
Fisioterapia em Hanseníase
Sequelas bem definidas podem ser encontradas já no período do diagnóstico, tais
como: paralisia facial do tipo periférico unilateral ou bilateral, ou paralisia do ramo
orbicular do nervo zigomático, provocando o lagoftalmo, epífora e exposição da
córnea; mão em garra (garra do quarto e quinto quirodátilos ou garra completa); mão
caída; pé caído, garra de artelhos que pode ser acompanhada do mal perfurante
plantar (ARAÚJO, 2003, p. 375).
As deformidades, as incapacidades físicas e demais consequências da hanseníase,
decorrentes do comprometimento neurológico, poderão estar presentes no doente
justamente porque o Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen), causador da doença,
possui uma predileção no acometimento de nervos periféricos.
Tais nervos, por serem mistos, quando comprometidos, geram alterações sensitivas
como hipoestesia e anestesia, as quais favorecem o aparecimento de mal perfurante
plantar e ou palmar; alterações motoras como as atrofias, paralisias, bloqueios
articulares, os quais favorecem o aparecimento de deformidades e incapacidades
físicas e, também, geram alterações autonômicas como pele seca, sem flexibilidade e
com fissuras (DIAS, 2007, p. 10).
O doente de hanseníase passa por inúmeros conflitos como perda da capacidade
laborativa, modificação do corpo com o aparecimento das deformidades,
discriminação, preconceito e alteração da sua auto-estima (DIAS, 2007, p. 11).
A atuação do fisioterapeuta na hanseníase faz parte de uma formação mais ampla
focada no cuidado integral ao paciente, conter a orientação sobre a doença ao doente,
ao comunicante e à população em geral; realização de diagnóstico precoce; prevenção
de novos casos; avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação de incapacidades
físicas; e, por fim, reintegração dos doentes à sociedade (DIAS, 2007, 13).
O nervo tibial posterior é o principal nervo acometido pelo bacilo de Hansen nos
membros inferiores, ocasionando déficits motores, sensitivos e autonômicos no trajeto
do mesmo. As úlceras plantares são lesões secundárias ao comprometimento desse
nervo, estando muito presente nesses pacientes devido à predisposição da região
plantar a pressões externas, forças e tensões principalmente durante a marcha, que,
em um pé com déficits sensitivos, autonômicos e motores, pode resultar em uma
necrose neuropática formando a ulceração planta. Estas úlceras quando não tratadas
podem se tornar infectadas e evoluir para quadros de osteomielites, reabsorções
ósseas e, progressivamente amputações (MARQUES, 2003, p.145).
A fisioterapia tem como objetivo principal nos processos ulcerativos, a redução no
período de cicatrização destes possibilitando aos indivíduos um retorno mais rápido às
suas atividades sociais e de vida diária trazendo uma melhora na qualidade de vida de
pessoas portadoras de úlceras cutâneas (MARQUES, 2003, p. 146). A prevenção de
incapacidades é o pilar sobre o qual deve ser construída a reabilitação (Virmond, 1997). O
profissional de fisioterapia tem grande importância desde a prevenção até a reabilitação
destes pacientes (MARQUES, 2003, p. 148).